INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da “síntese bíblica”, analisaremos hoje as epístolas do Novo Testamento.
– As epístolas explanam a doutrina cristã.
I – A INSPIRAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO PARA A REDAÇÃO DAS EPÍSTOLAS
– Na continuidade do estudo da chamada “síntese bíblica”, que é um panorama dos livros das Escrituras, resta-nos, para concluir este tema, analisar as epístolas do Novo Testamento.
– É consenso entre os estudiosos da Bíblia Sagrada que as epístolas foram os primeiros livros a serem escritos em o Novo Testamento.
Embora haja discussão de qual teria sido esta epístola (uns entendem que foi Gálatas, outros, Tiago e, por fim, outros, ainda, que entendemos terem mais razão, a Primeira Epístola aos Tessalonicenses), o fato é que a “quinta onda de inspiração”, que é a inspiração para a escrita do Novo
Testamento começou com as epístolas.
– Quando falamos em epístola, devemos, por primeiro, conceituar o que vem a ser esta modalidade de obra literária. Embora seja comum considerarmos que “epístola” é a mesma coisa que “carta”, tecnicamente isto não se sustenta. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a epístola é “composição poética em verso ou prosa de temática variada, composta em feitio de carta”, ou seja, uma composição que é enviada como se fosse uma carta, mas que tem assuntos variados, sendo, portanto, muito mais que uma simples comunicação entre duas pessoas, como é a carta.
– “…as mais antigas coleções de epístolas em grego, geralmente reputadas como genuínas, pelo menos em parte, as de Isócrates e Platão, já demonstram certa tendência para usar cartas, ou a forma de carta, para propósitos maiores do que meras comunicações particulares ou oficiais; assim é que entre as cartas de Isócrates (368-338 a.C.), algumas são discursos enviados, ou introduções de discursos, enquanto que a Sétima Carta de Platão (c. de 354 a.c.) é refutação a uma popular opinião errônea acerca de sua filosofia e conduta.
Em ambos os casos, as cartas alvejam outros leitores que não aqueles endereçados, e são assim certa forma de publicação. Comparar nesse particular as atuais cartas ‘ao redator’ dum jornal ou revista. (…). G. A. Deissmann, confrontando pela simplicidade da maioria das cartas escritas em papiros, manteve uma aguda distinção entre
‘cartas genuínas’ como pessoais, diretas, transientes, e não-literárias, e as ‘epístolas’ como impessoais, que visam antes um público leitor e certa permanência, e literárias.…” (HARROP, J.H. Epístola. In: DOUGLAS,
J.D. (org.) O novo dicionário da Bíblia, p.506).
– Tem-se, portanto, que a epístola é um texto que é feito em forma de carta, mas cujos objetivos são muito mais amplos do que uma troca de informações entre duas pessoas, como costuma acontecer com as cartas. Segundo o próprio Dicionário Houaiss, esta forma de comunicação se intensificou precisamente no período de escrita do Novo Testamento, sendo conhecida, por exemplo, a “Epistola ad Pisones”, de Horácio, escritor romano que viveu entre 65 e 8 a.C.
– Era, portanto, costumeiro que se escrevessem instruções, orientações, que se debatessem assuntos por meio de cartas, enviando tais composições aos destinatários, de modo que o uso de epístolas era disseminado, notadamente no período histórico em que nascia a Igreja, o período da “pax romana”, em que Roma dominava o mundo de então e se incrementavam os contatos entre os povos por ela subjugados, principalmente diante da estrutura viária criada pelos romanos.
– Seja qual for a primeira epístola do Novo Testamento (Gálatas, Tiago ou Primeira aos Tessalonicenses), vemos, claramente, que a redação de epístolas foi resultado da inspiração do Espírito Santo para Tiago ou Paulo no que diz respeito à manutenção dos salvos na correta direção doutrinária.
– Comecemos por Tiago. O irmão do Senhor era o pastor da igreja em Jerusalém, como se verifica claramente por escritos como At.15:13; Gl.1:19,20; 2:9.
Com a dispersão dos crentes por causa da perseguição comandada por Saulo (At.8:1), boa parte da membresia já não podia mais ser pastoreada por ele, o que, certamente, incomodou o servo de Deus, que sabia de sua responsabilidade por aquelas almas diante do Senhor (Cf. Hb.13:17).
– Este incômodo fez com que o Espírito Santo o orientasse a que, então, desse seus ensinamentos por escrito, de modo que acabou ele a redigir a epístola destinada “às doze tribos que andam dispersas” (Tg.1:1).
E o escrito não só serviu aos antigos membros da igreja de Jerusalém, mas acabaram sendo fonte de orientação aos crentes de todos os tempos e de todos os lugares, visto que logo foram percebidos como texto inspirado, com o mesmo valor das Escrituras (Cf. II Pe.1:21; 3:16), o mesmo que ocorreu no concílio de Jerusalém (At.15:^28).
– Não foi diferente com Paulo. Com relação a epístola aos gálatas, o apóstolo, ao saber que os crentes da Galácia, ao serem visitados por judaizantes, estavam começando a se circuncidar e a observar a lei, não podendo ir até lá, manda uma epístola, a fim de mostrar o grave erro que estavam os gálatas a cometer ao adotar a lei como critério de salvação.
Incomodado com o verdadeiro abandono da graça que estava sendo promovido naquele região por causa dos judaizantes, Paulo manda-lhes uma epístola que foi recebida como Palavra de Deus e que não serviu apenas para os gálatas, mas é um ensino para toda a Igreja de todos os tempos e de todos os lugares sobre o papel da lei no plano de Deus para a salvação e de que como não estamos mais debaixo da lei mosaica.
– Com relação à primeira epístola aos tessalonicenses, isto ainda mais evidente, pois é o próprio Paulo, na epístola, quem mostra que escreveu porque havia sido impedido por Satanás de voltar a Tessalônica (Cf. I Ts.2:17-3:8) e completar o trabalho do discipulado que fora interrompido abruptamente, já que teve de sair às pressas para Bereia diante da perseguição desencadeada pelos judeus junto às autoridades locais (Cf. At.17:5-10).
– Incomodado com o fato de que os crentes de Tessalônica estavam a sofrer perseguição sem ter ainda o mínimo respaldo doutrinário, o apóstolo, não podendo ir, mandou Timóteo, mas, ao receber Timóteo de volta em Atenas, notou que a visita daquele jovem obreiro fora insuficiente e, por isso, acabou por escrever uma epístola, e depois mais outra, a fim de dirimir as dúvidas existentes entre aqueles irmãos e fortificar-lhes a fé.
– Em todos os três casos, portanto, vemos que o cuidado dos servos de Deus com a saúde espiritual das igrejas locais foi o motivo que os levou a escrever aquilo que eles não podiam pessoalmente ensinar e aí começou a ser redigido o Novo Testamento, que seria a redução a escrito da revelação dos ensinos e dos ditos de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que foram lembrados e explanados pelo Espírito Santo, que veio ao mundo precisamente para dizer tudo o que tivesse ouvido e anunciar o que haveria de vir com o fim de glorificar a Jesus e receber do que é d’Ele e o anunciar à Igreja (Jo.16:13,14).
– As epístolas, portanto, são as explanações, os ensinos, as orientações dadas aos crentes por parte dos apóstolos e discípulos do Senhor que o Espírito Santo quis que ficassem registradas para toda a Igreja, durante todo o tempo de sua permanência na Terra, o período conhecido como “dispensação da graça”.
É o conteúdo da chamada “doutrina dos apóstolos” (Cf. At.2:42), em cuja perseverança está um dos pilares da manutenção deste povo sobre a face da Terra.
– Dos 27 livros do Novo Testamento, 21 são epístolas, de sorte que a maior parte dos escritos são desta espécie. Destas 21, 13 são de autoria explícita de Paulo (Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito e Filemom); uma é de autoria discutida (Hebreus), uma de Tiago, o irmão do Senhor; 2 de Pedro, 3 de João e outra de Judas, outro irmão do Senhor.
– As epístolas são divididas em dois grupos: as epístolas paulinas e as epístolas gerais. De um lado, as epístolas de autoria explícita de Paulo e, de outro, as demais epístolas.
– As epístolas paulinas são dirigidas a destinatários específicos, ou igrejas locais (Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses) ou pessoas determinadas (I e Ii Timóteo, Tito e Filemom).
– As epístolas ditas gerais ou universais, por sua vez, não têm destinatários específicos, sendo, portanto, dirigidas a toda a Igreja (Hebreus — se bem que fica claro que os destinatários eram os crentes que habitavam em Israel —, Tiago — ainda que a expressão “as doze tribos dispersas” possa significar apenas os crentes judeus de Jerusalém que haviam se dispersado com a perseguição —, as epístolas de Pedro, João e Judas).
II – AS EPÍSTOLAS PAULINAS
– Paulo é o principal escritor do Novo Testamento. Doze ou treze dos vinte e sete livros do Novo Testamento são de sua autoria e tudo indica que tenha sido o primeiro escritor da “quinta onda de inspiração”, precisamente porque, impedido de pessoalmente resolver os graves problemas que constatou seja nas igrejas da Galácia, seja na igreja de Tessalônica, incomodado pelo Espírito Santo, resolveu reduzir a escrito os ensinamentos que estava impedido de ministrar por força das circunstâncias àqueles crentes.
– Nesta atitude, o Espírito Santo começa a inspirar os discípulos a registrar a “doutrina dos apóstolos” (At.2:42), permitindo que os ensinamentos que eles transmitiam a sua geração, recebidos diretamente do Senhor Jesus, se perpetuassem por toda a dispensação da graça.
– Vemos, portanto, que as epístolas exercem, em o Novo Testamento, o mesmo papel que os chamados “livros sapienciais” têm no Antigo Testamento, ou seja, transmitir a “sabedoria divina” para que possamos bem nos conduzir durante a peregrinação terrena, tendo, assim, um testemunho que agrade a Deus, que é a condição para, a exemplo de Enoque, sermos arrebatados pelo Senhor naquele dia que tanto se aproxima (Hb.11:5).
– Por isso mesmo, quando da organização dos livros do Novo Testamento, ocuparam eles a mesma posição dos livros sapienciais e poéticos, ou seja, depois dos livros históricos e antes dos livros proféticos. Por isso, as epístolas foram postas depois de Atos e antes de Apocalipse.
– Como Paulo é o principal autor das epístolas, as de sua autoria foram postas em primeiro lugar, da mais longa (Romanos) até a mais curta (Filemom), sendo mantidas lado a lado as epístolas dirigidas a um mesmo destinatário (I e II Coríntios, I e II Tessalonicenses e I e II Timóteo).
– As treze epístolas assim dispostas, no seu introito, já apontam para a autoria de Paulo, ainda que a “crítica bíblica” tenha, como não poderia deixar de ser, questionado, ao longo dos anos, tal autoria. Entretanto, se o texto bíblico diz que as epístolas são de Paulo, não há o que discutir.
– Podemos dividir as epístolas paulinas em três grupos:
a) “as epístolas da atividade missionária itinerante” ou “epístolas da liberdade” (Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, I e II Tessalonicenses), que são as epístolas escritas pelo apóstolo durante suas viagens missionárias;
b) as “epístolas da prisão” (Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom), que foram escritas enquanto Paulo estava preso, pela vez primeira, em Roma. Se se entender que Hebreus é de autoria de Paulo, ela deve ter sido escrita durante a primeira prisão (Cf. Hb.13:23,24).
c) as “epístolas pastorais” (I e II Timóteo e Tito), que foram as escritas depois da primeira prisão de Paulo em Roma, uma delas, inclusive, já na segunda prisão (II Timóteo).
– A epístola aos romanos, a mais longa de todas as epístolas paulinas, escrita pelo apóstolo quando ele estava em Cencreia, porto de Corinto, com destino a Jerusalém, de onde pensava ir, em seguida, a Roma (o que não ocorreu, por causa da sua prisão, o que atrasou em anos sua ida a capital do Império), é uma apresentação
àquela igreja e um verdadeiro “tratado da salvação”, onde o apóstolo explana a doutrina da salvação com grande profundidade.
– Não é à toa que, ao longo da história da Igreja, Romanos tenha influenciado grandes acontecimentos, como a conversão de Agostinho, um dos maiores teólogos cristãos; Lutero, levando-o a desencadear a Reforma
Protestante e Karl Barth, um dos pais da chamada “neo-ortodoxia”.
– As epístolas aos coríntios, por sua vez, revelam o cuidado que o apóstolo tinha com a igreja em Corinto, igreja que fundou e que chegou a pastorear por um ano e seis meses.
A primeira epístola foi motivada em virtude de uma série de problemas vividos por aquela igreja local, instalada num local de grande promiscuidade e idolatria, tanto em função da divisão que havia entre os irmãos, como também pelos problemas surgidos com a convivência dos salvos num ambiente francamente hostil à santidade.
Nesta epístola, o apóstolo não só discute questões relacionadas ao convívio do salvo com o mundo, mas temas importantíssimos para a vida espiritual como os dons espirituais, o amor e a doutrina da ressurreição.
– A segunda epístola é uma defesa de Paulo com relação a sua autoridade apostólica, que estava sendo questionada notadamente por judaizantes que haviam ido também perturbar a igreja em Corinto, quando o apóstolo revela sua personalidade e seu amor para com a obra de Deus e os salvos.
– A epístola aos gálatas, como já dito, vai enfrentar a questão da submissão, ou não, dos cristãos gentios à lei de Moisés, que será, inclusive, o tema debatido no concílio de Jerusalém, quando prevalece a orientação dada por Paulo, qual seja, a de que os salvos em Cristo Jesus não estão mais debaixo da lei mosaica.
– A epístola aos efésios é uma das chamadas “epístolas da prisão”, ou seja, as quatro epístolas que o apóstolo escreveu quando estava na sua primeira prisão em Roma.
Alguns entendem que esta epístola foi uma espécie de “carta circular”, que Paulo endereçou para várias igrejas, querendo ensinar-lhes, diante da prisão, a respeito das bênçãos advindas da salvação, do significado de ser salvo em Cristo.
– Realmente, não há, no teor da carta, qualquer indicação que fosse dirigida especificamente à igreja de Éfeso, pastoreada pelo próprio apóstolo por três anos, e, como Éfeso era um local de proeminência no ministério de Paulo, acabou ficando para a posteridade a cópia que teria sido mandada para lá.
– A epístola aos filipenses, outra “epístola da prisão”, é endereça a igreja em Filipos, fundada pelo apóstolo no início de sua segunda viagem missionária e com quem o apóstolo tinha profundos laços, tanto que era a igreja que o sustentava em sua atividade missionária. Nesta epístola, o apóstolo procura animar e estimular os crentes de Filipos que estavam abalados com a prisão de Paulo, tanto que ela é conhecida como sendo “a carta da alegria”.
– A epístola aos colossenses é outra das “epístolas da prisão” e que Paulo escreve para uma igreja que não tinha sido fundada por ele, mas, muito provavelmente, por um discípulo seu, Epafras.
Aqui vemos o cuidado do apóstolo que, ao tomar conhecimento de que aqueles crentes estavam sendo vítimas tanto de judaizantes quanto de gnósticos (adeptos das “religiões de mistérios” gregas e que começavam a se infiltrar entre os cristãos), tratou de escrever-lhes, já que se considerava responsável por eles também, uma vez que esta igreja era um desdobramento de seu ministério desbravador.
Aqui, mais uma vez, o apóstolo mostra o equívoco de se seguir a lei, como também a incompatibilidade entre a religiosidade grega e o Evangelho.
– As epístolas aos tessalonicenses, muito provavelmente as primeiras epístolas escritas pelo apóstolo, tinham o propósito de concluir o discipulado interrompido em Tessalônica e abordam a questão do arrebatamento da Igreja e da conduta diferenciada que devem ter os cristãos diante de uma sociedade pagã.
Nestas epístolas, o apóstolo vai mostrar claramente como a fé em Jesus gera um serviço para Deus e uma esperança do arrebatamento da Igreja.
– As epístolas a Timóteo são parte do terceiro grupo das epístolas paulinas, as chamadas “epístolas pastorais”, escritas pelo apóstolo depois de sua primeira prisão em Roma. São escritos em que Paulo está a orientar seu filho na fé, Timóteo, que, por ordem do apóstolo, foi assumir o pastorado da igreja em Éfeso, que passava por turbulências naquele momento. Vemos aqui que o ensino do apóstolo se desloca de igrejas para os obreiros que agora estavam a assumir proeminência na igreja.
– A segunda epístola a Timóteo é a última epístola escrita por Paulo que, desta feita, já se encontrava preso pela segunda vez em Roma, prisão da qual não sairia, pois seria martirizado. Aqui, além dos conselhos finais a seu filho na fé, o apóstolo como que se despede.
– Do mesmo teor é a epístola a Tito, a terceira “epístola pastoral”, contemporânea a I Timóteo, onde o apóstolo orienta Tito como deveria se comportar na regularização das igrejas de Creta, para onde havia sido mandado por Paulo, depois que este saiu de sua primeira prisão.
– Por fim, temos a curta epístola que Paulo escreveu a Filemom, outra das “epístolas da prisão’, em que o apóstolo faz uma recomendação de Onésimo, escravo fugitivo de Filemom, que Paulo ganha para Cristo em sua prisão em Roma. Onésimo sentiu a necessidade de retornar para o seu senhor e o apóstolo, então, escreve esta carta para mediar a situação entre os dois.
– Em todas estas epístolas, vemos como o apóstolo se apresenta como “doutor dos gentios” (I Tm.2:7; II Tm.1:11), fazendo uma explanação da “doutrina dos apóstolos” dentro da realidade da cultura gentílica, dando o caráter universal do Evangelho que as circunstâncias históricas e o próprio plano de Deus para a salvação do homem não podiam dar durante o ministério terreno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, onde se teve de pregar “o evangelho do reino de Deus” (Mc.1:14) e não “o evangelho da graça de Deus” (At.20:24).
– O evangelho é o mesmo, mas são os ensinos de Paulo que dão a dimensão universal da mensagem evangelística que os discípulos que conviveram em Jesus tiveram muita dificuldade para compreender.
II – AS EPÍSTOLAS GERAIS OU UNIVERSAIS
– A primeira epístola geral ou universal, ou ainda, católica (“católico” é universal em grego) é a epístola aos hebreus que foi posta ali menos por ser geral e mais por causa da discussão de sua autoria.
– Com efeito, a epístola não é dirigida especificamente a alguém (seu formato, aliás, é mais de um tratado do que de uma epístola, pois só parece mesmo com uma epístola no seu final), seu teor deixa bem claro que os destinatários eram os crentes que viviam em Israel e que estavam titubeando na fé por causa dos momentos aflitivos que viviam os judeus na véspera da guerra que tiveram com os romanos, quando haveria a destruição de Jerusalém e do Segundo Templo.
– Sua autoria foi discutida desde o início da Igreja, conquanto muitos a tenham sempre atribuído a Paulo, que não teria se identificado precisamente por causa das dificuldades que tinha com parte dos crentes judeus,
notadamente os judaizantes. Alguns atribuem a obra a Apolo ou a Barnabé ou, mesmo, a Lucas ou outro discípulo de Paulo.
– A epístola aos hebreus procura estimular os crentes de Israel a não abandonarem a fé e retornarem ao judaísmo e, para isto, faz um aprofundado estudo a respeito da proeminência de Jesus sobre os anjos, sobre Moisés, sobre Arão e da superioridade do sacerdócio e da aliança firmados por Cristo em relação à lei, um tema característico de Paulo.
– A epístola de Tiago, como já vimos, mostra todo o cuidado pastoral do irmão do Senhor para com os crentes da igreja de Jerusalém que haviam se disperdas. Ele dirige a epístola para “as doze tribos dispersas” (Tg.1:1).
Observemos que o Tiago autor da epístola não é nenhum dos dois Tiagos do grupo dos doze, mas o irmão do Senhor, que se converteu só depois da ressurreição de Jesus.
– Tiago faz um escrito de caráter nitidamente sapiencial, abordando vários aspectos da vida cristã e como deveriam os salvos se notabilizarem pelas suas boas obras. Esta ênfase do irmão do Senhor com relação às obras fez com que muitos vissem em Tiago uma contradição com Romanos, mas isto é apenas aparente, até porque o próprio Paulo, ao escrever aos efésios, diz que as boas obras foram criadas para que os salvos andassem nelas.
– A primeira epístola escrita por Pedro é destinada aos “estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (I Pe.1:1), o que lhe dá, também, o caráter geral. Pedro também demonstra preocupação em mostrar o que a vida do salvo no mundo, trazendo ensinamentos sobre a salvação, a vida cristã, o relacionamento com a sociedade, o papel dos obreiros, seguindo, assim, a mesma linha de Tiago.
– A segunda epístola escrita por Pedro é dirigida a todos os crentes, pois se destina “aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (II Pe.1:1).
– Esta epístola é quase que uma despedida, também, pois o apóstolo aponta que brevemente haveria de partir para a eternidade (II Pe.1:14). Nesta epístola, a preocupação é prevenir os crentes contra os falsos mestres e lembrar das promessas atinentes à vinda do Senhor e à escatologia.
– As epístolas de João são tidas, por muitos, como sendo os primeiros escritos do apóstolo, o “discípulo a quem Jesus amava”, as quais foram escritas precisamente porque João, então o último integrante ainda vivo do colégio apostólico, sentiu-se incomodado com a infiltração de ensinos gnósticos entre os cristãos, a nos mostrar, mais uma vez, que o zelo apostólico foi o grande motivador para a redação das epístolas.
– João vivia um período difícil para a Igreja, depois da primeira grande perseguição, tendo notado a infiltração de falsos ensinos no meio do povo de Deus e, em sua inquietação, é incomodado pelo Espírito Santo a escrever três epístolas, iniciando, assim, a complementação da revelação de Cristo para a Igreja, como Nosso Senhor dissera ao apóstolo, ainda antes de Sua ascensão (Cf. Jo.21:23).
– Tanto assim é que, após as epístolas, João acaba escrevendo o Evangelho e, por fim, o livro profético do Novo Testamento: o Apocalipse.
– Na primeira epístola, João vai tratar dos falsos ensinos, dos falsos mestres, dos “anticristos”, que negam a encarnação de Jesus bem como a Sua divindade, trazendo a nota característica do salvo: o amor. Por isso, sua epístola é conhecida como a “epístola do amor” e o próprio João acabou sendo conhecido como “o apóstolo do amor”.
– A epístola não tem destinatários, sendo, portanto, tipicamente uma “epístola universal” ou “epístola geral”. Verdade é que, ao longo da epístola, o apóstolo se dirige aos “filhinhos”, mas assim ele está a tratar a todos os crentes.
– A segunda epístola é dirigida “à senhora eleita e seus filhos” (II Jo.1), expressão um tanto quanto enigmática, que alguns consideram ser a Igreja como um todo, a noiva de Cristo, e outros a igreja de Éfeso, já que a tradição diz que o apóstolo ali passou seus dias finais. De qualquer modo, pelo teor desta curta epístola, nota-se que se esteja dirigindo aos crentes em geral. João, uma vez mais, manda tomar cuidado com os falsos mestres, com os anticristos.
– A terceira epístola, por fim, é dirigida a Gaio, que é um obreiro, que se caracterizava por seu zelo pela sã doutrina e a quem incentiva a que continue na ortodoxia, inclusive enfrentando o mau obreiro Diótrefes, que estava, inclusive, a confrontar o próprio apóstolo.
– A última epístola geral é a de Judas, o irmão do Senhor, que não é nenhum dos dois apóstolos dos doze que tinham esse nome.
Judas confessa que resolveu escrever a respeito da salvação mas que o Espírito Santo o impulsionou para que escrevesse sobre a batalha pela fé, a nos mostrar claramente que havia um cuidado divino para que os falsos mestres não levassem os crentes para o fracasso espiritual.
– O teor da epístola de Judas é muito similar ao da segunda epístola de Pedro, buscando alertar os cristãos a respeito do perigo dos falsos ensinadores e a iminência do juízo divino.
– O Novo Testamento começa a ser redigido por epístolas e este gênero literário vai perpassar por toda a
“quinta onda de inspiração”, somente cessando com as epístolas joaninas, quando, então, há a completude da revelação com o evangelho e o Apocalipse.
– Foi a principal maneira de se reduzir a escrito a “doutrina dos apóstolos”, que é um pilares da perseverança da Igreja (At.2:42). Daí a grande importância de tais escritos para cada um de nós, pois, sem a doutrina gotejada em nós, não teremos como sobreviver espiritualmente (Dt.32:1,2; Mt.4:4; Lc.4:4).
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7014-licao-12-as-epistolas-instruem-e-formam-os-cristaos-i