O pastor é aquele que foi escolhido pelo Senhor para cuidar das almas ganhas para o reino de Deus.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo dos dons ministeriais, analisaremos hoje o ministério de pastor.
– O pastor é aquele que foi escolhido pelo Senhor para cuidar das almas ganhas para o reino de Deus.
I – A FIGURA DO PASTOR NAS ESCRITURAS SAGRADAS
– Na continuidade do estudo dos dons ministeriais elencados em Ef.4:11, analisaremos hoje o ministério de pastor.
– A figura do pastor nas Escrituras Sagradas é um dos pontos mais marcantes da influência da cultura hebreia na revelação que Deus dá à humanidade através da Bíblia Sagrada, visto que os israelitas são um povo que se construiu ao redor da atividade da criação de animais, notadamente de ovelhas (Gn.13:7; 26:20; 46:32,34; 47:3).
– A palavra hebraica empregada para pastor é “ra-ah” (הער) , entendido como “aquele que apascenta, cuida, zela, alimenta” os animais. Em o Novo Testamento, a palavra grega empregada é “poimen” (ποιμήν), que tem o mesmo significado.
– Bem se vê, portanto, que o pastor é aquela pessoa que foi escalada para cuidar das ovelhas, tratá-las, cuidar de seu dia-a-dia, a fim de que possam crescer saudáveis até o momento em que cumpram a finalidade de sua criação, que era tanto o fornecimento de alimentação quanto o fornecimento de lã para os homens.
– Normalmente, os pastores não eram pessoas que tinham alguma projeção social, mas, pelo contrário, via de regra, eram pessoas simples, pessoas que se encontravam na base da pirâmide social, não raras vezes escravos ou servos de alguém.
– Vemos isto em diversas passagens bíblicas: em Gn.13:7,8, observamos que os pastores de Abrão e de Ló eram servos, muito provavelmente escravos de ambos; em Gn.26:20, também vemos que os pastores de Isaque eram servos daquele patriarca; Davi, o mais jovem e, por isso mesmo, o mais desprezado dos filhos de Jessé (tanto que nem foi chamado ao banquete), era pastor de ovelhas;
Doegue, um estrangeiro, era pastor de Saul (I Sm.21:7), a mostrar que se tratava de posição subalterna na ordem social israelita. Em Is.38:12, a habitação do pastor é descrita como sendo uma “choça”, ou seja, uma simples tenda, facilmente removível, a nos mostrar com era humilde a condição do pastor.
– Disto já tomamos uma importantíssima lição, qual seja, a de que a figura do pastor está, na Bíblia Sagrada, vinculada à ideia de serviço.
– O pastor, antes de mais nada, dentro da cultura hebreia, era um serviçal, alguém que estava a serviço de alguém, o verdadeiro dono do rebanho, o verdadeiro dono dos animais. É o que bem verificamos em Ex.3:1, quando se deixa bem claro que Moisés era o pastor, mas o rebanho não era seu e sim de seu sogro Jetro.
– Nas Escrituras Sagradas, a figura do pastor também sempre está ligada à dedicação e à sensibilidade. O primeiro pastor de ovelhas mencionado é Abel (Gn.4:2), que, não sem razão, é, também, o primeiro justo (Mt.23:25; Hb.11:4).
Abel tinha sensibilidade espiritual e ofereceu o melhor de suas ovelhas para o Senhor, a mostrar que o pastor é alguém que, por cuidar de ovelha, um animal extremamente delicado e que exige total dedicação, precisa ser sensível.
Também não é coincidência que Moisés, antes tão violento, depois de quarenta anos como pastor de ovelhas, tenha se tornado o varão mais manso que havia sobre a face da Terra (Nm.12:3).
– O pastor, assim, é também a figura de uma pessoa extremamente sensível, que está sempre dedicada ao bem-estar do rebanho que está sob seus cuidados, alguém, portanto, que é voltado para o outro e não para si mesmo, alguém que não tem qualquer receio de pôr a sua vida em risco pelo bem dos animais de que está a cuidar,
como se vê no próprio testemunho que Davi deu ao rei Saul (I Sm.17:34-36) ou da profecia de Amós (AM.3:12), ele, próprio, aliás, um pastor (Am.1:1). É, assim, aliás, que Jesus mostra como é o pastor na parábola da ovelha perdida (Lc.15:4-6).
– Mas o pastor, também, é indicado nas Escrituras como aquele que é responsável pela direção de todo rebanho. A ovelha é um animal delicado, que necessita não só de cuidados, mas de orientação para bem se conduzir.
Trata-se de um animal tímido, que não tem muita iniciativa própria, que, por isso mesmo, precisa ser levado até os pastos, e, enquanto pasta, precisa ser protegido pelo pastor.
Ademais, a ovelha não vive sozinha, precisa sempre estar em companhia de outras para se deslocar, daí a dependência do convívio não só com o pastor mas com outras ovelhas.
– Pois bem, esta figura do pastor como aquele que conduz, aquele que orienta, é encontrada, pela vez primeira, nas Escrituras, em Gn.49:24, na bênção que Jacó dá a seus filhos.
Quando abençoava José, o velho patriarca disse que os braços das mãos de seu filho predileto haviam sido fortalecidos pelas mãos do Valente de Jacó, que foi também considerado como “o pastor e a pedra de Israel”, que a Bíblia Hebraica traduz como “Pastor do pai e dos filhos de Israel”.
– Na primeira vez em que vemos a figura do pastor ser considerada como do guia, daquele que conduz, daquele que orienta, que está à frente, vemo-la vinculada à figura do próprio Deus.
José era o governador do Egito, havia liderado todo o processo de conservação em vida dos filhos de Israel da fome (Gn.50:20), mas, na verdade, quem estava conduzindo todo o processo, quem estava a guiar aquele povo ainda em formação era o Pastor e Pedra de Israel.
Por isso, pôde o pastor de ovelhas Davi dizer com muita propriedade que o seu pastor era o Senhor (Sl.23:1).
– A ideia do Senhor como pastor do Seu povo mostra que Deus não somente lidera o povo, não somente está à frente do povo, dirigindo os seus passos e os levando até onde quer, mas que, também, o Senhor está pronto a cuidar de nós a todo o momento, a conservar a nossa vida a fim de cumpramos o Seu propósito.
– A figura do Senhor como pastor é uma das demonstrações mais eloquentes de que a verdadeira doutrina a respeito de Deus é o chamado teísmo, ou seja, aquela doutrina que ensina que Deus não só criou todas as coisas, mas que está presente, participando da própria criação, do próprio desenrolar de todos os processos que fez aparecer com o criar de todas as coisas.
– Como Deus é pastor, Ele não somente criou todas as coisas, Ele não somente é o dono de todas as coisas, mas está presente, zelando, cuidando, alimentando e promovendo o bem-estar de Seu rebanho, daqueles que Ele mesmo criou e quer levar para o convívio eterno com Ele nas mansões celestiais.
Como Deus é pastor, Ele não fica isolado, como o mero Senhor e Todo-Poderoso, mas, também, vem para a base da pirâmide social, vem assumir a pequenez de suas ovelhas, vivendo entre elas, não Se importando em ser com elas desprezado e menosprezado, mas querendo que elas sejam livres dos ataques das feras e das vicissitudes do dia-a-dia, a fim de que possam chegar a cumprir o propósito a elas determinado.
– Em Nm.27:16,17, mais uma vez temos a ideia do pastor como alguém que deve guiar o povo de Deus, mas aqui não se trata do próprio Deus, mas, sim, de um homem que estivesse sobre a congregação e os guiasse a Canaã.
Moisés, ao pedir a Deus que indique um sucessor, já que ele iria morrer, pede ao Senhor que ponha um homem à frente do povo, para que eles não fossem “ovelhas que não têm pastor” (Nm.27:17).
– Deus atendeu ao pedido de Moisés e designou Josué como sendo este “pastor”. Josué foi chamado porque nele havia “o espírito” (Nm.27:18) e, então, Moisés deveria impor as mãos sobre ele, após tê-lo apresentado ao povo, bem como lhe dar mandamentos como o Senhor ordenara pela mão de Moisés (Nm.27:18-23).
– Notamos, portanto, que, na vez primeira em que um homem é chamado de pastor no sentido de guia do povo de Deus, este homem é, em primeiro lugar, chamado por Deus, não é alguém que se tenha declarado pastor, mas que recebeu uma nomeação direta da parte do Senhor.
– Em segundo lugar, observamos que Deus chama alguém que tem “o Espírito”, ou seja, alguém que estava em comunhão com Ele, como era o caso de Josué, que sempre tinha se mostrado como um homem fiel e obediente a Deus.
Esta passagem serve, inclusive, de figura para o próprio dom ministerial de pastor, visto que somente aquele que é chamado e que recebe “o Espírito”, ou seja, recebe o dom específico, pode exercer as funções de pastor.
– Em terceiro lugar, verificamos que o pastor recebe mandamentos, os mandamentos do Senhor, ou seja, não é alguém que seja dono do rebanho, mas um mero administrador, alguém que deverá prestar contas daqueles que lhe foram confiados, atuando sempre sob as ordens do Senhor, sob os Seus mandamentos.
– Esta condição do pastor como alguém que está sob as ordens do Senhor é reforçada em Is.44:28, quando o rei da Pérsia, Ciro, é chamado de “pastor” pelo profeta, precisamente porque haveria de fazer tudo quanto o Senhor queria que fosse feito.
Apesar de ser o rei da Pérsia, a potência mundial de então, é realçado que ele seria “pastor” não por estar ocupando uma posição de liderança, mas, sim, porque estava sob as ordens divinas, fazendo a vontade de Deus.
– Outra característica que as Escrituras dão para o pastor é que ele é um fator de união, de congregação das ovelhas.
O bom pastor é aquele que mantém as ovelhas juntas, unidas, que as reúne para que se tenha o cumprimento do propósito de sua criação (Jo.10:16). Jeremias diz que o Senhor era o pastor de Israel, porque congregaria a nação (Jr.31:10), o mesmo falando Ezequiel (Ez.34:12),
Ezequiel, aliás, que afirma que um dos maiores sinais de infidelidade dos pastores é, precisamente, o permitir que as ovelhas se espalhem (Ez.34:6).
Zacarias chama de inútil ao pastor que abandona o rebanho (Zc.11:17), enquanto que Jesus diz que o pastor que deixa as ovelhas se dispersarem nada mais é que um mercenário (Jo.10:12).
II – JESUS, O SUMO PASTOR
– Conforme já verificamos supra, a primeira vez em que a figura do pastor é associada ao de quem conduz o rebanho, é ela empregada em relação ao Senhor. O Valente de Jacó era o Pastor e Pedra de Israel (Gn.49:24).
– Davi, no Salmo 23, apresenta o Senhor como sendo o seu pastor e, como tal, o Senhor não só garante o sustento, como também orienta, guia e se mantém ao lado do salmista em todas as situações da sua vida.
– No Salmo 80, o salmista Asafe, ao suplicar a presença do Senhor, chama-O de “Pastor de Israel”, dizendo que, como tal, era Ele quem guiava o Seu povo como a um rebanho e, por isso, tinha condições de salvar Israel (Sl.80:1-3).
– Isaías, ao prometer a salvação de Israel, também se refere ao Senhor como sendo o pastor da sua nação, dizendo que o Senhor haveria de apascentar o Seu rebanho, recolhendo entre os Seus braços os cordeiros e os levando no Seu regaço, guiando mansamente as que amamentam (Is.40:11).
– Jeremias, também, em meio às suas profecias de juízo, também trouxe a promessa de que Israel, mesmo dispersa entre as nações, seria congregada, novamente reunida, porque Deus era o seu Pastor e, como todo pastor, trataria de reunir os israelitas uma vez mais (Jr.31:10), o que também foi prometido por intermédio do profeta Ezequiel, e isto apesar dos maus pastores que haviam ocasionado a ruína da nação israelita (Ez.34:12).
– Mas é nesta promessa vinda dos profetas, que se anuncia que o Senhor, que haveria de reunir e congregar novamente a nação de Israel, seria, simultaneamente, Deus e descendente de Davi, pois seria o “servo Davi” o único Pastor que poderia fazer esta reunião (Ez.34:23).
– Ora, quando o profeta Ezequiel fala a respeito do “servo Davi”, não está a se referir ao rei Davi, que já morrera séculos antes, mas, sim, ao “Filho de Davi”, ao Messias, ao Cristo que haveria de ser o “único pastor”, que haveria de apascentar o rebanho do Senhor.
Este pastor que, a exemplo do primeiro líder de Israel que assim foi chamado, a saber, Josué (Nm.27:17,18), seria o “Salvador”, pois é este o significado de “Josué”, que é o mesmo significado de “Jesus” (Mt.1:21).
– Tem-se, portanto, que, desde as profecias messiânicas no Antigo Testamento, ficava certo que o Messias, o Cristo haveria de ser o Pastor, o único Pastor, aquele que salvaria o povo de Israel, aquele que congregaria as ovelhas perdidas da casa de Israel, ovelhas que haviam sido espalhadas pelos pastores infiéis que haviam sido postos diante do povo mas que, lamentavelmente, em vez de congregarem, haviam causado a dispersão das ovelhas, em virtude da desobediência à lei do Senhor.
– O “servo Davi” não só seria o pastor de Israel, mas, também, reinaria sobre o povo e este povo, assim guiado por este servo fiel, viria a observar os estatutos e guardar os mandamentos do Senhor (Ez.37:24).
– Não é por outro motivo que o Senhor Jesus, em Seu ministério terreno, ao olhar para o povo de Israel tinha dele compaixão, pois eram como ovelhas desgarradas que não tinham pastor (Mt.9:36; Mc.6:34), visto que era esta a situação espiritual dos israelitas, uma vez que era o próprio Jesus o pastor que lhes havia sido enviado, mas que eles haveriam de rejeitar (Jo.1:11).
– Jesus mesmo assumiu esta condição de ser o “bom Pastor” (Jo.10:14), o pastor que não só veio para congregar as ovelhas de Israel, mas, também, congregar os gentios no Seu aprisco (Jo.10:16).
– Jesus Se identificou como o “bom Pastor”, porque entrou pela porta no curral das ovelhas (Jo.10:1,2), ou seja, cumpriu todo o propósito estabelecido pelo Pai, fazendo-Se homem para trazer a mensagem da salvação, consumando a obra d’Aquele que O enviara (Jo.17:4), mostrando, uma vez mais, que o pastor é sempre aquele que está debaixo das ordens do Senhor.
– Jesus Se identificou como o “bom Pastor”, porque também está profetizado que virá um “mau pastor”, um pastor que não visitará as ovelhas que estão perecendo, que não buscará a desgarrada nem tampouco sarará a doente, muito menos apascentará a sã, mas comerá a carne da gorda e lhe despedaçará as unhas (Zc.11:16), que outro não é senão o Anticristo, que, vindo em seu próprio nome, será, num primeiro instante, aceito pelo povo de Israel (Jo.5:43).
– Jesus Se identificou como o “bom Pastor”, porque Ele daria a Sua vida pelas ovelhas (Jo.10:11,15), já que, como já vimos, uma característica do pastor é estar disposto a se doar para os animais sob seus cuidados, não tendo qualquer receio de, para lhes promover o bem-estar, não só pôr em risco, mas entregar a sua própria vida.
– Jesus Se identificou como o “bom Pastor”, porque conhece as ovelhas pelo nome, dialoga com elas, está sempre próximo a elas, de tal modo que as ovelhas conhecem a Sua voz (Jo.10:3). Há intimidade entre este pastor e as ovelhas, de modo que ambos se conhecem (Jo.10:14,27).
– Como se isto fosse pouco, Jesus aplicou a Si mesmo a profecia de Zc.13:7, onde estava profetizado que as ovelhas se dispersariam quando fosse ferido o pastor. Jesus, antes que os Seus discípulos se dispersassem, fez questão de lhes dizer que tal profecia seria cumprida n’Ele (Mt.26:31; Mc.14:27).
– A Igreja edificada pelo Senhor Jesus (Mt.16:18) é este único rebanho com o seu único Pastor, resultado da agregação de judeus e de gentios por Cristo (Jo.10:16), este povo que foi reunido pelo sangue de Cristo (Ef.2:11-22).
– Não é, portanto, surpresa alguma quando o escritor aos hebreus chama Jesus de “grande Pastor das ovelhas”
(Hb.13:20), como também o apóstolo Pedro, na sua primeira carta, por duas vezes dá esta qualidade ao Senhor
Jesus, seja O chamando de “Pastor e Bispo da vossa alma” (I Pe.3:20), seja O chamando de “O Sumo Pastor”.
– Jesus é o pastor por excelência, pois, além de ter dado a Sua vida pelos homens, também os congregou, os reuniu em um novo povo, que agora tem comunhão com Deus e é, por isso mesmo, dirigido pelo Senhor para alcançar a vida eterna, o propósito de toda a peregrinação terrena da humanidade.
– Sendo pastor, o Senhor Jesus, sob as ordens do Pai, está sempre com o Seu povo, amparando-O, consolando-O, alimentando-O, de forma a que possamos chegar até o nosso destino, que é a Jerusalém celestial. Jesus prometeu estar conosco todos os dias (Mt.28:20), mantendo este indispensável diálogo conosco, de forma a podermos sempre conhecer a Sua voz e a estarmos sempre sob o Seu amparo e cuidado.
– No entanto, como nos mostra o próprio texto sagrado, Jesus é o “Sumo Pastor”, o “Pastor e Bispo da nossa alma”, ou seja, Aquele que cuida de nós, está conosco, mas que Se encontra numa posição de “supervisão” (é este o significado da palavra “Bispo”, como teremos ocasião de ver mais amiúde na lição 11).
– Ao se dizer que Ele é “Pastor e Bispo”, como também “Sumo Pastor”, o texto sagrado bem mostra que haveria outros pastores, pessoas especialmente designadas para cuidar das ovelhas do Senhor no dia-a-dia, pessoas desprendidas que dariam suas vidas em prol do bem-estar das ovelhas do Senhor.
– Foi por isso que o apóstolo Paulo disse que o Senhor daria pastores para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo em amor (Ef.4:11-16).
– Não tem, portanto, qualquer respaldo bíblico o ensinamento de alguns segmentos religiosos no sentido de que não são possíveis “pastores” na Igreja, porque “pastor é apenas Jesus Cristo”.
A Bíblia ensina-nos que Jesus é o “Sumo Pastor”, ou, na linguagem de Hebreus, o “grande pastor”, a indicar, portanto, que há outros, que são inferiores, que são auxiliares, mas que existem, a exemplo do que ocorria na antiga aliança, em que havia o “sumo sacerdote” e os “sacerdotes”, que eram seus auxiliares.
III – O MINISTÉRIO DE PASTOR
– O Senhor deu pastores à igreja (Ef.4:11), a nos mostrar, de pronto, que se trata de um dom ministerial, de algo que é fruto da escolha pura e simples do Senhor, que não depende dos homens. Os pastores são dados por Deus à igreja e, quando muito, são apenas reconhecidos pelos homens.
O gesto de “imposição de mãos”, portanto, é apenas o reconhecimento humano de uma escolha divina, exatamente como ocorreu com Josué, que, como vimos, é o primeiro homem a ser chamado pastor separado para conduzir o povo de Deus (Nm.27:18-23).
– Bem sabemos que, ao longo da história da igreja, infelizmente não são poucos os pastores que não são chamados por Deus e, sim, pelos homens. Charles Spurgeon, ao comentar Ef.4:11, foi categórico ao dizer: “…Algumas vezes, há pastores que nunca foram mandados por Deus — e um homem pode tomar para si mesmo a voz de um evangelista que nunca foi chamado — e consequentemente não há dons de Deus para as igrejas e isto é um desperdício de sua força.
Mas se nós temos aqueles que Deus dá, nós acharemos um dom sem preço na concessão de tais homens para a Igreja de Deus!…” (Exposição de Ef.4: anexo ao sermão Um aviso para os crentes, p.6. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols61-63/chs3466.pdf Acesso em 17 mar. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).
OBS: Recentemente, em discurso para a Congregação dos Bispos, o chefe da Igreja Romana reafirmou este ensino bíblico, “in verbis”: “…Na celebração da Ordenação de um Bispo, a Igreja reunida, depois da invocação do Espírito Santo, pede que o candidato apresentado seja ordenado.
Quem preside pergunta: «Tendes o mandato?». Ressoa nesta pergunta quanto fez o Senhor: «chamou a si os doze, e começou a enviá-los dois a dois…» (Mc 6, 7).
No fundo, a pergunta poderia ser expressa também assim: «Estais certos de que o seu nome foi pronunciado pelo Senhor?
Tendes a certeza de que foi o Senhor que o incluiu entre os chamados para caminhar com Ele de modo singular e para lhe confiar a missão que não é sua, mas que foi confiada pelo Pai ao Senhor?».…” (FRANCISCO. Discurso na reunião da Congregação dos Bispos. 27 fev. 2014. Disponível em: http://www.arquidiocesedenatal.org.br/not1403papa.pdf Acesso em 17 mar. 2014).
– O texto aludido também nos ensina que o pastor é dado para a Igreja e não o contrário, como, lamentavelmente, se vê em nossos dias, onde há um pensamento de que existem igrejas para certos pastores, tanto que há verdadeiras batalhas para a escolha para determinadas igrejas locais…
– O dom ministerial de pastor é a capacidade dada por Cristo a alguns para que cuidem daqueles que foram remidos e salvos por Jesus Cristo e que formam uma determinada igreja local.
Temos aqui um dom ministerial em que se fixa alguém num determinado lugar, o que o torna um dom diverso dos outros já estudados: apóstolos e profetas são ministérios que não estão presos a um local, pelo contrário, normalmente tais ministros são itinerantes, andam de um lugar para outro; enquanto que os evangelistas são, como diz o pastor Jormicezar Fernandes da Rocha, “semifixos”, já que faz trabalho voltado para fora da igreja, mas vinculado a uma igreja local.
OBS: “…A função de evangelista faz parte da Liderança Semifixa da igreja. Semifixa porque o evangelista exerce trabalho voltado para a sua igreja numa determinada comunidade interna, ao passo que o apóstolo (missionário) exerce sua função mais voltado para a comunidade externa ou em outro país.
O que o missionário é para o país estrangeiro, o evangelista é para a sua comunidade. O trabalho em si é basicamente o mesmo.…” (ROCHA, Jormicezar Fernandes da. A excelência do ministério cristão: valorizando o que é excelente. EBOADERON 2013, p.52).
– É, por isso, também que se costuma dizer que o dom ministerial de pastor é um dom ordinário, enquanto os outros três seriam “extraordinários”, pois o dom de pastor está baseado na estrutura de uma igreja local, enquanto os outros três não se vinculariam a esta estrutura, se bem que tal denominação seja de preferência dos chamados “cessacionistas”, que costumam dizer que, pelo menos os dons de apóstolos e de profetas cessaram quando se completou o texto da Bíblia Sagrada, como que querendo dizer não ser possível mais a profecia em nossos dias, o que, evidentemente, não tem qualquer respaldo bíblico.
– Para se utilizar aqui de uma expressão cunhada no Concílio Vaticano II da Igreja Romana, temos que ao pastor cabe “o cuidado assíduo e diário da grei”, ou seja, o pastor deve cuidar todos os dias, sem qualquer falta, do rebanho do Senhor.
OBS: “…O Concílio Vaticano II afirma que aos Bispos «está plenamente confiado o cargo pastoral, ou seja, o cuidado assíduo e diário da grei» (Lumen gentium, 27).
É preciso reflectir mais sobre estes dois adjectivos qualificativos da cura da grei: assídua e diária. No nosso tempo, com muita frequência, a assiduidade e a quotidianidade são associadas àroutine e ao tédio.
Por isso, muitas vezes procura-se fugir para um permanente «algures». Esta é uma tentação dos Pastores, de todos os Pastores.
Os padres espirituais devem explicá-lo bem, para que nós o compreendamos e não caiamos. Também na Igreja, infelizmente, não estamos livres deste risco. Por isso é importante reafirmar que a missão do Bispo exige assiduidade e quotidianidade.
Penso que neste tempo de encontros e de congressos é muito actual o decreto de residência do Concílio de Trento: é muito actual e seria bom que a Congregação para os Bispos escrevesse algo acerca disto. Ao rebanho serve encontrar espaço no coração do Pastor.
Se isto não estiver firmemente ancorado em si mesmo, em Cristo e na sua Igreja, será continuamente agitado pelas ondas em busca de compensações efémeras e não oferecerá abrigo algum ao rebanho.…(FRANCISCO. end.cit.).
– De qualquer modo, o dom ministerial de pastor é a capacidade que se dá a alguns salvos de cuidarem de parcela do “rebanho do Senhor”, de parte do povo de Deus, de uma igreja local, exercendo, assim, o cuidado humano, sob direção do Espírito Santo, que o próprio Jesus exerce, como Sumo Pastor, da Igreja como um todo.
É, pois, um auxiliar do Senhor Jesus no cuidado diário de cada uma das almas que foram ganhas para o reino de Deus. Como diz o pastor Jormicezar Fernandes da Rocha: “…Aquele indivíduo que cuida alimentando, disciplinando e protegendo um rebanho…” (op.cit., p.52).
Em Ez.34, quando se tem uma das palavras mais duras do Senhor contra os “pastores infiéis de Israel”, temos o que o Senhor espera de cada pastor que dá para a Igreja, motivo pelo qual deste texto é que extrairemos quais as atividades que deve desempenhar o pastor.
– Por primeiro, o pastor deve apascentar o rebanho do Senhor, ou seja, a sua tarefa é cuidar do povo de Deus, cuidado este que exige, de pronto, a abnegação.
O pastor não deve pensar em si na atividade pastoral, mas, sim, no povo. Por isso, o Senhor Jesus disse que o “bom pastor” dá a sua vida pelas ovelhas, pois não pensa em si mesmo mas no outro.
OBS: “…O Bispo é antes de tudo um mártir do Ressuscitado. Não uma testemunha isolada mas juntamente com a Igreja.
A sua vida e o seu ministério devem tornar credível a Ressurreição. Unindo-se a Cristo na cruz da verdadeira entrega de si, faz jorrar para a própria Igreja a vida que não morre.
A coragem de morrer, a generosidade de oferecer a própria vida e de se consumir pelo rebanho estão inscritos no «DNA» do episcopado.
A renúncia e o sacrifício são conaturais com a missão episcopal. E desejo frisar isto: a renúncia e o sacrifício são congênitos à missão episcopal. O episcopado não é para si mas para a Igreja, para a grei, sobretudo para aqueles que segundo o mundo são descartáveis. …” (FRANCISCO. end.cit.).
– “…O pastor é alguém consagrado para exercer a função de apascentador do rebanho de Deus [At.20:28].
Apascentar é alimentar com a Palavra, cuidar e proteger o rebanho. São ordenadas para esse ministério pessoas com reconhecido chamado de Deus e verdadeira capacitação bíblica, sendo comprovada publicamente uma vida de dedicação e compromisso com a obra de Deus…” (DFAD XIV.3, p.137).
Por isso, a primeira falha que Ezequiel aponta para os pastores infiéis é o de querer “apascentar-se a si mesmos” (Ez.34:2).
O mau pastor não está jamais interessado na ovelha, mas apenas em si mesmo. Em vez de cuidar da ovelha, de apascentar a ovelha, pensa em si mesmo, no seu benefício, em como tirar vantagem da situação, querendo da ovelha apenas a gordura e a lã.
– Estes tais são os mercenários de que fala o Senhor Jesus em Jo.10:12,13, porque só pensa em si mesmo, tanto que, diante do perigo, foge sem qualquer escrúpulo, abandonando as ovelhas, porque não pensa nelas mas somente em si.
– Lamentavelmente, é o que temos visto muito em nossos dias. Pessoas inescrupulosas que querem ser “pastores” única e exclusivamente para terem vantagem econômico-financeira, para ostentarem posições de poder social, político ou econômico, que só querem saber da lã e da gordura das ovelhas, em terem uma vida regalada, sem qualquer preocupação com o bem-estar espiritual do “rebanho do Senhor”.
– Tais não são pastores, mas, sim, lobos cruéis, devoradores, que não perdoarão o rebanho, que somente têm a intenção de se alimentar das ovelhas, de destruí-las e matá-las para seu próprio proveito (Jr.23:1,2; At.20:29,30).
O pastor Osmar Ludovico da Silva fez um belo paralelo entre pastores e lobos em seu artigo “Sobre pastores e lobos” (Disponível em: http://www.prazerdapalavra.com.br/colunistas/outros/2864-sobre-pastores-e-lobos-osmar-ludovico Acesso em 17 mar. 2014) e, neste item, transcrevemos aqui algumas distinções entre uns e outros: “…Pastores buscam o bem das ovelhas, lobos buscam os bens das ovelhas.
(…)Pastores vivem de salários, lobos enriquecem.(…) Pastores vivem para suas ovelhas, lobos se abastecem das ovelhas.(…) Pastores são apascentadores, lobos são marqueteiros.…”.
– O pastor deve cuidar das ovelhas, fortalecendo a fraca, curando a doente e ligando a quebrada. Cabe ao pastor o cuidado da saúde espiritual das ovelhas e, para isto, ele precisa estar em contato com a ovelha, a fim de que saiba qual o estado de saúde de cada uma.
– Não é por outro motivo que o ministério do pastor é fixo, está preso a uma determinada igreja local, que não pode ser muito numerosa, a fim de que se possa ter este tratamento individualizado.
Por isso, quanto maior a igreja local, maior deve ser o número de pastores, que possam cuidar de segmentos da igreja, a fim de que este conhecimento mútuo possa se fazer, sem o que não há como se dar o devido tratamento, o devido cuidado.
– Por isso, como diz o pastor Osmar Ludovico, “…pastores gostam de convívio, lobos gostam de reuniões.(…) pastores olham nos olhos, lobos contam cabeças.(…) Pastores têm amigos, lobos têm admiradores.(…) pastores se deixam conhecer, lobos se distanciam e ninguém chega perto.(…) pastores sujam os pés nas estradas, lobos vivem em palácios e templos.…” (end.cit.).
OBS: “…Nas palavras que dirigi aos Representantes Pontifícios, tracei do seguinte modo o perfil dos candidatos ao episcopado:
sejam Pastores próximos do povo, «pais e irmãos, sejam mansos, pacientes e misericordiosos; amem a pobreza interior como liberdade para o Senhor e também a exterior como simplicidade e austeridade de vida, que não tenham uma psicologia de “Princípios”;
… que não sejam ambiciosos e que não procurem o episcopado
… sejam esposos de uma Igreja, sem andar em busca constante de outra — isto chama-se adultério. Sejam capazes de “vigiar” a grei que lhes será confiada, isto é, de cuidar tudo o que a mantém unida; …capazes de “vigiar” o rebanho» (21 de Junho de 2013).…” (FRANCISCO. end.cit.).
– O pastor precisa ter convívio com os salvos que estão sob a sua responsabilidade, de modo a que os conheçam e tenham condição de dar o devido tratamento, pois têm de promover a saúde de cada ovelha, bem como o seu fortalecimento e a cura das feridas e quebraduras existentes.
OBS: “…Deus estabeleceu o Seu programa de trabalho para a Igreja, mas alguns obreiros estão atrasando deliberadamente. Eles estão simplesmente dirigindo culto, coisa que qualquer cristão consagrado faz.
O nosso trabalho não se limita ao púlpito. É dever do obreiro conhecer suas ovelhas. Jesus disse que conhece Suas ovelhas e elas O seguem (Jo.10:1-5)…” (COSTA, José Wellington Bezerra da. Como ter um ministério bem-sucedido, p.166).
– A exemplo do Senhor, é o pastor que deve levar o rebanho até os pastos verdejantes, deve promover a devida alimentação das ovelhas, visto que a alimentação é o primeiro requisito para que se tenha saúde espiritual e, neste particular, vemos que é ao pastor que cumpre fornecer à Igreja o devido alimento, que outro não é senão a Palavra de Deus (Mt.4:4).
– É inadmissível um pastor que não tenha conhecimento da Palavra de Deus e que saiba transmitir tal conhecimento ao rebanho que se encontra sob os seus cuidados. Ele, como pastor, deve fazer deitar a igreja local nos pastos verdejantes, deve guiá-la pelas veredas da justiça, mansamente a águas tranqüilas (Sl.23:1-3).
– Por isso, ainda lembrando o paralelo entre pastores e lobos apresentado pelo pastor Osmar Ludovico, devemos observar que “…pastores usam as Escrituras como texto, lobos usam as Escrituras como pretexto.(…) pastores se interessam pelo crescimento das ovelhas, lobos se interessam pelo crescimento das ofertas.…” (end.cit.).
– Mas, para poder alimentar corretamente as ovelhas, o pastor é o primeiro que deve estar bem alimentado; para poder curar o rebanho, o pastor é o primeiro a ter saúde espiritual.
Por isso, o pastor deve viver em íntima comunhão com o Senhor, sabendo que é um pecador, tão igual quanto os demais que estão sob sua responsabilidade, mas procurando ser o exemplo dos fiéis, o que, aliás, é mais de uma vez exigido nas Escrituras (I Tm.4:12; Hb.13:7; I Pe.5:3).
OBS: “…«qual é a herança de um Bispo? O ouro ou a prata? — Paulo responde: a santidade. A Igreja permanece quando se dilata a santidade de Deus nos seus membros. Quando do íntimo do seu coração, que é a Santíssima Trindade, esta santidade brota e alcança todo o Corpo.
Há necessidade de que a unção do alto escorra até à orla do manto. O Bispo nunca poderá renunciar ao anseio de que o óleo do Espírito de santidade chegue até à última orla da veste da sua Igreja.…” (FRANCISCO. end.cit.).
– O pastor deve ser exemplo para os demais salvos. Não é um “supercrente” nem deve se comportar como tal, mas deve ter uma vida que seja imitada por tantos quantos queiram chegar aos céus.
Por isso, o pastor Osmar Ludovico afirma que
“…pastores vivem à sombra da cruz, lobos vivem à sombra de holofotes.
(…) pastores têm fraquezas, lobos são poderosos.
(…) pastores se extasiam com o mistério, lobos aplicam técnicas religiosas.
(…) pastores sabem orar no secreto, lobos só oram em público.
(…) pastores são servos humildes, lobos são chefes orgulhosos.
(…) pastores apontam para Cristo, lobos apontam para si mesmos e para a instituição.
(…) pastores conhecem, vivem e pregam a graça, lobos vivem sem a lei e pregam a lei.
(…) pastores são pessoas humanas reais, lobos são personagens religiosos caricatos.
(…) pastores confessam seus pecados, lobos expõem o pecado dos outros.…” (end.cit.).
– Neste exemplo para os fiéis, os pastores precisam se comportar como servos de Deus, visto que estão sob as ordens do Senhor e, como tal, mostrar ao rebanho que lhe foi confiado que ele, tanto quanto as ovelhas, estão a serviço do Senhor, são servos.
Tal sentimento de serviço impede que o pastor se torne um dominador sobre o rebanho do Senhor, o que é explicitamente condenado pelas Escrituras.
Uma das características dos pastores infiéis de Israel foi, precisamente, o de se tornarem dominadores duros e rigorosos em relação às ovelhas (Ez.34:4 “in fine”), tendo o apóstolo Pedro expressamente dito que os pastores não podem ter domínio sobre a herança de Deus (I Pe.5:3).
– O pastor, embora esteja à frente do povo, deve sempre se lembrar que é um depositário, ou seja, alguém que está a guardar o que não lhe pertence e que, portanto, deverá prestar contas das ovelhas que lhe foram confiadas pelo dono do rebanho (Hb.13:17).
Quando o pastor se acha dono do rebanho, ocorre uma usurpação, que não ficará impune. Que Deus os guarde desta situação, amados pastores!
– Como um verdadeiro pai, o pastor adquire a sua autoridade pelo exemplo que dá aos fiéis, pela vida de comunhão que tem com Deus, que, por si só, será um fator relevante para que as pessoas cresçam espiritualmente, que é, aliás, um dos objetivos deste dom ministerial, que, como todo ministério, tem por finalidade o aperfeiçoamento dos santos, o atingir da estatura completa de Cristo (Ef.4:13).
– Por isso, ter o pastor Osmar Ludovico afirmado que “…pastores têm autoridade espiritual, lobos são autoritários e dominadores.(…) Pastores ensinam com a vida, lobos pretendem ensinar com discursos.(…) pastores vivem o que pregam, lobos pregam o que não vivem.…” (end.cit.).
– O pastor, cônscio desta responsabilidade, não pode se conformar com a perda de qualquer das ovelhas que lhe foram confiadas, devendo sempre “tornar a trazer a desgarrada e buscar a perdida” (Ez.34:4).
Jesus, ao contar a parábola da ovelha perdida, mostrou que o pastor, mesmo tendo noventa e nove ovelhas, deixa-as no aprisco e vai em busca da centésima ovelha, que se perdeu. Daí o pastor Osmar Ludovico ter dito que “…pastores choram pelas suas ovelhas, lobos fazem suas ovelhas chorar.…” (end.cit.).
– Quando o pastor não busca as ovelhas, quando as deixa se espalharem, elas ficam à mercê das feras do campo, são entregues à rapina (Ez.34:6,8), servem de pasto, em vez de serem levadas ao pasto, de forma que o Senhor terá de intervir para impedir a morte de tais ovelhas e, por causa disso, os pastores responderão por esta omissão, por este descuido, por esta infidelidade (Jr.23:1,2; Ez.34:9-14; Zc.11:17).
– Por isso, o pastor deve ser alguém que seja um “bispo”, ou seja, alguém que seja um “observador”, que tenha “uma visão do alto”, alguém que possa cuidar das demais ovelhas, sabendo estar à frente delas, tendo um olhar cuidadoso, que permita identificar os perigos antes do rebanho, que permita verificar os bons lugares de pastagem antes do rebanho.
– Por isso, o pastor está à frente do povo, não para mandar, mas para olhar primeiro, para ser o primeiro a vigiar, de forma a poder não só enfrentar os inimigos, mas também, poder guardar o rebanho quando o perigo se apresenta. É este cuidado preventivo, esta vigilância que deve, também, estar sendo exercida pelo pastor a todo instante, a todo tempo.
– É por isso que não se confunde a figura do pastor com a do mero gestor, do mero administrador. O pastor Altair Germano tratou excelentemente deste tema em seu artigo “Gestor ou pastor?” (Disponível em: http://www.altairgermano.net/2010/02/gestor-ou-pastor.html Acesso em 17 mar. 2014), onde, entre outras coisas, ensina-nos que: “Gestor cuida de coisas, pastor cuida de ovelhas.
Gestor visita obras, pastor visita ovelhas. Gestor administra os negócios, pastor alimenta as ovelhas. Gestor comanda de sua mesa, pastor se envolve com as ovelhas.Gestor cheira a gabinete, pastor cheira a ovelha; Gestor manda nos comandados, pastor serve as ovelhas.
Gestor possui seguranças, pastor protege as ovelhas. Gestor consulta o número do cadastro, pastor conhece as ovelhas pelo nome. Gestor espera o resultado, pastor vai em busca da ovelha e a carrega nos ombros. Gestor pune, pastor corrige as ovelhas. Gestor demite, pastor restaura as ovelhas.…”.
OBS: O atual chefe da Igreja Romana, no discurso já mencionado, também tratou recentemente deste assunto:
“…O Povo Santo de Deus continua a falar: precisamos de alguém que vigie do alto; precisamos de alguém que olhe para nós com a abertura do coração de Deus; não nos serve um manager, um administrador delegado de uma empresa, nem sequer alguém que esteja ao nível das nossas insuficiências ou pequenas pretensões.
Serve-nos alguém que saiba elevar-se à altura do olhar de Deus sobre nós para nos guiar para Ele. Só no olhar de Deus há futuro para nós.
Precisamos de quem, conhecendo melhor a amplidão do campo de Deus do que o seu pequeno jardim, nos garanta que aquilo pelo que aspiram os nossos corações não é uma promessa vã.
O povo percorre com dificuldade a planície do dia-a-dia, e precisa de ser guiado por quem é capaz de ver as coisas do alto.
Por isso, nunca devemos perder de vista as necessidades das Igrejas particulares às quais devemos providenciar.
Não existe um Pastor standard para todas as Igrejas. Cristo conhece a singularidade do Pastor de que cada Igreja necessita para que responda às suas necessidades e a ajude a realizar as suas potencialidades.
O nosso desafio é entrar na perspectiva de Cristo, tendo em consideração esta singularidade das Igrejas particulares.…” ( FRANCISCO. end.cit.)
– O pastor é, sobretudo, alguém que permite fazer com que os salvos cresçam espiritualmente, que promove o aperfeiçoamento dos santos numa determinada igreja local, não alguém que saiba bem gerenciar as finanças ou a arrecadação.
Pelo contrário, os apóstolos que, na igreja de Jerusalém, exerciam a função do pastorado nos primeiros dias da igreja, ao se debruçarem diante da questão da assistência social, de imediato resolveram designar pessoas para tratar deste assunto, já que, certamente, tais serviços materiais prejudicariam o trabalho que tinham com o ministério da palavra e a oração, que são, primacialmente, o papel a que devem se dedicar os pastores, como, aliás, haveremos de tratar nas lições 11 e 12.
– O pastor está à frente do povo notadamente no aspecto espiritual, é a pessoa escolhida por Deus para promover a saúde, o crescimento espirituais do povo, de sorte que não se pode, de modo algum, permitir, o que se tem feito hoje em dia, que tais tarefas para os quais o pastor foi chamado sejam tomadas por outros trabalhos que podem muito bem ser delegados a outrem, que também será chamado pelo Senhor para tal mister.
OBS: “…É bem verdade que há aqueles obreiros solitários, que não visitam e não gostam de ser visitados.
Normalmente, os tais não confiam em ninguém e centralizam o poder em suas mãos, sobrecarregam-se de tarefas. Eles mesmos carregam a chave do templo, abrem, fecham, varrem, arrumam…mantém uma atitude de desconfiança para com todos da igreja.
(…) O obreiro deve ser atuante, preocupando em ganhar almas e, evidentemente, firmá-las na doutrina dos apóstolos: não preocupado com questões secundárias, coisas que outras pessoas podem fazer.
Eis a razão pela qual houve a instituição do corpo diaconal na casa de Deus; exatamente para auxiliar o ministério e o ministro da palavra.…” (COSTA, José Wellington Bezerra da. op.cit., pp.166-7).
– O resultado de acúmulo de funções alheias ao dom ministerial de pastor na pessoa dos pastores tem trazido imensos prejuízos para a obra de Deus, porquanto temos aqui o “desperdício da força” de que falou Charles Spurgeon, como acima citamos, até porque estaremos contrariando a vontade de Deus, dando aos pastores por Ele chamados funções que não lhes compete.
– Um pastor que tenha tempo para se dedicar às ovelhas, que possa delas cuidar, tratá-las, promover-lhes o sustento e a saúde espirituais, é extremamente útil para todo o rebanho, pois é alguém que tem condições de cuidar de cada ovelha, de evitar que elas sejam atacadas pelo inimigo e possam, então, chegar ao cumprimento do propósito divino.
Quando isto não acontece, quando o pastor não tem condições de cuidar das ovelhas, ele gemerá e isto trará dificuldades para toda a igreja local (Hb.13:17).
– Por isso, devemos obedecer aos pastores, evitando que eles sofram no desempenho de sua função, que é uma função extremamente importante para toda a igreja local, visto ser ele aquele que coordena as demais atividades, permitindo-se assim a organização do povo de Deus, o que é imprescindível para que se tenha o bom ajuste, a edificação do corpo de Cristo em amor.
– O pastor tem de ser terno e carinhoso para com as ovelhas, demonstrando todo o amor de Deus que foi derramado pelo Espírito Santo em seu coração.
Assim como Cristo, deve “recolher os cordeirinhos entre os braços e os levar no seu regaço”, devendo também “guiar mansamente as que amamentam” (Is.40:11).
– Neste ponto, vemos que o pastor precisa realmente conhecer bem as suas ovelhas e fazer a devida distinção segundo a característica de cada um, reconhecendo quem é ovelha adulta, madura, quem é a ovelha imatura, quem é a ovelha recém-nascida, a que ainda amamenta.
– Jesus deixou bem clara a necessidade de distinção de cada tipo de ovelha quando restaurou o ministério de Pedro, como vemos em Jo.21:15-17, quando, em cada uma das perguntas feitas ao Seu apóstolo, referiu-Se ao
Seu rebanho de forma diversa, como “cordeiros” (Jo.21:15), que é a palavra grega “arnion” (άρνίον), que significa os “pequenos cordeiros”, ou seja, os animais ainda não adultos; “ovelhas” (Jo.21:16,17), que é a palavra grega “probaton” (πρόβατον), designando os animais adultos, maduros”.
O pastor deve ter o devido discernimento para saber a individualidade de cada uma de suas ovelhas, inclusive para lhes dar o devido alimento, visto que os imaturos devem ser alimentados com o leite (I Co.3:2; Hb.5:13; I Pe.2:2) e os maduros, com alimento sólido (I Co.3:2; Hb.5:12).
– Mas não é só este o aspecto do discernimento que deve ter o pastor. Ele também deve saber apartar as ovelhas dos bodes (Zc.10:3; Mt;25:32), ou seja,
tem de saber diferenciar quem realmente serve ao Senhor e quem não o faz, tomando muito cuidado para que não venha deixar de apascentar as ovelhas a fim de que os bodes sejam entretidos, como, certa ocasião, em conhecidíssimo sermão, alertou Charles Spurgeon (Apascentando ovelhas ou entretendo bodes? Disponível em: http://www.luz.eti.br/spurgeon_feeding_pt.html Acesso em 17 mar. 2014).
– Neste cuidado com as ovelhas, o pastor possui duas ferramentas extremamente importantes: a vara e o cajado (Sl.23:4).
– A vara é o instrumento através do qual o pastor indica o caminho pelo qual a ovelha deve ir, bem como também o instrumento que efetua a correção da ovelha.
A vara, que, em hebraico, é “shebet” (טבש), que vem de uma raiz que teria o significado de “espalhar”, “distinguir”, é um instrumento feito para o tratamento individual da ovelha, para sua repreensão, correção e orientação.
O pastor deve ter um cuidado individualizado com cada uma das ovelhas, levando em conta a sua especificidade, o fato de que se trata de uma pessoa que não tem qualquer outra igual sobre a face da Terra.
– Já o cajado é um instrumento normalmente com formato de cabo de guarda-chuva, usado para retirar a ovelha de uma situação de risco, de um local onde ela não pode se locomover, utilizado para levar a ovelha para o convívio das demais.
Trata-se de uma atitude de restauração, de orientação, de saída de uma situação de isolamento e de perigo. Em hebraico é a palavra “mish’enah” (הנעשמ), que tem o significado de “suporte”, “apoio”. O pastor deve sempre apoiar e ser um suporte para a ovelha nos momentos delicados de sua peregrinação terrena.
– Recentemente, o chefe da Igreja Romana bem sintetizou as qualidades que deve ter o pastor, em trecho que, por sua biblicidade, vale a pena ser transcrito:
“…a sua integridade humana garante a capacidade de relações sadias, equilibradas, para não projetar nos outros as próprias faltas e tornar-se um fator de instabilidade; a sua solidez cristã é essencial para promover a fraternidade e a comunhão; o seu comportamento reto confirma a medida alta dos discípulos do Senhor; a sua preparação cultural permite-lhe dialogar com os homens e as culturas;
a sua ortodoxia e fidelidade à Verdade total conservada pela Igreja faz dele uma coluna e um ponto de referência; a sua disciplina interior e exterior permite o domínio de si e abre espaço ao acolhimento e à guia dos outros; a sua capacidade de governar com firmeza paterna garante a segurança da autoridade que ajuda a crescer;
a sua transparência e o seu desapego na administração dos bens da comunidade conferem autoridade e conquistam a estima de todos por ele.…”(FRANCISCO. end.cit.).
– Que possamos ter pastores chamados por Deus que bem desempenhem as suas tarefas e que, assim
fazendo, todo o povo de Deus possa prosseguir na sua peregrinação terrena tentando alcançar o estágio de varão perfeito, a estatura completa de Cristo.