Somos um em Cristo.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da carta de Paulo aos efésios, estudaremos o trecho de Ef.3:1-13.
I – O MISTÉRIO DE CRISTO
– Na sequência do estudo da carta de Paulo aos efésios, depois de o apóstolo ter dito aos crentes que eles, embora fossem gentios, faziam parte de um novo povo, povo este que está em Cristo e que é edificado sobre Jesus para ser templo santo no Senhor e ser morada de Deus no Espírito, veremos o que o apóstolo fala sobre a dispensação da graça de Deus.
– Como afirma o pastor Elienai Cabral, consultor teológico da Casa Publicadora das Assembleias de Deus:
“…Nos dois primeiros capítulos de Efésios, a Bíblia revela a profundidade do pecado e a sua libertação mediante a obra expiatória de Cristo, destacando a Sua obra maravilhosa da formação de um novo povo, derrubadas as diferenças entre judeus e gentios.
A Igreja, formada dentre as nações, é o novo povo de Deus. No capítulo 3, o apóstolo se apresenta como despenseiro da graça de Deus na revelação do grande mistério que é a Igreja…” (Efésios – a igreja nas regiões celestiais – aluno – 4. trimestre de 1999, p.28).
– Paulo mostra-nos que estamos a viver um tempo do plano de Deus para a salvação dos homens em que é revelado “o mistério de Cristo”, ou seja, de que os gentios são coerdeiros de um mesmo corpo e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho.
– Temos aqui a utilização da expressão “dispensação”, em grego, “oikonomia”, passagem que foi importante para a definição do chamado “dispensacionalismo”, uma leitura das Escrituras que vê, no plano da salvação,
diversos períodos em que o Senhor vai Se revelando progressivamente ao homem e submetendo o homem a regras e parâmetros que, dada a imperfeição humana, são descumpridos pelo homem, levando o Senhor a trazer uma nova maneira de relacionamento com o homem.
– “…O apóstolo assume o seu papel mais importante na missão que recebeu de Cristo, que é o de ser mordomo da graça de Deus.
É a tradução do termo original oikonomia, que significa dispensação, administração de bens de outrem, administração de uma casa, mordomia (no sentido bíblico).
Paulo revela que seu ministério recebido da parte de Cristo era o de revelar, dispensar e mostrar o propósito da graça de Deus a todos os homens…” (CABRAL, Elienai. op.cit., p.28).
– Ao se dizer “mordomo”, Paulo, mias uma vez, revela a sua humildade. Ser “apóstolo dos gentios” não era um fator de autoridade, de empáfia, como fazem, na atualidade, os sedizentes “apóstolos”, que buscam neste título um sinal de superioridade espiritual, mas, bem ao contrário, era um sinal de serviço, uma qualidade que o fazia serviçal do Senhor, administrador de algo que lhe foi confiado por Deus.
Afinal de contas, Paulo já dissera aos coríntios que ser apóstolo é estar na base da pirâmide invertida que é a Igreja, é estar a serviço de todos, é ser um verdadeiro “hyperetes”, ou seja, o “escravo remador das galés” (II Co.4:1).
– O apostolado era um serviço. Paulo já dissera o seguinte: “Porque tenho para mim que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens” (I Co.4:9).
Que diferença para os arrogantes e soberbos que se intitulam “apóstolos” em nossos dias, mas que não passam de “apostolos” com suas “apostolices”.
– Paulo diz que os efésios haviam acabado de ouvir sobre a “dispensação da graça de Deus”, pela qual o Senhor Jesus derramou o Seu sangue, retirando o pecado e tornando possível que judeus e gentios, crendo n’Ele, alcançassem a salvação, formando a Igreja.
– A “dispensação da graça” é este tempo iniciado com o sacrifício de Cristo, pelo qual se “desfaz a lei dos mandamentos”, permitindo-se a todos os homens que tenham restabelecido a amizade com Deus, por meio do sangue de Cristo que foi derramado para a redenção da humanidade.
– Por primeiro, é oportuno verificar que a “dispensação”, ao contrário do que dizem alguns estudiosos que não concordam com tal leitura da Bíblia, não é jamais um “plano B” ou uma afronta à imutabilidade e à soberania divinas.
– O apóstolo afirma, com todas as letras, que esta dispensação é um “mistério”, ou seja, algo que já existia mas que não era do conhecimento de pessoa alguma até a sua revelação por Cristo Jesus.
Portanto, não se trata de “plano B” ou de qualquer outra coisa, mas, sim, de uma progressiva revelação ao homem de um plano que já fora definido na eternidade passada pelo Senhor.
– Deus havia prometido restabelecer a amizade com o homem, revelou tal intento quando o homem pecou, ou seja, no início da segunda dispensação, que é a dispensação da consciência, mas as Escrituras nos mostram que Deus já havia deliberado salvar o homem antes mesmo da fundação do mundo (Ef.1:4; I Pe.1:20; Ap.13:8).
– De igual modo, em Cesareia de Filipe, quando o Pai revela a Pedro que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus vivo, o Senhor Jesus faz a revelação a respeito da Igreja, que Ele próprio edificaria (Mt.16:16-18),
Igreja esta que seria formada tanto por judeus, quanto por gentios, o que ficaria claro mais à frente, quando o Senhor manda os discípulos pregar o Evangelho por todo o mundo a toda criatura (Mc.16:15).
– Tem-se, pois, a demonstração clara de que, ao contrário do que dizem, o entendimento dispensacionalista de modo algum abre mão da realidade de um único plano de salvação, bem como coloca em xeque a imutabilidade e a soberania divinas.
Bem ao contrário, mostra como o Senhor elaborou um plano antes da fundação do mundo que está sendo executado, segundo os Seus desígnios, ao longo da história da humanidade, alterando-se o modo pelo qual Se relaciona com o homem, a fim de trazer-lhe a salvação.
– Deus revelou a Sua graça, fazendo com que o Senhor Jesus derramasse o Seu sangue pela humanidade, permitindo que judeus e gentios se aproximassem de Deus, estando em Cristo, pertencendo a um povo, que é a Igreja, reconciliados com o Senhor por Cristo Jesus.
– Esta universalidade da salvação e a existência deste novo povo de Deus foram compreendidas pelo apóstolo, que as revela aos crentes de Éfeso, depois que afirmar que tal compreensão lhe havia sido dada pelo Espírito Santo (Ef.3:5).
– Somente se podem compreender as Escrituras pelo Espírito Santo. O próprio Jesus precisou abrir o entendimento dos discípulos para as Escrituras para que eles pudessem compreender que todo Seu sofrimento, morte e ressurreição já estavam previstos nos escritos sagrados (Lc.24:45,46).
– Temos aqui uma belíssima aplicação do que o apóstolo já dissera, qual seja, que a salvação nos faz ter acesso ao Pai em um mesmo Espírito.
Não se pode, de forma alguma, servir a Deus se não se estiver na companhia do Espírito Santo, Espírito Santo que nos guia em toda a verdade (Jo.16:13).
– O mistério de Cristo somente pode ser compreendido pelo Espírito Santo. É Ele quem nos faz entender como já havia sido profetizada a obra de Jesus Cristo nos textos do Antigo Testamento, e isto por meio do Novo Testamento, que nos mostra tal aplicação.
São os apóstolos e os profetas quem nos fazem compreender este mistério de Cristo que, agora revelado a nós, permite que cumpramos o propósito de Cristo em nossas vidas e na Igreja.
– Tem-se, assim, a compreensão daquilo que já foi revelado nas Escrituras, compreensão esta que não pode, em absoluto, ser considerada uma “inovação”, mas, sim, a correta interpretação do quanto foi revelado pelo Espírito Santo aos escritores sagrados.
– O mistério de Cristo é de que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho.
Jesus, com Seu sacrifício, tirou o pecado do mundo e, por meio de Seu sacrifício, tanto judeus quanto gentios passam a fazer parte de um novo povo, a Igreja, que é o corpo de Cristo, povo que já se encontra nos lugares celestiais em Cristo, desfrutando de todas as bênçãos espirituais (Ef.1:3).
– Ninguém sabia da existência deste novo povo de Deus, a Igreja, antes que Jesus a tivesse revelado em Cesaréia de Filipe e, muito menos, que este povo seria formado por judeus e gentios, numa universalidade do acesso do homem a Deus por Cristo Jesus.
– Paulo também afirma que é ministro deste mistério, pois foi chamado para ser “apóstolo dos gentios” (Rm.11:13), como foi dito a ele desde o início de seu ministério, ainda no terceiro dia após a sua conversão, ante a mensagem que Cristo deu a Ananias, que orou pelo apóstolo e o batizou (At.9:15-18).
– Por isso, a mensagem pregada pelo apóstolo foi chamada por ele mesmo de “evangelho da graça de Deus” (At.20:24) ou de “evangelho da incircuncisão” (Gl.2:7).
Não se tratava de um evangelho diferente, pois o evangelho é um só (Gl.1:6-8), mas uma pregação que enfatizava a abertura da salvação também para os gentios, a extensão da promessa da redenção a todos os povos, não só a Israel.
– Paulo diz que foi feito ministro, a nos ensinar que ninguém se constitui em ministro do Evangelho por vontade própria, por desejo.
Não é errado desejar ser ministro do Evangelho (I Tm.3:1), mas somente pode sê-lo quem for escolhido pelo Senhor Jesus, que é a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23).
– Paulo foi escolhido para ser apóstolo dos gentios (At.9:15) e esta escolha se deu pela graça de Deus (Ef.3:7), pois ninguém merece coisa alguma na Igreja.
Pois tudo nos é dado imerecidamente, pela graça do Senhor, que o apóstolo diz aqui ter lhe sido dada segundo a operação do poder de Jesus.
– A graça de Deus nos é dada pelo poder de Deus, pois o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, tanto do judeu quanto do gentio (Rm.1:16).
Por isso mesmo, não se pode ter um genuíno evangelho se ele não vier acompanhado da demonstração do poder de Deus, inclusive com sinais, prodígios e maravilhas (Mc.16:20; I Co.2:4,5).
– Em que consistia o ministério de Paulo? Em anunciar, entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo (Ef.3:8).
– Pregar o Evangelho é, portanto, anunciar as riquezas incompreensíveis de Cristo. Que riquezas são estas?
São todas as bênçãos espirituais que se encontram disponíveis a todos quantos creem em Jesus, mencionadas pelo próprio apóstolo no início da epístola, quais seja, a eleição, a predestinação como adoção de filhos, a redenção, o restabelecimento da unidade de Cristo com os homens, o selo do Espírito Santo da promessa e o penhor da herança de Deus (Ef.1:4-14).
– Algo bem diferente do que se tem pregado lamentavelmente em muitos púlpitos na atualidade.
Poucos têm anunciado as “riquezas incompreensíveis de Cristo”, mas, em vez disto, pregam autoajuda, prosperidade financeira, imunidade quanto a doenças e a enfermidades. Paulo diz que foi escolhido para falar das bênçãos espirituais.
– O apóstolo ainda fala que o anúncio é das “riquezas incompreensíveis de Cristo”. Como entender isso?
Se as riquezas de Cristo são incompreensíveis, como fazer disso o cerne do anúncio? Estaria Paulo pregando para que ninguém entendesse?
– As riquezas são “incompreensíveis” à mente natural, ao homem natural, pois são riquezas espirituais e o homem natural não consegue discerni-las (I Co.2:14), mas, se o Senhor,
pela Sua graça, permite que o Espírito Santo as faça compreensíveis ao homem, poderá ele entendê-las e isto se dá por intermédio da pregação (I Co.2:7-13; Rm.10:8-15).
– Temos aqui, pois, mais uma vez, a demonstração de que como a graça de Deus atua para que o Evangelho seja acessível a todos os homens.
A mensagem é o anúncio das “riquezas incompreensíveis de Cristo”, mas tais riquezas se tornam compreensíveis, não pelo fato de o homem ser inteligente, mas, sim, porque o Espírito Santo, durante a pregação,
torna acessível aos homens tal mensagem, de modo a que ele possa, se quiser, entendê-la e, entendendo, venha a crer no Evangelho, alcançando, assim, a salvação.
– Por isso mesmo, o Senhor Jesus, em um momento de oração de gratidão ao Senhor, disse que a revelação é alcançada por pequeninos, enquanto sábios e instruídos se mantenham alheios a tais assuntos espirituais (Mt.11:25),
pois não há por parte destes eruditos a humildade de reconhecer que nada sabem a respeito das coisas de Deus e que se faz mister deixar que o Espírito Santo as revele para que eles possam compreendê-la, o mesmo gesto que teve o mordomo-mor de Candace ao ser interrompido em sua leitura das Escrituras por Felipe (At.8:26-35).
– Isto nos faz lembrar uma história que se conta do mestre zen-budista chinês Nan-in (1868-1912), que foi visitado por um professor universitário que estava impressionado com a influência que aquele mestre exercia sobre os jovens.
Na conversa entre eles, o professor, por diversas vezes, interrompia o mestre, dando suas razões e mostrando seu conhecimento sobre os temas que eram discutidos, até porque este professor havia estudado muito a filosofia zen-budista.
Ante tantas interferências, o mestre, então, resolveu oferecer uma xícara de chá ao visitante e, ante a aceitação, começou calmamente a derramar chá na xícara, continuando a derramar o chá mesmo depois que o líquido começou a transbordar.
O professor, então, advertiu o mestre dizendo se ele não estava vendo que a xícara estava cheia, tendo, então, o mestre lhe dito que, assim como a xícara, a conversa entre eles era infrutífera, pois o professor estava cheio de si e de suas opiniões e, portanto, nada poderia aprender com ele, já que espaço não havia.
– Pois bem, estes sábios e instruídos se recusavam a aprender as coisas espirituais, pois estavam cheios de suas convicções, de seus preconceitos, esquecendo-se que o ser humano não pode, em absoluto, conhecer as coisas divinas se isto não lhes for revelado, já que os caminhos do Senhor e os Seus pensamentos são muito mais altos que os nossos (Is.55:8,9).
Tais pessoas nada aprenderão do Senhor se não se humilharem e acatarem que nada sabem (Jó 8:9). São eles os piores cegos, que, embora estejam acometidos de cegueira, creem que ainda veem (Jo.9:40,41).
– O proverbista bem demonstra que quem recusa atender ao clamor da Sabedoria, quem não lhe dá atenção, estará fadado à destruição (Pv.1:24-32).
– Paulo não era destes. Bem ao contrário, apesar de ter sido ensinado aos pés de Gamaliel, um dos grandes mestres da lei de seu tempo e ter tido uma formação filosófica em Tarso, conhecido centro filosófico e onde se desenvolveu o estoicismo (At.22:3), admitiu que somente compreendeu o mistério de Cristo por revelação do Espírito Santo (Ef.3:4,5).
Eis o porquê de ter o apóstolo dito que todo seu conhecimento secular era esterco, refugo, lixo (Fp.3:8). OBS: O quarto líder da escola filosófica estoica (At.17:18) foi Zenão de Tarso (± 200 a.C.), prova de como Tarso era um importante centro filosófico e ligado ao estoicismo.
– A humildade de Paulo aqui se demonstra, pois ele próprio se considera como “o mínimo de todos os santos” (Ef.3:8), pois nunca se esqueceu que, antes de sua conversão, fora grande pecador ao perseguir a Igreja (I Tm.1:12,13).
– João Crisóstomo assim analisa a humildade do apóstolo: “…Já era humildade gemer por seus pecados anteriores, embora apagados, para mencioná-los, ser modesto, como quando ele é chamado de blasfemador, perseguidor, imprudente; mas nada supera isso.
Foi o que eu fui primeiro, ele disse, e o nome dele é aborto. Mas, depois de tantas boas obras, permanecer fiel à modéstia, proclamar-se inferior a todos, é o fato de uma humildade rara e extrema.
“Para mim, o menor dos santos”.
Ele não diz: “apóstolos”; portanto, “santo” é uma expressão que diz menos. Pois ele diz em outro lugar:
“Eu não sou digno de ser nomeado apóstolo”. (II Co 15:9): Aqui é para todos os santos que ele se declara inferior: “Para mim, o menor dos santos, essa graça foi dada”. …” (Sobre Efésios – Homilia 7 – Ef.3:8-17. Cit. Ef.3:1-13, n. 700. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 27 fev. 2020) (traduzida pelo Google de texto em francês).
– Que nossa conduta seja como a de Paulo, pois só assim poderemos cumprir o ministério que o Senhor tem dado a cada um de nós, porquanto jamais poderemos aprender de Cristo se não reconhecermos a total impossibilidade de podermos compreender, como homens naturais, o mistério de Cristo, as coisas espirituais.
II – A IGREJA
– O mistério revelado a Paulo, e não somente a ele mas aos santos apóstolos e profetas, é a de que os gentios eram coerdeiros com os judeus, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho (Ef.3:6).
– Os gentios eram coerdeiros com os judeus, ou seja, a herança incorruptível, incontaminável e que não se pode murchar guardada nos céus para os salvos é tanto para gentios quanto para judeus (I Pe.1:3,4).
– Fomos feitos filhos de Deus (Jo.1:12), fomos adotados pelo Senhor (Rm.8:15; Ef.1:5) e, deste modo, tornamo-nos herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:17).
Isto nos garante que seremos glorificados quando o Senhor Se manifestar (I Jo.3:2) e que nosso descanso, nosso objetivo não é esta Terra, mas, sim, os céus, donde esperamos o Senhor (Fp.3:20,21; I Ts.1:10).
– Tanto gentios como judeus pertencem à Igreja, que é o corpo de Cristo, onde não há qualquer distinção por nacionalidade ou qualquer outro fator (Cl.3:11).
A Igreja, como um povo espiritual, não tem qualquer discriminação como os povos terrenos. O apóstolo demonstrava aos crentes de Éfeso como o Senhor os tinha valorizado.
Se eram considerados como imundos e cães pelos judeus (Cf. Mt.15:26; Mc.7:27), agora formavam uma unidade com os mesmos judeus, sem qualquer distinção.
– Todos são participantes da promessa em Cristo pelo evangelho, ou seja, ninguém tem qualquer privilégio em relação a outrem no que concerne ao recebimento das bênçãos espirituais.
Se, na lei, somente os israelitas podiam entrar no pátio do templo terrestre e, dentre eles, só os sacerdotes ao lugar santo e ninguém ao lugar santíssimo, agora todos podem entrar no santuário celestial, chegar ao trono da graça (Hb.4:16; 10:19,20).
– Temos uma nítida extensão aos gentios de uma tríplice prerrogativa que era apenas dos judeus.
É o ensino de Tomás de Aquino que, por sua pertinência, transcrevemos:
“…os judeus tinham uma prerrogativa tripla em relação aos gentios, ou seja:
1) a promessa de uma herança (Rm 4; Sl 15);
2) eleição especial e distinção de outras pessoas
“O teu Senhor Deus te escolheu para ser o Seu povo peculiar, entre todos os povos que estão na terra” (Dt.7:6; Sl.100 e Ct.6);
3) a promessa de Cristo (Gn.12).
Três prerrogativas que os gentios não tinham (Ef.2:12); mas que foi dada àqueles que foram admitidos pela fé:
- a) participar da herança; como ele diz: “herdeiros em comum”, isto é, com os próprios judeus, da herança celestial (Mt.8);
- b) ao colegiado especial dos fiéis.
Isso significa “concorporais”: em um corpo.
“Tenho outras ovelhas, as gentias” (Jo.10);
- c) participar da graça prometida novamente, como ele diz: “copartícipes”, a saber, as promessas feitas a Abraão.
“Eu digo, então, que Jesus Cristo foi ministro ou pregador do Evangelho aos da circuncisão, para que a veracidade de Deus no cumprimento das promessas que Ele fizera aos pais fosse reconhecida; mas os gentios deveriam louvar Deus por Sua misericórdia”(Rm.15).
E tudo isso foi alcançado pelos gentios, não por Moisés, mas “por Cristo” (Jo.1); “Para quem Deus nos deu as grandes e preciosas graças que prometeu” (II Pe.1:4).
Não cumprir a lei, porque é um jugo – como diz At.15 – que nem nossos pais nem nós conseguimos suportar, mas “pelo Evangelho”, pelo qual todos são salvos (Rm.1).…” (Sobre Efésios – Cap.3 – Lição 1 – Ef.3:1-6; Cit. Ef.2:11-22, n.13. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 26 fev. 2020) (tradução pelo Google de texto em espanhol).
– A Igreja, assim formada, tem a missão de fazer conhecida dos principados e potestades nos céus a multiforme sabedoria de Deus (Ef.3:10).
– A Igreja tem a missão de fazer conhecida aos homens a multiforme sabedoria de Deus. Ora, sabemos que Jesus Cristo foi feito sabedoria para nós por Deus (I Co.1:30), de modo que cabe à Igreja fazer conhecido Jesus, pois Ele é a Sabedoria (Pv.8; Lc.11:49).
Não é por menos que se diz que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl.111:10; Pv.9:10) e somente por meio do povo de Deus é que se poderá fazer conhecida a Sabedoria Divina.
– Este conhecimento da Sabedoria não se restringe aos homens, mas os próprios anjos vão conhecer a sabedoria de Deus por intermédio da Igreja (Ef.3:10).
A Igreja era um mistério que era desconhecido até dos anjos, mas, agora, estes seres irão ficar conhecendo mais um pouco da sabedoria de Deus por meio da atuação da Igreja na face da Terra.
– Não nos esqueçamos, aliás, que os anjos ministram a favor daqueles que hão de herdar a salvação (Hb.1:14), de modo que, ao atuarem em favor dos salvos, os anjos ampliam seu conhecimento a respeito da sabedoria divina, vão vê-la sendo levada a efeito por meio daqueles que, outrora, eram considerados imundos e proibidos de ter qualquer acesso ao local terrestre de adoração a este Deus. Que mudança de situação espiritual desfrutam os gentios! Aleluia!
OBS: “…A Igreja não foi uma obra acidental de Deus; ela foi criada antes de todos os tempos e manifestada através de Jesus.
Outrossim, essa revelação não ficaria restrita aos homens, pois diz o v.10 que, também, os anjos, (‘principados e potestades”) teriam conhecimento dessa revelação através da Igreja…” (CABRAL, Elienai. op.cit., p.30).
– A sabedoria de Deus é multiforme e aqui temos mais uma importante revelação que nos dá o apóstolo.
Embora haja uma unidade no corpo de Cristo, tal unidade não se confunde com uniformidade.
A sabedoria de Deus é multiforme, ou seja, tem muitas formas, se apresenta de várias maneiras.
– Mais uma vez, observamos nesta passagem mais um elemento que caracteriza o “dispensacionalismo”, ou seja,
a constatação de que Deus atua de várias maneiras, de várias formas (Cf. Hb.1:1), ao longo da história da humanidade, sem que isso retire o fato de há um eterno propósito divino, como, a propósito, diz o próprio apóstolo na sequência do texto que estamos a analisar.
– Cada “dispensação” nada mais é que um modo pelo qual o Senhor Se relaciona com o homem ao longo da história, sempre visando o cumprimento do plano de salvação do homem elaborado antes mesmo da fundação do mundo.
– Deus tem um conhecimento excelso, inatingível aos homens. Sua sabedoria é grandíssima e não há como limitá-l’O a um aspecto, a uma só forma, a uma só maneira de agir.
A Igreja revela esta multiforme sabedoria de Deus e, por isso mesmo, não se pode querer que a unidade da Igreja se confunda com a uniformidade.
– Paulo, que se encontrava preso por causa do Evangelho quando redigiu esta carta, bem sabia que as peculiaridades de cada povo, a cultura de cada um não seriam eliminadas por conta da evangelização, porque a sabedoria de Deus era multiforme.
O Evangelho não provoca uma “massificação”, uma “uniformização”, mas, sim, uma purificação de cada cultura. Há, sim, unidade, mas não uniformidade.
– Por isso, a variedade de costumes existente na igreja não é algo que possa escandalizar este ou aquele crente, porquanto vivemos, na Igreja, uma multiformidade, que reflete até a sabedoria divina que se faz conhecida pela Igreja.
Por isso, jamais o Evangelho pode ser baseado em usos e costumes, como, infelizmente, chegou a acontecer em algum momento da história da Igreja e, porque não dizer, de nossa própria denominação.
– A revelação deste mistério de Cristo, de que Paulo era ministro, foi feita segundo o eterno propósito divino (Ef.3:11), ou seja, nada ocorreu por acaso, nada foi acidental. Deus tinha um propósito de salvar o homem por meio de Jesus Cristo antes mesmo da fundação do mundo.
– Vê-se, pois, que este eterno propósito divino de salvar os homens na pessoa de Jesus Cristo, pela fé n’Ele, nada tem que ver com a predestinação incondicional de indivíduos para a salvação ou para a perdição.
– Deus quis salvar o homem que haveria de criar e esta salvação se daria mediante a fé em Cristo Jesus.
É evidente que Deus sabe de antemão quem será salvo e quem não o será, mas isto, em absoluto, significa que o Senhor tenha previamente escolhido alguns para salvação e outros, para perdição.
– Como diz o proverbista, o próprio Cristo, como Sabedoria, clama de fora altissonantemente, chamando os homens à salvação e depende da decisão de cada um, decisão que se torna possível única e exclusivamente pela graça divina, responder afirmativa ou negativamente a este clamor (Pv.1:20-33).
– O propósito de Deus é imutável, de modo que não há outro nome pelo qual devamos ser salvos a não ser o nome de Jesus (At.4:12),
o Filho que foi escolhido para ser o Cordeiro de Deus que haveria de morrer pela humanidade (Jo.1:29), daí porque ser dito que foi Ele morto desde a fundação do mundo (Ap.13:8).
“…Esse eterno propósito divino, antes de todos os tempos, já tinha Jesus Cristo como a razão de tudo…” (CABRAL, Elienai. op.cit., p.30).
– Deus estabeleceu que a salvação se daria pela fé em Cristo Jesus, nosso Senhor, mas o apóstolo diz que, apesar deste estabelecimento divino, que é imutável, faz-se necessário que n’Ele tenhamos ousadia e acesso com confiança (Ef.3:12).
– O escritor aos hebreus também salienta que, embora o Senhor Jesus tenha aberto um novo e vivo caminho pela Sua carne, é mister que tenhamos ousadia para entrar no santuário (Hb.10:19).
– A palavra “ousadia”, tanto em Ef.3:12 quanto em Hb.10:19, é a palavra grega “parresia” (παρρησία).
“…Substantivo de pas (3956), tudo, e rhesis (s.f.), o ato de fala. Literalmente, ‘falar tudo o que se está pensando’, i.e., a liberdade de expressão como característica de uma mente sincera e destemida; consequentemente, liberdade, sinceridade, ousadia na fala e nos atos.…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, n. 3954, p.2344).
– Cabe aos salvos demonstrar a sua integral confiança em Deus, falando a Ele tudo quanto pensa, entregando ao Senhor todos os seus cuidados, todas as suas aflições, todos os seus desejos, todos os seus projetos, todos os seus planos. Isto é ter “ousadia” diante de Deus.
– Não se trata, portanto, de qualquer atrevimento, de qualquer conduta irrefletida que se é tomada dentro dos nossos caprichos e desejos, achando que o Senhor é nosso garante, que tem a obrigação de nos atender, porque fomos feitos Seus filhos.
Não podemos querer nos comportar como filhos mimados, os chamados “filhinhos de papai”.
– Uma vez sabendo que Jesus é o Senhor e Salvador da humanidade, que tem Ele todo o poder nos céus e na terra, não podemos deixar de levar a Ele todas as nossas carências, necessidades e desejos, uma vez que O reconhecemos como Nosso Senhor e Salvador e sabemos que estamos em união com o Pai por Ele e para Ele.
– É preciso que tenhamos ousadia, que, como diz o poeta sacro anônimo, “deixemos tudo no altar”. Este poeta bem diz quando afirma:
“Quando tudo perante o Senhor estiver e todo o teu ser Ele controlar, só então hás de ver que o Senhor tem poder, quando tudo deixares no altar” (refrão do hino 577 da Harpa Cristã).
– Além da ousadia, o apóstolo diz que devemos ter acesso com confiança em Jesus. Não basta que falemos tudo ao Senhor, mas que n’Ele confiemos e que entremos, como diz o escritor aos hebreus, no santuário, depois que o Senhor Jesus nos abriu caminho pela Sua carne.
– Jesus abriu o caminho para entrarmos no trono da graça, mas é preciso que entremos por este caminho e isto somente se dá pela confiança, ou seja, pela fé em Cristo, pela plena certeza de que Jesus é o Senhor e o Salvador.
– O caminho foi aberto, mas temos de entrar nele e esta entrada se dá pela fé (Rm.5:2). Como diz o Senhor Jesus, Ele é a porta, mas somente quem entrar por ela, salvar-se-á, e entrará , e sairá e achará pastagens (Jo.10:9).
Só os que entram por esta porta ficarão livres da hora da tentação que há de vir sobre a Terra (Ap.3:8-10).
– O escritor aos hebreus repete este mesmo pensamento (e o escritor pode ter sido o próprio Paulo), ao dizer que, tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, devemos nos chegar com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança, porque fiel é o que prometeu (Hb.10:22,23).
– Como diz o pastor Elienai Cabral, “…O ‘acesso’ diz respeito a entrada na presença de Deus (Ef.2:18; Rm.5:2).…” (op.cit., p.30).
Sendo assim, o acesso com confiança importa em uma vida de santidade que nos permita entrar diante do trono da graça para falarmos tudo quanto pensamos e desejamos e, em perfeita unidade com o Senhor, cumprirmos a Sua vontade.
– Por fim, é oportuno observar que este comportamento sugerido pelo apóstolo era por ele vivido.
Sendo um prisioneiro de Jesus Cristo (Ef.3:1), ele considerava que as suas tribulações eram glória para os crentes de Éfeso (ou todos os crentes, se adotada a “teoria da carta circular”) (Ef.3:13).
– O apóstolo sabia que a prisão estava na vontade de Cristo Jesus (At.20:22,23; 23:11), tudo ocorria para o crescimento da obra evangelizadora (Fp.1:12-18) e, por isso mesmo,
não tinha porque os salvos ficarem tristes com tal encarceramento, mas entendessem que isto era o melhor para a Igreja que inclusive, iria conhecer-se mais com a revelação trazida pelo apóstolo nesta epístola.
– Como afirma o pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes: “…Sofrimento e glória estão profundamente interligados entre si.
Se o nosso sofrimento traz glória para os outros, bendito seja Deus!…” (Efésios – A igreja, noiva gloriosa de Cristo, p.81).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5277-licao-9-o-misterio-da-unidade-revelado-i