LIÇÃO Nº 9 – O AVIVAMENTO PENTECOSTAL NO BRASIL 

INTRODUÇÃO 

– O Brasil também foi atingido pelo avivamento pentecostal 

– Há uma nítida vocação divina para o Brasil quanto à evangelização final da dispensação da graça. 

I – AS CHAMADAS DE GUNNAR VINGREN E DE DANIEL BERG 

– No estudo sobre o avivamento, veremos como o avivamento pentecostal chegou ao Brasil. 

– O Brasil, principal país da América Latina, não poderia estar de fora do projeto divino de evangelização final da dispensação da graça, da “chuva serôdia”, que põe fim ao “ano aceitável do Senhor”. 

– Com efeito, mesmo tendo tido uma formação romanista muito forte, pois foi a única colônia portuguesa do continente americano e Portugal sempre se destacou como uma monarquia profundamente católico romana, o Brasil, que possuía uma quase insignificante evangelização, que estava apenas começando a engatinhar na segunda metade do século XIX, foi alvo da Divina Providência que fez com que, cerca de quatro anos depois do início do avivamento da rua Azusa, chegasse até nós o avivamento pentecostal. 

– O movimento do Espírito Santo não se circunscreveu ao surgimento daquela que viria a ser a maior denominação evangélica do país e uma das maiores do mundo, as Assembleias de Deus, a que, por óbvio, dedicaremos esta lição. 

– É importante frisar que, antes dos missionários pioneiros das Assembleias de Deus, veio para o Brasil, igualmente por direção do Espírito Santo, o missionário ítalo-norte-americano Louis Francescon (1866-1964), que se converteu ao Evangelho em 1891 e, juntamente com uns irmãos valdenses, fundou a Primeira Igreja Presbiteriana Italiana em 1901 em Chicago, no estado norte-americano de Illinois, para onde emigrara em 1890. 

– Em 1903, reportando-se a uma revelação que tivera em 1894 sobre o batismo por imersão, quando estava na direção interina da igreja, acabou convidando os irmãos para o seu batismo por imersão, tendo com ele assim se batizado 18 dos 25 membros daquela igreja, tendo, posteriormente a isto, saído da igreja. 

– Em julho de 1907, Francescon é batizado com o Espírito Santo. Em 1908, Francescon convence a igreja dirigida por William Durham sobre o revestimento de poder e a igreja passa a denominar-se “Assembleia Cristã”, que, mais tarde, em 1925, viria a se tornar a “Congregação Cristã de Chicago”. 

– Em janeiro de 1910, Francescon e sua esposa e Giacomo Lombardi, que havia sido curado na igreja de Chicago, e esposa, além do seis filhos, viajaram para Buenos Aires, na Argentina, onde iniciaram ali a “Assembleia Cristã na Argentina”, tendo, então, vindo para São Paulo.  

Lombardi voltou para a Itália e Francescon foi para Santo Antônio da Platina, no Paraná, onde 11 pessoas creram em Jesus, tendo, então, voltado para São Paulo, onde, após algumas conversões, formou a que viria a ser a Congregação Cristã do Brasil, escolhendo um ancião e retornando para os Estados Unidos, tendo visitado o Brasil desde então dez vezes.  

A Congregação Cristã do Brasil passou a chamar-se, posteriormente, Congregação Cristã no Brasil. 

– Em 1912, chegou ao Brasil o missionário sueco Erik Jansson (1885-1971), que se instalou no município de Guarani das Missões/RS, enviado pela Missão de Örebro, na Suécia. Em 1914, fundaram a Igreja Batista Independente, uma outra denominação pentecostal que se instalou em nosso país. 

– A história é, para os servos de Deus, uma das demonstrações de que o plano de Deus para a salvação do homem segue sua marcha sem que ninguém possa impedir o cumprimento do propósito divinamente estabelecido. Conhecer a história, portanto, é importantíssimo para que todos tenham a sua fé acrescida e sua esperança renovada n’Aquele que cumpre pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12). 

– Gunnar Vingren nasceu na cidade sueca de Östra Husby no dia 8 de agosto de 1879. Seu pai era um jardineiro, mas também dirigente da Escola Dominical da igreja batista onde congregava. Assim, desde cedo, ensinou ao seu filho tanto o ofício de jardineiro, que Gunnar exerceu até os 19 anos de idade, como a Palavra de Deus. 

– Aos 9 anos de idade apenas, Gunnar sentiu a chamada de Deus na sua vida. Sentia-se atraído por Deus de uma forma especial e costumava orar muito, sendo comum reunir outras crianças para orar com ele. Aos 12 anos de idade, porém, desviou-se dos caminhos do Senhor.  

Aos 17 anos, porém, em 1896, entregou-se novamente ao Senhor no culto de vigília do Ano Novo. Em arco ou abril de 1897, foi batizado nas águas e passou a ser o dirigente da Escola Dominical, sucedendo a seu pai, o que, segundo seu relato, “…aumentou muito a sua necessidade de Deus e de Sua graça”. Temos nos sentido assim, professores de Escola Bíblica Dominical? 

Em 14 de julho de 1897, ao ler uma revista sobre as grandes necessidades e sofrimentos de tribos nativas no Exterior, Gunnar derramou muitas lágrimas e subiu ao seu quarto e ali prometeu a Deus pertencer-lhe e se pôs à disposição do Senhor para honra e glória do Seu nome, entregando-se, assim, à obra missionária.  

Em outubro daquele ano, ao entregar tudo quanto tinha no seu bolso como oferta para ajudar um irmão a ir ao campo missionário, ao voltar para casa, o Espírito Santo lhe falou que ele também seria missionário. 

– Dirigiu a Escola Dominical da igreja de sua cidade até o fim de outubro de 1898, quando, então, foi para a escola bíblica em Götabro, Närke, escola que teve duração de apenas um mês.  

Ao término daquela escola, Gunnar Vingren, na companhia de um colega, Soderlund, foram à província de Skane como evangelistas, ocasião em que Gunnar foi vitimado de papeira, mas, após orações dos irmãos, foi curado por Jesus. 

– Depois dessa experiência, Gunnar foi trabalhar como jardineiro no palácio real de Drottningholm. Em outubro de 1899, Gunnar participou de outra viagem evangelística, na província de Ostergötland.  

Em fevereiro de 1900, Gunnar Vingren foi convocado ao serviço militar, que durou 68 dias, ocasião em que testificou do Evangelho para os demais soldados. 

– Em junho de 1903, Gunnar Vingren foi atingido pela “febre dos Estados Unidos”, que fazia com que muitos suecos emigrassem para o promissor país.  

Gunnar chegou aos Estados Unidos, em Kansas City, no dia 19 de novembro de 1903, onde foi morar com seu tio Carl Vingren, que emigrara antes, passando a trabalhar como foguista, tendo depois ido trabalhar como porteiro em uma grande casa comercial, voltando a trabalhar como jardineiro posteriormente, conseguindo emprego no Jardim Botânico de St. Louis, onde passou a congregar numa igreja sueca que ali havia. 

– No fim de setembro de 1904, Gunnar mudou-se para Chicago, a fim de começar um curso de quatro anos no seminário teológico sueco dos batistas (sim, amados irmãos, Gunnar Vingren estudou teologia, prova de que teologia não é e nunca foi “coisa do diabo”, como, inadvertidamente, muitos assembleianos, negando a sua própria origem, pregaram por décadas…).  

Durante o curso, Gunnar pregou em várias igrejas, tendo, no final do curso, estagiado como pastor em Mountain, no estado norte-americano de Michigan. Gunnar concluiu seus estudos e foi diplomado em maio de 1909.  

Nesse tempo, Gunnar, sentindo a chamada missionária, havia entregue uma solicitação para ser enviado como missionário.

Após os estudos, assumiu o pastor da Primeira Igreja Batista em Menominee, também em Michigan, onde foi pastor de junho de 1909 a fevereiro de 1910. 

– A Convenção Geral dos Batistas americanos decidiu que Gunnar seria enviado como missionário a Assam, na Índia, juntamente com sua noiva, mas, no meio da convenção, Gunnar sentiu que não era esta a vontade de Deus para a sua vida. Gunnar, então, enviou uma carta à Convenção, após uma semana de luta interior intensa, desistindo de ir para a Índia e, por causa desta decisão, ocorreu o rompimento de seu noivado.  

Após a tomada desta decisão, diz Gunnar que voltou a sentir o poder e a paz de Deus em seu interior, sentimentos que haviam desaparecido quando participara daquela convenção. 

– No verão de 1909 (correspondente ao nosso inverno), Gunnar Vingren sentiu grande sede de receber o batismo com o Espírito Santo e com fogo, tendo ido, com este propósito, a uma conferência batista que seria realizada na Primeira Igreja Batista Sueca em Chicago. Depois de cinco dias de busca, Gunnar foi batizado com o Espírito Santo. 

– Retornando para a igreja que dirigia, Gunnar passou a pregar a verdade que Jesus batiza com o Espírito Santo e com fogo e, como resultado desta pregação, foi obrigado a deixar a igreja, que ficou dividida com a doutrina do batismo com o Espírito Santo.  

Gunnar, então, foi dirigir uma igreja na cidade de South Benda, no estado norte-americano de Indiana. Na primeira semana em que começou a pastorear a igreja, dez pessoas foram batizadas com o Espírito Santo e a igreja se tornou pentecostal. Gunnar Vingren dirigiu a igreja até o dia 12 de outubro de 1910. 

– Nesta igreja, Gunnar Vingren começou a realizar culto de oração na casa de um irmão que havia sido batizado com o Espírito Santo, cultos que se realizaram todos os sábados à noite.

Foi num destes cultos que o Senhor usou o irmão Adolfo Ulldin, que tinha o dom de profecia, dizendo que Gunnar deveria ir para o “Pará”, local onde deveria testificar de Jesus, um povo que era de nível social muito simples, a quem Gunnar deveria ensinar-lhe os primeiros rudimentos da doutrina do Senhor. 

Naquela ocasião, inclusive, o Senhor fez com que o irmão que profetizava falasse a língua daquele povo, tendo sido a primeira vez que Gunnar ouviu o idioma português.  

O Senhor também disse a Gunnar que ele comeria uma comida muito simples, mas que o Senhor daria tudo o que fosse necessário.  

Também foi dito que Gunnar casaria com uma moça chamada Strandberg, o que aconteceu muitos anos depois, pois Gunnar Vingren se casaria com Frida Strandberg, que passaria a se chamar Frida Vingren. 

– Diante desta palavra profética, Gunnar Vingren foi, na companhia do irmão Adolfo Ulldin à biblioteca de South Benda, onde descobriram que “Pará” era uma região situada no norte do Brasil.

Juntamente com os dois, também estava um outro irmão, que Gunnar havia conhecido na conferência batista de Chicago, chamado Daniel Hogberg. 

– Daniel Hogberg, conhecido como Daniel Berg, nasceu na cidade sueca de Vargon em 19 de abril de 1884, filho dos batistas Gustav Verner Högberg e Fredrika Högberg.  

Criado na igreja, Daniel, aos 17 anos de idade, resolveu emigrar para os Estados Unidos, diante da depressão financeira que sofria a Suécia. 

Daniel partiu para os Estados Unidos em 5 de março de 1902, tendo assumido consigo mesmo o propósito de sempre seguir os passos do seu Salvador Jesus Cristo e, com o seu auxílio, resistir às tentações. Daniel também decidira servir a Deus em amor e respeito que sentia a seus pais. 

– Em 25 de março de 1902, Daniel chegou aos Estados Unidos, indo para Providence, no estado norte-americano de Rhode Island, onde, através de amigos da Suécia, conseguiu emprego em uma fazenda, onde pasou a tomar conta dos cavalos e das carroças.  

Transferiu-se, depois, para a cidade de Glasport, no estado norte-americano da Pensilvânia, onde trabalhou em uma fundição de aço e conseguiu seu diploma de fundidor especializado.

Obrigado a se filiar a um sindicato após um ano de exercício da profissão, como não se interessava por política, Daniel preferiu sair do emprego e arranjou outro, trabalhando por oito anos, quando, então, desejou retornar à Suécia para rever seus pais, pretendendo retornar um ano após, pois lhe fora prometido um emprego vantajoso numa empresa que vendia frutas por atacado. 

– Daniel voltou à Suécia para rever seus pais. Ali descobriu que seu melhor amigo de infância, Lewi Pethrus, não mais morava em Vargon, vivendo numa cidade próxima onde pregava o Evangelho, inclusive pregando que o batismo com o Espírito Santo. Instigado pela mãe de Lewi, Daniel, então, resolveu visitar seu amigo, mas, antes, já interessado na doutrina do Espírito Santo, leu a Bíblia com muita atenção sobre o assunto. 

– Daniel foi visitar Lewi Pethrus e, ao chegar à igreja que dirigia, sentou-se e prestou atenção para melhor entender o assunto.  

Após o culto, conversaram longamente acerca da doutrina do Espírito Santo e, a partir de então, desejou receber o batismo com o Espírito Santo e passou a orar que Deus lhe batizasse, o que aconteceu. 

– Daniel, então, voltou para os Estados Unidos e, na viagem, sentiu do Senhor de entregar sua vida totalmente a ele e de pregar o Evangelho.  

Aguardando que Deus iniciasse essa obra em sua vida, começou a trabalhar na casa atacadista de frutas, conforme sua promessa. Daniel foi participar da conferência batista em Chicago, a mesma a que tinha ido Gunnar Vingren, quando, então, conheceu Gunnar, recém-formado em teologia e desejoso de ir para a obra missionária.

Nessa ocasião, Gunnar relatou a Daniel que havia recebido o batismo com o Espírito Santo e que, com o batismo, adquirira a certeza de que, no futuro, seria missionário aonde quer que o Senhor o mandasse. 

– Neste diálogo com Gunnar, Daniel ficou convicto de que estava ali o seu companheiro para a obra missionária.  

Em 1910, diante desta convicção, Daniel mudou-se para South Benda e passou a congregar na igreja dirigida por Gunnar Vingren.

Daniel revelou esta convicção a Gunnar e passaram, então, a orar juntos diariamente e esperar que Deus mostrasse o caminho que deveriam seguir. Daniel estava no culto de oração onde o irmão Adolfo Ulldin disse que Gunnar deveria ir para o “Pará”. 

– Num dos cultos de oração, o Senhor, então, mandou que Daniel Berg e Gunnar Vingren fossem para Nova Iorque e lá tomassem um navio com direção ao “Pará”, navio que sairia no dia 5 de novembro de 1910.  

Obedientemente, Gunnar Vingren deixou a igreja em South Benda e, juntamente com Daniel, resolvera, ir para Nova Iorque a fim de iniciar sua viagem ao “Pará”. 

– Ao darem notícia de sua resolução, a igreja não foi receptiva. Os irmãos disseram que o clima no Brasil era adverso e que, certamente, ambos os missionários não demorariam em retornar.

Não prometeram qualquer ajuda financeira e se limitaram a dizer que os separariam como missionários, não dando qualquer garantia de sustento nem tampouco a aquisição de Bíblias e Novos Testamentos. 

 Mesmo diante desta “ducha de água fria”, os dois missionários resolveram obedecer à voz do Senhor e foram acrescidos na fé depois que o Espírito Santo falou a Gunnar que se fossem, nada lhes faltaria. 

– Decididos a partir, após serem devidamente separados para a missão pela sua igreja, tendo apenas 90 dólares no bolso, exatamente o necessário para a viagem até o Brasil, foram para Chicago, aonde haviam sido recomendados e enviados a uma igreja pentecostal dirigida pelo irmão Durham.  

Durante a visita àquela igreja, o Senhor tocou no coração de Gunnar Vingren para que desse todo o seu dinheiro a uma revista pentecostal mantida pelo irmão Durham.  

Após intensa luta com Deus durante a noite, Gunnar resolveu entregar aquele dinheiro para a revista. Estavam, pois, sem recurso algum para ir para o Brasil. 

– No dia da despedida de sua igreja, Gunnar Vingren recebeu alguns dólares, mas o dinheiro não era suficiente para pagar a passagem até Nova Iorque, sendo suficiente apenas para irem até a divisa do Estado de Indiana.  

Foram, então, a uma igreja em Chicago, onde haviam sido convidados antes de partirem de South Benda, convite do pastor B.M. Johnson.

Foram até a igreja que ele dirigia para se despedirem dos irmãos. O pastor nada lhes deu mas pediu aos irmãos que sentissem que dessem uma oferta aos missionários.

Os irmãos ofertaram diretamente aos missionários e, então, tinham o dinheiro suficiente para a viagem até Nova Iorque, pois receberam mais de quatro vezes o que havia sido doado ao irmão Durham. 

-Gunnar e Daniel, então, partiram para Nova Iorque e, numa baldeação da viagem de trem até a grande metrópole, Gunnar encontrou-se com um irmão que o conhecia há anos e que recebera de Deus ordem para mandar 90 dólares para Gunnar e estava procurando saber o endereço de Vingren.

Ao encontrá-lo na estação de trem, deu graças a Deus e lhe entregou a oferta de 90 dólares que o Senhor lhe havia mandado dar.  

Estava, pois, garantida a passagem para a ida até o Brasil! O Senhor fazia cumprir a Palavra que dera a Gunnar quando andava um dia pelas ruas de South Benda de que o Senhor nada deixaria faltar se ele se dispusesse a ir para o “Pará”! 

– Chegando a Nova Iorque, os dois missionários, conforme a profecia que lhes havia sido dada, foram procurar um navio que fosse para o Brasil e zarpasse no dia 5 de novembro.

Ali chegando, descobriram que navio algum partiria para o Brasil naquela data, não tendo eles conseguido lugar em qualquer outro navio.  

Após alguma espera, porém, descobriram que o navio “Clement”, que se atrasara no porto de Nova Iorque para alguns reparos, partiria no dia 5 de novembro de 1910 para o Brasil, embora não estivesse nas listas de partidas do porto, confirmando-se, pois, a profecia, havendo apenas dois lugares no navio.  

Partiram, então, para o Brasil apenas com as maletas de mão, pois, em virtude de uma greve no porto, as malas dos missionários ficaram retidas. 

– O navio estava fora do porto e uma pequena embarcação os levou até o navio. Naquela embarcação, Gunnar e Daniel ouviram aquele mesmo idioma que haviam ouvido naquele culto de oração em que lhes fora revelado que deveriam ir para o “Pará”.  

Era oa língua portuguesa, o que lhes fez sentir, uma vez mais, que estavam na direção de Deus. 

– Gunnar e Daniel compraram passagens de terceira classe, pois precisavam economizar alguns dólares quando desembarcassem no Pará. A terceira classe era um grande salão com divisões e, em cada divisão, havia quatro camas. 

 Os passageiros, na hora da refeição, formavam fila para receber os talheres e pratos e depois, recebiam como alimento uma sopa de péssima qualidade, tendo, depois, de lavar a louça e guardar os talheres para a próxima refeição. 

– Gunnar e Daniel eram os únicos passageiros brancos do navio e somente alguns falavam inglês. Um deles, que falava inglês e era companheiro de beliche dos missionários, foi evangelizado por Daniel e creu em Jesus como seu Salvador.  

Aproveitavam o tempo da viagem para orar, o que chegou a incomodar um passageiro que os repreendeu, mas, por fim, acabou abrandando seu furor contra os missionários, embora não tenha aceitado a Cristo como seu Salvador. Ainda durante a viagem, Daniel foi usado em profecia para reafirmar a ambos os missionários que o Senhor estava com eles. 

II – O INÍCIO DA EVANGELIZAÇÃO PENTECOSTAL EM BELÉM DO PARÁ 

– Gunnar e Daniel chegaram a Belém do Pará em 19 de novembro de 1910, sem conhecer pessoa alguma, nem sequer sabendo falar a língua portuguesa.  

Após desembarcarem do navio, Gunnar perguntou a Daniel para onde iriam, tendo Daniel respondido que deveriam subir uma rua, onde, então, num restaurante, pela primeira vez comeram a autêntica comida brasileira. 

– Foram, então, a um parque e ali sentaram num banco de jardim, orando a Deus e buscando orientação.  

Encontraram uma família que havia viajado com eles e que falava inglês e que indicaram o hotel onde estavam hospedados. Naquela oportunidade, os missionários tinham no bolso a quantia de 4 dólares, equivalente a 16 mil-réis, além de alguns trocados, exatamente o valor da diária do hotel.  

Foram para o hotel e lá encontraram outras pessoas que falavam inglês, tendo perguntado se conheciam algum pastor protestante na cidade, sendo que ninguém sabia a residência de algum pastor. 

– No dia seguinte, em conversa com um hóspede, este lhes forneceu uma revista em português editada por um pastor metodista, tendo então procurado o seu endereço, mas sem êxito.  

Sem saber para onde iam, foram orientados por um homem onde havia um bonde e o tomaram. Pouco depois, esse mesmo homem, que tomara outro bonde e chegara primeiro que os missionários, começou a acenar para Gunnar e Daniel que, então, desceram do bonde.  

O homem, então, os levou até a casa do pastor metodista, o americano Justus Henry Nelson (1850-1937), que viera como missionário para o Pará em 19 de junho de 1880 (Nelson é autor de alguns hinos que fazem parte da Harpa Cristã). 

– Ao ser inteirado da situação, Nelson os conduziu até o pastor batista de Belém, Erik Nilsson, que também era sueco e tinha vindo como missionário para Belém.  

Nilsson, no início, buscou o batismo com o Espírito Santo durante quatorze dias, mas, quando começou a sentir o poder de Deus, como a sua mulher ficara com medo e insistisse em que ele deixasse de buscar o revestimento de poder, ele desistiu de buscar o batismo com o Espírito Santo e se tornou contrário àquelas manifestações. 

– Nillson disse que precisava de auxiliares para o trabalho e convidou ambos os missionários a morarem no porão de sua casa, por 2 dólares diários, tendo eles aceitado a oferta e passado a morar ali.  

Logo a notícia da chegada dos missionários ecoou nas quatro igrejas protestantes de Belém e os missionários passaram, então, a ser convidados para pregar naquelas igrejas, jamais escondendo a mensagem pentecostal. 

– Os missionários foram bem recebidos na igreja batista, pois os diáconos oravam já há algum tempo pedindo a Deus que enviassem missionários para Belém e havia a convicção de que Gunnar e Daniel eram as pessoas enviadas por Deus em resposta àquelas orações. 

– Um mês após a chegada dos missionários, um irmão presbiteriano chamado Adriano Nobre, convidou os missionários para acompanhá-lo numa viagem a casa de seus pais, situado três dias de viagem de Belém.  

Os missionários, então, nesta viagem de rio, tiveram seu primeiro contato com a Floresta Amazônica.  

Ficaram um mês e meio ali, onde realizaram pequenas reuniões de oração. Quando retornaram para Belém, souberam que, neste período, ocorrera uma revolução em Belém do Pará e os missionários entenderam que haviam sido poupados de envolvimento naquele conflito. 

– As pessoas começaram a se interessar pela doutrina do Espírito Santo que era pregada pelos missionários e os cultos começaram a encher de gente.  

Como o dinheiro havia acabado e os missionários precisavam aprender o português, Daniel foi trabalhar como fundidor, ganhando 12 mil-réis por dia, dinheiro suficiente para que Gunnar pagasse as suas aulas de português e ainda sobrasse dinheiro para que comprassem Bíblias e Novos Testamentos dos Estados Unidos, pois não havia quem produzisse a impressão de Bíblias em português no Brasil. 

 À noite, quando Daniel voltava do trabalho, Gunnar lhe ensinava a lição de português que havia aprendido durante o dia. 

– Havia uma confiança da parte dos batistas de Belém que, quando Gunnar aprendesse o português, se tornasse pastor deles.  

A pregação da doutrina do Espírito Santo, porém, passou a incomodar Erik Nillson que, certa feita, disse que parassem os missionários de pregar a mensagem do batismo com o Espírito Santo, pois era uma doutrina que “propagava divisões”. 

– Gunnar Vingren, em maio de 1911, dirigiu um culto de oração na igreja batista, a convite dos diáconos da Igreja.  

Naquela oportunidade, Gunnar pregou sobre o batismo com o Espírito Santo e, após mostrar versículos que confirmavam esta doutrina, percebeu que havia sido bem recebida esta mensagem.

Naquela semana, Gunnar passou a realizar cultos de oração todas as noites na casa de uma irmã que tinha uma enfermidade incurável nos lábios e, por isso, não podia assistir ao culto na igreja.  

Neste culto, Gunnar perguntou à irmã se cria que Jesus podia curá-la, orou por ela e ela foi curada. 

– Na continuidade dos cultos na casa daquela irmã, cujo nome era Celina Martins Albuquerque (1874-1969), ela começou a buscar o batismo com o Espírito Santo.  

Numa quinta-feira, no dia 8 de junho de 1911, depois do culto, Celina Albuquerque continuou orando em sua casa, juntamente com outra irmã, cujo nome era Maria de Nazaré Cordeiro de Araújo.  

A uma hora da madrugada, a irmã Celina começou a falar em novas línguas, o que fez durante duas horas, sendo a primeira pessoa batizada com o Espírito Santo em terras brasileiras. 

– A irmã Nazaré, no dia seguinte, foi contar aos membros da igreja batista o que havia acontecido. Ela e outras irmãs vieram para o culto de oração e, naquela mesma noite, 9 de junho de 1911, uma sexta-feira, a irmã Nazaré também foi batizada com o Espírito Santo e ainda cantou um hino espiritual. 

 Naquele culto, os que ali estavam creram que aquilo era obra de Deus, menos um evangelista e a mulher de um diácono. Este evangelista, inclusive, passou a ter um comportamento estranho e, no domingo, na igreja, percebeu-se que ele estava diferente. Tratava-se de Raimundo Nobre, tio de Adriano Nobre. 

– No dia 13 de junho de 1911, uma terça-feira, ocorreu um culto extraordinário, convocado por Raimundo Nobre que, ilegitimamente, passou a comandar a reunião, não deixando sequer o pastor Erik Nillson falasse.  

Nesta reunião, foi dito que não se poderia permitir a pregação da mensagem do batismo com o Espírito Santo.  

Entretanto, dezoito irmãos disseram que criam no batismo com o Espírito Santo e que, ao contrário do que era ali pregado, não se tratava de algo reservado apenas para os dias apostólicos, pois os irmãos estavam experimentando a realidade da cura divina e do revestimento de poder. 

Diante do impasse criado, o pastor disse que os missionários não mais poderiam morar em sua casa e que os que quisessem segui-los deveriam abandonar a igreja. 

– Os dezoito crentes, então, resolveram deixar a igreja batista e os missionários, então,deixaram aquela casa e passaram a realizar cultos nas casas dos irmãos, passando a realizar cultos na casa da irmã Celina Albuquerque, onde passaram a morar, na rua Siqueira Mendes, 67.  

Eis os nomes dos primeiros crentes pentecostais do Brasil (na reunião, havia 18 crentes, mas dois que não estavam na reunião resolveram acompanhar os demais):  

José Plácido da Costa e sua esposa Maria Piedade da Costa, Alberta Mendes Garcia (esposa de Adriano P. Nobre);  

Antônio Mendes Garcia;  

Joaquim da Silva e Benvinda Saraiva da Silva (esposa);  

Henrique Albuquerque e Celina Albuquerque (esposa); 

Emília Dias Rodrigues; Manoel Maria Rodrigues e Jezusa Dias Rodrigues (esposa);  

Joana Dias Dominguez; João Dias Dominguez e Raimunda Dominguez (esposa);  

José Batista de Carvalho e Maria José Pinto de Carvalho (esposa); 

Josina Galvão Batista; Manoel Dias Rodrigues;  

Maria Joana Soares e Maria de Nazaré Cordeiro de Araújo.  

Gunnar Vingren foi aclamado pastor da novel igreja e Daniel Berg seu auxiliar, com a responsabilidade pela colportagem, mister que tanto o apaixonava.  

Os filhos menores que acompanharam esses crentes foram: Anna Victória da Silva e Izabel Leonísia da Silva (filhas de Benvinda); João Dominguez Filho (filho João Dias Dominguez); Prazeres da Costa (filha de Maria Piedade da Costa) e Tereza Silva de Jesus (filha de Joaquim da Silva). 

– Em 18 de junho de 1911, Gunnar Vingren e Daniel Berg organizaram juridicamente a nova igreja, dando-lhe o nome de “Missão da Fé Apostólica”, o mesmo nome da igreja que havia sido fundada por William Seymour, em 1906, na rua Azusa, em Los Angeles. Nasciam, assim, as Assembleias de Deus no Brasil. 

– Logo naqueles dias, Jesus batizou o primeiro homem com o Espírito Santo em terras brasileiras, o irmão Manoel Francisco Dubu, que era paraibano. Ele foi a quarta pessoa batizada com o Espírito Santo, pois, antes dele, também foi batizada a irmã Isabel L. da Silva. 

 Foi batizado nas águas e continuou em Belém até 17 de dezembro de 1914, quando, então, retornou para a Paraíba, onde foi o primeiro evangelista a divulgar a mensagem pentecostal naquele Estado. Somente em 1935, Manoel foi levado ao presbitério pelo pastor Cícero Canuto de Lima, servindo muitos anos na Assembleia de Deus em Campina Grande/PB. 

– O trabalho começou árduo. O pastor batista, ao saber da criação da nova igreja, espalhou um folheto acusando os missionários de traição e falsidade e aconselhando os crentes a não se aproximarem deles, espalhando-o por toda Belém, inclusive com várias citações bíblicas mencionadas pelos missionários. 

O folheto teve efeito inverso: ao invés de afugentarem os crentes, contribuiu para que se despertasse o interesse pela pregação de Gunnar e de Daniel e, como consequência, os cultos estavam sempre repletos de pessoas.

Jesus começou a curar enfermos e muitos se rendiam aos pés do Senhor, além de continuar a batizar os crentes com o Espírito Santo. Algum tempo depois, realizou-se o primeiro batismo nas águas, no lamacento rio Guamá. 

– Em 13 de novembro 1911, quando resolveram fazer um batismo, os novos crentes passaram por momentos de grande perigo.  

Nesta ocasião, uma multidão de inimigos do Evangelho dirigiu-se até o local do batismo armados de facas e laços para impedir o batismo. O líder deles carregava uma cruz. Vingren procurou ler a Bíblia, mas foi impedido. Tentou ler outra vez, mas o líder empunhou uma faca e se preparou para lançar-se contra Vingren.  

Porém, neste momento, a irmã Celina, a primeira a ter sido batizada com o Espírito Santo, interpôs-se entre aquele homem e o missionário.

Um outro homem do grupo, então, gritou e disse que deixassem que os crentes realizassem a sua cerimônia e, apesar de toda aquela oposição, pois o líder do grupo persistiu no intento de impedir o ato, o batismo foi realizado e ninguém conseguiu impedir que os três novos convertidos descessem às águas, ainda que sobre os gritos da multidão que clamavam “miseráveis, comida de tigres, matem o missionário!”. 

– Após o batismo, dirigidos pelo Espírito Santo, em vez de trocarem de roupa, os batizados e o missionário, com as roupas molhadas, passaram pelo meio da multidão que, boquiaberta e apanhada de surpresa, deixaram-nos ir, juntamente com os crentes, de volta para a cidade. 

– Com a chegada do primeiro pacote de Bíblias e Novos Testamentos vindos dos Estados Unidos, Daniel deixou seu emprego na fundição e passou a se dedicar à colportagem, ou seja, à atividade de ir de porta em porta apresentando literatura religiosa (no caso, Bíblias e Novos Testamentos), ao mesmo tempo em que se prega a Palavra de Deus.  

A expressão vem do francês “colportor”, que significa “levar no pescoço”, pois eram assim que os pregadores valdenses, na Idade Média, levavam os escritos sagrados, debaixo da roupa ou numa bolsa que pendia do pescoço. 

OBS: Os valdenses, como vimos na lição anterior, foram crentes surgidos num avivamento na França, a partir de 1173, que creram na Bíblia como única regra de fé e prática, como também apenas no batismo nas águas e na ceia do Senhor como ordenanças válidas, abandonando os “sacramentos” da Igreja Romana, havendo notícia de que houve, neste movimento, a manifestação do batismo com o Espírito Santo.  

A Igreja Evangélica Valdense existe até hoje, tendo, principalmente, fiéis no norte da Itália, onde se refugiaram em virtude das perseguições. 

– Daniel começou o trabalho de colportagem em Belém e o Senhor foi confirmando este trabalho com novas conversões.  

Ao mesmo tempo, Gunnar, que dirigia a igreja, prosseguia pregando a Palavra, fazendo cultos domiciliares e no salão na casa dos irmãos Henrique e Celina Albuquerque, e Jesus continuava a salvar, curar e a batizar com o Espírito Santo.  

Em 22 de outubro de 1911, Gunnar Vingren foi até Soure, na ilha de Marajó, onde realizou alguns cultos e muitos se renderam aos pés do Senhor, sendo que, em 1º de novembro, uma irmã foi batizada com o Espírito Santo, abrindo-lhe ali um novo campo de trabalho. 

– Impulsionado pelo Espírito Santo, Daniel, então, após orar ao Senhor, com a aquiescência de Gunnar, passou a evangelizar às margens da estrada de ferro Belém-Bragança, ampliando o trabalho evangelístico pelo estado do Pará, percorrendo a pé um caminho de 400 km.  

Gunnar Vingren também não ficava apenas em Belém, realizando frequentemente viagens para localidades no Pará, onde também o Senhor operava grandemente.  

Em Tajapuru, local onde os missionários haviam feito aquela viagem com Adriano Nobre e onde quarenta crentes haviam ali ficado, Jesus também começou a batizar com o Espírito Santo. 

– Durante estas viagens, ambos os missionários foram acometidos de enfermidades tropicais. Vingren, por exemplo, foi acometido de beribéri, indo se tratar numa localidade chamada Mosqueiro, onde, além da doença, teve de enfrentar cruel perseguição, inclusive apedrejando a casa onde estava hospedado.  

Não contentes, os inimigos do Evangelho resolveram queimar a casa onde Vingren estava e ele teve de sair dali e se escondido na selva, engatinhando, tão fraco estava por causa da doença.

No mato, encontrou uma casa onde foi dormir. Apesar de os inimigos do Evangelho estarem com cães de caça para seguirem o missionário a fim de matá-lo, não conseguiram encontrá-lo.  

Vingren, então, voltou para Belém e foi para a cama com uma febre altíssima. Depois de quatro dias, os irmãos foram orar pelo seu pastor e ele foi completamente curado, sem precisar tomar qualquer remédio ou ter ido a qualquer médico. 

OBS: “O beribéri é uma doença provocada pela falta de vitamina B1 no organismo, o que provoca fraqueza muscular e dificuldades respiratórias.  

Uma de suas causas: o fungo Penicillium citreonigrum, que através da liberação da toxina citreoviridina inibe sua absorção.  

Outras enzimas, encontradas em peixes de rio, também podem causar deficiência de B1. A doença pode afetar o coração, dando origem a uma cardiomiopatia por deficiência nutricional chamada de beribéri cardíaco. A cura da doença se dá pela administração da vitamina B1, corrigindo assim a sua carência.  

São alimentos ricos em tiamina: cereais em grão, leite, legumes, ovos, peixes e plantas e na redução da ingestão do álcool, já que este dificulta a absorção da vitamina.  

O beribéri é um tipo específico de polineurite. No tratamento desta doença, vemos a importância de uma intervenção fisioterapêutica cardiorrespiratória, já que o paciente apresenta dificuldades respiratórias devido a alterações musculares, levando o indivíduo a um grande encurtamento muscular que ainda acarreta grandes dificuldades de deambulação e realização das atividades da vida diária.…” (Beribéri. WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Berib%C3%A9ri Acesso em 19 abr. 2011). 

– Daniel Berg, por sua vez, em uma de suas incursões pela selva, apanhou malária e teve de comunicar seu estado a Gunnar Vingren, que se encontrava em Belém, mas foi até Bragança onde recebeu o companheiro na estrada de ferro e, durante toda a viagem de trem, amparou-o.  

Daniel foi, então, levado a Belém para a casa de Vingren, onde os irmãos iam visitá-lo e pediam que o Senhor o curasse, mas, apesar das orações, a enfermidade não era curada. Depois de alguns dias, o Senhor ordenou que Daniel fosse ao culto à noite e, apesar de enfermo e fraco, o missionário obedeceu à ordem do Senhor.  

Os irmãos se admiraram que Daniel estivesse no culto e, nesse culto, Daniel orou por enfermos, que foram curados, mas ele, não. Retornando para casa, o missionário passou a noite em oração pedindo que o Senhor o curasse, o que ocorreu, tendo, então, Daniel retornado às suas viagens. 

– O trabalho prosseguiu, sendo levantados outros evangelistas além dos missionários, tanto brasileiros quanto suecos.  

Entre os brasileiros, destacaram-se Crispiniano Fernando de Melo e Clímaco Bueno Aza. Entre os suecos, o primeiro a chegar foi Otto Nelson (1881-1982) que, também tendo emigrado para os Estados Unidos, sentiu a chamada para o Brasil em 1914, vindo com sua esposa, Adina Peterson.  

Em 1916, Samuel Nyström (1891-1960), ao ouvir a pregação de Daniel Berg na igreja Filadélfia em Estocolmo, para onde Daniel fora contar do trabalho no Brasil, sentiu forte chamada divina para a missão, tendo sido separado com sua mulher Lina, para a missão em 5 de junho de 1916, mesma data em que ambos se casaram, chegando ao Brasil em 18 de agosto de 1916. Viktor Jansson foi outro que veio para o Brasil, em 1921, tendo morrido de uma febre terrível enquanto evangelizava nas ilhas do Pará em 1923. 

OBS: Daniel Berg voltou à Suécia em 1920 e lá se casou com Sara Julho, retornando logo depois para o Brasil. 

– Em Guatipurá, lugar evangelizado por Daniel Berg, houve um dos mais impressionantes episódios de perseguição.  

Os crentes foram espancados até correr sangue e depois foram levados para a prisão. Na prisão, os crentes passaram a orar e a louvar a Deus e o povo se reuniu na frente da cadeia para escutá-los.  

Um dos crentes foi batizado com o Espírito Santo e um dos soldados trouxe alimento para eles. As autoridades, então, concluíram que não valia a pena manter os crentes presos e os soltaram dizendo que “eles tinham uma religião que eles não tinham nem entendiam”. 

– Também em Guatipurá, o Senhor livrou Daniel Berg de uma cilada que os inimigos do Evangelho lhe armaram no caminho.  

Daniel, sem saber de nada, tomou outro caminho e, desta maneira, recebeu livramento da parte do Senhor. 

Enfurecidos, os inimigos do Evangelho atacaram os crentes do lugar, arrombaram as portas das casas e agrediram os membros da igreja.  

Daniel levou os feridos até as autoridades em Bragança, mas elas se limitaram a dizer que todos tiveram sorte em não terem morrido, percebendo, então, o missionário que estavam do lado dos perseguidores, mas, a partir daquele dia, as autoridades não mais importunaram os crentes. 

– Entretanto, dois rapazes começaram a perturbar diariamente os cultos que ali se realizavam, a ponto de se ter de interromper um dos cultos para que falassem com eles, mas eles se mantiveram irredutíveis e, numa destas vezes, quando tomaram um barco, fingindo sair com o desejo de depois retornar para perturbar ainda mais o culto.  

Entretanto, quando entraram no barco, acabaram caindo na água e foram devorados por jacarés e piranhas e isto gerou temor na localidade, cessando a perseguição. 

III – A EXPANSÃO DO EVANGELHO PENTECOSTAL PELO BRASIL 

– A irmã Maria de Nazaré, a segunda pessoa batizada com o Espírito Santo na igreja em Belém, sentiu a direção de Deus de viajar para o estado do Ceará em 1914.  

Após quatro dias de viagem de navio, chegou à casa de seus parentes e testificou de Jesus para eles, mas não foi bem recebida.  

Entretanto, alguns crentes presbiterianos ouviram suas palavras e aceitaram o seu testemunho sobre o batismo com o Espírito Santo e, mais tarde, o Senhor enviou para lá o irmão Adriano Nobre (aquele mesmo que convidara os missionários para a viagem em dezembro de 1911), ocasião em que muitos foram ali batizados nas águas e com o Espírito Santo.  

Nesse mesmo ano, quando Gunnar Vingren foi até lá, encontrou duas igrejas, uma com 70 membros e outra, com 40, frutos da semente que a irmã Maria de Nazaré plantara. 

– Um lavrador no Pará, também membro da Igreja, chamado Joaquim Batista de Macedo, também recebeu revelação de Deus para ir ao Nordeste, para os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, testificando de Jesus por todos estes lugares.  

Quando retornou da viagem, contou seu testemunho de como Jesus começou a salvar, curar e a batizar com o Espírito Santo. 

– Em 1912, Gunnar Vingren consagrou o primeiro pastor brasileiro, o irmão Isidoro Filho, que foi colocado na direção da igreja em Soure e, no início de 1913, o irmão Absalão Piano também foi separado para o pastorado e passou a dirigir a igreja em Tajapuru. 

Como Paulo e Barnabé, Gunnar e Daniel não tinham qualquer preocupação em criar “impérios eclesiásticos”, separando obreiros para cuidarem das igrejas que iam se formando. 

– Entre 1911 e 1914, segundo estatística do diário de Gunnar Vingren, no Pará, foram batizadas nas águas 384 pessoas e, destas, 276 receberam a promessa do Espírito Santo, num trabalho crescente (em 1911, foram 13 batizados nas águas e 4, com o Espírito Santo; em 1912, 41 batizados nas águas e 15, com o Espírito Santo; e 1913, 140 batizados nas águas e 121, com o Espírito Santo e em 1914, 190 batizados nas águas e 136, com o Espírito Santo). 

– Um século depois, por que as Assembleias de Deus não tem, como naqueles quatro primeiros anos, 71,875% dos crentes batizados com o Espírito Santo? A resposta é simples: o diário de Gunnar e o livro de Daniel mostram que, naquele tempo, os crentes não cessavam de cultuar a Deus.  

Quando acabavam os cultos nos templos, os crentes se reuniam em casas para realizar cultos de oração e, também, não cessavam de testificar de Jesus.  

O resultado de uma vida de consagração e de evangelização trazia muitas curas, batismos com o Espírito Santo e diversas manifestações dos dons espirituais.  

É este, por acaso, o quadro que vemos em nossas igrejas atualmente? Jesus não mudou, mas, infelizmente, a mudança está nos crentes. Voltemos aos primórdios da nossa história! 

– É importante observar que, no ano de 1914, em vários cultos, no início do ano, o Senhor usou irmãos que profetizaram sobre o período difícil que viria sobre a humanidade e, realmente, foi o ano que se iniciou a Primeira Guerra Mundial, que somente terminaria em 1918. 

– Em 1915, Gunnar Vingren viajou novamente para o Nordeste do Brasil, tendo ido até Alagoas, em Maceió, que não havia ainda recebido a pregação do evangelho pentecostal.  

Gunnar chegou ali em 1º de maio, indo a um culto na casa do irmão Simplício, onde estavam presentes nove crentes, no local conhecido como Trapiche da Barra.  

À tarde, Gunnar orou por uma irmã que estava enferma e ela foi curada imediatamente. Os cultos continuaram, mas o irmão Simplício, que era adventista, não quis abandonar a doutrina dos adventistas e, por isso, os cultos passaram a ser realizados na casa do irmão Candinho, que foi batizado com o Espírito Santo no dia 28 de maio de 1915. 

– Formou-se, assim, um núcleo de crentes pentecostais, anteriormente batistas e adventistas, tendo Gunnar Vingren deixado Maceió em 13 de julho de 1915.  

Alguns meses depois, chegou a Maceió o missionário Otto Nelson, que passou a cuidar da obra de Deus em Alagoas. 

– Gunnar Vingren, então, após cinco anos de intenso trabalho missionário, resolveu descansar e foi para a Suécia, partindo primeiramente para os Estados Unidos, onde chegou em 8 de agosto de 1915, ali permanecendo até dezembro de 1915, não cessando de pregar e testificar da obra de Deus no Brasil em vários lugares. 

– De partida para a Suécia, seu navio foi preso pelos ingleses, pois se estava em plena Primeira Guerra Mundial e levados todos para a Escócia, onde ficaram três dias e depois foram liberados.  

Chegando a sua casa, onde passou o Natal, recebeu a visita dos pastores Lewi Pethrus (o amigo de infância de Daniel Berg) e Alfred Gustavsson, tendo passado o ano novo na igreja Filadélfia, em Estocolmo. 

– Após pregar em diversas igrejas na Suécia, onde Jesus curou e batizou com o Espírito Santo. Antes de voltar para o Brasil, Gunnar Vingren conheceu a enfermeira Frida Strandberg, a mesma que havia sido revelada em profecia mais de seis anos antes, membro da igreja Filadélfia que sentira forte chamada missionária para o Brasil.  

Frida foi batizada nas águas no dia 24 de janeiro de 1917 na igreja Filadélfia e, pouco depois, foi batizada com o Espírito Santo e acabou acompanhando Gunnar Vingren quando este voltou para o Brasil em 12 de março de 1917, via Estados Unidos. 

– Nos Estados Unidos, Vingren visitou diversas igrejas e pregou em vários lugares. 

Em 12 de junho de 1917, Frida Strandberg viajou para Belém, sozinha, pois Gunnar não tinha conseguido arrumar sua documentação, o que fez somente em 21 de julho de 1917, chegando a Belém em 6 de agosto de 1917. Algum tempo depois, foi consagrado o irmão Adriano Nobre. 

– Em 11 de janeiro de 1918, a igreja mudou de nome, passando-se a se chamar “Sociedade Assembleia de Deus”, a mesma denominação que os pentecostais haviam adotado nos Estados Unidos desde 1914. Algum tempo depois, passou a ser chamada de Igreja Evangélica Assembleia de Deus. 

– Em 17 de setembro de 1917, a igreja concordou em comprar um local próprio, onde havia uma casa, onde foram morar os missionários.  

Em 6 de outubro de 1917, foi imprimido o primeiro hinário da igreja, com 194 hinos. Em 16 de outubro de 1917, Gunnar e Frida se casaram e, dois dias depois, Samuel Nyström e sua esposa Lina se mudaram para Manaus, no estado do Amazonas, onde foram pastorear a igreja formada pelo trabalho do irmão Severino Moreno de Araújo, membro da igreja de Belém que retornara a sua terra natal naquele mesmo ano de 1917. 

– Este fenômeno de irmãos que deixavam Belém e retornavam a suas terras natais, levando a mensagem pentecostal era outra manifestação da Providência Divina.  

Os missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg haviam chegado a Belém, em 1910, no final do chamado “ciclo da borracha”, que viveu seu auge entre 1879 a 1912 e que foi a grande responsável pelo desenvolvimento da região amazônica.  

Com o declínio da produção de borracha, muitos resolveram voltar a suas terras natais e os crentes que haviam sido alcançados pelo evangelho pentecostal, ao retornarem para seus locais de nascimento, levavam a mensagem que Jesus salva, cura e batiza com o Espírito Santo. 

– Vemos, assim, repetir-se no Brasil o que já acontecera com os crentes anônimos cíprios e cirenenses que, deixando suas terras natais e indo para Antioquia, foram os primeiros a pregar o Evangelho para os gentios naquela que era a capital da província da Síria, gerando, então, a primeira igreja totalmente gentílica entre os cristãos, para onde foi mandado Barnabé (At.11:19-24). 

 Vemos, pois, claramente que Deus não muda (Ml.3:6) e que, como descrito está nas Escrituras, também promoveu o crescimento da obra de Deus em nosso país.  

Hoje em dia, em que muitos se preocupam com “métodos de crescimento de igrejas”, que tal voltarmos para a realidade bíblica, que foi da evangelização pessoal, mediante uma vida de consagração e de busca a Deus, para voltarmos a ter conversões, curas divinas, batismos com o Espírito Santo e manifestação dos dons espirituais? 

OBS: Por isso, muito oportunos dois tópicos da feliz campanha para mudar a Igreja, defendida pelo pastor Geremias do Couto, que aqui transcrevemos: “9.  

Pare de promover eventos evangelísticos, mas faça com que a igreja encarne a paixão pelas almas e passe a empregar o velho (mas sempre novo) evangelismo pessoal como meio de alcançar os perdidos para Cristo.  

Uma boa maneira é estimular a cada um para que se comprometa a orar, fazer amizade e convidar os seus parentes, amigos e vizinhos com regularidade para que assistam os cultos e ouçam a Palavra de Deus, Não é preciso ir longe.  

O campo está perto de cada crente. Saiba que 99% das pessoas que frequentam a igreja, hoje, foram trazidas por alguém e não por um “programa”. 10. Valorize os cultos nos lares, de maneira sistemática, sem se preocupar com nomenclatura.  

A igreja primitiva se reunia no templo e nas casas e a maioria absoluta das igrejas existentes tiveram início em reuniões familiares.…” (COUTO, Geremias do. Uma campanha para mudar a igreja. 27 jun. 2010. Disponível em: http://geremiasdocouto.blogspot.com/2010/06/uma-campanha-para-mudar-igreja.html Acesso em 19 abr. 2011). 

– Outro destes irmãos que deixaram Belém e foram porta-vozes do evangelho pentecostal foi o cearense Cordulino Teixeira Bastos que, deixando o Pará em 1915, foi morar na ilha de Maracá, próximo ao rio na fazenda Altamira de propriedade do Sr. Antonio Pinheiro Galvão, local onde muitos aceitaram Jesus como seu Salvador, lugar que hoje faz parte do estado de Roraima.  

Cordulino morreu em 1925 e, durante 21 anos, os irmãos continuaram a se reunir nas casas, até que, em 1946, a igreja de Belém do Pará mandou para lá o pastor Quirino Pereira Peres, que organizou a igreja juridicamente em 28 de agosto de 1948. 

– Foi também o caso da igreja em Rondônia. O trabalho evangelístico em “Porto do Velho”, então pertencente ao estado do Amazonas, em 1922, quando o irmão José Marcelino da Silva saiu de Belém para lá. Ali, a pregação de José Marcelino rendeu preciosos frutos.  

Ainda em 1922, o missionário norte-americano Paul John Aenis, depois de conviver alguns dias com Daniel Berg e Gunnar Vingren em Belém, foi dirigido pelo Espírito Santo para Porto Velho, onde, juntamente com José Marcelino, organizou a primeira igreja naquele pedaço do Amazonas que, depois, se tornaria o território federal e, posteriormente, o estado de Rondônia. 

– Em 1916, Adriano Nobre, ainda um evangelista, foi enviado pela igreja de Belém para Recife, no estado de Pernambuco, onde, após realizar cultos em casas, acabou por fazer reuniões na casa dos irmãos João e Felipa Ribeiro, na rua Velha, 27, no bairro de Boa Vista.  

No início de 1917, batizou dois crentes nas águas em Caipeberibe/PE, um dos quais, a irmã Luli Ramos foi a primeira pernambucana a ser batizada com o Espírito Santo.  

Adriano Nobre ficou em Recife até 20 de outubro de 1918, quando entregou a igreja ao missionário sueco Joel Carlson, que tinha vindo da Suécia especificamente para trabalhar em Pernambuco. 

– Ainda em 1916, o irmão Clímaco Bueno Aza, que era colombiano de nascimento e se destacara na evangelização no Pará juntamente com Daniel Berg, foi o pioneiro da evangelização em Macapá, local então ainda pertencente ao Pará e que veio a se tornar território federal e, depois, estado do Amapá. Era, então, apenas um evangelista, tendo sido consagrado ao pastorado em 10 de março de 1918. 

– Clímaco Bueno Aza, ainda, seria o responsável pelo início da pregação do evangelho pentecostal no estado do Maranhão, para onde foi em 1921, quando iniciou o trabalho em São Luís.  

Em 15 de janeiro de 1922, foi oficialmente implantada a igreja no Maranhão e, pouco depois, Clímaco, a exemplo do que fizeram tanto os apóstolos quanto os missionários, entregou a igreja aos cuidados do pastor Manoel de Jesus da Penha e prosseguiu o seu exitoso ministério evangelístico. 

– Em 1927, depois de ter se mudado para o Rio de Janeiro para auxiliar Gunnar Vingren em 1925, após ter realizado evangelismo no estado do Rio de Janeiro, mudou-se para Belo Horizonte, onde, também, deu início à pregação do evangelho pentecostal em Minas Gerais, inaugurando a primeira igreja na capital mineira em 15 de janeiro de 1929, igreja que pastoreou até 2 de agosto de 1931, quando entregou a igreja ao missionário sueco Nils Katsberg, transferindo-se para Juiz de Fora/MG, onde abriu mais uma igreja.  

Em 1934, chegou a pastorear a igreja em Santos/SP e, de 1937 a 1939, pastoreou a igreja em Natal/RN, tendo, então, ido dirigir a igreja em Curitiba/PR, onde ficou até fins de 1942. Recebido pela igreja em Petrópolis/RJ, ainda pastoreou as igrejas de Belford Roxo/RJ e Ponta Grossa/PR, tendo partido para o Senhor em 20 de setembro de 1950. 

– Por falar nas regiões Sul e Sudeste, é importante observar que Gunnar Vingren viajou, pela primeira vez, em 1920, chegando a então capital do Brasil em 7 de julho, dirigindo-se a casa de um irmão chamado Jaime Roberto, com o qual mantivera contato por carta e que dirigia um abrigo infantil no bairro de São Cristóvão, onde realizou um culto.  

Dali partiu para o Estado de Santa Catarina, tendo passado por Santos, no estado de São Paulo, onde não encontrou nenhum crente pentecostal. 

– Em Santa Catarina, pregou em alguns lugares e encontrou um grupo de lituanos em Criciúma, onde fez parte de dois cultos, quando verificou que os crentes cantavam e dançavam por mais ou menos meia hora.  

Gunnar lhes disse que deveriam deixar aquela história de dança, pois isto não estava em o Novo Testamento, mas eles não aceitaram a repreensão, dizendo que eram dirigidos pelo Espírito Santo e um deles era considerado profeta e isto depois que haviam prometido que não mais fariam aquilo, motivo pelo qual foi Gunnar Vingren mandado embora no meio da reunião.  

Como, pois, há gente, atualmente, nas Assembleias de Deus que insistem em inventar um “ministério de dança” e tem coreografias em suas reuniões? Voltemos aos primórdios de nossa história! 

– De volta para o Pará, Bingren visitou Itajaí/SC, São Paulo/SP, São Bernardo do Campo/SP e, de novo, o Rio de Janeiro.  

Em São Paulo, visitou uma igreja pentecostal italiana, dirigida por Luis Francescon (era a Congregação Cristã no Brasil), onde o irmão Luiz relatou quantos milagres o Senhor estava operando entre eles.  

Como se vê, não havia qualquer sectarismo entre estes dois líderes das maiores denominações pentecostais do país, algo que hoje é raríssimo de se ver. Voltemos aos primórdios do evangelho pentecostal! 

– Em 1921 e 1922, Gunnar Vingren voltou para a Suécia, ante o agravamento de seu estado de saúde.  

Restabelecido, pregou em vários lugares em sua terra natal e, em 13 de agosto de 1922, foi para os Estados Unidos, depois que foi reafirmado pelo Senhor que deveria voltar para o Brasil.  

Nos Estados Unidos, Vingren permaneceu até 20 de janeiro de 1923, chegando a Belém em 1º de fevereiro de 1923, mas, apesar de continuar trabalhando no Pará, sentiu de Deus que deveria iniciar o trabalho no Sudeste e, em 1924, Vingren transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde chegou em 3 de junho, sendo substituído na igreja em Belém pelo missionário Samuel Nyström. 

– No Rio de Janeiro, como não havia mais interesse do irmão Jaime Roberto em receber Gunnar Vingren, este fez contato com uma família de nome Brito, que morava na rua Senador Alencar, 17, no bairro de São Cristóvão e ali se iniciou a evangelização pentecostal, tendo Jesus batizado duas irmãs com o Espírito Santo.  

Os cultos continuaram e Jesus continuou não só batizando com o Espírito Santo, mas dando dons espirituais aos irmãos, sem falar nos cânticos espirituais e nas curas divinas. 

– Antes, em 1922, a obra de Deus também chegara ao estado do Espírito Santo, através dos irmãos Francisco Galdino Sobrinho e sua esposa que, deixando Belém, vieram morar em Vitória/ES. Dois anos depois, Daniel Berg veio para o estado, a fim de iniciar um trabalho de evangelização, partindo logo após.  

Daniel, preocupado com este trabalho, pediu e foi mandado para Vitória o irmão José Vicente Ferreira em 1925, e, ante o crescimento do trabalho, este pediu a Daniel Berg que fosse mandado um pastor para o estado, o que ocorreu em 9 de maio de 1930, quando chegou o pastor João Pedro da Silva, organizando o trabalho. 

– O trabalho em São Paulo também começou com migrantes. Um grupo de crentes pentecostais pernambucanos chegaram a São Paulo em 1923, dando início ao trabalho pentecostal, na cidade de Santos que, visitada três anos antes por Gunnar Vingren, não tinha, então, nenhum crente pentecostal.  

Em 5 de maio de 1924, foi fundada a primeira igreja Assembleia de Deus em terras paulistas pelos irmãos Vicente Lameira e sua esposa Hermínia Lameira e Manoel Garcês e sua esposa, com trabalho de evangelização no bairro Ponta da Praia.  

Dias depois, ali compareceram os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren, que estruturaram o trabalho, que somente adquiriu personalidade jurídica, porém, em 1934, quando a igreja era pastoreada pelo irmão Clímaco Bueno Aza. Eis a origem da Assembleia de Deus – Ministério de Santos. 

– Além deste trabalho em Santos/SP, Daniel Berg também subiu a Serra do Mar e, no Planalto de Piratininga, onde estava a capital do Estado, São Paulo, em 15 de novembro de 1927, realizou-se o primeiro culto numa casa alugada no bairro da Vila Carrão, na zona leste da cidade, culto do qual fizeram parte além de Daniel Berg e sua mulher, Sara, os missionários suecos Simon Lundgren e Linnea Lundgren, data que é considerada a fundação da igreja em São Paulo. 

– A estes irmãos se uniram outros que, assim, foram os primeiros da igreja em São Paulo. Acabaram alugando um salão no bairro do Tatuapé, na rua Vilela e, depois, se transferiram para a Rua Cruz Branca, no bairro do Brás, vindo, finalmente, a construir um templo no bairro do Belenzinho, na rua Alcântara Machado.  

Foi assim que surgiu a Assembleia de Deus – Ministério do Belém, que hoje é presidido pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, atual presidente da CGADB. 

– Em 1930, o missionário Samuel Nyström, que tomara o lugar de Daniel Berg em São Paujlo, mandou que o evangelista Vitalino Piro iniciasse um trabalho no bairro do Ipiranga, o mesmo bairro onde D. Pedro I proclamara a independência do Brasil em 1822, trabalho este que se deu mediante cultos ao ar livre que se realizavam nos jardins do Parque da Independência.  

Logo passaram a se reunir numa casa na rua Arcipreste Ezequias, 7, na vila São José e, em 29 de junho de 1931, foi realizado um batismo no riacho Ipiranga. 

– Em 1934, o pastor Buno Sklimovski designa o pastor Alfredo Reikdal para dirigir o trabalho no Ipiranga e, dez anos depois, a igreja se organiza juridicamente, tendo como pastor o próprio Alfredo Reikdal, que faleceu em 2010.  

Nascia, então, a Assembleia de Deus – Ministério do Ipiranga, que, desde 2010, é presidida pelo pastor Alcides Favaro. 

– Em 1924, o evangelho pentecostal chegou ao Rio Grande do Sul, por intermédio do missionário sueco Gustav Nordlund e sua esposa Elisabeth, bem como seu filho Herbert, outro casal de missionários que vieram da Suécia para o Brasil com destino especificado pelo Espírito Santo.  

No primeiro culto que realizaram ao Senhor em terras gaúchas, havia apenas uma pessoa que, ao término da reunião, entregou-se para Jesus. 

– O trabalho no estado do Paraná iniciou-se em 1928, por intermédio do já mencionado pastor Bruno Skolimovski (1884-1961).  

Bruno, polonês de nascimento, nasceu em 1884, chegando ao Brasil em 1909 em busca de trabalho, casando-se em 1911 com a brasileira Maria Barbosa.  

O casal se converteria a Jesus em 1919, tendo sido enviado, em 1923, para Fortaleza/CE, a fim de substituir o pastor Antonio Rego.

Em 1924, foi para Natal/RN, onde substituiu o pastor Manoel Higino na direção daquela igreja, tendo ido para o Rio de janeiro em 1926 e, depois, para Petrópolis/RJ. 

– Em 1928, por revelação divina, foi para Curitiba, capital do Paraná, onde abriu o trabalho pentecostal naquele Estado, entregando a igreja para Clímaco Bueno Aza em 1939, quando, então, foi pastorear a igreja em São Paulo até 1945, quando, então, entregou a igreja do Belenzinho ao pastor Cícero Canuto de Lima (em 19044, como sabemos, havia ocorrido a emancipação da igreja do Ipiranga), passando, então, a pastorear a igreja em Santos/SP até 1953, quando volta a pastorear a igreja em Curitiba/PR, retornando a Santos/SP em 1957, onde pastoreia a igreja até a sua morte, ocorrida em 20 de dezembro de 1961. 

– Apesar das incursões de Gunnar Vingren na década de 1920 em Santa Catarina, o evangelho pentecostal só vai chegar de forma organizada e contínua este estado em 1931, por intermédio do irmão André Bernardino da Silva, um catarinense de Itajaí/SC que fora para o Rio de Janeiro para “estudar para padre”.  

Entretanto, logo o jovem deixou-se envolver pela boemia carioca e o resultado é que contraiu tuberculose e acabou sendo expulso do seminário católico, passando a ir morar num barco que estava em reparos e que tornara residência para os “sem-teto”. 

– Comovido com seu estado de saúde extremamente precário e cada vez pior, um amigo seu foi até a Assembleia de Deus, que tinha a fama de ser uma igreja que “curava” e o jovem moribundo recebeu a visita de Daniel Berg, Gunnar Vingren e do irmão Paulo Leivas Macalão.  

Oraram pelo jovem, que foi curado imediatamente e o jovem, então, durante sete meses, morou na Assembleia de Deus em São Cristóvão. 

– Treinado por Gunnar Vingren, André retornou para Itajaí/SC para pregar o Evangelho e o primeiro culto se realizou em 15 de março de 1931, quando duas pessoas se converteram a Cristo, iniciando-se, assim, a história das Assembleias de Deus em Santa Catarina. 

– Voltando ao Nordeste, o evangelho pentecostal se iniciou na Bahia em 1926, pela irmã Joaquina de Souza Carvalho, crente batista que, moradora de Canavieiras, na Bahia, havia, juntamente com seu marido, José Clodoaldo, sofrido terríveis perseguições numa região chamada “Os Correia”, onde, em 1924, o irmão Clodoaldo chegou a ser amarrado em um mourão e ateado fogo para que morresse queimado.  

Aos clamores ao Senhor de socorro, um grupo de pessoas que por ali passava livrou o irmão que, desgostoso, mudou-se com a esposa para Belém do Pará, onde, ao ouvirem a mensagem pentecostal, aceitaram a doutrina do Espírito Santo. 

– Em 1926, a irmã Joaquina, que fora batizada com o Espírito Santo, dirigida pelo Espírito Santo, retornou para Canavieiras, aproveitando que o missionário Otto Nelson empreenderia uma viagem para lá e, assim, chegou à Bahia a mensagem pentecostal.  

O resultado deste pregação, que se espalhou pelo município de Belmonte, foi que 20 crentes já eram batizados com o Espírito Santo e Otto Nelson enviou para lá o pastor João Pedro da Silva. Começavam, assim, as Assembleias de Deus em território baiano. 

– Em 1914, na cidade piauiense de Piripiri, o irmão João Canuto de Melo foi o primeiro a levar o evangelho pentecostal para o Piauí, quando, ao ter adquirido uma Bíblia em Coivaras/PI, passou a pregar o Evangelho, mas seria somente em 1927, quando o irmão Raimundo Prudente de Almeida visitou a cidade e começou a pregar o Evangelho que o trabalho se sedimentou, que só foi se organizar em 1933, quando Alfredo Carneiro, militar do Exército, sentindo a chamada divina, abandonou a carreira militar e passou a evangelizar no Estado, onde, desde 1932, os crentes pediam um pastor para a igreja em São Luís/MA. 

– O trabalho em Sergipe se iniciou em 1927, por intermédio do Sargento Ormínio, membro do Exército que, tendo sido transferido de Belém para Aracaju, levou também, além de sua condição de dedicado soldado, a mensagem pentecostal.  

Ali pregou o Evangelho e houve muitas conversões e, como não era ministro, não podendo batizar nas águas, comunicou o fato à igreja de Maceió que para lá mandou o pastor João Pedro da Silva que, em 1928, batizou os primeiros novos convertidos. A igreja só seria, porém, organizada em 18 de fevereiro de 1932, depois uma importante visita do missionário Otto Nelson. 

– Na região Norte, resta-nos apenas relatar o início do trabalho no então Território e hoje Estado do Acre (estado natal da ex-senadora e primeira assembleiana a se candidatar à Presidência da República, Marina Silva), que teve início através do irmão Manoel Pirabas, em 1932. 

 Vindo de Rondônia, Manoel se instalou no Acre e ali iniciou a pregação do evangelho pentecostal. A igreja somente se organizaria em 24 de janeiro de 1944, quando foi dada a personalidade jurídica pelo pastor Francisco Vaz Neto. 

– A última região que nos falta mencionar é a região Centro-Oeste, que, nos primórdios das Assembleias de Deus, era formada por Goiás e Mato Grosso, sendo que, atualmente, ambos os estados encontram-se divididos em dois cada um (Goiás e Tocantins, que faz parte da região Norte e Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), além do Distrito Federal, que surgiu em 1960 com a fundação de Brasília. 

– O trabalho em Goiás começou em 1936, quando vieram morar no estado alguns crentes que vinham da igreja Assembleia de Deus do bairro de Madureira, no Rio de Janeiro/RJ, igreja pastoreada por Paulo Leivas Macalão (1903-1982), que, um dos primeiros crentes que havia se convertido no Rio de Janeiro, após a vinda de Gunnar Vingren, fora consagrado ao ministério em 1930, pouco antes da partida do missionário de volta para a Suécia em 1932. 

– Macalão, que começara a evangelizar o bairro de Madureira ainda na década de 1920 e passou a evangelizar os subúrbios da Estrada de Ferro Central do Brasil, que ligava o Rio de Janeiro a São Paulo, fez o trabalho prosperar, tanto que já estava num salão maior em 1929 e acabou por dar personalidade jurídica à congregação que dirigia no bairro de Madureira, o que ocorreu em 21 de outubro de 1941, gerando, assim, a igreja que seria o início do Ministério de Madureira que, desde 1958, organizou-se em convenção própria, vinculada à CGADB.  

Em 1988, porém, em virtude de conflitos com a expansão do ministério de Madureira para o Norte e o Nordeste, como não houve aceitação da proposta da CGADB de que a convenção e Madureira deveria se diluir, houve o rompimento entre a CGADB e a CONAMAD (Convenção Nacional das Assembleias de Deus – Ministério de Madureira), a primeira grande ruptura das Assembleias de Deus no Brasil. A CONAMAD é presidida atualmente pelo “bispo” Manoel Ferreira. 

– Pois bem, alguns crentes de Madureira foram para Goiás em 1936, dando início ali ao trabalho pentecostal. Eram crentes que tinham ido para Goiânia, onde havia grandes oportunidades de trabalho, notadamente na construção civil.  

Diante do início da pregação destes irmãos que, assim como em outros lugares, não só vieram trazer seus conhecimentos profissionais mas também a mensagem pentecostal, pediram ao pastor Paulo Leivas Macalão que lhes indicasse um líder, tendo, então, sido designado o irmão Antonio Moreira. 

– Este trabalho em Goiás foi, posteriormente, o responsável pelo início do trabalho na nova Capital da República.  

Em 1956, quando se iniciou a construção de Brasília, a mensagem pentecostal já começou a ser pregada por pastores do Ministério de Madureira em Goiás que, em 19 de novembro de 1956, fundaram a a Assembléia de Deus Ministério de Madureira na Cidade Livre (hoje o Núcleo Bandeirante), sob a presidência do pastor Paulo Leivas Macalão e, assim, o evangelho chegou à Brasília. 

– Em 1957, chegaram à Brasília, para trabalhar na construção da nova capital, alguns irmãos de São Paulo os irmãos Virgílio José dos Santos, Carlos Messias, Alfredo da Silva e João Carolino dos Santos, bem como o irmão Salomão Castro de Sousa, que começaram a pregar o evangelho no acampamento da construtora onde trabalhavam no Granja do Torto (hoje uma das residências da Presidência da República).  

Nesse mesmo ano, compraram um salão onde começaram a realizar cultos e que foi o início da igreja vinculada à missão (ou seja, que não era de Madureira) que foi organizada em maio de 1959, quando o pastor Túlio Barros, do Rio de Janeiro/RJ, mandou para lá o evangelista João Ferreira. 

– De igual forma, foi este trabalho de Goiás o responsável pelo início da evangelização no norte do Estado, hoje Estado de Tocantins.  

O trabalho se iniciou na cidade de Gurupi/TO, em 1956, quando, sabendo do início da povoação do lugar, o pastor Lázaro Manoel de Oliveira Souza, da Assembleia de Deus de Ceres/GO, mandou para lá o diácono Euclides Mello de Albuquerque e sua família, que, lá chegando, realizaram o primeiro culto pentecostal naquela cidade, então um simples povoado, em 6 de fevereiro de 1956. 

– No Mato Grosso, o evangelho pentecostal penetrou através das fronteiras com o estado do Amazonas.  

A primeira notícia de trabalhos no estado se deu em 1924 quando Elói Bispo de Sena visitou, pela segunda vez, a localidade de Generoso Ponce, onde se estabeleceu a primeira Assembleia de Deus. Em 1923, quando ali esteve Elói Bispo pela primeira vez, já se encontraram alguns crentes pentecostais. 

Em Cuiabá, o trabalho começou apenas em 1943, embora lá já morassem os crentes Rodrigues Alves e sua esposa que, sendo presbiterianos e tendo crido no batismo com o Espírito Santo, mantiveram-se pentecostais e filiados à igreja de Ribeirão Preto/SP, embora estivessem isolados na capital matogrossense. Rodrigues seria batizado nas águas em abril de 1943 pelo pastor J.H. Tostes e, em 7 de maio de 1944, organizou-se juridicamente a igreja. 

– Em Mato Grosso do Sul, a evangelização começou por crentes de Cuiabá que se mudaram para Campo Grande e a igreja foi organizada apenas alguns meses depois da capital do Estado (Mato Grosso era um só Estado então), o que se deu em 22 de outubro de 1944. 

– Assim iniciaram as Assembleias de Deus em nosso país. Atualmente, estima-se que 27 milhões de brasileiros pertençam às Assembleias de Deus, em seus diferentes ministérios e convenções. 

Um trabalho feito, basicamente, de evangelização pessoal e de uma vida de amor pelas almas perdidas de pessoas anônimas que não cessaram de orar, buscar a Deus e de meditar nas Escrituras Sagradas. 

– Apesar de ainda hoje ser a maior denominação pentecostal do Brasil, é visível a perda de ritmo de crescimento das Assembleias de Deus um século depois de sua organização no país. Por que isto?  

Exatamente porque os crentes assembleianos já não mais evangelizam como fizeram os seus pais na fé, nem tampouco buscam a oração, o batismo com o Espírito Santo, os dons espirituais nem tampouco a cura divina.  

A perda da vitalidade espiritual traduz esta perda de ritmo, mas ainda é tempo de acordarmos e voltarmos aos primórdios. Depende de cada um de nós. Que história estamos a construir neste segundo século das Assembleias de Deus no Brasil? 

IV – ALGUMAS LIÇÕES QUE NOS DEIXARAM A HISTÓRIA DOS PRIMÓRDIOS DA EVANGELIZAÇÃO PENTECOSTAL DO BRASIL 

– Depois de vermos, ainda que sucintamente, o início do trabalho das Assembleias de Deus em cada unidade da Federação, resta-nos, tão somente, tentarmos aprender algumas lições, pois a história tem, entre seus objetivos, o de nos fazer aprender com o passado para que não só entendamos o presente, mas procuremos construir um futuro isento dos mesmos erros de ontem e com os acertos que lá se fizeram. 

– Ao contemplarmos a história das Assembleias de Deus no Brasil, verificamos, de pronto, que o seu crescimento muito se assemelha ao que lemos no livro de Atos dos Apóstolos, a nos indicar, assim, que o único modelo real de crescimento da obra de Deus é o que se encontra prescrito na Bíblia Sagrada, única regra de fé e prática. 

– A igreja cresceu não com base nas lideranças, mas nos crentes anônimos e humildes que, levados pela liderança a uma vida de santificação e de busca do poder de Deus, não se continham e aonde quer que chegavam, anunciavam o Evangelho.  

Jesus confirmava este amor pelas almas perdidas e só, posteriormente, diante das conversões, curas, milagres e batismos com o Espírito Santo é que os crentes se reportavam aos líderes que, então, enviavam obreiros para cuidar dos novos rebanhos que iam surgindo. 

– A base, pois, do crescimento é o intenso evangelismo pessoal, feito pelos próprios crentes que, servindo a Deus de todo o coração, não se calavam nem se deixavam dominar pelo mundo, mas, ao contrário, testificavam de Jesus com poder de autoridade e o Senhor confirmava a palavra com sinais, prodígios e maravilhas, exatamente como ocorria nos dias apostólicos (Mc.16:20). 

– Atualmente, infelizmente, o número de crentes que se empenham no evangelismo pessoal em nossas igrejas é muito diminuto e, portanto, não é surpresa que o ritmo de crescimento de nossas igrejas tem deixado muito a desejar em relação ao passado. Como diz o apóstolo Paulo, “como ouvirão se não há quem pregue?” (Rm.10:17). 

– Hoje as igrejas investem mais na evangelização pelos meios de comunicação de massa, mas, na verdade, nada substitui o evangelismo pessoal e a prova de que ele é fundamental para um real crescimento da igreja está na história de nossa denominação. 

– A despeito do fato de que os crentes eram, na sua grande maioria, iletrados e, mesmo analfabetos (o que registrava a triste realidade social de nosso país no início do século XX), vemos que havia uma intensa educação cristã, de modo que, mesmo que mantido o analfabetismo, os crentes adquiriam sólido conhecimento bíblico, pois a Palavra era intensamente ensinada e pregada aos crentes, de modo que não eram eles facilmente enganados pelas heresias nem tampouco influenciados por falsas doutrinas. 

– Hoje em dia, a despeito do desenvolvimento intelectual da população (ainda que o nível educacional do país continue uma lástima), temos, lamentavelmente, uma ignorância bíblica na membresia das Assembleias de Deus que chega a estarrecer.  

Recentemente, pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) percebeu que o Brasil é o único país do mundo em que cresce, entre os evangélicos, o número de “analfabetos funcionais”, ou seja, pessoas que não sabem compreender e entender o que leem e que isto é resultado do desapego que se tem em relação às Escrituras por parte dos crentes brasileiros. Corremos o risco de perder, em poucos anos, todo o legado de solidez doutrinária que nos deixaram os pioneiros. Acordemos, irmãos! 

– Outra lição que se aprende é que a manutenção de uma vida de santificação e de busca do poder de Deus por parte dos crentes é requisito indispensável para que se tenha uma eficaz evangelização. A evangelização eficaz advém do revestimento de poder e de uma vida de intimidade com Deus.  

Temos aqui mais um motivo pelo qual nossas igrejas não têm crescido como antes, pois a parcela dos comprometidos com oração, jejum e busca da presença de Deus é hoje incomparavelmente menor do que naqueles tempos. 

– A falta de uma maior espiritualidade fez com que surgisse com cada vez maior intensidade o espírito faccioso no meio das Assembleias de Deus. 

O resultado é que, a partir da década de 1930, começaram a se criar “impérios eclesiásticos”, fora do padrão sonhado pelos missionários pioneiros para as Assembleias de Deus e, com isso, ao passar dos anos, começou a haver competições entre os vários ministérios e, a partir da década de 1980, iniciou-se uma fragmentação nas Assembleias de Deus que hoje causa muitos obstáculos para o crescimento da obra de Deus. 

– Também vemos que o que moveu o crescimento das Assembleias de Deus foi a simplicidade do Evangelho, a ardente fé dos pioneiros e a consequente manifestação do poder de Deus.  

Apesar de simples, os crentes eram versados nas Escrituras, delas não se desviando em momento algum. O resultado disto foi a manutenção de uma liturgia simples mas extremamente bíblica e calcada numa intensa devoção a Deus. 

– Atualmente, esta simplicidade tem cedido lugar a uma sofisticação e a cópia de modelos supostamente exitosos importados de outros países e denominações, resultando numa perda de identidade e numa contaminação do mundanismo que faz com que o crescimento e a pureza do movimento esteja rapidamente desaparecendo. 

– Não queremos ser aqui saudosistas, pois, por exemplo, ao lado desta simplicidade cresceu um indevido anti-intelectualismo na igreja, que muito contribuiu para que ela não ocupasse, devidamente, o seu lugar em certos segmentos da sociedade brasileira, fazendo-o tardiamente, mas é inegável que o quadro passado era bem melhor que o presente. Acordemos, pois, irmãos! 

– Por fim, não nos esqueçamos de que os crentes e obreiros trabalhavam por estrito amor a Cristo Jesus e, por isso, não foram poucos os casos de pessoas que, tendo iniciado o trabalho num determinado local, sem se preocupar com posição, título ou de tornar aquele trabalho em seu meio de vida, entregavam igrejas abertas a outrem, conforme determinação do Espírito Santo, diretamente ou por intermédio do ministério.  

Nos dias hodiernos, porém, a luta pelo poder é visível, não raro dando ensejo ao surgimento de verdadeiras dinastias nos ministérios. 

– Tudo isto nos mostra a história e podemos voltar, sim, aos primeiros tempos e voltar a ver Jesus operar como antigamente, porque, ao contrário de nós, Ele é o mesmo, ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8). Cremos nisto? 

Pr. Caramuru Afonso Francisco 

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/8822-licao-9-o-avivamento-pentecostal-no-brasil-i

Glória a Deus!!!!!!!