INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo sobre avivamento, analisaremos o avivamento na vida pessoal.
– O avivamento começa em cada crente
I – O AVIVAMENTO OCORRE EM PESSOAS
– Temos estudado a respeito do avivamento, que, como bem define Charles Grandison Finney (1792-1875), é “a renovação do primeiro amor dos cristãos, que resulta em despertamento e conversão de pecadores a Deus”, ou, como afirma John Stott (1921-2011), “uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira toma consciência de Sua santa presença e é surpreendida por ela.
Os inconversos se convencem do pecado, arrependem-se e clamam a Deus por misericórdia, geralmente em números enormes e sem qualquer intervenção humana. Os desviados são restaurados. Os indecisos são revigorados.
E todo o povo de Deus, inundado de um profundo senso de majestade divina, manifesta em suas vidas o multifacetado fruto do Espírito, dedicando-se às boas obras”.
– Tanto um quanto outro enfatizam, e de modo correto, que o avivamento é um fenômeno coletivo, que faz com que a Igreja se volte para Deus, intensificando a sua vida espiritual, aproximando-se do Senhor e que, como resultado disto, temos a conversão de pessoas a Cristo e a manifestação do poder de Deus.
– Por isso, quando falamos em avivamento, imediatamente vem à nossa mente a figura de multidões glorificando a Deus, exaltando ao Senhor, inúmeras manifestações do poder de Deus, com conversões em massa, milagres, sinais e prodígios. Sempre temos, portanto, a ideia da coletividade, da massa, da multidão, da aglomeração de pessoas.
– Não é errado pensarmos assim, porquanto o avivamento sempre envolve, mesmo, um grande número de pessoas.
No entanto, não podemos nos esquecer que o avivamento é um fenômeno espiritual, é fruto do relacionamento de Deus com o homem e, deste modo, tem de ocorrer em cada indivíduo, em cada pessoa, pois Deus não trata de forma impessoal, não trata com a “massa”, mas com cada ser humano.
– Por isso mesmo, o avivamento tem de começar em cada pessoa, em cada crente, sem o que ele não se realizará.
– Nos dias em que vivemos, temos a tendência de pensarmos abstratamente, crendo que são os conceitos, as ideias que têm vida própria na realidade, esquecidos de que somos nós, seres humanos, que realmente existimos e que é por meio de nós que algo acontece.
– A salvação da humanidade, por exemplo, mesmo tendo sido uma ideia concebida por Deus, o Ser Supremo, somente se realizou por intermédio de Deus feito homem, de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Não tivesse o Verbo Se feito carne, habitado entre nós e depois Se dado como sacrifício por nós na cruz do Calvário, não teríamos obtido o perdão dos nossos pecados e o resgate de nossa alma.
– O próprio desfrute da eternidade com Deus exige que estejamos estabelecidos como indivíduos glorificados diante do Senhor, tanto que, quando do arrebatamento da Igreja, os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro e os que ficarem vivos serão transformados para que, como indivíduos glorificados, possamos nos encontrar com o Senhor nos ares (I Ts.4:16,17) e esta “primeira ressurreição” se completará com a ressurreição dos mártires durante a Grande Tribulação (Ap.20:5,6).
OBS: “É um impulso natural do ser humano evadir-se da estreiteza da rotina pessoal e familiar para aventurar-se no universo mais amplo da História, onde sente que sua vida se transcende e adquire um “sentido” superior.
A maneira mais banal e tosca de fazer isso, acessível até aos medíocres, incapazes e pilantras, é a militância num partido ou numa “causa”, isto é, em algum egoísmo grupal embelezado de palavras pomposas como “liberdade”, “igualdade”, “justiça”, “patriotismo”, “moralidade” ou “direitos humanos”.
Essas palavras podem representar algum valor substantivo, mas não quando o indivíduo adquire delas todo o valor que possa ter, em vez de preenchê-las com sua própria substância pessoal.
A mais criminosa ilusão da modernidade foi persuadir os homens de que podem enobrecer-se mediante a identificação com uma “causa”, quando na verdade todas as causas, enquanto nomes de valores abstratos, só adquirem valor concreto pela nobreza dos homens que a representam.
O fundo da degradação se atinge quando algumas “causas” são tão valorizadas que parecem infundir virtudes, automaticamente, em qualquer vagabundo, farsante ou bandido que consinta em representá-las.
A palavra mesma “virtude” provém do latim vir, viri, que significa “varão”, designando que é qualidade própria do ser humano individual e não de idéias gerais abstratas, por mais lindos e atraentes que soem os seus nomes.
Não há maior evidência disso do que o próprio cristianismo, o qual, antes de ser um “movimento”, uma “causa”, uma instituição ou mesmo uma doutrina, foi uma pessoa de carne e osso, a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, da qual, e unicamente da qual, tudo o que veio depois na história da Igreja adquire qualquer validação a que possa aspirar.…” (CARVALHO, Olavo de. Causas sagradas. 17 jan. 2012. Disponível em: https://olavodecarvalho.org/tag/alienacao-idolatrica/ Acesso em 29 nov. 2022).
– Deste modo, não podemos pensar em avivamento se não levarmos em conta que este avivamento tem de acontecer em cada pessoa, em cada indivíduo, pois, caso contrário, será apenas uma miragem, um conceito que não se realizará jamais.
– Talvez por isso muitos desejos de avivamento não tenham se concretizado, máxime nos dias difíceis em que estamos a viver.
Quem deseja o avivamento deve, por primeiro, tomar providências no sentido de ele mesmo experimentar o avivamento em sua vida pessoal.
Não há como querermos que a nossa igreja local, a nossa denominação, o nosso país tenham um avivamento se, antes de tudo, cada um de nós não tomar as devidas providências para que sejamos nós primeiramente crentes avivados, crentes que estão, no dizer de Finney, com o primeiro amor renovado, ou no dizer de Stott, sobrenaturalmente visitado pelo Espírito Santo.
– Por isso, temos que, ao analisar o avivamento na vida pessoal, estamos, na verdade, estudando como se inicia um avivamento, como ele se torna possível, pois, sem que nasça de cada indivíduo, jamais ele ocorrerá, não passará, como tem sido para muitos, infelizmente, tão somente um desejo cada mais inalcançável e distante.
II – O AVIVAMENTO EXIGE CONVERSÃO E RETORNO À MEDITAÇÃO DAS ESCRITURAS
– O primeiro ponto que devemos observar é que o avivamento tem seu ponto de partida quando há uma conversão, quando se tem o arrependimento dos pecados e o abandono dos embaraços.
– Finney, como vimos, entende que o avivamento é a renovação do primeiro amor. Ao assim definir o avivamento, o nome mais importante do chamado Segundo Grande Avivamento Norte-Americano, tinha em mente, indubitavelmente, as palavras de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo para a igreja de Éfeso, quando afirmou que era necessário que aqueles crentes lembrassem de onde tinham caído e voltassem a praticar as primeiras obras, porque tinham deixado o primeiro amor (Ap.2:4,5).
– Quando o Senhor Jesus fala de “primeiro amor”, não há como não nos lembrarmos que o apóstolo Paulo diz que, quando cremos em Cristo como nosso Senhor e Salvador, “o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm.5:5) e que “o amor de Deus nos constrange, julgando-nos assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.
E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (II Co.5:14,15).
– Quando fomos confrontados com a pregação do Evangelho, quando a Palavra em nós penetrou e, ao ouvirmos por ela, cremos que Jesus é o Senhor e Salvador, o amor de Deus compungiu os nossos corações e, ao percebermos que Jesus morreu por nós e que temos de viver para Ele, perguntamos o que devíamos fazer (Cf. At.2:37) e a mensagem foi de deveríamos nos arrepender, morrermos para o mundo e vivermos para Ele (Cf. At.2:38).
– Este primeiro amor, portanto, exige de nós que nos arrependamos dos pecados, confessando a sua prática e a abandonando (Cf. Pv.28:13), passando, então, a viver para Cristo, como novas criaturas que passamos a ser (II Co.5:17).
– Deixamos o primeiro amor quando iniciamos uma aproximação com o pecado, por meio, em primeiro lugar, do embaraço (Cf. Hb.12:1), que é uma ação que não é pecaminosa em si mas que nos faz ficar vulneráveis à prática do pecado.
– Cada um de nós tem as suas fraquezas, cada um de nós tem as suas imperfeições, cada um de nós sabe bem qual a posição que deve ter no corpo de Cristo, onde foi inserido quando de sua conversão (I Co.12:13).
– Por isso, constitui-se embaraço toda e qualquer atitude que dê lugar ao diabo para que intensifique as suas tentações contra nós (Ef.4:27), visto que, por negligência e falta de cuidado, aproximamo-nos de situações em que nossas fraquezas e imperfeições se tornem mais evidentes.
– Também se constitui embaraço o nosso deslocamento da posição onde o Senhor quer que estejamos, porque, fora do lugar querido pelo Senhor, estaremos também à mercê dos ataques do inimigo.
Porventura, não foi por estar no palácio no tempo que os reis deveriam estar na guerra (II Sm.11:1) que Davi deu início a todo o processo que o levou a terríveis práticas pecaminosas?
– É ainda embaraço a atitude de deixarmos de dar a necessária prioridade ao reino de Deus e à sua justiça (Mt.6:33), deixar de pensar nas coisas que são de cima e não nas que são da terra (Cl.3:2).
– Quando passamos a priorizar o que é terreno, o que é passageiro, embaraçamo-nos (II Tm.2:4) e acabamos por desagradar a Deus, porque, inevitavelmente, ao agirmos desta maneira nos envolvemos naquilo que não edifica, naquilo que não traz proveito espiritual algum e deixamos de agir por fé e sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).
– Por isso, torna-se imperioso deixarmos os embaraços, porque eles, como teia de aranha, acabam nos envolvendo em circunstâncias que acabarão por nos levar a um processo que nos mergulhará na prática do pecado.
– Em nossos dias, há uma condescendência extrema com os embaraços e isto tem sido um elemento pernicioso que tem impedido o avivamento espiritual na vida de muitos.
Vivemos o mesmo espírito do “não faz mal” que era predominante nos dias do profeta Malaquias (Cf. Ml.1:8) e cujo resultado foi um afastamento tal de Deus que se iniciou um silêncio profético de quatrocentos anos.
– Hodiernamente “nada faz mal”. Há uma cultura de extrema tolerância e leniência com maus costumes, com práticas de duvidosa procedência, decência e reputação, que tão somente contribuem para um ambiente espiritualmente adverso à presença de Deus: “as más conversações corrompem os bons costumes” (I Co.15:33).
– Muitos hoje dizem que não se pode ser “radical” e, por isso, defendem esta atitude de tolerância com o que não edifica. Entretanto, ser “radical” é “ter cuidado com a raiz”, é “agir de acordo com a raiz” e “a raiz de Jessé” (Cf. Is.11:1) é “o Santo” (Lc.1:35), a “videira verdadeira” de quem somos “varas” (Jo.15:1), onde fomos enxertados e, por conta disto, fomos feitos participantes da raiz e da seiva da oliveira (Rm.11:17).
– Ora, a raiz, como vimos, é santa e fomos enxertados na oliveira porque recebemos a semente incorruptível, que é a Palavra de Deus (I Pe.1:23), de tal modo que temos uma nova natureza, que não vive na prática do pecado (I Jo.3:9).
– Em sendo assim, se deixarmos a santidade, se não mais estivermos em Cristo, que é o Santo, recomeçando a viver na prática do pecado, seremos cortados da videira e lançados fora para sermos queimados (Jo.15:6).
– Por isso mesmo, o Senhor Jesus disse que quem quiser vir após Ele, deve, por primeiro, negar a si mesmo, renunciar a si mesmo (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23).
Morrer para o mundo e viver para Deus significa matar o nosso “eu” e passarmos não mais a viver, mas Cristo viver em nós (Gl.2:20).
– Esta abnegação faz com que Cristo viva em nós, e Ele é vida. Destarte, não há situação de avivamento espiritual se estivermos ainda cuidando de nossos interesses, fazendo prevalecer o “eu”, o egoísmo, o individualismo, a busca pela satisfação dos prazeres carnais, dos objetivos terrenos.
– Não é por outra razão que o apóstolo Paulo chama de “inimigos da cruz de Cristo” aqueles que pensam em si mesmos, que têm como verdadeiro deus o seu próprio ventre, que só pensam nas coisas terrenas (Fp.3:18,19).
– Este gesto de abnegação é imediatamente acompanhado de “tomar a sua cruz”, ou seja, aceitar a incumbência, o papel determinado pelo Senhor Jesus em Seu corpo, fazer-Lhe a vontade, tendo a missão recebida como a razão da sua própria estada aqui na Terra, como o próprio Cristo tinha em relação ao que Lhe fora determinado pelo Pai, pois disse, certa feita, que Sua comida e bebida era fazer a vontade de Quem O enviara e realizar a Sua obra (Jo.4:34).
– Não se pode falar em avivamento se não houver vida. Não se pode falar em vida se não morrermos para nós e passarmos a viver para Cristo, tomando a cruz de cada dia (Lc.9:23). Temos feito isto, ou temos passado a fazer as nossas vontades, desviando-nos da senda traçada pelo Senhor Jesus? Pensemos nisto!
– O avivamento, portanto, nada mais é que a manutenção do estado de vida, do estado de comunhão que se estabelece no momento em que cremos no Evangelho e temos os nossos pecados perdoados, passando, então, a andar na luz, temos comunhão com o Senhor e com o Seu corpo, que é a Igreja (I Jo.1:7).
– Eis porque, após confessarmos os nossos pecados, nos arrependermos e entrarmos em comunhão com o Senhor, temos de manter esta comunhão, o que somente se faz mediante a santificação, que é contínua, progressiva (Ap.22:11).
– Se não cuidarmos de nossa vida espiritual, portanto, não há como nos mantermos vivos e a vida somente se mantém se nos conservarmos em comunhão com o Senhor, “…porque como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim” (Jo.15:4).
– Por isso, o avivamento na vida pessoal nada mais é que a santificação a que temos de continuadamente nos dedicar (Ap.22:11).
– O principal meio de santificação é a Palavra de Deus. Jesus, ao falar sobre esta necessidade que temos de estar em comunhão com Ele, já começou dizendo que estávamos limpos pela Palavra que Ele tinha falado aos discípulos (Jo.15:3).
– Na oração sacerdotal, quando intercedeu pela nossa santificação, o Senhor pediu ao Pai que fôssemos santificados na verdade, que era a Sua Palavra (Jo.17:17).
– Não temos, pois, dúvida alguma de que é a Palavra de Deus o principal meio de santificação e, por conseguinte, o principal meio pelo qual alcançamos e conservamos o avivamento espiritual.
– Como temos visto, não há avivamento espiritual que não se tenha dado pela Palavra de Deus e, como todo avivamento começa nas pessoas, é indispensável que a Palavra esteja em nós para que se tenha um avivamento.
– A Palavra é que nos dá vida espiritual, porquanto é por ela que alcançamos a fé em Jesus (Rm.10:17), tendo entrada na graça (Rm.5:1,2), passando da morte para a vida (Jo.54:24). É ela quem nos gera como novas criaturas (I Pe.1:23), criaturas que, a exemplo do último Adão, são feitas espíritos vivificantes (I Co.15:45).
– Por isso, a Palavra de Deus é comparada à água, pois é a água quem dá vida, tanto que o principal fator pesquisado para se saber se há vida em algum lugar é a existência, ou não, de água neste local.
Por isso, Jesus disse a Nicodemos que para entrar no reino de Deus é preciso nascer da água e do Espírito (Jo.3:5) e o salmista disse que pela Palavra foi ele vivificado (Sl.119:93).
– Em sendo assim, não há como se ter vida se não se tiver ouvido e crido na Palavra de Deus, pois, inclusive, quando cremos na Palavra somos selados com o Espírito Santo da promessa (Ef.1:13), o Espírito de vida (Rm.8:2), o Espírito que vivifica (Jo.6:63; II Co.3:16; I Pe.3:18).
– Tendo, portanto, nascido da água e do Espírito, precisamos nos manter vivos e, portanto, esta água deve ser continuamente regada em nós, precisamos sempre tomar desta água e nos mantermos limpos por ela.
É esta a santificação na verdade de que falou o Senhor Jesus em Sua oração sacerdotal (Jo.17:17).
– Torna-se absolutamente necessário que meditemos na Palavra de Deus de dia e de noite (Sl.1:2), ou seja, que ouçamos, leiamos e reflitamos nas Escrituras, para que apreendamos qual é a vontade do Senhor para as nossas vidas, cumpramos o teor da Palavra e, deste modo, nos mantenhamos separados do pecado, espiritualmente limpos.
– O Senhor Jesus nos santifica, nos purifica com a lavagem da água, pela Palavra, para apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef.5:26,27). Sem a santificação, jamais poderemos ver o Senhor (Hb.12:14).
– Daí porque ser imprescindível que tenhamos uma leitura devocional diária das Escrituras, um momento para, a sós com Deus, refletirmos e meditarmos na Sua Palavra. Um bom hábito é o da leitura anual de toda a Bíblia, havendo planos de leitura à disposição de todos para que tenhamos este momento íntimo com o Senhor.
– Também devemos nos esmerar no estudo coletivo da Palavra, em participar de reuniões em que se tem o ensino das Escrituras, como os cultos de ensino ou de doutrina, as Escolas Bíblicas Dominicais e seminários e demais reuniões que tenham por objetivo o aprofundamento doutrinário. Não se deve esquecer que um dos pilares fundamentais da missão da Igreja é, precisamente, o ensino da Palavra (Mt.28:19,20).
– O apóstolo Paulo, ele mesmo um mestre, um doutor constituído por Cristo na Igreja (At.13:1; II Tm.1:11), mesmo sabendo que seria martirizado (II Tm.4:6), mesmo estando numa prisão (II Tm.:16), mostrou a necessidade da contínua meditação nas Escrituras ao pedir a Timóteo que, quando viesse visitá-lo em Roma, não deixasse de trazer os pergaminhos, ou seja, os escritos sagrados, para que o apóstolo pudesse lê-los e neles meditar até o final de sua vida, que já estava bem próximo (II Tm.4:13). Imitemo-lo (Cf. I Co.11:1).
– O Senhor Jesus, no ápice de Sua agonia no Calvário, recitou o Salmo 22, indicando-nos que era alguém que, mesmo sendo a Palavra, nela meditava enquanto homem, encontrando nela o consolo no instante extremamente angustiante da separação entre Ele e o Pai, por causa de nossos pecados (Mt.27:46; Mc.15:34).
– Este contato com a Palavra de Deus é indispensável para a nossa própria sobrevivência espiritual, porque é ela o alimento para o nosso homem interior (Mt.4:4; Lc.4:4).
Quem não medita nas Escrituras, quem não a estuda, ouve ou lê acaba morrendo de inanição espiritual e, lamentavelmente, são muitos os que, dizendo-se cristãos, já se encontram espiritualmente mortos por terem deixado de se alimentar espiritualmente. Que Deus nos guarde!
– A salvação depende de nossa conformidade com a Palavra de Deus. Sem que leiamos a Bíblia e conformemos nossa vida ao que ali consta como sendo a vontade do Senhor, jamais alcançaremos a salvação de nossas vidas, visto que é indispensável que sigamos a santificação, sem o que jamais veremos o Senhor (Hb.12:14).
– Isto significa que, se negligenciarmos na leitura sincera da Bíblia Sagrada, aquela leitura em que temos por objetivo saber como Deus quer que vivamos e não uma justificativa para o modo como estamos vivendo, estaremos trilhando o caminho da perdição, o caminho espaçoso da porta larga, onde tudo é permitido, mas cujo fim é a eterna separação de Deus (Mt.7:13).
– Temos de ler a Bíblia com humildade, crendo que ela é a Palavra de Deus e que temos de lê-la para aprender a viver conforme a vontade de Deus e não para justificarmos os nossos pensamentos, os nossos conceitos.
Temos de ler as Escrituras sem “pré-conceitos”, ou seja, sem achar isto ou aquilo, mas com o propósito de descobrirmos o que Deus quer de nós, que o que está escrito é a verdade e não temos de questioná-la, mas vivê-la, aplicá-la a nossos passos, a nossas ações, a nossos pensamentos, a nossa vida, enfim.
II – O AVIVAMENTO EXIGE UMA VIDA DE ORAÇÃO, JEJUM E CONSAGRAÇÃO
– O avivamento espiritual também requer de cada um a prática da oração, que deve ser reforçada pelo jejum.
Não há avivamento que, tendo se iniciado pela Palavra, não tenha tido, de imediato, uma atitude de busca da presença de Deus, pela oração e com o reforço do jejum.
– Na vida agitada dos nossos dias, no corre-corre do nosso cotidiano, é quase certo que se não administrarmos o nosso tempo, corremos sério risco de não fazermos tudo o que necessitamos no dia.
Faz-se preciso, entretanto, que não só administremos bem o tempo, mas que impeçamos que esta má administração seja uma arma utilizada em detrimento de nosso relacionamento com Deus.
– Não podemos permitir, de forma alguma, que os dias maus em que vivemos sejam uma grande arma do adversário para nos impedir de ter uma vida espiritual saudável conforme os ditames bíblicos.
Que possamos seguir o conselho do apóstolo e remir o tempo, porquanto os dias em que vivemos são maus (Ef.5:16).
– A vida espiritual, como qualquer vida, não é algo que se manifeste de vez em quando, mas é algo que tem uma determinada permanência, é algo que necessita de uma continuidade, de um desenvolvimento que não permite qualquer paralisação.
– Todos nós sabemos que não podemos, no sentido físico, viver um dia por semana, ou alguns dias no mês.
Se isto é uma realidade no ponto-de-vista físico, onde o homem é comparado a uma flor da erva, que, pela manhã, está viçosa e ao entardecer já está seca e sem qualquer esplendor (I Pe.1:24), que dirá a vida espiritual, que é a melhor parte, aquela que está relacionada com a eternidade e que se constitui na própria razão das coisas?
– Portanto, o nosso cuidado diário no nosso relacionamento com Deus deve ser prioridade e devemos lutar incansavelmente para que esta porção não nos seja roubada, pois, via de regra, o ladrão age sutilmente, na nossa falta de vigilância e este tem sido um dos aspectos que mais tem colaborado para o fracasso espiritual de muito.
– A vida espiritual é uma vida de comunhão com Deus. Ora, a comunhão é, como nos diz o Dicionário Koogan-Larousse, entre outras coisas, “união no mesmo estado de espírito”.
Com efeito, quem está em comunhão com Deus discerne a vontade de Deus, segue a direção de Deus, sabe perfeitamente como agradar a Deus, tem condições de apresentar o seu corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, ou seja, de lhe prestar o culto racional (Rm.12:1).
– Entretanto, para que possamos estar em comunhão com Deus, faz-se mister que saibamos exatamente o que Deus quer que façamos, bem assim que tenhamos com ele um diálogo, uma intimidade, da mesma maneira que um casal que, ao passar dos anos, somente pelo olhar tem condições de se comunicar e de estabelecer uma conversa sem que uma palavra seja dita.
– A comunhão com Deus exige, pois, que tenhamos duas atitudes incessantes, duas ações que são indispensáveis para que estabeleçamos uma “união no mesmo estado de espírito” com Deus: a oração e a leitura da Palavra de Deus.
– Lembramo-nos aqui, aliás, de um antigo corinho que até hoje é ensinado nas classes infantis da EBD e que sintetiza esta realidade espiritual que, por muitos, lamentavelmente, tem sido esquecida nos nossos dias: “Leia a Bíblia e faça oração se quiser crescer”.
– Orar é o ato pelo qual o homem se dirige a Deus para com Ele dialogar. É uma atitude que expressa em si, de uma só vez, uma série de verdades que, por si só, já demonstram a excelência de uma conduta desta natureza, a saber:
- a) quando oramos, reconhecemos a soberania de Deus, pois estamos dizendo que Deus é o único que pode atender aos nossos pedidos, bem como é o único que merece nosso louvor e adoração, que nada mais é que o cumprimento do grande mandamento (Mt.22:36,37).
- b) quando oramos, reconhecemos a nossa insuficiência, pois demonstramos a consciência de que tudo está no controle de Deus e que, sem Ele, nada podemos fazer, o que, nada mais é, que a primeira bem-aventurança proclamada por Jesus no sermão do monte (Mt.5:3).
- c) quando oramos, revelamos a nossa fé, pois demonstramos que nossa confiança está em Deus e não em qualquer outro ser, o que significa uma ação que agrada a Deus, pois sem fé é impossível agradar-Lhe (Hb.11:6).
- d) quando oramos, revelamos a nossa obediência, pois cumprimos a vontade de Deus expressa em Sua Palavra, que quer que oremos sem cessar (I Ts.5:17), bem como que imitemos Jesus (I Co.11:1, I Pe.2:21), cujo ministério terreno foi, sobretudo, um ministério de oração.
- e) quando oramos, demonstramos o nosso amor para com o próximo, pois intercedemos por eles e, como somos justos, permitimos que tal oração tenha uma eficácia benévola em suas vidas, o que é o complemento do grande mandamento (Mt.22:39,40), bem como a comprovação de que somos filhos de Deus (I Jo.2:5).
- f) quando oramos, demonstramos a nossa esperança, pois, ao orarmos, apresentamos nossos desejos diante de Deus, reconhecendo que devemos sempre esperar n’Ele, que é a âncora da nossa vida (Hb.6:19). Afinal de contas, sabemos que Deus trabalha por aqueles que n’Ele esperam (Is.64:4).
– Não pode existir uma vida real de comunhão com Deus sem que haja oração. A oração é o canal pelo qual o homem exercita a sua submissão a Deus, é a forma pela qual se põe como um verdadeiro servo do Senhor.
– A oração é, assim, a própria exteriorização de nossa qualidade de servo de Deus. Nas páginas das Escrituras Sagradas, veremos, sempre, que os grandes homens de Deus eram homens de oração, bem como que os grandes fracassos espirituais ali descritos têm, como ponto em comum, a falta de oração, a falta de diálogo com Deus.
– Como se não bastasse isso, o Senhor Jesus disse que a oração é um dever dos Seus discípulos, que devem orar sempre e nunca desfalecer (Lc.18:1), ensino que depois foi repetido pelo apóstolo Paulo, que disse que devemos orar sem cessar (I Ts.5:17) e em todo o tempo (Ef.6:18).
– Quando o homem se distancia de Deus, podemos verificar que o distanciamento se deu, num primeiro instante, pela perda de contato entre o homem e Deus através da oração. Eis porque todas as forças do mal buscam retirar o nosso tempo de oração, buscam eliminar a oração do nosso dia-a-dia.
A oração, como bem afirmou Paulo, é indispensável para que vençamos as hostes espirituais da maldade, pois é a ferramenta que nos coloca em forma para podermos utilizar adequadamente a armadura de Deus (Ef.6:13-18).
– A oração aproxima-nos de Deus e é o meio pelo qual obtemos o poder divino em nossas vidas. Para serem revestidos de poder, os discípulos passaram dias em oração (At.1:14).
Foi orando que os samaritanos receberam também o batismo com o Espírito Santo (At.8:15-17), o que mesmo ocorrendo com o apóstolo Paulo (At.9:11,17).
– O mesmo se diga em relação aos dons espirituais, que devem ser procurados com zelo (I Co.14:1) e este zelo nada mais é que a constante oração, pois a presença dos dons nos apóstolos se iniciou precisamente quando Pedro e João iam para o templo, na hora da oração (At.3:1).
– Os sinais e maravilhas decorrem também de uma dedicação à oração. Jesus passava as noites em oração antes de ter o seu cotidiano durante o Seu ministério, repleto de sinais, prodígios e maravilhas (Mt.14:23; Mc.1:35; 6:46; Lc.5:16; 6:12).
– Com os apóstolos não foi diferente, pois se dedicavam à oração (At.6:4) e bem por isso realizavam sinais, prodígios e maravilhas (At.2:43; 5:12,14,15).
– Milagres ocorreram porque a igreja em Jerusalém, como um todo, vivia em oração, como vemos no movimento do lugar onde todos se reuniam e onde houve, provavelmente, novo derramamento do Espírito Santo entre os crentes da igreja primitiva (At.4:31) e na soltura milagrosa do apóstolo Pedro da prisão (At.12:5,12).
– Sendo o avivamento espiritual uma situação em que há a manifestação do poder de Deus, não há como termos tal circunstância se não vivermos em oração, cada crente orando, o que representará, ao final e ao cabo, toda a igreja orando.
– A oração deve ser reforçada com o jejum. Embora os discípulos de Jesus não jejuassem, o fato é que o Senhor disse que, quando Ele fosse para a glória, o jejum se faria necessário (Mt.9:14-17; Mc.2:18-22; Lc.5:33-39).
– Tanto é que, mesmo ainda durante o Seu ministério terreno, Jesus alertou os discípulos sobre a necessidade do jejum como reforço à oração, inclusive para expulsão de demônios (Mt.17:21; Lc.9:29).
– Tal ensino de Jesus foi seguido pelos discípulos. Tanto que vemos Paulo, novo convertido, orando e jejuando, antes de ser batizado tanto nas águas quanto com o Espírito Santo (At.9:9) e, muito provavelmente, Pedro também estava em jejum, quando foi orar e teve a visão dos animais impuros (At.10:9,10), sendo uma prática encontrada na igreja de Antioquia, que, não por outro motivo, tinha tanto profetas quanto doutores na sua membresia (At.13:1-3).
– O jejum é um necessário reforço à oração, porquanto, por meio do jejum, renunciamos às próprias necessidades de nosso corpo para nos dedicarmos mais intensamente à oração, reforçando o aspecto de submissão, humilhação e esperança em Deus, que, como já vimos supra, são aspectos que envolvem a atitude de orar ao Senhor.
– O jejum, ademais, lembra-nos que renunciamos a nós mesmos para podermos seguir a Jesus, pois a abnegação é uma atitude indispensável para que nos tornemos discípulos de Jesus (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23).
Quando jejuamos, abrindo mão do necessário à nossa sobrevivência, que é a alimentação, para nos dedicarmos ao Senhor, estamos mostrando, de forma clarividente, que não vivemos mais para nós, mas, sim, para Deus.
– Ora, esta vida para Deus, esta dedicação ao Senhor é o que configura a consagração, que é outra atitude que deve ser adotada para que tenhamos um avivamento espiritual. Consagração é a dedicação a Deus, seja de bens, seja das próprias pessoas.
– Já no tempo da lei, o que era consagrado ao Senhor se tornava “coisa santíssima ao Senhor”, não podendo nem ser vendida nem ser resgatada (Lv.27:28,29).
– Tal circunstância mostra-nos que se faz indispensável, para que se tenha avivamento espiritual, que efetivamente nos tornemos propriedade do Senhor Jesus (I Co.1:30; 6:19,20), portemo-nos como pessoas compradas por Cristo, com o preço de Seu precioso sangue (I Co.7:23; I Pe.1:18), sabendo que, assim como no tempo da lei, quem vendesse ou resgatasse algo consagrado seria morto (Lv.28:29), também quem desprezar o sangue de Cristo e abjurar da salvação que obteve (Hb.10:26-31).
– Assim, se não formos consagrados ao Senhor, se não agirmos como pessoas que, nesta Terra, estão vivendo para Deus, tudo fazendo para a glorificação do Senhor (Cl.3:17), não só não estaremos em avivamento espiritual, mas também estarão decretando a sua própria perdição, a sua própria morte espiritual. Lembremos disto, amados irmãos!
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/8829-licao-10-o-avivamento-na-vida-pessoal-i