JOVENS – LIÇÃO 12 – DA CIRCUNCISÃO E DOS ALIMENTOS SACRIFICADOS AOS ÍDOLOS

INTRODUÇÃO

Havia na Igreja em Jerusalém, alguns fariseus convertidos que insistiam na prática da circuncisão e na guarda da lei de Moisés para que se alcançassem a salvação.

Tal assunto, levou ao primeiro Concílio em Jerusalém, sendo que a decisão dada pelos apóstolos e anciãos da Igreja, tendo como destaque as falas de Pedro e Tiago (Atos 15:8-11;13-21), consideradas por Paulo as colunas da Igreja (Gálatas 2:9), ficou que, não era necessário a prática dos costumes judaicos, como a circuncisão para a salvação.

Nesta lição, veremos na carta do apóstolo Paulo aos Coríntios dois pontos interessantes a serem compreendido por aqueles que haviam deixado o judaísmo: a circuncisão e os alimentos sacrificados aos ídolos.

I – A CIRCUNCISÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

A circuncisão consiste na “remoção da pele que cobre a glande peniana. Apesar de praticada também por outros grupamentos humanos, como os árabes, por exemplo, entre os Israelitas ela adquiriu um significado todo especial.

Através da circuncisão, o indivíduo habilitava-se a fazer parte do povo eleito. Era o sinal da aliança entre Deus e Israel”1.

Na Bíblia Sagrada este rito, como forma de aliança, teve início com Abraão (Gn 17.11,23-27). Deus firmou com o patriarca um concerto que teria como marco a circuncisão de todo macho que habitasse em sua casa. Era algo físico. Uma marca.

Que era o sinal de uma aliança entre Deus e um homem cheio de fé (representando uma grande nação que surgiria).

Era um sinal ou marca que denotava terem aceito o concerto com Deus e de terem o próprio Deus como Senhor deles. Era um sinal da justiça que tinham mediante a fé (Gn 15.6; Rm 4.11).

Era um meio de fazer o povo lembrar-se das promessas que Deus lhes dera, e das suas próprias obrigações pessoais ante o concerto2.

Quando um macho era circuncidado no Antigo Testamento, o ato demonstrava obediência a Deus em todos os aspectos, de modo que após o rito, a criança (ou homem) estaria oficialmente destacado como pertencente ao povo com quem Deus firmou seu pacto, ou seja, a nação que foi gerada a partir de Abraão.

II – A CIRCUNCISÃO E O CRISTIANISMO

Com a chegada do Reino de Deus e a propagação do Evangelho de Cristo, a circuncisão passou então a não ser mais necessária para os crentes. Paulo, por exemplo, alerta-nos para isso quando afirma:

“Porque em Cristo Jesus nem circuncisão nem incircuncisão têm efeito algum, mas sim a fé que atua pelo amor” (Gl 5.6).

Em seus ensinos, o apóstolo Paulo mostrou que a verdadeira circuncisão não é a externa. Mas a que se pratica no coração (Cl 2.11). Advém esta do verdadeiro arrependimento e da genuína fé nos desígnios de Deus1.

No  Antigo  Testamento,  a  circuncisão  era  o  sinal  de  que  o  israelita  estava  em relacionamento pactual com Deus. Simbolizava a remoção ou separação do pecado e de tudo quanto era ímpio.

O crente segundo o concerto do Novo Testamento passou por uma circuncisão espiritual, a saber: o despojar “do corpo da carne”.

Trata-se de um ato espiritual, mediante o qual Cristo remove nossa velha criação irregenerada e rebelde contra Deus, e nos comunica a vida espiritual ou ressurreta de Cristo; é uma circuncisão do coração2.

Hoje entendemos, mediante a Palavra de Deus, que em Cristo somos separados do pecado, tendo como marca o selo do Espírito Santo sobre nós (2 Co 1.21,22; Ef 4.30), o que torna desnecessário a ação física, ritualística e externa da circuncisão literal.

Como participantes da Nova Aliança em Cristo, não nos resta cumprir preceitos da Antiga Aliança destinada a um povo em particular.

Mas alguém pode questionar porque Paulo circuncidou Timóteo ao encontrá-lo em sua segunda viagem missionária e o levou consigo, fato este, narrado no livro de Atos dos apóstolos no capítulo 16 e nos versículos 1-3, sendo que no capítulo 15 do próprio livro de Atos dos apóstolos, Paulo condena veementemente a prática da circuncisão? 

Lucas registra que alguns que desceram da Judeia até a Antioquia da Síria, ensinavam que se os irmãos não circuncidassem não seriam salvos (Atos 15:1).

Paulo e Barnabé tiveram uma grande contenta com eles em razão disso, o que levou inclusive, a uma reunião em Jerusalém, para discutir tal assunto, que foi o primeiro Concílio em Jerusalém (Atos 15:2-4).

Ao chegarem em Jerusalém e exporem o caso aos apóstolos e aos anciãos da Igreja, alguns da seita dos fariseus, logo foram dizendo que era sim necessários que os gentios circuncidassem e guardassem a lei de Moisés para serem salvos (Atos 15:5).

Depois da fala de Pedro e de Tiago, ficou decidido  não impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias:

“Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Bem vos vá” (Atos 15:29).

Mas, por que Paulo fez com que Timóteo fosse circuncidado, já que o próprio apóstolo se pronunciou tão fortemente contra a circuncisão?

Veja o que diz o Manual de Duvidas: “O ponto principal de Paulo em Gálatas pode ser resumido com suas palavras: “Se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará” (Gl 5:2).

Contudo, Paulo admite ter feito com que Timóteo se circuncidasse “por causa dos judeus daqueles lugares” (At 16:3). Isso não foi uma contradição ao seu próprio ensino? 

SOLUÇÃO: Mesmo que Paulo estivesse errado pelo que fez, isso não seria uma prova de que a Bíblia tenha errado em seu ensino, mas simplesmente de que Paulo errou.

O apóstolo, como qualquer outro ser humano, era sujeito ao erro. Como a Bíblia é a Palavra de Deus  ela não pode errar em nada do que ensina.

Além disso, a ação de Paulo, fazendo Timóteo circuncidar-se, não é necessariamente inconsistente com o que ele ensinou em Gálatas, já que os dois casos são diferentes.

Paulo se opunha violentamente a quem quer que fizesse a circuncisão como necessária para a salvação. Mas ele não se opôs a ela como proveitosa para a evangelização.

De fato, Paulo disse também: “Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei” (1 Co 9:20).

Entretanto, quando os judaizantes insistiram que “se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos” (At 15:1), então Paulo tomou uma obstinada posição contrária à circuncisão.

O Novo Testamento fala sobre a circuncisão do coração. Mas Moisés também já tinha profetizado isso há muito tempo: “O SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o SENHOR, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas” (Deuteronômio 30:6, ARA).

Paulo também confirma isso, escrevendo que o “judeu é quem o é interiormente, e circuncisão é a operada no coração, pelo Espírito, e não pela Lei escrita. Para estes o louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Romanos 2:29, NVI).

III – A IDOLATRIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

– Como já temos visto ao longo do trimestre, Corinto era uma cidade de grande atividade religiosa. Nela se encontravam templos das “deusas do amor” Afrodite e Ísis, como também, diante de sua condição de capital da província romana da Acaia, nela também se tinha uma repercussão de outros cultos a deuses greco-romanos, pois não ficava longe de outros centros religiosos como Elêusis, com seus “cultos órficos” e “misteriosos”.

– Assim, além da prostituição, disseminada por causa dos rituais e cerimônias em devoção às “deusas do amor”, um outro problema decorrente da convivência entre a igreja e o mundo aparecia: a idolatria.

– Corinto era uma cidade greco-romana e, como tal, adotava a religião pagã, com seus muitos deuses, o mesmo ambiente que havia trazido tanta tristeza ao apóstolo Paulo quando estivera em Atenas (At.17:16).

A idolatria é o primeiro degrau da degeneração do homem no pecado (Rm.1:21-23), resultado direto da arrogância e da presunção humanas, que acha poder viver independentemente de Deus (Gn.3:4-6).

– “Idolatria” é palavra de origem grega, “eidólolatreia”, cujo significado é “culto aos ídolos”. “Ídolo” (em grego, “eidólon”) é “imagem, simulacro, fantasma”.

O homem, querendo viver independentemente de Deus, não reconhecendo o senhorio do Criador de todas as coisas, torna-se “louco” e constrói “deuses” segundo a sua semelhança, segundo a sua imaginação, passando a venerá-los, a prestar-lhes culto. Achando-se “sábio” e “independente de Deus”, torna-se “louco” (Rm.1:22).

– A idolatria surge na história da humanidade quando os homens se negam a reconhecer a soberania divina, o que se dá em Babel, na comunidade única pós-diluviana (Gn.11:4).

Ali, o gesto de construir uma torre que fosse até os céus era a demonstração do que já havia no coração maligno dos homens, o desejo de construção de uma vida independente de Deus, onde o homem fosse “poderoso na Terra” (Gn.10:8). A rejeição de Deus por esta comunidade única, que é a origem

dos gentios, dá origem à idolatria que caracterizará a vida dos gentios até que a Terra venha a ser governada por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Dn.2:44,45).

– Ao escolher Abrão para formar um novo povo, pelo qual pudesse trazer a salvação à humanidade, diante da rejeição que deu origem à idolatria, Deus mostra-nos, claramente, que não havia “deuses” nem era possível a idolatria. Abrão adorava um único Deus e o fazia sem quaisquer imagens.

– Esta prática adotada por Abraão e seguida pelos demais patriarcas, foi explicitada quando do pacto entre Deus e Israel, no monte Sinai, quando o Senhor foi taxativo ao afirmar que os israelitas, enquanto propriedade peculiar de Deus entre os povos (Ex.19:5,6), não poderia ter “outros deuses diante dEle” (Ex.20:3; Dt.5:7), como também não podiam, de forma alguma, representar o Senhor por meio de imagens ou coisas similares (Ex.20:4,5; Dt.5:8,9).

– A grande diferença entre Israel e os demais povos da Antiguidade, admitida por todos os historiadores, ao longo dos séculos, era a existência de uma religião monoteísta, que reconhecia a existência de apenas um Deus, bem como a total falta de representação por imagens ou figuras desta Divindade.

Mesmo a adoção de rituais e símbolos, como os constantes do tabernáculo e do templo, eram apenas situações em que se invocava a presença do Senhor, não sendo, de modo algum, objetos venerados ou adorados.

– Israel, entretanto, já no deserto, mostrou como era difícil atender às exigências divinas em meio a um mundo que adotava a idolatria como base de seu “modus vivendi”.

Poucos dias depois de receber a lei, já enveredavam pelo caminho da idolatria, no episódio do bezerro de ouro, que era uma tentativa de representação do Deus de Israel por meio de uma imagem (Ex.32), algo que foi considerado abominável aos olhos do Senhor e que fez com que os israelitas perdessem a sua qualidade de “reino sacerdotal”, passando o sacerdócio a ser exercido pela tribo de Levi, que se manteve fiel ao Senhor (Ex.32:19-35; Dt.10:8).

Naquela oportunidade, morreram os primeiros israelitas da geração do êxodo, cerca de três mil pessoas. A idolatria já mostrava que sua consequência era a morte, por ser pecado grande diante de Deus (Ex.32:31)

– Ainda antes de entrar em Canaã, os israelitas tiveram um outro episódio lamentável de idolatria, que foi a participação nos sacrifícios e nas festas com as moabitas em Peor (Nm. 25:12-3), onde havia tanto prostituição, quanto idolatria, até porque um pecado chama o outro, visto que, via de regra, os cultos aos ídolos são acompanhados de sensualismo e de perversão sexual.

Não podemos nos esquecer que a idolatria é uma religiosidade baseada nos sentidos, nas emoções e que, diante de um quadro desta natureza, não é desarrazoado caminhar-se para a prostituição e para a impureza sexual, já que se está no mundo dos sentidos.

Naquela oportunidade, morreram vinte e quatro mil pessoas, completando-se, assim, a geração dos que deveriam morrer no deserto. Vemos, pois, que a morte dos israelitas incrédulos se iniciou com um culto idolátrico e terminou com outro, a nos indicar que a idolatria é extremamente abominável aos olhos do Senhor e gera a morte espiritual no meio do povo de Deus.

– Quando entrou na Terra Prometida, Israel foi solenemente advertido para que não praticasse a idolatria, que tanto caracterizava os moradores primitivos de Canaã (Dt.7:1-6), levando-nos a concluir que o que mais causara abominação ao Senhor a ponto de determinar a destruição daqueles povos (Gn.15:16) era a grande idolatria daquelas nações.

– A santidade do povo de Deus exigia a total destruição dos ídolos daqueles povos que habitavam Canaã como também uma total separação de todos os rituais e de todos os costumes daqueles povos.

Os filhos de Israel não poderiam, em hipótese alguma, aparentar-se com aquelas nações, pois, se o fizessem, acabariam por servir aos seus deuses e a cair na idolatria. Apesar desta

advertência feita tanto por Moisés, quanto por Josué (Js.23:12-16; 24:23), o povo não extirpou todos os moradores primitivos de Canaã e acabaram praticando a idolatria (Jz.2:11-14).

– A idolatria foi a causa de Israel ter sido retirado de Canaã, seja o reino das dez tribos do norte (II Rs.17:7-18), seja o reino das duas tribos do Sul (II Rs.21:10-15).

O cativeiro da Babilônia foi o remédio que Deus ministrou aos judeus (os habitantes do reino de Judá) para que se libertassem da idolatria, tanto que, após o cativeiro, os judeus passaram a ser praticamente imunes à idolatria, tendo rejeitado toda tentativa de assimilação cultural ao longo da história e, por causa disso, impiedosamente perseguidos até o dia de hoje (que o diga o sentimento antissemita crescente em todo o mundo).

Tanto é verdade que, em Seu ministério terreno, Jesus nunca censurou a idolatria do povo judeu, simplesmente porque eles não eram idólatras.

– No entanto, quando o Evangelho chega aos gentios, a idolatria era, sim, um problema a ser enfrentado. Deus não muda (Ml.3:6) e o mesmo Deus que, na lei, exigia separação da idolatria, era o Deus da graça que não aceitava a idolatria, nem tampouco a participação em cerimônias, rituais e festejos vinculados à idolatria.

IV – DEVEMOS FUGIR DA IDOLATRIA

– Em Corinto, quando os crentes receberam a “carta anterior” em que o apóstolo fala a respeito da necessidade de não se associar aos ídolos, imediatamente se discutiu a respeito das coisas sacrificadas aos ídolos, daí porque ter surgido o questionamento a respeito do assunto, que o apóstolo começa a esclarecer a partir do capítulo 8 da primeira carta aos coríntios.

– Por primeiro, cumpre observar que o apóstolo Paulo, ao iniciar o tratamento a respeito da idolatria, procura, de imediato, deixar de lado o “conhecimento humano”, a “ciência”, cujo efeito é tão somente “inchar” e não “edificar” (I Co.8:1).

– Quando vemos o apóstolo na carta aos romanos (que seria escrita posteriormente a esta carta aos coríntios), mostrar que a idolatria é resultado da decisão humana de viver sem Deus, de ser “independente de Deus”, vemos o motivo pelo qual o apóstolo, no início do tratamento do assunto, evita toda e qualquer “ciência”, todo e qualquer “conhecimento humano”.

– A idolatria está relacionada com a rebelião humana ao senhorio divino. Se vivemos hoje um revigoramento da idolatria, inclusive em meios ditos “evangélicos”, o que se tem é tão somente o resultado de uma decisão de se viver independentemente de Deus, de não se obedecer ao Senhor.

Paulo começa, de pronto, seu ensino mostrando que a “ciência”, o “conhecimento humano” só produz “inchaço”, ou seja, um “aumento de volume sem conteúdo”, uma “inflação”, i.e., um “crescimento aparente, que não tem qualquer conteúdo, um aumento do vazio”. É um “encher de vento”, é um “aumento enganoso”.

– Muito provavelmente, entre os crentes de Corinto, havia aqueles que defendiam uma “liberdade” dos servos do Senhor e, com base em tal “liberdade”, que outra coisa não era senão “libertinagem”, achavam-se aptos a participar seja de festejos pagãos, seja de tudo o que era sacrificado e ofertado aos ídolos, uma vez que “os ídolos nada eram” e, portanto, não havia porque temê-los ou levá-los em conta.

Só Deus existia e, portanto, tudo o que fosse sacrificado ao ídolo ou relacionado ao ídolo, não era coisa alguma, nada era, de modo que não fazia mal algum em comer daquilo que era sacrificado ao ídolo ou participar de tudo o que era relacionado ao ídolo.

– Este pensamento, baseado na lógica humana, dotado de “conhecimento teológico-científico”, muito provavelmente relacionado aos crentes do “partido de Paulo” (os “crentes liberais”) é, de imediato, afastado pelo apóstolo, que lembra que, na Igreja, não devemos estar preocupados com a “ciência”, mas, sim, com o “amor”. Não podemos ser presos ao “inchaço”, mas, sim, temos de ter como objetivo a “edificação”.

– A “turma do ‘não faz mal’ “ não era novidade no meio do povo de Deus. Embora estivessem eles agora em Corinto a perturbar o crescimento autêntico e genuíno do povo de Deus, também haviam sido os responsáveis pela abominação que tomou conta dos sacrifícios ao templo nos dias do profeta Malaquias, muito provavelmente uns cem anos depois da restauração da saúde espiritual do povo de Israel por intermédio de Esdras e Neemias (Ml.1:7-10).

– Não resta dúvida de que o ídolo nada é, o próprio apóstolo Paulo o diz em seu ensino aos coríntios (I Co.8:4), mas, não levar em consideração o que representa a idolatria, o que é participar de cultos idolátricos, uma verdadeira afronta à soberania divina, um ato de rebelião contra o Senhor, é tornar desprezível a mesa do Senhor, é fazer “tabula rasa” da santidade, é desconsiderar a Deus, o que não se pode admitir.

Os “liberais”, ao defenderem a participação nas coisas sacrificadas aos ídolos por dizerem que os “ídolos nada são”, também estão desprezando o Senhor, nivelando, “por baixo”, Deus com aquilo que nada é, um verdadeiro sacrilégio.

– Os dias em que vivemos são dias em que proliferam estes “ensinos liberais”, que não veem problema algum de o crente participar daquilo que é dedicado aos ídolos. Já não são poucos os crentes que organizam, em suas próprias igrejas locais, festas e cerimônias mundanas, algumas vezes as rotulando de outros nomes (como se chamar a rosa por algum outro nome o fizesse menos cheirosa…), seja mesmo tão somente apondo a tais festejos o rótulo de “evangélico” ou “gospel”, como se isso também conferisse santidade a tais abominações.

Temos, assim, já “festas juninas gospel”, “blocos carnavalescos evangélicos”, “trios elétricos gospel”, “festas das nações” ou “festas dos estados” (variantes das quermesses católico-romanas) etc. etc. etc.

No entanto, o apóstolo manda-nos estar totalmente separados deste tipo de coisa, porque não podemos nos associar com os idólatras.

– O “conhecimento humano” não pode guiar o nosso entendimento das coisas relacionadas com Deus. Embora o Senhor nos tenha feitos dotados de razão e o homem deva pensar, não é através dos nossos pensamentos que atingiremos as verdades espirituais, mas pela revelação que o Senhor nos dá, pois só quem tem o Espírito de Deus é que pode compreender as coisas relativas a Deus (I Co.2:10-12).

Por isso, não podemos nos esquecer de que, entre a razão humana e o que se encontra nas Escrituras, devemos ficar com o que está na Bíblia Sagrada (Is.55:8,9).

– Devemos aceitar aquilo que Deus nos manda fazer, mesmo que não entendamos o sentido daquilo que nos é ordenado (Jo.13:7), pois temos de guardar tudo quanto o Senhor nos ordenou, se é que realmente O amamos (Jo.14:21,23).

O relacionamento com Deus é feito com base no amor e quem é nascido de Deus ama a Deus, podendo, então, observar tudo quanto o Senhor manda, sem questionamentos ou dúvidas que para nada aproveitam (I Co.8:3; I Jo.4:8). Uma das características do nascido de Deus é a de não cometer pecados (I Jo.3:9).

– Assim, embora possamos entender que, se há um só Deus, os ídolos nada são, nada representam, nem por isso participaremos das coisas a eles sacrificadas, nem tampouco dos seus sacrifícios ou das celebrações em sua honra e louvor, porque o Senhor nos manda que não façamos isto, que não participemos de tais coisas. O mandamento bíblico é “fugir da idolatria” (I Co.10:14).

– Da mesma maneira que o apóstolo havia ordenado aos crentes de Corinto que “fugissem da prostituição” (I Co.6:18), agora ordena aos crentes que também fugissem da idolatria. “Fugir” é “evitar”, “pôr-se a salvo”, “escapar”, “abandonar”.

O verdadeiro cristão não pode ter outra atitude senão a de evitar, de abandonar e de se manter distante de tudo aquilo que signifique idolatria.

– Somos santos e, portanto, temos de estar separados de tudo quanto é pecado. A idolatria é pecado, porque não podemos ter “outros deuses” além do nosso Deus.

Embora estes “outros deuses” nada sejam, pois há um só Deus, o fato é que a rebelião do homem contra Deus troca a glória do único e verdadeiro Deus por outros “deuses e senhores”, que nada são, mas ocupam o lugar de Deus na vida do homem. Como devemos ser santos, não podemos, pois, praticar idolatria nem consentir com ela (I Co.8:5,6).

– A proibição da idolatria não esteve vinculada apenas à dispensação da lei, mas é algo que acompanha a humanidade desde o seu nascimento.

Os primeiros pais pecaram porque quiseram viver independentemente de Deus, erigindo-se em verdadeiros “ídolos” e, por isso, o “eu” é, hoje em dia, o principal e mais perigoso ídolo que pode existir.

Quando nos colocamos como centro de nossa existência; quando queremos nos satisfazer e pensar em nós mesmos, não se importando com o que Deus diz a respeito de nossas ações e atitudes; quando queremos ser “donos do nosso nariz”, “donos da nossa vida”, estamos a praticar a “egolatria”, ou seja, a “idolatria do próprio eu”.

– Em o Novo Testamento, não temos apenas neste ensino de Paulo a proibição da idolatria, mas João, quando recebeu a revelação do que está para acontecer, foi claro ao nos mostrar que ficarão de fora da cidade santa os idólatras (Ap.21:8; 22:15), tendo, também, mostrado que uma das características dos rebeldes durante o período da Grande Tribulação é, precisamente, o fato de serem idólatras (Ap.9:20).

Não há, pois, como deixar de reconhecer que a idolatria continua sendo proibida mesmo depois da lei de Moisés.

– Não praticar a idolatria é reconhecer que só há um Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por Ele (I Co.8:6).

Assim, muito mais que não se dobrar perante imagens ou ícones, não praticar idolatria envolve algumas atitudes profundas, provenientes de nosso homem interior. Senão vejamos.

– Em primeiro lugar, não ser idólatra é reconhecer de que há um só Deus, o Pai. Devemos reconhecer que nada no mundo pode ocupar o primeiro lugar em nossas vidas, senão o próprio Deus, porque dEle é tudo.

Como o salmista foi bem claro ao afirmar: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl.24:1).

Se assim é, como, então, alguns “crentes” andam dizendo por aí que o diabo é dono do mundo porque o homem, a quem o Senhor o deu, entregou o domínio do mundo para Satanás quando pecou? Como crer numa coisa dessas, se a Bíblia diz que tudo é de Deus?

– Se Deus é o dono de tudo, como, então, alguns “crentes” estão a exigir de Deus a “restituição do que é meu”?

Se Deus é dono de tudo, o que restou para ser “nosso”? Admitir que alguma coisa nos pertence, que temos direito a algo, não seria negar o senhorio absoluto de Deus sobre todas as coisas, inclusive nós mesmos?

– Se Deus é o dono de tudo, como admitir que não nos rendamos ao Seu senhorio e tenhamos por objetivo de nossa sobrevivência tão somente fazer a Sua vontade? Jesus nos ensina que a nossa vida deve ser fazer a vontade do Pai (Jo.4:34).

Como, então, alguns crentes têm dito que “Deus é obrigado a satisfazer-lhes a vontade”? Como entender que alguns crentes entendam que possam “exigir” coisas de Deus, como também “colocar Deus contra a parede”? Não é isto idolatria?

-Em segundo lugar, não ser idólatra é “viver para Deus” (I Co.8:6). Temos vivido para o Senhor? Ou estamos a buscar os nossos interesses e não os de Cristo Jesus (Fp.2:21)? “Viver para Deus” é ter como finalidade, como objetivo satisfazer e agradar a Deus.

Entretanto, muitos dos que cristãos se dizem ser satisfazem única e exclusivamente o seu ventre, que se torna o seu deus (Fp.3:19), pois só pensam nas coisas terrenas, sendo inimigos da cruz de Cristo.

– Quantos não estão a buscar a satisfação de seus desejos, de suas paixões, de seus instintos, pouco se importando com o que Deus quer que façamos?

Se tiverem “do bom e do melhor”, se saciarem seu apetite desordenado, com bebedeiras, glutonarias e prostituição, estão contentes e se sentem “realizados”. São idólatras, que adoram o seu próprio ventre, que estão sob o domínio do “império dos sentidos”, vivendo completamente vendidos sob o pecado e sob a carne.

– “Viver para Deus” não é “viver para o dinheiro” ou “viver para as riquezas”. Jesus foi bem claro ao mostrar que quem serve a Mamom, não pode servir a Deus (Mt.6:24).

Muitos são os que trabalham noite e dia, dia e noite, para acumular riquezas, para manter-se com suas riquezas em alta. Muitos são os que se vendem e tudo fazem para amealhar o vil metal e ainda o fazem em nome de Deus, numa abominação que não ficará impune (II Pe.2:3). Seu deus é o dinheiro, amam o dinheiro, amor este que é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10).

– “Viver para Deus” não é “viver para os benefícios de Deus”. Muitos não adoram a Deus, mas, sim, estão adorando os benefícios que Deus nos dá. Assim, adoram a fama, a posição, a bênção de Deus e não, o Deus da bênção.

Quantos não servem a Deus somente enquanto desfrutam de Suas bênçãos? Quando chega a prova, a dificuldade, desaparecem, abandonam a Deus, porque não adoravam a Ele, mas o que Ele podia proporcionar. Isto também é idolatria!

– Em terceiro lugar, não ser idólatra é “ter um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por Ele”. Ter a Jesus como único Senhor é obedecer-Lhe, é fazer a Sua vontade. Jesus ensinou-nos que se quisermos segui-lO devemos renunciar a nós mesmos, tomar a nossa cruz e segui-lO (Mt.16:24).

Negar a nós mesmos (Mc.8:34; Lc.9:23) é passar a fazer somente aquilo que o Senhor nos mandar. É abrirmos mão de nossas vontades, de nossos desejos, para fazer aquilo que o Senhor Jesus ordenar.

– Jesus exige isto de cada um de Seus servos, a ponto de ter dito que quem não renunciar, não pode ser considerado Seu discípulo (Lc.14:33).

Quem se diz servo de Cristo Jesus, não pode agradar aos homens, mas unicamente a Cristo (Gl.1:10). Não tem vontade própria, mas faz aquilo que Ele manda (Jo.15:14). Somos escolhidos por Cristo para que façamos aquilo que Ele tem determinado (Jo.15:16). Não mais vivemos, mas é Cristo que vive em nós (Gl.2:20).

– Todas as coisas que existem foram feitas por Jesus (Jo.1:3) e o propósito de Deus é congregar todas as coisas por intermédio de Jesus (Ef.1:10). Assim, se não vivermos por Cristo e para Cristo, não teremos como nos unir eternamente ao Pai, porque Ele é o caminho (Jo.14:6).

– A compreensão da exaltação suprema de Cristo (Fp.2:9-11) impede-nos de ser idólatras, pois sabemos que só Cristo será tudo em todos (I Co.15:28; Cl.3:11), de modo que, se nos apartamos do Senhor Jesus, se Ele não é nosso Senhor, não há como termos a vida eterna (Jo.17:3).

– Há, porém, na atualidade, pessoas que se dizem cristãs, mas que não estão crucificadas com Cristo.

Muito pelo contrário, a nada renunciaram, tudo continuam a fazer segundo seus desejos e paixões, achando que o Senhor tem de lhes compreender, que o Senhor, por Seu infinito amor, tudo entende e tudo aceita. Jesus tem de ser nosso Senhor, não na fachada ou na placa do templo onde Ele supostamente é cultuado, mas em nossos corações, no templo do nosso corpo.

– Se Jesus é o nosso Senhor, como é que o Seu templo, que é o nosso corpo, pode estar servindo de instrumento à prostituição, inclusive por meio de uma vestimenta indecente, onde haja mais nudez do que vestido?

Se Jesus é o nosso Senhor, como que é que o Seu templo, que é o nosso corpo, pode estar servindo de instrumento para a idolatria, mediante o uso de tatuagens, piercings e tantas outras coisas postas sobre ou no corpo, segundo os rituais, cerimônias e práticas de adoração a ídolos?

V – NÃO PODEMOS PARTICIPAR DO QUE É SACRIFICADO AOS ÍDOLOS

– Devemos fugir da idolatria (I Co.10:14) e isto implica em, mesmo sabendo que o ídolo nada é, não participarmos de nada que seja sacrificado ao ídolo.

Em Corinto, as carnes consumidas pela população, via de regra, tinham sido sacrificadas aos deuses e, depois, eram levadas para o mercado, a fim de ser comercializadas.

Desta forma, sabia-se que tudo o que era vendido nos açougues da cidade era proveniente dos templos, templos estes, lembremos, dedicados às “deusas do amor”, onde se praticava a prostituição cultual, em cujas cerimônias, havia os sacrifícios e o consumo de parte da carne que era, depois, comercializada na cidade.

– Quando o apóstolo Paulo disse aos crentes em Corinto, na “carta anterior”, que eles não deveriam se associar com os que se prostituíam, surgiu uma fundada dúvida entre os crentes de Corinto: poderiam eles, então, comer a carne que havia sido sacrificada aos ídolos nos templos pagãos? Esta proibição de associação incluía também o consumo de tudo aquilo que era sacrificado aos ídolos?

– Ao falar sobre a prostituição, tema por nós já estudado, o apóstolo foi bem claro ao mostrar que os crentes não mais poderiam participar das cerimônias e rituais nos cultos de Afrodite e de Ísis, porque deveriam “fugir da prostituição”, não podendo, assim, ter relacionamento íntimo com as prostitutas cultuais (I Co.6:13).

– Ao falar sobre as coisas sacrificadas aos ídolos, o apóstolo Paulo, embora confirmasse que o ídolo nada era, foi enfático ao mostrar que os sacrifícios feitos aos ídolos não o eram para os ídolos, mas, sim, para os demônios (I Co.10:20).

Paulo não disse que os deuses dos pagãos eram demônios, como, aliás, inadvertidamente, muitos estão a ensinar por aí.

Os ídolos nada são, não existem, são fruto da imaginação obnubilada pelo pecado. Assim, nem os deuses greco-romanos, nem os orixás dos cultos afro-brasileiros, nem os santos católico-romanos ou as milhares de divindades hindus representam alguma coisa. São um nada.

– No entanto, a idolatria é movida pela rebelião contra Deus, como bem mostra o mesmo apóstolo em sua carta aos romanos. Por trás da idolatria, está o sentimento de autossuficiência do ser humano, o engodo satânico de que pode o homem viver independentemente de Deus.

Ora, o pecado de rebelião, já dizia o profeta Samuel, é como o pecado de feitiçaria (I Sm.15:23). Feitiçaria é a utilização de hipotéticas forças sobrenaturais com finalidade de adivinhação e de más intenções, ou seja, é a invocação de poderes sobrenaturais (por isso, aliás, a palavra “feitiço” tem o significado de “não natural”, de “artificial”) para se adivinhar ou se fazer o mal. Quem tem tais poderes no Universo? As hostes espirituais da maldade (Ef.6:12).

– Assim, quando se pratica a idolatria, está-se a invocar os poderes demoníacos, a “força do inimigo” (Lc.10:19) e é por esta razão que quando se está diante de uma prática idolátrica, está-se diante de uma invocação de demônios.

Os ídolos nada são, mas a idolatria é uma invocação de demônios, que se apresentam em todo e qualquer culto idolátrico, que estão presentes em toda cerimônia, ritual e sacrifício feito aos ídolos (i Co.10:20).

– Se o que se sacrifica, sacrifica-se aos demônios, como pode um crente participar de um sacrifício desta natureza? Pode alguém que faz parte do corpo de Cristo, que é santo, que participa da mesa do Senhor, no ato da ceia, ter parte, também, com os gentios na mesa dos demônios? Evidentemente que não (I Co.10:21)!

– Não podemos participar, pois, do que é sacrificado ao ídolo, porque somos salvos, separados do pecado, participantes da natureza divina, que havendo escapado da corrupção que, pela concupiscência, há no mundo, temos recebido grandiosíssimas e preciosas promessas da parte de Deus (II Pe.1:4).

– Neste ponto, o apóstolo mostra que a participação no sacrifício não abrange apenas o próprio ato de sacrificar.

Quando vamos até a lei de Moisés, vemos que a dinâmica dos sacrifícios pacíficos apresentava basicamente duas partes:

em primeiro lugar, havia o sacrifício propriamente dito, em que o animal era morto pelo sacerdote, partido e queimado em holocausto ao Senhor no altar (Lv.1,3 e 4);

em segundo lugar, havia a refeição do que havia sobejado do sacrifício, ou seja, o que não era queimado, que podia ser consumido pelos sacerdotes (Lv.2:10; 6:16-18; 7:15-18; Nm.18:9-14).

– Como se não bastasse isso, a lei de Moisés também determinava que, durante as festividades, o povo comesse e bebesse diante do Senhor, trazendo mantimentos que fizessem parte dos dízimos do terceiro ano ou, então, comprando com dinheiro adquirido da venda daqueles dízimos diante do tabernáculo ou do templo, quando da sua ida à presença do Senhor, para se alegrar diante de Deus (Dt.14:22-26; Ne.8:10-12).

– Não é por outro motivo, aliás, que, até hoje, os israelitas consideram a refeição como um ato sacrificial. “…Para os judeus religiosos, o comer e o beber nunca significaram, tão-somente, a mera gratificação sensorial ou o simples apaziguamento da fome ou da sede, como o era para os outros povos; constituíam, na verdade, um rito religioso.(…).

Não há nada que estimule mais o estabelecimento de relações amistosas entre os indivíduos do que a experiência do comer e do beber em conjunto; as leis rabínicas proibiam aos judeus essa espécie de convívio social nos lares dos gentios, pois era certo que lá comeriam alimentos terefah ou ‘proibidos’ (…).

A razão da existência da lei contra o partilhar do pão com os não-judeus em seus lares era explicada, de maneira a mais franca, no Talmud:

‘Não devemos comer do pão deles pois que seremos levados a beber o vinho deles. Não devemos beber o vinho deles porque podemos ser levados a casar com um deles, e isso só nos levará a adorar seus deuses.’…” (AUSUBEL, Nathan. Leis dietéticas. In: A JUDAICA, v.5, pp.448-9).

– A participação nas coisas sacrificadas aos ídolos representa, assim, ensina-nos o apóstolo, o mesmo que participar dos sacrifícios aos ídolos e, como vimos, é participação em sacrifícios feitos, na verdade, a demônios, embora os ídolos não sejam demônios, mas a idolatria seja invocação a demônios.

– Não é atitude de alguém que está em comunhão com Deus, portanto, participar seja de sacrifícios aos ídolos, seja do que é sacrificado e dedicado ao ídolo.

Em Corinto, praticamente toda a carne que era consumida havia sido, antes, dedicada a algum ídolo nos diversos templos da cidade, o que impedia o crente de poder consumi-la.

De igual modo, nos dias de hoje, não pode o cristão participar daquilo que tiver sido oferecido ou dedicado a algum ídolo em alguma festividade idolátrica ou em algum comércio dedicado a algum ídolo.

– O mandamento bíblico que nos manda fugir da idolatria também nos impede de participar daquilo que é sacrificado ao ídolo.

Não se pode, portanto, consumir tudo aquilo que foi dedicado ou oferecido a algum ídolo, pois se trata de algo que foi objeto de invocação a demônios e que, portanto, representa contaminação.

– Entretanto, ensina o apóstolo, não devemos ter “medo” daquilo que é sacrificado aos ídolos, como se o maligno pudesse nos fazer mal. O apóstolo é bem claro ao nos mostrar que o que nos faz agradáveis a Deus não é a comida ou a bebida, mas, sim, a nossa obediência (I Co.8:8).

– Não devemos participar do que é sacrificado ao ídolo não porque o que é sacrificado ao ídolo tem algum poder maligno que possa nos atingir. A Bíblia ensina-nos que “o maligno não nos toca” (I Jo.5:18), que “toda a força do inimigo não nos faz mal algum” (Lc.10:19), como também que, entre os sinais dos que creem está o de “se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum” (Mc.16:18).

– Todavia, quando somos salvos, conservamo-nos a nós mesmos (I Jo.5:18), mantemo-nos irrepreensíveis em todo o nosso ser (I Ts.5:23) e é desta circunstância, que nos faz separados do pecado, em santidade, que encontramos o esconderijo do Altíssimo, no qual ninguém nos pode atingir (Sl.91:1-7).

– Quando, porém, deliberadamente, em nome de um “super-poder” cristão (como, certamente, faziam os integrantes do “partido de Paulo” na igreja em Corinto), participar das coisas sacrificadas aos ídolos, porque os “ídolos nada são”, sofreremos, sim, contaminação.

Não que haja “poderes malignos” nas coisas sacrificadas aos ídolos, mas a nossa participação consciente e deliberada em tais sacrifícios, em tais invocações a demônios, faz-nos perder a santidade, faz-nos ser desobedientes à Palavra de Deus e, quando não fazemos a vontade do Senhor, quando não Lhe obedecemos, pecamos e quem peca se torna escravo do pecado, sujeito, pois, ao seu domínio (Gn.4:7; Jo.8:34).

– Quando deliberadamente entristecemos o Espírito Santo (Ef.4:30), Ele Se afasta de nós e nos esvaziamos da Sua presença e o inimigo pode vir a ocupar, com mais sete demônios, esta casa vazia, causando imenso estrago (Mt.12:43-45; Lc.11:21-26), estrago este que pode vir a ser até irreversível (Hb.6:4-6).

– Eis o motivo pelo qual o apóstolo mostra que não há qualquer pecado na participação inconsciente das coisas sacrificadas aos ídolos. Se se der algo à mesa para comermos que não há sequer como desconfiarmos que se trata de algo sacrificado ao ídolo, somos inocentes, não praticamos pecado, pois não há pecado sem a mínima consciência (I Co.10:25,27).

– Ao contrário do “partido de Cefas”, que, muito provavelmente, à maneira judia, não permitia que o crente comesse com algum infiel, o apóstolo Paulo mostra que somos livres, podemos ter uma vida social.

Na verdade, temos de estar no mundo, temos de conviver com as pessoas, pois só assim seremos “sal da terra” e “luz do mundo” (Mt.5:13-16). Não há, pois, qualquer pecado quando nos assentamos à mesa com pessoas incrédulas e com elas tomamos uma refeição.

– No entanto, o apóstolo é bem claro ao afirmar que devemos manter a inocência, ou seja, não devemos perguntar, por causa da consciência, de onde vem a comida, nem se ela foi, ou não, sacrificada ao ídolo.

Se tivermos esta consciência, não poderemos participar do que é sacrificado, pois aí já não seremos inocentes.

Por isso, diz o apóstolo, comamos de tudo que se puser na mesa, não perguntando a sua origem, a fim de que não venhamos a ter de recusar a refeição, gerando um constrangimento social, que, entretanto, será inevitável se tivermos este conhecimento.

– Naturalmente que o ensino do apóstolo dá aos coríntios deve ser compreendido dentro do que já havia sido deliberado no chamado “Concílio de Jerusalém”, que ocorrera no ano 49, ou seja, cinco ou seis anos antes de Paulo escrever esta epístola, em que os crentes gentios já haviam sido orientados a se abster do consumo de sangue, da carne sufocada e do que fosse sacrificado aos ídolos (At.15:29).

O apóstolo está, pois, a repetir o que havia sido deliberado pela igreja, em decisão que não era humana, senão divina (At.15:28).

– Assim, embora não se deva perguntar o que se põe diante da mesa, por causa da consciência, o crente, naturalmente, não irá participar daquilo que, de antemão, sabe que não pode, ou seja, de sangue, da carne sufocada, como, também, em termos de bebida, não poderá se embriagar com tudo que contiver álcool (Lv. 10:9; Pv.20:1; 31:4; Ef.5:18; Ap.1:6).

– Mas, além do fato de que participar do que é sacrificado ao ídolo é desobediência à Palavra de Deus, o apóstolo também nos faz ver que a participação das coisas sacrificadas aos ídolos deve, também, ser analisada sob o prisma do escândalo ao fraco na fé.

– Em ensino que repetirá na carta aos romanos, Paulo mostra aos coríntios que havia, entre eles, aqueles que, por costume, continuavam a comer coisas sacrificadas aos ídolos e que, por causa disto, achavam-se contaminados, indignos de servir a Deus, porque ainda atribuíam aos deuses greco-romanos algum poder, algum valor (I Co.8:7).

– Percebemos, nesta argumentação do apóstolo, que ele bem sabia, como antigo pastor daquela igreja, que, entre os crentes não há o mesmo nível de espiritualidade.

Em toda igreja local, independentemente do tempo de conversão dos crentes, sempre há os “fracos”, aqueles que não têm conhecimento de Deus, que não tiveram ainda Cristo formado neles (Gl.4:19).

– Como afirmou, na Idade Média, o escritor cristão João da Escada (ou João Clímaco, que acabou sendo canonizado pela Igreja Romana), a vida espiritual é uma “escada”, com diversos degraus, que não são escalados de uma vez só nem na mesma velocidade por todos os homens.

Pelo contrário, há dias em que subimos alguns degraus; outros, em que estacionamos e momentos mesmo em que descemos alguns, num retrocesso espiritual.

Aos que são mais maduros espiritualmente, cabe ter cuidado dos que manquejam, dos que têm dificuldades para subir, usando do amor, a fim de que não venhamos a ser “pedras de tropeço” dos fracos na fé, a fim de que não venhamos a ser “instrumento de escândalo”.

– Jesus, certa feita, disse que os escândalos são inevitáveis, mas que a situação daquele por quem veio o escândalo é extremamente triste, pois melhor seria que a pessoa atasse uma pedra no pescoço e se jogasse no mar do que se torne um instrumento de escândalo no meio do povo de Deus (Mt.18:6,7).

– O apóstolo diz que o maduro espiritual não pode participar das coisas sacrificadas aos ídolos por causa dos fracos na fé, daqueles que ainda atribuem algum poder ou valor aos ídolos, que ainda não entenderam que os ídolos nada são, que os ídolos nada representam.

Não podemos escandalizar os mais fracos e, por causa disso, devemos nos abster de participar de qualquer coisa que seja sacrificada aos ídolos, a fim de que contribuamos para o aperfeiçoamento espiritual dos irmãos que ainda não têm o devido conhecimento da Palavra de Deus (Rm.14:21).

– Num país como o Brasil, onde a idolatria e a feitiçaria são muito fortes, é fundamental que compreendamos esta realidade cultural e evitemos toda e qualquer prática que induza o fraco na fé a pensar que estamos a participar de coisas demoníacas, a nos contaminar com “coisas do diabo”.

Muitos são os crentes que, tendo vindo seja do romanismo, seja dos cultos afro-brasileiros, ainda atribuem, por ignorância, algum poder a santos, beatos, orixás, guias e tantos outros ídolos e o ideal

é que não permitamos a participação do que lhes é sacrificado, em hipótese alguma, nem tampouco adotemos condutas que pareçam consentir com estas coisas.

– É, pois, muito triste vermos igrejas e denominações adotando práticas idolátricas, muito similares aos dos idólatras, dando a impressão de que não há problema algum entre o que é feito pelos gentios e o que é feito pela igreja local.

Que diferença há entre certas “festas” criadas pelos “iluminados” (normalmente com finalidade de arrecadação) e as “quermesses” tão tradicionais entre os romanistas?

Como explicar a crentes fracos que não se deve participar de quermesses, porque tudo aquilo é dedicado a um ídolo?

Que diferença há entre certos “rituais”, certas “campanhas” de certas igrejas e denominações e as oferendas e rituais dos cultos afro-brasileiros?

Como explicar que o sal grosso, a arruda, a rosa e a água de um destes “eventos pseudoevangélicos” são diferentes daquilo que é feito nos “trabalhos” dos espiritualistas afro-brasileiros?

– Por isso, devemos ensinar que não se deve participar de festas juninas, de quermesses, que não se devem consumir produtos de determinados estabelecimentos comerciais (inclusive de ambulantes) situados em lugares onde, certamente, tudo é oferecido previamente a ídolos, que não se devem consumir doces entregues às crianças no dia de Cosme e Damião (27 de setembro), comer “os pães de Santo Antônio” e tantas outras práticas próprias da idolatria.

Devemos, também, evitar a frequência a locais onde se realizam estes festejos, inclusive nas partes indiretamente ligadas aos festejos religiosos, pois tem sido comum que os governos aproveitem a festividade religiosa para alugar a comerciantes locais na cidade, com intenção de arrecadação e para implemento do comércio local, atitudes que não estão ligadas ao culto religioso idolátrico em si mas que podem gerar confusão e escândalo.

– Se assim não agirmos, estaremos induzindo os fracos na fé a comer das coisas sacrificadas aos ídolos (I Co.8:10), fazendo-o não perceber a diferença que existe entre servir a Deus e não servir, o que o levará, inevitavelmente, à perdição eterna, pois sem noção de santificação, não se pode ver o Senhor (Hb.12:14).

Seremos, assim, a razão pela qual o fraco na fé se desviará, desprezaremos o fato de que Jesus também morreu por ele (I Co.8:11).

– Tal atitude, proveniente de nossa “maturidade espiritual”, de nosso “conhecimento de Cristo” é chamada pelo apóstolo de “pecado contra Cristo”.

Não se trata senão de um “inchaço”, não de uma “grandeza espiritual”, porquanto a vaidade humana, o seu entendimento que se acha superior aos outros, faz com que haja doença e morte no meio do povo de Deus e morte não provém de Deus, mas é algo que quem está a fazer é o inimigo de nossas almas (Jo.10:10).

Por nossa suposta “maturidade”, mandaremos almas para a perdição, almas que nos serão cobradas e que podem custar até a nossa salvação. Vale a pena nos pormos contra o Senhor Jesus? Pensemos nisto!

– Tudo o que fazemos deve ter por objetivo a glorificação do nome do Senhor (I Co.10:31). Devemos ter uma vida irrepreensível diante de todos os homens, seja os gentios, seja os judeus, seja a igreja (I Co.10:32).

Não devemos querer agradar a nós mesmos, mas devemos, antes, agradar a Cristo e Cristo quer que todos os homens se salvem e, por isso, devemos agir de maneira a que todos se possam salvar (I Co.10:33). Crês tu isto?

Adaptado por Adauto Mattos.

REFERÊNCIAS:

https://www.portalebd.org.br/classes/jovens/6538-licao-12-da-circuncisao-e-dos-alimentos-sacrificados-aos-idolos-ii

Manual de Duvidas, Enigmas e Contradições da Bíblia

Vídeo: https://youtu.be/M4mB2VufFV4

Glória a Deus!!!!!!!