LIÇÃO Nº 10 – O MINISTÉRIO DE MESTRE OU DOUTOR

O mestre é aquele que foi escolhido pelo Senhor para promover o discipulado contínuo dos servos de Cristo Jesus.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo dos dons ministeriais, estudaremos o ministério de mestre ou doutor.

– O mestre é aquele que foi escolhido pelo Senhor para promover o discipulado contínuo dos servos de Cristo Jesus.

I – A TAREFA DA IGREJA DE ENSINAR AS NAÇÕES

– Continuando o estudo dons ministeriais, estudaremos hoje o ministério de mestre ou doutor, o último dos dons elencados pelo apóstolo Paulo em Ef.4:11 e cujo papel é fundamental para se completar a tarefa da edificação do corpo de Cristo em amor, a missão de aperfeiçoamento dos santos.

– Conforme já temos dito ao longo destas lições em que estamos a tratar dos chamados “cinco dons”, o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo segue precisamente a ordem da relação trazida por Paulo, que não é casual ou aleatória.

– A edificação do corpo de Cristo começou com o trabalho dos apóstolos e dos profetas, que são os fundamentos do edifício de Deus (Ef.2:20), amplia-se com o trabalho do evangelista e prossegue com o trabalho do pastor e do mestre, que permitem que o edifício cresça de forma inabalável, alcançando, assim, o limite de varão perfeito, da estatura completa de Cristo.

– A tarefa da evangelização, que foi analisada na lição 8, está posta ao lado de uma outra atividade, a saber: o ensino.

Ao Se dirigir aos Seus discípulos, o Senhor Jesus disse que eles deveriam ir e “ensinar todas as nações”, expressão esta que, em algumas versões, é traduzida por “fazei discípulos” ou “façam discípulos” (como na NVI), que é, mesmo, a tradução mais adequada para o verbo grego “matheteusate” (μαθητεύσατε), que se encontra no original.

– Não basta, portanto, que a Igreja pregue o Evangelho, ou seja, proclame a Palavra de Deus, mas é preciso, também, que a Igreja “ensine as nações”, “faça discípulos”, cuidado este que era patente nos tempos apostólicos, a ponto de os apóstolos terem chamado para si esta tarefa, considerando, inclusive, não ser razoável deixar de se dedicar à oração e ao ensino da Palavra (At.6:2,4),

sem falar no zelo de Barnabé com relação à primeira igreja gentílica, a de Antioquia (At.11:25,26) e dos conselhos que Paulo dá a Timóteo no sentido de jamais se descuidar com o ensino junto aos crentes (I Tm.4:12-16).

– Criada para ser a agência do reino de Deus aqui na Terra, a Igreja, ao mesmo tempo em que, para os que se encontram fora do reino de Deus, precisa ser a anunciadora da salvação, pregando o Evangelho, deve, para os que já viram e entraram no reino de Deus (Jo.3:3,5), ser a instruidora, aquela que ensina a Palavra de Deus aos que se converteram, a fim de que possam eles crescer espiritualmente e alcançar a unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13).

– Não se pode ter igreja sem que se tenham “discípulos”, ou seja, sem que se tenham “aprendizes”, “alunos” do Senhor Jesus. O próprio Jesus deu prova disso ao escolher discípulos e treiná-los durante todo o Seu ministério terreno.

O ministério de Jesus é o exemplo para a Igreja, que é o Seu corpo:

Ele pregou o evangelho às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt.10:6;15:24), como também preparou homens e mulheres que pudessem prosseguir a Sua obra (Mt.11:1).

Se Seu ministério se resumisse tão somente na pregação, ante a rejeição de Israel (Jo.1:11), teria havido um fracasso. Entretanto, o Senhor formou um grupo de discípulos que, revestidos de poder, seriam Suas testemunhas até os confins da terra (At.1:8).

– A pregação do Evangelho é o anúncio das boas-novas de salvação, é levar a mensagem que Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e leva para o céu, mensagem esta que, pregada pela Igreja, é misturada com a fé salvadora pelo Espírito Santo (Hb.4:2), que convence o pecador do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8), levando-o ao arrependimento.

Segue-se, então, o perdão dos pecados, a conversão, a justificação, a adoção como filho de Deus e a santificação posicional. Aquele que crê em Jesus como seu único e suficiente Salvador nasce de novo, da água e do Espírito, passa a pertencer à Igreja, passa a ser um filho de Deus.

– Entretanto, assim como ocorre na vida física, também na vida espiritual temos que aquele que acabou de nascer, ou seja, o “neonato” (ou recém-nascido), é alguém que não tem condições de, imediatamente, andar por si só, viver por conta própria, caminhar com suas próprias forças até o dia em que se encontrará com o Senhor nos ares.

A vida espiritual, ensinam-nos as Escrituras, é um combate diuturno contra o mal e o pecado, uma luta sem tréguas, em que “remamos contra a maré”, contra o curso deste mundo (Ef.2:2).

– Quando alguém se converte a Cristo e nasce de novo, é um recém-nascido, é uma pessoa que não tem conhecimento algum a respeito das coisas de Deus, a respeito da vida com o Senhor Jesus.

Embora tenha recebido uma nova natureza, embora seu espírito tenha se ligado novamente a Deus, ante a remoção dos pecados, é um ser humano e, como tal, precisa ser ensinado a respeito do Senhor, ensino este que deve ser proporcionado pela Igreja, que é a quem o Senhor cometeu esta tarefa sobre a face da Terra. Jesus é quem salva, mas é a Igreja quem deve “fazer discípulos”, quem deve “ensinar”.

– Esta realidade espiritual notamos em diversas passagens do ministério terreno de Jesus. Quando o Senhor chamou os Seus primeiros discípulos, ao chamá-los, disse que os faria “pescadores de homens” (Mt.4:19; Mc.1:17), ou seja, embora eles tivessem deixado tudo para servir a Jesus, ainda não eram “pescadores de homens”, algo que deveria ser aprendido, que demandaria tempo e esforço tanto por parte do Senhor, quanto dos Seus “discípulos”.

– Aliás, o fato de os seguidores de Jesus serem chamados de “discípulos” é mais um fator para nos demonstrar que o crescimento espiritual não é imediato e exige o ensino da doutrina.

“Discípulo” significa “aluno”, “aquele que aprende”. Jesus, a exemplo dos mestres judeus do seu tempo (os chamados “rabis”, hoje denominados de “rabinos”), era seguido pelos seus “alunos”, ou seja, por aqueles que queriam aprender as lições do mestre, por aqueles que esperavam aprender do mestre o conteúdo das Escrituras. João tinha os seus discípulos (Mt.9:14), assim como Jesus.

Estes “discípulos” eram pessoas que, fundamentalmente, queria aprender com Jesus, tinham interesse em tomar conhecimento daquilo que Jesus lhes queria transmitir e, por causa deste interesse, recebiam a revelação daquilo que estava oculto às demais pessoas (Mt.13:10,11).

– Ser “discípulo” de Jesus é querer aprender de Jesus e o próprio Jesus enfatizou que é necessário que aprendamos d’Ele se quisermos encontrar descanso para as nossas almas (Mt.11:29).

Somente sendo “discípulo”, ou seja, querendo aprender a respeito de Jesus, que nada mais é que aprender a respeito das Escrituras (Mt.22:29; Jo.5:39), é que teremos acesso à verdade e, por isso, seremos santificados (Jo.17:17), daremos fruto a ponto de sermos reconhecidos como filhos de Deus (At.11:26) e, por causa disto, desfrutaremos da vida eterna com o Senhor (Mt.13:23,43).

– O salvo é nascido da água e do Espírito, ou seja, é gerado de novo por causa da Palavra de Deus, a que ele deu crédito e que proporcionou a regeneração (Ef.5:23; Tt.3:5), mas é indispensável que, além de termos nascido, nós, também, tenhamos crescimento espiritual, crescimento este que se dá somente pela graça e pelo conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Ef.4:15,16; II Pe.3:18).

– Para que haja crescimento espiritual, portanto, é necessário que a Igreja ensine os crentes a ter uma vida espiritual, que ensinem aos crentes o que é viver com Cristo, o que é andar segundo o espírito, o que é ser um verdadeiro, genuíno e autêntico discípulo de Jesus.

Quem deve ensinar tais coisas ao que aceitou a Cristo é a Igreja, pois para isto é que o Senhor edificou a Sua Igreja.

Como já temos estudado neste trimestre, não é possível para o homem, criado como um ser social, que viva sozinho e sozinho sirva ao Senhor. Assim, como a vida espiritual deve ser feita na igreja, em grupo, assim também é a este grupo, à Igreja que cabe a responsabilidade de ensinar os salvos, de “fazer discípulos”.

– Quando uma pessoa nasce de novo, encontra-se na mesma posição de Lázaro ressuscitado. Jesus, depois de quatro dias, quando o corpo de Lázaro já estava em decomposição, mostrou o Seu poder sobre a morte, fazendo-o ressurgir dos mortos.

Milagrosamente, Lázaro saiu da sepultura com vida. Entretanto, é interessante notar que Lázaro foi para fora da sepultura, mas se encontrava ainda todo enfaixado, conforme os costumes judaicos de preparação do cadáver.

Jesus não determinou que Lázaro fosse daquele jeito para casa nem tampouco Se incumbiu de desligar o ex-defunto. Mandou que aquelas pessoas que estavam ali vendo o milagre tratassem de tirar as faixas de Lázaro, de modo que ele próprio (Lázaro) fosse para a sua casa (Jo.11:44).

– Assim ocorre com o novo convertido: só Jesus poderia trazê-lo à vida, ou seja, salvá-lo; mas cabe a nós que estamos com Jesus neste mundo tomar as providências necessárias para que o novo crente se desligue de tudo aquilo que estava relacionado com a vida sem Cristo, ou seja, com a morte espiritual, para que ele, individualmente, siga em direção à sua casa, onde já o aguarda o Salvador. Aleluia!

– A Igreja, portanto, tem uma função importantíssima e indelegável: o de ensinar as pessoas a servir a Cristo, a caminhar com o Senhor.

Para que a pessoa aprenda a servir ao Senhor, é preciso que conheça as Escrituras, pois são elas que testificam de Cristo (Jo.5:39).

Para que a pessoa aprenda a servir ao Senhor, é necessário que não erre e somente não erraremos se conhecermos a Palavra do Senhor (Mt.22:219; Mc.12:24). Por isso, a tarefa de ensino da Igreja é a do ensino da Palavra de Deus, do ensino das Escrituras.

– A Igreja que não ensinar a Palavra de Deus aos seus integrantes, a começar dos novos convertidos, não estará cumprindo a sua tarefa sobre a face da Terra.

Não basta pregar o Evangelho, mas é necessário que, uma vez as pessoas se decidindo por Cristo, sejam elas devidamente ensinadas na Palavra do Senhor, tenham conhecimento das Escrituras, sem o que não se tornarão discípulos de Jesus e quem não for discípulo de Jesus não entrará no céu, pois só aqueles que assim se comportarem poderão dar fruto e, portanto, ser considerados como justos e resplandecerem no reino do Senhor, como o Senhor deixou claro na interpretação que deu da parábola do joio e do trigo.

II – O QUE É DISCIPULADO

– A Igreja tem a missão de ensinar a Palavra de Deus aos servos do Senhor. Este ensino é uma de suas tarefas principais, que entendemos seja de igual importância que a tarefa de evangelização, até porque é complemento necessário e indispensável da evangelização.

Como vimos na lição 8, não se evangeliza enquanto não se dá condições para que o novo convertido possa, com suas próprias forças, servir a Cristo, tenha condições de, por si só, dar testemunho consciente a respeito do que é ser cristão.

– Assim, a evangelização, a proclamação do Evangelho envolve algo mais do que simplesmente anunciar as boas-novas de salvação, mas também, a concessão do fundamento doutrinário básico capaz de tornar a pessoa consciente do que representa ser um cristão.

Por causa disto, a evangelização já traz em si um discipulado, ou seja, um aprendizado, pois “discipulado” nada mais é que “aprendizado”.

No sentido cristão, como diz o pastor Elienai Cabral, “é o trabalho cristão efetuado pelos membros da igreja, a fim de fazer dos novos crentes, autênticos cristãos, cujas vidas se assemelham em palavras e obras do ideal apresentado pelo Senhor Jesus Cristo”.

– O discipulado nada mais é que ensinar a Palavra de Deus aos novos convertidos, àqueles que aceitaram a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador de suas vidas e fazer com que eles, que foram escolhidos por Deus,

possam viver de tal maneira que deem o fruto do Espírito, ou seja, tenham um novo caráter, uma nova maneira de viver que leve as pessoas a glorificar ao nosso Pai que está nos céus, ou seja, vivam de tal maneira que suas ações os transformem em testemunhas de Jesus, em prova de que Jesus salva e, por isso, outras pessoas reconheçam o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, ou seja, o Evangelho (Rm.1:16).

– Conforme vimos na lição 8, este discipulado dos neoconversos é, em primeiro lugar, tarefa do evangelista, pois faz parte do ministério do evangelista esta primeira formação. Mas não deve apenas ficar com o evangelista esta tarefa, que deve ser cometida, também, a dois outros ministros, o pastor e o mestre.

– Foi exatamente isto que Barnabé e Paulo fizeram na igreja de Antioquia, a primeira igreja formada por gentios na história da Cristandade.

Como estes crentes não partilhavam das promessas de Deus, como os judeus (Rm.9:4,5), havia necessidade de instruí-los nas Escrituras, para que aprendessem o que é servir a Deus.

Tinham, sim, se convertido ao Senhor, como pudera ser atestado por Barnabé, que percebeu terem eles, realmente, nascido de novo, terem sido alcançados pela graça de Deus e terem o propósito do coração de permanecer no Senhor (At.11:23). Mas isto era insuficiente para que pudessem transformar o propósito em realidade.

– Como Jesus ensina na parábola do semeador (Mt.13:3-8), é preciso que a semente germine e cresça em boa terra para que frutifique.

Para que a terra seja boa, é necessário que o terreno seja devidamente preparado, adubado e tornado adequado para o crescimento exitoso. Esta preparação do terreno nada mais é que o ensino da Palavra, que é tarefa da Igreja.

Por isso que Paulo diz que cabia a ele e a Apolo a plantação e o regar, sendo de Deus, porém, o crescimento (I Co.3:6-9).

– Por isso, Barnabé, ao verificar que havia conversão autêntica, tratou de buscar a Paulo e, durante todo um ano, houve o discipulado, ou seja, o ensino da Palavra àqueles novos crentes (At.11:26).

– O resultado daquele ano de ensino não poderia ser melhor: os novos convertidos passaram a ter uma vida muito semelhante a de Jesus, passaram a ser diferentes dos demais moradores de Antioquia, passaram a ser provas vivas da transformação que o Evangelho produz nas pessoas. Após terem sido ensinados na Palavra e terem mudado de vida, os moradores de Antioquia passaram a notar a diferença e, cumprindo o que disse

Jesus a respeito do efeito das boas obras dos Seus discípulos, passaram a chamar os discípulos de “cristãos”, isto é, “parecidos com Cristo”, “semelhantes a Cristo” (At.11:26). Eram os homens glorificando ao Pai que está nos céus (Mt.5:16). Era o resultado do ensino da Palavra.

– Notamos, portanto, que, ao verificar a ação dos evangelistas que haviam iniciado o trabalho em Antioquia, os apóstolos mandaram para lá Barnabé, que assumiu a posição de pastor daquela novel igreja e, verificando a necessidade de ensino das Escrituras àqueles novos crentes, trouxe Paulo para, com ele, ensinar aquele povo.

Paulo, então, exerceu o ministério de mestre ou doutor, ao lado de Barnabé, que, como era o pastor, tinha de ser necessariamente mestre, como haveremos de verificar mais adiante.

– Discipulado, portanto, é esta tarefa de ensinar a Palavra de Deus aos salvos, a fim de que eles se pareçam cada vez mais com o Senhor Jesus, para que eles se tornem cada dia mais parecidos com Jesus.

O objetivo do ensino das Escrituras não é formar “doutores em Divindade” nem tampouco “Ph.Ds em teologia”, mas, sim, fazer surgir homens e mulheres que, com suas vidas, mostrem que Jesus as transformou e que estão caminhando para o céu, desde já tendo uma vida de santidade e de pureza, pessoas que são testemunhas de Jesus, provas vivas de que Jesus realmente salva o homem e o faz, novamente, imagem e semelhança de Deus.

O objetivo do ensino da Palavra de Deus, do discipulado na Igreja, portanto, é “formar Cristo em nós” (Gl.4:9), é refletirmos como espelho a glória de Deus (Ii Co.3:18).

OBS: Ph.D significa “Philosophy Doctor”, ou seja, doutor em filosofia, que é o título comumente dado nos países de língua inglesa a quem defende tese acadêmica de doutorado.

– Embora muitos considerem que o “discipulado” seja uma tarefa destinada somente aos novos convertidos, ou seja, um período de ensino da Palavra de Deus até o batismo nas águas, temos que a realidade bíblica é bem diferente.

Não resta dúvida de que é necessário um discipulado específico para o novo convertido, como, aliás, vimos no episódio da igreja em Antioquia.

– Assim como o recém-nascido tem de ser objeto de um cuidado específico e diferenciado na vida física, também na vida espiritual o novo convertido deve ser objeto de um cuidado especial, devendo existir, em toda igreja local, um segmento que cuide especificamente dos novos convertidos, de modo a acompanhá-los na sua nova vida com Cristo, orientando-os e os socializando, de modo a que possam ser integrados na igreja local como novos membros do corpo de Cristo.

– Entretanto, o discipulado não se encerra com o batismo nas águas do novo convertido que, tendo dado frutos dignos de arrependimento, desce às águas e é inserido na igreja local. O discipulado, tendo como finalidade o de nos fazer cada vez mais parecidos com o Senhor Jesus, é uma tarefa incessante, que não tem fim.

– Quando vemos que Cristo constituiu os dons ministeriais na Igreja a fim de aperfeiçoar os santos, vemos que a tarefa do discipulado é uma tarefa que não tem término na vida de cada igreja local. Discipular é ensinar a Palavra, é aperfeiçoar os santos.

Assim, somente pode ser considerada encerrada quando alguém tiver atingido a perfeição, pois só alguém perfeito não necessita ser aperfeiçoado. Tanto assim é que o apóstolo Paulo afirma que os dons ministeriais devem ser exercidos até que cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13).

– Quem, porventura, chegou a este estágio durante os quase dois mil anos de Igreja? Alguém já chegou à estatura completa de Cristo? Alguém já atingiu a perfeição? Evidentemente que não!

Se formos para a história dos grandes homens de Deus, sem dúvida que diríamos que, nos tempos apostólicos, o apóstolo Paulo se encontrava entre aqueles que poderiam ter chegado a este nível.

No entanto, o próprio Paulo afirmou que não havia chegado a tal condição (Fp.3:12), sendo, neste passo, seguido por Pedro (II Pe.3:15,16) e João (Jo.20:30,31; 21:24,25).

– Se estes homens, que conviveram ou tiveram uma revelação especial de Jesus, não chegaram a esta estatura, quem somos nós para dizer que o fizemos?

Por isso, indubitavelmente, o discipulado é uma tarefa que nunca há de terminar na Igreja, visto que seu alvo é inatingível. Podemos, mesmo, afirmar que, ao dizer que o objetivo do discipulado é nos levar à estatura completa de Cristo, estamos aqui diante de uma expressão bíblica cujo significado é um só: “devemos aprender sempre”.

OBS: Neste sentido, aliás, devemos aqui corroborar os ensinos judaicos a respeito. Os rabinos judeus deixaram registrado no Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo, que a pessoa deve estudar a Torah até a morte, porque o homem é dado a esquecer e, portanto, se deixar de estudar, poderá esquecer e se perder.

– Não é por acaso que, na “grande comissão”, encontramos duas vezes o encargo de ensino. Uma anterior ao batismo – “Ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt.28:19) e, outra, depois do batismo – “ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado”

(Mt.28:20a), bem como dois tipos de alimento espiritual para os crentes: o leite (I Co.3:7; Hb.5:12,13; I Pe.2:2) e o sólido mantimento ou manjar (I Co.3:2; Hb.5:12).

– Assim, se no discipulado dos novos convertidos, temos a figura do evangelista como protagonista; no discipulado dos cristãos já maduros, o protagonismo é assumido por outro ministro, que é o mestre ou doutor.

III – COMO FAZER O DISCIPULADO

– Tendo visto que é uma tarefa fundamental e ininterrupta da Igreja o discipulado, o ensino da Palavra de Deus, tem-se a inevitável pergunta: como deve a Igreja discipular? Como deve cumprir esta ordem de Jesus?

– Por primeiro, lembremos que se trata de uma ordem de Jesus. Quando o Senhor mandou que “fizéssemos discípulos”, que “ensinássemos as nações”, estamos diante de uma ordem, pois a passagem é a mesma que diz respeito ao batismo nas águas. Se entendemos que se trata de ordenança o batismo, não se vê tanta consciência no que concerne ao ensino da Palavra nestes nossos dias tão difíceis…

– O ensino da Palavra de Deus, portanto, é uma necessidade, necessidade esta de que deve a igreja local estar sempre consciente, assim como a de evangelizar.

Entretanto, é com tristeza que vemos que, assim como a Igreja está dispersa com respeito à evangelização, como vimos na lição 8, também o está, e até com maior intensidade ainda, com respeito ao ensino da Palavra de Deus.

– Para cumprir a tarefa do ensino da Palavra, é preciso, em primeiro lugar, que a Igreja se veja dotada de homens e mulheres preparados para ensinar.

Ainda nos reportando ao episódio da igreja de Antioquia, Barnabé, ao notar a salvação daqueles crentes, imediatamente viajou para Tarso, para trazer a Paulo, pessoa que ele sabia ser preparada e capaz de ensinar aqueles novos convertidos.

– Um dos grandes problemas que temos visto nas igrejas locais da atualidade é o despreparo das pessoas para ensinarem a Palavra de Deus.

Quando falamos em preparo, não estamos nos referindo a escolaridade ou a conhecimento secular de alguém, mas, sobretudo, a seu conhecimento bíblico, a sua capacidade de manejar bem a Palavra da Verdade (I Tm.2:15).

– Num processo que muito tem nos preocupado, temos visto que, à medida que a escolaridade nas igrejas evangélicas tem subido (e até mais do que na média nacional brasileira, porque, afinal de contas, o Senhor é o mesmo Deus de Salomão, que continua a dar sabedoria e erudição aos Seus filhos), o conhecimento bíblico tem decrescido.

Não temos medo de errar ao dizer que, se, há décadas passadas, grande parte dos obreiros das Assembleias de Deus era composta de pessoas iletradas, semi-alfabetizados, mas que tinham profundo conhecimento bíblico, hoje em dia estamos repletos de obreiros dotados de diplomas universitários, mas que, biblicamente, são completamente analfabetos. O que é isto? É falta de discipulado!

– As atividades de ensino são, quase sempre, as mais desprezadas nas igrejas locais na atualidade. A frequência média das Escolas Bíblicas Dominicais, em nossa denominação, segundo pesquisa de dois anos atrás, é de 10%(dez por cento) dos membros da Igreja, ou seja, apenas o dízimo tem ânimo e interesse em estudar a Palavra de Deus em nossas igrejas!

Isto é um absurdo e uma das principais razões da frieza espiritual, da influência mundana e da total desinformação que tem tomado conta do nosso povo nos últimos anos, sem falar nas milhares de vidas que se encontram completamente aprisionadas por heresias e falsos ensinos, que têm tomado conta dos nossos púlpitos.

– O descaso com as Escolas Bíblicas Dominicais por parte de muitos pastores e dirigentes de igrejas locais, eles próprios eternos ausentes destas reuniões, leva, muitas vezes, à entrega das classes a pessoas despreparadas, que mal sabem para si, que dirá para os outros.

Estamos muito longe do modelo bíblico, em que os apóstolos, apesar de serem os principais nomes da igreja, tomavam para si a responsabilidade do ensino da Palavra, ensino este que era prioritário, tanto que a primeira coisa que Lucas faz notar na igreja primitiva é de que eles “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At.2:42).

– O ensino da Palavra deve ser a atividade interna prioritária, primordial na igreja local. Depois da evangelização, que é voltada para ganhar almas para o Senhor, que é voltada para os que estão fora da igreja local, para a comunidade (com exceção dos departamentos infantil, de adolescentes e juvenil, que são departamentos internos de evangelização), a igreja local deve se preocupar é com o aprendizado de seus membros, com o ensino da Palavra.

Assim, as reuniões voltadas para os salvos devem ser, prioritariamente, de ensino da Palavra, de ensino doutrinário.

Entretanto, o que se tem visto é que a Palavra de Deus é tão somente lida em algumas reuniões, quando o é, sem qualquer exposição ou ensino a respeito dela.

Não são poucos, aliás, os crentes que nem mesmo levam suas Bíblias para tais reuniões, pois sabem que nem sequer tais Bíblias serão lidas ou abertas.

– Nos ensaios, nas reuniões de oração, nas festividades, nas reuniões de obreiros, nas reuniões administrativas, em todos os atos da igreja local, é primordial que haja uma exposição da Palavra e que se proceda ao ensino da Palavra de Deus.

Como poderemos perseverar na doutrina dos apóstolos, se não há quem a ensine aos crentes? Como podemos crescer espiritualmente, se não recebemos o alimento espiritual, que é a sã doutrina, a Palavra de Deus?

– Há alguns anos atrás, ficamos muito tristes ao saber de um irmão de que, numa determinada reunião de sua igreja local, depois de cânticos e mais cânticos, o dirigente, ao notar que ainda faltavam dez minutos para o fim do culto, disse que “para não terminarmos o culto antes da hora, vamos, então, já que há tempo, falar algo da Palavra de Deus”. Onde nós estamos?

A Palavra de Deus virou “sobra de tempo” em nossas igrejas locais? Algo para ser ensinado e exposto quando “houver tempo”?

E o que dizer de outro dirigente de igreja que, como se tratava de culto de aniversário da igreja local, e como ainda haveria “comes e bebes”, decidiu que não haveria pregação nem exposição da Palavra naquele dia? Estamos, irmãos, lamentavelmente, a viver os tempos tristes anunciados pelo profeta Amós, tempos de fome e de sede da Palavra de Deus (Am.8:11)!

– Para se fazer o discipulado, é indispensável que demos o devido valor à Palavra de Deus, Palavra que o próprio Deus engrandeceu a tal ponto de a pôr acima de Si mesmo (Sl.138:2).

Sem esta atitude, de nada adiantará desenvolver “cursos teológicos”, “cursos bíblicos”, “cursos de preparação de obreiros” e tantas outras coisas que têm sido inventadas e postas em prática na atualidade.

Se as pessoas não se conscientizarem de que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca de Deus (Mt.4:4), um discipulado não terá êxito em qualquer igreja local. Foi isto que os apóstolos sempre fizeram, a ponto de terem arrogado para si esta tarefa e tê-la posto como prioridade absoluta em seus ministérios.

– Por isso, deve partir dos dirigentes da igreja local a tarefa do discipulado. Como pastores (e falamos aqui de função, de dom ministerial e não de título), são necessariamente mestres, ensinadores da Palavra, pois nem todo mestre é pastor, mas todo pastor é mestre, tanto que a expressão bíblica, quanto relaciona os dons ministeriais, é “pastores e mestres” (Ef.4:11).

Assim sendo, se alguém está a apascentar o rebanho de Deus, deve ensinar a Palavra e fazê-lo com prioridade. Por isso, até, é este um dos requisitos para a seleção ao ministério pastoral (II Tm.3:2).

OBS: A propósito, é um dos grandes fatores que nos levou ao atual estado catastrófico em termos de ensino da Palavra a falta de observância do requisito da aptidão para ensinar na separação e consagração de obreiros na atualidade pelos ministérios, convenções e denominações.

– “…Embora todos os mestres não sejam pastores, é necessário que todos os pastores sejam, também, mestres, sob a ótica do apóstolo Paulo, expressa em Efésios 4.11 (…).

Dentre as muitas atividades pastorais, o ensino é parte predominante do ministério. É mais do que necessário; é indispensável; é uma responsabilidade.

Não foi em vão que, na lista das exigências para os candidatos ao ministério pastoral, o ensino aparece em destaque:”…Convém pois que seja…apto para ensinar’, I Tm.3:2.…” (COSTA, José Wellington Bezerra da. Como ter um ministério bem-sucedido, p.95).

– “…Bíblica e semanticamente falando, esse dom vem atrelado ao de pastor. No original é Pastor-mestre, significando que todo pastor precisa ser profundo conhecedor das verdades bíblicas, da vontade de Deus e apto para ensinar.

Nada obsta que na igreja tenha pessoas como em Antioquia (doutores) responsáveis pela área do ensino na igreja, como, por exemplo, professores da Escola Bíblica Dominical bem treinados e capacitados para esse mister, mesmo não sendo eles pastores ou evangelistas.

Esses mesmos crentes serão de igual modo úteis como responsáveis, quais sentinelas, para que heresias não se infiltrem sorrateiramente na igreja, At.13.1…” (ROCHA, Jormicézar Fernandes da. A excelência do ministério cristão: valorizando o que é excelente, EBOADERON 2013, p.53).

– O dirigente da igreja local deve ser o primeiro a ter prazer em ensinar e a se esmerar no ensino da Palavra.

Deve ser alguém sempre pronto a elucidar dúvidas doutrinárias dos irmãos, um assíduo frequentador da Escola Bíblica Dominical, alguém que demonstra esforço e profundidade doutrinária nos cultos de ensino, como também na pregação da Palavra nas reuniões públicas.

Não precisa ser um “doutor em Divindade”, um “erudito”, mas precisa, isto sim, demonstrar conhecimento bíblico, intimidade com as Escrituras, precisa ser um obreiro aprovado, que maneja bem a palavra da verdade.

– Além de se mostrar ele próprio um estudioso das Escrituras, o dirigente da igreja local deve exigir este mesmo perfil de seus auxiliares.

Não se pode permitir obreiro que não tenha conhecimento bíblico, que não demonstre meditar na Palavra de Deus de dia e de noite.

O dirigente deve incentivar os seus auxiliares no estudo da Bíblia, inclusive, se necessário, fazendo reuniões de estudos bíblicos com eles, a fim de estimulá-los a manejar bem a palavra da verdade.

Deve dar atenção especial ao superintendente da Escola Bíblica Dominical e aos professores da EBD, participando das reuniões preparatórias deles sempre que possível, além de assistir às aulas da EBD, verificando, assim, como está sendo ensinada a Palavra na igreja local.

– Os departamentos da igreja devem, também, voltar-se para o ensino da Palavra de Deus. Toda e qualquer reunião deve ter uma exposição da Palavra e um ensinamento a ser ministrado por parte do responsável do departamento, quando não de algum obreiro destacado para fazê-lo pela direção da igreja local.

Não há coisa alguma que justifica a ausência completa da Palavra de Deus nos ensaios dos conjuntos musicais ou nas reuniões de oração.

As próprias letras dos hinos e cânticos a serem ensaiados são motivos para se realizarem estudos bíblicos (o que, aliás, levaria muitos a abandonarem certos “louvores” que andam infestando as nossas igrejas locais…).

– Entre as crianças, adolescentes e jovens, deve-se sempre e ininterruptamente, na Escola Bíblica Dominical e fora dela, incentivar-se a leitura metódica e contínua da Palavra de Deus, a fim de que se crie o hábito da leitura da Palavra desde cedo, o que será primordial para um sadio crescimento espiritual destas pessoas, que, por sua tenra idade, são facilmente influenciáveis pelo mundo.

Neste passo, os professores de EBD destes segmentos bem assim os responsáveis por estes departamentos têm de ser pessoas amantes da Palavra do Senhor, devidamente preparadas para responder com mansidão e temor a razão da esperança que há no crente (I Pe.3:15).

Muito se verifica, na escolha de tais pessoas, se elas têm uma vida de oração, se respeitam os costumes da igreja local, e pouco se observa a respeito de sua intimidade com a sã doutrina, quando é este o ponto fundamental a ser enfrentado, notadamente nos dias em que vivemos em que a mídia tem trazido número cada vez maior de pensamentos e ideias contrários às Escrituras, muitas vezes travestidos de “evangélicos”.

– Com relação aos novos convertidos, é preciso haver um segmento especial da igreja local para deles cuidar.

O novo convertido deve, também, ser estimulado e incentivado a iniciar a leitura das Escrituras, sendo de bom alvitre que sejam selecionados textos que digam respeito aos fundamentos doutrinários, a fim de que o novo convertido, um neonato espiritual, seja tratado com o “leite racional” (I Pe.2:2).

– O novo convertido deve ser acompanhado de perto pelos evangelistas da igreja local, que deverão lhe tirar todas as dúvidas que tenha e dar prioridade a que ele aprenda os fundamentos doutrinários, as bases da doutrina cristã.

Tais bases estão elencadas pelo escritor aos Hebreus, a saber: arrependimento de obras mortas, fé em Deus, doutrina dos batismos, da imposição das mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno (Hb.6:1,2).

Tais ensinamentos devem ser dados, de forma sistemática, preferencialmente na Escola Bíblica Dominical, em classe específica para os novos convertidos, a fim de que eles possam, a um só tempo, ter conhecimento das verdades bíblicas essenciais, como também se acostumar a freqüentar a EBD.

– Nos chamados cultos de ensino, o dirigente da igreja local deve ministrar o chamado “sólido mantimento” (Hb.5:12), ou seja, levar à igreja a uma maior profundidade doutrinária, vez que se trata de uma reunião cujo objetivo é o de promover o crescimento espiritual dos crentes integrantes da igreja local.

Por isso, muitas vezes, é conveniente que a reunião se dê apenas entre os membros da igreja local, havendo uma reunião paralela para outros segmentos que ainda estão na fase do “leite” (Hb.5:12), como crianças, adolescentes, jovens e novos convertidos.

– Este tipo de reunião é o adequado para o chamado “ensino problemático”, ou seja, aquele em que, à luz dos problemas detectados na igreja local, o dirigente prepara um estudo bíblico a fim de mostrar aos crentes qual é a atitude que se espera de um servo de Deus ante tais dificuldades.

No ensino problemático, o dirigente contextualiza a Palavra de Deus e cuida do rebanho de Deus, a exemplo do que Paulo fez em diversas de suas epístolas.

– Infelizmente, porém, muitos dirigentes têm desperdiçado esta oportunidade singular para desmoralizar pessoas, entristecer irmãos e, não raras vezes, substituir o ensino da sã doutrina por mandamentos de homens e usos e costumes, o que contribui ainda mais para o raquitismo espiritual da igreja local e o aumento dos problemas e das dificuldades.

– Igualmente triste é a constatação de que as reuniões de ensino são, quase sempre, as menos frequentadas das igrejas locais. Nos dias em que vivemos, em que a sobrevivência é cada vez mais difícil, muitos se justificam pela “falta de tempo” ou até mesmo “falta de dinheiro” pela sua ausências nos cultos de oração e doutrina.

– Entretanto, esta mesma “falta de tempo” e “falta de dinheiro” inexiste em outras espécies de cultos, notadamente os “louvorzões”, os “congressos” e outros eventos, em que a sã doutrina é substituída pelo “reteté”, pelo “agito” e por tantas outras coisas.

O que há, na verdade, é uma fuga à Palavra de Deus, uma fuga à Verdade, uma fuga da presença de Deus, o que apenas se justifica, biblicamente, pela percepção de que, por causa do pecado, se está espiritualmente nu.

– Diante desta realidade assustadora e cada vez mais frequente em muitas igrejas locais, urge que os dirigentes de igrejas locais, já que o povo não vem aos cultos de doutrina, façam o culto de doutrina ir até os irmãos, aproveitando-se das reuniões mais numerosas para ensinar-lhes a Palavra de Deus.

Para tanto, é preciso que o tempo da Palavra de Deus aumente nos cultos, com diminuição de tanta cantoria e de tanta ostentação que muito pouco tem de adoração a Deus.

Ou nos voltamos para o ensino da Palavra, para o discipulado, ou continuaremos a ver a progressiva, inevitável e impiedosa destruição do povo de Deus (Os.4:6).

IV – O MINISTÉRIO DE MESTRE OU DOUTOR

– Pelo que pudemos observar nestas diretrizes sobre como deve ser feito o discipulado na Igreja, verificamos quão fundamental é aquele que tem o dom ministerial de mestre.

– Devemos aqui observar que há duas nomenclaturas para esse dom: mestre e doutor. Na Versão Almeida Revista e Corrigida (seguida pela Almeida Corrigida e Fiel, Bíblia de Jerusalém, Tradução dos Monges de Mardesous, Almeida Contemporânea., Ver~so Antonio Pereira de Figueiredo),

o termo grego original é traduzido por “doutores”, o que é alterado para “mestres” na Versão Almeida Revista e Atualizada, sendo também esta a expressão encontrada em outras versões como a Tradução Brasileira, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, a Nova Versão Internacional, Tradução CNBB. A Tradução Ecumênica Brasileira traduz o termo grego por “docentes”.

– A palavra grega empregada no texto é “didaskálos” (διδασκάλους), cujo sentido mais próprio é o de “mestre” do que “doutor”, mas ambas as expressões são adequadas.

– O mestre deve ser alguém que esteja dedicado a ensinar os salvos (Rm.12:7). Paulo deixou tudo que estava a fazer em Tarso e foi para Antioquia e, durante um ano, nada mais fez senão ensinar aqueles novos crentes (At.11:26), a nos mostrar como o mestre deve ter dedicação para este trabalho, ensinando não só coletivamente, mas, também, individualmente, como vemos no caso de Priscila e Áquila em relação a Apolo (At.18:26).

OBS: “…O dom de mestre é a capacidade especial que o Espírito Santo concede a alguns discípulos, dando-lhes a função de saber e ensinar, a fim de transmitirem conhecimentos por meio de uma didática que possibilite o aprendizado fácil e eficiente…” (ROCHA, Jormicézar Fernandes da. A excelência do ministério cristão: valorizando o que é excelente. EBOADERON 2013, p.53).

– Neste ponto, aliás, queremos aqui fazer uma rápida análise entre o dom ministerial de mestre ou doutor e o dom assistencial de ensino.

Como nos ensina o pastor Antonio Gilberto, os dons assistenciais (os “sete dons” constantes de Rm.12:6-8) são “dons ministeriais de efeitos práticos”. Assim, vemos que um dom assistencial é uma atividade prática, uma ação que põe em exercício um ministério.

– Ora, é exatamente esta a diferença entre o dom ministerial de mestre e o dom assistencial de ensino. Podemos dizer que o dom de ensino é a ação do mestre, é a atividade prática do ensinar a alguém, como, por exemplo, a capacidade para se dar uma aula de Escola Bíblica Dominical.

– O mestre, muitas vezes, é utilizado em seu conhecimento, em sua teoria, feita com a capacitação dada pelo Senhor para interpretação e elucidação da Bíblia Sagrada (num livro, por exemplo), enquanto que a prática do ensino cotidiano é, propriamente, o dom de ensino.

Percebemos bem isto no ministério de Paulo, que, como mestre, ensinava a toda a Igreja, através de seus escritos, como nos dá conta o apóstolo Pedro em II Pe.3:15,16.

O mestre, portanto, tem uma abrangência maior que a do ensinador, que põe em ação este seu conhecimento, que, na prática, muitas vezes até, ensina aquilo que aprendeu do mestre que, ao contrário do ensinador, não tem necessariamente este contato direto que sempre tem o ensinador.

– O mestre precisa se dedicar, notadamente quando está na atividade prática de ensino, como se verifica em Rm.12:7.

Por isso, não é boa conduta acumular o mestre de funções outras na igreja local, pois isto representará um imenso prejuízo para o desenvolvimento da obra de Deus.

Não é de hoje, aliás, que defendemos que os professores de Escola Bíblica Dominical não tenham qualquer outro cargo ou função nas igrejas locais, para que possam ter “dedicação integral ao ensino”.

– O mestre precisa ser um cristão exemplar, uma referência para os demais irmãos. Paulo, que iniciara seu ministério em Antioquia como mestre, pôde dizer aos coríntios que mandava Timóteo para ensinar-lhes os caminhos dele próprio com Cristo (I Co.4:17), como também disse que poderia ser imitado, pois era ele imitador de Cristo (I Co.11:1), . Esta preocupação do apóstolo em ter um exemplo era uma decorrência do seu dom ministerial de mestre.

– Tiago é muito claro ao mostrar que os mestres receberão mais duro juízo (Tg.3:1), precisamente porque é o mestre a pessoa em que todos se espelham, aquela que, por ensinar a todos, é visto como referência.

– Vemos aqui, aliás, porque Jesus é o Mestre por excelência (Mt.23:8,10), aliás, o único título que Ele mesmo assumiu em toda a Sua plenitude, jamais o recusando (Jo.13:13,14).

Ele ensinava aquilo que Ele mesmo vivia, residindo nisto a autoridade de Seu ensino e a distinção do Seu ensino com relação aos escribas, aos doutores da lei (Mt.7:28,29).

– O ensino de Jesus tinha autoridade, porque, primeiro, Jesus fazia e, depois, ensinava (At.1:1). Os escribas, ao revés, embora ensinassem a Palavra de Deus, não viviam aquilo que ensinavam (Mt.23:2,3).

– Por isso, o mestre precisa ter uma vida espiritual exemplar, que possa ser imitada, para que seu ensino tenha autoridade no meio do povo de Deus, pois ele sempre é alvo da percepção dos salvos, que, assim como o povo judeu, observa a conduta, a vida, o comportamento, o testemunho do mestre e faz uma correlação entre os atos do mestre e suas atitudes. Não pode ser um “guia de cegos”, um “mestre de crianças”, um “instruidor de néscios” (Rm.2:19,20).

– O mestre, como já dissemos supra, é alguém que deve sempre buscar estar preparado, tanto intelectual, quanto espiritualmente, para poder bem exercer o seu ministério.

O mestre é escolhido por Deus, recebe de Deus esta habilidade sobrenatural para poder explicar as Escrituras, poder promover o crescimento do povo de Deus no conhecimento de Cristo, mas não pode, de forma alguma, deixar de estudar e de usar o seu intelecto no aprimoramento do conhecimento das Escrituras.

– Por que Barnabé foi atrás de Paulo em Tarso para ensinar os crentes de Antioquia? Precisamente porque sabia que Paulo, além de ter sido escolhido por Deus para esta tarefa, tinha a necessária preparação intelectual para ensinar aqueles crentes gentios, uma pessoa que não só conhecia as Escrituras, que havia aprendido, inclusive, aos pés de Gamaliel,

um dos grandes mestres judaicos daquela época (At.5:34; 22:3), como também era formado em toda a filosofia grega (Tarso era um grande centro de estudos filosóficos dos estoicos naquela época), como, aliás, admite em uma de suas cartas aos coríntios (I Co.2:4,5) e vemos, quando ela prega para os filósofos no Areópago em Atenas (At.17:15-34).

– A dedicação que se exige ao mestre e ensinador faz com que este ministro seja um constante estudioso das Escrituras, alguém que procura se aprimorar intelectualmente nas coisas de Deus, algo que não retira o caráter sobrenatural de seu ministério, mas que se trata de uma exigência imposta pelo próprio ministério recebido da parte de Deus.

– Tanto é assim que Paulo, mesmo sabendo que iria ser morto por causa da sua fé em Cristo, ao escrever sua última epístola, não deixa de pedir a Timóteo que lhe trouxesse tanto os pergaminhos (ou seja, as Escrituras), como também os livros (II Tm.4:13).

Como mestre que era, Paulo sabia que, mesmo sabendo que iria morrer, deveria continuar estudando, aprimorando-se intelectualmente para bem exercer o seu ministério de mestre. Sigamos este exemplo, amados irmãos mestres!

– Outra qualidade que deve ter o mestre é a de uma aguçada audição. O ministério de mestre exige do seu portador estar pronto a ouvir aqueles que está a ensinar, para elucidar as suas dúvidas.

A interatividade é uma exigência indispensável para que se tenha o aprendizado. O mestre precisa estar pronto a ouvir os alunos, para que, a partir de suas perguntas e indagações, possa promover o aprimoramento espiritual dos salvos, ensinando-os.

– No Evangelho, vemos Jesus sempre interagindo com os Seus discípulos, estimulando-os às indagações, a fim que as dúvidas fossem elucidadas e que, através disto, houvesse um verdadeiro aprendizado. O mestre não é um ditador, cuja palavra é final, mas, bem pelo contrário, alguém que está sempre pronto a aprender, mesmo com seus discípulos, sabendo que o único Mestre é o Senhor Jesus (Mt.23:10).

– Neste ponto, aliás, temos outra qualidade que deve ter o mestre, que é o de rejeitar toda e qualquer posição de poder por força de seu conhecimento, reconhecer que sua função de mestre na Igreja não o torna um “dono da verdade”, nem tampouco um “mediador entre Cristo e seus alunos”, mas alguém que jamais deixa de ser “aprendiz de Cristo”.

OBS: “…Ainda que a doutrina da fé não esteja em questão, o teólogo não apresentará as suas opiniões ou as suas hipóteses como se se tratasse de conclusões indiscutíveis.

Esta discrição é exigida pelo respeito à verdade, assim como pelo respeito pelo Povo de Deus (cf. Rm 14, 1-15; 1 Cor 8, 10. 23-33). Pelos mesmos motivos ele renunciará a uma expressão pública e intempestiva delas.…” (CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA
DA FÉ. Instrução Donum veritatis, n.27. Disponível em:

http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19900524_theologian-vocation_po.html#_edn3 Acesso em 24 mar. 2014).

– Paulo, ao se pôr como pessoa a ser imitada, não deixou de dizer que era um imitador de Cristo. O mestre jamais pode se achar superior aos demais, mas, bem ao contrário, lembrar que, antes de mais nada, deve aprender com Cristo e, por isso, ser sempre um assíduo leitor das Escrituras, para que também vá se aperfeiçoando como santo ao longo dos anos.

– Nesta consciência de que é um aprendiz de Cristo, o mestre deve estar sempre pronto a aprender também com seus alunos, lembrando que, embora tenha o ministério de mestre, nem por isso não pode aprender com os seus irmãos, até porque uma das características da Igreja é seus membros ensinarem uns aos outros (Cl.3:16).

– O mestre deve lembrar que a capacidade sobrenatural que o Senhor lhe dá para ensinar não significa infalibilidade e, portanto, ocasiões há em que o mestre errará e será levado a esta constatação por outros irmãos, pois o Senhor zela pelo ensino na Sua Igreja e jamais permitirá que um ensino falso ou equivocado perdure no meio do povo de Deus.

– A propósito, aqui é que se verifica o verdadeiro alcance da infalibilidade em termos doutrinários de que goza a Igreja, assunto tratado de forma um tanto quanto distorcida pela Igreja Romana.

Embora o Catecismo da Igreja Romana esteja correto ao dizer que “…Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos apóstolos, Cristo quis conferir à sua Igreja uma participação em sua própria infalibilidade, ele que é a Verdade.

Pelo “sentido sobrenatural da fé”, o Povo de Deus “se atém indefectivelmente à fé”…” (§ 889 CIC), não age corretamente quando situa esta infalibilidade no “Magistério vivo da Igreja”, ou seja, ao afirmar que “…para executar este serviço, Cristo dotou os pastores do carisma de infalibilidade em matéria de fé e de costumes…” (§ 890 CIC).

– Não resta dúvida de que o Senhor não permite que o engano venha a tomar conta da Sua Igreja e, para isto, usa dos pastores e mestres para que promovam o ensino doutrinário correto do Seu povo, mas não há um “carisma de infalibilidade” nestes pastores e mestres apenas, em toda a Igreja é guiada pelo Espírito Santo para detectar os falsos ensinos e as artimanhas do inimigo no meio do povo de Deus.

– O Espírito Santo guia a Igreja em toda a verdade (Jo.16:13) e, desta maneira, não permite que enganadores, mesmo que ostentem títulos e cargos eclesiásticos, mesmo que tenham sido chamados para ser pastores e mestres, venham a enganar o povo de Deus.

A própria Igreja Romana isto admite, ao reconhecer que, ao longo de sua história, muitos que foram depois chamados de “santos” confrontaram com atitudes e ensinos distorcidos por parte daqueles que, supostamente, teriam o “carisma da infalibilidade”, como, por exemplo, Francisco de Assis.

– Como bem afirma o pastor José Wellington Bezerra da Costa: “…Esta maturidade previne a entrada de heresias no seio da Igreja.

Todo cristão biblicamente maduro tem condição e base suficiente para rejeitar os ensinamentos antibíblicos e refutá-los à luz das Escrituras, porque deixa de ser como ‘meninos inconstantes, levado em roda por todo vento de doutrina’, Ef.4:14…” (Como ter um ministério bem-sucedido, p.96).

– Notamos, portanto, que nenhum mestre pode se arrogar o “carisma da infalibilidade”, devendo ser sempre humilde e reconhecer que sua autoridade como mestre advém única e exclusivamente do fato de que é um “aprendiz de Cristo”.

OBS: “…E existe o outro modo de utilizar a razão, de ser sábio, a do homem que reconhece quem ele mesmo é; reconhece a própria medida e a grandeza de Deus, abrindo-se na humildade à novidade do agir de Deus.

Assim, precisamente aceitando a sua pequenez, fazendo-se pequenino como realmente é, chega à verdade. Desta maneira, também a razão pode expressar todas as suas possibilidades, não é anulada mas amplia-se, torna-se maior.

Trata-se de outra sofia e sínesis, que não exclui do mistério, mas é precisamente comunhão com o Senhor, em quem repousam a sapiência e a sabedoria, e a sua verdade. Neste momento, queremos rezar ao Senhor a fim de que nos conceda a verdadeira humildade.

Que nos conceda ser pequeninos, para sermos realmente sábios; nos ilumine, nos faça ver o seu mistério do júbilo do Espírito Santo, nos ajude a ser verdadeiros teólogos, que podem anunciar o seu mistério porque foram tocados na profundidade do seu coração, da sua existência. Amém.” (BENTO XVI. Homilia na missa com a Comissão Teológica Internacional. 1 dez. 2009. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2009/documents/hf_ben-xvi_hom_20091201_cti_po.html Acesso em 24 mar. 2014).

– O mestre deve ensinar com sabedoria (Cl.1:28) e, para tanto, precisa ser uma pessoa temente ao Senhor, pois o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl.111:10).

Sabedoria aqui não é o conhecimento intelectual de que já falamos, mas, sim, a capacidade dada por Deus para ter as ações corretas, no momento correto, da forma correta.

Esta sabedoria é dada sobrenaturalmente por Deus e é através desta qualidade que o mestre poderá ser tido como referencial no meio de seus irmãos, o que, como já vimos, é indispensável para que seu ensino tenha autoridade, para que ele tenha credibilidade.

OBS: “…O A→B→C da sabedoria começa com o ‘temor de Deus’ — Ele é o ‘princípio da sabedoria’ (Sl.111:10).

Em I Coríntios 12.8, os dons espirituais são encabeçados pela ‘palavra da sabedoria’ que todo o mestre deve possuir.

Não se trata de intelectualidade ou de perícia humana; e, sim, do dom da sabedoria para entender e poder discernir com facilidade a Palavra de Deus e tudo que com ela se relaciona.…” (SILVA, Severino Pedro da. A Igreja e as sete colunas da sabedoria, p.225).

– O mestre deve ensinar a Palavra de Deus, as coisas concernentes ao Senhor Jesus (At.15:35; 18:11; 28:31).

O assunto do mestre é a Bíblia Sagrada, o tema do mestre é o Senhor Jesus. O ensino jamais deve tomar outras temáticas, como, infelizmente, vemos em nossos dias ocorrer.

Muitos mestres têm deixado de pregar a Cristo para se intrometer em vãs filosofias, sutilezas e outros assuntos que desviam totalmente o foco, deixando-se delirar com as muitas letras (At.26:24). É o que, infelizmente, temos visto acontecer com muitos mestres, notadamente entre os teólogos contemporâneos, entre os teólogos liberais.

– É importante observar que a teologia é uma seara onde estão muitos dos mestres que o Senhor levantou ao longo da história da Igreja.

Portanto, não se trata de algo ruim ou danoso, como, infelizmente, alguns anti-intelectualistas desenvolveram ao longo dos anos, mas, muito pelo contrário, um importante instrumento para o aperfeiçoamento dos santos, na medida em que se trata de um depósito dos diversos ministros mestres que o Senhor tem levantado desde a edificação da Igreja.

OBS: “…No que tange a importância e a aplicação da educação teológica, em especial, no contexto religioso das igrejas evangélicas que a cada dia se proliferam, é lamentável a deliberada desconsideração para com ambos os elementos (importância e aplicação), visto que, da mesma forma que não podemos desassociar o Cristo da sua “Cruz”, ou, a “Cruz” do seu Cristo, não devemos também separar a igreja da educação teológica.…” (ANDRÉ LUÍS.

O papel e a importância da educação teológica para a igreja. 10 dez. 2011. Disponível em: http://oevangelhohoje.wordpress.com/2011/12/10/o-papel-e-a-importancia-da-educacao-teologica-para-a-igreja-andre-luis/ Acesso em 24 mar. 2014).

– Na feliz expressão do documento da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano “Donum veritatis”, assinada pelo então cardeal Joseph Ratzinger, que veio a ser o Papa Bento XVI, “…Na fé cristã, conhecimento e vida, verdade e existência são intrinsecamente unidas.

A verdade doada na revelação de Deus ultrapassa, evidentemente, as capacidades de conhecimento do homem, mas não se opõe à razão humana. Pelo contrário, ela a penetra, eleva e apela à responsabilidade de cada um (cf. 1 Pd 3, 15).

Por isso, desde os primórdios da Igreja, a « norma da doutrina » (Rm 6, 17) tem sido, com o batismo, vinculada ao ingresso no mistério de Cristo.

O serviço à doutrina, que implica a crente busca da compreensão da fé, isto é, a teologia, é portanto uma exigência à qual a Igreja não pode renunciar.

Em todas as épocas, a teologia é importante para que a Igreja possa dar uma resposta ao desígnio de Deus, « que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade » (1 Tim 2, 4).…” (CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Instrução Donum veritatis, n.1. Disponível em:

http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19900524_theologi an-vocation_po.html Acesso em 24 mar. 2014).

– “…O trabalho do teólogo responde assim ao dinamismo interno da própria fé: por sua natureza a Verdade quer comunicar-se, já que o homem foi criado para perceber a verdade, e deseja no mais profundo de si mesmo conhecê-la para nela se encontrar e para ali encontrar a sua salvação (cf. 1 Tm 2, 4).

Por isto o Senhor enviou os seus apóstolos para que fizessem « discípulas » todas as nações e as ensinassem (cf. Mt 28, 19s.).

A teologia, que busca a « razão da fé » e que àqueles que procuram oferece esta razão como uma resposta, constitui parte integrante da obediência a este mandamento, porque os homens não podem tornar-se discípulos se a verdade contida na palavra da fé não lhes é apresentada (cf. Rm 10, 14s.).

A teologia oferece portanto a sua contribuição para que a fé se torne comunicável, e a inteligência daqueles que não conhecem ainda o Cristo possa procurá-la e encontrá-la.

A teologia, que obedece ao impulso da verdade que tende a comunicar-se, nasce também do amor e do seu dinamismo: no ato de fé, o homem conhece a bondade de Deus e começa a amá-lo, mas o amor deseja conhecer sempre melhor aquele a quem ama.(…)

Desta dúplice origem da teologia, inscrita na vida interior do Povo de Deus e na sua vocação missionária, deriva o modo pelo qual ela deve ser elaborada para atender às exigências da sua natureza.…” (CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, n.7. op.cit.).

– Percebemos, portanto, que a teologia é uma forma de manifestação deste ministério de mestre na Igreja, mas sempre tendo como objeto a Verdade, ou seja, a Palavra de Deus, devendo ser exercida como um discurso racional a partir daquilo que foi revelado pelo Senhor nas Escrituras.

Por isso mesmo, a teologia não pode discrepar das Escrituras, não pode ser produzida a partir de filosofias ou entendimentos que não partam da Bíblia Sagrada, como, lamentavelmente, tem ocorrido principalmente a partir da chamada “crítica bíblica”, onde boa parte da produção teológica parte de um descrédito da própria Bíblia Sagrada.

– Como bem afirma o pastor, teólogo e arqueólogo adventista Rodrigo Silva, a teologia não pode trocar a

“lectio divina”, ou seja, a reflexão “…de modo doutrinário e contemplativo sobre a Palavra de Deus, para dali tirar os conceitos de verdade, ética, salvação e vida comunitária…” (A função da teologia na Igreja. 11 jun 2012. Disponível em: http://gilbertotheiss.blogspot.com.br/2012/06/funcao-da-teologia-na-igreja.html Acesso em 24 mar. 2014), pela “ratio theologica”, onde a reflexão deixa de se basear na Bíblia Sagrada para se transferir para as filosofias e pensamentos humanos.

– “…A Bíblia nesse tempo tornara-se quase um livro morto de conteúdo desconhecido. O estudo dominante eram as famosas Sumas Teológicas e os Comentários sobre as sentenças de outros autores.

Nas universidades de Paris e Oxford, a teologia começava a desenvolver seus primeiros programas doutorais marcados por produções e defesas de teses chamadas quaestio et disputatio (perguntas e disputas).

Seu peso, contudo, já não estava na Palavra revelada de Deus, mas nos autores que julgavam mostrar a coerência da fé de modo mais claro que a Bíblia, cujo conteúdo somente eles arvoraram poder compreender sem cair nos laços da loucura.

O resultado dessa visão racional da Idade Média foi um desastroso rompimento entre a ciência e a fé (…)a teologia nascida dos reformadores precisou duelar com o humanismo que então começava a dominar o mundo.

Temendo o comportamento dogmático-apologético do qual ela mesma se libertara ao sair do catolicismo, a Reforma optou por ser absorvida pela modernidade sem crivar nenhum de seus novos arrazoados intelectuais.

Em virtude disso, surgiu, então, o famoso Iluminismo alemão, erguendo eruditos como Reimarus, Harnack e Bultmann, cuja principal contribuição foi criar uma frustrada “jesulogia” liberal que nada mais era do que o advento daqueles exercícios racionais do escolasticismo, vistos agora sob o manto de uma roupagem modernizada e mais sofisticada.…” (SILVA, Rodrigo. end.cit.).

– Por isso, o mestre jamais deve abandonar a Palavra de Deus como o objeto de seu estudo e de seu ensino, não permitindo que pensamentos humanos, que outras doutrinas, inclusive doutrinas de demônios (I Tm.4:1), venham a distorcer o seu ministério.

– Outro ponto importante para o mestre é que ele não deve ser guiado pela torpe ganância (Tt.1:11), pois isto o levará a ensinar “coisas que não convêm”.

Tais mestres “transtornam casas inteiras”, ou seja, causam polêmicas, divisões, questionamentos inúteis e danosos, querendo, sempre, às custas destes males e prejuízos aos salvos, obter lucro, ganho e enriquecimento.

Vivemos dias em que pululam os falsos mestres (II Pe.2:1-3,14; Jd.11), cujas características são, precisamente, as de buscar seguidores para si, bem como fácil enriquecimento. Tomemos cuidado com essa gente, amados irmãos!

– “…Igreja sem mestres é uma Igreja sem ensino, e o que amadurece uma Igreja é o conhecimento sistematizado da Palavra de Deus. Só teremos um bom aperfeiçoamento na maturidade espiritual começando com as ‘sagradas letras’ (II Tm.3:15)…” (SILVA, Severino Pedro da. A Igreja e as sete colunas da sabedoria, p.225).

– A ausência de mestres na igreja muito contribui para que o povo de Deus seja destruído (Os.4:6) e, por isso, o inimigo tem lutado, com todas as suas forças, para eliminar este ministério entre os que cristãos se dizem ser.

Todavia, sabemos que o Senhor zela pela Sua Igreja, que prevalece sobre as portas do inferno (Mt.16:18). Cuidemos, portanto, para que os mestres levantados pelo Senhor possam executar o seu ministério e que os pastores nunca deixem de ser mestres.

 Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6472-licao-10-o-ministerio-de-mestre-ou-doutor-i

Glória a Deus!!!!!!!