ESBOÇO Nº 1
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Neste terceiro trimestre de 2024, teremos o nosso primeiro trimestre bíblico em o novo currículo da CPAD, iniciado há três anos, estudando dois livros das Escrituras: Rute e Ester.
Estes dois livros históricos são, também, os dois livros que possuem título feminino, pois, em ambos os livros, as personagens principais são mulheres, numa clara demonstração de que é grande mentira a acusação de que a Bíblia Sagrada seja um livro “machista” ou “misógino”.
O livro de Rute, que a tradição judaica diz ter sido escrito pelo profeta Samuel, conta a história de como Rute, uma mulher moabita, veio a se tornar bisavó do rei Davi e, deste modo, ingressou na genealogia de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, como se verá, depois, no evangelho segundo Mateus.
O livro de Ester, que a tradição judaica diz ter sido escrito por Mardoqueu, pai adotivo de Ester, mostra como o Senhor providenciou que Ester se tornasse rainha da Pérsia e, nesta posição, impedisse a destruição do povo judeu.
Em ambos os livros, vemos a ação divina que, sobre todas as circunstâncias, vai cumprindo o Seu plano de salvação para a humanidade, seja impedindo que a se interrompesse a árvore genealógica do Salvador, no caso de Rute, seja impedindo que a nação israelita, de onde viria o Salvador, fosse dizimada.
É oportuno aqui lembrar que, na Bíblia Católica, ou seja, as Escrituras adotadas pela Igreja Católica Apostólica Romana, segundo o determinado no chamado Concílio de Trento (1545-1563), há um terceiro “livro feminino”, o “livro de Judite”.
Entretanto, não se trata de um livro inspirado.
Por primeiro, porque assim nunca foi considerado pelos judeus, a quem foi entregue a antiga aliança (Rm.9:4,5).
Por segundo, segundo o comentarista da Edição Pastoral da Bíblia Sagrada, uma versão da Bíblia Católica em língua portuguesa, ” a grande indiferença que este livro demonstra pela história e geografia indica que seu autor não pretende relatar fatos históricos concretos.
Quer apenas compor uma história para encorajar o povo a resistir e lutar.” (Bíblia Sagrada. Edição Pastoral, p.544). Temos, portanto, uma história fictícia e repleta de erros históricos e geográficos.
Começa denominando Nabucodonosor de rei da Assíria e cuja sede seria Nínive (Jt.1:1,7, 2:1,4; 4:1), o que é um rotundo absurdo! Relata também que um general de Nabucodonosor veio atacar os israelitas depois que o povo judeu havia voltado do cativeiro (Jt.5:18- 19).
Como entender isto, já que foi Nabucodonosor quem destruiu o templo e que o retorno do povo do cativeiro deu-se setenta anos depois, quando já se estava no domínio persa? Erros grosseiros que bem demonstram que o livro não é inspirado.
Esta é, aliás, a perspectiva em que estudaremos ambos os livros, qual seja, a do “Deus que governa o mundo e cuida da família”. Nestes dois livros, vemos como o Senhor está sempre no controle de todas as coisas e que nada pode impedir ou frustrar os Seus planos (Cf. Jó 42:2).
Neste ponto, aliás, bem elucidativa a capa da revista do trimestre, que nos traz, à frente, uma coroa real sobre o manto real, a nos lembrar que o Senhor reina sobre todas as coisas, tem tudo sob o Seu controle.
É esta a mensagem que nos traz o livro de Ester, onde, mesmo não havendo sequer a menção do nome de Deus, vemos como o Senhor estava no absoluto controle de tudo para impedir a destruição de Seu povo e, por conseguinte, o malogro do Seu plano de salvação da humanidade.
Quem realmente estava a governar era o Senhor e não Assuero ou mesmo Ester.
Ao fundo, a capa da revista traz uma plantação de trigo, a nos mostrar que o Senhor tem todo o poder e o domínio sobre a natureza.
Esta imagem evoca-nos o livro de Rute, cuja narrativa se desenvolve em torno das colheitas de dois dos principais produtos agrícolas de Israel, o trigo e a cevada.
Por falta de colheita, pela fome, Elimeleque e sua família abandonam a terra de Israel e, quando Noemi retorna com Rute, totalmente desamparada, será por ocasião de duas colheitas que o Senhor proporcionará a restauração desta família, que viria a ser a família do Salvador.
Nos dois livros, um dos quais, aliás, qual seja o de Ester, o nome de Deus nem sequer é mencionado, vemos como, em cada pormenor, em cada acontecimento, por mais estranho que o possa ser, o Senhor está executando o Seu plano de salvação para a humanidade.
Quem poderia imaginar que um belemita sem fé, como era Elimeleque, abandonando a sua terra e indo para Moabe, lugar proibido aos israelitas, e encontrando ali a morte, assim como seus filhos, estava dentro da Divina Providência para a continuidade da geração da tribo de Judá e que resultaria na árvore genealógica de Cristo?
Quem poderia imaginar que uma jovem como Ester, órfã e cativa na Pérsia, seria um instrumento para a manutenção do povo judeu e, por conseguinte, da nação de onde viria o Salvador?
Em ambas as narrativas, vemos o extremo cuidado de Deus, não só com o controle de todas as coisas, mas também com a família, instituição por Ele próprio criada e que é a base da sociedade, tanto que teve o Senhor o extremo cuidado de zelar por ela para que dela adviesse o Salvador, como também que, no seio de uma família, o povo judeu pudesse ser salvo da destruição.
Depois de uma lição introdutória, em que teremos uma visão panorâmica de Rute e de Ester e seu papel na história de Israel, temos dois blocos no trimestre.
No primeiro bloco, estudaremos o livro de Rute (lições 2 a 5) e,
no segundo, o livro de Ester (lições 6 a 13).
O comentarista do trimestre é o pastor Silas Queiroz, que é pastor nas Assembleias de Deus em Ji-Paraná/RO, localidade onde exerce a função de Procurador-Geral do Município. Já tem comentado lições bíblicas da CPAD há alguns anos.
Que, ao término deste trimestre, aprofundando-nos no estudo destes dois livros das Escrituras, tenhamos plena consciência da majestade e soberania do Senhor sobre o mundo e sobre a família.
B) LIÇÃO Nº 1 – DUAS IMPORTANTES MULHERES NA HISTÓRIA DE UM POVO
Rute e Ester são duas mulheres que foram fundamentais para os desígnios divinos para com Israel.
INTRODUÇÃO
-Estudaremos neste trimestre letivo dois livros das Escrituras: Rute e Ester.
-Rute e Ester são duas mulheres que foram fundamentais para os desígnios divinos para com Israel.
I – A DIGNIDADE DA MULHER
-Uma das grandes mentiras que se espalham no mundo a respeito da Bíblia Sagrada é a que a apresenta como um livro “machista” e “misógino”, que desconsidera a figura da mulher, fruto de uma cultura “patriarcalista”. Nada mais enganoso, porém.
-Já no relato da criação, vemos como o Senhor teve o mesmo cuidado e zelo para criar tanto o homem quanto a mulher.
Deus quis que o ser humano fosse sexuado e que, por meio da procriação, fosse partícipe da criação da humanidade com Ele sobre a face da Terra (Gn.1:26-28; 2:24).
-Deus cuidava de ambos independentemente do sexo de cada um, tratando-os igualmente embora fossem eles diferentes entre si, até pela forma da criação.
À mulher, inclusive, destinou a maternidade, o ápice da feminilidade, tanto que a primeira mulher foi chamada de “Eva”, por ser, precisamente, a “mãe dos viventes” (Gn.3:20).
-A maternidade, inclusive, foi apresentada como o instrumento pelo qual a mulher se redimiria da queda que ocasionara à humanidade, pois o Salvador seria, sobretudo, a “semente da mulher” (Gn.3:15), ou seja, se por meio da mulher se trouxe o pecado aos seres humanos, também por meio de uma mulher viria o Salvador que nos traria de volta à comunhão com o Senhor (Gl.4:4).
-Não foi sem motivo, aliás, a alegria de Eva quando teve seu filho Caim (Gn.4:1), pois via como, tornando- se mãe, já se apresentava como instrumento para que o Senhor cumprisse a Sua promessa de salvação da raça humana.
-Tem-se, pois, nitidamente que, em momento algum nas Escrituras, há qualquer papel subalterno, desprezo ou menosprezo para com as mulheres, mas, pelo contrário, Deus sempre considerou o importante papel da mulher na história humana.
-Verdade é que o Senhor fez questão de mostrar à mulher os efeitos que ocorreriam por causa da queda. A escravidão do pecado traria para a mulher não só a multiplicação de dores na conceição, mas, também, uma inferiorização social diante dos homens, ou seja, o sistema gerado pelo pecado, o mundo, que jaz no maligno (I Jo.5:19) e que não tem o amor do Pai (I Jo.2:15-17), traz um peso de inferiorização, desigualdade e injustiça à mulher, algo que não é querido por Deus e nem mantido onde o Senhor passar a reinar.
-Notemos, aliás, que, por ocasião do dilúvio, foram salvos igual número de homens e de mulheres
(Gn.8:18; I Pe.3:20).
-O Senhor, portanto, ao executar o Seu plano de salvação, mostra toda a Sua fidelidade e imutabilidade, tratando homens e mulheres igualmente, como também preservando as instituições que criou, a começar da família.
-Então, não se apresenta como surpresa o papel que as mulheres passaram a desempenhar na execução do plano da salvação. Ao lado dos patriarcas, temos também as “matriarcas” (Sara, Rebeca, Lia e Raquel), todas elas igualmente comprometidas, assim como seus maridos, em fazer a vontade do Senhor, ainda que dentro das imperfeições e da pecaminosidade humanas.
-Quando o povo já está formado e vai ser libertado do Egito para ir para a Terra Prometida, vemos o importante papel desempenhado por mulheres para a preservação dos filhos de Israel, desde as parteiras egípcias, até as figuras de Joquebede e sua filha Miriã, que foram fundamentais para que Moisés fosse quem fosse.
II– RUTE – A MOABITA QUE VEM FAZER PARTE DA FAMÍLIA REAL DO MESSIAS
-Conquistada a Terra Prometida, deveria a geração da conquista dar início ao trabalho cometido a todos os israelitas, quais sejam, o de transmitir às gerações futuras a lei do Senhor, a fim de que Israel persistisse sendo a propriedade peculiar divina dentre todos os povos da Terra (Ex.19:5).
-Para tanto, determinou o Senhor que caberia à família, base de toda sociedade, realizar a missão de intimar as palavras da lei de Deus em todo o tempo, a todos instante, para que eles conhecessem a Deus e Lhe servissem (Dt.6:6-9; 11:18-21; Sl.78:2-8).
-Somente a cada sete anos, quando, antes do início do ano do jubileu, fosse lida a lei a todo o povo publicamente, é que eventualmente alguém que, por negligência dos pais, não tivesse conhecimento da lei do Senhor, teria, então, contato com ela (Dt.31:9-13), em uma clara demonstração que cabia à família a tarefa primordial de instruir os israelitas na lei de Deus.
-Lamentavelmente, porém, não foi isto que aconteceu. O texto bíblico é claro ao mostrar que a geração da conquista não teve o cuidado de instruir seus filhos e, então, iniciou-se um círculo vicioso que levou a total ignorância espiritual dos israelitas que ocasionou a sua apostasia e infidelidade (Jz.2:7-23).
– É o período dos juízes, que durou por volta de trezentos a quatrocentos anos, e que trouxe uma época de estagnação espiritual para o povo de Israel e de envolvimento dele com a idolatria dos povos que viviam entre eles e à sua volta.
-É, precisamente, neste período que teremos a figura de Rute. O livro de Rute conta a história de uma família de Belém de Judá, que seriam os ascendentes biológicos do rei Davi, e como o Senhor, para cumprir o Seu plano de salvação, interveio para que a família que viria a ser a família do Salvador, se perdesse e até mesmo desaparecesse da face da Terra, por causa da infidelidade e apostasia.
-A narrativa do livro, que a tradição judaica diz ter sido escrita pelo profeta Samuel, inicia-se informando que se estava no tempo em que os juízes julgavam (Rt.;1:1), numa clara demonstração, portanto, que estamos neste espectro deste triste período de torpor espiritual que viviam os israelitas.
-As Escrituras falam da pessoa de Elimeleque, nome cujo significado é “Deus é nosso rei”, o que, por si só, já mostra que este israelita, da tribo de Judá, havia nascido em alguma circunstância que fizera seus pais a exaltar a majestade, o domínio e o governo do Senhor sobre Israel e sobre toda a terra, já que os nomes são eram escolhidos a esmo, mas, durante uma semana, até a circuncisão, os pais observavam as circunstâncias do nascimento para encontrarem o nome apropriado para a pessoa.
-Pois bem, Elimeleque recebeu este nome precisamente porque seus pais chegaram a constatação de que seu nascimento reforçava o domínio divino sobre tudo e todos.
-No entanto, ao longo da sua vida, Elimeleque iria negar o seu próprio nome. Em Rt.1:1, é dito que houve uma fome na terra e, diante disto, Elimeleque resolveu emigrar para Moabe.
-Esta afirmação já nos mostra que Elimeleque não estava a honrar seu nome. Se “Deus fosse o seu rei”, ele saberia que estava a ocupar uma terra que lhe havia sido dada pelo Senhor na divisão da terra e, portanto, havia uma promessa divina para prosperidade naquele local, designado por Deus.
-O lugar da bênção é sempre o lugar em que Deus nos põe e Elimeleque sabia, claramente, que a terra que ocupava era uma concessão do Senhor a ele, de modo que deveria confiar em Deus, sabendo que o Senhor é fiel e supriria o necessário.
Deveria lembrar-se de Isaque que, diante da fome, foi aconselhado por Deus a não sair de Canaã (Gn.26:1,2) ou de Jacó, que somente foi ao Egito após expressa ordem divina a respeito (Gn.46:1-3) e isto quando ainda eram peregrinos lá.
-Elimeleque deveria, ademais, saber que a ocorrência de fome sobre a terra era consequência de desobediência e infidelidade do povo (Cf. Lv.26:14-20; Dt.28:15-24) e, portanto, além de verificar como estava sua conduta diante de Deus, deveria também convidar as pessoas a servir a Deus para terem dissipada aquela situação.
-Entretanto, tendo chegado a fome, Elimeleque demonstrou toda a sua incredulidade, ao resolver ir embora para Moabe. Esta sua triste situação espiritual também se revela pelos nomes que deu a seus dois filhos: Malom e Quiliom, nomes cujos significados são “doença” e “definhamento”.
-Ao dar estes nomes a seus filhos, Elimeleque mostrava uma certa indignação e descontentamento com a vida, pois, como dissemos, os nomes não eram dados aleatoriamente, mas levavam em conta as circunstâncias de cada nascimento ou concepção.
Não sabemos se Elimeleque sofrera, na sua família, o drama da doença ou se havia um “definhamento” das condições de vida, mas o fato é que, tendo uma esposa chamada “Noemi”, que significa “agradável”, deu estes nomes a seus filhos.
-Sobrevindo a fome na terra, Elimeleque não pensa duas vezes em abandonar a terra que Deus lhe havia dado, resolvendo mudar-se para Moabe, conhecida por ser uma terra fértil.
-Elimeleque não se importou com a herança que lhe dera o Senhor, nem tampouco com o fato de que Deus havia dito claramente aos israelitas que não deveriam ocupar a terra de Moabe (Dt.2:9) e, mais ainda, que os moabitas eram proibidos de entrar no tabernáculo, uma vez que não tinham levado água para o povo na peregrinação do deserto bem como alugado Balaão para amaldiçoar Israel (Dt.23:3,4).
-Notamos, pois, que Elimeleque não nutria apreço pela lei do Senhor e, em sua revolta, resolveu deliberadamente desobedecer ao Senhor. Noemi, sua mulher, teve de acompanhá-lo, mas, ao contrário do seu marido, não parecia ser alguém que não tinha apreço pela lei de Deus, tanto que o livro de Rute nos mostra que sempre tratou suas noras com amor e dedicação, também lhes ensinando a lei divina.
-Em Moabe, Elimeleque encontra a morte. Quando afrontamos a vontade divina, quando nos rebelamos contra o Senhor, não há outro desfecho que não seja a morte, e aqui não apenas morte física, mas, o que é muito mais grave, a morte eterna, a perdição.
-Com a morte de seu pai, seus filhos deveriam ter caído em si e se arrependido, retornando a Israel, mas, bem ao contrário, mostrando que haviam seguido o caminho de seu pai, não só não retornaram como também resolveram formar família em Moabe, casando-se com mulheres moabitas, “Rute”, cujo nome significa “vistosa” e “Orfa”, cujo nome significa “pescoço” (Rt.1:3,4).
-Ao se casarem com mulheres moabitas, Malom e Quiliom demonstraram todo seu desapreço com sua origem israelita, decidiram não ter mais comunhão com o Senhor e estarem prontos para viver para sempre em Moabe.
-O fim de ambos não seria, pois, diferente de seu pai e, pouco depois, ambos também morrem em Moabe, deixando as mulheres viúvas e desamparadas.
-É aqui que vemos que, diante desta situação espiritual lamentabilíssima, Noemi havia mantido a sua fidelidade a Deus, mostrando a suas noras quem era o seu Deus e despertando nelas o interesse em conhecê- l’O.
-Tanto que, ao saber que a fome já havia acabado em Belém, Noemi decide retornar a Israel, as suas duas noras resolvem ir com ela, mesmo tendo pleno conhecimento de que os moabitas não eram bem vistos em Israel.
Entretanto, a fidelidade de Noemi fora suficiente para que elas aprendessem a confiar no Deus de Israel e a entender que poderiam melhoras as suas vidas na Terra Prometida.
-Noemi era a única responsável por este testemunho a respeito do Senhor, e seria este seu trabalho missionário importantíssimo para que Rute resolvesse servir ao Deus de Israel e, nesta resolução, propiciasse a execução do plano da salvação da humanidade. Temos tido esta mesma conduta de Noemi, mesmo em meio às adversidades da vida? Pensemos nisto!
-Noemi tentou dissuadir suas noras de irem com ela para Israel, e Orfa aquiesceu e retornou ao seu povo (Rt.1:14), mas Rute resolveu ir com Noemi, pois queria que o Deus de Noemi fosse o seu Deus (Rt.1:15-18).
-Rute demonstra toda a sua fé, porquanto, apesar do péssimo exemplo dados por Elimeleque, Malom e Quiliom, creu naquilo que foi transmitido por Noemi e que o único Deus verdadeiro era o Deus de Israel e que somente poderia alcançar sua felicidade servindo a este Deus.
-Esta deliberação de Rute, de crer contra toda a esperança, bem sabendo que não poderia, como moabita, sequer frequentar a congregação do Senhor, mas, mesmo assim, confiando nas promessas que haviam sido desprezadas por seu sogo e marido, mostra-nos como para pertencer à “família de Deus”, é preciso ter fé e não olhar para as circunstâncias, mas para as promessas. Temos feito isto?
-Rute retorna com sua sogra Noemi crendo que o Senhor poderia restaurar a sua família, que o Senhor quer sempre abençoar o Seu povo, a começar da família, e será exatamente isto que se fará, como veremos ao longo do trimestre.
-A partir de uma mulher que a própria lei divina dizia não poder sequer se apresentar ao Senhor, Deus haveria de restaurar a família de onde viria o Salvador, mostrando que Ele não apenas é fiel e cumpre as Suas promessas como também é o Senhor de toda a terra (Ex.19:5).
-Todo aquele que invoca o nome do Senhor é salvo (Jl.2:32; At.2:21; Rm.10:13) e Rute é um dos muitos exemplos bíblicos a este respeito e, por meio de Rute, não só a família de Elimeleque foi restaurada, como se teve a restauração da família na qual nasceria o Salvador, trazendo a salvação para toda a humanidade.
-Com Rute, vemos como o Senhor é o Deus que cuida da família e que, por meio da família, tem condições de estruturar uma sociedade que seja mais receptiva à salvação na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
-Deus não mudou e continua a ser este Deus que cuida da família e que, se invocarmos o Seu nome, faremos com que nossas famílias sejam poderosos instrumentos para a salvação das almas e para as bênçãos que Deus quer derramar sobre todos os que O invocam.
III– ESTER, A RAINHA JUDIA QUE IMPEDIU A DESTRUIÇÃO DE SEU POVO NO IMPÉRIO PERSA
-Após o dilúvio, o Senhor instaurou o “governo humano”, determinando que os homens, em sociedade, zelassem pela observância da justiça e punisse todos quantos transgredissem as normas de convivência, estatuídas pelo próprio Deus. Este “governo humano” dá origem ao sistema político.
-Em virtude da pecaminosidade humana, porém, cedo este “governo humano” se deteriorou e o que se teve foi a rebelião deste governo contra Deus, que se consumou no episódio da torre de Babel, quando todos os homens resolveram afrontar ao Senhor.
Como resultado disto, o Senhor espalhou aquela comunidade única pós-diluviana por toda a Terra, com a confusão das línguas, dando origem, então, às nações, em número de setenta, ao início, e que depois se subdividiram ao longo da história humana.
-Este sistema gentílico (as “nações” são as “gentes” e seus integrantes são os “gentios”) está sob o domínio do maligno, porquanto se rebelou contra Deus. Entretanto, isto não significa que Deus não tenha o controle sobre ele, pois toda a Terra é Sua (Ex.19:5; Sl.24:1).
-Deste modo, embora os homens tenham obnubilado seu entendimento e, em sua recusa de glorificação a Deus, desvaneceram em seus discursos, tornando-se loucos embora se dissessem sábios (Rm.1:21,22), isto em nada alterou a soberania divina sobre tudo e sobre todos, tanto que, ao descrever esta triste situação, o apóstolo Paulo tenha dito que “do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça” (Rm.1:18).
-Bem por isso, ante esta rebeldia generalizada ocorrida em Babel, o Senhor resolveu formar uma nação, na qual pudesse vir o Salvador, já que todos haviam se rebelado contra Deus e vai até a principal metrópole do momento imediatamente posterior à confusão das línguas, Ur dos caldeus, e lá chama Abrão para dele fazer uma grande nação e nele tornar benditas todas as famílias da Terra (Gn.12:1,3).
-Note-se, pois, que a rebeldia humana e a perversão de todo o sistema gentílico em nada alterou o propósito salvador divino bem como a execução deste plano de salvação, passando, então, o Senhor a formar um povo que pudesse ser Sua propriedade peculiar dentre todos os povos e pelo qual viesse a salvação da humanidade (Ex.19:5; Jo.4:22).
-Depois de ter formado este povo durante 430 anos (Gl.3:17), o Senhor leva-o até o monte Sinai onde sela com ele o pacto da lei, tornando Israel reino sacerdotal e povo (Ex.19:6), como também lhe prometendo dar a terra de Canaã para que ali habitasse enquanto fosse fiel ao Senhor (Lv.26; Dt.28).
-Desde o início, aliás, o Senhor mostrou Seu controle sobre o sistema gentílico. O episódio da libertação de Israel do Egito foi uma demonstração aos israelitas da soberania divina, pois Deus subjugou a maior potência da época, que era o Egito, mostrando ser o único e verdadeiro Deus (Ex.20:2; Nm.33:4; Dt.6:3).
-Depois, entregou a terra de Canaã aos israelitas, tendo-os tirado de lá, primeiro as dez tribos no norte e, depois, ainda que temporariamente, as três tribos do sul (contando Levi), em virtude de sua infidelidade (lembrando que remanescentes das dez tribos vieram habitar no sul no cativeiro assírio).
-Inobstante, Israel jamais desapareceu como povo, ao contrário das demais nações ao longo da história, porquanto há uma promessa divina de que este é um povo especial, que ainda não cumpriu o desígnio divino de ser Seu reino sacerdotal e povo santo dentre os povos.
-Por isso mesmo, ante o castigo decorrente da infidelidade, que os fez perder a independência política (Cf. Ne.9:33-37), o Senhor fez questão de revelar a Seu povo que o sistema gentílico sempre estaria sob Seu controle, como nos mostra, por exemplo, nas revelações dada a Daniel, a começar da estátua do sonho do rei Nabucodonosor, que nada mais é que este sistema gentílico que, no futuro, será substituído pelo governo do Messias sobre toda a Terra (Dn.2).
-Este cuidado para com a preservação de Israel, a fim de que não só a salvação viesse aos homens, mas para que se cumpra o desígnio divino até hoje nunca cumprido de serem os israelitas o povo santo e o reino sacerdotal do Senhor dentre os povos, está bem demonstrado na história de Ester, a judia que o Senhor fez se tornar rainha da Pérsia exatamente para impedir a destruição total do povo de Israel.
-Hadassa era uma moça judia, integrante de uma família que não havia retornado do cativeiro (Et.2:7), muito provavelmente porque seus membros trabalhavam na corte do rei da Pérsia, então a potência mundial (o segundo império anunciado nas revelações de Daniel), o que impedia que retornassem a terra de Canaã.
-O nome “Hadassa” significa “murta”, planta existente em Israel, cujas folhas estão sempre verdes e que fornece um perfume, o que a associa a generosidade divina e a paz (Is.55:13; Zc.1:8,11), o que mostra que a menina foi vista como um presente de Deus para aquela família, mal sabendo eles que seria uma dádiva providencial para a preservação dos filhos de Israel.
-Apesar deste seu nome, Hadassa fica órfã e passa a ser criada pelo seu primo, Mardoqueu, que trabalhava na corte do rei Assuero, lembrando que “Assuero” é um título, como “Faraó”, e que, por causa disto, torna-se difícil identificar quem seria este rei persa, mas as opiniões são de que tenha sido ou Xerxes I, que reinou entre 486 e 465 a.C. ou, cono defende Flávio Josefo, Artaxerxes II, que reinou entre 404 e 365 a.C.
-Mardoqueu, cujo nome significa “pequeno Marduque” deus babilônio, nome certamente dado na corte real, onde ele servia, instruiu Hadassa na lei do Senhor, como podemos notar ao longo da narrativa do livro de Ester, sendo, assim, uma moça temente ao Senhor.
-Mais uma vez vemos o Senhor trabalhando no interior de uma família para, a partir dela, preservar Israel e o plano da salvação da humanidade. Notemos, aliás, estarmos diante de uma “família monoparental”, formada por Mardoqueu e sua prima, filha adotiva.
-O fato é que Deus, na Sua Providência, já estava a preparar aquela jovem para ser o instrumento para impedir a destruição do povo judeu.
-Dentro desta circunstância, criou o Senhor uma situação para que Assuero depusesse a sua esposa Vasti e fosse escolher uma moça para substituí-la e Hadassa, cujo nome persa era Ester, cujo significado é “estrela”, acabou sendo uma das escolhidas para a seleção da nova rainha, tendo Mardoqueu, ciente das intrigas palacianas, dito a ela que não revelasse a sua nacionalidade.
-Ester acabou sendo a escolhida pelo rei e se tornou rainha e, logo depois Mardoqueu soube de uma conspiração contra o rei, revelou tudo a Ester que transmitiu a notícia a Assuero, que desfez tal conspiração.
-Por causa desta conspiração, os ventos da corte real passaram a soprar a favor de Hamã, que passou a ser o segundo nome na estrutura de poder do império persa. Hamã, cujo nome tem o significado de “celebrado”, era agagita (Et.3:1), ou seja, descendente de Agague, rei dos amalequitas cuja família foi preservada, contra expressa ordem divina, pelo rei Saul e que são notórios inimigos do povo de Israel, contra quem os israelitas travaram a primeira guerra após a sua libertação no Egito (Ex.17:8-16). Amaleque é o símbolo bíblico de oposição a Israel, uma nação que decidiu voluntariamente ser inimiga do povo de Deus.
-Hamã foi engrandecido e todos deviam ajoelhar-se quando ele passasse, mas Mardoqueu nunca o fez e, por causa disso, Hamã passou a odiá-lo e ao descobrir que ele era judeu, procurou, então, não só destruir Mardoqueu mas todo o seu povo, conseguindo autorização de Assuero para tanto.
-O argumento utilizado por Hamã para que o rei o autorizasse a destruir os judeus era precisamente o fato de que os judeus mantinham a sua identidade enquanto povo, observavam a lei divina, e, aliás, era este o motivo por que Mardoqueu não promovia qualquer adoração ao primeiro-ministro. A preservação da identidade de
povo de Deus leva-nos sempre ao confronto com o sistema gentílico que, como vimos, nasceu da rebeldia contra o Senhor.
-Tal situação não é diferente em nossos dias. O povo de Deus continua a ser confrontado pelo sistema das nações, imerso na rebelião contra o Senhor, e isto perdurará até o arrebatamento da Igreja, pois o nosso reino não é deste mundo e nada temos com o príncipe deste mundo (Jo.18:36; 14:30,31).
-Ao saber desta autorização real para destruição dos judeus, os filhos de Israel, mostrando que se mantinham com sua identidade, apesar de espalhados em todas as terras dominadas pelos persas, começam a orar a jejuar, estimulados inclusive por Mardoqueu, que também mandou a notícia a Ester.
-Ester foi encorajada por Mardoqueu para interceder pelo seu povo junto a Assuero e, após um período de oração e jejum, foi falar com o rei e, de modo sábio, denunciou Hamã e obteve o favor real, conseguindo que, em vez de serem destruídos os israelitas, os seus inimigos o fossem, tendo, então, Deus mostrado porque levara Ester ao palácio e como a sua Providência fez com que Israel se mantivesse com sua identidade para a vinda do Messias.
-No livro de Ester, onde o nome de Deus não aparece uma única vez sequer, vemos como o Senhor está no absoluto controle de todas as coisas e como Se utiliza de diversas circunstâncias para executar os Seus desígnios.
-Embora não tenha sido mencionado no livro, vemos o Senhor agindo em cada pormenor, em cada fato, desde a embriaguez de Assuero que levou à deposição de Vasti até o tropeção de Hamã que o fez cair sobre a rainha Ester nos aposentos particulares da rainha e que determinou a sua condenação à morte, na forca, aliás, que mandara fazer para matar Mardoqueu.
-Deus Se utiliza de uma mulher, que estava em cativeiro, órfã, para, por meio dela, desfazer todo um sistema de poder que procurava impedir a consecução do plano salvífico. É o Deus que governa o mundo e que faz com que as coisas que não sejam, passem a ser, para que os planos de Deus não se frustrem (Jó 42:2).
-É o que os teólogos denominam de “Divina Providência”, que a Declaração de Fé das Assembleias de Deus define como sendo “…atividade de Deus na preservação, concorrência e governo de todas as criaturas e de tudo o que ocorre na criação até seu destino final.
A preservação é o cuidado divino em conservar e manter todas as coisas criadas:
‘sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder (Hb.1:3). Isso inclui o homem na providência divina, bem como os demais seres viventes, sejam eles animados ou inanimados, e toda a natureza [Mt.6:26, 28-30]. Deus cuida de todos os viventes, desde a estrutura mais simples até a mais complexa [Sl.145:16]. O mundo não subsistiria sem o cuidado e a vontade preservadora de Deus. É também nesse sentido que opera a concorrência [At.17:25].…” (DFAD II.6, pp.35-6).
IV– RUTE E ESTER – DOIS LIVROS FEMININOS MAS NÃO FEMINISTAS
-Neste dias difíceis em que estamos a viver, dias de apostasia espiritual, multiplicação da iniquidade e da proliferação de falsos mestres, dias que antecedem ao arrebatamento da Igreja (Mt.24: 4,12), temos o surgimento de falsos ensinos que buscam distorcer o conteúdo da Bíblia Sagrada, entre as quais “pseudoteologias”, como, por exemplo, a chamada “teologia feminista”.
-Este pensamento antibíblico está profundamente alicerçado no movimento revolucionário, principalmente de matriz marxista, que vê a mulher como um ser que é “oprimido” pelo homem e que precisa se “libertar de tal opressão”.
-Tal ensinamento faz uma proposital confusão entre a opressão inegavelmente existente no mundo contra a mulher, resultado da entrada do pecado no mundo, como já dito supra, com a defesa de uma
“insubmissão” da mulher ao homem, o que, no limite, representa a própria negação do “ser fêmea”, do “ser mulher”.
-Neste passo, querer apresentar Rute e Ester como “mulheres independentes”, “mulheres empoderadas” é algo que, além de ser uma manipulação destes ideais totalmente contrários às Escrituras como uma grosseira distorção da narrativa bíblica de ambos os livros.
-No livro de Rute, as duas mulheres que protagonizam a narrativa têm a submissão uma das notas marcantes de suas condutas e atitudes.
-Noemi nunca questionou as ações de seu marido, sendo-lhe submissa, a ponto de deixar Belém juntamente com ele, mesmo sabendo que isto não era a vontade divina expressa na lei.
-“Submissão” significa “estar sob uma missão”, ou seja, a mulher deve executar os planos e desígnios traçados pelo marido, marido que, evidentemente, deve, antes de tomar suas decisões, ouvir a mulher, pois como “cabeça”, o marido tem de mostrar ter dois ouvidos e apenas uma boca, estando pronto a ouvir as ponderações que lhe forem trazidas por aquela que foi posta a seu lado para ser sua adjutora, ou seja, ajudadora, que esteja diante dele, que lhe corresponda (Gn.2:18), ou seja, dialogue e mostre toda a sensibilidade que, aliás, falta ao homem e sobeja na mulher.
-Esta submissão de Noemi, entretanto, não envolveu a sua comunhão com o Senhor, tanto que, conquanto seu marido tenha notoriamente apostatado da fé, Noemi manteve-se fiel ao Deus de Israel, tanto que d’Ele testificou a suas noras, levando Rute inclusive a passar a ser uma serva deste Deus.
-Uma vez não mais sob o jugo de seu marido, resolveu retornar a Belém e aqui vemos como Rute foi sua aprendiz na submissão, porquanto também não só se submeteu a sua sogra, sendo-lhe sempre obediente (Rt.2:2,22,23), como passou a seguir rigorosamente todos os ditames estabelecidos pela lei do Senhor, como se verifica de sua participação nas colheitas, conforme o instituto da respiga, sua dedicação ao trabalho e sua pronta submissão a Boaz (Rt.2:13,14).
-O mesmo se dá com Ester. Órfã, adotada por Mardoqueu, imediatamente se tornou submissa a seu primo e pai adotivo, tendo, inclusive, obedecido na ordem de que jamais dissesse a sua nacionalidade (Et.2:10), o que cumpriu mesmo depois de se ter tornado rainha, somente revelando tal circunstância quando Mardoqueu lho determinou (Et.4:13-17).
-Ester, também, mostrou-se submissa a todas as regras atinentes às normas da corte do rei da Pérsia, seguindo, inclusive, as orientações que lhe foram dadas pelo eunuco Hegai (Et.2:15), o que manteve quando se tornou rainha (Et.4:11; 8:3,4).
-A desenvoltura e a coragem de Ester, fundamentais para a preservação de seu povo, não precisou jamais da “insubmissão” ou do “empoderamento”, mas, bem ao contrário, da submissão tanto a normas divinas quanto humanas, desde que não contrárias à divina, pois nenhuma bênção, nenhuma vantagem se tem em se rebelar, em se revoltar contra Deus e Sua Palavra, pois a rebelião é como pecado de feitiçaria (I Sm.15:23).
-Tais livros, portanto, como se vê são “femininos”, mas nunca “feministas”.
– E a história de como estas duas mulheres serviram aos propósitos divinos e de que o nosso Deus é soberano e que cuida tanto do mundo como de nossas famílias que haveremos de estudar neste trimestre.
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10647-licao-1-duas-importantes-mulheres-na-historia-de-um-povo-i