A igreja de Antioquia é o modelo de missões transculturais no livro de Ato dos
Apóstolos.
INTRODUÇÃO
-Na continuidade do estudo sobre as missões transculturais, abordaremos hoje o modelo de missões que nos traz a igreja de Antioquia.
-A igreja de Antioquia é o modelo de missões transculturais no livro de Atos dos Apóstolos.
I – O SURGIMENTO DA PRIMEIRA IGREJA LOCAL GENTÍLICA EM ANTIOQUIA
-Apesar de o Evangelho ter sido aberto aos gentios através de Pedro na casa de Cornélio, em Cesareia, cidade onde ficava o palácio do presidente da Judeia (At.10), não seria em Cesareia que se teria a primeira igreja local gentílica.
-Na verdade, os gentios salvos e revestidos de poder em Cesareia foram congregar juntamente com os judeus que já haviam aceitado a fé, sob o comando de Filipe, que ali passara a residir (At.8:40; 21:8).
-O episódio ocorrido em Cesareia não teve a devida repercussão. Com efeito, o imaginário cultural dos crentes judeus era muito arraigado.
Para começar, quando retornou a Jerusalém, Pedro foi obrigado a se explicar porque tivera contato com gentios (At.11:1-18), a nos mostrar como havia ainda grande resistência para a compreensão de que a mensagem do Evangelho era para ser pregada até os confins da Terra.
-O episódio na casa de Cornélio, notadamente o fato de ele e os seus terem sido batizados com o Espírito Santo, fez os crentes em Jerusalém entenderem que até aos gentios Deus dera o arrependimento para a vida (At.11:18), mas, se ficara certo e induvidoso que o Senhor também salvava gentios, isto não representou a conscientização de que caberia aos crentes judeus pregar o Evangelho a estes gentios para que se salvassem.
-Embora tivessem percebido que Jesus queria salvar também os gentios, os cristãos de Jerusalém não haviam entendido que não há como ocorrer salvação se não há quem pregue, como, mais tarde, ensinaria o apóstolo Paulo (Rm.10:13,14).
-Por isso, mesmo diante da perseguição e da consequente dispersão, os crentes não pregavam o Evangelho senão aos judeus (At.11:19).
-Entretanto, alguns varões cipriotas e cirenenses, ou seja, judeus que haviam se convertido a Cristo em Chipre (terra natal de Barnabé) e em Cirene (região hoje pertencente a Líbia), ao entrarem em Antioquia, para onde
haviam ido, Antioquia que era a capital romana da província da Síria, à qual pertencia a Judeia naquela época, passaram a anunciar o Senhor Jesus também para os gentios, certamente cientificados de que “até aos gentios Deus havia dado o arrependimento para a vida” (At.11:18).
-Estes anônimos crentes, assim como aqueles que haviam iniciado a pregação fora de Jerusalém, mostram- nos, com absoluta clarividência, que a obra de Deus não precisa das lideranças legitimamente constituídas pelo Senhor para se realizar.
-A expansão do Evangelho, notemos, deu seus passos iniciais não por iniciativa dos apóstolos, mas, sim, de crentes anônimos que eram, então, seguidos em seu desbravamento, pelos apóstolos, evangelistas ou diáconos.
-Evidentemente que não estamos aqui a advogar a tese dos “desigrejados”, daqueles que veem como errada a existência de igrejas locais, pessoas que estão completamente contrárias ao que ensinam as Escrituras.
-O que estamos a mostrar é que a Igreja é dirigida pelo Espírito Santo, notadamente a sua tarefa primordial, que é a pregação do Evangelho por todo o mundo a toda criatura.
Em sendo assim, como ensinou o Senhor Jesus a Nicodemos, “…o que é nascido do Espírito é espírito (…) o vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (Jo.3:6,8).
-Importa que o Evangelho seja pregado a todas as nações (Mc.13:10) e se trata de um desígnio divino, de modo que não podem elementos humanos impedir a realização da vontade do Senhor (Is.43:13).
-Aqui temos um exemplo eloquente disto. O Espírito Santo tocou no coração daqueles anônimos discípulos e eles, sem que fossem orientados por qualquer autoridade humana, sem que cedessem a conceitos criados pelas mentes humanas, começaram a evangelizar os gentios em Antioquia e, “como a mão do Senhor era com eles”, Jesus começou a salvar (At.11:20,21).
-Algo similar temos visto, hoje, no mundo muçulmano. Vez por outra vemos relatos e testemunhos de pessoas que moram em regiões aonde o Evangelho ainda não chegou, localidades situadas em países e regiões onde há uma extrema e severíssima perseguição, onde se tem impedido a entrada de missionários.
-Pois bem, em tais países e regiões, alguns habitantes têm recebido sonhos (e os muçulmanos são muito sensíveis a sonhos e visões), nos quais lhes é revelado Jesus como o Cristo, como o Salvador e, movidos por estas manifestações, muitos têm ido procurar saber a respeito e, não raras vezes, viajam distâncias até consideráveis e encontram servos do Senhor, às vezes missionários camuflados, outras vezes pessoas salvas sem chamada missionária específica, que lhes pregam o Evangelho, eles se convertem e retornam para realizar a evangelização em suas terras.
-Como Deus não muda, ainda hoje o Senhor continua realizando o Seu propósito salvador, independentemente de impedimentos e obstáculos que possam ser criados pelos homens e pelo maligno. Aleluia!
-Quando olhamos a história da Igreja, percebemos que assim continuou a ocorrer ao longo dos séculos, não tendo sido diferente com as Assembleias de Deus no Brasil, onde os pioneiros, embora devidamente separados, depois de dar ciência de suas chamadas por parte do Espírito Santo, pelas igrejas em que estavam a congregar, anonimamente e confiados única e exclusivamente no Senhor, realizaram esta grande obra. Por que, então, na atualidade, insiste-se tanto na necessidade de lideranças irem à frente de crentes anônimos?
-Estes crentes anônimos, embora não tivessem títulos nem tampouco qualquer posição de liderança, estavam a fazer aquilo que o Senhor queria que fosse feito e, por isso, “a mão do Senhor era com eles” (At.11:21a).
-Qual era a prova que “a mão do Senhor era com eles”? O texto sagrado responde: “grande número creu e se converteu ao Senhor” (At.11:21b).
-A transformação de vidas, a presença da graça de Deus na vida das pessoas é a prova de que “a mão do Senhor é com o pregador”. Não devemos nos basear em sinais, maravilhas, nem mesmo em batismos com o Espírito Santo, mas, sim, na conversão das almas.
-O inimigo de nossas almas pode também fazer sinais e prodígios (e, nos dias em que vivemos, isto se intensificará ainda mais – Mt.24:24; II Ts.2:9-12), pode até, mesmo, imitar o falar em línguas estranhas, mas jamais o diabo irá fazer com que as pessoas se convertam ao Senhor. Por isso, julguemos o que vemos não segundo a aparência, mas, sim, segundo a reta justiça (Jo.7:24).
-Chegando a notícia a Jerusalém a respeito do que acontecia em Antioquia, os apóstolos mandaram para lá Barnabé (At.11:22).
-A escolha foi, certamente, dirigida pelo Espírito Santo. Barnabé, assim como parte dos anônimos que haviam evangelizado Antioquia, era também natural de Chipre (At.4:36), sendo, ademais, levita e, como tal, considerado entre os judeus e grande conhecedor da lei.
-Tratava-se, pois, de pessoa que sabia muito bem equilibrar-se tanto entre “os da circuncisão” como entre os gentios, ao contrário dos outros, que eram judeus hebreus (At.6:1), ou seja, judeus que viviam na terra de Israel.
-Tanto assim é que ao chegar a Antioquia, Barnabé teve um olhar despido de barreiras culturais, “vendo a graça de Deus” (At.11:23).
-O nome de Barnabé era José, mas passou a ser assim chamado pelos apóstolos (At.4:36). Este apelido que recebeu dos apóstolos, cujo significado é “filho da consolação”, mostrava que Barnabé é um modelo de homem conforme a vontade do Espírito Santo.
“Filho da consolação” nada mais é que um epíteto para alguém que obedece ao Consolador, ou seja, ao Espírito de Deus. Não é possível evangelizarmos se não formos “filhos da consolação”. Obedecemos ao Espírito Santo?
-A “visão da graça de Deus” alegrou Barnabé que, então, exortou os crentes gentios a que permanecessem no Senhor com propósito do coração (At.11:23).
-Diz Lucas (que provavelmente deve ter se convertido nessa igreja de Antioquia) que Barnabé assim procedeu porque “era homem de bem, e cheio do Espírito Santo, e de fé”.
-Qual foi o resultado desta postura de Barnabé? “E muita gente se uniu ao Senhor” (At.11:24). Temos permitido que “o olhar de Barnabé” traga mais pessoas ao Senhor Jesus ou nossa cultura tem fechado a porta da salvação a muitos? Pensemos nisto!
-Não podemos permitir que nossa visão espiritual seja limitada pela cultura. Mas o que é a cultura? “…Cultura (do latim colere, que significa cultivar) é um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente a definição genérica formulada pelo antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1832-1917), segundo a qual cultura é ‘aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade’…” (WIKIPÉDIA. Cultura. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura Acesso em 20 jan. 2011).
-A cultura, portanto, é o conjunto das criações humanas, a reunião de todas as formas criadas pela inteligência humana em sua existência terrena.
-Como se trata de obra humana, naturalmente é algo sujeito ao tempo e ao espaço, motivo pelo qual a cultura varia de lugar para lugar, de época para época.
-O Evangelho, sendo a Palavra de Deus, está acima da cultura e não pode ser limitado por ela. Daí a importância de sempre levarmos em conta a “transculturalidade” do Evangelho, que é mais evidente quando se está a evangelizar povos completamente diferentes dos nossos, mas que não se limita apenas a este aspecto.
-O “olhar de Barnabé” permite-nos vislumbrar que, em matéria de evangelização, precisamos ser “homens de bem, cheios do Espírito Santo e de fé”.
-Assim, não podemos nos prender a hábitos de vida criados pelo homem, mas, sim, a verificar se, entre os povos atingidos pelo anúncio da Palavra, há transformação de vidas, conversão.
-Este é o objetivo do anúncio de Jesus Cristo e somente se anunciarmos Jesus Cristo em vez de hábitos culturais é que conseguiremos alcançar as almas para o Senhor. É esta a tarefa da Igreja.
-Barnabé preenchia as condições para exercer esta função de “evangelista autorizado”, praticamente um missionário, porque era “homem de bem”.
Um dos elementos que o permitiram ter “a visão da graça de Deus” era o de ser alguém que era benigno e bom, ou seja, alguém que queria bem às pessoas e que fazia boas obras.
-Barnabé aparece nas Escrituras vendendo uma propriedade e dando seu preço para a igreja em Jerusalém (At.5:36,37), ou seja, uma pessoa desprendida dos bens materiais e que se desfez do que parece ser a única propriedade imóvel para a obra do Senhor. Tratava-se, pois, de uma pessoa boa.
-Mas, também, Barnabé era benigno, tanto que, ao saber que os discípulos se esquivavam de Saulo, duvidando de sua conversão, foi até o antigo perseguidor e se encarregou de retirar esta cisma da membresia da igreja em relação ao discípulo neoconverso, promovendo a integração de Saulo na igreja de Jerusalém (At.9:26,27).
-Barnabé, portanto, queria bem às pessoas, não as tratava com preconceitos ou cismas, e é isto que representa a benignidade. Somente alguém sendo “homem de bem” pode ser exitoso na atividade missionária, notadamente a transcultural.
-Tanto era “homem de bem” que, ao notar a genuína conversão daqueles gentios em Antioquia, alegrou-se (At.11:23), pois, assim como o Senhor a quem servia, ele queria a salvação de todos os homens e a vinda deles ao conhecimento da verdade (Cf. I Tm.2:4).
-Mas Barnabé, também, era homem “cheio do Espírito Santo”. Era alguém revestido de poder (pois, em Atos, cheio do Espírito é sempre batizado com o Espírito Santo) e, portanto, podia atuar plenamente na atividade missionária, pois este é um requisito estabelecido pelo próprio Cristo para sermos testemunhas até os confins da terra (At.1:8).
-Por fim, Barnabé era um “homem de fé”, ou seja, alguém que se movia não pelo que via, não pelo que observava, mas que confiava em Deus e em Suas promessas, tanto que não temeu abrir mão de sua única propriedade, sabendo que o Senhor o susteria, como também creu na conversão de Saulo, ante os frutos que eram produzidos pelo antigo perseguidor.
-Não há como realizarmos a contento a obra missionária se não tivermos fé, até porque sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).
-Este olhar de Barnabé mostra-nos como deve agir um “evangelista autorizado” ou um missionário que chega a um lugar onde já há novos convertidos em virtude da ação evangelizadora de alguém que pede a intervenção da igreja local a que pertence (ou pertencia) naqueloutras plagas.
-Deve primeiro observar o grupo, verificar se lá esta mesmo “a graça de Deus”, para se saber se se trata mesmo de pessoas convertidas e que pontualmente conhecem o caminho do Senhor. Caso não seja este o caso, deve levar-lhes a mensagem genuína do Evangelho, a fim de obter a real conversão daquelas pessoas.
-Vemos, por exemplo, na biografia do missionário pioneiro das Assembleias de Deus, Gunnar Vingren (1879- 1933), que, tendo chegado a um grupo de pessoas aparentemente convertidas no estado de Santa Catarina, ao notar que não estavam eles de acordo com as Escrituras, uma e outra vez procurou adverti-los para que se corrigissem, mas, tendo havido resistência, deixou-os, como aliás, sempre fazia Paulo quando estava em sua atividade missionária (At.13:45,46; 18:5-8; 19:8,9). Assim deve ser a atitude de um “evangelista autorizado”.
-Ao verificar que a conversão era genuína, Barnabé tratou de dar continuidade ao crescimento espiritual daqueles novos crentes, exortando todos a permanecerem no Senhor com propósito do coração.
-Temos aqui a primeira tarefa que deve fazer um “evangelista autorizado” ou missionário que encontrar um grupo de pessoas realmente convertidas.
Promover a edificação espiritual de todos, iniciar a igreja local, criando o grupo social, mostrando aos neoconversos que todos precisam uns dos outros, que a vida cristã não se dá de modo solitário, como, aliás, afirma, de modo muito feliz, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, “in verbis”:
“… A vida cristã não é solitária; pois nenhum membro vive isolado do corpo: ‘assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros’ (Rm.12:5);
‘Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também’ (I Co.12:12). A conversão da pessoa leva à comunhão com um grupo de crentes em Jesus [At.2:41,42]” (DFAD XI.2, pp.121-2).
-“Permanecer no Senhor com propósito do coração” é o objetivo de todo missionário ou “evangelista autorizado” em relação ao grupo de que está a cuidar.
-Temos aqui a incumbência de pastorado que sempre acompanha o missionário, ainda que, por vezes, isto se dê de modo emergencial e inicial, como, aliás, aconteceu com Barnabé e Paulo na primeira viagem missionária, mas não aqui em Antioquia, onde ambos se dedicaram a tal tarefa até o momento em que foram chamados pelo Espírito Santo para saírem de Antioquia.
-Esta “atividade pastoral inicial” não só se sabe no cuidado das almas, mas, também, no ensino da Palavra de Deus aos novos convertidos.
II – A PRIMEIRA IGREJA CHAMADA DE CRISTÃ
-Neste cuidado pastoral inicial, este “primeiro atendimento pastoral”, para usarmos uma linguagem própria da área da saúde, Barnabé percebeu que havia a necessidade de se ensinar a doutrina àqueles novos crentes, que, ao contrário dos crentes judeus, nunca tinham tido contato algum com as Escrituras.
-Temos aqui mais uma lição importante que nos deixa a igreja de Antioquia: em missões transculturais, mister se faz ter um discipulado, ou seja, o ensino das doutrinas fundamentais das Escrituras, os “rudimentos da doutrina de Cristo”, como a este conjunto de ensinamentos básicos da fé cristã se refere o escritor aos hebreus (Hb.6:1).
-Barnabé, movido pelo Espírito Santo, foi até Tarso e trouxe Paulo de lá para que ensinasse a Palavra àqueles crentes. Outra escolha orientada por Deus pois Paulo era a pessoa preparada pelo Espírito Santo para levar a doutrina de Cristo aos gentios e para amalgamar judeus e gentios em torno da Palavra (At.26:16-18).
-Paulo veio com a missão de ajudar Barnabé a ensinar os “rudimentos da doutrina de Cristo” àqueles gentios e fizeram isto durante um ano (At.11:26), a nos mostrar que este ensinamento deve ser criterioso, pois se está a lançar as bases e o alicerce da vida cristã dos novos convertidos.
-Muitos têm descuidado do discipulado em nossos dias, o que tem sido extremamente danoso para a Igreja. Sem que se tenha a devida instrução, os crentes novos convertidos, que necessitam ser alimentados com o “leite racional” para poderem crescer (Cf. I Pe.2:2), podem sofrer de inanição espiritual e vir, inclusive, a morrer espiritualmente. É preciso combater a “mortalidade infantil” dos novos convertidos.
-Em missões transculturais, este discipulado é fundamental e os missionários precisam ser pessoas que tenham o devido preparo para fazê-lo.
-Foi em Antioquia que os salvos foram, pela primeira vez, chamados “cristãos”, ou seja, “parecidos com Cristo”, “pequenos Cristos”.
-A identificação dos servos de Jesus como “cristãos”, por incrível que possa parecer, deu-se na primeira igreja local totalmente desprendida do judaísmo, formada por gentios.
-A identidade com o Senhor Jesus ficou tão patente que os que nunca haviam visto Jesus, ao verem aqueles salvos e o Jesus que eles pregaram, não tiveram outra reação senão dizer que aqueles homens e mulheres que traziam aquela nova doutrina eram semelhantes, parecidos com o Senhor a quem eles serviam.
-Ao contrário do que ocorre hoje, em que as pessoas se dizem cristãos, os crentes de Antioquia foram chamados pelos incrédulos de “cristãos”, porque eram testemunhas, provas de que era possível viver como o Jesus que eles pregavam. Podemos ser chamados de “parecidos com Cristo” com as pessoas com quem convivemos? Damos testemunho de Jesus?
-Vejamos, irmãos, como é poderoso o efeito do discipulado numa igreja local implantada pela obra missionária! O testemunho daqueles crentes foi fundamental para que Antioquia se estruturasse como uma das principais igrejas da Igreja, condição que ostentou por alguns séculos, como nos mostra a história da Igreja.
-O crescimento da igreja em Antioquia levou, inclusive, que profetas descessem de Jerusalém para lá, como Ágabo, que, inclusive, profetizou a respeito de uma grande fome em todo o mundo, o que se deu nos dias de Cláudio César (At.11:28).
-Vemos aqui, o que já foi estudado em lições anteriores, a necessidade que tem a igreja local que enviou o missionário (no caso, a igreja em Jerusalém) de manter contato e intercâmbio com a igreja implantada pelo seu missionário.
-Profetas foram até aquela igreja, e não somente profetas, mas há registro de que o próprio Pedro ali também esteve (Gl.2:11) e, ao que parece, para dar assistência e não para dirigir a igreja, como alegam os católicos romanos, inclusive para, a partir desta notícia, prosseguirem com a narrativa da doutrina do papado.
-Mas a igreja de Antioquia não apenas recebeu visitas dos crentes judeus, mas também passou a ajudar os crentes da Judeia, dando-lhes assistência material (At.11:29,30), inclusive encaminhando Barnabé e Saulo para levar tais donativos aos hierosalamitas e judeus em geral, numa igreja que já possui até um corpo ministerial.
-Este intercâmbio com os crentes judeus e uma edificação espiritual sólida fez que, em pouco tempo, a igreja de Antioquia se tornasse uma igreja abençoada e proeminente, com a manifestação dos dons ministeriais e espirituais em seu meio.
-Não mais recebia apenas a visita de profetas, como também não eram simplesmente ensinados por mestres, mas a própria igreja passou a ter profetas e doutores (At.13:1), de modo que era, realmente, apenas questão
de tempo para que igreja que havia nascido da consciência missionária de crentes anônimos se torna ela própria uma igreja missionária.
III – UMA IGREJA MISSIONÁRIA
-Em Antioquia, que se tornaria o grande centro missionário dos dias apostólicos, a igreja se estruturava de modo exemplar: após o anúncio da Palavra por crentes anônimos, chegou o enviado do ministério com a “visão da graça de Deus” que trouxe o ensinador para a edificação dos crentes. O resultado disto foi o testemunho de toda a igreja perante a sociedade e a manifestação do poder do Espírito Santo, inclusive com os dons ministeriais e espirituais.
-A igreja de Antioquia, ademais, não se apresentou como “independente” e “isolada”, mas manifestou, também, seu amor para com os irmãos judeus, inclusive os ajudando com socorro material aos crentes da Judeia que já padeciam necessidades (At.11:29,30).
-Era, ademais, uma igreja que se dedicava à oração e ao jejum, sempre servindo ao Senhor (At.13:2), uma igreja nitidamente pentecostal, onde o Espírito Santo tinha plena liberdade.
-Por isso mesmo, num determinado culto, o Espírito Santo falou àqueles crentes, determinando que eles separassem Barnabé e Saulo para a obra para a qual o Senhor os havia chamado (At.13:2).
-Temos, pois, em Antioquia toda um modelo de como se deve edificar uma igreja local segundo os ditames do Evangelho. Já devidamente estruturada, o Espírito Santo ordena que os antioquitas enviassem missionários para a propagação do Evangelho nos confins da terra.
-A igreja deve estar em contínua oração, oração esta reforçada pelo jejum, aprendendo a Palavra de Deus e estar sensível à voz do Espírito Santo, e, assim agindo, o Senhor dirigirá os passos para a necessária expansão do Evangelho por meio daquela igreja local, inclusive separando missionários para pregarem o Evangelho em locais distantes e que precisam conhecer Jesus.
-A igreja de Antioquia não titubeou. Barnabé e Saulo eram os pilares daquela igreja, os seus efetivos edificadores, tinham grande importância para eles, mas todos ali sabiam que estavam a serviço do Senhor e que é Ele a cabeça da igreja (Ef.5:23).
-Passaram, então, a orar e jejuar para bem cumprirem a ordem recebida e, depois, impondo as mãos sobre Barnabé e Saulo, despediram-nos, para que eles fossem ao campo missionário (At.13:3).
-Tendo tomado conhecimento da chamada missionária de alguém, deve a igreja local iniciar, sob a direção divina, que será obtida mediante a oração e o jejum, a preparação para enviar o missionário.
-Notemos que a igreja precisa receber esta notícia da chamada da parte de Deus. O Espírito Santo assim ordenou à igreja. Não temos notícia com relação a Barnabé, mas, com respeito a Paulo, já sabia ele, desde a sua conversão, este plano que o Senhor tinha de fazê-lo “apóstolo e doutor dos gentios” (II Tm.1:11), mas, embora isto fosse conhecido senão de todos, de muitos dos crentes em Antioquia, isto jamais fez com que a igreja tomasse a iniciativa de enviá-lo enquanto o Espírito Santo não deu ordem.
-Muitos, na atualidade, precipitam-se e enviam pessoas que, embora chamadas, ainda não estavam prontas, não era ainda o tempo de serem enviadas. É necessário que o Espírito Santo oriente neste sentido.
-O modelo missionário que é a igreja de Antioquia mostra que tudo deve ser feito por orientação e direção do Espírito Santo.
-A igreja impôs as mãos sobre Barnabé e Saulo, ou seja, os separou formalmente como missionários. Não se trata de mera formalidade. Por primeiro, a imposição das mãos dos obreiros tem importante papel espiritual, pois representa a confirmação pública da escolha feita pelo Senhor para que alguém exerça o ministério.
-É bom ter consciência de que a “imposição das mãos” não representa, de forma alguma, “transferência de unção” ou “transmissão de dons do Espírito Santo”, como muitos têm ensinado por aí.
-Quem distribui os dons espirituais propriamente dito é o Espírito Santo (I Co.12:7-11), quem dá os dons ministeriais à Igreja é Cristo (Ef.4:11). Portanto, não há que se falar que alguém transmita algo recebido de Deus para alguém.
-A imposição das mãos é um reconhecimento solene, de profundo significado espiritual, de que alguém é chamado por Deus, e o ministério, ao impor as mãos sobre a pessoa, está confirmando esta escolha divina, submetendo-se à vontade divina e transferindo autoridade ministerial àquele que é separado.
-Assim como o batismo nas águas não é a salvação da pessoa, mas um ato que confirma que a pessoa foi salva, de igual modo a imposição de mãos não confere dom a pessoa alguma, mas é uma confirmação de que tal pessoa recebeu da parte de Cristo um dom ministerial.
-Esta separação é necessária, não se trata de mera formalidade. A uma, porque foi determinada por Deus e está presente nas Escrituras; a duas, porque permite a transparência, a clareza e o pleno conhecimento de toda a membresia do que Deus está a fazer e realizar, dando as condições sociais necessárias para que o missionário possa desempenhar o seu papel.
-Certo é que não temos notícia de que a igreja de Antioquia tivesse contribuído financeiramente ou com assistência espiritual a Barnabé e Saulo durante a primeira viagem missionária. Não há menção disto nos escritos paulinos.
-Isto não nos permite, porém, entender que o modelo missionário do Novo Testamento, representado por Antioquia, dispense tal item, até porque, em lições anteriores, já vimos como o modelo neotestamentário de missões impõe esta faceta da realização da obra missionária.
-Atrevemo-nos, porém, a entender que havia, sim, algum auxílio, visto que os antioquitas, antes mesmo disto, já ajudavam os irmãos necessitados da Judeia, demonstrando ter plena consciência da necessidade do sustento dos irmãos, e não o fariam, com a espiritualidade que tinham, com relação a quem fora enviado por ordem do Espírito Santo a ganhar almas para o Senhor?
-E há um outro fator que nos permite pensar assim: Barnabé e Saulo, ao final de sua primeira viagem missionária, retornaram a Antioquia para prestar contas.
-Sim, temos como lição final deste modelo que os missionários retornaram para prestar contas à Igreja de tudo quanto o Senhor havia feito por meio deles (At.14:26-28).
-Os missionários, se são dotados de autoridade, e para isto serve a imposição das mãos, também são investidos de uma responsabilidade, ou seja, têm de prestar contas de suas atividades para a igreja que os enviou, a fim de que possam ser aprovados e achados como aqueles que estão a cumprir o seu ministério, como vai lembrar Paulo a seu filho na fé Timóteo (II Tm.4:5).
-O missionário, evidentemente, tem a primeira responsabilidade diante de Deus que o comissionou para esta tarefa de ganhar almas em locais distantes, de outras culturas, mas, também, tem de responder perante a igreja local que o enviou, da qual é um “braço estendido”, um “membro em particular avançado”.
-O missionário nunca deixa de ser parte da igreja local que o enviou, pois, como temos visto ao longo do trimestre, toda igreja local deve ter a perspectiva de que deve fazer a obra de Deus concomitante no local onde está (“Jerusalém”) quanto nas localidades as mais longínquas e estranhas (“confins da terra”) e o elo entre a igreja e aqueles países de longe é o missionário.
-Uma boa iniciativa tomada por algumas igrejas locais é a realização de encontros, seminários e congressos missionários, onde se tem não só a oportunidade de fomentar a consciência missionária da igreja, mas também de dar aos missionários a chance de se dirigirem a toda a membresia e relatar o que têm feito no campo para ganhar almas para o Senhor Jesus.
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10047-licao-12-o-modelo-de-missoes-da-igreja-de-antioquia-i