ESBOÇO Nº 1
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Estamos terminando o ano letivo de 2022 da Escola Bíblica Dominical, neste ano em que iniciamos um novo currículo.
Depois de termos estudado a Bíblia, que é nosso livro-texto, o “sermão do monte”, que é a síntese da doutrina de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e termos nos debruçado sobre os ataques de Satanás contra a Igreja de Cristo, concluímo o ano através de um estudo temático em que veremos como devemos nos preparar como povo de Deus para estes últimos dias em que estamos a viver sobre a face da Terra.
Já vimos, no trimestre anterior, que o inimigo tem se esforçado, sabendo que tem pouco tempo, para enganar os servos do Senhor, com suas sutilezas, sendo este um sinal de que estamos no “tempo do fim”.
Agora, em continuidade a esta abordagem, teremos um trimestre que é um verdadeiro “estudo de caso”, algo que há tempos não tínhamos num trimestre, em que, a partir de um trecho das Escrituras, “in casu”, o livro do profeta Ezequiel, haveremos de nos aprofundar de como deve o povo de Deus se preparar para o arrebatamento da Igreja, que tanto se aproxima.
Nos últimos currículos não houve um estudo do livro do profeta Ezequiel, um dos profetas maiores, cujo ministério se desenvolveu precisamente nos momentos finais da história do reino de Judá, quando o profeta, já no cativeiro,
foi usado por Deus para alertar o povo sobre o cumprimento das profecias que indicavam que o povo seria levado todo cativo para a Babilônia e perderia a posse da Terra Prometida, mas que, apesar disso, ainda estava de pé a proposta divina para tornar Israel uma nação sacerdotal e um povo santo, que intercederia no culto de toda a humanidade ao Senhor (Ex.19:5,6).
Ezequiel é levantado por Deus, portanto, para que o povo fosse alertado para a apostasia existente, para o cumprimento da Palavra de Deus com relação a este fato lamentável, com o exílio, mas, simultaneamente, é convidado a se arrepender e a não perder sua fé nas promessas de restauração e de estabelecimento a comunhão de Israel com o Senhor.
A partir desta mensagem do profeta, que o Senhor diz ser o Seu “atalaia” sobre a casa de Israel (Ez.3:17; 33:7),
iremos também refletir sobre o período de apostasia reinante entre os que cristãos se dizem ser, já amplamente profetizado nas Escrituras (Mt.24: 12; II Ts.2:3; I Tm.4:1), a fim de que,
atendendo à mensagem profética, venhamos também a nos arrepender de nossos pecados, aumentar a nossa fé em Deus e, assim, desfrutar das promessas (II Pe.1:4), que não são as anunciadas por Ezequiel, que são voltadas para Israel, mas que nos levarão, primeiramente, para o encontro do Senhor nos ares (I Ts.4:17) e,
depois, para, com Cristo, na condição de reis e sacerdotes (Ap.1:6), virmos o cumprimento de tudo quanto foi profetizado por Ezequiel para o milênio (Ap.20:6).
A capa da revista do trimestre apresenta um malhete que se encontra apoiado sobre a Bíblia Sagrada.
O malhete, o famoso “martelinho do juiz” faz-nos lembrar que o Senhor é o juiz de toda a Terra, que faz justiça (Gn.18:25), o Senhor que é a justiça nossa (Jr.23:6; 33:16), Aquele que julga o mundo com justiça e os povos, com a Sua verdade (Sl.96:13).
O malhete sobre a Bíblia faz, por fim, lembrar que a aplicação da justiça por Deus tem como regra a Sua Palavra, a revelação de Deus ao homem, onde o Senhor revela a Sua justiça, a Sua verdade. É a Palavra que julgará o mundo no último dia (Jo.12:48).
O livro do profeta Ezequiel tem como um de seus principais temas precisamente o julgamento de Deus sobre a casa de Israel e sobre as nações num momento em que Deus estava a tratar com o Seu povo e com as nações do Oriente Médio, o instante em que se iniciava o chamado “tempo dos gentios”, que somente findará com a instauração do reino milenial de Cristo.
Como Deus não muda 9Ml.3:6), nem Sua Palavra (Mt.24:35;; Mc.13:31; Lc.21:33; I Pe.1:25), estas palavras proferidas por Ezequiel devem ser analisadas por nós, que já estamos no “princípio das dores”, próximo de um outro momento de juízo, que se dará no término deste “tempo dos gentios” para, então, termos o reinado de Cristo sobre a Terra.
O trimestre pode ser dividido em dois blocos.
Após uma lição introdutória, em que se apresentará o livro do profeta Ezequiel e seu próprio autor, teremos um primeiro bloco em que se descreverá a situação de infidelidade a Deus que vivia o povo judaíta nos dias de Ezequiel e que é denunciado pelo profeta, aplicando-se este estado ao nosso período.
É o que veremos das lições 2 a 8, quando se verá a notícia da proximidade do fim (lição 2),
as abominações do Templo (lição 3),
a perda da glória de Deus (lição 4),
a mensagem contra os falsos profetas (lição 5),
a mensagem sobre a justiça de Deus (lição 6),
a mensagem sobre a responsabilidade individual (lição 7) e a
mensagem contra os pastores infiéis (lição 8).
O segundo bloco fala das promessas de restauração espiritual de Israel, um alento para que o povo se arrependesse do estado caótico em que estavam e que ocupa das lições 9 a 13, e que também servirá de estímulo para a nossa fé.
Neste bloco, estudaremos
a guerra de Gogue e Magogue, que é o conflito que prenuncia a Grande Tribulação (lição 9),
a restauração nacional e espiritual de Israel (lição 10),
a visão do templo que existirá no reino milenial de Cristo (lição 11),
a visão da imersão espiritual no rio das águas profundas (lição 12) e, por fim,
a visão da comunhão plena com Deus (lição 13).
O comentarista da lição é o pastor Esequias Soares da Silva, que foi presidente da Comissão que elaborou a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, é o atual pastor presidente das Assembleias de Deus em Jundiaí/SP e presidente da Comissão de Apologética da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, que há anos comenta as Lições Bíblicas.
Que, ao término deste trimestre e ano, estejamos cônscios de que falta muito pouco tempo para o arrebatamento da Igreja e que devemos seguir os conselhos divinos trazidos pelo profeta Ezequiel para que não sejam tragados pela apostasia,
não sejamos destruídos pelo pecado e, confiantes em Deus, estejamos bem preparados para que desfrutemos, na condição de reis e sacerdotes, das promessas feitas por Ezequiel a Israel, reinando com Cristo durante o milênio.
Feliz 2023, caso Jesus não arrebate antes a Sua Igreja.
B) LIÇÃO Nº 1 – EZEQUIEL, O ATALAIA DE DEUS
Ezequiel foi o profeta escolhido por Deus para trazer a mensagem do juízo e da esperança para o povo levado para o cativeiro.
INTRODUÇÃO
– Estamos dando início a um trimestre em que faremos um “estudo de caso” a partir do livro do profeta
Ezequiel.
– Neste trimestre, à luz da mensagem do profeta Ezequiel ao povo de Judá levado cativo, refletiremos sobre nós nestes últimos dias da dispensação da graça
I – O CONTEXTO DO LIVRO DO PROFETA EZEQUIEL
– Estamos dando início a mais um trimestre da Escola Bíblica Dominical, o último deste primeiro ano do novo currículo da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, em que estaremos diante de um “estudo de caso”, ou seja, de um estudo de uma porção bíblica, “in casu” o livro do profeta Ezequiel, que servirá de aplicação para a nossa conduta, o nosso comportamento.
– Como diz o título do nosso trimestre, “A justiça divina”, devemos, nestes instantes últimos da Igreja sobre a face da Terra, observar que a multiplicação da iniquidade e a apostasia espiritual de muitos que pertenceram ao povo de Deus, lembrar que se aproxima o tempo da ira do Cordeiro sobre a humanidade (Ap.6:16), por terem rejeitado a obra salvífica de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
– Assim como nos dias de Ezequiel, ele mesmo deportado para a Babilônia na terceira leva de judeus (II Rs.24:10-16; II Cr.36:10), cerca de oito anos antes da destruição de Jerusalém e do templo, estamos a contemplar a precipitação de acontecimentos previstos nas Escrituras e suas mensagens proféticas, sendo momento de, a exemplo do profeta, servirmos a Deus e alertarmos a todos quanto a isto, para que estejamos preparados para eles e aumentemos nossa fé nas promessas reservadas para os que forem fiéis até o fim (Mt.24:12,13).
– A “justiça divina” está se demonstrando a cada dia e, assim como nos dias de Ezequiel, há aqueles que, despertados para esta realidade, resolvem servir ao Senhor e a buscá-l’O com mais intensidade, mas também aqueles que, apesar de tudo, permanecem nos seus pecados e endurecem ainda mais o coração.
– Ezequiel foi levantado para tornar o povo consciente desta realidade, era seu dever anunciar esta mensagem, embora o Senhor, que é onisciente, soubesse que a esmagadora maioria do povo não o ouviria (Ez.2; 3:16-21).
– Por isso, o subtítulo de nosso trimestre “a preparação para o povo de Deus nestes últimos dias no livro de Ezequiel”. Assim como a mensagem de Ezequiel serviu para que o remanescente fiel se preparasse não só para o período do cativeiro, mas para o período vindouro, que culminaria com a vinda do Messias, também devemos nos preparar, aprendendo com estas mensagens que, por serem provenientes de Deus, são atemporais e permanentes (I Pe.1:23), para também nos prepararmos e estarmos prontos para a próxima vinda do Messias.
– Ezequiel, filho de sacerdote, foi um dos judeus que havia sido levado cativo para a Babilônia na terceira deportação determinada por Nabucodonosor (Cf. Ez.1:1 e II Rs.24:12-14), tendo ido habitar às margens do rio Quebar, um rio da Mesopotâmia onde Nabudonosor instalou uma colônia de judeus.
Os estudiosos não definiram, com precisão, a exata localização deste rio, que pode, muito bem, ter sido algum dos muitos canais artificiais que os babilônios construíram ao longo do rio Eufrates. Foi ali, depois de cinco anos de exílio, que o profeta passou a ter visões de Deus e a receber mensagens para transmitir ao povo cativo.
– O nome do profeta, “Ezequiel” (‘Yekhezkale”) significa “Deus fortalecerá” ou “Deus prevalecerá”.
Como costuma ocorrer com os profetas, seu nome está intrinsecamente vinculado com a sua mensagem.
– Em meio a tanta apostasia espiritual, na iminência do juízo máximo previsto para Israel no chamado “pacto palestiniano” (Dt.27:11-26; Js.8:30-35), que era a perda da posse da Terra Prometida em virtude da desobediência continuada (Lv.26:27-39; Dt.28:63-68),
Ezequiel vem lembrar ao povo de que Deus não muda (Ml.3:6) e que faria cumprir a Sua Palavra, retirando os israelitas da Terra Prometida e lhes dando o devido castigo.
– No entanto, ao mesmo tempo, Ezequiel também relembraria o povo de que haveria a também prometida restauração (Lv.26:40-45; Dt.30:1-10) e, nesta restauração, ter-se-ia um novo templo e o reinado messiânico, com a tão almejada conversão de Israel ao Senhor, o que também foi profetizado pelo seu contemporâneo Daniel (Dn.9:24-27).
– Ezequiel, portanto, mostra ao povo de seu tempo, e a nós, que Deus sempre está no controle de todas as coisas, que não deixa passar uma só letra do que disse sem que haja o devido cumprimento e que, portanto, é Ele quem nos fortalece para que Lhe sejamos fíéis e obedientes, para desfrutarmos das Suas promessas, mas também quem prevalecerá, de modo que todos os que lhe forem infiéis serão devidamente castigados.
– A exemplo de Jeremias, Ezequiel também sofreu agruras no desempenho de seu ministério. Ficou um tempo mudo, o que, notadamente para um sacerdote, representava um obstáculo para sua aceitação, já que, a princípio, não podiam os sacerdotes ter alguma deficiência (Lv.21:17), ainda que, por estar cativo, não pudesse, mesmo, exercer o ofício sacerdotal.
– Também acabou ficando viúvo, sendo-lhe vedado, por Deus, chorar pela sua mulher (Ez.24:15-18), para que pudesse ser um sinal do Senhor para o povo (Ez.25:19-27). Deveria o profeta saber, pois, que seu ministério tinha prioridade na sua vida sobre a face da Terra, que deveria se comportar de modo a que a sua vida fosse parte de sua mensagem.
– Neste ponto, a exemplo de outros profetas, foi obrigado a tomar atitudes estranhas aos olhos do povo, sempre com o objetivo de transmitir-lhes uma mensagem da parte de Deus, como, por exemplo, escavar a parede de sua casa e, por meio deste ato, fazer uma mudança (Ez.12:1-20), fazer uma espécie de miniatura de um cerco e dormir junto a ela durante 390 dias, inclusive ali cozinhando (Ez.4).
– Tratava-se, portanto, de alguém que estava à plena disposição do Senhor, para cumprir o seu ministério. O Senhor Jesus também espera que tenhamos esta mesma disposição, pois somos sal da terra e luz do mundo e as pessoas precisam ver, em nossas vidas, a Cristo Jesus.
– O ministério profético de Ezequiel desenvolveu-se por mais ou menos 20 a 22 anos, já que sua última mensagem datada é do 27º ano de seu cativeiro (Ez.29:17).
Seu ministério é concomitante, em parte, aos de Jeremias e de Daniel, sendo que, enquanto Jeremias profetizava na Terra Prometida para os que ali haviam sido mantidos pelos babilônios, Ezequiel ministrava para o povo cativo às margens do rio Quebar, ao passo que o então jovem Daniel testificava do Senhor no palácio real.
Vemos assim que Deus, mesmo em meio a um período de tantas mazelas para o povo, não cansava de Se fazer presente e companheiro de Sua nação eleita onde quer que ela estivesse.
– Nota-se, portanto, que Ezequiel foi levantado pelo Senhor num período particularmente crítico da vida de Judá.
O reino vivia em completa apostasia espiritual. Após a morte de Josias, o povo havia praticamente abandonado a Deus, pecando continuadamente, envolvido na idolatria.
Os profetas vindos da parte do Senhor eram hostilizados, como Jeremias, e os falsos profetas, que traziam uma falsa mensagem de paz, apesar de todo o pecado e do próprio quadro político reinante, eram ouvidos pelo povo e protegidos tanto pelos príncipes quanto pela cúpula sacerdotal.
– Ezequiel, sacerdote que era, bem vivia este ambiente e, por ter sido levado cativo, mostra que era um dos “figos bons” (Jr.24:5-7), dos melhores figos, pois é escolhido pelo Senhor para ser Seu porta-voz no meio do povo judaíta em Babilônia.
– Mesmo entre os “figos bons”, porém, havia rebeldia. Apesar de serem os escolhidos por Deus para manter a semente de Israel e, deste modo, prosseguir até a vinda do Messias, a maior parte deste povo também se rebelaria contra Deus e a prova disto é que seriam incrédulos à mensagem que Ezequiel lhes traria.
– Entre os cativos, como nos mostra o livro do profeta Jeremias, surgiram também falsos profetas, que procuravam fazer crer ao povo que o cativeiro seria curto e que, muito brevemente, eles voltariam para Jerusalém (Jr.29) e Ezequiel foi particularmente levantado para reafirmar as profecias de Jeremias e dizer a respeito da destruição de Jerusalém e do templo.
– A incredulidade era tanta que precisou Deus emudecer Ezequiel, que somente falava quando trazia suas mensagens proféticas, para ver se, deste modo, o povo acreditasse em suas palavras (Ez.3:26), mas parece que isto foi vão, pois, mesmo quando Ezequiel deixou de ser mudo, precisamente porque houve a destruição do templo e de Jerusalém, o povo só acreditou quando recebeu a notícia (Ez.24:25-27; 33:21,22).
– Em nossos dias não é diferente. Além das vozes que o Senhor levanta para expor a Sua Palavra ao povo, mostrando claramente que as profecias estão se cumprindo e que Jesus está às portas, há também os próprios fatos que gritam e revelam que estamos no tempo final da Igreja sobre a face da Terra.
Entretanto, a exemplo dos dias de Ezequiel, a maior parte do povo continua desatento, indiferente, sem se preparar convenientemente e só perceberão, se é que vão perceber, quando a porta da graça já tiver se fechado (Mt.25:11-13). Que Deus nos guarde, amados irmãos!
– Nos dias de Ezequiel, havia um total menosprezo pela Palavra de Deus. Os sacerdotes, que deveriam orientar o povo sobre a distinção entre o santo e o profano (Lv.10:8-11), não só não o faziam, mas eram dos primeiros a trazer abominações para o templo (Ez.8; 22:26).
Em nossos dias, não são poucos os que, dizendo-se obreiros da casa do Senhor, cometem os mesmos desatinos, trazendo escândalos atrás de escândalos (Mt.24:10).
– Os líderes do povo também não agiam de modo diferente. Ezequiel foi particularmente usado por Deus para trazer mensagens aos pastores infiéis de Israel (Ez.34), em palavras tão contundentes que até hoje são utilizadas por muitos que querem, indevidamente aliás, atacar o ministério pastoral.
– Também não foram poupados os falsos profetas, que, como já dissemos, eram muitos e extremamente prestigiados pelas falsas lideranças do povo naquela época (Ez.12:21-13:23). Hoje não é diferente, muitos são auxiliados por falsas lideranças para iludir o povo de Deus (Mt.24:4,11,24,25).
– A mensagem de Ezequiel, a exemplo da de Jeremias, não era popular. O povo cativo tinha esperança de retornar brevemente para a Terra Prometida, mas o profeta tinha de lhes dizer que, não só aquela geração não voltaria para a Terra Prometida, como o restante do povo que ali havia ficado iria também ser levado cativo para a Babilônia.
Após o cumprimento desta profecia, com a queda de Jerusalém e a destruição do templo, Deus passa a usar Ezequiel para trazer mensagens a respeito da restauração do povo, restauração que não seria apenas uma restauração sócio-política mas também espiritual, dando-lhe diversas visões a respeito deste “novo Israel”, com muitas profecias que ainda não se cumpriram e que só se cumprirão no reino milenial de Cristo.
II – O LIVRO DO PROFETA EZEQUIEL
– O livro de Ezequiel é o terceiro livro dos profetas posteriores na ordem do cânon judaico. Seu nome hebraico é “Yehez’qel”, o nome de seu autor, que significa “fortalecido por Deus”, nome também que é bem adequado para demonstrar o ministério deste servo do Senhor, que foi levantado para trazer a mensagem de Deus em pleno cativeiro, a um povo enfraquecido e desesperançado com a escravidão a que fora submetido.
– Em razão de seu tom futurista e de ter sido escrito no exílio, o livro de Ezequiel chegou a encontrar alguma resistência para ser incluído no cânon judaico, em especial da escola rabínica de Shammai, mas acabou sendo considerado como livro autoritário no concílio de Jamnia.
– A partir de então, não houve mais qualquer dúvida quanto à sua qualidade de livro inspirado, até 1924, quando muitos “críticos bíblicos” começaram a lançar dúvidas sobre a autenticidade e integridade deste livro, críticas, entretanto, que Russel Norman Champlin classifica como “…questões de estilo (…) (que) nos transporta para uma subjetividade que não pode produzir qualquer resultado acima de toda dúvida. …” (Ezequiel(livro). In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia.v.2, p.663).
– As principais objeções que se encontram ao livro de Ezequiel dizem respeito aos capítulos 40 a 48, onde o profeta descreve o serviço do novo templo a ser erguido em Jerusalém e que foi considerado como contrário à lei de Moisés pelos rabinos.
Entretanto, como cristãos, devemos entender estas resistências e objeções como próprias de quem não entende que, naquela época, estaremos numa outra dispensação que não a lei.
– A autoria do livro é do próprio Ezequiel, como é falado no início do livro (Ez.1:3). Houve alguns críticos que procuraram questionar tanto a autoria como a integridade do livro, mas que, desta vez, ao contrário do que ocorreu com o livro de Isaías, não tiveram tanta ressonância.
– O livro de Ezequiel, que tem 48 capítulos, pode ser dividido em três partes, a saber:
a) 1ª parte – mensagens proféticas antes da queda de Jerusalém – Ez.1-24
b) 2ª parte – mensagens proféticas depois da queda de Jerusalém – Ez.25-39
c) 3ª parte – mensagens proféticas relativas à restauração espiritual de Israel – Ez.40-48
– Uma outra divisão do livro de Ezequiel considera o livro em quatro partes, a saber:
a) 1ª parte – chamada e comissão de Ezequiel – Ez.1-3
b) 2ª parte – profecias contra Judá e Jerusalém – Ez.4-24
c) 3ª parte – profecias contra nações estrangeiras – Ez.25-32
d) 4ª parte – profecias sobre tribulações futuras e a restauração final de Israel – Ez.40-48
– Na própria descrição do livro do profeta Ezequiel, vemos que seu ministério tem como ponto marcante a destruição de Jerusalém e do templo, a execução do juízo vaticinado pelos profetas a que o povo não deu atenção.
– Assim, na primeira parte do livro, vemos que ele é chamado precisamente para ser um “atalaia”, que é a palavra hebraica “saphah” (הפצ), “…inclinar para a frente, i.e., investigar a distância; (por implicação) observar, esperar;— estar sobre, vigiar, espiar, ficar esperando, olhar, estar atento, atender, esperar, espreitar, estar de guarda, atalaia” (Biblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 6822, p.1891).
– O Senhor levantou Ezequiel para ser alguém que ficaria esperando o cumprimento das profecias e que deveria anunciar ao povo todos os passos de tais acontecimentos, para que o povo pudesse crer e se arrepender dos seus pecados, vendo que o Senhor estava no controle de todas as coisas.
– Assim como Ezequiel, nós, que fazemos parte da Igreja, também temos de ser “atalaias”, temos de também estar a esperar o Senhor Jesus vir arrebatar a Sua Igreja (Cf. I Ts.1:10).
– Assim como Ezequiel deveria lembrar o povo de todos os juízos vaticinados e que deveriam crer e aguardar os setenta anos de cativeiro na Babilônia, preparando-se para retornar à Terra Prometida devidamente arrependidos de seus pecados, também nós devemos lembrar os irmãos e os homens em geral de que estão se cumprindo todos os sinais que antecedem o arrebatamento da Igreja e que devemos estar prontos para deixar este mundo, crendo em Jesus, para não sofrermos o período da Grande Tribulação.
– Observemos, amados irmãos, que Ezequiel estava profetizando para o povo que havia sido levado cativo, o povo que haveria de escapar da morte, porque, os que haviam ficado em Judá, somente um terço escaparia com vida (Ez.5:2).
– De igual maneira, a Igreja, escondida que está com Cristo em Deus (Cl.3:3), será guardada da hora da tentação que há de vir sobre o mundo (Ap.3:10), salvando-se da ira futura (I Ts.1:10), deve perseverar até o fim, dar ouvido à Palavra de Deus e se manter em vigilância como nos manda o Senhor Jesus (Mc.13:37), a fim de que possamos nos manter em comunhão com o Senhor, não nos deixando iludir pelo engano que nos fará sofrer o juízo destinado para os impenitentes.
– Depois da destruição de Jerusalém e do templo, Ezequiel passa a ser usado por Deus para trazer mensagens ao povo a respeito de castigos que seriam lançados sobre os povos (Amom. Moabe, Edom, filisteus, Tiro, Sidom, Egito, monte Seir), mas também contra Israel , mostrando a imparcialidade e soberania divinas, para mostrar aos judaítas exilados que o Senhor tinha o absoluto controle sobre todas as coisas.
– Aí, então, o profeta passa a ser usado pelo Senhor para trazer mensagens a respeito da restauração espiritual, que já estava prevista na própria lei. Deus faz o povo recordar, através de Ezequiel, que não havia Se esquecido do pacto feito com Israel e que ele haveria de ser, ainda, a nação sacerdotal e povo santo pactuados no Sinai.
O profeta, então, tem a visão deste estado de restauração e do novo templo, onde se faria a adoração ao Senhor, sendo esta uma das passagens bíblicas que mais nos falam de como se dará a adoração a Deus no reino milenial de Cristo.
– Tais mensagens do profeta Ezequiel serve para nosso alento espiritual e para aumento de nossa fé, pois sabemos que, após o arrebatamento da Igreja, virá o tempo do juízo divino sobre a Terra, a Grande Tribulação, onde o Senhor tratará com judeus e gentios por causa da sua impenitência, mas que, depois, com a salvação do remanescente de Israel, estaremos reinando com Cristo durante mil anos sobre a face desta Terra. Deus é fiel, vale a pena confiarmos n’Ele !
– Em Ezequiel, vemos o cuidado de Deus com o Seu povo apesar de toda a execução do juízo. Mesmo no cativeiro, o povo de Judá não foi desamparado pelo Senhor, que levantou um profeta para demonstrar que estava no controle de todas as coisas e que a promessa de restauração espiritual e uma vida plena de comunhão com Deus não estava, de modo algum, descartada.
O propósito de Deus de viver eternamente com o homem não é demovido pela desobediência ou pelo pecado.
Em Ezequiel, como não poderia deixar de ser numa mensagem de esperança para um povo cativo, são renovadas as promessas messiânicas e reafirmado que o povo judeu, restaurado espiritualmente, teria como Rei o “Davi, o servo de Deus”, que será o seu pastor (Cf.Ez.37:24).
OBS: “O Livro de Ezequiel ante o Novo Testamento – A mensagem dos capítulos 33-48 concerne, em síntese, a futura obra redentora de Deus conforme revela no NT.
Fala não somente da restauração física de Israel à sua terra, como também da sua restauração final futura, i.e., sua plena realização reservada por Deus, como o Israel espiritual, junto às nações como resultado de missões. Profecias importantes em Ezequiel a respeito do Messias do NT: 17.22-24; 21.26,27; 34.23,24; 36.16-38 e 37.1-28.” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.1171).
“Cristo Revelado – Em Ezequiel, a Cristologia, e a Pessoa e obra do Espírito Santo são indissoluvelmente ligadas umas com as outras.
Embora uma figura messiânica não seja claramente perceptível na visão final de Ezequiel, vários títulos messiânicos e usos no livro indicam que um Messias é parte da sua visão escatológica.
O título ‘Filho do Homem’ ocorre umas noventa vezes em Ezequiel. Enquanto o título é aplicado a ele mesmo, foi apropriado por Jesus como Sua favorita autodesignação.
Então, Ezequiel pode ser considerado como um tipo de Cristo. Como tal, Ezequiel foi aceito como uma voz profética da era messiânica quando o Espírito do Senhor ‘caiu’ sobre ele (11.5).
A descida do Espírito Santo sobre Jesus, no Jordão, deu-Lhe poder para anunciar a vinda do Reino messiânico (Lc.4.18-19). Outro título messiânico é refletido na visão do Senhor Deus como divino Pastor que busca o rebanho que anda espalhado (34.11-16).
A figura de linguagem desperta representações de Jesus como o bom Pastor (Jo.10.11-16). Ezequiel, mais adiante, desenvolve a idéia fundamental de Israel como ‘reino sacerdotal e povo santo’, que foi enraizado no concerto do Sinai (Ex.19.6).
Um santuário restaurado no meio do povo reagrupado cujo cabeça é o Sacerdote-Rei, o Messias davídico (37.22-28), prenuncia o tabernáculo restaurado de Davi, a Igreja (Am.9.11; At.15.16).
Uma profecia messiânica final de Cristo emprega a figura de linguagem de um galho novo de cedro plantado pelo próprio Senhor numa grandiosa montanha, na qual se torna um grandioso cedro, dando frutos e ninhos para passarinhos. Essa metáfora da natureza, como ‘o tronco de Jessé'(Is.11.1,10; Rm.15.12), serve para representar o futuro Messias.
Passarinhos e árvores representam as nações de gentios para mostrar o reinado universal de Cristo.”(BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.783).
III – O CHAMADO E A MISSÃO DE EZEQUIEL
– Ainda faz parte desta lição introdutória verificarmos o que, como vimos supra, em uma das divisões do livro do profeta, seria a sua primeira parte, a que trata do chamado e da missão do profeta.
– Ezequiel foi levado cativo juntamente com o rei Joaquim, no que os cronologistas Edward Reese e Frank Klassen consideram ser a terceira leva de judeus que foram para a Babilônia, ocasião em que foram deportados dez mil judaítas (II Rs.24:10-16; II Cr.36:10; Et.2:6), isto por volta de 598 a.C.
– Na ocasião, Ezequiel tinha 25 anos de idade, precisamente a idade em que, na qualidade de sacerdote, começaria a servir no templo (Nm.8:24), de modo que podemos imaginar que estava ou no início de seu ministério sacerdotal ou nem o tinha ainda começado.
– Quando tinha já trinta anos de idade, ou seja, cinco anos depois de ter sido levado cativo (Ez.1:2), no ano de 593 a.C., no quinto dia do quarto mês, quando estava ele junto ao rio Quebar, que era, na verdade, um canal de irrigação vindo do rio Eufrates, o profeta teve uma visão, tendo os céus sido aberto e ele passou a ter visões de Deus.
– O quarto mês do calendário judaico é o mês de Tammuz, mês emblemático, pois foi neste mês que os israelitas cometeram o pecado do bezerro de ouro, bem como o mês em que foram enviados os espias para que espiassem a Terra de Canaã e que dez deles trouxeram um relato que levou o povo a descrer em Deus.
– Vemos, portanto, que se trata de um mês em que ocorreram fatos que levaram ao desagrado divino, à incredulidade do povo e Ezequiel ter sido chamado para profetizar a um povo rebelde precisamente neste mês revela-nos como foi escolhido para enfrentar os impenitentes, na “antessala do juízo” (veja que o quinto mês, o mês de Av é conhecido por ser o mês dos juízos divinos – a decretação da perda da terra aos que tinham mais de 20 anos em Israel, a destruição de ambos os templos, tanto que o dia 9 de Av é um dia de jejum para lamentar todas estas tragédias da história de Israel)..
– Notamos, de início, que o profeta era sempre alguém que, escolhido por Deus, passava a ter visões e sonhos (Nm.12:6).
Ezequiel vivia no meio do povo, ao contrário de Daniel, que foi mandado para o palácio. Deus queria manter o contato com o povo cativo em Babilônia. Deus sempre quer estar no meio do Seu povo. Aleluia!
– Ezequiel viu um vento tempestuoso que vinha do Norte e uma grande num, com um fogo a revolver-se, e um resplender ao redor dela e, no meio uma coisa como de uma cor de âmbar, que saía dentre o fogo (Ez.1:4).
– Nesta visão, já vemos como Deus é imutável. Para trazer mensagens que lembrassem as promessas e advertências feitas ao povo pela entrega da lei, o Senhor não deixa de Se apresentar com vento, nuvem e fogo, precisamente para fazer lembrar a teofania ocorrida no monte Sinai (Ex.19:18; 20:18; 24:9,15).
– No livro do Apocalipse, João, ao ver a glória de Deus, vê, também, um quadro semelhante (Ap.4:3-6), a nos mostrar que Deus nunca é Deus de confusão (I Co.14:33), deixando sempre claro e distinto o ambiente em que Se revela aos Seus servos.
– A glória de Deus se apresenta ao profeta para chamá-lo para a sua árdua missão. Temos de ver o reino de Deus para que possamos servir ao Senhor e só os nascidos de novo podem vê-lo (Jo.3:3). A visão celestial é imprescindível para podermos nos preparar, nestes dias difíceis, para o arrebatamento da Igreja.
– Do meio da “coisa como de cor de âmbar”, saíram quatro animais, que só mais tarde, em uma nova visão, o profeta saberia que se tratava de querubins (Ez.10:20).
Estes animais tinham quatro rostos (homem, boi, leão, águia), quatro asas, seus pés eram direitos e as plantas dos seus pés como a planta do pé de uma bezerra e luziam como a cor de cobre polido, com mãos de homem debaixo das suas asas aos quatro lados, unidas as asas uma à outra, não se virando enquanto andavam,
cada qual andando diante do seu rosto, rosto e asas separadas em cima, com duas asas juntas uma à outra e duas cobrindo os corpos deles, andando conforme o Espírito andava, tendo parecer de brasas de fogo ardentes, com aparência de tochas, pois fogo corria por entre os seres e do fogo saíam relâmpagos, havendo uma roda na terra junto aos animais, rodas altas que metiam medo, rodas onde estava o Espírito das criaturas (Ez.1:5-28).
– Foi uma visão terrível e o profeta não teve outra alternativa senão cair sobre o seu rosto (Ez.1:28). Vejamos que, ao contrário do que dizem alguns menos cuidadosos, Ezequiel não foi derrubado, mas, ao contemplar a glória de Deus, percebendo tratar-se da glória divina, prostrou-se, em atitude de adoração, de livre e espontânea vontade, sem perder sentido algum.
– Esta atitude de Ezequiel revela a sua piedade. Não resta dúvida de que a visão era terrível, esplendorosa e não poderia causar senão esta atitude de temor e espanto por parte do profeta, mas ele reconheceu que se tratava da glória de Deus, porque, como sacerdote que era, e ante as manifestações havidas, pôde recordar a teofania do Sinai, ainda que houvesse agora a presença daqueles seres até então desconhecidos.
– Qual a nossa atitude quando se manifesta a glória de Deus? Entramos em adoração, prostramo-nos diante dela, ou nos mantemos indiferentes ou nos afastamos do Senhor, como fizeram os israelitas no monte Sinai (Ex.,20:18)?
Ezequiel não saiu correndo mas se manteve no mesmo lugar, prostrou diante do Senhor e o resultado foi que ouviu a Sua voz.
– E tanto não tinha sido derrubado por Deus que o próprio Senhor mandou que o profeta ficasse em pé para que o Criador lhe falasse. Naquele instante, o Espírito entrou em Ezequiel e o profeta foi posto de pé e passou a ouvir a voz de Deus (Ez.2:1,2).
– O Senhor chama Ezequiel de “filho do homem” (Ez.2:1). É extremamente elucidativa esta expressão divina.
Reconhece que Ezequiel, apesar de ter sido chamado para ser profeta, era um ser humano e, como tal, sujeito a falhas e a fraquezas próprias da natureza humana.
– Deus sabia que estava chamando um homem para esta missão. Deus bem sabe que somos humanos, limitados, imperfeitos e falhos, mas, mesmo assim, conta conosco, quer nos usar na Sua obra, quer nos fazer Seus instrumentos para levar a salvação aos outros.
– Por saber que somos homens, o Senhor providencia os meios de que não dispomos para podermos realizar a Sua obra.
A nossa humanidade não pode servir de desculpa para o fracasso, para a covardia, para a desobediência. Antes, é um incentivo, um estímulo para confiarmos em Deus, pois Ele sabe que somos homens, e que, assim, dependemos integralmente do Seu poder, da Sua ajuda.
– Temos de fazer a obra de Deus, e iremos fazê-la, mas nunca nos esqueçamos que somos meros homens (Sl.9:20) e, portanto, sem o Senhor nada poderemos fazer (Jo.15:5), somos integralmente dependentes de Seu poder, que pertence somente a Ele (Sl.62:11).
– Ezequiel fora escolhido por Deus, mas não deixava de ser “filho do homem”. Assim, tinha de compreender a sua dependência de Deus, mas se dispor a cumprir a sua missão. Não podemos nos considerar autossuficientes, “supercrentes”, mas também não podemos invocar nossa humanidade para fracassar.
– Esta expressão seria utilizada pelo próprio Senhor Jesus para Se identificar conosco (Mt.11:19;12:8; 13:37; 18:11; 24:30,37; 26:24 Mc.2:28; 13:26; 14:21; Lc.6:5; 7:34; 9:44; 11:30; 12:40; 17:26,30; 19:10; 22:22,69; Jo.3:14; 5:27; 6:62; 12:23,34),
quase sempre num contexto de superação de dificuldades e provações para realização da obra de Deus. Assim, embora sejamos humanos, podemos, com Cristo, vencer tudo e cumprir nossa missão, assim como ele cumpriu a Sua, assim como Ezequiel cumpriu a tarefa que se lhe deu.
– No Antigo Testamento, os profetas eram visitados por Deus, enquanto traziam as mensagens ao povo ou recebiam visões e sonhos da parte do Senhor, o Espírito Santo descia sobre eles. Isto foi bem demonstrado na vida de Ezequiel, que, durante parte do seu ministério, ficou mudo e somente falava quando trazia as mensagens proféticas.
– Hoje, após a obra salvífica de Cristo no Calvário, somos templo do Espírito Santo (I Co.6:19), Ele habita em nós, está em nós (Jo.14:17), de modo que temos de, incessantemente, ter a visão da glória de Deus bem como ouvir a voz do Senhor. Temos vivido assim? Pensemos nisto!
– O Senhor, então, diz a Ezequiel que o está enviando como profeta aos filhos de Israel e às nações rebeldes que haviam se rebelado contra Ele, porque haviam prevaricado, ou seja, optado por viver em pecado, em desobediência a Deus.
O Senhor mostra, então, que o profeta lidaria com pessoas obstinadas, que não tinham interesse algum em se arrepender.
– Com estas palavras, o Senhor revela que conhece o coração de cada ser humano (I Sm.16:7. Jo.2:25) e que se importa em levar o homem ao arrependimento.
– De igual maneira, em nossos dias, temos três povos sobre a face da Terra: judeus, gentios e a Igreja (I Co.10:32), sendo que judeus e gentios, a exemplo do que ocorria nos dias de Ezequiel, são rebeldes contra Deus, rejeitam a mensagem salvadora do Evangelho e, por isso mesmo, sofrerão os castigos advindos da ira divina na Grande Tribulação (Dn.12:1; Ap.3:10).
– Ezequiel foi levantado para levar a mensagem divina para essa gente, assim como nós também temos de levar a mensagem do Evangelho para judeus e gentios, anunciar as boas-novas da salvação para as nações Mt.28:19,20; (Mc.16:15; At.1:8).
Mas, para fazer isso, só quem tem o Espírito Santo, só quem está em comunhão com o Senhor, quem tem a visão da glória de Deus. É esta nossa condição?
– O Senhor, que é a verdade (Jr.10:10), mostra ao profeta o triste estado espiritual dos seus ouvintes: eram povo de semblante duro e obstinados de coração. Independente disto, o profeta teria de entregar a mensagem do Senhor, quer eles ouvissem, ou não.
E o Senhor honraria o Seu servo, de modo que ninguém poderia deixar de reconhecer que tinha havido um profeta no meio deles (Ez.2:4,5).
– Esta é, também, a situação da Igreja. Devemos saber que somos como cordeiros no meio de lobos (Mt.10:16), mas não podemos deixar de anunciar o Evangelho, é nossa obrigação (I Co.9:16) e, mesmo que as pessoas não creiam, terão de reconhecer que somos filhos de Deus, filhos da luz (Mt.5:13-16).
– O Senhor anima o profeta, dizendo que, embora seus ouvintes fossem rebeldes e se comportassem com ele como sarças e espinhos, como escorpiões, ele deveria anunciar a mensagem que recebesse da parte de Deus (Ez.2:6,7).
– Aqui temos mais uma verdade que tem sido negligenciada nestes dias difíceis que estamos a viver. O Senhor disse a Ezequiel que ele não seria popular e que seus ouvintes seriam para ele como sarças e espinhos, como escorpiões.
– Como diz o comentarista bíblico Matthew Henry: “…Deus explica ao profeta qual era o caráter daqueles a quem estava sendo enviado, w. 3,4.
Eles são como sarças e espinhos que arranham, cortam e afligem o homem em qualquer lugar que ele possa estar. Eles estão continuamente zombando dos profetas de Deus, e tentando confundir as suas palavras (Mateus 22.15).
Estes não passam de sarças pontiagudas e espinhos dolorosos. O melhor deles é como a sarça, e o mais reto é pior que uma sebe de espinhos, Miquéias 7.4.
Espinhos e sarças são frutos do pecado e da maldição e semelhantes à aversão que existe entre a semente da mulher e a semente da serpente.
Note que os homens iníquos, especialmente aqueles que perseguem os profetas de Deus e o povo de Deus, são como sarças e espinhos que são perniciosos ao solo, abafam as sementes, prejudicam a seara de Deus e são irritantes e enfadonhos para os agricultores.
Mas eles estão perto de serem amaldiçoados, e o seu fim será o fogo…” (Comentário bíblico completo. Antigo Testamento: Isaías a Malaquias. Trad. Valdemar Kroker, Haroldo Janzen e Degmar Ribas Júnior, p.624)
– Mas, como continua Matthew Henry, “…Mas essa não é a pior parte do seu caráter. Eles são como escorpiões, venenosos e malignos. A picada de um escorpião é mil vezes mais dolorosa do que o arranhão de uma sarça.
Os perseguidores formam uma geração de víboras. Eles são a semente da serpente, e o seu veneno está sob a sua língua.
Além disso, eles são mais ardilosos do que qualquer animal selvagem no campo. E, o que deixa o caso do profeta mais difícil é que ele morará entre esses escorpiões. Portanto, não poderá ficar seguro e tranquilo na sua própria casa. Esses maus homens serão maus vizinhos que, portanto, terão muitas oportunidades e não deixarão ninguém escapar sem lhes fazer alguma maldade…” (ibid.).
– Não nos iludamos. Quem anuncia a mensagem de Deus terá sempre a oposição do mundo, nunca será popular nem o verão com simpatia. Quem quer agradar aos homens, acaba desagradando a Deus (Gl.1:10).
– Em seguida, o Senhor manda que o profeta comesse um livro que lhe foi dado pelo próprio Deus, um livro escrito por dentro e por fora, onde se achavam escritas lamentações e suspiros, que era como que o conjunto das mensagens que seriam dadas pelo profeta à casa de Israel (Ez.2:8-3:3).
– Nesta passagem, temos um outro aprendizado importante. O profeta só poderia falar o que lhe fosse dado por Deus. O profeta não tem mensagem própria, mas fala somente aquilo que lhe é dado pelo Senhor. A mensagem de Ezequiel já estava toda naquele rolo que ele comeu.
– Assim, também, não podemos ir além do que está escrito (I Co.4:6), somente anunciando aquilo que foi dado por Deus.
– Ezequiel teve de comer o livro, para que seu ventre e suas entranhas estivessem cheias da Palavra (Ez.3:3).
Precisamos também nos alimentar da Palavra para poder falá-la. Não é por outro motivo que a Grande Comissão envolve a pregação do Evangelho aos incrédulos e o ensino da Palavra aos crentes. Não podemos evangelizar se, antes, não tivermos nos alimentado da Palavra de Deus.
– Quem viu a glória de Deus e foi cheio do Espírito precisa se alimentar da Palavra. Vemos isto aqui claramente e, lamentavelmente, não são poucos os que negligenciam este aspecto e, por isso, não executam, como deveriam, a missão que lhes foi confiada pelo Senhor.
– O Senhor mostra ao profeta que o povo não o ouviria, porque era de rosto obstinado e duro de coração (Ez.3:7). Eles voluntariamente não dariam ouvidos à mensagem divina (Ez.3:7).
Note-se que o Senhor diz que a casa de Israel não quereria dar ouvidos, prova de que não tinha sido eliminado o seu livre-arbítrio, que não tinham sido “predestinados à perdição”.
– No entanto, para poder suportar tamanha oposição, o Senhor disse ao profeta que tinha feito com que o rosto do profeta fosse duro e a sua fronte forte, para poder enfrentar os rebeldes (Ez.3:8).
O rosto do profeta seria duro como diamante, que é o material mais duro que se encontra em a natureza.
Deus nos dá condições de enfrentarmos todas as dificuldades, ele nunca permite que algo maior do que possamos suportar se levante contra nós (I Co.10:13), de modo que não temos desculpas a dar caso fracassemos e recuemos na missão que o Senhor nos confiou.
– Mas não basta apenas alimentar-se da Palavra. O profeta precisava colocar as palavras no coração e ouvi-las (Ez.3:10). Não basta ouvirmos a Palavra, precisamos crer nelas e a praticarmos (Mt.7:24-27).
– O profeta, então, ouviu uma voz por detrás dele que dizia “Bendita seja a glória do Senhor, desde o seu lugar” (Ez.3:12). O profeta, então, soube que o que havia visto era a glória de Deus. Deus sempre Se revela aos Seus.
– O profeta diz que foi levado pelo Espírito. A visão realmente o levara até a glória de Deus, era como se não estivesse mais no rio Quebar.
Aquilo que foi um momento para o profeta, é um estado para a Igreja, que habita as “regiões celestiais em Cristo” (Ef..1:3).
– É interessante observar que, ao “retornar”, o profeta se encontrava triste. Alguém pode dizer: como ficar triste depois de ter contemplado a glória de Deus?
Porque, quando estamos em comunhão com o Senhor, somos um com Ele, sentimos o que Ele sente e Deus estava sobremaneira triste por causa da impenitência do povo.
Ezequiel estava em ardor de espírito, pela maravilhosa experiência espiritual vivida, tanto que ficou pasmo por sete dias, mas não podia de ter compaixão por aqueles pecadores que não queriam aceitar a Palavra de Deus /(Ez.3:14,15).
– Sentimos compaixão pelas multidões de pessoas que caminham à perdição? Temos realmente o mesmo sentimento que Deus tem pela humanidade (Cf.Mt.9:36; Mc.6:34)? Pensemos nisto!
– Sete dias depois, o Senhor confirma o chamado de Ezequiel, dizendo que ele deveria ser o “atalaia” de
Deus para o povo, tendo o dever de anunciar as mensagens que recebesse e que seria culpado se as retivesse, mas, se as falasse, não teria culpa alguma se o povo nelas não acreditasse (Ez.3:16-21).
– Ezequiel recebe a sua incumbência: anunciar a mensagem de Deus. Não deveria importar-se se as pessoas creriam, ou não, na mensagem. Seu papel era anunciar a vontade de Deus para o povo e teria de prestar contas ao Senhor quanto a isto.
– Este também é o papel da Igreja. Devemos pregar o Evangelho, quer as pessoas ouçam, ou não. Não está em nós o poder de convencer ou converter as pessoas. Isto depende da vontade delas, do seu livre-arbítrio. Se elas quiserem, o Espírito Santo as convencerá do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8-11; Ap.22:17).
– Temos anunciado a salvação na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo? Estamos livres da responsabilidade pelas vidas daqueles que conosco convivem? Não é à toa que o apóstolo Paulo dizia que ai dele se não pregasse o Evangelho.
Temos esta consciência de que se não o fizermos estaremos comprometendo a nossa própria salvação? Pensemos nisto!
– Após ter confirmado o chamado ao profeta, o Senhor mandou que ele saísse ao vale e, quando o profeta ali chegou, pôde contemplar a glória de Deus que havia visto junto ao rio Quebar (Ez.3:23).
– Vemos aqui claramente que não há um lugar específico para que a glória de Deus se apresente. Ela sempre estará onde Deus está, ela sempre onde estará onde Deus nos manda estar.
– Se na época da lei, onde havia um lugar predeterminado para a glória de Deus estar, que era o templo de Jerusalém, o profeta pôde perceber que a glória de Deus se manifestava onde Deus estivesse, onde Deus quisesse, nós, que agora estamos na dispensação da graça, onde a adoração é em espírito e em verdade (Jo.4:21-24), onde o Senhor Jesus está onde dois ou três estiverem reunidos em Seu nome (Mt.18:20), como poderemos achar que a glória de Deus somente se manifestará ali ou acolá?
– Sejamos sempre obedientes à voz do Senhor. Estejamos sempre onde Ele mandar que estejamos e, certamente, ali o Senhor e a Sua glória Se manifestarão para nós!
– Naquele instante, o Senhor renova o aviso ao profeta de que não seria benquisto pelo povo e que, a partir de então, ficaria mudo, somente falando quando fosse trazer uma mensagem ao povo.
O Senhor faria um milagre para que o povo não tivesse qualquer dúvida a respeito das mensagens do profeta, mas nem assim eles haveriam de crer.
– Ezequiel passava a pagar um alto preço para cumprir a vontade do Senhor. Tornou-se uma pessoa muda, o que, para um sacerdote, era algo terrível, mas se submeteu à vontade divina.
– Nós, também, para cumprirmos a missão do Senhor, teremos de enfrentar a oposição dos homens, como também fará o Senhor maravilhas para confirmar a autenticidade de nosso chamado, ainda que os homens menosprezem ou desprezem tais sinais.
– Ezequiel estava pronto para começar seu ministério e qual foi a sua primeira sequência de mensagens é o que veremos na próxima lição.
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/8125-licao-1-ezequiel-o-atalaia-de-deus-i