INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo do sermão do monte, analisaremos os ensinos de Jesus sobre o relacionamento de Seus discípulos com os bens materiais e as necessidades quotidianas.
– O discípulo de Jesus confia em Deus.
I – O ENSINO DE JESUS SOBRE OS BENS MATERIAIS
– Na sequência do estudo do sermão do monte, veremos o ensino de Jesus sobre o relacionamento de Seus discípulos com os bens materiais e as necessidades quotidianas.
APÊNDICE Nº 2 –CIRCUNCISÃO E SÁBADO, OS GRANDES AUSENTES DO SERMÃO DO MONTE
– Depois de ter falado sobre o relacionamento entre os Seus discípulos e o próximo e o próprio Deus, o Senhor Jesus vai falar sobre a relação entre os cristãos e os bens materiais.
– Por primeiro, notemos que o Senhor Jesus já deixa aqui uma grande lição. Ao falar da vida relacional de Seus discípulos, começa falando da relação com Deus e as pessoas, trazendo os temas da esmola, do jejum, da oração e do perdão, para só depois vir a tratar dos bens materiais.
– As coisas materiais, portanto, estão abaixo, na hierarquia dos valores do reino de Deus, das coisas espirituais e das relações interpessoais. Deus e as pessoas, que são imagem e semelhança de Deus, valem mais do que os bens, do que as coisas.
– Já vemos, neste ponto, uma oposição com o mundo. No sistema controlado pelo príncipe deste século, as coisas valem mais do que as pessoas.
Como diz o apóstolo Paulo, o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10) e, como o mundo está no maligno (I Jo.5:19), isto nos mostra que uma das causas dos males no mundo é precisamente este “amor do dinheiro”, este “apego aos bens materiais”.
– Esta distorção já é fruto da pecaminosidade humana que, ao deixar Deus de lado, na crença da mentira satânica da independência do homem em relação ao seu Criador, faz com que também se tenha um desvalor à pessoa humana, precisamente por ser ela imagem e semelhança de Deus. Dominando sobre os homens, o inimigo propala o ódio que tem ao ser humano.
– Além de tratar dos bens materiais no seu devido lugar, o Senhor Jesus, também, vai nos ensinar que não devemos valorizá-las a ponto de nos apegarmos a elas. Pelo contrário, mostra que assim como não devemos buscar a vanglória, mediante a hipocrisia religiosa, devemos menosprezar as riquezas.
– É o que diz a respeito desta passagem do sermão do monte, João Crisóstomo (347-407) em reflexão que merece ser transcrita:
“…Depois de manifestar a malícia da vanglória, o Salvador achou muito oportuno falar do menosprezo das riquezas. Nada mais faz você querer riquezas tanto quanto o desejo de glória.
É por isso que os homens apresentam grande número de servos, cavalos cobertos de ouro e mesas adornadas com prata. Não para relatar qualquer uso dele, mas para se exibir na frente de muitos.
E é isso que o Senhor diz quando continua: “Não queirais acumular tesouros na terra”.…” (Homiliae in Matthaeum, hom. 20,2. In: Catena áurea. Mt.6:19-21. Disponível em: https://hjg.com.ar/catena/c76.html Acesso em 05 mar. 2022) (tradução Google de texto em espanhol).
– A segunda lição que nos dá o Senhor Jesus ao começar a tratar do tema do relacionamento dos Seus discípulos com os bens materiais, é que o discípulo de Cristo sabe que seu objetivo não é esta terra, não é este mundo, que está aqui apenas de passagem. Seu alvo é o céu. Cristo diz que não devemos ajuntar tesouros na terra, mas, sim, no céu (Mt.6:19,20).
– O discípulo de Jesus tem de fazer suas as palavras do salmista: “sou peregrino na terra” (Sl.119:19) e ter a consciência de que tinha o apóstolo Pedro, ao considerar que nosso tempo aqui neste planeta é apenas uma peregrinação (I Pe.1:17).
– Este sentimento é absolutamente indispensável para os discípulos de Cristo, porque, uma vez que são descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa, por serem de Cristo (Gl.3:29), devem ter o mesmo sentimento não deste patriarca, mas também de Isaque e Jacó, que foi o de confessarem que eram estrangeiros e peregrinos na terra, porque morreram na fé, sem terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe, e crendo nelas, as abraçaram (Hb.11:13).
– O discípulo de Jesus procura ajuntar “tesouros no céu”. Ao ensinar sobre a esmola, a oração, o perdão e o jejum, Cristo disse que não deveríamos buscar o galardão dos homens, o louvor humano, mas, se o fizéssemos em secreto, teríamos a recompensa divina. Ora, esta recompensa divina é, precisamente, os “tesouros no céu” de que fala Nosso Senhor e Salvador.
– Na verdade, o tesouro é o próprio Cristo, pois n’Ele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl.2:3), a iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo (II Co.4:6,7), Senhor e glória que veremos quando Ele Se manifestar e então formos semelhantes a Ele (Tt.2:13; I Jo.3:2).
– É este o alvo de todo cristão (Fp.3:14,20). Ele não está preso às coisas desta vida, aos bens terrenos, mas, sim, tem como foco, como objetivo os céus. A propósito, Paulo diz que este apego às coisas materiais, uma vida voltada para os bens terrenos é próprio dos inimigos da cruz de Cristo (Fp.3:18,19).
– O patamar espiritual superior dos discípulos de Jesus se revela uma vez mais aqui. Eles, que estão próximos do Mestre e no monte, estão a aguardar a morada celestial. Seguem as pisadas do seu Senhor que, pelo gozo que Lhe estava proposto, tudo suportou, sabendo que o fim era o trono de Seu Pai nos céus (Hb.12:2), tendo, inclusive, prometido que estaremos no Seu trono (Ap.3:21).
– Os tesouros no céu, embora sejam invisíveis aos olhos terrenos, diz o Senhor Jesus, são garantidos, porque as riquezas terrenas são incertas, visto que, ainda que sejam acumuladas, podem ser perdidas seja pela ação da traça, seja pela ação da ferrugem, seja pela ação dos ladrões.
– Nos dias em que vivemos, onde muitos estão a preferir, inclusive, os chamados “valores mobiliários”, ou seja, que seus recursos sejam móveis e passíveis de rápida circulação, temos visto quão facilmente as pessoas perdem os bens que amealharam durante anos. Tudo é muito volátil. Não é por outro motivo que o apóstolo, inspirado pelo Espírito Santo, tenha mandado os ricos deste mundo a não pôr a sua esperança na incerteza das riquezas, mas, sim, em Deus (I Tm.6:17).
– Nosso Senhor, ainda, traz uma verdade espiritual, qual seja, a de que onde estiver o nosso tesouro, ali estará o nosso coração.
O Seu discípulo tem de ter seu coração no céu, não na terra, pois ele passou a ser participante da natureza divina e Deus é do céu, não da terra (Sl.33:13,14; I Rs.8:30,39,43,49; II Cr.6:21,30,33,39; 30:27), até porque a habitação do cristão é o céu (II Co.5:2).
– Vemos, pois, aqui, quão deletérias são determinadas doutrinas que se introduziram no meio dos que cristãos se dizem ser, cujo objetivo é o de promover a apostasia espiritual e a perda da salvação, como é o caso da teologia da prosperidade e da sua irmã, a teologia da confissão positiva, que fazem com que as pessoas busquem Cristo para ter um tesouro na terra, o que as fazem ter um coração aqui na terra, o que as fazem deixar de ser discípulas de Jesus.
– Tais pessoas, não sem razão, são chamadas pelo apóstolo Paulo como as mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19). Tomemos cuidado, amados irmãos!
– E, como ensinamento a respeito de mantermos sempre o foco nos céus, Jesus diz que os Seus discípulos devem ter um cuidado todo especial com os seus olhos, pois são eles a candeia do corpo. Se os olhos forem bons, todo o corpo terá luz, mas, se os olhos forem maus, o corpo será tenebroso e se a luz do corpo forem trevas, quão grandes serão tais trevas (Mt.6:22,23).
– Aqui o Senhor Jesus nos mostra como devemos nos entregar integral e totalmente a Ele. Não existe a história de que “Deus só quer o coração” e que o corpo não tem valor algum na vida espiritual, ensino este que era presente seja no gnosticismo, seja nas filosofias religiosas orientais e que se encontra muito prevalente em nossos dias, inclusive entre alguns que cristãos se dizem ser.
– Mas, além dos olhos propriamente ditos, que nos levam a querer nos encantar com as coisas desta vida, também devemos compreender que, por olhos aqui, também, se deva compreender a inteligência, o intelecto do ser humano.
Devemos sempre ver as coisas sob o prisma da eternidade e do agrado a Deus, não pelo raciocínio humano e voltado para a dimensão puramente terrena.
Quando raciocinamos do ponto-de-vista puramente humano e terreno, seremos facilmente enganados pelo adversário de nossas almas, que bem compreende as coisas dos homens (Mt.16:23) e engana todo o mundo (Ap.12:9).
Quando, porém, temos nosso olhar voltado para as coisas divinas, quando ouvimos e seguimos a voz do Espírito Santo, somos vitoriosos e alcançamos sucesso espiritual, porque o Espírito Santo nos guiará em toda a verdade (Jo.16:13), confundindo o diabo, que nada sabe a respeito das coisas de Deus.
OBS: “…Falando do ofício da luz dos olhos, ele expressou também a luz do coração, que, se for simples e brilhante, permanecerá assim, dando ao corpo a claridade da luz eterna, e infundirá a corrupção da carne. com o esplendor de sua origem, isto é, na ressurreição.
Mas se for obscurecido pelos pecados e má vontade, o olho será mau e a natureza do corpo estará sujeita aos vícios da inteligência.…” (HILÁRIO. Homiliae in Matthaeum, 5. In: Cátena áurea. Mt.6:22,23. Disponível em: https://hjg.com.ar/catena/c77.html Acesso em 05 mar. 2022) (tradução Google de texto em espanhol).
– O Senhor Jesus, então, revela-nos outra verdade espiritual a respeito do relacionamento com os bens materiais: a de quem ama as riquezas, não pode amar a Deus. É impossível ter dois senhores: ou se ama a Deus, ou se ama as riquezas, que o Senhor chama aqui de “Mamom”, que é “riquezas” em aramaico, a língua falada pelos judeus nos dias de Jesus.
– Ou o nosso coração está nos tesouros da terra, ou, nos tesouros do céu. Portanto, quem buscar ajuntar tesouros neste mundo, que estiver ocupado com as coisas terrenas, quem tem por objetivo e alvo da sua existência as coisas deste mundo não é servo de Deus, mas, sim, servo de Mamom.
Aí entendemos porque o apóstolo denominou de “inimigos da cruz de Cristo” aqueles que pensam nas coisas terrenas.
– O próprio Paulo, também, afirma que quem ressuscitou com Cristo busca as coisas que são de cima e não as que são da terra, porque têm a sua vida está escondida com Cristo em Deus, porque Cristo é a sua vida, alguém que não está a aguardar senão a manifestação de Cristo em glória, que tem como alvo a vida eterna, a glorificação, que se dará no dia do arrebatamento da Igreja (Cl.3:1-4).
– Mais uma vez lembramos aqui como o ensino de Jesus nesta passagem do sermão do monte contraria completamente os falsos ensinos da teologia da prosperidade e da teologia da confissão positiva, que têm levados muitos a deixar de ser discípulos de Cristo para serem servos das riquezas, para serem inimigos do Senhor Jesus.
– Quando não damos prioridade às coisas espirituais, estamos decretando a nossa exclusão da eternidade com Deus. O Senhor Jesus deixa-nos isto claro quando nos conta a parábola da grande ceia (Mt.22:1-14; Lc.14:15-24). Todos aqueles convidados que rejeitaram o convite, perderam o direito de participar da festa e foram substituídos por outros.
– O pastor e escritor escocês Alexander Whyte (1836-1921), ao se referir a esta parábola e, mais propriamente, aos convidados que recusaram o convite, afirmou que “…a verdade é que eles não tinham coração para aquele convite.
Todo o seu tesouro, e consequentemente todo o seu coração, estava em outro lugar. O tesouro do primeiro homem era seu pedaço de chão recém-comprado.
O tesouro do segundo homem era seu jugo de cinco bois. Enquanto o terceiro homem tinha o melhor tesouro e a melhor desculpa de todas.
Pois ele tinha uma jovem esposa em casa, e o jantar nunca o permitia que o afastasse tão cedo de seu lado.…” (Personagens bíblicos do Antigo e do Novo Testamento. São Paulo: Fonte Editorial, 2021, p.995).
II – A SOLICITUDE PELA VIDA
– Diante destes ensinos, o Senhor Jesus mostra que Seus discípulos não podem ser pessoas que se preocupem com as coisas materiais.
“Preocupação”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “prevenção, opinião antecipada, ou a primeira impressão que uma coisa fez no ânimo de alguém; ideia fixa e antecipada que perturba o espírito a ponto de produzir sofrimento moral; perda da tranquilidade de espírito, devida ao interesse ou sentimento de responsabilidade que se tem por certas pessoas ou coisas; cuidado; atenção dirigida exclusivamente a alguma pessoa ou coisa; pensamento dominante, que se sobrepõe a qualquer outro”.
– O discípulo de Jesus, como busca ajuntar tesouros nos céus, como pensa nas coisas que são de cima, não “perde seu tempo” ocupando-se previamente, com as coisas terrenas, não tem uma ideia fixa, uma obsessão pelas coisas desta vida.
– Quem não tem a dimensão da eternidade, ocupa-se com as coisas desta vida previamente, toma todo o seu tempo visando amealhar os bens terrenos.
Vive correndo atrás de uma autossuficiência financeira, fama, popularidade, poder e prazer. É o que temos visto sempre entre os que não creem em Deus.
– O Senhor Jesus foi claro ao mostrar que são os gentios (.i.e, não apenas os não judeus, mas todos quantos não creem nas promessas divinas) quem estabelecem como alvo em suas vidas a satisfação das necessidades materiais. Eles se ocupam em suprir a comida, a bebida e o vestido (Mt.6:31,32), pois é para isto que vivem, estes são os seus objetivos.
– Tais pessoas não veem a realidade da eternidade, não creem que a vida não termina aqui com o expirar, mas querem tão somente desfrutar do aqui e agora, como se esta nossa peregrinação fosse não uma passagem mas o destino final.
– Nos dias em que vivemos, é este pensamento que tem predominado não só entre as camadas populares, mas também entre os intelectuais.
Os grandes pensadores de nossos dias são pessoas que se dizem ateias, materialistas e que estão a repetir a mesma ideia mencionada pelo profeta Isaías e que predominava entre os moradores de Jerusalém, que diziam: “Mas eis aqui gozo e alegria; matam-se vacas e degolam-se ovelhas; come-se carne, e bebe-se vinho, e diz-se: Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (Is.22:13).
– Assim, como esta vida terrena é a única existente, segundo tais concepções, devemos nos preocupar em vivê-la da melhor maneira possível e, deste modo, temos de nos ocupar com a nossa sobrevivência, pois é isto que importa, já que, após a morte, nada mais existirá.
– Esta é a ilusão que Satanás forjou nas mentes humanas, mas que não mais atinge o discípulo de Cristo, que foi liberto do pecado e do mundo, o sistema governado pelo adversário de nossas almas. O discípulo de Cristo não é pessoa que se preocupe com as coisas terrenas.
– Não se está a negar aqui as necessidades para a sobrevivência. O Senhor Jesus foi explícito ao dizer que o Pai sabe que necessitamos de comida, bebida e vestimenta (Mt.6:32). Não é para menos, pois a necessidade surgiu, precisamente, do juízo divino sobre o pecado ao primeiro casal (Gn.3:17-21).
– Ora, se Deus sabe que necessitamos destas coisas terrenas para a sobrevivência, como Ele é nosso Pai, não temos porque nos preocuparmos com isto, ou seja, nos ocuparmos previamente, termos uma ideia fixa, perder a tranquilidade e ficar perturbado por causa destas necessidades.
– O discípulo de Cristo é convidado a viver por fé e não por vista (II Co.5:7). Não apenas cremos que Jesus é o Senhor e Salvador e alcançamos a justificação, a regeneração, a santificação, a adoção como filhos, como também passamos a confiar em Deus de que sobreviveremos, tendo as nossas necessidades materiais satisfeitas, se buscarmos e pensarmos nas coisas que são de cima, se ajuntarmos tesouros nos céus.
– Cremos em Jesus e, por causa disso, já temos a vida, pois quem crê em Jesus passou da morte para a vida (Jo.5:24). Ora, esta vida, que é a comunhão com o Senhor depois da remoção dos pecados, é muito mais do que o comer, o beber e o vestir, e isto temos a experiência em virtude da salvação, que nos mostra como a vida é muito mais que os bens terrenos.
– O Senhor Jesus mostra-nos algumas verdades que permitem, mesmo aos que não tiveram a experiência da salvação, ter esta noção da superioridade da vida espiritual sobre a dimensão terrena.
– Assim, Cristo nos mostra que a vida é superior ao mantimento, ou seja, se a vida é superior ao mantimento, é evidente que a espiritualidade se sobrepõe ao que é material.
– Como se isto fosse pouco, o Senhor Jesus nos mostra que o corpo é superior à vestimenta. De igual modo, a espiritualidade é superior ao que é material.
– Mas o Senhor Jesus traz ainda um outro argumento natural para nos mostrar esta verdade espiritual. Mostra as aves dos céus, que não semeiam, não segam, nem ajuntam em celeiros, mas, mesmo assim, são alimentadas pelo Pai celestial. Ora, se o Pai trata assim as aves, não haveria de tratar os Seus filhos, que são os discípulos de Cristo?
– Temos, deste modo, motivos, razões sobejas para confiar em Deus, pois, se valemos muito mais que as aves, a ponto de Deus ter mandado Seu Filho para morrer em nosso lugar por querer a nossa salvação, por que haveríamos de duvidar de que Deus pode, também, nos sustentar, nos alimentar?
– Não podemos aqui demonstrar a mesma incredulidade que os filhos de Israel haviam revelado no episódio do monte Sinai.
– Depois de terem sido poupados de todas as pragas que Deus havia mandado sobre os egípcios, depois de terem experimentado o cuidado de Deus na passagem a seco pelo Mar Vermelho, de terem recebido o sustento pelo maná, de serem dirigidos por uma nuvem durante o dia e por uma coluna de fogo durante a noite, de terem recebido água de modo milagroso em Mara e em Massá e Meribá, mesmo assim, não creram em Deus e, em vez de subirem ao monte com o longo sonido da buzina (Ex.19:13), retiraram-se para longe, achando que Deus queria matá-los (Ex.20:18-21).
– É precisamente este o mesmo sentimento que tem todo aquele que se preocupa com os bens materiais, que põe como alvo de suas vidas a satisfação das necessidades materiais, porque, com este gesto, estão a dizer que não creem que Deus as poderá suprir de todas as necessidades, como se Deus os quisesse matar.
– É importante aqui observar que o Senhor Jesus não está dizendo que as pessoas não devam procurar satisfazer suas necessidades materiais mediante o trabalho. É pelo trabalho que devemos buscar a supressão de tais necessidades (Gn.3:19), tanto que o apóstolo é bem claro ao dizer que quem não quiser trabalhar, também não deve comer (II Ts.3:10,11).
– Como bem diz Jerônimo: “…Somos ordenados a não sermos solícitos sobre o que comer, porque buscamos comida com o suor do nosso rosto. Portanto, o trabalho deve ser feito, mas a preocupação deve ser evitada.…” (Cátena áurea. Mt. 6:25. Disponível em: https://hjg.com.ar/catena/c79.html Acesso em 06 mar. 2022) (tradução Google de texto em espanhol).
– O que o Senhor Jesus está a nos ensinar é que Seu discípulo não vive neste mundo em função da satisfação das necessidades materiais, mas tem como prioridade buscar o reino de Deus e a sua justiça, sabendo que, ao fazer isto, terá supridas as suas necessidades pelo Pai celestial.
– O objetivo, o alvo, a finalidade de nossa peregrinação terrena é o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33). O reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17).
OBS: “…O que é que devemos buscar? O texto diz: “Buscai primeiro o reino de Deus”. Deus estabeleceu Seu reino neste mundo dentro dos reinos dos homens, há o reino de Deus, onde Ele governa. Isto é de outro tipo de todos os reinos terrenos, pois Cristo disse: “Meu reino não é deste mundo”.
É um reino mais puro, mais alto, mais verdadeiro e mais durável do que qualquer César jamais foi capaz de estabelecer.…” (SPURGEON, Charles Haddon. Algo valioso para buscar. Sermão pregado na noite do dia 27/9/1885 no Tabernáculo Metropolitano. Disponível em:
https://www.spurgeongems.org/sermon/chs2515.pdf Acesso em 06 mar. 2022) (tradução Google de texto em inglês).
– O discípulo de Jesus Cristo tudo faz nesta terra com o objetivo de demonstrar ao mundo a justiça, a paz e a alegria no Espírito Santo. Seu propósito é agradar a Deus, ser testemunha de Jesus Cristo, ser sal da terra e luz do mundo, a fim de levar as pessoas à salvação e a glorificar o nosso Pai que está nos céus.
– Fazer a vontade de Deus é a razão de ser da nossa peregrinação terrena e devemos nos ocupar nisto, em nos apresentar a Deus como vivos dentre mortos e os nossos membros a Deus como instrumentos de justiça, porque o pecado não tem domínio sobre nós, já que estamos debaixo da graça (Rm.6:13,14).
– As coisas materiais são tão somente um acréscimo na existência do discípulo de Cristo. É o que Jesus nos ensina nesta parte do sermão, ao prometer que, se buscarmos primeiro o reino de Deus e a sua justiça, teremos, como acréscimos, o comer, o beber e o vestir.
– É este o real papel destas necessidades materiais, das coisas desta vida na hierarquia de valores do reino de Deus: são acréscimos, são acessórios.
A essência da existência humana é pertencer ao reino de Deus, é ter comunhão com o Senhor para todo o sempre e, enquanto estivermos neste mundo, o Senhor promete que nos dará, como acréscimo, o suficiente para nossa peregrinação terrena.
OBS: “…“Todas estas coisas vos serão acrescentadas”, e a medida da adição será arranjada pela sabedoria infalível. As coisas temporais virão a você na proporção que você os desejaria, se você fosse capaz de conhecer todas as coisas e formar um julgamento de acordo com a sabedoria infinita.
Você não preferiria um lote escolhido pelo Senhor a um escolhido por você mesmo?
Você não canta alegremente com o Salmista:
“Você deve escolher a minha herança para mim”? A promessa também não implica que coisas necessárias virão ao crente sem preocupação e sem consumir trabalho? Enquanto os outros se preocupam, você estará cantando.
Enquanto outros se levantam de manhã e clamam: “Como viveremos o dia?” você deve acordar para uma provisão segura, e você terá um prazer feliz disso.
Seu lugar de defesa serão as munições de rochas, seu pão vos será dado, e as vossas águas serão certas. Contentamento com a sua sorte e confiança em Deus tornará a vida pacífica e feliz, um jantar de ervas com conteúdo produzirá um sabor de satisfação desconhecido para quem come o boi parado.
É melhor ser feliz do que ser rico, e a felicidade está no coração e não na bolsa. Não o que um homem tem, mas o que um homem é, decidirá sua felicidade ou aflição neste vida e na próxima.
Oh sim, se o próprio Deus acrescenta a você as coisas desta vida, enquanto você está servindo a Ele, as linhas cairão para você em lugares agradáveis, e você terá uma boa herança…” (As primeiras coisas primeiro. Sermão pregado na tarde de 28/9/1885 na reunião mensal da União de Oração dos Bancos de Londres. Disponível em: https://www.spurgeongems.org/sermon/chs1864.pdf Acesso em 06 mar. 2022) (tradução Google de texto em inglês)
– Mas o Senhor Jesus vai além. Pergunta quem pode, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura (Mt.6:27).
– A preocupação com as coisas terrenas é, antes de mais nada, uma negação da crença em Deus, é a consequência de uma atitude de desprezo da figura divina, é mais um aspecto da crença na mentira satânica de que se pode viver sem Deus.
– Quando se desconsidera o Senhor, o homem acha que pode, por si só, obter os meios para a sua sobrevivência, para a sua existência e o resultado disto é a preocupação com a satisfação das necessidades materiais. Isto passa a se tornar uma obsessão.
– Entretanto, o discípulo de Jesus não confia em si, pois maldito é aquele que confia no homem e nas forças humanas (Jr.17:5). Por isso, sabe que se trata de uma nulidade, que sem Jesus nada poderá fazer (Jo.15:5).
– Se não conseguimos, com todos os nossos cuidados, aumentar um côvado à nossa estatura, por que acreditaríamos que podemos controlar as nossas vidas e suprir as nossas necessidades sem que tenhamos a bênção de Deus?
– A pandemia que assolou o mundo recentemente mostrou claramente como a humanidade é frágil e como um simples vírus é capaz de deixar sem ação todos os homens, sejam eles ricos ou pobres, jovens ou velhos, varões ou varoas, poderosos ou sem qualquer poder, doutos ou indoutos. Todos tiveram desmascarada a sua total impotência, que o Senhor Jesus já deixara ensinada no sermão do monte.
– Se não temos controle sobre as coisas, por que, então, nos desgastarmos emocional, psíquica e fisicamente com ansiedade pelo dia de amanhã, querendo viver em função do suprimento de nossas necessidades materiais, se, inclusive, isto é apenas algo secundário na existência terrena?
– Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), o príncipe dos pregadores britânicos, em um de seus sermões, disse que “…A ansiedade inquietante é proibida ao cristão.
Em primeiro lugar, é desnecessária…” (As primeiras coisas primeiro. Sermão pregado na tarde de 28/9/1885 na reunião mensal da União de Oração dos Bancos de Londres. Disponível em: https://www.spurgeongems.org/sermon/chs1864.pdf Acesso em 06 mar. 2022) (tradução Google de texto em inglês), porque Deus cuida das aves dos céus e, portanto, cuidará dos homens, “…inútil” (ibid.), porque ninguém pode acrescer um côvado à sua estatura e, por fim, “…pagã”, porque são os gentios que têm esta preocupação.
– As estatísticas e os estudos mostram que a ansiedade tem aumentado grandemente na humanidade nos últimos anos e é um dos principais motivos geradores da depressão, que deve ser a doença que mais atingirá as pessoas neste século, conforme as projeções.
– Não é coincidência que isto se dê precisamente num instante em que a iniquidade está atingido níveis alarmantes, como também há uma evidente apostasia espiritual entre os que cristãos se dizem ser. Quanto mais se afasta de Deus, maior a ansiedade, que é fruto direto da incredulidade, da ausência de fé.
– Pedro bem aprendeu esta lição de seu Mestre e manda que lancemos sobre Cristo toda a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós (I Pe.5:7).
– Jesus mostra toda a tolice de uma tal conduta quando nos conta a parábola do rico insensato que tudo fez para não ter mais que se preocupar em satisfazer as suas necessidades (Lc.12:13-21).
Veja que, aparentemente, aquele homem foi bem sucedido em seus projetos. Realmente, conseguiu ter boas colheitas e amealhar bens para o resto de sua vida.
No entanto, naquela noite em que começaria a desfrutar de todo o seu esforço, sobreveio-lhe a morte, a mostrar, a um só tempo, que é totalmente despropositado preocupar-se com o dia de amanhã se nem sabemos que o teremos nesta dimensão terrena e que a vida não se resume na satisfação das necessidades para sobrevivermos nesta peregrinação.
Tanto isto é verdade que o evangelista Lucas diz que Jesus contou esta parábola para ensinar que a vida não consiste na abundância do que possui.
– O discípulo de Jesus deve estar consciente que, por estar no mundo, necessita comer, beber e vestir e as próprias Escrituras dizem que vem da mão de Deus comer e beber e fazer gozar a sua alma do bem do seu trabalho (Ec.2:24) e que é boa e bela coisa comer, beber, gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, em que trabalhou debaixo do sol todos os dias da sua vida que Deus lhe deu, porque esta é a porção de cada ser humano (Ec.5:18).
– Assim, todo discípulo de Jesus procura trabalhar para poder comer, beber e gozar do fruto de seu trabalho, mas sabe que não pode se ocupar para, previamente, ter tudo isto satisfeito, não vive em função do comer, beber e vestir, mas, sim, vive em função do reino de Deus, fomentando justiça, paz e alegria no Espírito Santo, usando, inclusive, o seu trabalho para atingir tais objetivos e fins.
– O Senhor Jesus ainda traz outro argumento, o dos lírios do campo, que, sendo tão somente um vegetal, é vestido por Deus com muito maior requinte que qualquer vestimenta feita pelo homem, inclusive comparando o lírio com as vestimentas do período mais próspero de Israel, que foi o reinado de Salomão.
– Os exemplos dados pelo Senhor Jesus são objetivos, claros e indiscutíveis, revelam toda a impotência humana para suprir suas necessidades e toda a incredulidade do homem para confiar que Deus irá garantir-lhes a sobrevivência.
– Jesus mesmo diz que o que impede as pessoas de terem o alvo certo em suas vidas é a falta de fé (Mt.6:30). A fé é essencial para que alguém seja discípulo do Senhor Jesus.
– Os homens que não são discípulos de Cristo apresentam dois graves problemas. Por primeiro, são incrédulos, não creem que Deus lhes possa sustentar, apesar de todas as evidências que lhes são apresentadas, como os exemplos mencionados pelo Senhor no sermão do monte (aves dos céus, lírios do campo).
– Por segundo, acham ser autossuficientes, tendo condição de, por si sós, alcançarem o suprimento de suas necessidades, fazendo com que isto seja o objetivo de suas vidas: o comer, o beber e o vestir.
– O discípulo de Jesus deve, porém, ter uma atitude diametralmente oposta. Deve crer em Deus, ter fé no Senhor, sem o que jamais poderá agradá-l’O (Hb.11:6) bem como reconhecer sua impotência, aguardando a intervenção divina e sabendo que o dia de amanhã não lhe pertence, bastando a cada dia o seu mal (Mt.6:34).
OBS: “Ensina, não só com o exemplo dos pássaros, mas também com a experiência, que não basta nosso cuidado para subsistir e viver, mas que é necessária a ação da Providência Divina, dizendo: “Qual de vocês, raciocinando, pode acrescentar um côvado à sua altura?” (Glosa. Cátena áurea. Mt.6:26,27. Disponível em: https://hjg.com.ar/catena/c80.html Acesso em 06 mar.2022) (tradução Google de texto em espanhol).
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7382-licao-10-nossa-seguranca-vem-de-deus-i-e-apendice-2-circuncisao-e-sabado-os-grandes-ausentes-do-sermao-do-monte