INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo dos livros dos profetas menores, hoje estudaremos o livro de Miqueias, o sexto livro no cânon do Antigo Testamento.
– O livro de Miqueias revela a todos os nós o que ocorre com quem obedece a Deus bem como quem Lhe desobedece.
I – O LIVRO DE MIQUEIAS
– Na sequência do estudo dos livros dos profetas menores, estudaremos hoje o livro de Miqueias, que é o sexto livro na ordem do cânon do Antigo Testamento. Na Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento, o livro de Miqueias ocupa o terceiro lugar entre os profetas menores.
– Em hebraico, Miqueias é “Mikhah” (מיכה), que significa, “quem é semelhante a Jeová?”. Seu ministério ocorreu durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, sendo ele próprio deste mesmo reino, pois era de Moresete ou Maressa (Js.15:44), local que tem sido identificado com uma aldeia situada a 40 km a sudoeste de Jerusalém, pertencente à tribo de Judá. Logo observamos que seu ministério é contemporâneo aos de Isaías, Oseias e Amós, se bem que tenha desenvolvido seu ministério no reino do sul, ou seja, durante a época de Isaías.
– Edward Reese e Frank Klassen, co-organizadores da Bíblia em ordem cronológica, situa os dois primeiros capítulos de Miqueias por volta de 744 a.C., no reinado de Jotão, no início do ministério de Isaías.
O terceiro capítulo de Miqueias é datado de 725 a.C., já no reinado de Ezequias, na iminência do fim do reino de Israel (reino do norte). O restante do livro é datado de cerca de 704 a.C., logo após o nascimento de Manassés, nos últimos doze anos do reinado de Ezequias.
– A mensagem do livro de Miqueias também envolve a questão do juízo vindouro de Deus sobre o Seu povo, tanto no reino do norte quanto no reino do sul, a comprovar que Deus estava a advertir sobejamente o povo da iminência da destruição de ambos os reinos, tendo, para tanto, levantado vários profetas para dar esta mensagem.
– Miqueias profetiza no sul com a mesma intensidade de Oseias e de Amós no reino do norte, denunciando o pecado nas relações sociais, as injustiças e as arbitrariedades que estavam sendo cometidas.
A mensagem, porém, anuncia, a exemplo de Isaías, a vinda de uma época de paz e prosperidade, a ser liderada pelo Senhor em Israel, que surgiria de “Belém Efrata”, embora fosse desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade (Mq.5:2).
– De pronto, vemos que o livro de Miqueias nos ensina que a Palavra de Deus é sempre a mesma, num consenso que nos permite crer nela sem qualquer dúvida ou hesitação.
Embora de cidades diversas, de origens diferentes, os profetas anunciavam a mesma mensagem. Por isso, o apóstolo Paulo, ao se dirigir aos filipenses, afirmou que não se aborrecia de lhes escrever as mesmas coisas, pois dizia que isto conferir segurança aos crentes (Fp.3:1).
– Nem podia ser diferente, pois se a Palavra é o próprio Cristo (Jo.1:1; Ap.19:13), temos de ter consciência de que Jesus é o mesmo, ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8) e, portanto, a mensagem do Evangelho jamais pode mudar, é sempre a mesma, como fazia questão de sempre nos lembrar o saudoso pastor Walter Marques de Melo.
– Ao vermos a sintonia entre as mensagens dos profetas nos dias de Miqueias, aprendemos que não podemos dar margem a “inovações”, como, infelizmente, muitos dos que cristãos se dizem ser estão a fazer em nossos dias. O Evangelho é o mesmo e, portanto, não podemos buscar “novidades”, atitude que é típica de quem não serve a Deus, como era o caso dos atenienses e estrangeiros que residiam em Atenas nos dias do apóstolo Paulo (At.17:21).
– Além disso, ao lermos o livro do profeta Miqueias, percebemos que a mensagem de Deus ao homem é bem objetiva: Deus, em virtude de Sua justiça e santidade, tem de lançar juízo sobre todos os que Lhe desobedecem, mas, antes que o faça, o Senhor mostra que há uma forma de o homem voltar a ter comunhão com Deus e, assim, em vez de sofrer o juízo, gozar das bênçãos que o Senhor quer e promete dar aos que O buscarem de coração inteiro. A obediência é o segredo para alcançarmos as promessas de Deus.
– O livro de Miqueias, que tem 7 capítulos, pode ser dividido em três partes, a saber:
a) 1ª parte – julgamentos divinos contra Israel e Judá – Mq.1-3
b) 2ª parte – visão de um futuro glorioso – Mq.4-5
c) 3ª parte -controvérsia entre Deus e Seu povo e promessa de bênçãos futuras-Mq.6-7.
– Em Miqueias, a promessa do Messias como Alguém que alterará o estado caótico em que se encontrava a nação e lhe trará um futuro glorioso é explícita e cristalina. O Messias nasceria no meio do Seu povo, em Belém de Judá, para redimir este mesmo povo.
OBS: ” O Livro de Miqueias ante o Novo Testamento – Assim como outros profetas do AT, Miqueias olhou para além do castigo de Deus a Israel e Judá, e contemplou o Messias vindouro e Seu reino justo na terra.
Setecentos anos antes da encarnação de Cristo, Miqueias profetizou que Ele haveria de nascer em Belém (5.2). Mateus 2.4-6 narra que os sacerdotes e escribas citaram este versículo como resposta à pergunta de Herodes concernente ao lugar onde o Messias nasceu.
Miqueias revelou, também, que o reino messiânico seria de paz (5.5; cf. Ef.2.14-18), e que o Messias pastorearia o Seu povo com justiça (5.4; cf. Jo.10.1-16; Hb.13.20).
As referências frequentes de Miqueias sobre a redenção futura, revelam que o propósito e o desejo permanente de Deus para o Seu povo é a salvação, e não a condenação. Tal verdade é desdobrada no NT (e.g. Jo.3.16).”(BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.1320-1).
” Cristo Revelado – As profecias sobre Cristo fazem o Livro de Miqueias luzir com esperança e encorajamento. O livro se inicia com uma grandiosa exposição da vinda do Senhor (1.3-5).
As profecias posteriores afirmarão o aspecto pessoal de Sua chegada em tempo histórico. Mas a disposição de Deus para descer e interagir é estabelecida no princípio.
A primeira profecia messiânica ocorre numa cena de pastor de ovelhas. Depois que a terra deles havia sido corrompida e destruída, um restante dos cativos seria reunido como ovelhas num curral. Então, alguém quebraria o cercado e os levaria para fora da porta, em direção à liberdade.(2.12-13).
E esse alguém é seu ‘rei’ e ‘Senhor’. O episódio completo harmoniza-se belamente com a proclamação de Jesus acerca da liberdade aos cativos (Lc.4.18), enquanto, na verdade, liberta os cativos espirituais e físicos. Mq.5.2 é uma das mais famosas profecias de todo o AT.
Ela autentica a profecia bíblica como ‘a Palavra do Senhor'(1.1; 2.7; 4.2). A expressão ‘A Palavra’ do Senhor (4.2) é um título aplicável a Cristo (Jo.1.1; Ap.19.13).
A profecia de Mq.5.2 é, explicitamente, messiânica (‘Senhor em Israel’) e especifica seu lugar de nascimento em Belém, num tempo quando Belém era pouco conhecida. Suas palavras foram pronunciadas muitos séculos antes do acontecimento; ele não tinha nenhuma sugestão do lugar a que recorrer.
Outra característica dessa profecia é que ela não pode se referir a apenas qualquer líder que possa ter sua origem em Belém. Cristo é o único a quem ela pode se referir, porque ela iguala o Senhor com o Eterno: ‘Cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias de eternidade.’
Esta profecia confirma tanto a humanidade quanto a divindade do Messias de um modo sublime.
A profecia de Mq.5.4,5 afirma a condição de pastor do Messias (‘apascentará o povo’),
Sua unção ( ‘na força do Senhor’),
Sua divindade (‘na excelência do nome do Senhor’) e
Sua humanidade (‘Seu Deus’),
Seu domínio universal (‘porque agora será Ele engrandecido até os fins da terra’) e a
Sua posição como líder de um reino de paz ( ‘E este será a nossa paz’).
O clímax da profecia (7.18,19), mais o versículo final (7.20), apesar de não incluir o nome do Messias, definitivamente refere-se a Ele. Na expressão da misericórdia e compaixão divinas, ele é Aquele que ‘subjugará a nossa iniquidade’, lançando-as nas profundezas do mar, para que Deus possa perdoar os pecados e trocar o pecado pela verdade.”( BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.890-1).
– Segundo Finnis Jennings Dake (1902-1987), o livro de Miqueias tem 7 capítulos, 105 versículos, 20 ordenanças, 23 perguntas, 2 promessas, 123 predições, 2 versículos de profecias não cumpridas, 91 versículos de profecias cumpridas e 7 mensagens distintas de Deus (1:2; 2:1,5,9; 4:1,6; 6:1).
– Segundo alguns estudiosos da Bíblia, o livro de Miqueias, o 33º livro da Bíblia, está relacionado com a décima primeira letra do alfabeto hebraico, “kaph” (כ), cujo significado é “a palma da mão”, que tem o sentido da mão estendida de Deus para o pobre, que, assim, pode receber as bênçãos divinas. Um Deus que está pronto a perdoar, mas que também detém toda a autoridade para castigar os impenitentes.
I – JULGAMENTOS DIVINOS CONTRA ISRAEL E JUDÁ
– Logo no limiar do livro de Miqueias, é dito que ali está transcrita a Palavra do Senhor que veio a Miqueias contra Samaria e Jerusalém, ou seja, as duas capitais do reino dividido.
Miqueias vê o Senhor no templo da Sua santidade e manda que todos os povos prestassem atenção ao que seria dito, porque Deus seria testemunha contra ambos os reinos (Mq.1:1,2).
– Miqueias diz que o Senhor sairia do Seu lugar, desceria e andaria sobre as alturas da Terra, tudo por causa das prevaricação de Jacó e dos pecados de Israel, identificando que a transgressão de Israel era Samaria e os altos de Judá, Jerusalém.
– De imediato, portanto, o profeta nos mostra que Deus é um Ser que tudo vê, que tudo observa, é onisciente e, ao contrário do que afirmam os deístas, ou seja, de que Deus existe mas é indiferente ao que ocorre na criação, é um Deus bem presente, que é misericordioso mas que, em se atingindo o limite de Sua longanimidade, intervém para lançar o juízo sobre aqueles que Lhe desobedecem.
– Do templo de Sua santidade, o Senhor está a contemplar o Seu povo e, como Ele não muda (Ml.3:6), isto está acontecendo neste exato instante.
Temos consciência de que o Senhor nos está vendo a cada instante de nossas vidas? Temos consciência de que Ele requer de nós obediência à Sua Palavra e que está a verificar se estamos a cumprir o compromisso que com Ele assumimos de Lhe ser fiéis até a morte?
– Jacó havia prevaricado. Esta expressão “prevaricação”, que, na Bíblia de Jerusalém é traduzida por “crime”, é a palavra hebraica “pesha’” (עשפ), que tem o significado de “transgressão” (como consta na Versão Almeida Revista e Atualizada e na Nova Versão Internacional), “rebelião”, ou seja, “desobediência”.
– A desobediência de Jacó era Samaria, ou seja, a própria capital, que tinha sido construída por Onri (I Rs.16:24), um rei que fez pior do que todos os seus antecessores no reino do norte (I Rs.16:25) e cuja dinastia adotou a idolatria como regra de vida, notadamente os cultos a Baal e Asera.
A propósito, a toda desobediência o próprio profeta Miqueias chamará de “estatutos de Onri e toda a obra da casa de Acabe” (Mq.6:16).
OBS: Lembramos que Acabe era filho de Onri e o sucedeu no trono de Israel (I Rs.16:28).
– Deus deixava a Sua aparente inércia para lançar sobre o Seu povo os juízos que já haviam sido previstos quando da entrega da lei por intermédio de Moisés.
A longanimidade estava chegando ao fim e a desobediência teria a sua devida consequência. Deus continua a atuar da mesma maneira e precisamos estar cientes disto, ou seja, de que, assim como Israel assumira um compromisso de obedecer a Deus na lei, que era tão somente o que Senhor requeria de Seu povo (Dt.10:12,13), também devemos nós, que assumimos o compromisso de servir a Cristo até a morte quando descemos às águas do batismo, ser-Lhe obedientes até a morte, como o próprio Jesus o foi, deixando-nos o exemplo (Fp.2:8).
– Judá não estava a agir de modo diverso. Deus também saía do Seu lugar para agir com relação ao reino do sul, pois a sua transgressão era Jerusalém. Por quê? Por causa dos altos de Judá.
Apesar de não terem incorrido no pecado do reino do norte, que passaram a adorar os bezerros de ouro estabelecidos por Jeroboão (I Rs.13:26-33), os judaítas sacrificavam nos altos (I Rs.15:14; 22:44; II Rs.14:4; 15:4,35), ou seja, em altares que se disseminavam no país, contrariando, assim, a lei de Moisés que só permitia sacrifícios no templo (Dt.12:11-14).
– A obediência a Deus envolve, por primeiro, que assumamos a condição de Seus servos e, portanto, que entendamos que nada podemos fazer a não ser cumprir a vontade do Senhor.
Os israelitas e judaítas estavam a cultuar ao Senhor do seu modo, do seu jeito, pouco se importando com o que o Senhor havia prescrito, com o que o Senhor havia determinado. Eram, por isso, desobedientes, pois obediência é “submissão completa, sujeição”.
– Em nossos dias, não é diferente. Muitos querem cultuar a Deus da sua maneira, deixando de observar a forma como o Senhor determinou que fosse o relacionamento entre Ele e o homem.
Como afirmou o apóstolo Paulo, nosso culto deve ser racional, um “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm.12:1), o que mostra que Deus somente aceitará nosso culto se o mesmo for santo, ou seja, separado do pecado, de entrega total nossa a Deus, o que importa no sacrifício do nosso “ego”, em nossa negação de si mesmo, bem assim que agrade a Deus, ou seja, esteja de acordo com a Sua Palavra.
– No entanto, muitos que cristãos se dizem ser preferem “cultos alternativos”, onde fazem o que bem entendem, a exemplo dos israelitas com seus bezerros de ouro e dos judaítas com seus altos.
A consequência para estes será a mesma que tiveram os homens do passado: a reprovação divina e o lançamento do juízo divino sobre eles. Que Deus nos guarde!
OBS: Esta tendência de transformar as igrejas em “locais de entretenimento” é fruto de mais uma “novidade”, a chamada “Rede Ministerial” criada nos Estados Unidos por Bruce L. Bugbee e Bill Hybels que, “para atrair jovens”, abriram mão da santidade (Cf. EVANGELISTA, Francisco. Cultos ‘alternativos’ crescem no Brasil. 05 set. 2012. Disponível em: http://www.franciscoevangelista.com/2012/09/cultos-alternativos-crescem-no-brasil.html Acesso em 05 set. 2012). Tomemos cuidado, amados irmãos!
– O Senhor anuncia, então, por intermédio do profeta, que esta desobediência teria fim, pois Samaria se tornaria um montão de pedras do campo, uma terra de plantar vinhas, com todas as suas imagens de escultura despedaçadas, seus salários, queimados pelo fogo e todos os seus ídolos se tornariam uma assolação (Mq.1:6-8).
– Deus, ainda, diz que a chaga de Samaria era incurável e havia, também, atingido Judá. Deus faria descer o mal até Jerusalém, pois em Laquis se teria iniciado esta “infecção” espiritual de Judá por Israel (Mq.1:13). Realmente, os assírios chegaram a tomar Laquis e sua queda gerou a submissão de Ezequias aos assírios (II Rs.18:14).
– O texto do profeta revela-nos que Deus, inclusive, identificou onde começou a “infecção espiritual” de Judá por Israel, embora não saibamos exatamente como isto ocorreu. Esta falta de conhecimento do que ocorreu, entretanto, é uma clara demonstração que Deus conhece até as coisas que desconhecemos e não deixa qualquer um impune. Lembremos disto!
– O Senhor informa claramente que o reino de norte (Israel) seria levado para o cativeiro por causa de sua desobediência (Mq.1:16), o que, efetivamente, se cumpriu alguns anos depois da profecia, ainda durante o ministério de Miqueias.
– Neste juízo sobre o povo, Miqueias, a exemplo de Amós, também não deixa de denunciar a grande injustiça social existente no meio do povo, consequência imediata do pecado, como vimos na lição sobre o livro de Amós.
– O Senhor revela, então, que estava bem ciente dos pensamentos malignos da elite israelita que, em suas camas, maquinavam o mal durante a noite e, à luz do dia, punham seus planos em prática.
Ao contrário do homem, que somente procura descobrir os autores de práticas más depois do início de sua execução, o Senhor, que tudo sabe, já está a contemplar todos quantos já imaginam fazer o mal na calada da noite, em suas camas (Mq.2:1,2).
O que temos pensado, amados irmãos? O que está em nossos corações? Saibamos todos que o mesmo Deus de Miqueias continua a contemplar todos os nossos pensamentos e não Se engana, pois bem sabe o que há no interior de cada ser humano (Jo.2:24,25).
– Aos que maquinavam e praticavam o mal, o Senhor avisa que havia projeto um mal para eles, que sofreriam inteira desolação, pois estavam a “restringir o Espírito do Senhor” (Mq.2:3-7).
– Muitos, na atualidade, estão a fazer do mesmo modo que aqueles desobedientes dos dias de Miqueias. “Restringem o Espírito do Senhor”, porquanto estão a desejar e a praticar o mal, provocando o afastamento do Espírito Santo de suas vidas.
A estes, não sobrará senão a inteira desolação, porquanto não querem ter comunhão com o Espírito Consolador, com o Espírito que nos faz glorificar a Cristo, que é Caminho, Verdade e Vida. Buscam para si mesmos a perdição lamentavelmente.
– Entretanto, o mesmo profeta diz que fazem bem as palavras de Deus aqueles que andam retamente (Mq.2:7). Portanto, andar retamente é andar segundo a Palavra de Deus, obedecer-Lhe em tudo quanto tem revelado a nós.
Em contraste com o povo de Israel, que havia se tornado inimigo de Deus na desobediência (Mq.2:8), aqueles que cumprem a Palavra de Deus, que observam os Seus mandamentos, são Seus amigos e o juízo não lhes atingirá. A que grupo pertencemos?
– O profeta ainda nos informa que os desobedientes são aqueles que pensam nas coisas deste mundo, que pensam ter descanso nesta vida, que almejam o bem-estar única e exclusivamente aqui neste mundo.
“Levantai-vos e andai, porque não será aqui o vosso descanso; por causa da corrupção que destrói, sim, que destrói grandemente” (Mq.2:10).
– Verificamos aqui que o profeta nos ensina que os que fazem bem as palavras de Deus, os que andam retamente são, precisamente, aqueles que não se prendem às coisas deste mundo, às coisas desta vida, porque sabem que almejam algo que está além desta vida, além desta Terra, que, por causa da corrupção, ou seja, por causa do pecado, não tem como nos dar algo que realmente nos possa satisfazer.
As coisas desta vida estão inevitavelmente dominadas pela corrupção, corrupção que destrói grandemente.
– Como é triste verificar que, em nossos dias, também muitos estão a querer servir a Deus mas com foco único e exclusivo nas coisas desta vida, chegando, mesmo, a querer fazer de Deus um instrumento, um meio para se chegar a um bem-estar terreno, como se o propósito de servir a Deus fosse o de se ter um paraíso neste mundo.
Todavia, Miqueias faz-nos ver que a obediência a Deus jamais tem por objetivo um bem-estar neste mundo, por causa da “corrupção que destrói, sim, que destrói grandemente”. Temos esta consciência?
– Os desobedientes somente teriam a um profeta que lhes profetizasse “acerca do vinho e da bebida forte” (Mq.2:11), alguém que os fizesse seguir o “espírito de falsidade”, a mentira.
Quantos, na atualidade, também não tem procurado “doutores conforme as suas próprias concupiscências”, desviando-se da verdade e voltando às fábulas, por que não suportam a sã doutrina (II Tm.4:3,4)? Quantos não têm preferido seguir após enganadores a obedecer à Palavra do Senhor?
Quantos não têm repetido o conhecido dito popular: “Me engana que eu gosto”? Será que somos destes, preparados para o juízo divino? Que Deus nos guarde!
– Entretanto, aos restantes de Israel, ou seja, àqueles que preferem obedecer a Deus, a andar retamente, a fazer bem as palavras do Senhor, a estes, o Senhor traz uma mensagem totalmente diversa:
“…congregarei o restante de Israel: pô-los-ei todos juntos, como ovelhas de Bozra; como rebanho no meio do seu curral, farão estrondo por causa da multidão dos homens.
Subirá diante deles o arroteador; eles romperão, e entrarão pela porta, e sairão por ela; e o rei irá adiante deles, e o Senhor à testa deles” (Mq.2:12,13).
– Para os que obedecem a Deus, o Senhor promete que seriam reunidos num rebanho, cujo pastor seria o rei, o próprio Senhor. Temos aqui uma nítida promessa messiânica, que o próprio Jesus confirmou ao Se apresentar como o Bom Pastor, que reuniria não só as ovelhas de Israel, mas também os gentios (Jo.10:1-30).
– Para sermos ovelhas do Senhor Jesus, portanto, é absolutamente necessário que Lhe sejamos obedientes, que ouçamos a Sua voz, que O sigamos (Jo.10:14,27).
Não é possível ser ovelha de Cristo Jesus sem fazer o que Ele manda, sem viver de acordo com as Escrituras, que d”Ele testificam (Jo.5:39), sem entrar pela porta, que é o próprio Cristo (Jo.10:9). Será que somos ovelhas do Senhor Jesus?
– Entretanto, não era esta a condição dos chefes de Jacó, dos príncipes da casa de Israel, que, apesar de serem os líderes do povo, em vez de serem responsáveis pela sua santificação eram os primeiros a desobedecer a Deus, um triste retrato que vemos hoje em muitas de nossas igrejas locais…
– Embora fossem os príncipes os responsáveis pela aplicação da lei, pela condução da sociedade segundo os parâmetros delineados pelo Senhor, eles eram os primeiros a “aborrecer o bem e amar o mal”. Como já fora denunciado por Amós, Miqueias mostra toda a reprovação divina diante da opressão que os príncipes exerciam sobre as camadas mais humildes da população.
– Os poderosos estavam a “arrancar a pele”, “comer a carne” e “esmiuçar os ossos” dos mais pobres, dos mais humildes, numa exploração intensa e cruel, sem qualquer piedade ou compaixão.
Como resposta a este estado de coisas, o Senhor diz que, quando os príncipes clamassem, no instante mesmo do lançamento do juízo divino contra a nação, não seriam ouvidos por Deus, até porque Deus não ouve a pecadores, mas, sim, aos que temem a Ele e faz a Sua vontade (Jo.9:31).
– Não será diferente com os opressores de nossos dias, que estão a implantar, a cada dia, mais e mais um sistema de iniquidade em todos os países, um sistema de cada vez maior exploração do homem pelo homem.
Apesar da iníqua distribuição de renda que torna os poderosos e ricos cada vez mais poderosos e ricos, o Senhor, assim como nos dias de Miqueias, também lançará o Seu juízo sobre eles, e a sua “Babilônia comercial” será destruída num só instante (Ap.18). Busquemos, pois, sermos fiéis a Deus, renunciemos às vantagens, benesses e prazeres que este mundo injusto oferece, pois não vale a pena cairmos nas mãos do Deus vivo.
– Mas o juízo de Deus não se limitaria aos príncipes opressores. Também atingiria os falsos profetas, que faziam errar o povo de Israel, dizendo que eles poderiam praticar o pecado impunemente, pois Deus tinha compromisso incondicional de livrá-los do cativeiro ou das calamidades. Eram os profetas que, diante da decadência espiritual denunciada pelos profetas verdadeiros, insistiam em dizer para o povo. “Paz!”
– Porventura, não é o que vemos em nossos dias? Multiplicam-se os falsos profetas, que estão a pregar um evangelho que tolera, compreende e permite o pecado; um evangelho que se “adapta” aos “novos tempos”, que reinterpreta as Escrituras segundo a vontade pecaminosa dos homens, o evangelho do “não faz mal”, onde tudo se permite, onde tudo é relativo.
– Quantos não estão a ensinar coisas contrárias à Bíblia Sagrada? Quantos não estão a pôr em dúvida a atualidade das Escrituras? Quantos não têm distorcido o texto sagrado para adaptá-lo à sua maneira de viver pecaminosa?
Estes falsos profetas, assim como os denunciados por Miqueias, estão a “preparar uma guerra” contra Deus e quem pode subsistir ao Senhor? Se Deus é contra estes falsos profetas, quem poderá ser por eles?
– Deus promete para estes falsos profetas “uma noite”, “um dia de trevas”, “um dia escuro”, “um dia negro” sobre eles, onde cessarão todas estas falsas profecias e somente haverá vergonha e confusão sobre eles. O Senhor, a exemplo do que faria com os príncipes opressores, não lhes daria qualquer resposta (Mq.3:5-7).
– Miqueias, no entanto, faz questão de dizer que era “cheio do Espírito do Senhor, cheio de juízo e de ânimo para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado” (Mq.3:8).
Denunciar o pecado, amados irmãos, não é tarefa fácil, é estar pronto a ser impopular, a ser perseguido, a ser incompreendido, a ser antipático. Somente quem é cheio do Espírito Santo pode assumir uma tal posição, pode se pôr na brecha e enfrentar toda a pressão do inimigo que quer arruinar o povo de Deus.
– Faltam-nos, hoje, Miqueias que estejam dispostos a pagar o preço de falar a verdade, de contrariar os enganos dos falsos profetas que falam o que os que se acomodaram com uma vida pecaminosa querem ouvir.
A fala da verdade, o abandono de um discurso politicamente correto e enganoso, que se encontra nos lábios de tantos pseudohomens de Deus, é uma das coisas que mais precisamos nestes dias imediatamente anteriores ao lançamento do juízo divino sobre a face da Terra. Estamos dispostos a pagar o preço?
– Miqueias estava do lado da verdade e da justiça, o que era uma situação mais do que incômoda numa sociedade em que os chefes e maiorais abominavam o juízo e pervertiam tudo o que era direito, edificando a Sião com sangue e a Jerusalém, com injustiça (Mq.3:9,10).
– Naqueles dias, servir a Deus não era fácil não só para o profeta, mas também para todos os que “andavam retamente”, pois se alguém fosse procurar justiça junto aos chefes, estes estavam totalmente corrompidos, pois davam as suas sentenças por presentes.
Se o justo buscasse, então, ciente da corrupção dos governantes, um auxílio junto aos sacerdotes, teoricamente mediadores entre Deus e o povo, também percebia que o ensino dos sacerdotes somente se dava por interesse.
Por fim, se recorressem aos profetas, levantados por Deus no meio do povo para trazer a mensagem de Deus, ficaria igualmente decepcionado, pois os profetas somente adivinhavam por dinheiro.
E o mais triste de tudo isto: tanto príncipes, quanto sacerdotes, como os profetas alardeavam aos quatro ventos que o Senhor estava no meio deles e que nenhum mal lhes sobreviria (Mq.3:11).
– Como dizia o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012), esta situação é vivida por muitos servos do Senhor na atualidade. Muitos vão aos governantes, e verificam que o Poder Público está minado pela corrupção, não se podendo aguardar que dali venha a justiça e o bem comum.
Correm, então, aos líderes religiosos, aos sacerdotes e ministros, e ali verificam que tudo o que se faz é movido a interesses escusos, se a menor preocupação com o bem-estar espiritual das pessoas.
Recorrem, então, àqueles que dizem ser mensageiros do Senhor, a pregadores, a pessoas que dizem ter uma vida consagrada a Deus e, para seu espanto, percebem que estão diante de mercenários, que tudo fazem por dinheiro.
– Diante deste infortúnio, o justo, então, ainda observa, com espanto, que tanto os governantes se dizem devotos, tementes a Deus, como também os sacerdotes e os profetas. Todos estão a dizer que vivem e defendem os valores morais e espirituais trazidos pelo Senhor à humanidade.
– O Senhor, porém, não está inerte, tudo vê e tudo observa e para estes que assim vivem, anuncia a vinda do juízo: “Sião será lavrada como um campo e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa em lugares altos dum bosque” (Mq.3:12).
– Miqueias foi levantado para nos mostrar que a desobediência não traz vantagem alguma nem tampouco ficará impune. Não podemos nos escandalizar quando vemos a corrupção grassando no governo, na igreja e entre os que se dizem servos de Deus.
Devemos, tão somente, olhar para Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hb.12:1,2), pois Ele somente pode nos servir de exemplo, já que foi o único que nunca pecou (Hb.4:15).
– Miqueias, portanto, em suas primeiras mensagens, proferidas pouco antes da destruição do reino de Israel, não só anunciava o juízo sobre o reino do norte, como também o cativeiro sobre o reino do sul, prometendo, porém, o resgate do “restante de Israel”, que fazia bem as palavras do Senhor.
III – VISÃO DE UM FUTURO GLORIOSO
– Miqueias teria tido um hiato em sua atividade profética, que somente seria retomada após a destruição do reino de Israel, no término do reinado de Ezequias, durante os últimos doze anos daquele rei.
– Depois de ter sido usado por Deus para falar a respeito das consequências da desobediência, agora o profeta traz uma mensagem a Judá referente aos “últimos dias”, profecia esta que como que explicitava a promessa já anunciada pelo profeta ao “restante de Israel”, ou seja, aos que se mantivessem obedientes ao Senhor.
– Em vez dos “montões de pedra” que o profeta anunciara em relação a Samaria (que, a este tempo, realmente já se tornara um “montão de pedra”) e a Jerusalém (o que ainda não havia ocorrido), o profeta fala que “o monte da casa do Senhor será estabelecido no cume dos montes e se elevará sobre os outeiros e concorrerão a ele os povos” (Mq.4:1).
– O Senhor mostra aos que Lhe eram obedientes que não só Israel seria restaurado espiritualmente, como também todos os povos viriam adorar a Deus no monte da casa do Senhor, ou seja, Israel cumpriria o seu papel de reino sacerdotal e povo santo que o Senhor havia prometido quando do estabelecimento do pacto do Sinai (Ex.19:5,6).
– Ao contrário do que estava a ocorrer nos dois reinos que, por isso mesmo, sofreriam o juízo divino (Israel já o havia sofrido, falta ainda Judá), naqueles “últimos dias” todas as nações adorariam ao Senhor e de Sião sairia a lei e a Palavra do Senhor, de Jerusalém (Mq.4:2).
– Miqueias descreve, então, o reino milenial de Cristo, informando que o próprio Senhor julgará entre muitos povos e haverá a conversão de poderosas nações, com a conversão das espadas em exnadas e das lanças,em foice, uma época de paz em que as nações desaprenderão a arte da guerra (Mq.4:3).
– A obediência a Deus traz a paz. Por isso, em nossos dias, a segunda maior atividade do planeta é o comércio de armas, que alimenta as guerras e rumores de guerra que se intensificam a cada instante.
A verdadeira paz somente pode ser trazida por Cristo (Jo.14:27) e esta paz já pode ser possuída por todos quantos creram em Cristo como seu único Senhor e Salvador (Rm.5:1).
– Esta paz que somente será estabelecida plenamente no reino milenial de Cristo, pode, porém, já ser sentida pelos que servem a Cristo Jesus e não só por estes, mas todos os que nos cercam, já que somos pessoas que devem emanar rios de água viva do seu interior (Jo.7:38).
Não foi por acaso que a primeira providência que Cristo ressurreto fez em relação aos Seus discípulos foi a de lhes conceder a Sua paz (Jo.20:19).
– Quem anda no nome do Senhor nosso Deus, eternamente e para sempre, é alguém que tem esta paz e que faz com que os que os cercam a desfrutem, ainda que em caráter limitado (Mq.4:4,5).
– Quando o Senhor estabelecer o Seu reino, diz o profeta, serão recolhidas as ovelhas que coxeavam, as que tinham sido expulsas, as que tinham sido maltratadas e todos serão reunidos num só rebanho, tornando-se uma nação poderosa (Mq.4:6-8).
– No entanto, se isto ocorreria “nos últimos dias”, o fato é que o que aguardava Judá era tão somente o cativeiro da Babilônia (Mq.4:9,10), mas a destruição não seria total, pois as nações que achavam estar a pôr fim ao povo judaíta seriam surpreendidos, pois o Senhor tinha para Seu povo um outro destino, o de se tornar uma nação poderosa, que dominaria os outros povos, mas que, sobretudo, seria consagrada ao Senhor (Mq.4:11-13).
– Esta mudança de estado no povo de Judá se daria graças Àquele que seria Senhor em Israel e que nasceria em Belém Efrata, embora fosse desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade (Mq.5:1,2).
– Temos aqui uma das mais conhecidas e espetaculares profecias da Bíblia Sagrada, que confirma a veracidade das Escrituras. Setecentos anos antes, Miqueias mostra com absoluta clareza onde nasceria o Senhor de Israel, onde nasceria Cristo Jesus.
Tanto assim é que foi com base nesta profecia que os magos foram até Belém, depois de orientados pelos escribas da corte de Herodes (Mt.2:1-11).
– Não há como se alcançar a paz, não há como passar a obedecer a Deus e a gozar de Suas promessas se não for por Aquele que nasceu em Belém Efrata, senão através de Jesus Cristo.
– Para sermos rebanho do Senhor, para sermos participantes desta paz que o Senhor oferece aos que Lhe obedecem, é mister que sejamos apascentados por este Senhor nascido em Belém Efrata, Este “que permanece, apascenta o povo na força do Senhor, na excelência do nome do Senhor Seu Deus” (Mq.5:4).
Somente permanecerão aqueles que servirem a Este que “foi engrandecido até os fins da terra” (Mq.5:4).
– Jesus é a nossa paz (Mq.5:5) e não haverá qualquer turbulência ou mal deste mundo (simbolizado aqui pela Assíria, que era, ao tempo da profecia de Miqueias, o mais temido inimigo de Judá) que poderá nos tirar esta paz, ou seja, esta comunhão com Deus. Os nossos inimigos passarão, mas o Senhor Jesus permanecerá e, com Ele, todos quantos Lhe obedecerem. Aleluia!
– Miqueias profetiza, então, a derrocada da Assíria, que seria debelada por “sete pastores e oito príncipes dentre os homens”, que seriam levantados pelos próprios servos de Deus (Mq.5:5,6).
O restante de Jacó, ainda que espalhado por muitas nações, seria reunido pelo Senhor, que, também, exterminaria todos os seus inimigos, inclusive pondo fim a todo o pecado por eles cometido, tais como feitiçarias, idolatria, exercendo Sua vingança sobre todas nações que não ouvem (Mq.5:9-15).
– Vemos aqui, agora em relação às nações, a demonstração da “mão vingadora do Senhor” sobre todos os que “não ouvem”, ou seja, sobre os desobedientes.
A desobediência não gerava juízo apenas para o povo de Israel, a nação escolhida de Deus, mas, como Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17), também atingiria todas as demais nações que insistiam em desobedecer a Deus, praticando idolatria e feitiçarias.
– Não nos iludamos, amados irmãos. Deus é amor, mas também é justiça e todos quantos não O ouvirem, não Lhe forem obedientes, sofrerão o Seu juízo no tempo certo. Mas quem está em Cristo, quem serve ao Senhor Jesus e Lhe é obediente, será livrado da ira futura (I Ts.1:10), da “hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap.3:10). O que estamos a esperar?
IV – CONTROVÉRSIA ENTRE DEUS E SEU POVO E PROMESSA DE BÊNÇÃOS FUTURAS
– Após ter tido uma visão a respeito dos “últimos dias”, em que apresenta uma mensagem divina de esperança aos que são obedientes ao Senhor, o profeta traz outra mensagem da parte de Deus, em que anuncia uma “contenda” com o Seu povo, com Israel.
– A palavra “contenda” utilizada no texto sagrado é a palavra hebraica “riyb” (ביך), que tem o sentido de uma “demanda”, de uma “ação judicial”. O Senhor como que estabelece um processo em que irá demandar contra o Seu povo.
– O Senhor faz a seguinte pergunta para Israel: “Ó povo meu! Que Eu te tenho feito? Em que te enfadei?
Testifica contra Mim” (Mq.6:3). Aqui, a exemplo do que faria posteriormente por intermédio do profeta Jeremias (Jr.2:5) no início do ministério daquele profeta, o Senhor lança um desafio a Israel, no sentido de que Lhe fosse apontada alguma infidelidade no compromisso que havia assumido com o Seu povo na aliança do monte Sinai.
– O Senhor lembra Israel de que havia remido Israel da escravidão do Egito, livrado Israel das ações do rei de Moabe, Balaque, quando este tentou que Balaão amaldiçoasse o povo, cumprindo, assim, a promessa de fazer os israelitas entrar na Terra Prometida.
– O Senhor, também, mostra que os israelitas não estavam a cumprir a sua parte no pacto estabelecido no Sinai por manterem o ritual cerimonial da lei. Uma vez no texto sagrado, vemos que Deus não Se importa com a religiosidade externa, com o sacrificar, querendo muito mais a obediência que o sacrifício (I Sm.15:22).
– Repetindo uma mensagem que seria proferida também por Isaías, profeta contemporâneo a Miqueias, no início de seu livro (Is.1:11-14), o profeta Miqueias mostra que Israel cumpriria a sua parte na aliança firmada no Sinai se tão somente praticasse a justiça e a beneficência e andasse humildemente com o seu Deus, sendo de todo inútil a oferta de sacrifícios e holocaustos se não fossem acompanhadas de atitudes que revelassem a obediência a Deus (Mq.6:6-8).
– Se isto era válido para o tempo da lei de Moisés, em que o cerimonial tinha um certo papel no relacionamento com Deus, que diremos de nosso tempo, o tempo da nova aliança, em que todo o cerimonial foi abolido e onde se busca a adoração em espírito e em verdade?
Muito mais ainda o que Deus requer de nós é a obediência à Sua Palavra, a observância ao Seu novo mandamento de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou do que a prática de uma religiosidade externa que, agora na dispensação da graça, apresenta-se muito menos formal e solene que no tempo antigo.
– Todavia, paradoxalmente, muitos, na atualidade, estão a agir como os fariseus, fortemente criticados pelo Senhor Jesus precisamente por viverem uma religiosidade externa, de mera aparência (Mt.23), achando que o Senhor Se compraz em atitudes despidas de uma conversão interior, de uma sinceridade de propósitos, de uma contrição de coração e de um quebrantamento de espírito.
Deus atenta para o coração contrito, para o espírito quebrantado, que para Ele são os verdadeiros, genuínos e autênticos sacrifícios (Sl.51:17) e não para ostentações externas, que muito pouco e, por vezes, proveito algum possuem.
– Como anda nossa vida espiritual, amados irmãos? Temos nos pautado por uma religiosidade externa, de aparência, vistosa em nossas igrejas locais, ou temos procurado servir a Deus de coração inteiro, numa vida sincera e devotada a obedecer à Palavra do Senhor em todos os lugares que freqüentamos? Pensemos nisto!
– O Senhor não estava preocupado com os holocaustos com bezerros de um ano, com os milhares de carneiros ou com os dez mil ribeiros de azeite que eram utilizados no templo de Jerusalém (e nos altos de Judá…), mas, sim, se havia tesouros de impiedade na casa do ímpio, se havia balanças falsas nos estabelecimentos comerciais dos ímpios, se havia verdade na língua de cada judaíta, se havia violência no proceder dos ricos (Mq.6:9-12).
– O que Deus vê em nossas casas? Será que observa a mesma santidade que ostentamos nas igrejas locais? O que Deus vê em nosso comportamento profissional? Será que vê o mesmo zelo que alguns demonstram ao tratar dos assuntos eclesiásticos? O que o Senhor vê e ouve em nossas conversas privadas, em nossos diálogos fora dos cultos?
– Como os judaítas estavam simplesmente a oferecer holocaustos mas a praticar os pecados, sem obedecer ao Senhor, ante o processo instaurado, conclui-se pela culpa de Israel, motivo pelo qual o Senhor o feriria e o assolaria. Qual o motivo de o Senhor lançar o juízo divino sobre Israel?
Porque eles “observavam os estatutos de Onri e toda a obra da casa de Acabe e andavam nos conselhos deles” (Mq.6:16). Em suma: o pecado, a desobediência a Deus traz o opróbrio, o juízo divino. Somente a obediência a Deus pode nos livrar do juízo divino.
– A situação vivida por Israel, que trilhava o caminho do pecado, o caminho da desobediência, trazia ao povo um estado extremamente lamentável e que não se coadunava com o compromisso assumido pelo povo do Senhor. O resultado de um estado pecaminoso deste foi o “perecimento do benigno da terra”, não havendo mais sequer um homem que fosse reto (Mq.7:1,2).
– A partir dos poderosos do país (príncipe, juiz, grande), havia a prática do mal e o alastramento da corrupção. “O melhor deles é como um espinho; o mais reto é pior do que o espinhal” (Mq.6:4).
Vemos, pois, que os que estão em eminência numa determinada sociedade têm maior culpabilidade, porquanto não só pecam como induzem os outros a pecar. Como diz o “Tratado dos Pais” (“Pirke Avot”) do Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo:
“Todo aquele que torna uma multidão meritória, nenhum pecado virá através dele, mas aquele que faz uma multidão pecar, a este não serão dados os meios de obter o arrependimento. Moisés alcançou a virtude e conduziu a multidão à virtude; portanto, o mérito da multidão lhe pertence, pois está escrito: ‘ele efetuou a justiça do Eterno, e seus juízos para com Israel’ (Dt.33:21).
Jeroboão, filho de Nevat, pecou e levou a multidão a pecar; portanto, a iniquidade é devida a ele, pois está escrito: ‘pelos pecados de Jeroboão que ele cometeu e fez Israel cometer’ (I Rs.15:30) “ (Pirke Avot 5:21).
– O comportamento adotado pelo núcleo dirigente da sociedade de Judá levou a uma conduta pecaminosa generalizada de todos os judaítas, a ponto de que não havia mais qualquer confiabilidade em amigos ou em guias, havendo desprezo dos pais por parte dos filhos, de filhas em relação a suas noras, de forma que os inimigos do homem eram os de sua própria casa (Mq.6:4-6).
– Notamos, assim, que os dias de Miqueias se assemelham muito aos dias em que vivemos, os “dias trabalhosos” de que fala o apóstolo Paulo em sua segunda carta a Timóteo, dias característicos dos últimos tempos da dispensação da graça (II Tm.3:1-5).
– Que deve fazer um servo de Deus diante de uma sociedade tão corrompida? Diz o profeta:
“Eu, porém, esperarei no Senhor; esperei no Deus da minha salvação: o meu Deus me ouvirá” (Mq.6:7).
– Diante de tanta corrupção, o profeta, homem cheio do Espírito Santo, esperava em Deus, preferia obedecer ao Senhor, seguir-Lhe os passos, atender aos estatutos e mandamentos do Senhor e não os “de Onri e da casa de Acabe”. Em suma: o profeta preferia viver separado do pecado, em santidade, obedecendo a Deus.
– Quem tem o Espírito Santo em seu interior, por ter crido em Cristo Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador (Jo.14:17), não pode ter outra conduta, senão a de afastar do “modus vivendi” pecaminoso da sociedade.
O salvo é diferente, pois está em comunhão com Deus, caminha para uma cada vez mais intensa intimidade com Deus, a fim de atingir a unidade que é o objetivo da missão de Jesus Cristo (Jo.17:20,21).
– Por isso, vemos com muita preocupação a conduta de muitos que cristãos se dizem ser, em nossos dias, que, em vez de apresentarem uma vida diferente da dos que não seguem a Cristo, procuram, cada vez mais, “adaptar” sua maneira de viver ao modo de vida vivido pelos incrédulos, buscando, quando muito, apenas uma “roupagem” diferenciada desta mesma maneira de viver, algo que tem sido considerado como a “gospelização”, ou seja, a adoção de “modos gospel” de pecar, o que é inadmissível e revela, como nos ensina claramente Miqueias, que se trata de pessoas que estão a desobedecer a Deus e que, portanto, não receberão senão o juízo divino.
– Diante deste comportamento do profeta, há uma esperança para quem se porta desta maneira. Ainda que o profeta não seja perfeito e possa vir a cair, por causa de sua intenção de servir a Deus de modo sincero e verdadeiro, não apenas externo e formal, haveria o levantamento, pois, ainda que vivesse em uma sociedade tenebrosa, o Senhor seria a sua luz (Mq.7:8).
– O profeta traz, então, uma mensagem de esperança para Israel. A ira do Senhor não seria para sempre, pois Deus estava disposto a perdoar o Seu povo, prometendo, inclusive, a restaurar a nação que sofreria a iria divina, mas não para sempre (Mq.7:9-13).
– O Senhor promete restaurar espiritualmente Israel, reafirmando aqui profecia anterior de Miqueias que haveria um “restante de Israel” que, finalmente, cumpriria o papel reservado ao povo escolhido do Senhor de “reino sacerdotal e povo santo” que havia sido estatuído na aliança do Sinai.
Os inimigos de Israel se espantariam e se calariam diante da demonstração da soberania divina e do Seu amor para com Israel (Mq.7:16).
– O profeta Miqueias, então, afirma: “Quem, ó Deus, é semelhante a Ti, que perdoas a iniquidade e que te esqueces da rebelião do restante da Tua herança?
O Senhor não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade. Tornará a apiedar-Se de nós: subjugará as nossas iniquidades, e lançará os nossos pecados nas profundezas do mar. Darás a Jacó a fidelidade, e a Abraão a benignidade, que juraste a nossos pais desde os dias antigos” (Mq.7:18-20).
– Deus perdoaria o “restante de Israel”, mas não porque é um Deus “bonzinho”, que “passa por cima dos pecados”. Muito pelo contrário, como temos visto ao longo da profecia, o que se tem, por parte do “restante de Israel”, é uma busca de servir a Deus, de obedecer-Lhe, um arrependimento e conversão que conduz ao livramento do juízo divino. Deus não “passa por cima dos pecados”, mas reage a uma atitude genuína de arrependimento e conversão.
– Miqueias, pois, termina a sua profecia lembrando ao povo que podia esperar em Deus, que valia a pena obedecer-Lhe, pedindo perdão pelos pecados cometidos, pois a misericórdia de Deus estava ao alcance.
Vale a pena, amados irmãos, obedecermos a Deus, pois aí, então, a “mão estendida do Senhor” estará ao nosso alcance e livres seremos da ira futura. Confiemos e esperemos em Deus e sigamos a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).
Colaboração para o portal Escola Dominical – Ev. Caramuru Afonso Francisco