LIÇÃO Nº 3 – RUTE E NOEMI: ENTRELAÇADAS PELO AMOR

O relacionamento entre Rute e Noemi é uma demonstração do amor de Deus entre duas
pessoas.

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo do livro de Rute, a primeira parte deste nosso trimestre letivo, hoje analisaremos o relacionamento entre Rute e Noemi, as duas mulheres protagonistas deste “livro feminino”.

I – A ILUSÃO DA PROVISÃO POR CONTA PRÓPRIA

-Depois de termos visto uma visão panorâmica do livro de Rute, passemos a analisá-lo mais detidamente, lembrando que, como afirma o comentarista, este livro mostra-nos como Deus cuida da família.

-A família é uma instituição criada pelo próprio Deus e um dos objetivos desta criação foi a de criar um ambiente adequado e apropriado para a comunhão entre Deus e o homem, tanto que foi, na família, que se registraram as duas primeiras bênçãos divinas para o homem nas Escrituras Sagradas (Gn.1:28; 9:1).

Tem-se, pois, que a família é, sim, um local onde se verifica a provisão divina, onde Deus está pronto a prover, a suprir as necessidades.

-Este cuidado peculiar de Deus para com a família é ilustrado pelo comentarista do trimestre na história de Rute, que é contada pelo livro de mesmo nome, cuja autoria é atribuída, pela tradição judaica, a Samuel, que teria escrito o livro para mostrar a intervenção divina na escolha de Davi como rei de Israel, rei que foi ungido pelo próprio profeta (I Sm.16).

-Há quem entenda que o livro tenha tido sua redação final pelo profeta Isaías, com base em II Cr.32:32, como afirma Finnis Jennings Dake, “in verbis”:…A versão Berkeley também omite a palavra ‘e’ [em II Cr.,32:32, observação nossa], que na versão está em itálico, significando que foi acrescida pelos tradutores.

Pode-se presumir, a partir disso, que Isaías poderia ter escrito a história de Israel em sua forma final como a encontramos hoje nos livros de Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis, exceto pelos 4 ou 5 últimos capítulos de 2 Reis, que registram coisas acontecidas depois de sua época.…” (BÍBLIA DE ESTUDO DAKE, nota c a II Cr.32:32, p.753).

OBS: Reproduzimos aqui o que diz o Talmude a respeito: “Quem escreveu as Escrituras? (…) Samuel escreveu o livro que leva o seu nome, o livro de Juízes e o livro de Rute…” (Baba Bathra 14b) (Disponível em: http://www.come-and-hear.com/bababathra/bababathra_14.html Acesso em 29 ago. 2016) (tradução nossa de texto em inglês).

-Como afirma Dake, “…o livro de Rute é um simples registro histórico da vida em Israel durante o período dos juízes, ilustrando a lei da remissão do parente mais próximo, registrando a história da mulher gentia da genealogia de Jesus Cristo e atualizando a genealogia de Davi – de Perez a Davi…” (BÍBLIA DE ESTUDO DAKE, p.467).

Vê-se, pois, por esta afirmação, que este livro tem muito a nos ensinar a respeito da Divina Providência, pois mostra como o plano da salvação se desenrola mesmo em uma época assaz complicada do ponto de vista espiritual como era a época dos juízes.

-Rute é o oitavo livro da Bíblia e, segundo Dake, tem 4 capítulos, 85 versículos, 16 perguntas, 30 ordens e 2 promessas, sendo certo que é o primeiro livro das Escrituras sem profecia ou mensagem particular de Deus por um profeta de Israel, circunstância, aliás, que realça o papel da Divina Providência, já que vemos o agir direto de Deus nas circunstâncias sem que, para tanto, haja um mensageiro que revele algo ao povo.

-O próprio livro, escrito por um profeta, trata de revelar, posteriormente, este agir divino em prol do Seu povo, no silêncio e na ausência de “holofotes”. Nosso Deus continua o mesmo. Como afirma conhecido cântico: “Quando Deus fica em silêncio é porque está trabalhando”.

-Para entendermos o pano de fundo do livro de Rute, é mister que compreendamos o período dos juízes, porquanto assim quis o próprio autor do livro, ao dizer que os acontecimentos a serem retratados se dariam “nos dias em que os juízes julgavam” (Rt.1:1).

-Os juízes foram libertadores que Deus levantou ao longo de um período de duração controversa entre os estudiosos, desde a morte de Josué até o início do reinado de Saul, época em que houve um círculo vicioso na história israelita, pois, em virtude da ausência de educação doutrinária nas famílias, geração após geração caía na idolatria, levando o Senhor a permitir a opressão da população por nações estrangeiras, o que forçava o povo a clamar a Deus em busca de libertação, clamor que era atendido com a escolha de um juiz, que libertava o povo, mas que, logo em seguida, tornava a pecar e assim sucessivamente, o que se encontra retratado em Jz. 2:10-23.

OBS: Apesar das controvérsias existentes, e pertinentes, se tomarmos por base I Rs.6:1 e a informação de Flávio Josefo de que Josué governou por 25 anos (Antiguidades Judaicas V, I, 193. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.110), chegamos à conclusão de que o período dos juízes durou 301 anos.

É importante, porém, observar que o próprio Flávio Josefo diz que a construção do templo por Salomão ocorreu 569 anos depois da saída do Egito (Antiguidades Judaicas VIII, 2, 327. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.177), ou seja, uma diferença de 112 anos em relação a I Rs.6:1.

-Vivia-se, pois, um tempo em que, pela falta de ensino da lei de Moisés aos filhos, havia uma instabilidade espiritual muito grande em Israel, fazendo com que as novas gerações se deixassem influenciar facilmente pelos costumes e crenças dos povos que viviam em torno de Israel e pelos habitantes primitivos de Canaã que não haviam sido destruídos pelos israelitas e que viviam no meio deles.

Este estado de coisas, que levava o povo ao pecado e à desobediência, exigia da parte do Senhor o cumprimento do que havia sido estatuído no chamado “pacto palestiniano” (Dt. 27 e 28), com a sobrevinda de maldições sobre o povo, a começar pela privação da chuva, que transformava os céus em “céus de bronze” e a terra em “terra de ferro” (Dt. 28:23,24), o que era fatal para a própria sobrevivência da nação, que, sem a chuva, não tinha como alimentar-se.

-É importante aqui observar que este castigo decorrente da desobediência estava, como vimos, vinculado ao “pacto palestiniano”, que, previsto por Moisés, foi efetivamente firmado já nos dias de Josué, quando o povo entrou na Terra Prometida (Cf. Js.8:30-35), de sorte que não tem qualquer respaldo bíblico a sua transferência automática para a Igreja, como costuma ser feito pelos teólogos da prosperidade e da confissão positiva.

-As ações divinas no “pacto palestiniano”, relacionadas com a obediência como condicionante a uma fartura material na Terra, servem apenas como sombras da realidade espiritual para a Igreja, para a nossa dispensação, até porque a Igreja, ao contrário de Israel, não tem qualquer promessa de uma terra, de um local físico.

-Bem ao contrário, o Senhor Jesus diz que o Seu reino não é deste mundo (Jo.18:36) e o apóstolo Paulo diz que aguardamos a cidade celestial (Fp.3:20), sendo esta também a visão dos patriarcas, como Abraão, de que

somos “descendentes espirituais” (Cf. Gl.3:9; 4:28), como nos ensina o escritor aos hebreus (Hb.11:8-10,13- 16).
-Era exatamente esta a circunstância que vivia o povo de Israel quando do início do registro do livro de Rute.

-Diz o escritor que havia uma fome na terra (Rt.1:1), fome esta que grassava precisamente na cidade de Belém, na tribo de Judá. Grande ironia, pois “Belém” significa “casa de pão” (“Beth Lehem” – ביתלהם) e estava a faltar pão precisamente no lugar que, por sua fartura, foi conhecida como a casa do pão.

-Diante desta fome, um homem daquela cidade resolveu partir de Israel, deixar a Terra Prometida e mudar-se para Moabe, levando consigo tanto a sua mulher quanto os seus dois filhos. Este homem chamava-se Elimeleque, nome cujo significado é “Deus é o meu rei”.

-Outra ironia: o homem cujo nome reportava a soberania divina, exaltava o Senhor como Aquele que governava não só o povo de Israel mas todas as coisas, diante da fome havida na terra, sabedor de que isto era fruto de uma atitude de desobediência do povo em relação ao Senhor, simplesmente deixa Deus de lado e resolve imigrar para uma terra gentílica, para outro país.

-É preciso observar que esta atitude de Elimeleque, de imigrar para outro país, era uma demonstração inequívoca de descrença em Deus e de total desconsideração da sua condição de integrante de um povo que era propriedade peculiar de Deus entre todos os povos (Ex.19:5,6).

-Naquele tempo, havia a crença de que os deuses eram nacionais, de que cada um devia obedecer ao deus da terra onde vivia (observemos o gesto de Naamã de levar um pouco de terra de Israel para a Síria depois que se converteu ao Senhor – II Rs.5:17) e, embora o israelita soubesse que havia um único e verdadeiro Deus, também era conhecedor de que a terra de Canaã havia sido dada a Israel pelo próprio Senhor e que ali deveria o israelita ficar para poder cumprir o propósito divino para a sua vida.

-Ademais, sabiam todos os israelitas o que ocorrera com Abrão quando este, ainda um peregrino, sem direção divina, partira de Canaã para o Egito.

-Esta situação de descrença de Elimeleque não foi algo repentino ou abrupto. Ao vermos os nomes que deu a seus filhos, já percebemos no coração daquele homem de Belém de Judá um certo inconformismo com as dificuldades materiais que estava a passar. Com efeito, seus filhos foram chamados de “Malom”, cujo significado é “doença” e “Quiliom”, cujo significado é “definhamento”.

-Nota-se, portanto, que, ao dar nome a seus filhos, Elimeleque como que demonstra o seu desagrado com a sua vida, não se dando conta de que eventuais dificuldades decorriam da desobediência do povo, da falta de consideração de Deus como o rei de Israel, a quem se devia obedecer e temer, como, aliás, declarava o próprio nome deste pai de família belemita.

-Há um grande risco quando passamos a enxergar o mundo apenas pelas circunstâncias que nos cercam, quando passamos a andar por vista e não por fé, exatamente o oposto do que se exige de um servo do Senhor (II Co.5:7).

Se quisermos reduzir tudo ao raciocínio humano, se quisermos compreender o mundo apenas dentro de uma esfera humana, desconsiderando as coisas espirituais e a intervenção e soberania divina, somente traremos para nós doença e definhamento espirituais, numa visão que nos causará imensos prejuízos, que poderão ser irreversíveis e selarem a nossa eternidade sem Deus.

-Levantemos nossas cabeças, tenhamos uma visão de fé, uma visão espiritual, uma visão de Jesus (Cf. Lc.21:28; Hb.12:1). Necessitamos de uma visão vertical. Atendamos ao chamado do poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão: “Levantai, levantai vossos olhos para o céu donde Jesus virá; levantai, levantai, a redenção breve se fará” (refrão do hino 323 da Harpa Cristã).

-Elimeleque, entretanto, não quis saber das promessas divinas para os israelitas, da sua própria condição de israelita, mas, sim, diante da fome na terra, resolveu sair de Israel, partir para Moabe, porque entre os moabitas havia fartura material.

-Elimeleque repete, assim, a mesma atitude de Ló, tendo uma visão puramente horizontal da vida, vendo apenas as necessidades materiais como relevantes, pouco se importando com os compromissos assumidos diante de Deus (Gn.13:10,11).

-Nos dias em que vivemos, em que há grande facilidade de comunicações e de transportes, é cada vez mais comum a migração ou a imigração, o deslocamento das pessoas para regiões onde as condições de vida sejam melhores, onde há maiores oportunidades de sobrevivência.

-À evidência, não podemos considerar que tais atitudes sejam errôneas ou reprováveis, mas o servo do Senhor não pode, simplesmente, tomar a decisão de mudar de lugar de habitação, de mudar de cidade, estado ou, até mesmo, país, levando em conta tão somente aspectos materiais, levando em consideração apenas o comer, o beber e o vestir, pois, agindo assim, estará dentro de uma mentalidade gentílica, de uma mentalidade de quem não crê em Deus (Mt.6:31,32).

-Devemos sempre buscar a direção e orientação divinas, não temendo a fome que haja no lugar onde estivermos se o Senhor nos mandar ficar ali mesmo.

-Elimeleque já sabia de antemão que este gesto de imigração não era agradável ao Senhor, contrariava o pacto estatuído com o povo de Israel tanto no Sinai quanto em Ebal e Gerizim, mas o fato é que, totalmente alheio a estas circunstâncias espirituais, preferiu ir para Moabe, preferiu a fartura material.

-Elimeleque, sua mulher Noemi e seus filhos, Malom e Quiliom, mudaram-se para Moabe e, diz o texto sagrado, “ficaram ali”. Esta expressão é extremamente elucidativa: houve um ânimo definitivo de permanência em Moabe, um total esquecimento da Terra Prometida, uma disposição de se manter indefinidamente na terra estrangeira.

-Elimeleque resolveu, então, prover-se por conta própria, tomar ele próprio a decisão de sustento de sua família, deixando de lado todas as promessas e compromissos com Deus.

Pouco importava se estava a viver entre gentios, entre idólatras, entre pessoas que, inclusive, eram proibidas de entrar na casa de Deus (Dt.23:3,4), diante do fato de que haviam tentado destruir o povo de Israel, seja desvirtuando-o no episódio de Baal-Peor, seja negando-se a fornecer água para o povo quando este peregrinava no deserto.

-Lamentavelmente, não são poucos os que, dizendo-se servos do Senhor, comportam-se da mesma maneira em nossos dias. Acham-se autossuficientes para resolver os problemas decorrentes de sua vida material, de sua vida secular, pouco se importando com os compromissos assumidos diante de Deus, com as atitudes que devem ter por serem membros do povo do Senhor.

Em se tratando de obtenção de benesses materiais, de um bem-estar econômico-financeiro, tudo fazem, sem qualquer crise de consciência e ainda atribuem a Deus eventuais vantagens que obtenham com suas negociatas e condutas antibíblicas. Tomemos cuidado, amados irmãos!

-Entretanto, a fartura material que provavelmente foi alcançada por Elimeleque pouco durou. O ânimo decidido de permanecer em Moabe fica evidenciado pelo fato de que tanto Malom quanto Quiliom, os filhos de Elimeleque, terem se casado com moabitas e formado família em Moabe, como que renegando, de modo definitivo, a sua origem israelita e as promessas do Deus de Israel.

-Estavam decididos a morar e a fazer descendência em Moabe. Por um punhado de pão, abriam mão das bênçãos espirituais. Repetiam, praticamente, o gesto de Esaú que, por um prato de lentilhas, abriu mão da primogenitura, das promessas de Deus feitas a Abraão e Isaque (Gn.25:31-34).

-Pessoas que desprezam as “coisas de cima” pelas coisas desta vida são profanas (Hb.12:16) e não podemos jamais tomar uma atitude destas, sob pena de selarmos a nossa perdição eterna, pois o profano é o contrário do sagrado (Lv.10:10; Ez.22:26; 42:20. 44:23), do santo e sem a santificação jamais veremos o Senhor (Hb.12:14).

-Ao tomar uma atitude como esta, Elimeleque, que era o pai de família, desqualificou-se como sacerdote do lar e, em vez de cumprir o que mandava a lei, que dava aos pais o dever de introduzir os filhos no conhecimento das coisas de Deus (Dt.6:6-9; 11:18-20), foi o promotor do desvio espiritual de seus filhos.

-Lamentavelmente, é esta a situação de muitos lares de sedizentes cristãos em nossos dias. Que Deus nos guarde!

-Tanto assim é que, lamentavelmente, Elimeleque morreu em Moabe e, logo depois, tanto Malom quanto Quiliom, depois de um período de quase dez anos ali (Rt.1:3). O distanciamento de Deus, a incredulidade levam inevitavelmente à morte e, o pior de tudo, nem sempre a morte é física, como ocorreu aqui, mas sempre se terá a morte espiritual, esta, sim, ,a mais terrível, porquanto eterna.

-Assim, se chegou a haver alguma fartura material neste gesto de Elimeleque (o que é improvável, já que, como pai de família, sua morte gerou evidente prejuízo à família e os dois filhos, mesmo tendo casado, e até porque casaram, não tiveram condição de, em espaço curto de tempo, auferir, numa terra estrangeira, uma proeminência material), esta logo se esvaiu, sem deixar qualquer rastro, qualquer proveito, tanto que o texto bíblico é claro ao dizer que, com a morte dos homens, as mulheres ficaram desamparadas (Rt.1:5).

-A busca da provisão por conta própria, do bem-estar material à revelia do Senhor, em total desconsideração da Sua Palavra e das Suas promessas sempre termina em morte e em fracasso.

-De que adiantou o gesto de Elimeleque de deixar a terra de seus pais, a terra que lhe havia sido concedida por Deus e partir para Moabe? Absolutamente nada! Elimeleque e seus filhos Malom e Quiliom morreram, deixando não só Noemi, a mãe, desamparada como, ainda mais, as duas moabitas que haviam se casado com os filhos de Elimeleque, Orfa e Rute.

-Além de trazer desgraça para os integrantes da família, isto se ampliou para duas moradoras de Moabe que haviam resolvido compartilhar suas vidas com os moços israelitas imigrantes.

-Quando não seguimos a direção divina, quando nos distanciamos do Senhor, deixamos de ser bênção para ser maldição. Triste é a situação daquele que se torna um profano, daquele que visa tão somente bem-estar material!

-Alguém poderá, porém, objetar, dizendo ter conhecimento de muitos ímpios que alcançam prosperidade material e que não geram situações como a que ocorreu na família de Elimeleque.

-A estes, convidamos que leiam o Salmo 73, onde o salmista Asafe, ao perceber esta mesma situação, entrou em crise espiritual, quase que se desviando, por ver este estado de prosperidade material dos ímpios.

-No entanto, quando entrou na casa do Senhor, pôde entender que o fim destes ímpios é triste, pois é a perdição eterna, a morte, como aconteceu com Elimeleque, pois todas as riquezas, luxo e poder acumulados serão totalmente inúteis para definir uma eternidade aprazível para quem agir. Não nos deixemos iludir, amados irmãos!

-O livro de Rute começa, assim, mostrando a ilusão e a insensatez de se tentar buscar uma provisão por conta própria, em contraditoriedade aos mandamentos divinos, às promessas do Senhor, pois o resultado disto tudo será apenas um: morte e desamparo de todos quantos foram inseridos neste malsinado projeto.

II – A BUSCA DA PROVISÃO DIVINA

-Diante do infortúnio vivido na família, Noemi, a última remanescente israelita, resolve retornar para Israel.
-Parece que, de todos os quatro israelitas imigrantes, Noemi era a única que havia mantido alguma crença em Deus, alguma recordação de Suas promessas, já que Rute, sua nora, quando se nega a deixá-la, faz menção do Deus de Israel, revelando assim que teve conhecimento de quem era o Deus dos israelitas através da própria Noemi (Cf. Rt.1:16).

-Noemi percebera a ilusão de se tentar a provisão por conta própria e resolveu retornar para Israel, mesmo na condição de viúva desamparada, crendo que, em Israel, sua situação seria bem melhor do que em Moabe, até porque o Senhor já havia dito que era o Deus dos órfãos e das viúvas (Dt.10:18; Sl.68:5).

Além do mais, tivera notícia de que Belém havia tornado a ser “casa de pão”, de que a fome passara em Israel (Rt.1:7)

-Noemi resolve retornar para Israel e suas noras também resolveram segui-la. Noemi, porém, sabendo que suas noras eram moabitas e, portanto, não seriam bem-vindas em Israel, resolve ir sozinha para Belém. Tratava-se de uma difícil decisão, já que Noemi havia se afeiçoado a suas noras e agora resolvia voltar para Israel em total e absoluta solidão.

-Importante aqui observar, de pronto, que, mesmo em terra estrangeira, com marido e filhos que não mais criam em Deus, Noemi manteve a sua fé no Senhor e a sua condição de serva de Deus.

-Até por ser uma mulher temente ao Senhor e, portanto, sabedora que deveria ser submissa a seu marido, partiu com ele para Moabe, mas tudo nos encaminha a verificar que, apesar disto, ela continuou a crer em Deus e não tinha a mesma visão distorcida de seu marido, que este transmitiu a seus filhos.

-Noemi falava do Deus de Israel para suas noras e, mais do que falar, praticava a doutrina divina, tendo um relacionamento amoroso e acolhedor para com suas noras, tanto que elas não queriam deixá-la.

-Noemi aqui revela que todo aquele que crê no Senhor é uma pessoa que recebe o amor divino, o chamado amor “agape”, tão bem descrito pelo apóstolo Paulo no capítulo 13 de I Coríntios.

-Noemi tratava as suas noras com afeição, com respeito, com consideração e, pelo seu testemunho, fez com que elas conhecessem o Deus de Israel e, convenhamos, num ambiente extremamente hostil, já que, além de estar em terra estrangeira, seu marido e filhos não compartilhavam desta mesma fé.

-Esta atitude de Noemi é um incentivo e estímulo para todos os servos de Deus que não têm familiares convertidos. A oposição sofrida, a diferença de visão não pode ser desculpa para que haja um tratamento ríspido, preconceituoso ou despido de amor por parte do cristão.

-Embora seja uma realidade que, para o cristão, os inimigos são os de sua própria casa (Mq.7:6; Mt.10:35,36; Lc.12:53), isto não nos autoriza a ter um comportamento que não seja de amor para com os familiares.

Cristo vivenciou esta rejeição no Seu próprio lar (Mc.3:21,31-35; Jo.7:1-5), mas, demonstrou sempre amor por eles, tanto que, além de prover, pendurado na cruz, abrigo para Sua mãe (Jo.19:26,27), também não subiu aos céus enquanto não alcançou a sua salvação (I Co.15:7; At.1:14).

-Devemos, pois, ter o mesmo comportamento de Nosso Senhor, enfrentando as oposições dos familiares, mas sempre os tratando com amor e objetivando a sua salvação.

-Não foi também esta a conduta de Loide e de Eunice para educarem Timóteo, respectivamente neto e filho, nas sagradas letras (II Tm.1:4; 3:15), mesmo se tendo um pai grego (At.16:3)?

-Vejamos estes exemplos e não nos deixemos dissuadir por maus pensamentos que ou defendem uma atitude hostil para com os familiares incrédulos, ou, então, uma indiferença com relação a salvação deles.

-As noras de Noemi, a princípio, relutaram em deixar Noemi, que, assim, fazia jus ao significado de seu nome que é “agradável”, “atraente”.

-A companhia de Noemi fazia bem, mesmo diante de circunstâncias tão adversas. Será que podemos ter a mesma reação das pessoas que nos cercam, que convivem conosco? Pensemos nisto!

-Noemi, no entanto, mostrou às suas noras que não havia qualquer sensatez no gesto de elas lhe seguirem. Se Noemi arrumasse um marido naquele mesmo dia e concebesse e tivesse filhos, como poderia dá-los às suas noras?

Não havia qualquer perspectiva material de vida e de sobrevivência digna para as noras na companhia de Noemi. Era melhor que ficassem em Moabe e ali tentassem arrumar novos maridos, seguindo cada uma a sua vida.

-Ante esta constatação, Orfa, uma das noras de Noemi, que também tinha apenas uma visão horizontal da vida, que não havia se sensibilizado com a história do Deus de Israel que, assim como fizera a Rute, Noemi contara, deixa sua sogra e volta para Moabe.

-Era uma decisão de quem continuava buscando a provisão por sua própria conta, segundo os ditames da mentalidade gentílica, onde o comer, o beber e o vestir são o objetivo da existência, onde tudo se resume a este mundo, à dimensão terrena.

-Interessante observar que o significado de “Orfa” é “pescoço”. Orfa tinha uma “visão de pescoço”, ou seja, não enxergava as coisas como realmente elas são, tinha uma visão puramente horizontal, como tinha sido o caso de seu sogro, seu marido e seu cunhado.

-Será que temos “visão de pescoço”, amados irmãos? É precisamente a mentalidade hoje vigorante entre os milhões de adeptos da teologia da prosperidade e da sua coirmã, a teologia da confissão positiva, que reduzem Jesus apenas como um instrumento para as coisas desta vida. São, no dizer do apóstolo Paulo, os “mais miseráveis de todos os homens” (I Co.15:19).

-Rute, porém, teve outro comportamento. Embora estivesse na mesma condição de Orfa, insistiu em seguir Noemi, não querendo mais seguir os “deuses de Moabe”, mas, sim, o Deus de Israel, aquele único e verdadeiro Deus que lhe havia sido anunciado por sua sogra.

-Rute adotou o Deus de Israel como o seu Deus, o povo de Israel como o seu povo, mesmo sabendo que os moabitas não eram bem vistos em Israel, mas porque crera neste Deus e, quiçá, percebera que toda a tragédia familiar era decorrência na descrença neste Senhor.

-Rute, assim, confirmava o significado de seu nome, “vistosa”, ou seja, aquela que atraía vista, que é agradável de ver. Rute via o sobrenatural, via além das circunstâncias naturais. Assim deve ser o servo do Senhor: andar por fé e não por vista (II Co.5:7).

-Diante da decisão inamovível de Rute, Noemi conformou-se e permitiu que Rute fosse com ela para Israel (Rt.1:18).

III – AMOR DIVINO: A BASE DO RELACIONAMENTO ENTRE RUTE E NOEMI

-Todo o relacionamento entre Noemi e suas noras começou com a amabilidade da sogra para com as mulheres de seus filhos.

Mesmo sabendo que aqueles casamentos não eram agradáveis a Deus (e bem pensamos que, dentro do seu temor, Noemi deva ter, e mais de uma vez, aconselhado seus filhos a não se casarem com moabitas), uma vez tendo sido consumados, tratou Noemi de exercer a sua função de sogra.

-Noemi, como pessoa temente a Deus, tinha um comportamento exemplar que, certamente, se distinguia do “modus vivendi” das mulheres moabitas, e isto seria um fator de distanciamento entre ela e suas noras.

No entanto, até porque servia a Deus, Noemi sempre tratou bem suas noras, considerou-as, muito provavelmente mais do que seus próprios familiares ou os moabitas em geral.

-Noemi ensinou os valores divinos a suas noras, tanto que, após as mortes dos maridos, queriam elas manter-se ao lado da sogra e, pelo que vemos da expressão de Noemi, queriam elas ser mães, formar família, um pensamento que mostrava como haviam sido ensinadas e influenciadas por Noemi.

-Com efeito, pelo que verificamos do texto bíblico, em Moabe havia como que uma prostituição institucionalizada, inclusive em virtude do culto a Baal-Peor e, num ambiente assim, evidentemente que os princípios familiares defendidos pela lei mosaica não eram benquistos nem aceitos.

-É exatamente esta a situação de nossos dias, onde os elementos cristãos que permearam a estruturação da família entre nós estão sendo dia a dia, de forma ininterrupta, abandonados e substituídos por conceitos antibíblicos e nefastos.

-Em meio a uma geração perversa, Noemi mantinha a sua fé em Deus e observava os mandamentos e, com afeição, acolhida e ensino, a começar de seu próprio exemplo, conseguiu sensibilizar e mudar a mentalidade de suas noras. Temos feito isto entre nossos familiares incrédulos? Pensemos nisto!

-Temer a Deus, observar a Sua Palavra e tratar bem, com respeito e dignidade ao próximo, sempre aproveitando a ocasião para falar das coisas de Deus e da salvação em Cristo Jesus, é o que devemos fazer com nossos familiares.

-Noemi tinha o amor de Deus em seu coração e, por isso, podia transmiti-lo para suas noras.

-Se Orfa, até por causa do que foi dito por Noemi, não se desprendeu totalmente da visão horizontal da vida, isto não significa que não tenha sido influenciada pelo ensino dado por Noemi, tanto que, num primeiro momento, quis segui-la para Israel. Como diz o profeta, a Palavra não volta vazia (Is.55:10,11).

-O amor de Deus nos é dado pelo Espírito Santo (Rm.5:5), é o amor do Espírito (Rm.15:30), de forma que não podemos querer gerá-lo em nós mesmos.

Mas, uma vez o tendo recebido em nosso coração, temos de mantê-lo, aumentá-lo e isto se faz mediante a observância da Palavra de Deus, a obediência ao Senhor, pois temos de estar em comunhão com o Senhor para mantermos o amor, pois Deus é amor (I Jo.4:8).

-O amor de Deus gera, em nós, o amor a Deus (I Jo.4:19) e o amor a Deus é revelado pelo nosso amor ao próximo (I Jo.4:20,21). Noemi demonstrou, neste seu tratamento a suas noras, que tinha o amor de Deus, que se tornou amor a Deus e que se demonstrou como amor ao próximo.

-Ao crer no Deus de Israel, Rute passa pela mesma experiência. Recebera o amor de Deus e passou a amar a Deus, tanto que não quis deixar sua sogra, não tanto porque a amava, mas porque queria viver sob a égide do Deus de Israel, em quem passou a crer, dentro daquela mentalidade de que já falamos sobre os “deuses nacionais”.

-Rute amava Noemi e não queria abandoná-la, mas este amor a Noemi era decorrência do amor que passou a ter pelo Senhor. A base do relacionamento entre Rute e Noemi era o amor de Deus, que se tornou amor a Deus e que se revelou como amor ao próximo.

-É o que vemos na afirmação de Rute que fez Noemi aquietar e aceitar a companhia de sua nora. Rute disse que não queria se afastar de Noemi, que aonde ela fosse, ela iria, onde ela pousasse, ela pousaria, porque o

seu povo passava a ser também o povo de Rute e, o que é mais importante, o Deus de Noemi passava a ser o Deus de Rute.
-Rute começa pela sua afeição a sua sogra e chega, por fim, ao amor a Deus, que, como já vimos, é decorrência do amor de Deus derramado em nosso coração.

-Por isso, este amor que Rute declara a Noemi independia das circunstâncias e era permanente, pois só a morte poderia separá-las. O amor divino é sempre assim: pleno, integral, inabalável e eterno. Nem poderia ser diferente, pois é o amor de Deus e o Senhor é o único e verdadeiro Deus, soberano, inabalável e eterno.

-É bem por isso que esta declaração de amor de Rute a Noemi é utilizada para descrever o amor conjugal, que é um símbolo do amor entre Cristo e a Igreja (Ef.5:31,32), porquanto não pode haver relacionamento verdadeiro e sincero entre duas pessoas que não esteja estribado no amor de Deus.

-A família necessita estar sob a égide deste amor divino, o amor sofredor, benigno, que não é invejoso, que não trata com leviandade, que não se ensoberbece, que não se porta com indecência, que não busca os seus interesses, que não se irrita, que não suspeita mal, que não folga com a injustiça mas folga com a verdade (I Co.13:4-6).

-É o amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (I Co.13:7). Foi porque Rute e Noemi estavam entrelaçadas neste amor divino que puderam obter do Senhor a bênção.

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10685-licao-3-rute-e-noemi-entrelacadas-pelo-amor-i

Glória a Deus!!!!!!!