ESBOÇO Nº 1
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Depois de termos estudado dois temas relevantíssimos para conhecermos a base da doutrina cristã neste ano em que se inicia novo currículo da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, qual seja, a doutrina da Bíblia (Bibliologia), no primeiro trimestre e o sermão do monte, que é a essência da doutrina de Cristo aos Seus discípulos, no segundo trimestre, teremos um outro trimestre temático, mas agora a envolver o estudo dos “falsos ensinos”, do engano que o diabo tem procurado trazer à Igreja nestes últimos dias do povo de Deus sobre a face da Terra.
Com efeito, a principal cautela que os discípulos de Jesus deverão ter nos dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, à volta do Senhor Jesus para buscar a Sua Igreja é o engano.
Quando perguntado pelos discípulos a respeito dos acontecimentos do tempo do fim, o Senhor Jesus foi bem enfático: “Acautelai-vos que ninguém vos engane” (Mt.24:4). É assim que o Mestre dá início ao Seu sermão profético, também chamado sermão escatológico.
Como se isto fosse pouco, ao longo do sermão, o único tema que o Senhor trata por três vezes é, precisamente, o tema do engano: “Acautelai-vos que ninguém vos engane” (Mt.24:4);
“E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos” (Mt.24:11) e, por fim, “porque surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt.24:24).
Por isso, apresenta-se como extremamente salutar, depois de termos visto o alicerce da doutrina cristã (a Bíblia e o resumo constante do sermão do monte), que nos voltemos para os “ataques contra a Igreja de Cristo”, ou seja, que nos debrucemos sobre as mais proeminentes mentiras que o diabo, pai da mentira (Jo.8:44) tem trazido para enganar os discípulos de Jesus, buscando, com isso, impedir que venham a ser brevemente, mas bem brevemente mesmo, arrebatados por Seu Senhor e encontrar com Ele nos ares (Cf. I Ts.4:15/17).
Não é por outro motivo que o subtítulo do trimestre é, precisamente, “as sutilezas de Satanás nestes dias ”.
Trataremos, durante o trimestre, das principais mentiras, dos principais falsos ensinos que têm sido introduzidos no meio da Igreja pelos falsos mestres, a fim de que não venhamos a ser enganados.
Não devemos, por primeiro, nos surpreender com o fato de que há, em nosso meio, falsos mestres e falsos ensinos.
Isto já foi profetizado nas Escrituras, como, por exemplo, por Paulo (II Co.11:13-15), Pedro (II Pe.2:1-3), João (I Jo.4:1-6), Judas (Jd.4), que, afinal de contas, apenas minudenciaram o que já havia sido dito pelo Senhor Jesus, não somente no sermão escatológico já aludido, mas, mesmo, no sermão do monte, como tivemos ocasião de verificar no trimestre passado (Mt.7:15-23).
Por segundo, devemos entender que a única forma de não sermos enganados é por meio do conhecimento da verdade.
É o conhecimento da verdade que nos liberta (Jo.8:32) e o conhecimento da verdade outra coisa não é senão o conhecimento de Jesus, que é a verdade (Jo.14:6), que o conhecimento das Escrituras, que são a verdade (Jo.17:17) e que são as únicas fidedignas testemunhas do Senhor (Jo.5:39).
Assim, na verdade, ao nos debruçarmos sobre os falsos ensinos, estaremos a fazer uma defesa da fé, seremos municiados com as armas da verdade, tanto que o tema a ser estudado faz parte da “Apologética Cristã”, que nada mais é que a parte da teologia que traz os argumentos para que nós possamos dizer a razão da esperança que há em nós, para que digamos aos outros em que e porque cremos no que diz a Bíblia Sagrada.
Não é à toa, aliás, que o nosso comentarista é o pastor José Gonçalves da Costa Gomes, presidente das Assembleias de Deus em Água Branca/PI, há anos comentarista das Lições Bíblicas e que é membro da Comissão de Apologética da Convenção Geral das Assembleias de Deus.
E é neste contexto que temos a capa da nossa revista, onde vemos um soldado devidamente armado empunhando um escudo no qual estão diversos dardos lançados pelo inimigo.
Temos aqui uma alusão à “armadura de Deus” mencionada pelo apóstolo Paulo na carta aos efésios (Ef.6:10-18), quando se lembra ao servo de Cristo Jesus que ele vive, aqui na face da Terra, uma luta contra as hostes espirituais da maldade e que, para ser vitorioso, precisa estar devidamente armado com a “armadura de Deus”.
O apóstolo, então, utilizando a figura do soldado romano, mostra quais as armas que o cristão deve tomar para ter vitória nesta luta e, entre elas, está o “escudo da fé, com o qual poderes apagar todos os dardos inflamados do maligno” (Ef.6:16), o que também nos faz recordar o ensino do apóstolo João, segundo o qual “esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (I Jo.5:4).
Assim, para que possamos enfrentar os falsos ensinos, as “sutilezas”, ou seja, “aquilo que se infiltra e penetra sem que seja facilmente percebido”, que o inimigo lança no meio do povo de Deus, é mister que usemos a fé, ou seja, não só a confiança em Deus, mas que tenhamos pleno conhecimento daquilo que Deus revelou a nós, pois fé é também o conjunto de tudo quanto o Senhor nos revelou e ensinou (At.6:7; Rm.1:5; II Co.13:5; Fp.1:27; Cl.1:23; I Tm.4:1; 6:10).
Depois de uma lição introdutória, teremos quatro blocos do trimestre.
O primeiro bloco diz respeito aos falsos ensinos morais, que buscam comprometer o comportamento ético do cristão que, como vimos no trimestre passado, é um dos pilares do caráter do discípulo de Jesus.
Assim, na lição 2 falaremos sobre a banalização da graça, que é a falsa ideia de que a graça permite a livre prática do pecado, que confunde liberdade cristã com libertinagem.
Na lição 3, falaremos sobre a questão da imoralidade sexual, que tanto mal tem feito a vida espiritual de muitos e, por fim, a questão da normalização do divórcio, esta chaga que tem ferido a vida familiar e, por conseguinte, toda a vida da Igreja e da sociedade.
O segundo bloco tratará dos enganos relacionados com o nosso relacionamento com Deus, a falsa imagem de Deus trazida para o seio da Igreja, quando, então, estudaremos o ateísmo e o materialismo (lição 5), as ideologias contrárias à família, que nada mais são que negação sutil de Deus, o criador da família (lição 6) e a relativização da Bíblia, que é a Palavra de Deus (lição 7).
O terceiro bloco tratará dos enganos relacionados ao papel da Igreja, uma tentativa do diabo de desacreditar esta instituição, este povo gerado por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e, assim, veremos os enganos concernentes ao enfraquecimento da identidade pentecostal (lição 8), o movimento dos desigrejados (lição 9) e as práticas contrárias à mordomia cristã (lição 10).
O quarto bloco falará dos enganos relacionados com a “Nova Era”, o “espírito do anticristo”, a preparação doutrinária da religião mundial e, assim, estudaremos os enganos das mídias sociais, grande veículo da propagação deste mal e a própria espiritualidade holística trazida por este ensino precursor da religião mundial anticristã que se está estabelecendo no mundo.
Por fim, teremos uma lição conclusiva.
Que o estudo deste trimestre possa nos trazer o armamento necessário para, no combate contra o mal, não sermos enganados pelo inimigo de nossas almas e, perseverando até o fim, sejamos salvos.
B) LIÇÃO 1 – AS SUTILEZAS DE SATANÁS CONTRA A IGREJA DE CRISTO
A distorção da verdade revelada por Deus é uma atividade própria da própria
natureza de Satanás.
INTRODUÇÃO
– A verdade é única e tudo o que não se conforme com ela nada mais é senão mentira. As falsas doutrinas e ensinos são, portanto, mentiras e, por isso, têm como principal mentor o pai da mentira, que é o diabo (Jo.8:44).
– Os dias em que vivemos, imediatamente anteriores à volta de Cristo, são dias de aumento do pecado e, por conseguinte, da mentira, dias de proliferação das falsas doutrinas.
I – A SUTILEZA É PRÓPRIA DA NATUREZA DE SATANÁS
– A palavra “sutileza” significa “caráter ou qualidade do que é sutil”. “Sutil”, por sua vez, tem o significado de “quase imperceptível devido ao diminuto volume, tamanho ou espessura; fino, tênue, delgado”; “que tem grande sensibilidade, extrema penetração ou agudeza para perceber, distinguir ou expor coisas finas ou muito engenhosas; penetrante, perspicaz, aguçado”, “que se infiltra por todas as partes, que se insinua com grande facilidade; penetrante”.
– A primeira vez que esta palavra surge nas Escrituras é, precisamente, em relação a Satanás, que é apresentado como a serpente, a “mais astuta de todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito” (Gn.3:1).
A palavra original hebraica é “aruwm”, cujo significado é “astuto”, “ardiloso”, “sutil” (aliás, na tradução inglesa do Rei Tiago a palavra empregada é, precisamente, “subtil”).
– Satanás, portanto, desde a sua primeira aparição no relato bíblico, já é apresentado como sendo um ser que tem a capacidade de quase não ser percebido, que é capaz de adquirir extrema penetração, que tem uma grande sensibilidade para perceber ou sentir as coisas com antecedência e, desta maneira, elaborar coisas finas ou muito engenhosas, que tem grande capacidade de insinuação e que, assim agindo, consegue atingir os seus objetivos.
A Versão Almeida Revista e Atualizada (ARA) traduz a palavra “aruwm” de Gn.3:1 por “sagaz”,
que é aquele que tem faro apurado, que tem seus sentidos sutis, de onde vem, por exemplo, a palavra “presságio”, ou seja, aquilo que é sentido ou percebido com antecedência.
– A sutileza envolve, sempre, esta aguçada percepção do que está em torno, este conhecimento profundo do ambiente, bem como uma habilidade para exploração dos sentimentos, das emoções, dos desejos, de modo a produzir neles a aceitação de ideias, condutas e modos de agir que não são claramente expressos, o que se denomina de “insinuações”.
– Exemplo de que como se processa a sutileza temos na ação de Jacó, combinada com a sua mãe, para obter a bênção da primogenitura (cf. Gn.27:35).
Ali, vemos que Rebeca ouviu a conversa entre Isaque e Esaú sem ser notada, ou seja, passou ela imperceptível a pai e filho.
Em seguida, combinou tudo com Jacó, tendo já ciência dos sentimentos e gostos do pai, inclusive arranjando meios para que Isaque não percebesse se tratar de Jacó, mediante expedientes fraudulentos, que tornaram Jacó muito parecido com Esaú na aparência externa, a ponto de conseguir enganar o pai, apesar de toda a desconfiança demonstrada. Deste modo, esgueirando-se na semelhança e na aparência, Jacó conseguiu obter a bênção, enganando o patriarca. A sutileza, como se observa, sempre tem por objetivo o engano, o roubo da bênção.
– Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo recomenda que devamos ter cuidado com as vãs sutilezas (Cl.2:8), porque a sutileza sempre é engenhosa, é “bem produzida”, para usarmos uma expressão muito comum nos nossos dias, feita sob medida para nos trilhar do rumo da verdade, da vida espiritual, porque, como diz o apóstolo, ela é feita segundo as tradições dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo.
– A sutileza é a marca registrada do diabo (Jo.8:44) e, portanto, tudo quanto se referir a tal comportamento tem como mentor e inspirador o inimigo das nossas almas. As Escrituras registram ser ele o mais sutil de todos os seres criados por Deus e não há coisa alguma sutil que não esteja, de modo direto ou indireto, relacionado a ele.
II – A SUTILEZA DE SATANÁS EM AÇÃO NO ÉDEN
– Para averiguarmos como Satanás usa desta sua qualidade essencial, que é a sutileza, nos dias em que vivemos, faz-se mister que analisemos como o diabo agiu desde o instante em que se pôs a pôr em execução o seu plano de destruição da humanidade, que é o seu trabalho (Jo.10:10).
Como nos dá conta o apóstolo João, o que existe no mundo, conquanto seja passageiro, é sempre a mesma coisa:
concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida (I Jo.2:16). Assim, embora o diabo, por sua própria natureza sutil, apresente-se em diversos disfarces, de forma quase imperceptível, em essência sempre é e será a “antiga serpente” (Ap.12:9), de modo que, ao verificarmos como agiu no Éden, teremos condição de nos acautelarmos quando de suas investidas no campo doutrinário, que é onde mais se apresenta a sua sutileza.
– Por primeiro, observamos, no relato da queda do primeiro casal, que o diabo surge como uma serpente, ou seja, de forma quase imperceptível, quase sem ser notada, apresentando-se à mulher de repente, de surpresa, num momento em que a mulher não esperava e que, o texto nos leva a crer, estava solitária, sem a companhia de seu marido, diríamos que num instante de distração.
– É comum esperarmos a manifestação do adversário ou de seus agentes de forma ruidosa, com muito barulho e estardalhaço, como um leão buscando a quem possa tragar (cf. I Pe.5:8). O inimigo assim se apresenta às vezes, até porque, se assim não o fosse, não haveria esta recomendação bíblica, mas, em termos doutrinários, é preciso termos consciência de que não é corriqueiro que o diabo se apresente deste modo.
Em matéria de falsos ensinos e doutrinas, o diabo vem, mesmo, é de forma sorrateira, como uma serpente, chegando devagar, de mansinho, quase sem ser percebido, buscando nos encontrar num momento de distração.
– É verdade que, mesmo quando o diabo se apresenta de forma barulhenta e espalhafatosa, ele não deixa de ser sutil e enganoso.
O texto bíblico diz que ele brama como um leão, buscando a quem possa tragar, ou seja, mesmo no meio do barulho e do ruído que assusta, não deixa de mostrar a sua face de engano que lhe é própria:
imita a voz do leão, aparenta ser um leão, mas de leão só tem a aparência, querendo, isto sim, tão somente a destruição daquele que cair nas suas garras, algo bem diverso do que pretende o verdadeiro leão, o Leão da Tribo de Judá.
– O diabo apareceu como uma serpente no Éden e, ante a distração do primeiro casal, conseguiu entrar no jardim para efetuar a sua tarefa destruidora.
O jardim deveria estar sob permanente e vigilante guarda do homem (cf. Gn.2:15), mas o fato é que o homem não estava sequer na companhia da mulher naquele instante e a mulher, também, absorta em seus pensamentos, nem notou a aproximação da serpente.
– O inimigo começa a sua operação sempre nos instantes de distração e de descuido dos servos de Deus. Os falsos ensinos e doutrinas ingressam no meio do povo do Senhor nos cochilos daqueles que o Senhor incumbiu para cuidar da Sua vinha, como se relata na parábola do joio e do trigo (cf. Mt.13:25).
Por isso, a maior arma contra as seitas e heresias é a vigilância constante e ininterrupta, o que somente se dará mediante a meditação diuturna da Palavra de Deus e uma vida de oração e dedicação às coisas de Deus.
– A distração, o “cochilo espiritual” são fatais para a saúde espiritual da igreja. O sábio judeu Rabi Jaacov disse que “aquele que durante o caminho rememora o que aprendeu da Tora mas interrompe seu pensamento para dizer ‘Que bela árvore! Que belo campo!’ é considerado pela Escritura como alguém que, por seu pecado, incorreu na pena de morte” (Pirke Avot – tratado ético do Talmude, segundo livro sagrado do judaísmo – 3:9).
Jamais podemos deixar de ter em mente que vivemos para Deus, para cumprir a Sua vontade e que nada pode nos distrair e nos fazer deixar de ter este relacionamento íntimo de Deus.
A mulher estava absorta em seus pensamentos e, por um instante, se distraiu, o que foi suficiente para que o adversário se aproximasse, vez que ele tem a sutileza como sua marca principal, ou seja, o conhecimento do ambiente e o senso de oportunidade para sua tarefa malévola.
– O caminho da vigilância está relacionado com a meditação diuturna da Palavra de Deus. Quando meditamos nas Escrituras, quando as estudamos ininterruptamente, o adversário não encontra brecha para agir.
Por isso, o salmista diz que o resultado de uma meditação prazerosa na Palavra do Senhor é o discernimento espiritual que não nos permite andar segundo o conselho dos ímpios, nem nos deter no caminho dos pecadores nem tampouco nos assentar na roda dos escarnecedores (Sl.1:1,2).
– A principal arma contra as seitas e heresias é, portanto, o conhecimento da Palavra de Deus, o que somente virá a nós com a constante meditação nela, com seu estudo contínuo até o dia em que o Senhor aprouver, ou seja, nossa morte física ou o arrebatamento da Igreja. Já os rabinos judeus se perguntavam quanto tempo se deveria estudar as Escrituras.
“…Por quanto tempo tem o homem obrigação de estudar a Torah? Até o dia em que morre. Por quê? Porque assim que o homem deixa de estudar, ele esquece.…” (AUSUBEL, Nathan. O conhecimento judaico. Trad. Eva Schechtman Jurkiewicz. In: A JUDAICA, v.5, p.277).
– Eva, porém, estava distraída e, por causa disto, o diabo pôde se aproximar e iniciar um diálogo com a mulher, lançando-a no campo da dúvida: “É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn.3:1b).
Percebamos que a serpente não questionou a existência de Deus, muito menos a Sua soberania ou, ainda, a existência de uma ordem.
Dentro de sua sutileza, o diabo bem sabia que não adiantava argumentar com Eva sobre a existência de Deus, pois a mulher contemplava o Senhor toda viração do dia, como também lhe seria totalmente inútil discorrer sobre a soberania divina, pois Eva bem conhecia o poder de Deus e Sua excelência em relação ao homem, como também de nenhum proveito seria discutir se a ordem foi dada, ou não, pois o Senhor a teria confirmado por algumas vezes, pelo menos. Diante disto, ao inimigo não restou fazer senão distorcer as palavras do Senhor, buscando, assim, lançar a mulher na dúvida e no embaraço.
– É precisamente assim que o diabo continua a operar com respeito aos seus agentes fomentadores de heresias e falsos ensinos nos dias atuais.
Ninguém vem à presença de um crente dizendo que tudo o que é crido e pregado na igreja é falso, inexistente ou sem cabimento.
Bem ao contrário, os falsos mestres se aproximam aparentemente admitindo o senhorio de Deus e de Cristo, fazendo-nos crer que compartilham dos mesmos valores e regras que nós, mas, aproveitando-se do nosso instante de distração, arma-nos a cilada, trazendo aquilo que NÃO é a Palavra de Deus, DISTORCENDO o conteúdo da revelação divina, que se encontra na Bíblia Sagrada.
– O “É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim?” do Éden continua na boca de todos os propagadores das heresias e dos falsos ensinos dos nossos dias.
Por isso, o apóstolo Paulo não usou de meias palavras para chamar de “anátema”, ou seja, amaldiçoados, todos quantos pregam “um outro evangelho’ (Gl.1:9), precisamente porque não há outro evangelho, não há outra Palavra, vez que a verdade é única e ela é Jesus (Jo.14:6), cujo único testemunho verdadeiro é o fornecido pelas Escrituras (Jo.1:1; 5:39 “in fine”).
– Toda heresia advém de uma distorção do conteúdo bíblico, distorção nem sempre de fácil percepção, que, numa primeira análise, parece ter até uma razão de ser.
Não nos esqueçamos que os falsos ensinos são sutilezas e, portanto, não são facilmente verificáveis, não se trata de absurdos que abandonamos tão logo as ouvimos, mas ensinos e pensamentos que nos deixam intrigados, principalmente para aqueles que se encontram distraídos como era o caso de Eva e, pior, que não têm conhecimento da Palavra de Deus.
– Além de distraída naquele instante, Eva não era atenta ao que Deus falava. Indagada pela serpente, imediatamente respondeu, dizendo: “do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais” (Gn.3:2b,3).
Nesta resposta de Eva, vemos alguns avanços na atividade destruidora do inimigo, avanços que presenciamos nos nossos dias por meio das seitas e heresias.
– Por primeiro, Eva aceitou o diálogo com a serpente, não reconhecendo, portanto, o interlocutor como sendo alguém que lhe queria o mal.
É sempre um problema quando não temos condição de identificar o nosso interlocutor como sendo um falso mestre, um falso profeta, um herege.
Paulo recomenda que o homem herege, depois de uma e outra admoestação, deve ser evitado (Tt.3:10) e isto num contexto de pessoas que se deixaram levar por heresias e falsos ensinos e que pertenciam à nossa igreja local.
Não existe comunhão entre a luz e as trevas e, por isso, devemos sempre evitar conversações, disputas e debates que não promovem qualquer edificação espiritual (Rm.13:13; I Tm.6:15; II Tm.2:14,23; Tt.3:9).
É preciso, pois, em meio a discussões e contendas, identificar quem fala a verdade e quem não tem compromisso com ela, de modo a evitarmos o diálogo com este tipo de gente.
Eva, porém, não teve esta percepção e abriu diálogo com a serpente, lançando-se, assim, no campo da dúvida, do embate, da polêmica, que jamais produz qualquer benefício espiritual.
– Por segundo, a mulher demonstrou desconhecimento da Palavra de Deus. Enquanto a ordem divina era para que não se comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal (cf. Gn.2:16,17), a mulher respondeu à serpente que a ordem era a proibição de se comer e se tocar na árvore que estava no meio do jardim (Gn.3:3). Vemos aqui, portanto, que a mulher alterou em dois pontos a ordem divina, a saber:
a) árvore da ciência do bem e do mal/ árvore que está no meio do jardim — tudo indica que a mulher se referiu à mesma árvore que havia sido interditada pelo Senhor, tanto que a serpente não precisou esclarecer coisa alguma a respeito da identidade entre as duas expressões, mas o fato é que a mulher não disse a mesma coisa que Deus havia dito, distorceu o que o Senhor havia determinado.
Não fora atenta à ordem divina e, por isso, no instante em pôr à prova aquilo que aprendera de Deus, fracassara. Há muita diferença em dizer que a árvore era a da ciência do bem e do mal ou a árvore que está no meio do jardim.
Esta forma própria de se referir à árvore fez toda a diferença, pois, foi ao desprezar o significado divino da árvore que a mulher pôde cair na armadilha da tentação, toda ela voltada para a ilusória possibilidade de adquirir conhecimento capaz de transformá-la em um ser igual e independente de Deus.
Isto só foi possível porque a mulher se esqueceu do significado daquela árvore e apenas a identificou como a árvore que estava no meio do jardim. É sempre um grande risco sermos ouvintes esquecidos da Palavra do Senhor (cf. Tg.1:22).
b) não comereis/ não comereis nem tocareis — aqui a mulher alterou a ordem divina, acrescentando algo de sua própria vontade, de seu próprio entendimento. Temos, em realidade, aqui, uma verdadeira “heresia”, uma opção humana que modifica a verdade divina.
A falta de cuidado e atenção na Palavra de Deus produz tais distorções, que são habilmente trabalhadas pelo diabo que, com esta cooperação humana, produz a morte espiritual de muitos. Quantos não agem desta ou daquela maneira porque alguém, um dia, lhes disse que isto estava na Bíblia, mas que, na verdade, nunca foram procurar verificar se isto é real, ou não.
Raros, hoje em dia, são os crentes bereanos, ou seja, aqueles que conferem o que se prega e o que se diz com o que consta na Bíblia Sagrada (cf. At.17:11), comportamento que as Escrituras consideram como nobre.
– Estando a mulher desprendida da Palavra de Deus, onde teria proteção e refúgio, não foi difícil para o inimigo, então, dar o seu bote, fazendo com que a mulher desacreditasse da Palavra de Deus e aceitasse as suas mentiras.
Entretanto, reforce-se, a mulher já havia, antes disso, se desligado do conteúdo da Palavra, não tinha mais a Palavra do Senhor como sua base, sua regra de fé e prática.
Assim, sem se firmar na Palavra, não foi difícil ser convencida pelas persuasivas e sedutoras palavras do inimigo, até porque a sutileza se manifesta por meio de um discurso habilidoso, eloquente e que, aparentemente, não tem como ser refutado.
Se grandes homens, ao longo da história, conseguiram, por meio da arte da retórica, convencer multidões a lhes seguir, por que o diabo não haveria de consegui-lo, justamente ele que é o mais sutil de todos os seres criados?
– O diabo mentiu, pôs em descrédito os ditos do Senhor e criou fantasias nas quais o primeiro casal acreditou e que foram a sua derrocada.
Assim também trabalha ainda hoje: uma vez se desprendendo das Escrituras, os homens são iludidos com falsas promessas e fantasias (que as Escrituras denominam de “fábulas”, ou seja, “contos da carochinha” – I Tm.1:4; 4:7; II Tm.4:4; II Pe.1:16), falsidades que a seu tempo se revelarão e que, infelizmente, para muitos, significarão a morte eterna.
III – A SUTILEZA DE SATANÁS EM AÇÃO NO DESERTO DA JUDEIA
– Outro exemplo de ação sutil do inimigo temos na tentação de Jesus e que teve ocasião no deserto da Judeia, logo após o batismo de Jesus por João Batista no rio Jordão.
Na continuidade da necessidade de se cumprir toda a justiça divina, que havia levado Jesus ao batismo do arrependimento, ainda que nunca tivesse pecado, o Senhor é impelido pelo Espírito ao deserto para ser ali tentado de forma especial pelo diabo (Mt.4:1).
– Nesta ação satânica, na plenitude dos tempos, no instante inaugural do ministério terreno do Senhor, vemos que seus métodos continuavam os mesmos, ainda que a roupagem fosse diversa. Jesus passou por um período de jejum de quarenta dias e quarenta noites (Mt.4:2) e, por fim, teve fome, chegou ao máximo da necessidade física de alimentação. É neste momento de fragilidade extrema que o diabo se manifesta.
– Entretanto, ao contrário do que acontecera com Eva, ainda que fragilizado pelas circunstâncias físicas, Jesus não foi apanhado distraído.
Havia se mantido durante quarenta dias e quarenta noites em intensa consagração, estava em plena comunhão espiritual com o Pai e, por isso, não foi surpreendido pelo inimigo, até porque, estando em comunhão com o Senhor, era dirigido pelo Espírito Santo, que viera sobre Ele quando do batismo efetuado por João (Jo.1:32) e, portanto, sabia que ali se encontrava para ser tentado pelo diabo.
– Quando não somos apanhados desprevenidos, quando não estamos distraídos, percebemos o aviso de Deus e sabemos por que e para que nos encontramos numa determinada situação até aparentemente adversa. Jesus tinha plena consciência do Seu papel diante do Pai e sabia que tinha de cumprir as Escrituras.
Nós também temos de ter a consciência e a certeza que estamos a cumprir a vontade de Deus, de cumprir a Bíblia Sagrada em nossas vidas.
Podemos não saber a que hora e como vem o adversário, mas teremos condição de identificá-lo assim que ele se manifestar diante de nós, por mais sutil que ele possa ser.
– O diabo apresenta-se como um ser preocupado com a fragilidade demonstrada pelo Senhor. O adversário não nos vem apanhar naquele ensino, naquela porção doutrinária em que somos mestres, mas, sim, naqueles pontos em que estamos fragilizados, em que a carência alcançou o seu grau máximo. De pronto, o diabo sempre procura pôr em dúvida a posição de Jesus Cristo, a ponto de lhe dizer: “Se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães” (Mt.4:3b).
– Mais uma vez, tenta o diabo pôr o homem no campo da dúvida. Distorce a Palavra de Deus uma vez mais. Com efeito, logo após o Seu batismo, Jesus ouvira a voz do Pai no céu que Lhe dissera: “Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo” (Mt.3:17b).
Agora, o adversário procura pôr em dúvida esta Palavra divina, dizendo “Se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães”.
– Se Jesus aceitasse o desafio do diabo, estaria, a um só tempo, descrendo no que Deus afirmara após o batismo e obedecendo ao diabo, procurando, assim, saciar, por Sua própria conta, a fragilidade em que se encontrava. Entretanto, Jesus não fez isto e nós também não devemos fazê-lo.
– O diabo, na sua sutileza, busca nos levar a tomar atitudes para comprovar a veracidade da Palavra de Deus. Entretanto, nossa única atitude com relação à Palavra é de crer nela incondicionalmente, ainda que isto pareça loucura aos nossos olhos. Jesus diz-nos que os céus e a terra passarão, mas não as Suas palavras.
Deste modo, ainda que terremotos, vulcões, tsunâmis e tudo pareça desabar ao nosso redor, devemos, ainda assim, crer naquilo que está na Palavra de Deus, porque Deus engrandeceu Sua Palavra acima até de Seu próprio nome (Sl.138:2).
– Um erro muito grave, nos nossos dias, é o de querermos provar, através de nossas ações, a veracidade da Palavra do Senhor.
Jesus, o Filho de Deus, que tinha poder para tal, nada fez para provar que era o Filho de Deus, pois a prova bastante e suficiente era o testemunho do Pai que fora ouvido dos céus e que o diabo tinha ouvido também.
Não temos, em absoluto, que tomar atitudes ou nos lançar a empresas para provar que a Palavra de Deus é verdadeira, pois seria demonstração de falta de fé e sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6 “in initio”).
– Muitos, nos nossos dias, têm sido presas fáceis do inimigo porque aceitam seu desafio e tentam comprovar, ao seu modo, a verdade bíblica e, como muitas vezes não conseguem fazê-lo ou se atrapalham ao tentar fazê-lo, acabam sendo engolidos pelo ceticismo, pela incredulidade e se desviam dos caminhos do Senhor.
Todavia, a Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25a) e quem vela para cumpri-la é o próprio Deus (Jr.1:12), o que se dará no momento oportuno, pois há um tempo determinado para todo propósito debaixo do céu (Ec.3:1).
– Jesus nada fez, a não ser demonstrar Sua total confiança nas Escrituras, utilizando-se como arma de ataque contra a investida do inimigo. Para tanto, recitou Dt.8:3, dizendo: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt.4:4).
– O texto citado por Cristo não era apenas o fruto de uma memorização, prática que não é má e que deveria ser seguida como se fazia antigamente nas Escolas Bíblicas Dominicais, pois é uma forma, notadamente entre crianças e adolescentes, de se incutir no coração e na mente a Palavra do Senhor, para que o Espírito Santos no-las faça lembrar quando necessário, mas a aplicação de um texto apropriado e adequado para o contexto vivido pelo Senhor.
Ao fazer esta citação, Jesus compara a Sua situação ao do povo de Israel no deserto, quando Moisés falava da necessidade que o povo tinha de guardar os mandamentos para que possuísse a Terra Prometida.
Jesus ensina-nos aqui que a melhor maneira de termos uma vida de comunhão com Deus é tendo conhecimento do teor da Sua Palavra e que é na humilhação, nos momentos difíceis que saberemos se temos estado, ou não, a observar a lei do Senhor (Dt.8:1-3).
– Se sobrevêm as dificuldades e os problemas na nossa vida, se nos apresentamos frágeis e débeis em algum instante, isto é permitido por Deus para que tenhamos um diagnóstico próprio a respeito de nossa espiritualidade, espiritualidade esta que é medida pela nossa observância da Palavra de Deus.
O adversário vem sutilmente querer que venhamos a crer em nossas próprias forças, e por isso a heresia é, antes de mais nada, uma opção, uma escolha, a tomada do nosso destino espiritual em nossas mãos, algo completamente oposto ao que é proposto pelo Senhor: a humilhação diante d’Ele e a fé exclusiva na Sua Palavra.
– Descrer na Palavra é descrer em Jesus, porque Ele é a Palavra (Jo.1:1; Ap.19:13). A proposta do inimigo sempre tem em vista o descrédito na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Debaixo das artimanhas do inimigo, das suas engenhosas e mirabolantes fábulas, sempre haverá um ensino que degrada a pessoa de Jesus Cristo. Enquanto a Bíblia Sagrada nos ensina que Jesus é o Filho de Deus, o Salvador do mundo, as sutilezas satânicas procuram divulgar várias mentiras a respeito de Cristo, considerando-O como um simples profeta (como os islâmicos), como o homem mais perfeito que já existiu (como as Testemunhas de Jeová), como um espírito iluminado (como os kardecistas e algumas sitas orientais), como um Salvador insuficiente (como os mórmons e os romanistas).
– Mas o diabo é insistente e prossegue no seu intuito de fazer Jesus cair em tentação e, para tanto, lança mão das próprias Escrituras, distorcendo-as como sempre.
Levou o Senhor até o pináculo do templo de Jerusalém e ali tentou a Cristo novamente, mandando-O lançar-se dali abaixo, se Ele fosse o Filho de Deus, porque haveria promessa de os anjos O tomarem nas suas mãos para que Ele não tropeçasse em alguma pedra (Mt.4:6).
– Vemos, nesta atitude de Satanás, como o diabo procura enganar os crentes. Jesus confiou plenamente na Palavra de Deus, não aceitando o desafio de fazer algo para provar a veracidade da Palavra e, diante disto, o adversário procurou apresentar como argumento, dentro de sua incrível sutileza, um texto distorcido das Escrituras. Se Jesus cria na Palavra, deveria se lançar do alto do templo, porque estava escrito que os anjos o tomariam nas suas mãos para que não tropeçassem com o seu pé em pedra.
– Todavia, Jesus, ao contrário de Eva, bem conhecia as Escrituras e não foi apanhado de surpresa pelo adversário. A citação do diabo se baseava no Salmo 91. Com efeito, ao lermos o Sl.91:11,12, ali encontramos:
“Porque aos Seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos para que não tropeces com o teu pé em pedra”.
À primeira vista, portanto, Jesus poderia, como alguém que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente, para quem é dirigido este salmo, lançar-se do alto do templo, pois havia promessa de que seria salvo pelos anjos.
– No entanto, Jesus não tomou esta posição. Por que não o fez? Por que não tinha fé na promessa divina? Não, Jesus não Se lançou do alto do templo pelo mesmo motivo pelo qual não tornou as pedras em pães.
O salmo não é o que foi mencionado pelo diabo. Ali, se bem prestarmos atenção, está dito que os anjos tomarão o servo de Deus em suas mãos no caminho que for traçado pelo servo (“teus caminhos”, ou seja, os caminhos de com quem se está falando e aqui o Senhor fala ao servo, portanto, os caminhos do servo).
Todavia, o caminho do pináculo do templo ao chão não era do Senhor, mas, sim, do diabo, que não é servo de Deus. Portanto, caso Jesus Se lançasse de alto a baixo, os anjos não teriam como salvá-lo, pois se tratava dos caminhos do diabo, não de Jesus. Como se não bastasse isso, Jesus estaria obedecendo ao diabo, o que já havia sido proposta na primeira tentativa.
– Uma pequena distorção na Palavra, quase imperceptível, uma pequeníssima letra em língua portuguesa (“teus” em lugar dos “seus” mencionado pelo diabo), mas que faria toda a diferença.
O diabo continua o mesmo: aos que conseguem vencer o primeiro embate, lança outros artifícios, outras ciladas, distorcendo de modo muito hábil o contido nas Escrituras.
Somente o conhecimento da Palavra de Deus nos permitirá sair das astutas ciladas do inimigo (Ef.6:11), pois não podemos ignorar os ardis do adversário (II Co.2:11).
– Jesus, uma vez mais, respondeu com as Escrituras, afirmando: “também está escrito: não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt.4:7b).
A citação de Cristo era Dt.6:16, citação que não é de um texto isolado, mas que é parte integrante do discurso de Moisés ao povo a respeito da necessidade da obediência ao Senhor.
É mais uma exortação ao povo de Israel para que guardasse os mandamentos divinos, que servisse ao Senhor, que Lhe fosse submisso, não repetindo o que havia ocorrido em Massa, onde a rebelião à ordem do Senhor foi tanta que o próprio Moisés descumprira a ordem e, por causa disso, não entraria na Terra Prometida.
– Não podemos jamais pôr a Palavra de Deus em xeque. Não nos é dado questionar o que está nas Escrituras. Devemos tão somente obedecer aos preceitos divinos, pois nada conseguiremos nos rebelando contra eles.
Deus não pode ser posto contra a parede, não precisa ser cobrado, nem nossos desejos e anseios são tais que nos permitam questionar ou cobrar a Deus, como, infelizmente, muitos têm feito, jogando-se do pináculo do templo e, a exemplo do filho da perdição, rebentando-se pelo meio e expondo suas entranhas num verdadeiro suicídio espiritual (At.1:18).
Se bem conhecermos as Escrituras, saberemos o nosso lugar no plano e na obra de Deus e não tentaremos o Senhor Deus, permanecendo a beber da água espiritual, que é a Palavra (I Co.10:4), até chegarmos às mansões celestiais.
– Na terceira tentativa, o diabo procurou instigar em Cristo o desejo de poder, o orgulho e, depois de tantas coisas atraentes, desejáveis, mostrando-Lhe os reino do mundo e a sua glória, propôs ser adorado pelo Senhor, tendo, então, Jesus recusado tal convite, utilizando e afugentando o diabo pela Palavra, lembrando o primeiro e maior mandamento, que manda adorarmos somente ao Senhor (Mt.4:11).
Jesus revela não ter se encantado com as vantagens do mundo, mas preferido obedecer à Palavra a ter benesses nesta Terra.
Muitos também são os que têm trocado a Palavra de Deus pelos benefícios imediatos desta vida, querendo antes aderir a falsos ensinos e doutrinas para ter popularidade, fama e poder que se manter na ortodoxia doutrinária, na correção do caminho estreito. Tomemos, pois, muito cuidado.
IV – A SUTILEZA DE SATANÁS EM AÇÃO NA DISPENSAÇÃO DA GRAÇA – OS FALSOS MESTRES
– O diabo é insistente e, apesar de fragorosamente derrotado por Jesus no deserto da Judeia, não cessou de tentar a Cristo, pois Jesus foi tentado durante toda a Sua vida, em todos os aspectos, não tendo se limitado a estas três oportunidades analisadas no item anterior (cf. Lc.4:13; Hb.4:15).
– Mas não se circunscreve ao diabo o trabalho do adversário. Satanás tem como alvo predileto, desde sua derrota definitiva diante do Senhor na cruz do Calvário, a Igreja, o corpo de Cristo, pois, como o próprio Jesus anunciou ao revelar ao mundo a existência deste povo santo, “as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt.16:18 “in fine”), numa clara evidência que haveria persistente luta entre o adversário e a Igreja do
Senhor (cf. Ef.6:12).
– O adversário tem tentado de todas as formas atrapalhar e prejudicar o trabalho da Igreja, lutando dia e noite, noite e dia contra ela, utilizando, para tanto, daquilo que tem de melhor, ou seja, a sua sutileza.
Assim como agiu no Éden, assim como agiu no deserto da Judéia, tem agido em todas as nações contra o povo do Senhor, procurando enganar os que creem em Jesus como Senhor e Salvador, mediante o artifício da distorção das Escrituras e da infiltração de ensinos falsos que levem à morte espiritual de muitos.
– Já nos tempos apostólicos, no limiar da igreja primitiva, a Igreja sofreu o ataque do inimigo e muitos se deixaram seduzir pelo adversário, abandonando a fé genuína na Palavra de Deus e adotando ensinos falsos e distorcidos.
Os apóstolos levantaram-se contra os judaizantes (Gl.5:1-4), os gnósticos (Cl.2:18-23; I Jo.4:1-3), os nicolaítas (Ap.2:2,6,15) e os que apresentaram falsos ensinos sobre a ressurreição (II Tm.2:17,18).
– A partir de então, mostra-nos a história do cristianismo, não houve época em que não se levantassem movimentos, doutrinas e grupos que distorceram a Palavra de Deus e construíram “outros evangelhos”, muito diferentes daquele que foi anunciado pelo Senhor Jesus.
A situação chegou a tal ponto que a própria cúpula governante do que se dizia ser a Igreja do Senhor era a fomentadora dos falsos ensinos, criando-se a lamentável situação que só iria melhorar a partir da Reforma Protestante.
– Tudo isto, porém, já estava previsto nas Escrituras. Sem falar nos problemas existentes na igreja dos dias apostólicos, os escritores do Novo Testamento já alertavam os crentes que os dias finais do tempo da Igreja na Terra seriam nebulosos e repletos de falsos ensinos numa profusão nunca antes conhecida.
– Jesus, em Seu sermão escatológico, disse que os últimos dias seriam caracterizados pelo aparecimento de falsos profetas, que seriam muitos e enganariam a muitos (Mt.24:11).
Estes falsos profetas, explica-nos pormenorizadamente o apóstolo Pedro, surgiriam do meio da igreja (II Pe.2:1), de forma encoberta, ou seja, a exemplo de seu inspirador, sutilmente, apresentando falsos ensinos que conduziriam à perdição.
– Tais falsos mestres seriam pessoas que até haviam sido salvas por Jesus, mas, infelizmente, cederiam aos encantos da sedução do maligno e prefeririam as benesses desta vida terrena a se manterem fiéis ao Senhor.
Como são encobertos, pois, tendo aparência de ovelhas, são, interiormente, lobos devoradores (Mt.7:15), devem ser reconhecidos pelos seus frutos, isto é, pelas suas características, pelo seu modo de vida, bem como discernidos por um acurado estudo das Escrituras.
– O apóstolo Pedro, aliás, elenca quais são as características dos falsos mestres, a saber (II Pe.2):
a) fraudulentos – a principal característica do falso mestre é o engano, como não poderia ser diferente para quem é agente do diabo, o pai da mentira (cf. Jo.8:44). Há, sempre, um hiato entre as palavras e a conduta do falso mestre, entre sua aparência pública e sua vida privada. – Mt.23:3-4; Ap.2:2
OBS: “… Os métodos de ensino dos gnósticos eram subversivos. Nunca entravam em uma comunidade declarando em que criam. Mostravam-se astutos, procurando firmar o pé, antes de dizerem suas posição.
O termo grego ‘pareisago’ indica ‘trazer secretamente’, ‘ trazer maliciosamente’. A metáfora tencionada é a de um ‘espião’ ou ‘traidor’, cujo propósito é o de prejudicar ou destruir, que oculta o seu verdadeiro intento. Comparar com Jd.4….” (CHAMPLIN, Russel Norman. Novo Testamento Interpretado, v.6, p.191)
b) dissolutos – a palavra grega original (“asalgeia”) significa “deboche total, indecência desavergonhada, desejo desenfreado, depravação irrestrita.
A pessoa com essa característica tem uma oposição insolente à opinião pública, pecando à luz do dia com arrogância e desdém” (cf. Bíblia de Estudo Plenitude, palavra-chave, p.1312).
Os falsos mestres são pessoas que, normalmente, se deixam levar pela lascívia, pelo desregramento moral e sexual, buscando os prazeres deste mundo, ainda que ostentem uma aparência de piedade, servindo, apenas, de escândalo que prejudica a imagem do Evangelho ante os gentios – II Tm.3:4-7; Jd.4,18,19; Mt.18:7; Ap.2:20-22.
OBS: “…Os crentes são constantemente assediados pelos valores distorcidos deste mundo. Assim como as pessoas da época de Isaías, a nossa sociedade também chama o mal de bem e o bem de mal. Mas não podemos permitir que essas ‘virtudes’ ímpias influenciem nossa maneira de viver….” (O Mestre, Professor, Editora Vida, v.14, p.156)
“…assim como o homem jamais saberá quem ele próprio é sem conhecer a causa explícita da razão de sua existência. Quando descobre, renuncia tudo que é fútil, material e, por consequência mortal, em favor do que é espiritual e, por consequência, imortal.” (CARVALHO, Ailton Muniz de. Deus e a história bíblica dos seis períodos da criação, 4. ed., p.26).
” Dissolução significa orgia sexual sem refreio. Judas condena aqueles que ensinam que a salvação pela graça permite que crentes professos vivam na prática de pecados graves sem sofrerem juízo divino.
Talvez ensinassem que, seja como for, Deus perdoará aqueles que continuamente entregam-se às concupiscências carnais, ou, que os que agora vivem na imoralidade sexual estão eternamente seguros se, no passado, eles creram em Cristo ( cf. Rm. 5:20; 6:1). Pregavam o perdão do pecado, mas não o imperativo da santidade.” (Bíblia de Estudo Pentecostal, nota a Jd.4, p.1975).
c) avarentos – os falsos mestres têm amor ao dinheiro e trocam a glória celeste e a vida eterna pelas riquezas desta vida, pelo vil metal. A igreja passa a ser meio de lucro e de enriquecimento; as almas passam a ser mercadorias.
São os legítimos sucessores de Balaão, o “profeta mercenário” – I Tm.6:5,10; Jd.11; At.8:18-24; 20:33,34; Jo.10:12,13; Ap.2:14 (lamentavelmente, já chegamos a observar certos “obreiros” que se gabam de serem “bons obreiros” pelo fato de estar havendo maior contribuição financeira nas igreja que dirigem e de haver medição de “competência” exclusivamente sob este prisma. São, realmente, os últimos dias os que estamos vivendo…)
OBS: “…Os falsos mestres comercializarão o evangelho, sendo peritos na avareza e em conseguir dinheiro dos crentes, a fim de promover ainda mais seus ministérios e seus modos luxuosos de vida.
(1) Os crentes devem estar a par de que um dos métodos principais dos falsos ministros é usar ‘palavras fingidas’, ou seja, contar histórias impressionantes, mas inverídicas, ou publicar estatísticas exageradas a fim de motivar o povo de Deus a contribuir com dinheiro.
Glorificam a si mesmos e promovem seu próprio ministério com esses relatos inventados (cf. II Co.2:17). Deste modo, o crente sincero, mas desinformado, torna-se um objeto de exploração;
(2) Pelo fato de esses obreiros profanarem a verdade de Deus e fraudarem o seu povo com sua cobiça e engano estão destinados à perdição e à destruição.” ( Bíblia de Estudo Pentecostal, nota a II Pe.2:3, p.1949-50)
“…Os falsos mestres abandonam o juízo correto e o senso espiritual, em troca da ‘obtenção’ do erro de Balaão, tornando-se lisonjeadores, a fim de obterem vantagens financeiras.
Os falsos mestres se utilizam da ‘religião’ para obterem vantagens pecuniárias. Aproveitam-se dos sentimentos religiosos de outros a fim de promoverem seu próprio enriquecimento (…)
É triste a situação quando homens supostamente espirituais se tornam ‘comerciantes’, e não profetas…” (CHAMPLIN, Russell Norman. Novo Testamento Interpretado, v.6., p.192).
“… existem: 1. O caminho de Balaão (II Pe.2:15); 2. O erro de Balaão (Jd.11); 3. A doutrina de Balaão (Ap.2:14). C.I. Scofield diz acerca dessas três coisas próprias de Balaão: ‘ o erro de Balaão era que, raciocinando segundo a moralidade natural, e assim vendo erro em Israel, ele supôs que um Deus justo teria de amaldiçoá-los. Era cego para com a moralidade superior da cruz, mediante a qual Deus mantém e reforça a autoridade e as tremendas sanções de sua lei, de tal modo que vem a ser o justo e o justificador do pecador crente.
A ‘recompensa’ de Judas poderia não ser dinheiro, mas popularidade e aplauso. No tocante ao ‘caminho de Balaão’, diz o mesmo autor: ‘ Balaão foi o típico profeta alugado, ansioso apenas por mercadejar o seu dom. Este é o caminho de Balaão.
E, no tocante à doutrina de Balaão, diz Scofield: ‘A doutrina de Balaão era o seu ensino a Balaque a corromper o povo (israelita), qual não podia ser maldito, tentando-os a se casarem com mulheres moabitas, contaminando assim seu estado de separação e abandonando o seu caráter de peregrinos.
É tal união entre a igreja e o mundo que se torna a falta de castidade espiritual. (Isto Scofield diz comentando Ap. 2:15)…” (CHAMPLIN, Russell Norman, Novo Testamento Interpretado, v.6, p.200).
” Na acirrada disputa por novos seguidores, muitas religiões, em sua atual expressão em nosso país, estão deixando de ser fontes de valores éticos e se transformando em pontos de ofertas de serviço de cunho mágico-místico(…)
Quanto maior a liberalização do mercado religioso, esse outro nome sociológico da liberdade religiosa, tanto mais dinamizada fica a concorrência entre as agências da salvação. Isso força as empresas de bens religiosos a produzirem (depressa) resultados palpáveis, seja para os clientes, seja para si mesmas.
Para os clientes, os resultados buscados devem aparecer no mínimo sob a forma de experiências religiosas imediatamente satisfatórias _ o êxtase, o transe, o júbilo, o choro, o alívio, enfim, a emoção_ ou terapeuticamente eficazes e, no máximo, sob a forma de prosperidade econômica real;
para as empresas religiosas (igrejas e cultos), os resultados visados se põem em termos de crescimento e faturamento da organização, expansão da clientela, fixação mercadológica de suas marcas diferenciais e popularidade das lideranças-ícone…” (PIERUCCI, Antônio Flávio. Religião. www.uol.com.br/fsp/mais/fs3112200019.htm). Este comentário de um especialista da sociologia das religiões de nosso país é forte mas, lamentavelmente, retrata com fidelidade a realidade atual do mundo religioso brasileiro…
d) atrevidos, obstinados, blasfemos – Sob estes adjetivos, Pedro demonstra a rebeldia dos falsos mestres em relação à sã doutrina.
Para satisfazer seus desejos desenfreados e sua avareza, os falsos mestres se rebelam contra a Palavra de Deus, distorcendo-a para que sejam atingidos os seus interesses.
Não hesitam, portanto, em contrariar ou negar o que a Bíblia está a ensinar, alterando deliberadamente a doutrina para que possam ganhar adeptos e cumprir a sua finalidade. Apontam outro evangelho, outro Cristo, outra salvação – Mt.24:26; II Tm.4:3,4; Gl.1:6-9; I Tm.6:3-5.
OBS: “…Quando o homem perde a sabedoria, é imediatamente dominado pela vaidade, que é irracional. (…) Nesse momento de insanidade, o homem pode destruir a si próprio e, sem que haja uma intervenção exterior, é certa a sua destruição…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. Deus e a história bíblica dos seis períodos da criação, 4. ed., p.171).
e) agradáveis – Os falsos mestres, como têm de arrebanhar adeptos após si para poderem enriquecer e satisfazer seus prazeres, buscam a popularidade a qualquer custo.
Têm, sempre, mensagens agradáveis e populares ao povo. Dizem o que o povo quer ouvir, a fim de que possam explorá-lo a seu bel-prazer. – Gl.1:10; Rm.8:8; 15:1-3.
OBS: “…Infelizmente, em nossos dias, muitos têm perdido o equilíbrio. Uns por falta de conhecimento da Palavra de Deus, põem-se a ensinar costumes e modos humanos, que nada tem a ver com a salvação ou santificação; são doutrinas dos homens, que perecem com o tempo (Cl. 2:22).
Outros preferem ignorar totalmente qualquer ensino de santificação e consagração, preferindo transformar suas igrejas em verdadeiras sociedades entre irmãos, mas voltados para o lazer e a satisfação da carne.
Tais “pastores” e “mestres” são considerados biblicamente falsos, pois, ao invés de levarem o povo a Cristo, procuram trazer as almas em torno de si mesmos, procurando explorá-los e seduzi-los ao sectarismo religioso….” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.137)
“…Há ainda um fenômeno que começa a ser captado pelas pesquisas e está chamando a atenção dos estudiosos do assunto no Brasil e no exterior. Boa parte dos fiéis está olhando para a religião como se estivesse diante de uma prateleira de supermercado.
Empurrando seu carrinho, a pessoa escolhe os itens que mais lhe agradam entre os oferecidos. (…) Nas pesquisas, esse grupo dos sem religião definida é um dos que mais crescem no Brasil, ao lado daquele dos pentecostais e do movimento de Renovação Carismática da Igreja Católica…” ( KLINTOWITZ , Jaime.
Um povo que acredita, Veja, nº 1731, ano 34, nº 50, 19/12/2001, p.126). Não temos aqui o cumprimento de II Tm. 4:3 ?
– Através de agentes desta natureza, fica muito mais fácil enganar os incautos, mas não devemos nos prender às pessoas ou à sua aparência, mas, sim, aos seus ensinos, às suas mensagens.
O adversário procura sempre um meio de nos enganar, mas a segurança se encontra em termos conhecimento da Palavra do Senhor e de nela crer para não sermos levados pelos “ventos de doutrinas”.
V – A SUTILEZA DE SATANÁS EM AÇÃO NA DISPENSAÇÃO DA GRAÇA – A MENSAGEM DOS FALSOS MESTRES
– Mas, como tivemos ocasião de observar nas sutilezas apresentadas pelo diabo a Eva e a Jesus, a mensagem apresentada pelos falsos mestres não é evidentemente contrária às Escrituras.
Pelo contrário, tais mensagens falsas são trazidas de forma encoberta, como adverte o apóstolo Pedro, de modo que devemos estar bem alerta para podermos discerni-las. Mas como é a mensagem trazida pelos falsos mestres, sutis agentes do adversário?
-A mensagem é fingida, porquanto é resultado de uma hipocrisia, eis que, aparentemente, é divina, mas esconde um propósito de prazer e enriquecimento do falso mestre que, para tanto, dissimula e distorce a Bíblia. Aliás, assim agiu o adversário ao tentar Jesus (cf. Mt.4:6,7).
OBS: ” …para eles, a salvação está no conhecimento ou ‘gnose’, que não tem ligação nenhuma com a vida prática.
O autor os compara a Balaão, apresentado como modelo do profeta venal e corrupto: o que eles anunciam é uma falsa liberdade, escravidão e degeneração…” (Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, nota a II Pe.2:1-22, p.1575).
“…Quando o mestre e a lição se harmonizam a ponto de ser difícil a distinção entre ambos, então o aluno é impressionado pelo ensino e também pelo mestre.
É então que a veracidade do todo, de maneira um pouco inconsciente porém muito positiva, penetra no seu ser(…) Esta harmonia entre a vida e a mensagem (…)era tão evidente na Pessoa de Cristo…” (HURST, D.V. E Ele concedeu uns para mestres, p.74)
-A mensagem, via de regra, procura fugir do “cristocentrismo bíblico”, ou seja, procura desviar-se do âmago do Evangelho, que é a salvação do homem por intermédio de Cristo Jesus e de Seu exemplo.
A mensagem dos falsos mestres sempre busca diminuir o valor do sacrifício vicário de Jesus para a salvação do homem, bem como menospreza a santificação e a esperança da vinda de Cristo. – Gl.1:9; Dt.13:1-5; Mt.24:24-26; I Jo.2:22; 4:1-3; 5:5; II Jo.7; II Pe.3:3-5.
-A mensagem busca, dentro desta hipocrisia, pouco a pouco desviar os fiéis dos caminhos do Senhor, de forma sub-reptícia, paulatina e ardilosa – II Pe.2:13, 18, 19 (primeiro, banqueteiam com os fiéis, depois os engodam, prometendo-lhes liberdade). Não sejamos como Gedalias (Jr.40:13-41:3).
-A mensagem confunde liberdade com libertinagem, defendendo a prática do pecado e menosprezando a santificação.
É a velha prática do “não faz mal” (cf. Ml.1:7,8). Não nos iludamos: a palavra do crente deve ser “sim, sim, não, não”, o mais é de procedência maligna (cf. Mt.5:37) e, sem a santificação, ninguém verá o Senhor (cf. Hb.12:14) – Ap.22:11.
OBS: Neste sentido, apesar de ser o pensamento do Papa João Paulo II, líder da Igreja Romana de 1978 a 2005, por ser absolutamente coerente com o ensinamento bíblico, cabe aqui reproduzi-lo (cfe. I Ts.5:21) :
“…Criar o Reino de Deus quer dizer colocar-se do lado de Cristo. Criar a unidade que ele deve constituir em nós e entre nós que dizer precisamente: recolher (ajuntar!) com Ele.
Eis o programa fundamental do Reino de Deus , que Cristo na Sua pregação contrapõe à atividade do espírito maligno em nós e entre nós. Essa atividade realiza o seu programa em uma liberdade aparentemente ilimitada.
Seduz o homem com uma liberdade que não lhe é própria. Seduz ambientes inteiros, sociedades, gerações. Seduz para manifestar no final das contas que esta liberdade não é outra coisa senão adaptar-se a uma múltipla pressão…
Pode ele dizer claramente a si mesmo que esta “liberdade ilimitada” se torna afinal uma escravidão ?…Ser livre quer dizer produzir os frutos da verdade, agir na verdade. Ser livre quer dizer também render-se à verdade, submeter-se à verdade e não submeter a verdade a si mesmo, aos próprios caprichos, aos próprios interesses e às próprias conjunturas…”( JOÃO PAULO II. Meditações e orações, p.152-3).
“… Liberdade total o homem nunca teve. Entre todos os seres viventes é o único ser que vive procurando resolver seu problema de aprisionamento, uma vez que sempre esteve preso pelo seu egoísmo.(…)
Entretanto, o homem não tem conseguido libertar a si mesmo das agarras psíquicas e espirituais que o aprisionam desde que aceitou a proposta do tentador, de ter conhecimento do bem e do mal.(…) Toda a liberdade que foge dos padrões da ética universal acaba por prejudicar o indivíduo.
Portanto, exceder em liberdade pode levar alguém ao desequilíbrio e consequentemente a prejuízos desastrosos.(…) Tenhamos cuidado com a liberdade exagerada; esta poderá se tornar uma arma psicológica contra a moral e os bons costumes….” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.2, p.52,57)
– A mensagem não tem consistência nem firmeza. Os falsos mestres são comparados a fontes sem água, pois só Jesus é a fonte de água viva (Jo.4:10,14), bem como com névoa levada pelo vento, que, embora embarace a visão, notadamente durante a noite, aos primeiros raios do Sol da justiça (Ml.4:2), é dissipada (Jo.3:18,19; I Jo.1:5,7).
– Todas estas características devem ser procuradas pelos servos do Senhor, pois temos o Espírito Santo e Ele nos fará lembrar o que o Senhor nos ensinou e, por isso, teremos condições plenas de afastar os falsos mestres do nosso convívio, o que, aliás, ocorria na igreja de Éfeso (Ap.2:2).
Tudo, porém, depende, e muito, da nossa vida espiritual de comunhão com o Senhor e do estudo assíduo e ininterrupto da santa Palavra de Deus. Só assim poderemos sobreviver a este verdadeiro dilúvio que tem sido lançado pelo inimigo furioso contra a Igreja.
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7749-licao-1-as-sutilezas-de-satanas-contra-a-igreja-de-cristo-i