A comunhão com o Espírito Santo faz nascer em nós sete virtudes, que nos tornam ainda mais semelhantes a Cristo Jesus.
Texto áureo
“E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, e o Espírito de sabedoria e de inteligência, e o Espírito de conselho e de fortaleza, e o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor.” (Is.11:2)
INTRODUÇÃO
– Como complemento ao estudo dos dons espirituais e ministeriais, analisaremos os “sete Espíritos de Deus”, que entre alguns teólogos, principalmente romanistas, são chamados de “dons do Espírito Santo”, o que gera alguma confusão quando se estuda a doutrina dos dons, como estamos a fazer neste trimestre.
– A comunhão com o Espírito Santo faz nascer em nós sete virtudes, que nos tornam ainda mais semelhantes a Cristo Jesus.
I – A COMUNHÃO COM O ESPÍRITO SANTO
– O pecado fez com que o homem perdesse a comunhão com Deus, o seu Criador. Feito para conviver com o Senhor, tanto que, em toda viração do dia, o Senhor vinha Se encontrar com o primeiro casal (Gn.3:8), ao pecar, ocorreu uma separação entre Deus e o homem (Is.59:2), que é a morte já prevista pelo próprio Deus em caso de desobediência (Gn.2:17).
– Esta perda de comunhão gerou uma inimizade entre Deus e o homem (Gn.3:15; Tg.3:4), inimizade esta que somente seria desfeita com a vinda do Salvador, da “semente da mulher”, do Cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo (Jo.1:29).
– Uma das consequências desta separação foi a impossibilidade de o Espírito Santo vir a habitar no homem, porquanto não pode haver convivência entre Deus e o pecado, pois Deus é santo (Lv.11:44,45; I Pe.1:16), atributo que, de tão relevante, é aclamado incessantemente pelos serafins diante do trono de Deus (Is.6:1-3).
– Por isso, a partir da queda do primeiro casal, o Espírito Santo tão somente visitava alguns homens, manifestando-Se esporadicamente, para indicar à humanidade que estava a implementar a Sua promessa de redenção (Hb.1:1).
– Esta atuação do Espírito Santo é figurada na primeira ação da pomba na arca de Noé (Gn.8:8,9), quando a ave não encontrou pouso na terra, retornando para a embarcação. O Espírito Santo não encontrava onde pudesse habitar na humanidade, já que todos haviam pecado e destituídos estavam da glória da Deus (Rm.3:23).
– Com a vinda do Senhor Jesus, entretanto, isto iria se modificar. Por primeiro, Cristo foi gerado por obra e graça do próprio Espírito Santo (Lc.1:35), sendo o último Adão (I Co.15:45), de modo que não tinha a natureza pecaminosa que foi transmitida a todo o gênero humano.
– Por segundo, ao contrário dos nossos pais, Jesus nunca pecou (Jo.8:46; Hb.4:15), de modo que pôde, como inocente, assim declarado pelos Seus próprios algozes (Lc.23:14,22), assumir a culpa de toda a humanidade, pagando com o Seu sangue o preço dos nossos pecados (Rm.3:25; I Co.15:3; II Co.5:14,15; I Jo.2:2; 4:10).
– Sem alguém que não tinha e nunca teve pecado, Jesus, ao contrário do restante dos homens, estava em comunhão com o Espírito Santo, não fora atingido pela morte, pela separação com Deus, daí porque João afirmar que n’Ele estava a vida (Jo.1:4) e o próprio Jesus ter dito ser Ele a vida (Jo.14:6).
– Por isso mesmo, o profeta Isaías já havia vaticinado que o Cristo seria lugar de repouso do Espírito Santo (Is.11:2) e este Espírito atuaria plenamente, em sua totalidade, e a prova disso é que o profeta diz que pousariam sobre o Messias “sete Espíritos”, a saber: o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria, o Espírito de inteligência, o Espírito de conselho, o Espírito de fortaleza, o Espírito de conhecimento e o Espírito de temor do Senhor.
– Não podemos nos esquecer de que “sete” nas Escrituras nem sempre significa “seis mais um”, mas, por vezes, tem o significado de “perfeição”, de “plenitude”.
É a precisa lição do pastor José Serafim de Oliveira, que vale a pena aqui transcrever: “…Mas, convém esclarecer que nem sempre o número sete, na Bíblia, significa exatamente seis mais um. Sempre que esse número aparece, é bom analisa-lo à luz do contexto, porque, tanto pode significar sete mesmo (6+1) como também pode significar (e isso é importante) ‘plenitude’, ‘perfeição’(…)
Por outro lado, os sete Espíritos mencionados no versículo 4 [Ap.1:4, observação nossa] é uma expressão simbólica. Fala da vida plena, de vida abundante na presença de Deus…” (A revelação do Apocalipse. 2. ed. ampliada, pp.13,15).
– O profeta está, portanto, a indicar que o Espírito Santo encontrou um lugar para pousar na Terra, ou seja, na pessoa humana de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo que, por não ter pecado, podia, sim, ser templo do Espírito Santo, ser habitação dessa Pessoa Divina. Por isso mesmo, o próprio Jesus chama Seu corpo de templo (Jo.2:19-22).
– Aqui, voltando à passagem bíblica da pomba da arca de Noé, temos figurada esta situação na segunda saída da pomba da arca, quando a pomba, ao final da tarde, voltou para a embarcação trazendo em seu bico uma folha de oliveira, que é símbolo de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que, completamente envolvido pelo Espírito Santo, desde a Sua geração, como homem, trouxe a plenitude do Espírito Santo para a humanidade (Gn.8:10,11).
– Depois de ter consumado a obra que o Pai Lhe deu a fazer (Jo.17:4), morrendo na cruz no lugar da humanidade e pagando o preço dos nossos pecados, tirando o pecado do mundo, o Senhor pôde dar o Espírito Santo aos Seus discípulos (Jo.20:22) e a Igreja, que é o corpo de Cristo (I Co.12:27), passou a ser o templo do Espírito Santo aqui na Terra (Jo.14:16,17; I Co.6:19).
– Jesus foi gerado pelo Espírito Santo e, desde Sua encarnação, tinha plena comunhão com Ele. As Escrituras nos dizem que o Senhor Jesus cresceu em sabedoria e em estatura e em graça para com Deus e os homens (Lc.2:52).
– Isto nos mostra que, até o início de Seu ministério terreno, o Senhor Jesus sempre manteve comunhão com o Espírito Santo. Seu crescimento foi, por primeiro, em sabedoria e sabemos que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl.111:10; Pv.9:10).
– Nota-se, pois, que uma vida de comunhão com o Espírito Santo, que se inicia mediante a geração pelo Espírito, faz com que se tenha um crescimento espiritual.
– Na profecia de Isaías, isto fica bem claro ao se dizer que o Messias teria sobre Ele o pouso do Espírito do Senhor e que este Espírito Se mostraria, por primeiro, como Espírito de sabedoria (Is.11:2).
– A comunhão do Espírito Santo na vida de Jesus fez com que ao homem Jesus, na medida de Seu desenvolvimento físico e intelectual, houvesse, também, um desenvolvimento espiritual, a nos mostrar, portanto, que o Espírito Santo, quando em comunhão com o espírito humano, começa a fazer gerar em nós virtudes, ou seja, hábitos que promoverão nosso crescimento, nosso amadurecimento espiritual.
– Ao ser batizado no Jordão por João Batista, Jesus é cheio do Espírito Santo (Lc.4:1), é ungido por Ele (At.10:38), cumprindo-se, então, o que havia sido profetizado por Isaías e, dali por diante, manifesta-Se a Israel como o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt.16:16).
– O Espírito Santo pousou sobre o Senhor Jesus no ato do Seu batismo (Mt.3:16; Mc.1:10; Lc.3:22; Jo.1:33), mostrando ser Ele não só o Messias, mas também Aquele que batizaria com o Espírito Santo, Aquele que não só teria o Espírito Santo e a virtude, mas que transmitiria aos Seus discípulos este mesmo Espírito e esta mesma virtude advinda do Santo Espírito.
– Deste modo, já completamente maduro em Seu crescimento espiritual, Jesus tem uma espécie de revestimento desta plenitude, é separado pelo Espírito para a obra a que tinha sido chamado a fazer pelo Pai (Jo.17:4) e recebe a “virtude do Espírito Santo”, com a qual passa a realizar o Seu ministério.
– Assim como ocorreu com Jesus, também ocorre com todos os Seus discípulos. No dia mesmo da ressurreição, o Senhor soprou sobre os discípulos e lhes deu o Espírito Santo (Jo.20:22), o que não podia acontecer antes que o pecado fosse tirado do mundo com o sacrifício perfeito de Cristo (Hb.7:26-28; 9:28), antes que Jesus fosse glorificado (Jo.7:38,39).
– Este recebimento do Espírito Santo dá-se quando da geração do discípulo, do novo nascimento (Jo.3:3,5; I Pe.1:23), quando cremos em Jesus e, pela fé, que é dada pelo ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17), temos entrada nesta graça (Rm.5:1,2).
– O Espírito Santo, então, vindo até nós, traz-nos não só a fé, como a esperança e o amor (Rm.5:5; I Co.13:13). São as chamadas “virtudes teologais”, ou seja, disposições que o Senhor infunde no salvo para que possa agir como filho de Deus, para que passe a ser participante da natureza divina.
– O apóstolo João diz que o “homem nascido de Deus” não vive na prática do pecado (I Jo.3:9) e isto se deve ao fato de que esta nova criatura (II Co.5:17; Gl.6:15) tem estas três virtudes, estes três hábitos que lhe são dados pelo Espírito Santo: a fé, a esperança e o amor.
– Pois bem, a partir disto, uma vida de convivência com o Espírito Santo, uma comunhão com o Espírito faz com que, dia após dia, cresçamos espiritualmente e isto faz com que passemos a desenvolver outros hábitos, passemos a ter um agir conforme a vontade de Deus, a nos tornar cada vez mais parecidos com o Senhor Jesus, a nos conformarmos à Sua imagem, a fim de que Jesus seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm.8:29).
– Esta comunhão com o Espírito Santo, que o apóstolo Paulo tanto ressalta na bênção apostólica (II Co.13:13), é o que o apóstolo João chama de “andar na luz” (I Jo.1:7) e Paulo, de “andar segundo o espírito” (Rm.8:1).
– A propósito, quando se fala em “andar na luz”, não há como deixar de verificar que esta comunhão com o Espírito Santo se encontra tipificada no castiçal de ouro puro, com seus sete braços e as suas sete lâmpadas, a apontar os sete “Espíritos de Deus” (Ex.37:17-24).
– O pastor Severino Gonçalves, grande estudioso do tabernáculo, diz que o candeeiro é símbolo do Espírito Santo e que seus braços representam os sete “aspectos do Espírito Santo”. Outros veem no castiçal a Jesus como “luz do mundo” (Jo.8:12; 9:5), Jesus que, ao Se humanizar, foi cheio do Espírito Santo e agora dá o
Espírito a todos quantos n’Ele creem, de modo que o castiçal hoje seria a Igreja, como se verifica em Ap.1:20.
– Como ensina o pastor José Lineu Rigonatto, pastor presidente da Assembleia de Deus – Ministério Sopro Divino, o Espírito Santo atua nos salvos de duas maneiras:
(1) o que Ele faz no salvo, ou seja, mudando e moldando o ser do salvo, e aí nós temos o fruto do Espírito Santo, as virtudes teologais e os sete “Espíritos de Deus”;
(2) o que Ele faz através do salvo, ou seja, tornando o salvo instrumento das ações do Espírito Santo, e aí temos os dons do Espírito Santo.
– Pois bem, estas virtudes que são geradas pelo “andar na luz”, pelo “andar segundo o espírito”, foram chamadas pelos teólogos romanistas de “dons do Espírito Santo”, que eles conceituam como sendo “…disposições permanentes que tornam o homem dócil para seguir os impulsos do mesmo Espírito.…” (§ 1830 do Catecismo da Igreja Católica).
– No entanto, estes dons não são assim denominados nas Escrituras, mas são considerados como sendo os “sete Espíritos de Deus”, mencionados não só na profecia de Isaías, como também em Ap.1:4; 3:1; 4:5 e 5:6.
– Na verdade, são virtudes nascidas no próprio salvo, por força da convivência, da comunhão com o Espírito Santo, sendo, pois, mais apropriado denominá-los de “efeitos da comunhão com o Espírito Santo”.
– Certa feita, ao estudarmos as virtudes teologais, que são disposições divinas que são incutidas no ser humano, dissemos que elas seriam “hormônios” que regulariam o nascimento e o crescimento do fruto do Espírito, vez que, sem estas virtudes incutidas pelo Espírito Santo, não há como se ter a produção do fruto do Espírito.
– Entretanto, entre as virtudes teologais e o próprio fruto do Espírito ainda há um conjunto de virtudes que, nascidas no salvo, permitem que se produza o fruto do Espírito.
Como bem afirmou o apóstolo Paulo, devemos andar em Espírito para que não cumpramos a concupiscência da carne (Gl.6:16). Este “andar segundo o espírito” é o desenvolvimento destas virtudes, são condições que nos permitem gerar o fruto do Espírito.
– Se formos à botânica, podemos notar que o crescimento de uma planta se dá em virtude de reações químicas que se dão no interior do seu organismo e que se constitui no que se denomina de “metabolismo”.
Este metabolismo pode ser dividido, basicamente, em duas espécies: o metabolismo primário e o metabolismo secundário.
– O metabolismo primário está relacionado com a síntese de compostos essenciais para a sobrevivência das espécies e podemos associar este metabolismo às virtudes teologais, pois é indispensável para a sobrevivência do salvo que lhe sejam incutidas em seu ser a fé, a esperança e o amor.
– Com efeito, um dos fenômenos primordiais para o metabolismo primário nos vegetais é a fotossíntese, que só é possível em virtude da existência da luz solar, o que nos remete ao próprio Deus, que é luz e não há n’Ele trevas nenhumas (I Jo.1:5).
– O metabolismo secundário é assim chamado porque tem origem no processo de conversão da energia luminosa em energia química, permitindo que a planta responda aos diferentes fatores ambientais, quer físicos, quer biológicos, permitindo comunicar e interagir com diferentes organismos, atraindo-os ou repelindo-os, sustentando-os ou destruindo-os.
– Ora, como se verifica, o metabolismo secundário é uma reação que se instaura depois do metabolismo primário e, neste passo, temos as virtudes que são geradas pela infusão das virtudes teologais, o resultado da ação do Espírito Santo na vida de cada salvo, encontrando aí os sete aspectos do Espírito Santo, que os romanistas chamam impropriamente de “dons do Espírito Santo”.
– Assim, em razão da presença da fé, da esperança e do amor no espírito do salvo, ali derramados pelo Espírito Santo, o salvo passa a produzir piedade, sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, conhecimento e temor do Senhor, os “sete Espíritos de Deus”, de forma a que, então, com o devido crescimento, ligado que está à videira verdadeira, dê fruto e fruto permanente (Jo.15:2,5,16).
– A presença destas virtudes faz com que fiquemos cada vez mais parecidos com o tronco, com a “videira verdadeira”, pois o próprio Cristo apresentou estes “sete Espíritos de Deus” quando em Sua vida terrena, como nos mostra o profeta Isaías em Is.11:2.
– Neste ponto, aliás, temos uma outra figura bíblica para esta realidade, que é a da enxertia, pois o apóstolo Paulo, ao falar da salvação dos gentios, diz que eles foram “enxertados” na oliveira (Rm.11:16-24).
A oliveira é o Senhor Jesus e os ramos, os homens, sendo certo que os “ramos naturais” representam Israel e o “zambujeiro” representa os gentios.
– Pois bem, a enxertia é “…é a união dos tecidos de duas plantas, geralmente de diferentes espécies, passando a formar uma planta com duas partes: o enxerto e o porta-enxerto. (…)
O enxerto é a parte de cima, que vai produzir os frutos da variedade desejada, e o porta-enxerto é o sistema radicular, que tem como funções básicas o suporte da planta, o fornecimento de água e nutrientes e a adaptação da planta às condições do solo e do clima e a doenças. O seu desenvolvimento é rápido, o que facilita a reconstituição de um plantio perdido por pragas.” (Enxertia. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Enxertia Acesso em 07 abr. 2021).
– Ora, consoante a figura trazida pelo apóstolo Paulo, o “porta-enxerto” é o Senhor Jesus, que é glorificado pelo Espírito Santo (Jo.16:14), que é o Seu Vigário (Jo.14:16), que está com a Igreja para nos ensinar e nos fazer lembrar tudo quanto disse Nosso Senhor e Salvador (Jo.14:26; 16:13).
– O Espírito Santo, então, nos sustenta e nos permite viver nesta peregrinação terrena até o dia da nossa glorificação, permitindo o nosso desenvolvimento e crescimento espiritual. O enxerto continua a viver sobre o porta-enxerto, que lhe garante a vida e, portanto, nós passamos a ter vida graças à ação do Espírito Santo.
– É importante salientar que, no enxerto, as espécies permanecem distintas, mas se cria uma comunhão entre elas, uma união que permite que haja o desenvolvimento do enxerto por meio do auxílio do porta-enxerto e, por vezes, assumem-se características do porta-enxerto no enxerto e este aspecto é característico do “enxerto espiritual”, em que passamos a ter as características do Senhor Jesus.
– São estas virtudes que permitem que sejamos “imitadores de Jesus”, como foi o apóstolo Paulo (I Co.11:1). Este é o propósito da salvação, pois o mesmo Paulo diz que o salvo está predestinado a sermos conformes à imagem do Filho (Rm.8:29). Não é por outro motivo que os discípulos vão ser chamados de “cristãos” pelos habitantes de Antioquia (At.11:26), precisamente porque, na comunhão com o Senhor, haviam se tornado “pequenos Cristos”, “parecidos com Cristo”.
II – OS SETE “ESPÍRITOS DE DEUS”
– Isaías diz que sobre o Messias pousaria o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de inteligência, e o Espírito de conselho e de fortaleza, e o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor (Is.11:2).
– De pronto, vemos que o profeta apresenta estes “sete Espíritos” em três grupos de duas virtudes cada, que apresentam como que uma descrição do que seria o “Espírito do Senhor”. Esta disposição remete-nos ao candelabro ou candeeiro de ouro, uma das peças do lugar santo (Ex.25:31-40; 37:17-24), que possuíam seis canas, três de um lado e três de outro, com uma cana central. As sete lâmpadas que havia em cada uma das canas deste castiçal são identificadas como sendo precisamente este sete “Espíritos de Deus” em Ap.4:5, a confirmar, portanto, esta remissão.
– Outra remissão que nos confirma tal associação é a visão do castiçal que teve o profeta Zacarias, em que este viu um castiçal todo de ouro e um vaso de azeite no cimo, com as suas sete lâmpadas e cada lâmpada posta no cimo com sete canudos e por cima do castiçal duas oliveiras, uma à direita e outra à esquerda do vaso, visão que foi “interpretada” pelo Senhor ao profeta na expressão: “não por força nem por violência mas pelo Meu Espírito” (Zc.4:1-6).
– Vemos, então, que a visão do profeta indicava a ação do Espírito Santo e aqui, também, as sete lâmpadas levam o azeite das oliveiras até o vaso, mostrando-nos claramente que o Espírito Santo é quem vem nos trazer a natureza da “oliveira verdadeira”, que é Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
– O primeiro Espírito é “o Espírito do Senhor”, como diz o pastor Erivaldo de Jesus, “…a raiz e o tronco espiritual, de onde procedem sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, conhecimento e temor do Senhor…” (Bíblia da Pregadora Pentecostal, sermão 515, p.1036). É a cana central do castiçal do tabernáculo.
– A teologia romanista identifica este aspecto do Espírito com o que denominam de “dom da piedade”, que “…nos leva a amar Deus profundamente e viver em comunhão com Ele, desejando sempre fazer a Sua vontade
(…) nos leva a amar e reverenciar tudo que é de Deus…” /(AQUINO, Felipe. O dom da piedade. Disponível em: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/espirito-santo/o-dom-da-piedade/ Acesso em 05 abr. 2021).
– Quando cremos em Jesus, o Espírito Santo nos é dado (Jo.7:39; 20:21) e iniciamos com Ele um relacionamento que é o relacionamento entre o Senhor e o Seu servo, pois o Espírito Santo é o Senhor (II Co.3:17 NAA).
Deste modo, passamos a ser dirigidos por Ele e, por isso mesmo, passamos a buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33), a pensar nas coisas que são de cima (Cl.3:1-3), a andar segundo o espírito (Rm.8:1,2), inclinando-se para as coisas do Espírito (Rm.8:5).
– Isto é o que se denomina de piedade (I Tm.4:6-10) e um dos objetivos da nossa salvação é a de que vivamos, no presente século, uma vida piedosa (Tt.1:12).
– Quando passamos a buscar ao Senhor, quando temos por prioridade as coisas espirituais, quando ajuntamos tesouros nos céus, pondo ali o nosso coração (Mt.6:19-20), então, de forma natural, vão se desenvolvendo em nós as virtudes que nos permitem produzir o fruto do Espírito, que nos permitem caracterizar como filhos de Deus, como irmãos de Jesus Cristo.
– Quem tem uma vida piedosa, passa a agir com sabedoria, pois “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl.111:10; Pv.9:10). Não é à toa que o servo de Deus é identificado por Salomão, tanto no livro de Provérbios quanto de Eclesiastes, como sendo o sábio.
– Como afirma o pastor Erivaldo de Jesus, “…a sabedoria é a capacidade de julgar corretamente as coisas…”.
É elucidativo que a palavra “sabedoria”, em latim, vem de “sapere”, “…tem que ver com ‘saborear’. Assim, por este dom, somos capazes de “sentir o gosto” das coisas divinas.…” (AZEVEDO JÚNIOR, Paulo Ricardo de. A inteligência e a sabedoria. Disponível em: https://padrepauloricardo.org/episodios/a-inteligencia-e-a-sabedoria Acesso em 05 abr. 2021).
– A partir do instante em que passamos a buscar ao Senhor, passamos a ter uma vida piedosa, passamos a “sentir o gosto” das coisas divinas, começamos a contemplar as “maravilhas da lei do Senhor” (Sl.119:18) e a enxergar corretamente a realidade das coisas, pois passamos a ter acesso ao ponto de vista divino, que é sempre o correto, o verdadeiro.
– Assim, como desdobramento desta sabedoria, vamos ter o surgimento da virtude da inteligência, que nos permitirá ter acesso à compreensão dos mistérios da fé, da “profundidade das riquezas, tanto da sabedoria quanto da ciência de Deus” (Rm.8:33), que permite que nosso entendimento seja aberto para compreendamos a revelação divina constante das Escrituras (Lc.24:45).
É por isso que também ele é denominado de “Espírito do entendimento”, como se verifica, por exemplo, na NAA no texto de Is.11:2.
– “…É possível perceber a sua ação quando, por moção da graça, em um momento específico de oração ou de escuta da Palavra de Deus, as realidades eternas de algum modo se abrem ante nossos olhos, fazendo-nos contemplar a grandeza do Amor.…” (AZEVEDO JÚNIOR, Paulo Ricardo de. ibid.).
– A quarta virtude é o conselho, que o pastor Erivaldo de Jesus diz ser “…o parecer correto e perfeito sobre o que se deve fazer…” (ibid.).
Esta virtude é exercida com relação ao próximo, pois é “…mostrarmos ao irmão o caminho da salvação e da santidade…” (AQUINO, Felipe. O dom do conselho. Disponível em: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/pentecostes/o-dom-do-conselho/ Acesso em 05 abr. 2021). “…é um aperfeiçoamento da virtude da prudência. Por esta, somos capazes de discernir o modo certo de agir.
No entanto, a própria virtude infusa é insuficiente para julgar tudo. Por isso, o Espírito vem em nosso socorro, atentando-nos à advertência de Cristo: ‘Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas’ (Mt 10, 16).…” (AZEVEDO JÚNIOR, Paulo Ricardo de. A ciência, a fortaleza e o conselho.
Disponível em: https://padrepauloricardo.org/episodios/a-ciencia-a-fortaleza-e-o-conselho Acesso em 05 abr. 2021).
– A partir do momento que entregamos nossa vida ao Senhor e passamos a ser dirigidos pelo Espírito Santo, buscando ao Senhor, “saboreamos” e “entendemos” os caminhos do Senhor, a Sua vontade, vivenciando aquilo que o apóstolo Paulo diz ser “experimentar a vontade de Deus” (Rm.12:2).
Diante disso, podemos, no cumprimento do mandamento do Senhor, de nos amarmos uns aos outros, como Ele nos amou (Jo.15:12), ajudarmo-nos mutuamente, aconselhando-nos uns aos outros, para que todos sigamos as pisadas de Cristo e cheguemos às mansões celestiais.
– Em seguida, temos a virtude da fortaleza. “…Por essa virtude, Deus nos dá a coragem necessária para enfrentar as tentações, as circunstâncias difíceis da vida e, também, firmeza nas perseguições e tribulações causadas por nosso testemunho cristão diante do mundo…” (AQUINO, Felipe. O dom da fortaleza. Disponível em: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/espirito-santo/o-dom-da-fortaleza/ Acesso em 05 abr. 2021).
– Ao termos convívio crescente com o Espírito Santo, passamos a perceber a Sua grandeza, o Seu grande amor para conosco e, deste modo, que Ele é o Deus forte e que vale a pena fazermos a Sua vontade, surgindo um destemor e um fortalecimento espiritual que se traduz na fortaleza.
– A sexta virtude é o conhecimento, que o pastor Erivaldo de Jesus conceitua como sendo “…a capacidade de conhecer perfeitamente as coisas. O Espírito Santo é o agente do conhecimento (Is.40:13,14)…” (ibid.).
Como diz o teólogo romanista Felipe Aquino: “…O dom da ciência comunica-nos a faculdade de ‘saber fazer’, a destreza espiritual.
Torna-nos aptos para reconhecer o que nos é espiritualmente útil ou prejudicial…” (O dom de ciência. Disponível em: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/pentecostes/o-dom-de-ciencia/ Acesso em 07 abr. 2021).
– O Senhor Jesus mesmo falou desta virtude dada pelo Espírito Santo ao afirmar, em oração de gratidão ao Pai, que revelou as coisas espirituais para os pequeninos (Mt.11:25).
Nem poderia ser diferente, porque não há como sabermos as coisas de Deus se o próprio Deus não no-las revelar, pois Seus pensamentos e caminhos são bem superiores ao nossos (Is.55:8,9).
– A sétima e última virtude é o “temor do Senhor”. Que é o temor do Senhor? Salomão nos responde: “…aborrecer o mal; a soberba, e a arrogância, e o mau caminho, e a boca perversa…” (Pv.8:13).
– O pastor Erivaldo de Jesus afirma, com muita propriedade, que “…o temor do Senhor é sinônimo de reverência ao Senhor, é apartar-se do mal e é também o princípio da verdadeira sabedoria e inteligência (Jó 28:28; Sl.111:10). Em II Co.7:1, Paulo escreve que, sendo detentores das gloriosas promessas divinas, devemos aperfeiçoar ‘a santificação no temor de Deus’.
O Espírito do temor do Senhor trabalha gerando o temor do Senhor em nosso coração (Fp.2:12)…” (idem, p.1037).
Como afirma Felipe Aquino:
“…O amor do filho para com o Pai consiste na repugnância que o cristão experimenta diante da perspectiva de poder se afastar de Deus. Não se concebe o amor sem esse tipo de temor.…(O dom de temor de Deus. Disponível em: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/espirito-santo/o-dom-do-temor-de-deus/ Acesso em 07 abr. 2021).
– O temor do Senhor, portanto, faz com que nos afastemos cada vez mais do mal e isto fará com que nos aproximemos mais de Deus e, assim, terminamos o círculo, pois esta aproximação com Deus faz com que tenhamos o retorno da piedade e, assim, sucessivamente, vamos nos envolvendo cada vez mais com o Espírito Santo, tornando-nos semelhantes cada vez mais com Cristo.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6532-licao-13-a-multiforme-sabedoria-de-deus-i-e-apendice-n-3-os-sete-espiritos-de-deus