LIÇÃO Nº 1 – CARTA AOS EFÉSIOS – SAUDAÇÕES AOS DESTINATÁRIOS

ESBOÇO Nº 1

  1. A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Neste segundo trimestre de 2020, teremos, na Escola Bíblica Dominical, mais um trimestre bíblico, ou seja, estudaremos um livro das Escrituras Sagradas.

Desta feita, estaremos a estudar a Epístola de Paulo aos Efésios, estudo que não se fazia, entre os adultos, desde 1999, ou seja, ainda no século passado.

A carta de Paulo aos Efésios é uma das “cartas da prisão”, ou seja, uma das epístolas que o apóstolo escreveu enquanto estava preso em Roma, na sua primeira prisão, da qual foi liberto após ter sido absolvido (Fp.2:24). Foram quatro estas cartas: Efésios, Colossenses, Filemom e Filipenses.

Que Efésios é uma das cartas da prisão fica bem claro no próprio teor do texto, em passagens como Ef.3:1, em que Paulo se identifica como “o prisioneiro de Jesus Cristo”, ou como “o preso do Senhor”, em Ef.4:1, ou, ainda, “embaixador em cadeias”, em Ef.6:20.

Como afirma o pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes, nesta carta, o apóstolo de questões importantes como

“…reconciliação dos judeus com os gentios, o mistério do evangelho, a plenitude do Espírito, a família e a batalha espiritual…” (Efésios: a igreja, noiva gloriosa de Cristo, p.14).

Paulo escreve esta carta à igreja que fundara na segunda maior cidade do Império Romano, a fim de aprofundar os conhecimentos daqueles irmãos a respeito do que é a Igreja e de como se deve viver neste mundo servindo a Cristo,

como um estímulo e incentivo àqueles salvos, que, certamente, abalados estavam com a prisão do apóstolo, lembrando que, em Éfeso,

foi o lugar onde o apóstolo mais tempo ficou durante as suas viagens missionárias (At.20:31), a indicar o cuidado que tinha para com aquele igreja, para quem, aliás, após o término da sua primeira prisão, mandou Timóteo para pastoreá-la (I Tm.1:3).

A Igreja é, sem dúvida, o tema principal da carta, pois o apóstolo mostra, na epístola, o lugar que a Igreja ocupa no plano da salvação, a sua natureza, a sua unidade, o seu crescimento, a sua conduta e a sua luta contra o maligno.

capa do trimestre retrata bem o título e subtítulo escolhidos para o trimestre.

O título é “A Igreja eleita”, título que evoca o primeiro ponto lembrado pelo apóstolo Paulo no tocante à Igreja, ou seja, o fato de que ela foi eleita em Cristo antes da fundação do mundo, para que fosse santa e irrepreensível diante d’Ele em amor (Ef.1:4).

Temos aqui o ensino de que a salvação tem origem divina, é algo que vem de Deus e que já estava prevista na mente do Senhor desde antes da fundação do mundo,

desde antes da criação, o mistério que estava oculto desde a eternidade passada e que só foi revelado pelo Senhor Jesus na célebre “declaração de Cesareia” (Mt.16:18), ou seja, que Jesus formaria um povo, a Sua Igreja, que seria formado por judeus e gentios (Ef.3:1-12).

Este primeiro ato do processo da salvação é, precisamente, a eleição, ou seja, Deus resolveu escolher o ser humano para salvá-lo, escolha que provém da soberania divina.

Como diz o poeta sacro adaptado/traduzido por Paulo Leivas Macalão:

“Que Deus nos quis salvar, que Deus nos quis salvar, co’o sangue do Senhor Jesus…” (primeira parte da estrofe do hino 160 da Harpa Cristã).

A eleição, portanto, nada tem que ver com a escolha de alguns para salvação ou outros para perdição, como defendem os calvinistas, mas, sim, a escolha do ser humano para a salvação. Deus escolheu salvar o homem que iria pecar, antes mesmo da fundação do mundo e que tal salvação se faria na pessoa de Jesus Cristo.

A capa do trimestre traz um rolo selado, selo este vermelho, com a figura de um leão coroado, a nos mostrar que a escolha divina foi de salvar o ser humano pelo sangue de Jesus, o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi (Ap.5:5), bem como que, por meio de Cristo,

passamos a ser propriedade do Senhor (I Co.1:30), sendo, por isso, selados pelo Espírito Santo, algo que também é afirmado pelo apóstolo nesta carta aos efésios (Ef.1:13).

Além da cor vermelha do selo, há, também, na capa, a coroa de espinhos, a nos lembrar o sacrifício de Cristo, que tomou o lugar do pecador, para satisfazer a justiça divina e, deste modo, permitir que passasse a existir um povo de Deus na face da Terra,

que se aproxima de Deus pelo derramamento do sangue de Cristo (Ef.2:13), derramamento iniciado precisamente nas sevícias de que Nosso Senhor foi alvo a partir de Sua prisão e antes da crucifixão.

A coroa de espinhos ainda representa a maldição assumida por Cristo, pois devemos lembrar também que os espinhos e cardos somente surgiram na Terra por causa da maldição da Terra em virtude do pecado (Gn.3:18).

    Na carta aos Efésios, é dito claramente que a redenção do homem vem pelo sangue de Jesus (Ef.1:7).

O subtítulo do trimestre é, pois, retratado nesta capa: “redimida pelo sangue de Cristo e selado com o Espírito Santo da promessa”.

O trimestre está dividido em três blocos, correspondentes a três das cinco partes em que costumeiramente se segmenta a carta de Paulo aos efésios.

O primeiro bloco, introdutório, referente à lição 1, traz uma apresentação da epístola como também uma análise das saudações iniciais, com a identificação do remetente e dos destinatários.

O segundo bloco, que abrange as lições 2 a 10, dizem respeito à parte doutrinária da epístola, onde são registrados os ensinamentos relacionados com o que significa ser Igreja, as bênçãos de que é alvo, o significado da salvação, a natureza da Igreja, além da oração que Paulo faz em favor da Igreja.

O terceiro bloco, por fim, que abrange as lições 11 a 13, dizem respeito à parte prática da epístola, onde é registrada a conduta que devem ter os salvos em Cristo Jesus em sua peregrinação terrena.

O comentarista deste trimestre é o pastor Douglas Roberto de Almeida Baptista, presidente da Assembleia de Deus Missão do Distrito Federal,

presidente do Conselho de Educação e Cultura da Convenção Geral das Assembleias de Deus, foi relator da Comissão Especial que elaborou a Declaração de Fé das Assembleias de Deus e já comentou algumas Lições Bíblicas.

  1. B) LIÇÃO Nº 1 – CARTA AOS EFÉSIOS – SAUDAÇÕES AOS DESTINATÁRIOS

A carta aos Efésios é uma revelação de que é a Igreja.

INTRODUÇÃO  – Neste trimestre, estudaremos a Epístola de Paulo aos Efésios.

– A carta aos Efésios é uma revelação de que é a Igreja.

I – A RELAÇÃO DO APÓSTOLO PAULO COM A IGREJA EM ÉFESO  

– Neste trimestre, teremos um trimestre bíblico, ou seja, estudaremos um livro das Escrituras Sagradas, desta feita, a Epístola de Paulo aos Efésios.

– Para bem entendermos esta carta do apóstolo aos efésios, é importante vermos o relacionamento do apóstolo Paulo com a igreja em Éfeso.

– “…A cidade de Éfeso era a capital da Ásia Menor e a maior metrópole da Ásia [entenda-se aqui a província romana da Ásia, região que hoje corresponde a partes da Turquia – observação nossa].

Abrangia uma extensa área, e a sua população era superior a 300 mil habitantes. Ela era o centro do culto de Diana, a deusa da fertilidade, cujo templo, localizado a 1.600 metros da cidade,  era considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo e constituía o principal motivo de orgulho para Éfeso…” (LOPES, Hernandes Dias. op.cit., p.24).

– “…Éfeso ficava situada na costa ocidental da antiga Ásia Menor, hoje parte da Turquia e que ficava distante de Atenas, na Grécia, apenas 240 quilômetros.

Naquela época, Éfeso era uma importante metrópole pertencente ao Império Romano e que chegou a ter população de aproximadamente 300 mil habitantes.

Éfeso era uma próspera cidade, com porto de mar, o qual favorecia a peregrinação obrigatória dos adeptos dos deuses pagãos daquela região como Diana (cultuada entre os gregos como Ártemis).

A indústria e comércio de Éfeso atraíam gente de todas as regiões adjacentes…” (CABRAL, Elienai. Lições Bíblicas – jovens e adultos. 4º trimestre de 1999 – Efésios: a igreja nas regiões celestiais –aluno-, p.4).

– A história da pregação do Evangelho em Éfeso está diretamente relacionada à atividade missionária do apóstolo Paulo.

– Na sua segunda viagem missionária, Paulo, depois de ter partido de Corinto, onde ficou por um ano e seis meses (At.18:11), foi para Éfeso, onde deixou Priscila e Àquila, depois de ter disputado com os judeus na sinagoga da cidade, retornando para Antioquia (At.18:18-21).

– Na sua terceira viagem, porém, o apóstolo foi diretamente para Éfeso e ali encontrou doze discípulos, que somente conheciam o batismo de João, provavelmente evangelizados por Apolo, que Priscila e Áquila haviam encontrado em Éfeso, ensinando-lhe mais pontualmente o caminho do Senhor, ocasião em que Apolo foi para Corinto e Priscila e Áquila retornaram para Roma (At.18:24-26; 19:1; Rm.16:3).

– Assim, Éfeso praticamente não tinha qualquer trabalho, motivo pelo qual Paulo para lá se dirigiu e o apóstolo alcançou ali o ápice de seu ministério, pois, iniciando com aqueles doze discípulos que, depois de batizados nas águas,

foram batizados com o Espírito Santo e receberam o dom de profecia, ganhou multidões para Cristo naquele lugar, ficando ali pelo prazo de três anos, chegando, mesmo,

a causar temor junto aos que viviam do comércio decorrente da idolatria, que era a principal fonte de renda da cidade, diante do culto a Diana (At.19).

– Em Éfeso, a Bíblia afirma que Paulo realizou maravilhas extraordinárias (At.19:11) e vemos, em Éfeso, a grande diferença entre uma evangelização pentecostal,

que dá livre vazão ao batismo com o Espírito Santo e aos dons espirituais, e uma evangelização que despreza estas bênçãos espirituais, o que explica até a afirmação no início da carta aos efésios de que o Senhor já nos abençoou com todas as bênçãos espirituais (Ef.1:3).

– Vemos, portanto, que o Senhor usou o apóstolo Paulo para erguer uma igreja local vigorosa, cheia do poder do Espírito Santo, na segunda maior cidade do Império Romano, num centro idolátrico, para demonstrar, de modo claro, objetivo e indisfarçável, a chegada do reino de Deus mediante a obra salvífica de Cristo Jesus.

Não é à toa, portanto, que é precisamente numa epístola a esta igreja local que o Espírito Santo vai revelar, pela instrumentalidade do apóstolo, o que é a Igreja, qual o seu papel no plano da salvação e como deve ela se comportar em sua peregrinação terrena.

OBS: “…Efésios revela o ‘mistério’ da Igreja como nenhuma outra epístola. A intenção ‘secreta’ de Deus é revelada:

1) formar um corpo para expressar a plenitude de Cristo na Terra (Ef.1:15-23);

2) fazer isso unindo as pessoas — tanto os judeus quanto os gentios, dentre os quais Deus habita (Ef.2:1-3:7); e

3) equipar, habilitar e amadurecer seu povo a fim de que eles estendam a vitória de Cristo sobre o mal (Ef.3:10-20; 6:1220)…” (Bíblia de Estudo Plenitude, p.1223).

– O cuidado do apóstolo com a igreja em Éfeso, entretanto, não cessou quando ele deixou a cidade, com intenção de ir para Jerusalém a fim de socorrer os crentes judeus que passavam por dificuldades econômico-financeiras e, depois, partir para Roma, a fim de iniciar a evangelização da parte ocidental do Império Romano (At.19:21; Rm.15:28).

– Por isso, antes de partir para Jerusalém, tendo tido a revelação divina de que nunca mais iria para Éfeso, fez questão de ter um encontro com os obreiros daquela igreja, encontro que ocorreu em Mileto (At.20:1738),

ocasião em que podemos ver a altíssima qualidade do trabalho do apóstolo enquanto esteve em Éfeso, um trabalho marcado pelo serviço com humildade com a forte oposição dos judeus,

por uma pregação e ensino cristocêntricos, exortando, ainda, os obreiros a que prosseguissem com este mesmo trabalho, embora profetizasse que, dentre eles, haveria lobos cruéis que não perdoariam o rebanho.

– Mas não ficou apenas nisto o cuidado do apóstolo com aquela igreja. Já na prisão, escreve a epístola que haveremos de estudar neste trimestre, como também, solto da prisão,

mandou que Timóteo assumisse a direção da igreja, que passava por dificuldades relacionadas com falsos ensinos (como, aliás, o apóstolo havia profetizado naquele encontro em Mileto),

inclusive escrevendo uma carta ao jovem obreiro para lhe orientar como devia se conduzir diante do pastoreio de Éfeso (a primeira epístola a Timóteo).

Sua última carta, dirigida ao mesmo Timóteo, não deixa de ser, ainda que indiretamente, mais um cuidado à igreja dos efésios, já que, orientando o seu pastor, contribuía para o bem-estar daqueles crentes.

– Bem se vê, portanto, que, se a igreja dos filipenses demonstra toda uma afeição ao apóstolo Paulo, inclusive sustentando seu ministério materialmente,

Paulo é quem toma a iniciativa de cuidar e de promover o bem-estar da igreja em Éfeso e um destes cuidados é, precisamente, a epístola que, da prisão, mandou àqueles crentes, onde,

não só para os efésios, mas também para toda a Igreja, de todos os tempos e lugares, o apóstolo mostra, sob inspiração do Espírito Santo, o que é a Igreja.

– Bem por isso, Efésios é considerada, ao lado de Romanos, como das mais elaboradas e profundas cartas do apóstolo Paulo. Segundo Finis Jennings Dake (1902-1987),

“…Romanos, a primeira carta de doutrinas, estabelece a verdadeira relação do cristão em Cristo na morte, enterro e ressurreição.

Efésios, a segunda carta doutrinária, ilustra o cristão como assentado ao lado de Cristo, nos lugares celestiais.

Ela contém, em sua maior parte, verdades cristãs, e não temas relacionados com a ordem na igreja…” (Bíblia de Estudo Dake. CPAD-Atos, p.1880).

– Tomás de Aquino (1225-1274), o grande teólogo da Idade Média, diz que como não havia motivo para repreender os efésios, Paulo escreveu-lhes para “…consolá-los.

Escreve-lhes, por meio de Tíquico, o diácono, desde a cidade de Roma, com a intenção de confirmá-los em seus bons hábitos e despertar-lhes a aspiração a metas mais elevadas…” (Comentário à Carta de Paulo aos Efésios.

Tradução castelhana do texto latino por J.I.M., cap.1. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Citação de Ef.1:1-14. Acesso em 27 jan. 2020) (tradução nossa de texto em espanhol).

– É este também o entendimento de João Calvino (1509-1564), que diz que “…Paulo havia instruído os efésios na sã doutrina do evangelho.

Enquanto era prisioneiro em Roma, percebeu que eles necessitavam de confirmação, e então lhes escreveu a presente Epístola…” (Efésios. Trad. de Válter Graciano Martins, p.15).

II – A APRESENTAÇÃO DA EPÍSTOLA DE PAULO AOS EFÉSIOS  

– Sabido é de todos que, numa epístola, notadamente nas epístolas paulinas, temos, basicamente, três partes:

a introdução, que é a apresentação do remetente e dos destinatários; o desenvolvimento, que é a exposição dos temas e assuntos que são tratados na epístola (e temos aqui a principal diferença entre uma epístola e uma carta, qual seja, a de que, na epístola, temos a discussão e debate de temas abrangentes, que fogem a mera divulgação de informações pessoais, como ocorre nas cartas em geral)

e a conclusão, ou epílogo, quando há a finalização da carta, um resumo do que foi tratado e as saudações do remetente a certos destinatários em especial.

– Com relação às epístolas paulinas, os estudiosos das Escrituras costumam ensinar que o apóstolo, no desenvolvimento, sempre trata de assuntos doutrinários, ou seja,

expõe o ensino sobre alguns temas ou assuntos que, quase sempre, foram as motivações para a redação da epístola, que constituiria a parte “doutrinária” da obra, que é seguida de uma segunda parte, onde o apóstolo se preocuparia mais com a conduta, com o comportamento, a chamada “parte prática” da epístola.

– Na epístola de Paulo aos efésios, assim se dividiria a obra, segundo este entendimento:

  1. a) Apresentação – Ef.1:1-2
  2. b) Parte doutrinária – Ef.1:3-3:21
  3. c) Parte prática – Ef.4:1-6:20
  4. d) Conclusão – Ef.6:21-24.

– A parte doutrinária da epístola comporta os seguintes temas:

  1. a) a posição do crente em Cristo – Ef.1:3-14
  2. b) a oração do apóstolo por discernimento – Ef.1:15-23
  3. c) o passado, o presente e o futuro do crente – Ef.2:1-22
  4. d) o ministério e mensagem do apóstolo – Ef.3:1-13
  5. e) a oração de poder do apóstolo – Ef.3:14-21

– A parte prática da epístola comporta os seguintes temas:

  1. a) a responsabilidade do crente – Ef.4:1-16
  2. b) o chamado do crente para a pureza – Ef.4:17-5:14
  3. c) a vocação do crente para a vida cheia do Espírito Santo – Ef.5:15-6:9
  4. d) a vocação do crente para a batalha espiritual – Ef.6:10-20

– Segundo Finis Jennings Dake, Efésios, o 49º livro da Bíblia, possui

6 capítulos,

155 versículos,

1 pergunta,

146 versículos de história,

1 versículo de profecia cumprida e

8 versículos de profecias não cumpridas.

É o 49º livro da Bíblia, que estaria associado, segundo alguns estudiosos, ao tema da “vida” e da “bênção” nas Escrituras, o que, em Efésios, diz respeito ao povo que tem vida eterna, que recebeu todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, que é a Igreja.

– Paulo apresenta-se como o autor da epístola, logo em seu introito. Diz ser “apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus” (Ef.1:1).

É uma forma que Paulo utilizou em algumas de suas epístolas e, no caso das chamadas “cartas da prisão”, também na epístola aos Colossenses.

– Paulo invoca a autoridade que tinha recebido do próprio Senhor Jesus. Ele era o “apóstolo dos gentios” (Rm.11:13) e havia sido escolhido para tanto pelo próprio Jesus, como foi revelado a Ananias, logo após a sua conversão (At.9:15).

Para os crentes de Éfeso, então, este apostolado era mais do que evidente, já que, como vimos, foi Paulo quem fundou a igreja naquela cidade, tendo sido o local que mais tempo permaneceu em todo o seu ministério apostólico.

– Ao ressaltar a sua autoridade apostólica, Paulo não estava se ensoberbecendo ou querendo reivindicar uma supremacia com relação aos demais salvos, como tem sido a tônica dos supostos apóstolos que proliferam em nossos dias.

Não, não e não! Paulo estava apenas demonstrando que era em função de seu apostolado que estava a escrever aquela importante epístola, cujo teor dizia respeito à própria Igreja (e não nos esqueçamos que é, precisamente,

nesta epístola que Paulo dissertará sobre os dons ministeriais, inclusive o de apóstolo), sendo certo, ademais, que seu apostolado somente existia porque era “a vontade de Deus”, o que elimina qualquer arrogância ou soberba nesta afirmação.

– Ponto importante é verificar que Paulo se identifica como apóstolo porque esta era “a vontade de Deus”.

Não se autoproclamou apóstolo, nem assim se intitulou para ter “domínio” ou “poder” perante as igrejas que fundara ou perante todas as igrejas locais existentes.

Era esta “a vontade de Deus”. Ele havia sido chamado para ser “apóstolo”, pois, desde a sua conversão, fora enviado para evangelizar os gentios, tendo tido um contato direto com o Senhor Jesus, que era uma condição para alguém ser apóstolo (At.1:21,22; 9:36; I Co.11:23).

– Como afirma João Calvino,

“…O apóstolo adiciona pela vontade de Deus. Porquanto nenhum homem deve tomar essa honra para si próprio, mas deve esperar pela vocação divina, pois Deus é o único que pode legitimar os ministros.

Ele assim confronta os escárnios dos homens ímpios com a autoridade de Deus, e remove toda e qualquer ocasião de disputa irrefletida…” (op.cit., p.20).

– Tanto apóstolo não é sinal de “poderio” ou de “domínio” que o próprio Paulo diz que os apóstolos eram “hyperetes”, ou seja, c

omparáveis aos escravos que, nas galés, ficavam no compartimento mais inferior, remando, sem sequer ver a luz do sol (I Co.4:1),

sendo também tidos como os últimos (I Co.4:9), até porque, dentro da lógica do reino de Deus, precisamente por serem os mais proeminentes dos salvos, eram os que estavam escalados para servir mais do que os demais (Mt.20:26,27; Mc.10:42-44).

– Por isso mesmo, não há que se falar que tenhamos, hoje em dia, “apóstolos” no mesmo sentido em que Paulo ou os doze o foram, cabendo aqui, aliás, registrar uma feliz conclusão a respeito das Assembleias de Deus dos Estados Unidos da América, que se transcreve na parte pertinente:

“…As Assembleias de Deus acreditam que essa prática é consistente com a prática apostólica fornecida nas cartas pastorais de 1 e 2 Timóteo e Tito.

As cartas pastorais não preveem a nomeação de apóstolos ou profetas, nem o Livro de Atos indica que essa provisão foi dada nas igrejas estabelecidas nas viagens missionárias. Os apóstolos designaram não apóstolos ou profetas, mas anciãos (Atos 14:23).

No final das viagens missionárias, Paulo encontrou-se com os anciãos da igreja de Efésios (Atos 20:17–38). Claramente, os anciãos também recebem as funções de bispo (“superintendente”) e pastor (“pastor”) (Atos 20:28; 1 Pedro 5: 2).

Assim, dentro das Assembleias de Deus, as pessoas não são reconhecidas pelo título de apóstolo ou profeta.…” (Declaração sobre apóstolos e profetas. 6 ago., 2001. Disponível em: https://ag.org/Beliefs/Position-Papers/Apostles-andProphets Acesso em 27 jan. 2020) (traduzido pelo Google do texto original em inglês).

– A autoria da epístola não foi questionada senão a partir do século XIX, na onda da “teologia liberal”, que é mais uma das facetas que demonstram, claramente,

que estamos a viver os dias derradeiros da dispensação da graça, onde há a proliferação de falsos mestres, que procuram perturbar a fé em Cristo Jesus (II Pe.2:1,2; Jd.4; Mt.24:4,5).

Os que procuram infirmar a autoria de Paulo dizem que o estilo do autor da carta discreparia muito dos escritos anteriores, o que seria o suficiente para tentar dizer que não foi Paulo quem escreveu o texto,

esquecendo-se dos propósitos bem diversos e diferentes da escrita tanto de Efésios quanto de Colossenses em relação às cartas anteriores.

Além do mais, Efésios traz um panorama, uma síntese do que é a Igreja, o povo de Deus, algo bem diferente do que temos em cartas onde eram abordados questionamentos e dificuldades de cada igreja local.

– Visto quem é o remetente da carta, vejamos quem são seus destinatários. O texto diz que Paulo escreve para

“os santos e fiéis que estão em Éfeso” (Ef.1:1). De pronto, surge uma dificuldade, qual seja, a de que, em alguns manuscritos, não existe a expressão “em Éfeso”, o que fez alguns estudiosos entenderem que a carta, na verdade, não era dirigida à igreja em Éfeso,

mas a todas as igrejas que tinham sido fundadas por Paulo, e chegam mesmos a dizer que esta seria a carta que Paulo teria encaminhado aos laodicenses, mencionada em Cl.4:16.

Seria, portanto, uma “carta circular” e cuja cópia dirigida a Éfeso teria se notabilizado entre as demais a ponto de ser entendida como sendo uma carta aos efésios, até pela importância de Éfeso naquela época.

– Os que defendem esta “teoria da carta circular”, dizem que o texto da carta não tem qualquer particularidade com relação à igreja em Éfeso e as saudações finais também não mencionam este direcionamento da epístola para aquela igreja, o que seria de se estranhar já que a relação de Paulo com a igreja dos efésios era muito grande.

– No entanto, como muitos manuscritos contêm a expressão “em Éfeso” e como o próprio fato de se ter uma carta circular também significa que a carta foi entregue àquela igreja também, torna a questão absolutamente secundária e que não altera em coisa alguma a verdade contida neste escrito paulino.

– Como afirma o pastor Elienai Cabral, um dos consultores teológicos da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, “…a epístola de Paulo aos Efésios (…)

se destaca pela universalidade do seu conteúdo não só à igreja em Éfeso mas a todas as igrejas sob a liderança pastoral de Paulo, bem como a toda a Igreja de Deus em todo o mundo e em todos os tempos.

O caráter universal dessa epístola é percebido pelo plano da salvação proposto por Deus desde a fundação do mundo e que alcança toda a criatura humana independente de cor, raça ou nação…” (op.cit., p.4).

Assim sendo, ante seu conteúdo universal, o fato de ser, ou não, uma carta circular, é algo absolutamente irrelevante.

– De qualquer maneira, a ênfase dada a Paulo quanto aos remetentes da carta não é a localidade, mas, sim, o fato de serem “os santos que estão em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus” (Ef.1:1).

Se há a probabilidade de que a localidade ficaria em “branco” para ser preenchida posteriormente, numa “carta circular”, isto não se dá com relação a “santos” e “fiéis em Cristo Jesus”.

– Num texto que falar o que é a Igreja, que serve de fundamentação e aprofundamento doutrinário sobre o “mistério” da Igreja, fica desde logo asseverado que os membros da Igreja,

os “membros em particular do corpo de Cristo” (I Co.12:27) possuem duas qualidades peculiares, dois atributos, duas características indispensáveis: santos e fiéis em Cristo Jesus.

– Não há como pertencer à Igreja sem ser santo. A santidade é uma condição “sine qua non” para se pertencer ao povo de Deus. Como Deus é santo, devemos ser, também, santos, se quisermos pertencer ao Seu povo (Lv.11:44; I Pe.1:15,16).

O próprio apóstolo mostra que pertencem à Igreja os que foram santificados em Cristo Jesus e que, por isso mesmo, são chamados santos (I Co.1:2).

– Como afirma o comentarista bíblico Matthew Henry (1662-1714) :

…” Eles os chama de santos, porque para isso que haviam professado e estavam determinados em ser na verdade e na realidade.

Todos os cristãos devem ser santos; mas, se não se tornarem santos aqui na terra, nunca o serão na glória…” (Comentário bíblico completo. Novo Testamento: Atos a Apocalipse. Trad. de Luis Aron, Valdemar Kroker e Haroldo Janzen, p.577).

– Para sermos santos, precisamos ser santificados e a santificação é uma etapa do processo de salvação.

“…Ensinamos que, já salvo, justificado e adotado como filho de Deus, o novo crente entra, de imediato, no processo de santificação, pois assim o requer a sua nova natureza em Cristo:

‘agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação e, por fim a vida eterna’ (Rm.6:22); ‘esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição’ (I Ts.4:3).

Todos os crentes em Jesus são chamados santos [I Co.1:2]. Santificação é o ato de separar-se do pecado e dedicar-se a Deus [Rm.12:1,2].

Ele exige santidade de seus filhos: ‘como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está:

Sede santos, porque Eu sou santo’ (I Pe.1:15,16); pois sem a santificação ninguém verá o Senhor: ‘Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor’ (Hb.12:14)…” (Declaração de Fé das Assembleias de Deus, cap.X.3, p.112).

– Ao contrário dos que dizem alguns mal informados a respeito dos “protestantes”, cremos, sim, na possibilidade do alcance da santidade e, com relação a estes,

quase sempre romanistas, podemos afirmar que somos nós quem realmente cremos na possibilidade da vida santa, de que os salvos em Cristo Jesus, ao passarem para a dimensão da eternidade, estarão já na presença do Senhor, não precisando se “purificar” no Purgatório, precisamente porque são realmente santos.

Aliás é este o teor do item 10 de nosso Cremos: “[CREMOS] na necessidade e na possibilidade de termos vida santa e irrepreensível por obra do Espírito Santo, que nos capacita a viver como fiéis testemunhas de Jesus Cristo (Hb.9:14; I Pe.1:15).”

– Mas, além da santidade, Paulo envia sua carta aos “fiéis em Cristo Jesus”. A santidade leva-nos à comunhão com Deus, faz-nos ser um com Ele (Jo.17:20,21) e, em razão disto, há uma exigência, qual seja, a de que Lhe sejamos fiéis, isto é,

que cumpramos o compromisso assumido diante de Deus e dos homens de servir ao Senhor até a morte, de obedecer-Lhe.

Fidelidade significa cumprimento dos deveres e das obrigações assumidos, manutenção das promessas feitas, imutabilidade da posição obtida.

– Matthew Henry diz que “fiéis em Cristo Jesus” é ser “…crentes n’Ele e firmes e constantes na lealdade a Ele e às Suas verdades e caminhos…” (op.cit., p.578).

Calvino afirma que “…nenhuma pessoa crente deixa de ser igualmente santa; em contrapartida, nenhuma pessoa santa deixa de ser igualmente crente…” (op.cit., p.20), pois, como diz Matthew Henry”

…Os infiéis não são santos. Somente os que creem em Cristo e se dedicam firmemente a Ele e permanecem fiéis à profissão de fé que fizeram em relação ao seu Senhor podem ser considerados santos…” (op.cit.,  p.578).

– Deus é fiel (I Co.1:10; 10:13; II Co.1:18; II Tm.2:13) e, se nos tornamos Seus filhos (Rm.8:15; Gl.4:5), se participamos da Sua natureza (II Pe.1:4), temos, necessariamente de ser igualmente fiéis.

Esta fidelidade, à evidência, não decorre de nossas próprias forças, mas pelo fato de estarmos em Cristo Jesus, de não mais vivermos mas Cristo viver em nós (Gl.2:20), pois Ele é o exemplo de fidelidade, tendo sido obediente até a morte e morte de cruz (Fp.2::5-8; Ap.1:5; 3:14; 19:11).

– Será que, ante tais ensinos do apóstolo, podemos nos dizer destinatários desta carta? Pensemos nisso! João Crisóstomo (347-407), aliás, leva-nos a refletir, pois afirma:

“…Consideremos que relaxamento é o nosso, quão rara a virtude se tornou hoje e quão comum era, uma vez que os mundanos mesmos eram chamados santos e fiéis…” (Homilias sobre a epístola de Paulo aos efésios. n.100.  Citação de Ef.1:1-14. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 28 jan. 2020) (tradução nossa de texto em francês).

– Em seguida, o apóstolo, então, faz a sua saudação que é rotineira em todas as suas epístolas. Ele saúda os santos e fiéis em Cristo Jesus com a graça e a paz da parte de Deus, nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo (Ef.1:2).

– Cumpre aqui observar, de pronto, um costume que se tem generalizado em nossas igrejas de fazer a saudação à irmandade se utilizando desta expressão que é recorrente nas epístolas paulinas (com exceção das epístolas pastorais, em que se acrescenta a misericórdia).

Não nos parece ser este um costume que deva prevalecer e substituir o tradicional “a paz do Senhor”.

– Com efeito, quando Jesus Se apresentou aos discípulos, já ressurreto, saudou-os com a paz (Jo.20:19), repetindo aqui o que havia dito que os discípulos deviam fazer quando foram enviados nas suas missões evangelísticas durante o ministério público de Nosso Senhor e Salvador (Mt.10:12,13; Lc.10:5,6).

– A saudação do apóstolo foi feita em epístolas, portanto com uma certa formalidade, num contexto completamente diferente de cumprimentos fraternais entre irmãos, de modo que não consideramos que tal inovação deva ser seguida, conquanto, obviamente, não se trate de assunto doutrinário, mas algo que esteja relacionado a usos e costumes.

– De qualquer modo, ao se dizer sobre a “graça e a paz”, o apóstolo, como em outras epístolas, reforça a unidade do Pai com o Filho,

o que seria evidenciado pelo apóstolo João em seus escritos, notadamente nas epístolas, a fim de que não se tivesse um unitarismo, que, lamentavelmente, acabou por invadir a igreja ao longo da história (I Jo.2:22,23).

A unidade que há entre o Pai e o Filho é precisamente a unidade que deve haver entre a Igreja e essas duas Pessoas divinas (Jo.17:20,21).

– Todo aquele que nega a Triunidade divina ou a divindade de Cristo Jesus jamais pode ser considerado, nem em hipótese, como integrante da Igreja. Lembremos sempre disso!

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5112-licao-1-carta-aos-efesios-saudacao-aos-destinatarios-i

Video 02: https://youtu.be/asuVNV56sy8 e https://adautomatos.com.br/home

Glória a Deus!!!!!!!