A oração sacerdotal de Jesus antecipa a intercessão do Senhor por nós nos céus.
INTRODUÇÃO
-Na sequência do estudo do Evangelho segundo João, analisaremos a oração sacerdotal de Jesus.
-A oração sacerdotal de Jesus antecipa a intercessão do Senhor por nós nos céus.
I – A ORAÇÃO SACERDOTAL DE JESUS
-Na sequência do estudo do Evangelho segundo João, analisaremos a oração sacerdotal de Jesus, registrada no capítulo 17 deste evangelho.
-Após ter dado as últimas instruções, Jesus faz uma oração pelos Seus discípulos, como que numa antecipação do papel intercessório que passaria a exercer na “casa do Pai” para onde iria, conforme dissera aos Seus discípulos (Jo.14:1-3; 16:28).
-Era mais um momento de oração do Senhor em Sua peregrinação terrena. Assim que deixou a glória divina, Jesus fez uma oração (Hb.10:5-7). Agora, antes de iniciar o Seu processo de paixão e morte, encerrando a instrução a Seus discípulos, ora uma vez mais.
-Além de orar, Jesus ora pelos Seus discípulos. Dentro de poucas horas, sabia que iniciaria a Sua paixão e morte, seria abandonado até pelos Seus amigos, mas sua primeira atitude de oração é por eles, é uma oração intercessória, demonstrando, assim, que os amava e os amava até o fim (Jo.13:1).
-Tem sido esta a nossa atitude? Em nossos momentos de oração, pensamos, primeiramente, no próximo, naqueles que nos cercam, ou, por primeiro, em demonstração de individualismo ou egoísmo, iniciamos pelas nossas necessidades, pelas nossas carências para só então lembrar do próximo? Será, aliás, que chegamos a pedir algo pelos outros?
-Por se tratar de uma oração intercessória, os estudiosos passaram a chamar esta oração de “oração sacerdotal de Jesus”, porque Cristo aqui como que antecipa o Seu papel de sumo sacerdote que passaria a exercer à direita de Deus quando subisse ao céu (Hb.8:1,2; 10:19,20).
-Assim como no sacrifício do dia da expiação, o sumo sacerdote primeiramente entrava no lugar santíssimo única e exclusivamente para cobrir a arca e o ambiente da fumaça do incenso (Lv.16:13), para só depois ingressar ali com o sangue do novilho sacrificado (Lc.16:14), Jesus orou pelos discípulos antes de entregar a Sua vida pela humanidade, como o sumo sacerdote que ofereceria a Si próprio, o Cordeiro de Deus, num sacrifício perfeito, feito uma vez, que tirou o pecado do mundo (Hb.10:10-13).
-Ao encerrar este verdadeiro curso dado aos discípulos durante Seu ministério terreno com uma oração, o Senhor nos ensina, também, que tudo devemos começar e terminar com oração.
-Como dissemos, ao entrar no mundo, iniciando a execução de Sua obra salvífica, o Senhor começou orando. Agora, ao terminar a instrução aos discípulos, igualmente orava. O processo de paixão e morte também se iniciaria com uma oração, no Getsêmani (Mt.26:36; Mc.14:32; Lc.22:329-41), e terminaria com uma oração no momento da entrega do espírito na cruz do Calvário (Lc.23:46).
-Devemos seguir este exemplo, começando e terminando nossas atividades sempre com oração, não uma mera “reza” automática e ritual, mas uma verdadeira, genuína e autêntica oração, comunicação com Deus, pois, em assim fazendo, estaremos sempre reconhecendo que nada podemos fazer sem o Senhor (Jo.15:15).
-O Senhor dirige-Se ao Pai no início da oração, como, aliás, em todas as orações Suas registradas nas Escrituras. Toda oração é dirigida ao Pai em nome de Jesus (Jo.16:23). Foi assim que Jesus ensinou os discípulos a orar (Mt.6:6,9; Lc.11:1,2).
-É estarrecedor que uma verdade bíblica tão fundamental, que, inclusive, aprendemos em nossa primeira infância, tenha sido ignorada, nos últimos tempos, por pessoas que já deviam ser mestres pelo tempo em que estão na Igreja (Cf. Hb.5:12), orem “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, expressão que o Senhor somente utiliza para a fórmula batismal.
-Oramos ao Pai, em nome do Filho, na companhia do Espírito Santo, que, tendo vindo ao mundo, intercede aqui por nós com gemidos inexprimíveis (Rm.8:26).
-Esta ignorância não pode sequer ser considerada como um “resquício de Romanismo”, pois na liturgia da Igreja Católica Apostólica Romana as orações são dirigidas ao Pai, em nome de Cristo, na unidade do Espírito Santo.
-O pedido primeiro de Jesus na oração é que o Pai O glorificasse, a fim de que o Filho também pudesse glorificá-l’O (Jo.17:1). Mas não seria este um pedido feito por Jesus para Si mesmo e não para os discípulos, o que desmentiria o que há pouco se afirmou de que a oração sacerdotal era uma oração que demonstraria que Jesus tivesse pedido primeiramente ao próximo e não a Si próprio?
-Jesus não pede para Si ao pedir ao Pai que O glorificasse, porquanto a glorificação de Jesus era condição
“sine qua non” para que os Seus discípulos pudessem receber o Espírito Santo (Jo.7:39).
-Jesus já havia dito que a glorificação Sua pelo Pai se daria pelo amor do Pai aos homens, quando, então, se daria a expulsão do príncipe deste mundo, em que se daria o juízo do mundo (Jo.12:28-31).
-A glorificação de Jesus pelo Pai, após a Sua morte na cruz do Calvário, que o Senhor também anunciou naquela oportunidade (Jo.12:32,33), seria a garantia da fé n’Ele e da salvação, porque representaria a aceitação e eficácia do Seu sacrifício como Cordeiro de Deus para tirar o pecado do mundo (Jo.1:29), o que, já anunciado e visualizado com o rasgo do véu do templo de alto a baixo quando de Sua morte (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45), seria concretizado com a Sua ressurreição, que confirma a vitória de Cristo sobre a morte e sobre o pecado (I Co.15:55-57; Ap.1:18).
-Tem-se, pois, que o pedido não foi feito por Ele próprio, mas, ao pedir que fosse glorificado pelo Pai, Jesus
faz um pedido em favor dos que crerem n’Ele.
-Jesus revela que o Pai Lhe havia dado o poder sobre toda carne para que desse a vida eterna a todos quantos Lhe deste e, de pronto, esclarece que a vida eterna era conhecer a Deus como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo como o Enviado do Pai (Jo.17:2,3).
-A glorificação do Filho seria a confirmação de que todo o poder Lhe seria dado, como, aliás, fez questão de dizer, já ressurreto aos Seus discípulos (Mt.28:18) e que, com tal poder, poderia dar vida a todos que cressem n’Ele como o Deus feito homem que enviado pelo único Deus verdadeiro trazer a salvação da humanidade.
-A fé cristã é a crença de que Jesus é o único e suficiente Salvador, o Deus feito homem, e que Deus é o único Deus verdadeiro. Temos, portanto, a demonstração de que se trata de um Deus único, mas que subsiste em três Pessoas, pois o Filho é o Enviado do Pai, a Pessoa divina que Se fez homem, que veio à terra para cumprir a obra que o Pai Lhe deste (Jo.17:4).
-Jesus confirma a Sua Deidade, ao pedir que a Sua glorificação pelo Pai se desse mediante o Seu retorno à glória que tinha com o Pai antes que o mundo existisse (Jo.17:5). Assim, era Deus que Se fez homem e veio à terra para salvar os homens.
-Jesus mostra, claramente, que glorificar o Pai na Terra, tendo manifestado o nome do Pai aos homens que do mundo o Pai Lhe havia dado, homens que eram do Pai e Lhe haviam sido dados e que guardaram a Palavra do Pai (Jo.17:5,6).
-A obra de Jesus é manifestar o nome do Pai aos homens, fazer os homens conhecerem ao único Deus verdadeiro. Esta deve ser também a tarefa de cada discípulo de Cristo, porquanto estamos aqui tão somente a dar continuidade ao que Jesus começou a fazer e a ensinar (At.1:1).
-A pregação do Evangelho é levar os homens a conhecer o único Deus verdadeiro e a Jesus como Seu Enviado, Enviado este que é Deus feito homem. Como o Pai revelou a Pedro em Cesareia de Filipe, trata- se de mostrar a Jesus como o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt.16:16) ou, como o próprio Pedro diria depois da multiplicação dos pães, crer e conhecer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus (Jo.6:68,69).
-Os homens foram criados por Deus, pertencem a Ele, por criação e sustentação, mas, quando creem em Jesus, passam a ser propriedade de Deus em Jesus (I Co.1:30), Lhe são dados e, por serem de Jesus, passam a guardar a Palavra de Deus.
-Jesus Cristo diz, ainda, que os que guardam a Palavra de Deus passam a conhecer que tudo quanto foi dado a Cristo veio do Pai, que a Palavra de Cristo é a Palavra do Pai (Jo.17;7,8).
-Jesus trouxe a Palavra de Deus aos homens e, os homens, ao conhecerem a Palavra trazida por Cristo, chegam à conclusão de que Jesus saiu de Deus e é o Enviado de Deus à humanidade.
-Receber a Palavra de Deus, portanto, é reconhecer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Não há, portanto, como se dizer uma pessoa salva sem que se reconheça tanto o Pai como o Filho, que não se reconheça que o único e suficiente Salvador é Nosso Senhor Jesus Cristo.
-Este discurso de que “todos os caminhos a levam a Deus”, que todas as religiões apresentam “sementes do Verbo”, que a “fraternidade universal” deve ser priorizada é manifestamente um discurso que não tem origem na Palavra de Deus, e, portanto, trata-se de uma mentira, já que a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17).
-Vivemos dias em que este discurso baseado no ecumenismo ou no diálogo interreligioso tem encontrado guarida entre os que cristãos se dizem ser, inclusive em denominações ditas pentecostais e, pasmem, até nas Assembleias de Deus!
-Trata-se de nítida manifestação do “espírito do anticristo”, pois está a negar tanto o Pai quanto o Filho (I Jo.2:22). Jesus deixa clarividente em Sua oração sacerdotal que quem recebe a Palavra de Deus crê que o Pai enviou o Filho.
-Isto fica ainda mais claro quando o Senhor diz que está a rogar pelos discípulos e não pelo mundo, aqueles que são do Pai e que Lhe haviam sido dados (Jo.17:9).
-Há uma nítida diferença entre os discípulos e o mundo. Os discípulos de Cristo, que formariam a Igreja que estava na iminência de ser edificada (Mt.16:18) é, como diz o item 8 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deu,
“…o corpo de Cristo, coluna e firmeza da verdade, una, santa e universal assembleia dos fiéis remidos de todas as eras e todos os lugares, chamados do mundo pelo Espírito Santo para seguir a Cristo e adorar a Deus”.
-Os discípulos de Jesus não são do mundo (Jo.17:14), antes o mundo os aborrece (Jo.15:18; 17:14), porque, enquanto os mundanos estão no maligno (I Jo.5:19) e são filhos do diabo (Jo.8:44; I Jo.3:7-10), os discípulos de Jesus são filhos de Deus.
-Jesus só pode interceder por aqueles a quem o Pai Lhe deu, para aqueles que creram em Jesus como o Filho de Deus e que, lavados e remidos no sangue de Cristo, têm agora acesso aos céus, visto que seus pecados foram perdoados e entraram em comunhão com o Senhor.
-Deus não ouve a pecadores, mas somente àqueles que temem ao Senhor e fazem a Sua vontade (Jo.8:31) e estes são aqueles que creram no Senhor Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador e passaram a guardar a Palavra (Jo.17:6).
-Não confundamos, porém, esta expressão de Cristo com o falso ensino da expiação limitada, defendido pelos que perfilham a predestinação incondicional. Aqui não se está a falar de salvação, mas de intercessão. Jesus não intercede pelos ímpios, mas os ama e morreu por eles na cruz do Calvário.
-Como bem explica o apóstolo Paulo, Deus prova o Seu amor para conosco porque Cristo morreu por nós sendo nós ainda pecadores (Rm.5:8) e o apóstolo João diz que Cristo é a propiciação pelos pecados de todo o mundo (I Jo.2:2). A expiação é ilimitada, mas a intercessão se faz apenas aos discípulos.
-Jesus diz que estava a sair do mundo e que voltaria para o Pai e que havia guardado em nome do Pai os que Lhe haviam sido dados, tudo com o propósito de que fossem um com o Pai (Jo.17:11,12).
-A companhia de Jesus não era apenas uma proximidade, um “estar ao lado” dos discípulos, mas era também uma proteção, uma guarda. Jesus não somente estava com os discípulos, ensinando-os, santificando-os, fazendo-os crescer espiritualmente, mas também Se incumbia de guardá-los, protegê-los, livrá-los do mal.
-Compreendemos, desta maneira, a expressão que Jesus, certa feita, utilizou dizendo ter intercedido para que Pedro não fosse cirandado por Satanás (Lc.22:31,32).
-Notemos aqui como o Senhor Jesus mostra a impotência do ser humano em servir a Deus nesta Terra. É necessário que o salvo seja guardado por uma Pessoa Divina. Jesus tinha esta incumbência enquanto estava em Sua peregrinação terrena e seria substituído pelo Espírito Santo após a Sua subida ao céu (Jo.14:16,18).
-Sem esta guarda, revela Cristo, os homens se perderiam e isto não ocorreu, com exceção do filho da perdição, para que se cumprissem as Escrituras (Jo.17:12).
II – A PROMESSA DA UNIDADE NA ORAÇÃO SACERDOTAL
-O propósito desta guarda e desta companhia era o de estabelecer uma unidade entre o salvo e Deus, ou seja, uma comunhão entre Deus e o crente, que é o objetivo da obra salvífica de Cristo (Jo.17:21).
-Esta guarda e proteção feita por Jesus foi exitosa, porquanto nenhum discípulo se perdeu, embora o inimigo quisesse tê-lo feito.
Jesus, enquanto Bom Pastor, pôde impedir que o lobo arrebatasse os salvos, Suas ovelhas, de Sua mão (Jo.10:28) ou que fossem dispersas pelo lobo, porque Ele agregou as Suas ovelhas e ainda agregaria outras, inclusive de outros apriscos, isto é, os gentios (Jo.10:16).
-Jesus, fazendo companhia aos discípulos, aproximava-os cada vez mais do Pai, levava-os a uma vida de santidade, a um caráter cada vez mais parecido com o do Mestre, que os concitava a que aprendessem d’Ele que era manso e humilde de coração (Mt.1:29).
-Tal aproximação, entretanto, ainda era imperfeita, porquanto o Espírito Santo estava sobre Jesus (Is.11:1,2), que tinha a plenitude do Espírito como nenhum homem teve nem terá, já que não tinha pecado (Hb.4:15), mas não com os discípulos e muito menos dentro deles.
-Como consequência disto, os discípulos não podiam se lembrar daquilo que lhes era ensinado, o que somente ocorreu depois de terem recebido o Espírito Santo (Lc.24:8; Jo.2:17,22; 12:6) e, por vezes, não podiam compreender o que era dito (Mc.9:32: 12:12; Lc.2:50; 9:45; 18:34; Jo.8:27; 12:16).
-A partida de Jesus era, pois, motivo de alegria para os Seus discípulos, porque, agora, a aproximação
ao Pai seria perfeita, pois haveria “alegria completa nos discípulos mesmo” (Jo.17:13).
-Com a subida aos céus de Jesus, o Espírito Santo viria ao mundo e estaria não só com os discípulos, como Cristo tinha estado, mas, também, em cada crente (Jo.14:17). Cada discípulo de Jesus tornar-se-ia templo do Espírito Santo (I Co.6:19), morada de Deus no Espírito (Ef.2:22).
-Estando em nós, o Espírito derramaria o amor de Deus em nossos corações (Rm.5:5) e escreveria a Palavra nas tábuas de carne do coração (II Co.3:3), tornando-nos cartas de Cristo, gerando em nós o ministério da justiça, de maior glória que o próprio ministério da morte, ou seja, da lei, que fora gravado com letras em pedra e cuja glória fora transitória (II Co.3:6-11).
-Não nos olvidemos que do coração procedem as saídas da vida (Pv.4:20-23) e que a Palavra de Deus precisa estar no coração para que se tenha vida verdadeira, e Jesus, que é a vida (Jo.1:4; 14:6), não poderia, em hipótese alguma, deixar de operar uma transformação no coração humano, para que nele estivesse a Palavra do Senhor.
-Jesus, agora que estava deixando a terra para subir ao céu, pede ao Pai que não tire Seus discípulos do mundo mas que os livre do mal (Jo.17:15).
-Os discípulos não poderiam ser tirados do mundo porque tinham de prosseguir a obra de Cristo. Jesus havia manifestado o nome do Pai aos discípulos e eles deveriam, agora, manifestar o nome do Pai e do Filho aos homens, tanto judeus quanto gentios.
-Deveriam ir por todo o mundo e pregar o Evangelho a toda criatura (Mc.16:15), pois foram enviados por Jesus (Jo.17:18), numa clara evidência de que, como já temos dito, o amor de Deus é dirigido ao mundo inteiro, tanto que o Pai enviou o Seu Filho ao mundo para que todo aquele que n’Ele cresse não perecesse mas tivesse a vida eterna (Jo.3:16). Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:5).
-Nesta atitude de pregação, todavia, mister se faz que sejam guardados pelo próprio Deus, pois, caso não o sejam, serão vencidos pelo diabo e seus anjos, pois os homens foram feitos pouco menores do que os anjos (Sl.8:5) e, os salvos, não sendo do mundo, constituem-se em inimigos de Satanás e estão em contínua batalha espiritual contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais (Ef.6:11,12).
-Daí o pedido de Jesus para que Seus discípulos fossem livres do mal e, para tanto, o Espírito Santo iria, também, revestir de poder a Igreja, desde o seu nascimento, no dia de Pentecostes (At.1:8; 2:4) e é bem por isso que a pregação do Evangelho é confirmada com sinais, prodígios e maravilhas (Mc.16:20; I Co.2:2-5; Hb.2:3,4).
-O livramento do mal vem não só pela intercessão de Jesus pelos discípulos no céu, tendo Jesus todo o poder (Jo.17:2), mas também pela própria concessão de poder por parte do Espírito Santo, seja pelo batismo com o Espírito Santo, pela concessão dos dons espirituais ou pelos sinais que seguem aos que creem.
-Este livramento do mal vem, também, por meio da santificação na verdade, isto é, na Palavra de Deus (Jo.17:17), pois a Palavra nos limpa (Jo.15:3) e, sendo santificados, os salvos ficam mais próximos da estatura completa de Cristo, da qualidade de varões perfeitos (Ef.4:13), que aumentarão a sua produção de fruto por estarem unidos a Jesus, a videira verdadeira (Jo.15:2,5,16).
-O salvo vai errando cada vez menos, aproximando-se cada vez mais da perfeição, porque, em Cristo, sob a Sua intercessão e sob o cuidado do Espírito Santo, vão conhecendo as Escrituras e o poder de Deus (Mt.22:29).
-Jesus disse que, para a santificação dos Seus discípulos, havia Se santificado a Si mesmo, para que eles fossem santificados na verdade (Jo.17:19).
-Jesus dava o exemplo a Seus discípulos e mandava que Eles O seguissem, negando a si mesmos e tomando a sua cruz de cada dia (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23).
-Agora que Jesus iria subir ao céu, Cristo pede ao Pai que os discípulos sejam santificados na verdade, o que se daria, como Ele mesmo dissera aos discípulos nas últimas instruções, mediante a ação do Espírito Santo que os ensinaria todas as coisas, guiá-los-ia na verdade e os faria lembrar de tudo quanto Jesus havia dito (Jo.14:26; 16:13).
-A propósito, ante a ausência de Jesus, seria o Espírito Santo que passaria a convencer o pecador da justiça, pois a justiça não se veria mais pela vida de Jesus, mas, sim, pelo teor das Escrituras, que testificam de Jesus (Jo.5:39).
-Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo dizia aos crentes que o imitassem (I Co.4:16; Fp.3:17), bem como o escritor aos hebreus que os pastores fossem imitados (Hb.13:7), porque tanto Paulo quanto os pastores imitavam a Cristo (I Co.11:1; Hb.13:7).
-Esta “imitação de Cristo” é a “mimese”, ou seja, a repetição de atitudes, o seguimento, ter a Jesus como exemplo (I Pe.2:21), andar como Ele andou (I Jo.2:6). Por isso mesmo, Tomás de Kempis (1380-1471), autor do famoso livro “Imitação de Cristo”, começa sua obra dizendo:
“1. Quem me segue não anda em trevas (S. João, VIII, 12). Com estas palavras exorta-nos Cristo a que lhe imitemos a vida e os costumes, se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda a cegueira do coração. Meditar na vida de Jesus Cristo seja, pois, a nossa maior solicitude.…” (Disponível em: https://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/imitacao_cristo.htm Acesso em 21 fev. 2025).
-Eis porque Jesus, sendo o Santo (Lc.1:35), santificava-Se enquanto estava na Terra, orando (Lc.11:1), jejuando (Mt.4:2), pregando e ensinando as Escrituras (Lc.4:15-17), para que servisse de exemplo aos discípulos, que necessitariam, como nunca, da santificação para serem exitosos em sua peregrinação terrena (Hb.12:14).
-Sua santificação apresenta-se, pois, já como uma medida preventiva de proteção e guarda dos Seus discípulos que, após a Sua partida para o céu, deveriam mirar este exemplo a fim de pudessem ter o mesmo destino de glorificação que teve seu Senhor e Mestre.
-Para tanto, providenciou Jesus a vinda do Espírito Santo, que nos serviria de guia em toda a verdade (Jo.16:13), que nada mais é que nos dirigir a andar como Jesus andou, visto que Jesus é a verdade (Jo.14:6) e devemos andar na verdade (II Jo.4 e III Jo.4), como também completadas foram as Sagradas Escrituras, por inspiração do mesmo Espírito Santo (II Pe.1:20,21 e 3:15,16), já que são elas que testificam de Cristo (Jo.5:39).
-Neste momento, o Senhor insere a cada um de nós nas Escrituras, porquanto diz que está a rogar não apenas pelos discípulos que com Ele ali estavam, ou com os demais que O serviam mas ali não Se encontravam, mas também por todos os que, pela Palavra, haveriam de crer n’Ele (Jo.17:20).
-Jesus comportava-Se, pois, como sumo sacerdote nesta oração, oração que era o verdadeiro introito do Seu sacrifício expiatório, visto que estava a interceder por todo o povo, como faziam os sumos sacerdotes no dia da expiação (Lv.16:15,16).
-Jesus estava a interceder por todos os que haveriam de crer n’Ele, o que abrange não só a Igreja, mas também
os que haveriam de crer em Jesus após o arrebatamento da Igreja, seja na Grande Tribulação, seja no Milênio.
-Como já dito há pouco, a intercessão de Jesus é para aqueles que haveriam de crer n’Ele pela Palavra. A fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17). O Espírito Santo ensina-nos todas as coisas e nos faz lembrar do que Jesus disse (Jo.14:26).
-Para desfrutar de comunhão com o Senhor e ser alvo de Sua intercessão, é preciso crer n’Ele e receber a Sua Palavra (Jo.17:8,20), como Jesus bem esclareceu na parábola do semeador, quando mostrou que somente é “a boa terra” aquela em que houve frutificação da Palavra de Deus, que é a semente da parábola.
-Destarte, somente demonstra ser salvo e pertencente ao povo de Deus aquele que não só recebe, mas permanece na Palavra (Jo.8:31), e esta permanência se dá mediante a chamada “santificação progressiva”, que é a continuidade na obediência ao Senhor Jesus até a morte (Ap.2:10), como, aliás, Ele próprio fez (Fp.2:8). Quem é santo, santifique-se ainda (Ap.22:11).
-Devemos “seguir a santificação”, de sorte que não se tem uma situação estática, já predeterminada desde antes da eternidade, como defendem os adeptos da predestinação incondicional, mas um processo dinâmico, em que estamos indo, passo a passo, ao longo do Caminho, para chegarmos aos céus.
-Tanto é assim que Jesus nos deixou o exemplo, porque temos de ter um parâmetro, uma referência a seguir, bem como enviou o Espírito Santo para nos guiar em toda a verdade, ensinar-nos todas as coisas, fazer-nos lembrar do que Jesus disse. Seria isto necessário se não se tivesse o exercício da vontade humana? Evidentemente que não!
-Todo este arcabouço montado por Deus para que se tivesse a continuidade da obra salvífica de Jesus, agora pela Igreja, tem o objetivo de promover a comunhão entre Deus e o homem: “para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim e Eu, em Ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste” (Jo.17:21).
-Esta passagem tem sido utilizada pelos defensores do Ecumenismo, esta doutrina desenvolvida principalmente na Igreja Romana a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965) que diz que é preciso a união de todos os segmentos cristãos para que se possa ter o correto testemunho no mundo como pretendido por Jesus.
-Com efeito, o Decreto “Unitatis Redintegratio”, documento daquele Concílio, diz textualmente: “1. Promover a restauração da unidade entre todos os cristãos é um dos principais propósitos do sagrado Concílio Ecuménico Vaticano II. Pois Cristo Senhor fundou uma só e única Igreja.
Todavia, são numerosas as Comunhões cristãs que se apresentam aos homens como a verdadeira herança de Jesus Cristo. Todos, na verdade, se professam discípulos do Senhor, mas têm pareceres diversos e caminham por rumos diferentes,
como se o próprio Cristo estivesse dividido (Cfr. I Co. 1:13). Esta divisão, porém, contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura.…” (Disponível em: https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat- ii_decree_19641121_unitatis-redintegratio_po.html Acesso em 21 fev. 2025).
-Todavia, não é a isto que se refere o texto bíblico. Jesus está a nos dizer que a Sua santificação, a fim de deixar exemplo aos discípulos, exemplo que seria registrado nas Escrituras e trazido à memória de cada um pelo Espírito Santo, tinha por objetivo estabelecer uma unidade entre o salvo e o Senhor, manter viva a amizade que seria restaurada pela “semente da mulher”.
-Esta unidade é entre Deus e o homem e a Igreja, que é o conjunto das pessoas que creram em Jesus e que, portanto, saíram do mundo, é “o corpo de Cristo” (I Co.12:27), um “mistério” (Ef.3:3), que não pode ser reduzida a uma única instituição humana, como pretendem os romanistas.
-Por meio desta comunhão entre Deus e os homens por meio de Jesus Cristo, os salvos, independentemente da igreja local a que pertençam, produzirão o fruto do Espírito Santo (Mt.7:15-20; Jo.15:8) e, com este testemunho, sendo sal da terra (Mt.5:13), luz do mundo (Mt.5:14), varas frutíferas da videira verdadeira (Jo.15:5,16), portadores de sinais e maravilhas (Mc.16:16-20; I Co.2:2-5; Hb.2:3,4), fazem com que o mundo creia que Jesus foi o enviado do Pai para salvar a humanidade (Jo.17:21).
-Fomos escolhidos por Jesus (Jo.15:16) para sermos Suas testemunhas em toda a face da Terra (At.1:8) e este testemunho leva as pessoas a crerem em Jesus.
-Mas só será verdadeira e genuína testemunha de Cristo aquele que estiver em unidade com o Pai e com o Filho (Jo.17:22,23), aquele que for morada de Deus no Espírito (Ef.2:22), aquele que não viver na prática do pecado e que demonstrar o amor de Deus (I Jo.3:9-11).
-Jesus deu a Sua glória aos Seus discípulos, ou seja, mediante o Seu sacrifício vicário fez com que os Seus discípulos passassem a ter acesso aos céus (Hb.10:19,20) e, em Seu nome, pudessem obter tudo quanto pedissem ao Pai (Jo.15:7,16; 16:24,26).
-A destituição da glória de Deus, consequência do pecado (Rm.3:23), é superada pela reconciliação operada por Cristo (II Co.5:18-21), e, além de termos acesso ao Pai pelo Filho, também somos constituídos embaixadores para anunciar a reconciliação aos demais homens e pregar o Evangelho, trazendo almas para o Senhor Jesus.
-O crescimento espiritual de cada salvo, obtido mediante o exercício do amor fraternal e do exercício dos dons ministeriais, que promovem a edificação do corpo de Cristo (Ef.4:11-16), assim como a distribuição pelo Espírito Santo dos dons espirituais aos que são revestidos de poder (I Co.12:7-11; 14:1-3), é resultado desta unidade cada vez mais intensa, que tem por limite a perfeição, que se dará na glorificação, quando Jesus levar os Seus discípulos para as mansões celestiais (Jo.17:23,24).
-Jesus mostra, então, que o objetivo deste compartilhamento da glória era o do aumento contínuo da unidade entre a Igreja e Ele próprio, intensidade que chegaria até o ponto de alcançarmos a estatura completa de Cristo, a condição de varão perfeito, quando, então, o Senhor os levaria para que vissem a glória que Lhe fora dada, existente antes mesmo da criação do mundo (Jo.17:24).
-Termina o Senhor Jesus Sua oração, dizendo que o mundo não havia conhecido o Paio justo, mas Ele O conhecera, bem como os discípulos tinham conhecido de que Jesus era o Cristo, o Enviado do Pai (Jo.17:25).
-Por intermédio de Cristo, os Seus discípulos conheceram o nome do Pai e este conhecimento haveria de aumentar para que o amor com que o Pai tinha amado o Filho estivesse neles e Jesus neles estivesse (Jo.17:26).
-Ao término de Sua oração, portanto, Cristo promete aos discípulos que teriam eles ainda maior intimidade com Deus, e isto era fato porque passariam a ser morada de Deus no Espírito, a serem templos do Espírito Santo e, com esta comunhão, possível mediante o sacrifício vicário de Jesus e Sua glorificação com a ressurreição, seríamos “fontes de água viva que jorram para a vida eterna” (Jo.7:38), pois o amor de Deus seria derramado pelo Espírito Santo em nossos corações (Rm.5:5) e, desta forma, produzindo o fruto do Espírito Santo, que é o desdobramento deste amor divino, teríamos todas as condições para chegarmos aos céus.
-Jesus iria partir, estava para começar todo este processo que, a partir da agonia do jardim, terminaria na ascensão aos céus, mas, ao mesmo tempo, começava o processo de cada discípulo Seu ser Sua morada, Sua habitação. Aleluia!
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/11511-licao-11-a-intercessao-de-jesus-pelos-discipulos-i