Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Silas Queiroz, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
João caminha para a conclusão de sua obra, quando anuncia o propósito de seus registros, como, aliás, se viu desde as primeiras palavras de seu Evangelho. Mais uma vez, vale-se da expressão “sinais” e não “milagres”, e afirma: “Jesus, pois, operou também, em presença de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro” (20.30).
O apóstolo explicita que são inúmeros os sinais não registrados, indicando como precisou fazer uma seleção (os 7 sinais) para compor seu testemunho pessoal da deidade de Jesus. Recordemos que, dos quatro evangelistas, somente João e Mateus (ou Levi)2 foram testemunhas oculares dos sinais, porque compunham o colégio dos doze. Marcos e Lucas colheram de terceiros as informações para seus Evangelhos.
Ainda da expressão joanina, verificamos o cuidado de afirmar que os sinais foram realizados “em presença de seus discípulos”, indicando
(1) que Jesus fez questão de agir publicamente, para que houvesse testemunho, e
(2) que com o entendimento espiritual alcançado, os discípulos haviam identificado os milagres como o que de fato eram, sinais ou provas da divindade de Jesus.
Quanto ao propósito do registro joanino, reproduzimos o versículo-chave, que já mencionamos: “Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). Essa declaração de João nos concita a considerar o significado de cada título ou nome mencionado.
Jesus Cristo, Filho de Deus
Primeiro, João vale-se do nome “Jesus”, que foi dado ao homem, ao filho de Maria, conforme dito pelo anjo Gabriel, que a visitou: “E eis que em teu ventre conceberás, e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus” (Lc 1.31).
O filho que nasceria a Maria, depois do processo de concepção virginal, receberia o nome de Jesus. Assim, em sua humanidade, era esse o nome que identificava o Filho de Deus, à vista de todos.
Mas a compreensão não poderia ficar restrita ao aspecto meramente humano. Então, João prossegue: “[…] que Jesus é o Cristo” (20.31). Era induvidoso para todos que conviveram com Jesus que Ele era homem em sua natureza plena. O mundo testificou esse fato, mas Ele não era um homem comum. Era o Cristo, ou seja, o Messias ou o Ungido, o prometido a Israel no Antigo Testamento.
Aí já teríamos, portanto, um homem com uma missão especial, que seria resgatar Israel como nação. Mas isso não seria restrito aos judeus.
Sem a compreensão da divindade de Cristo, permitir-se-ia uma aplicação meramente nacional e terrena de sua missão, muitas vezes com conotação estritamente política.
Para que houvesse a obra redentora, o homem Jesus precisaria ser mais do que um messias humano, um profeta. Precisaria ser um Messias divino, ou seja, o próprio Deus vindo à Terra para a missão redentora.
Em João estava contemplada a revelação plena, que não foi compreendida pelos judeus: o homem Jesus é o Cristo (o Messias prometido no AT), sendo, Ele mesmo, o Filho de Deus.11 Ou seja, Jesus, homem, era o Messias divino, e não apenas o Messias que o judaísmo esperava, para a restauração presente, terrena, de natureza política.
NEle, o Reino de Deus terá uma consumação futura, que perpassará pela restauração espiritual dos judeus como nação, mas não sem antes abrir-se a oportunidade para redenção de toda a humanidade, de todo aquele que crer em Jesus Cristo, o Filho de Deus, sem distinção entre judeu ou gentio (Gl 3.26-28; Cl 3.11; Tt 2.11).
O Propósito de João
O propósito de João com seu Evangelho era levar sua comunidade — e a todos quantos tivessem contato com seus escritos — à fé na deidade de Jesus, o Messias. Isso teria um impacto espiritual extraordinário, não apenas nos primeiros séculos da igreja, mas por toda a história do cristianismo.
Não pode haver salvação sem a fé nessa verdade, daí João dizer: “[…] e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (20.31). É exatamente a fé em Jesus, o Cristo, o Filho de Deus, que nos assegura vida eterna.
O Verbo se encarnou para nos redimir com seu sacrifício perfeito, oferecido voluntariamente na cruz do Calvário. Esse é o epílogo do Evangelho de João, o Evangelho do Filho de Deus. Verifica-se, assim, que o propósito de João era de natureza dúplice conjunta: registrar seu testemunho da revelação de que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, para que, crendo nessa verdade, se tenha vida em seu nome.
Não se trata, portanto, de um propósito sem um resultado específico. Isso refletia o eterno plano divino, que é trazer vida eterna ao homem por meio do Filho encarnado.
Por esse motivo foram feitos tantos sinais evidentes de sua divindade, não apenas para mostrá-los aos homens, mas também para redimi-los de seus pecados. Para tal, o Verbo se encarnou (Jo 1.11-13).
A João, assim como aos demais evangelistas — mas especialmente a ele, como já acentuado —, coube registrar esses sinais, a fim de levar seus leitores (e ouvintes) à fé. Assim, há um propósito divino, que é a encarnação redentiva, e um propósito doutrinal, que é o registro dos sinais para consolidação da fé salvífica. Em todo esse processo, atuaram soberanamente as três pessoas da Trindade, desde a concepção eterna do plano de redenção à inspiração do ancião João para escrever o quarto Evangelho.
A Incredulidade de Tomé
No domingo da ressurreição, à tarde, Jesus apareceu aos discípulos, que estavam reunidos a portas fechadas, com medo dos judeus (20.19), talvez pelo fato de já circular a falsa notícia, plantada pelos sacerdotes, de que eles — os discípulos — teriam furtado o corpo de Jesus (Mt 28.11-15).
Depois de saudá-los, Jesus mostrou-lhes as mãos e o lado, numa prova cabal de sua humanidade. O mesmo corpo crucificado havia ressurgido dentre os mortos, embora não mais sujeito a limitações físicas. Os discípulos se alegraram ao ver o Mestre. Foi nessa ocasião que Jesus soprou sobre eles o Espírito Santo, operando a obra de regeneração, como estudamos no capítulo 4.
Tomé não estava presente naquela ocasião, e soube depois do acontecido (20.24). Embora todos os discípulos testificassem de que haviam visto a Jesus, ele não acreditou no testemunho deles:
“Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei” (20.26).
A exigência de Tomé era muito específica. Oito dias depois Jesus reaparece, e se dirige diretamente ao discípulo descrente: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente” (20.27).
Nenhuma outra exegese se permite ao texto, senão a de que Jesus considerou a atitude de Tomé uma nítida manifestação de incredulidade, pela rejeição do testemunho verbal. Ademais, foi justamente a suficiência do anúncio da ressurreição que Jesus salienta em seguida:
“Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram!” (20.29).
Induvidoso, portanto, que Cristo enfatiza a necessidade de sua ressurreição ser acreditada por meio do testemunho, porque não se tratava de um fato inusitado, mas repetidas vezes anunciado por Ele e bem registrado nas Escrituras.
Por isso Jesus valeu-se das profecias do Antigo Testamento para trazer compreensão aos discípulos, como registrado por Lucas (Lc 24.25-27,44-47).
A Exigência de Evidências
Era essencial que Jesus se apresentasse vivo com muitas e infalíveis provas (At 1.1-3), para que sua ressurreição ficasse registrada como um fato histórico, incontestável. As evidências comporiam a revelação divina pelas Escrituras inspiradas, as quais, pregadas, são o veículo suficientemente poderoso para que se creia na ressurreição e em seu poder: “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17).
De fato, tão logo foram cheios do Espírito Santo, os discípulos (agora apóstolos) começaram a pregar o Evangelho, com extraordinários resultados, a começar por Pedro, o pregador do Dia de Pentecostes. Quase três mil almas se converteram por meio da pregação (At 2.41).
Isso vai se tornar uma característica marcante da Igreja Primitiva, que jamais se valeu da apresentação de provas materiais ou argumentos filosóficos em sua missão kerigmática, ou seja, de pregação do Evangelho (Mc 16.15,20; At 4.31,33; 6.7; 8.4-8,14-17,30-38).13
Não é razoável que agora, há quase dois mil anos de História da Igreja, voltemos para antes do Pentecostes, quando o testemunho dos discípulos não tinha poder para produzir fé e se exigia evidências. Depois que a igreja recebeu o poder do Espírito Santo, é a pregação do Evangelho que tem o poder de levar o descrente à fé, não somente na ressurreição, mas em toda a obra da salvação (Rm 1.16). O Espírito Santo — e somente Ele — é quem pode convencer o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo (Jo 16.8,9).
Destaca-se a observação feita por Eusébio de Cesareia sobre a não aprovação da doutrina pelo senado romano, que é o fato de que as verdades do Evangelho não necessitam de confirmação e de cooperação dos homens. É o próprio Deus que por revelação ao espírito humano faz com que creia e compreenda o Evangelho em toda sua plenitude (Ef 1.7-13,15-23; 3.14-19).
Destacando algumas expressões de Paulo, que disse: “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça […] em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1.7,13).
“[…] que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação, tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos […] que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e pondo-o à sua direita nos céus” (Ef 1.17,18,20) (grifo nosso).
O próprio Paulo, sendo judeu devoto e tendo conhecimento de todas as notícias acerca da ressurreição de Jesus, era um terrível perseguidor da igreja, até que “este mistério [foi-lhe] manifestado pela revelação”, como “[tinha] sido relevado pelo Espírito aos […] santos apóstolos e profetas” (Ef 3.3,5).
Esta, pois, é a autêntica e sobrenatural obra de revelação do Evangelho, incluindo a ressurreição de Cristo e seu poder. Por isso mesmo, disse Paulo: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2.14).
Como diz Tozer, “As verdades espirituais não podem ser recebidas pelos meios ordinários da natureza”, daí ser absolutamente inadequado tentar difundir a fé cristã apelando para a argumentação filosófica ou investigações históricas fundadas em documentos ou provas científicas.
A Bíblia é a verdade, absolutamente suficiente para revelar ao homem o perfeito e eterno plano de Deus em Cristo, a Palavra encarnada. “Bem-aventurados os que não viram e creram!” (Jo 20.29).
CONCLUSÃO
João encerra seu Evangelho com mais uma autorreferência, deixando uma nova e definitiva evidência interna de ser ele o autor do livro. Depois de referir-se ao “discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito” (21.20), diz: “Este é o discípulo que testifica dessas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro” (21.24).
Por mais que tentemos prescrutar a importância desse testemunho para o cristianismo em todos os tempos, não conseguiremos, nem de longe, compreender e aferir os extraordinários resultados que esse Evangelho já produziu em todo o mundo, como um poderoso instrumento de Deus para proclamar e produzir fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus.
João escreveu, no momento certo, um conteúdo preciso, para um propósito específico para o qual foi dirigido pelo Espírito Santo. O quarto Evangelho, esse Evangelho espiritual, veio completar o gênero e juntar-se ao conjunto das Escrituras Sagradas, como revelação completa de Deus para toda a humanidade.
João contribui de maneira singular para o descortinar da Doutrina de Cristo, para a compreensão desse grande e maravilhoso mistério, que é a encarnação do Filho de Deus e o que ela representa para nós.
Em João descobrimos que crer em Jesus como Filho de Deus nos traz vida abundante, uma vida eterna da qual desfrutamos desde o presente, como participantes das virtudes que Cristo nos dá.
Ele é o Deus Eterno, o Eu Sou, o Bom Pastor, o Pão da Vida, a Luz do Mundo, o Intercessor Fiel, o Doador do Espírito Santo, a Ressurreição e a Vida. Que o Espírito Santo ilumine nosso entendimento a cada dia, para que conheçamos mais a Jesus. Que Ele viva em nós e se manifeste ao mundo por meio de nós.
“E sabemos que já o Filho de Deus é vindo e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5.20). A Ele nosso tributo de gratidão, de honra, de louvor e de adoração!
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: QUEIROZ, Silas. Jesus, o Filho de Deus: Os Sinais e Ensinos de Jesus Cristo no Evangelho de João. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2022/03/25/licao-13-para-que-creias-que-jesus-e-o-filho-de-deus/
Vídeo: https://youtu.be/ZXptXxMzlGA