O genuíno avivamento no meio do povo de Deus tem de começar pela Palavra.
Texto áureo
“E Esdras, o sacerdote, trouxe a Lei perante a congregação, assim de homens como de mulheres e de todos os sábios para ouvirem, no primeiro dia do sétimo mês.” (Ne.8:2).
INTRODUÇÃO
– Em apêndice a este trimestre em que extraímos lições sobre avivamento do período de formação da Comunidade do Segundo Templo, resolvemos fazer um estudo específico do capítulo 8 do livro de Neemias, tratado na lição 11, mas que merece uma análise à parte.
– Todo e qualquer avivamento genuíno e autêntico tem de começar pela Palavra de Deus.
I – O POVO DESEJA OUVIR A PALAVRA DE DEUS
– Na continuidade do estudo do período da formação da Comunidade do Segundo Templo com o objetivo de extrairmos lições sobre o avivamento espiritual, estudaremos o capítulo 8 do livro de Neemias, que nos registra um avivamento ocorrido no sétimo mês, que é o mês de Etanim (I Rs.8:2),
também chamado de Tisri, mês muito festivo, pois neles se realizavam três festividades: a festa das trombetas (o “Ano Novo Judaico” – Nm.29:1), o dia da expiação (Lv.16:29) e a festa da colheita ou dos tabernáculos (Lv.23:34).
– A obra da reedificação havia se encerrado no mês de Elul, que era o sexto mês, ocasião em que Neemias havia consultado o “livro da genealogia”, resgatando a memória do povo de Judá, como um primeiro movimento em prol do repovoamento de Jerusalém (vide apêndice 2) e,
com este resgate da memória e a disposição do povo de voltar a servir a Deus em toda a sua plenitude, evidente que havia o interesse de todos na retomada do cumprimento da lei, que estabelecia a necessidade do comparecimento em Jerusalém para a celebração da festa dos tabernáculos (Ex.23:14-17).
– Assim, chegando o mês sétimo, todo o povo, em cumprimento à lei, saiu de suas cidades e se ajuntou como um só homem na praça diante da porta das águas e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da lei de Moisés, que o Senhor tinha ordenado a Israel (Ne.8:1).
– Vemos, de pronto, o interesse do povo em ouvir a Palavra de Deus, o que é fundamental para que se tenha um avivamento.
Os judeus, após terem visto a operação de Deus na obra da reedificação dos muros e das portas de Jerusalém, depois de terem sido rememorados de sua identidade como povo pela consulta ao “livro da genealogia”, estavam sequiosos, sedentos de ouvir a Palavra de Deus.
– Como é importante termos a consciência de que, como povo de Deus, somente sobreviveremos espiritualmente se nos alimentarmos da Palavra do Senhor, que é o nosso “pão espiritual” (Mt.4:4).
Muitos, na atualidade, não têm esta consciência e, lamentavelmente, estão desnutridos, quando não já mortos espiritualmente de fome, porque não foram em busca do alimento que nos é oferecido gratuitamente. Tenhamos sede e fome da Palavra de Deus!
– Aquela mesma união que houve para realizar a obra de reedificação dos muros e das portas de Jerusalém reproduzia-se no desejo de se ouvir a Palavra.
Como é importante que a mesma disposição que há para o serviço, para o desempenho de tarefas materiais na casa do Senhor também se repita quando o objetivo for o de ouvir a Palavra.
É triste vermos, hoje em dia, um grande número de pessoas se dedicando e se esforçando para a realização de muitas tarefas nas igrejas locais, mas vemos as igrejas vazias por ocasião dos cultos de doutrina, das Escolas Bíblicas Dominicais.
Acordemos, irmãos, pois a união e o esforço também precisam se manifestar na hora de ouvirmos o ensino da Bíblia Sagrada!
– Todo o povo deixou as suas cidades e se dirigiram até Jerusalém, reunindo-se na praça diante da porta das águas, a fim de ouvirem a Palavra de Deus.
O povo ali se reuniu e pediu para que Esdras, o escriba, que estava em Jerusalém já há 13(treze) anos, lesse para o povo a lei de Moisés.
– O povo desejava ouvir a Palavra de Deus e se lembrou de que Esdras, que estava entre eles já há tantos anos, era a pessoa indicada pelo próprio rei Artaxerxes para lhes ensinar as Escrituras (Ed.7:12-14).
No entanto, apesar de ter havido um avivamento quando da chegada de Esdras a Jerusalém, o fato é que os anos haviam se passado e o desinteresse havia tomado conta do povo.
Entretanto, diante da restauração da cidade e do ânimo com a chegada de Neemias, todos se dispuseram a, mais uma vez, voltar a aprender com aquele “escriba hábil na lei de Deus”.
– A petição do povo a Esdras para que lesse a lei para o povo ensina-nos que, ao contrário do que muitos desavisados apregoam por aí, o povo de Deus não é ignorante, nem um “povinho” que nada sabe. O povo de Deus é sábio, conhece bem aqueles que estão à sua frente e não se deixa enganar.
Se Judá, que não tinha o Espírito Santo naquele tempo, pôde identificar Esdras como a pessoa certa para lhes ler a lei de Deus, para lhes ensinar, como achar que, nos dias da graça, onde todo salvo tem o Espírito Santo, possam os servos de Deus ser enganados por pessoas despreparadas e que são postas à frente do povo?
Tomemos cuidado, pois o povo de Deus é dirigido e orientado pelo Espírito e não se deixa enganar, caros líderes!
– Muitos estão a se queixar, ultimamente, de uma evasão de crentes das igrejas locais. Este texto mostra-nos, claramente, que o povo está atrás de nutrição espiritual, que deseja ouvir a Palavra de Deus.
O Senhor Jesus foi incisivo ao dizer aos Seus discípulos, diante da multidão faminta, que deveriam eles dar de comer ao povo (Mt.14:16; Mc.6:37; Lc.9:13), expressão que não deve ser interpretada apenas literalmente, mas que também tem sua aplicação espiritual:
incumbe aos ministros a tarefa de promover a nutrição espiritual do povo. Todavia, muitos, em nossos dias, têm preferido despedir o povo e é por isso que muitas igrejas estão se esvaziando.
– É extremamente necessário que os ministros, que devem cuidar prioritariamente do ensino e da exposição da Palavra de Deus (At.6:2,4), constituam-se em verdadeiros Esdras frente ao rebanho onde foram postos pelo Senhor, ou seja, pessoas que sejam hábeis na Palavra e que tenham preparado o seu coração para buscar a lei do Senhor para a cumprir e para ensinar ao povo (Ed.7:10).
É com imensa tristeza que vemos, na atualidade, obreiros completamente despreparados e incapazes, cujo único resultado é levar as ovelhas à inanição e morte. Aprendamos com o capítulo 8 de Neemias e saibamos que o povo de Deus bem reconhece quem está preparado e quem não o está.
– Esdras, então, que também era sacerdote, trouxe a lei perante a congregação, assim de homens como de mulheres, e de todos os entendidos para ouvirem, no primeiro dia do sétimo mês, na cerimônia da festa das trombetas, o “ano novo judaico”, chamado posteriormente de “Rosh Hashanah” (“cabeça do ano”).
– A primeira observação que fazemos é que, para a leitura da lei, Esdras é chamado no texto sagrado de sacerdote. Se sua escolha para a leitura era em virtude de sua erudição, de seu preparo, daí ser chamado de “escriba”, agora, para que lesse e ensinasse o povo, é ele chamado de “sacerdote”.
Somente aqueles que estão em comunhão com o Senhor, que têm uma vida de santidade e obediência ao Senhor, somente aqueles que têm as vestes limpas, podem eficazmente pregar e ensinar a Palavra de Deus.
– A segunda observação que fazemos é que a lei teve de ser trazida perante a congregação. Verdade é que, naquele tempo, os rolos eram guardados no templo e/ou nas sinagogas e, escritas que eram em hebraico, língua que já não era a falada pelos judeus (que haviam adotado o aramaico falado em Babilônia), eram inacessíveis a todo o povo, com exceção dos escribas.
Destarte, não havia mesmo outro modo senão de de trazer a lei perante a congregação, que a ela não tinha acesso.
– Contudo, esta circunstância histórico-cultural não invalida a constatação de que são os sacerdotes que devem trazer a lei perante o povo.
É a Igreja, que constitui o sacerdócio real (I Pe.2:9; Ap.1:6), quem deve pregar e levar a Palavra de Deus para o mundo, devendo estar ser o assunto de cada um dos salvos diante da humanidade.
– De igual modo, é àqueles que, a exemplo de Esdras, ocupam o púlpito para a leitura da Palavra, que cabe a incumbência de transmitir o conteúdo do livro, o conteúdo da Bíblia Sagrada,
sendo triste constatar que, atualmente, muitos dos que estão a ocupar os púlpitos das igrejas locais estão a falar de mil e uma coisas, menos da Bíblia Sagrada, promovendo a destruição do povo de Deus, pois o povo é destruído quando lhe falta o conhecimento das Escrituras (Os.4:6).
– A terceira observação que fazemos é que Esdras leu a lei para todo o povo, sem qualquer discriminação ou acepção de pessoas.
Tanto homens como mulheres desejavam ouvir a Palavra de Deus e todos ali estavam na praça para ouvi-la.
A Palavra de Deus deve ser pregada e ensinada a todos, não há quem possa se dizer isento deste dever, desta necessidade.
– Até mesmo os “entendidos” também foram ouvir a Palavra de Deus. Esta circunstância é assaz relevante, pois muitos crentes procuram justificar suas ausências nos cultos de ensino ou nas Escolas Bíblicas Dominicais sob o argumento de que sabem já o suficiente para a salvação ou de que o doutrinador, seja o dirigente da igreja local, seja o professor da Escola Bíblica Dominical, sabe menos do que eles.
Assim – dizem eles – estariam perdendo tempo ao ouvi-los. Contudo, esta justificativa não procede, é antibíblica, pois a Bíblia diz que até os “entendidos” foram para a praça diante da porta das águas para ouvirem a Palavra de Deus.
– Ninguém está isento de ouvir a Palavra de Deus, até porque é ela não um ensino de homens, mas o ensino do próprio Deus ao homem e, convenhamos, ninguém pode se dizer mais entendido do que o próprio Deus, tendo, pois, sempre algo a aprender da parte do Senhor (Mt.11:29).
Se assim não fosse, o apóstolo Paulo ainda nos ensina que o aperfeiçoamento dos santos é para todos os salvos e, desta maneira, ainda que alguém chegue a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (o que é altamente improvável, pois nem Paulo afirmou ter chegado a este estágio – Fp.3:12-14), esta tarefa não é individual, mas, sim, coletiva, pois se exige que todos cheguem a este patamar (Ef.4:13).
Assim, ainda que haja um “entendido” que já saiba tudo e seja perfeito, ele precisa comparecer às reuniões de ensino já que os demais ainda não alcançaram tal patamar. Não há desculpa, então, para faltarmos ao ensino da Palavra em nossas igrejas locais!
– A disposição do povo era grande, visto que chegaram a Jerusalém para ouvirem a Palavra desde a alva, ou seja, desde o amanhecer, prova de que vieram de todas as cidades e se dispuseram, já por volta das seis horas da manhã, a ouvirem a Palavra de Deus. Temos esta mesma disposição, ou somos daqueles que, em número cada vez maior, chegam atrasados aos cultos?
II – ESDRAS LÊ A LEI DIANTE DO POVO
– Esdras leu a lei diante da praça, que está diante da porta das águas, desde a alva até o meio dia, perante homens e mulheres, e entendidos, e os ouvidos do povo estavam atentos ao livro da lei (Ne.8:3).
Foram seis horas de leitura ininterrupta da lei, tendo o povo se mantido atento e em silêncio reverente durante todo este tempo. Será que alguém consegue, nos nossos dias, ficar reverentemente ouvindo a Palavra de Deus por seis horas ininterruptas?
Hoje, infelizmente, as pregações e exposições da Palavra raramente passam de uma hora e, em alguns lugares (ainda há lugares que não se desvirtuaram e ainda exigem pelo menos uma hora de Palavra em suas reuniões), quando o tempo ultrapassa quinze ou vinte minutos, já há murmuração.
Aprendamos com o povo de Judá nos dias de Neemias e de Esdras e que tenhamos desejo de ouvir a Palavra de Deus sem que o relógio seja um obstáculo para nossa nutrição espiritual!
– Esdras leu a lei em um púlpito que haviam feito para aquele fim (Ne.8:4), sendo a primeira referência que se fez a púlpito nas Escrituras. Isto é importante porque nos mostra que a finalidade primeira do púlpito é o ensino da Palavra, a exposição da Palavra. Púlpito não é local para se contar fábulas, mitos, ou, pior ainda, para se promover “desabafos”. O púlpito surgiu para ali se ler e expor a Palavra de Deus.
Lembremos disto, ministros, oficiais e pregadores na casa do Senhor!
– Esdras estava no púlpito, de pé e assim ficou durante seis horas para a leitura das Escrituras. Esdras já devia ter uma certa idade, mas manteve uma postura digna e respeitosa diante do povo durante toda a leitura da lei.
Temos aqui uma preciosa lição a respeito do comportamento que devem ter aqueles que sentam nos púlpitos em nossos dias.
Parece-nos que Esdras sozinho ocupava o púlpito e era ladeado por treze escribas, seis à sua mão direita (Matitias, Sema, Ananias, Urias, Hilquias e Maaseias) e sete, à sua mão esquerda (Pedaías, Misael, Malquias, Hasum, Hasbadana, Zacarias e Mesulão), mas,
ainda que todos ali estivessem, todos se mantiveram em pé e em postura de reverência, algo que, infelizmente, nem sempre se observa atualmente.
É urgente que o púlpito volte a ser um lugar de reverência, até porque a reverência deve ser iniciada ali, que é uma vitrina para todo o povo congregado, tanto que é dito que estava o púlpito “perante os olhos de todo o povo” (Ne.8:5).
– O motivo pelo qual o púlpito fica num patamar acima dos demais é, precisamente, para que todos possam ver os seus ocupantes.
Muitos fazem de tudo para “sentar no púlpito”, porque acham que, com isso, demonstram ter posição ou poder, mas se esquecem que ali estão para serem vistos e não para serem obedecidos. Precisamos resgatar a lógica do reino de Deus, que diz que aqueles que são os maiores ali estão única e exclusivamente para servir os demais, não para serem os “maiorais”, os “mandões” (Mt.20:26;
Mc.10:43). Se muitos tivessem consciência disso, certamente desejariam voltar para “a nave da igreja”…
– Esdras abriu o livro perante os olhos de todo o povo, porque estava acima de todo o povo, e, ao abri-lo, todo o povo se pôs em pé (Ne.8:6).
É em virtude este texto que há o costume em muitas igrejas locais de se pôr em pé para a leitura da Bíblia Sagrada, em uma atitude de reverência. Trata-se, sem dúvida, de um bom costume, mas não se trata, à evidência, de um aspecto doutrinário.
O fundamental é que se mantenha uma atitude de reverência quando é lida e exposta a Palavra. De nada adianta ficar-se em pé quando da leitura do texto e, depois, durante a pregação ou ensinamento, ficar-se a conversar, ficar-se distraído, causar tumulto (como muitos que, durante a exposição da Palavra, com uma falsa espiritualidade, berram e gritam perturbando a todos os ouvintes…).
O momento da Palavra é um momento sagrado, é um instante em que o próprio Deus, através do pregador ou ensinador, está a falar com o Seu povo, e, diante disto, precisamos agir como fizeram os judeus, com toda e máxima atenção.
– Temos, ao longo destes últimos anos, visto muita coisa que nos desagrada e preocupa em nossas igrejas locais.
Muitos esperam o momento da exposição da Palavra para saírem do templo, principalmente componentes de conjuntos que já tiveram a sua participação litúrgica. São pessoas que demonstram que compareceram ao culto única e exclusivamente para se apresentar, não tendo qualquer interesse em ouvir o que Deus quer falar-lhes.
Outros aproveitam do momento da exposição da Palavra para colocarem os mexericos em dia, iniciando uma conversação que, não raras vezes, tira não só a concentração dos ouvintes mas do próprio pregador, sem falar naqueles que aproveitam aquele instante para irem ao banheiro ou tomar água.
É realmente lamentável o nível de irreverência que tem tomado conta dos nossos cultos e é momento de as Assembleias de Deus modificarem esta situação, que tanto mal tem causado à vida espiritual dos seus membros.
OBS: Muitos falam dos crentes ditos tradicionais, ou da Congregação Cristã no Brasil, mas a verdade é que todas estas denominações têm nível de reverência muitíssimo superior a nós. Acordemos, amados irmãos!
– A primeira atitude de Esdras, ao abrir o livro da lei, foi louvar ao Senhor, o grande Deus, sendo seguido pelo povo que disse “Amém! Amém!”, levantando as suas mãos, inclinando-se e adorando ao Senhor com os rostos em terra (Ne.8:6).
– Notamos nesta passagem que a exposição da Palavra de Deus deve ser precedida por momentos de adoração ao Senhor, para que se tenha um ambiente favorável ao ensino da Palavra.
Não é por outro motivo que a liturgia dos nossos cultos, embora não seja totalmente formalizada (nem o deve ser, pois o Espírito Santo é quem deve dirigir os cultos), apresenta uma sequência que tem base bíblica, qual seja, a oração e o louvor precedendo a exposição da Palavra.
– Foi precisamente o que fez aqui Esdras diante do povo. Primeiramente, louvou ao Senhor, sendo acompanhado por todo o povo que, também, aproveitou a ocasião para adorar a Deus, inclusive pondo seu rosto em terra.
– Nos dias de hoje, porém, tem havido muita subversão na liturgia, com consequências deletérias para o povo de Deus.
A começar do instante de oração, que é feito pela parcela mínima das igrejas locais, os “gatos pingados” que comparecem meia hora antes do início dos trabalhos para buscar a face do Senhor, para pôr o rosto em terra, pedir perdão pelos seus pecados e derramar a sua alma diante do Senhor.
O resultado disto é que parcela considerável da igreja local está completamente alheia ao Espírito Santo, já que chegam depois deste momento, não tendo feito qualquer oração a Deus, não tendo se preparado para a manifestação da glória de Deus (alguns, como diz um querido irmão que conosco frequenta os estudos dos professores de EBD, limitam-se a fazer uma “rezinha brava”, balbuciando palavras que nem sequer sabem o que significam).
– No momento do louvor, não é diferente. Os hinos congregacionais (que, aliás, já começaram a desaparecer de muitas igrejas locais) são entoados de forma automática, mecânica, sem qualquer concentração.
As pessoas nem sequer se concentram para meditar nas letras dos hinos, quando é o caso de cantarem, pois muitos mantêm suas bocas fechadas.
Contribui muito para isto, também, o fato de, nos lugares onde há conjuntos musicais, não haver uma educação musical apurada, que ensine que os instrumentistas devem acompanhar o povo e não se apresentar de modo a sufocar a voz dos que cantam.
– Em seguida, vem uma sequência enfadonha de “hinos” entoados pelos diversos conjuntos musicais das igrejas, cada vez mais segmentados (os conjuntos corais, que são os apropriados, pois reúnem todos os segmentos das igrejas locais, estão desaparecendo), onde também quase não se ouve o que se canta, sem a participação do restante do povo.
Esdras louvou ao Senhor, mas o povo o acompanhou, numa necessária cumplicidade que faça com que todos adorem a Deus.
Tais “hinos”, além de, na sua grande maioria, obedecerem à lógica comercial da indústria fonográfica e não o da adoração a Deus, não raras vezes, estão repletos de erros doutrinários e despidos de espiritualidade, o que em nada contribui para a criação de um ambiente sensível à voz do Senhor.
Por fim, são extremamente longos, verdadeiras “genealogias intermináveis”, que resultam num cansaço natural de todo o povo que, assim, extenuado, não tem como estar em condições espirituais e psíquicas favoráveis para então ouvir a Palavra de Deus.
– Quão diferente é este quadro daquele que Esdras encontrou para a leitura da lei na praça diante da porta das águas na festa das trombetas do ano de 444 a.C.
O povo todo estava desde a alva, sedento para ouvir a Palavra.
O povo todo louvou ao Senhor, adorou-O, chegando a pôr o rosto em terra. Como Deus não iria Se manifestar diante de tamanha reverência e piedade? Queremos ter cultos onde a presença de Deus se faça sentir?
Façamos como os judeus daquele dia: busquemos todos a Deus e Ele certamente manifestará a Sua glória em nosso meio. Não depende d’Ele, depende de nós, amados irmãos!
III – A PALAVRA DE DEUS É EXPLICADA PARA O POVO
– Esdras não se limitou a ler a lei. A lei estava em hebraico e, certamente, a esmagadora maioria do povo não conhecia esta língua, já que, naquele tempo, já haviam adotado o aramaico, que aprenderam em Babilônia, como sua língua.
Assim, era necessário que o povo entendesse o que era lido, motivo pelo qual Esdras comissionou levitas para que ensinassem o povo na lei, levitas estes que estavam sob a supervisão de Jesua, Bani, Serebias, Jamim, Acube, Sabetai, Hodias, Maaseias, Quelita, Azarias, Jozabade, Hanã e Pelaías (Ne.8:7).
– Estes homens, devidamente comissionados por Esdras, leram o livro, declararam e explicaram o seu sentido, fazendo com que o povo entendesse as Escrituras. O povo, por sua vez, estava no seu posto, ou seja, na posição de aprendizes, de discípulos (Ne.8:7,8).
– É imperioso que, em cada igreja local, tenhamos mestres da Palavra de Deus. Esdras havia, durante todos aqueles anos, preparado homens para ensinar e explicar as Escrituras ao povo. Era a sua missão em Judá, para isto havia sido enviado pelo rei.
Torna-se necessário que os crentes mais antigos preparem outros para dar continuidade ao trabalho de ensino e exposição da Bíblia Sagrada, que é fundamental para que a Igreja tenha vida, pois é a doutrina que dá vida à Igreja.
– Aqueles homens, após a leitura da lei por Esdras, explicaram e expuseram, na língua aramaica, o que havia sido lido, elucidando as dúvidas que se apresentavam e fazendo com que aquelas palavras fossem guardadas no coração de todo o povo.
Um ensino interativo, com ampla participação de todos, precisamente o que ocorre, hoje em dia, em nossas Escolas Bíblicas Dominicais.
Por isso, é importantíssimo que todos frequentem a Escola Bíblica Dominical, único espaço no qual se pode fazer com que todos entendam o que está na Bíblia Sagrada.
– Para que o povo entendesse o que estava nas Escrituras, eles não só ouviram, mas leram também. Os mestres comissionados por Esdras faziam o povo ler as Escrituras a fim de que elas fossem entendidas. Hoje, também, é preciso levarmos o povo a ler a Bíblia Sagrada para que possa compreender o que ali está escrito.
Não basta que venham aos cultos e ouçam a Palavra, é necessário que leiam diariamente o livro sagrado para que venham a ter uma vida de comunhão com Deus. A Palavra de Deus, repetimos, é nosso “pão espiritual” e, assim sendo, deve ser consumido dia após dia.
– O resultado do ensino da Palavra de Deus foi glorioso. O povo sentiu a miséria de seus pecados, foi levado ao arrependimento de suas faltas e começou a chorar.
A Palavra de Deus é a espada do Espírito (Ef.6:17), viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração (Hb.4:12).
– Quando a Palavra de Deus é lida, ensinada e explicada, a vida espiritual alcança um novo patamar. As pessoas que a ouvem e que a leem são tocadas pelo Espírito Santo, a Palavra penetra até às profundezas do homem interior e, como consequência disto, as pessoas passam por uma santificação, pois é a Palavra um poderoso instrumento de santificação (Jo.17:17).
As pessoas, encontrando a Palavra, são postas diante da realidade de suas vidas e, como são imperfeitas e pecadoras, sentem o peso de suas mazelas, o que gera o arrependimento, que é a tristeza segundo Deus que traz a salvação (II Co.7:10).
Pela Palavra, o Senhor limpa as pessoas (Jo.15:3), tornando-as aptas a ter comunhão com Ele, visto que são regeneradas (Ef.5:26; Tt.3:5).
– Por isso, o inimigo de nossas almas procura, a todo custo, impedir que a Palavra de Deus seja lida, ensinada e explicada, pois, assim fazendo, impede que as pessoas alcancem a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).
Para quem estamos trabalhando, pois, quando deixamos que a Palavra de Deus desapareça de nossas vidas e da vida de nossas igrejas locais?
O povo, confrontado com a Palavra, começou a chorar e a se lamentar, pois sentiram que eram pecadores e que não estavam a cumprir a lei. Todo o povo começou a chorar, impactado pelo poder da Palavra, reagindo à ação purificadora do Espírito Santo em suas vidas.
Era a comprovação de que o ambiente criado naquela reunião tinha sido favorável à ação do Espírito Santo.
Quando efetuamos o culto racional, aquele sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, não nos conformando com o mundo mas sendo transformados pela renovação do nosso entendimento, podemos experimentar qual é a boa, perfeita e agradável vontade de Deus (Rm.12:1,2). Temos feito isto em nossas reuniões?
– O choro foi unânime, todos foram alcançados na divisão de suas almas e espíritos pela Palavra de Deus. A situação chegou a tal ponto que Neemias, Esdras e os levitas ensinadores tiveram de intervir, pedindo ao povo que não ficassem tristes, mas que se alegrassem, porque aquele dia era consagrado ao Senhor.
A tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação e é seguida, pois, da alegria da salvação (Sl.51:12).
Por isso, embora nos entristeçamos pela ação da Palavra, após sentirmos a nossa santificação, ficamos alegres, pois percebemos que somos salvos na pessoa de Jesus Cristo. Aleluia!
– Neemias, Esdras e os levitas, então, ao verem que a Palavra havia produzido o seu devido resultado, concitaram todos os judeus a irem se confraternizar, porque a alegria do Senhor era a sua força (Ne.8:10).
– A força do salvo está na alegria da salvação, na alegria que provém do Senhor e que não depende das circunstâncias da vida, quase sempre adversas (Jo.16:33).
Esta alegria vem do fato de que, limpos pela Palavra e postos em comunhão com o Senhor, passamos a ter a experiência da comunhão com Deus e a convicção de que temos a vida eterna, de que a condenação que nos estava reservada foi removida pelo sacrifício de Cristo na cruz do Calvário.
Passamos a ter esperança e isto nos dá alegria. O(a) amado(a) tem esta alegria em seu interior?
– A confraternização era uma atitude costumeira nas festividades dos judeus. Ao comerem e beberem com os seus, após as festas, os judeus como que continuavam os sacrifícios em que tinham adorado a Deus, pois suas refeições eram como que o prosseguimento dos sacrifícios, em que todos se reuniam para se alimentar e reconhecer a soberania divina. A mesa da refeição é um verdadeiro altar, onde todos devem se lembrar, antes e depois das refeições, de que vivemos num mundo de milagres.
OBS: “…Eu não me importo se você está com fome ou se a comida parece deliciosa: você não pode tocá-la sem antes fazer algo muito importante.
Na lei judaica, você está proibido de comer nem que seja só um pouquinho antes de recitar uma bênção.
Caso contrário, o Talmud diz que você estará cometendo o pecado do roubo. Deus nos dá muito, mas exige em troca a nossa gratidão e o reconhecimento pelas maravilhas do universo. As bênçãos existem para nos lembrar que vivemos em um mundo de milagres.(…).
Para os judeus praticantes, toda refeição tem que terminar do mesmo modo que começou – com uma bênção.
O judaísmo ensina que agradecer após as refeições é muito mais importante do que antes de comer.
Quando você está com fome, é fácil agradecer a Deus pela comida que está prestes a comer.
O verdadeiro texto para uma pessoa vem quando ele ou ela está saciado(a): ‘E comerás, te fartarás e louvarás ao Eterno, teu Deus, pela boa terra que te deu’ (Dt.8:10).
É mais importante que as pessoas sejam espiritualmente motivadas pela gratidão do que pela satisfação potencial de uma grande necessidade…” (BLECH, Benjamin.Trad. de Uri Lam. O mais completo guia sobre judaísmo, pp. 268, 275-6).
– Os judeus sentiram-se tocados pela Palavra e isto lhes deu vida espiritual. Não há avivamento sem que se tenha como instrumento fundamental a Palavra de Deus.
– Avivamento é o ato de “tornar ou tornar-se mais vivo, reanimar ou reanimar-se, despertar, tornar-se mais forte, mais intenso, aumentar, intensificar-se, tornar-se mais nítido, destacar-se, tornar-se mais ativo (diz-se de fogo, brasa etc.), tornar mais ágil, apressar” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
Como se pode, pois, observar, quando se fala em avivamento se está a falar de um estágio posterior ao de viver.
Só pode ser avivado quem já está vivo e é por isto que este termo foi utilizado pelos pentecostais para se referir ao estágio espiritual posterior à conversão, para o apossamento das bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3).
A única vez que o termo aparece na Versão Almeida Revista e Corrigida é em Hc.3:2, onde o profeta, no início da sua oração que finaliza o seu livro, faz um pedido ao Senhor, depois de ter ouvido a Sua Palavra e temido:
“Aviva, ó Senhor, a Tua obra no meio dos anos, no meio dos anos a notifica; na ira, lembra-Te da misericórdia”.
“Aviva”, aqui, é tradução da palavra hebraica “chayah”, cujo significado é “viver, fazer viver, manter vivo, viver prosperamente, viver para sempre, sustentar a vida, ser rápido, ser restaurado para a vida ou para a saúde”.
A Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) usa a palavra “katenoesa”(κατενόησα) cujo significado é “observar”, “reparar”, “contemplar”, “perceber”.
OBS: A Nova Versão Internacional traduziu “aviva” como “realiza de novo”, enquanto a Nova Tradução na Linguagem de Hoje traduz a palavra por “Faze agora, no nosso tempo, as coisas maravilhosas que fizeste no passado”.
A Tradução Ecumênica Brasileira traduz o termo por “vivam teus atos”, com nota em que afirma que o significado da expressão é “faze viver”, lembrando aqui a Edição Pastoral, que utiliza a expressão “faze-a reviver”, que também é seguida tanto pela Versão dos Monges de Mardesous segundo o Centro Bíblico Católico como pela Bíblia de Jerusalém. A Versão do Padre Antonio Pereira de Figueiredo traduz a palavra por “vivifica”.
Já a Bíblia Viva, fugindo bem do significado, traduz o termo por “ajude-nos novamente nesta hora em que tanto precisamos de ajuda”.
Mantém a mesma tradução da Versão Almeida Revista e Corrigida, as seguintes versões: Almeida Fiel e Corrigida, Almeida Atualizada, Bíblia na Linguagem de Hoje, Tradução Brasileira e Edição Contemporânea de Almeida.
– Como afirma o teólogo inglês John Stott (1921-2011), um avivamento é “… uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira toma consciência de Sua santa presença e é surpreendida por ela.
Os inconversos se convencem do pecado, arrependem-se e clamam a Deus por misericórdia, geralmente em números enormes e sem qualquer intervenção humana. Os desviados são restaurados. Os indecisos são revigorados.
E todo o povo de Deus, inundado de um profundo senso de majestade divina, manifesta em suas vidas o multifacetado fruto do Espírito, dedicando-se às boas obras…” (A verdade do Evangelho, p. 119 apud COSTA JÚNIOR, Antonio Pereira da. Avivamento ou aviltamento? Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/avivamento/aviltamento_avivamento_antonio.htm Acesso em: 26 maio 2006).
– Ora, para que haja tal visitação, para que haja vida, torna-se indispensável que tenhamos a ação da Palavra de Deus, pois só ela é fonte de vida (Pv.13:14). Jesus, que é a Palavra (Jo.1:1), é o único que tem palavras de vida eterna (Jo.6:68).
– É impossível que tenhamos um verdadeiro e genuíno avivamento sem que, no centro, esteja a Palavra de Deus.
O que temos visto hoje em dia sob o título de “avivamento” são manifestações espúrias, onde há muita emoção, há muita gritaria, há irracionalidades, mas onde o Espírito Santo não está presente, porque Jesus não está presente, porque a Palavra de Deus não está presente.
Urge que voltemos à realidade bíblica e busquemos a “fonte de vida” que é a doutrina, o ensino e a exposição da Palavra de Deus.
– Não foi o louvor, nem a adoração dos judeus que os fizeram sentir a presença de Deus, mas, sim, o ensino e a exposição da Palavra de Deus.
É ela quem penetra até a divisão da alma e do espírito, é ela quem leva ao arrependimento, é ela quem traz a fé para que creiamos em Cristo, tenhamos nossos pecados perdoados e passemos a ter a alegria da salvação e a esperança da vida eterna (Rm.10:17).
– Devidamente orientados por Neemias, Esdras e os levitas que ensinavam a lei, o povo pôde se alegrar no Senhor e, desta maneira, demonstrar a sua alegria espiritual, o seu novo patamar espiritual, por intermédio da confraternização, da repartição das comidas e bebidas, inclusive enviando porções para os que nada tinham preparado para si (Ne.8:10).
– O resultado do avivamento não é uma “redoma de santidade”, como alguns equivocadamente entendem.
O povo, devidamente restaurado, não foi cada um para sua casa, como acontece com estas pessoas que se submetem a um “descarrego emocional”, entram em “frenesi” e acham que isto é avivamento e depois retornam para suas casas como se nada tivesse acontecido. Não, não e não!
Um avivamento traduz-se numa mudança de vida também em relação ao outro, inclusive dando ao necessitado o necessário que ele não tem preparado para si.
– Parece que houve uma certa dificuldade do povo para deixar a sessão de lamentos e choros. Os levitas tiveram de insistir para que eles se calassem e passassem a se confraternizar (Ne.8:11).
A “tristeza segundo Deus” que opera arrependimento para a salvação precisa ser sucedida pela alegria da salvação.
Há muitos que começam a alimentar um “complexo de inferioridade”, que começam a cultivar uma indevida vitimização, que não cabe na vida espiritual do salvo.
Somos pecadores, precisamos nos arrepender e mudar de vida, precisamos reconhecer que valemos menos que nada e que não merecemos a salvação, mas não podemos nos prostrar
diante destas realidades, mas, ao revés, sermos profundamente felizes porque o Senhor teve misericórdia de nós e tomou o nosso lugar na cruz do Calvário e, agora, devemos viver alegres no Senhor. Aleluia!
– O povo, então, foi-se a comer, e a beber, e a enviar porções, e a fazer grandes festas, porque haviam entendido as palavras que os levitas lhes tinham feito saber (Ne.8:12).
– Estas festas, como dissemos, eram uma verdadeira continuação do culto que haviam prestado a Deus. Aqui está, inclusive, uma das facetas do “partir do pão”, cuja perseverança é uma das características da Igreja (At.2:42,46).
Esta comunhão à mesa em suas casas, reproduzindo o mesmo ambiente de adoração e de reverência que houvera na praça diante da porta das águas.
O relacionamento entre os crentes deve ser próximo e fraterno, não só nos templos das igrejas locais, mas também no lar de cada um, no dia-a-dia.
OBS: “…A espiritualidade de toda a matéria era constantemente acentuada pelos mestres religiosos judeus.
A comida era sagrada porque Deus a havia feito.(…). Os rabinos consideravam o comer como um ato religioso porque sustinha a vida – tanto do corpo quanto da alma.(…).
No comer e no beber, o homem experimentava a realidade espiritual da Criação de Deus.(…). Era desejo dos Sábios Talmúdicos criar um estado de espírito elevado durante as refeições.
O comer devia-se realizar num nível digno e refinado, sem discussões, sem superficialidades ou grosserias, sem rudeza, e sem ira.
Além do mais, uma vez que se comia para viver e não se vivia para comer, a voracidade e insaciabilidade eram tidas na conta de manifestações baixas e pecaminosas.…” (AUSUBEL, Nathan. Graças após as refeições. In: A JUDAICA, v.5, p.309).
– “Comer o pão juntos” é ser “companheiro” (“companhia” vem de “cum+panis”, ou seja, aquele que come pão com alguém), compartilhar de todas as alegrias e tristezas, de todos os sentimentos, de todos os esforços.
Torna-se imperioso que, no povo de Deus, estejamos sempre prontos a comer e beber juntos, como também enviar porções àqueles que não têm nada preparado para si.
Temos sido companheiros ou somos apenas como integrantes de uma multidão em que cada um cuida de si e Deus cuida de todos, como se costuma dizer por aí?
– Tais festividades, portanto, foram realizadas com a mesma reverência com que havia ocorrido a reunião diante da porta das águas.
Isto é importante realçar porque não são poucos os eventos nas igrejas locais, ultimamente, em que o clima reverente dos cultos é seguido, nas festas e confraternizações, por um ambiente completamente diverso, onde há uma verdadeira conformidade a padrões mundanos, algo que, como vimos, é diametralmente oposto ao que deve ocorrer num culto racional (Rm.12:1,2).
– Os judeus reuniam-se para as suas confraternizações e festas após as celebrações em vários locais em Jerusalém, que não o templo, mas ali não havia desrespeito, irreverência ou carnalidade. Mantinham a mesma reverência que haviam tido nas celebrações.
Evidente que não se tinha a solenidade da cerimônia, mas descontração e informalidade não se confundem com licenciosidade e libertinagem, como, lamentavelmente, tem ocorrido em diversos eventos realizados por pessoas que cristãs se dizem ser. Tomemos cuidado, amados irmãos!
– Notemos que Neemias, Esdras e os levitas que ensinavam o povo disseram que havia motivo para que o povo se alegrasse, e este motivo era que o “dia era santo”.
Ao dizerem que o dia era santo, estavam, pois, a lembrar o povo que, embora a solenidade havia acabado, a santidade deveria continuar.
Por isso, o apóstolo Pedro diz que devemos ser santos em toda a nossa maneira de viver (I Pe.1:15) e não apenas na hora do culto coletivo da igreja local.
– As confraternizações são necessárias na igreja local. O povo de Deus precisa se confraternizar, integrar-se, máxime nos dias difíceis que estamos a viver, mas a confraternização jamais pode representar dispensa de santidade, jamais pode ser um meio de conformidade ao mundo e ao pecado.
Incentivemos e estimulemos a sociabilidade na igreja local, mas não nos esqueçamos que “o dia é santo”.
IV – A CELEBRAÇÃO DA FESTA DOS TABERNÁCULOS
– No dia seguinte, o povo novamente se reuniu para ouvirem a Palavra do Senhor. Todos haviam mantido a mesma sede e o mesmo interesse de ouvir a Palavra.
Não acharam que a festa das trombetas tinha sido suficiente. Pelo contrário, retornaram para ouvir Esdras, a fim de atentarem para as palavras da lei (Ne.8:13).
– Nos dias em que vivemos, não são poucos os que cristãos se dizem ser que não têm este prazer. Se vão ao culto da ceia do Senhor pela manhã, acham que não devem voltar à noite.
Outros entendem que indo à igreja local somente aos domingos, está mais do que suficiente. Quanta ignorância! Será que por terem almoçado no domingo pela manhã, não precisam mais comer à noite?
Ou, por terem se alimentado no domingo, podem ficar sem comer até o próximo domingo? Jesus foi bem claro ao dizer que a Palavra é o “pão espiritual” e, por isso, tem de ser consumido dia pós dia, assim como fazemos com nosso corpo físico.
– Na leitura deste segundo dia, o povo descobriu que havia sido prescrita uma festividade, a “festa dos tabernáculos”, que se dava sempre entre os dias quinze e vinte e um do sétimo mês (Lv.23:34), festa caracterizada pela construção de cabanas pelos israelitas que, com esta festa, rememorariam que haviam sido peregrinos na terra até a conquista de Canaã (Ne.8:14).
– Ao saberem desta prescrição, o povo, que estava no dia dois do sétimo mês, resolveu cumprir a lei, passando, então, a divulgar a todos a necessidade de virem, ainda naquele mês a Jerusalém, para cumprir o que estava prescrito na lei, divulgação que se fez em todas as cidades, mandando, inclusive, que fossem todos recolher ramos de oliveiras, zambujeiros, murtas, palmeiras e árvores espessas para que se fizessem as cabanas, como estava escrito (Ne.8:15).
– O avivamento não produz apenas o arrependimento para a salvação, mas a disposição para o cumprimento da Palavra.
Quando há um avivamento, o povo não se torna ouvinte esquecido das Escrituras, mas é um cumpridor do que está escrito (Tg.1:22).
– O povo, então, saiu e trouxe todo o material necessário, construíram as cabanas em Jerusalém, cada um nos seus terraços, pátios e até nos átrios do templo, como também na praça da porta das águas e na praça da porta de Efraim, habitando durante sete dias nelas, algo que nunca havia sido feito desde os dias de Josué (Ne.8:16,17).
– O povo alegremente cumpriu a Palavra de Deus, fazendo algo que jamais havia sido feito até então, a representar a mudança de patamar que havia ocorrido no povo de Judá por efeito do avivamento ocorrido.
O avivamento traz alegria espiritual, alegria pelo fato de a Palavra do Senhor ser cumprida, uma alegria bem diferente das manifestações que estamos acostumados a ser chamadas de “avivamento” e que não passam de “descarregos emocionais” que, não raras vezes, estão impregnados de carnalidade e de conformidade com o mundo.
– Como se não bastasse o cumprimento do que havia sido prescrito com relação à festa dos tabernáculos, o povo, de dia em dia, lia no livro da lei de Deus, desde o primeiro até o derradeiro dia, tendo, ao final, no oitavo dia, celebrado a festa de encerramento, como prescrito também na lei (Lv.23:36), o chamado “grande dia da festa” (Jo.7:37), em que eram queimadas ofertas ao Senhor e no qual obra servil alguma era feita.
– O avivamento produzido pela Palavra manteve o gosto e o interesse pela Palavra. A Palavra não apenas dá início ao avivamento, mas o sustenta durante todo o período. Sem que haja a Palavra, não há como o povo de Deus se manter avivado.
Enquanto há o interesse e a atenção em torno da Palavra, teremos um genuíno avivamento. A partir do momento em que a Palavra é deixada de lado, o avivamento também cessará.
– Em virtude da Palavra de Deus, lembrada ante o resgate da memória, Neemias tornara Jerusalém o palco da celebração da festa dos tabernáculos, como previsto na lei mas nunca cumprido desde os dias de Josué.
Jerusalém tornara a ser um lugar de celebração, o lugar do culto de todo o povo a Deus. Para isto haviam sido reedificados os muros e as portas de Jerusalém. Mais um passo havia sido dado para que se tivesse o seu repovoamento.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5687-licao-11-esdras-via-a-jerusalem-ensinar-a-palavra-i-e-apendice-n-1-esdras-e-neemias-promovem-avivamento-pela-leitura-da-palavra-de-deus