INTRODUÇÃO
Esse tema é muito pertinente em nossos dias. Por mais de vinte séculos, têm-se apresentado doutrinas sobre o sofrimento eterno, e é verdade que algumas não são tão ortodoxas assim.
No entanto, conforme escreveu James Hunt, há “um abrandamento de certas doutrinas entre alunos de faculdades teológicas, inclusive de denominações de origem conservadora na sua teologia, gerando um grau preocupante de inquietação com essa geração de evangélicos com respeito, por exemplo, à condenação eterna.
Poucos anos atrás, correu nas redes sociais brasileiras a pregação de um líder evangélico que, ao falar sobre a justiça de Cristo, afirmou que o pecado não é mais um critério entre Deus e os homens. Disse também que Hitler e Herodes estão à mesa ao lado de Jesus.
Ele seguiu o seu raciocínio dizendo que arrependimento e confissão de pecados não são critérios para assentar-se à mesa de Deus no Reino celestial.
Com base no texto de João 1.29, defendeu que o Cordeiro de Deus tirou o pecado do mundo e que isso envolve todos os pecados de todas as pessoas, quer tenham-se arrependido, quer não, de modo que as pessoas podem ser salvas sem a necessidade de arrependerem-se e confiarem em Jesus — uma clara referência à ideia do universalismo em referência à salvação.
Por todo este livro, estamos tratando de assuntos fundamentais para a fé cristã. Estudamos o que alguns críticos do cristianismo utilizam para desacreditar a fé e as respostas baseadas nas Escrituras.
Neste capítulo, trataremos sobre a realidade do sofrimento eterno. Faremos isso a partir das afirmações bíblicas sobre a vida pós-morte, em especial o destino dos ímpios.
Três posições são relevantes em nossa discussão, a saber:
universalismo,
inclusivismo e o
aniquilacionismo.
O universalismo acredita que, de uma forma ou de outra, todos serão absolutamente salvos. Partem de dois pontos principais:
1) Entendem que a salvação vem apenas pela obra redentora de Cristo na cruz, assemelhando-se, assim, aos evangélicos.
2) Aceitam à vontade salvífica universal de Deus, isto é, “Deus quer que todos sejam salvos e cheguem ao arrependimento”. Dentro do universalismo, alguns afirmam que Deus persegue a todos até que se rendam aos seus pés, e isso inclui a Satanás!3
Nesse caso, os universalistas acabam por cometer sérios erros teológicos ao não distinguirem entre a reconciliação objetiva e subjetiva na interpretação de Romanos 5.12-19.
Ou seja, não fazem a distinção entre a obra reconciliadora de Cristo na cruz e a sua apropriação subjetiva pela fé do ser humano, conforme Romanos 5.17.
Uma das bases do universalismo está na noção de que Deus é amor e, por causa disso, jamais permitiria que qualquer uma das suas criaturas perecesse, pois o amor nunca falha e jamais desiste, não sossega enquanto não nos captura com o seu amor.
Dessa forma, um Deus onibenevolente não somente ama a todos nós, como também nos ama o tempo inteiro, tanto nesta vida quanto no porvir.
Não importa o tempo que leve, mas o seu amor alcançará a todos os rebeldes. Um Deus todo-amoroso, no fim de tudo, não falhará em fazer isso.4
Norman Geisler, entre as suas muitas refutações ao universalismo, diz que, “apesar de Deus, de fato amar o mundo (Jo 3.16) e desejar que ninguém pereça (cf 2 Pe 3.9), a sua própria natureza como amor exige que Ele não force o seu amor sobre ninguém (cf. Mt 23.27)”.5
Outro problema está na questão de não compreenderem, de fato, o que significa a condenação divina. Os profetas e Jesus afirmaram que o Inferno é eterno7 (Is 66.24; Mt 25.46), e Paulo reafirmou isso em 2 Tessalonicenses 1.8,9.
Alguns teólogos modernos, para terem as suas mensagens mais aceitáveis aos seus ouvintes, procuram buscar outras compreensões e conceitos para o Inferno — daí os vários problemas que se têm hoje.
A Bíblia, entretanto, afirma que o Inferno é real e é o destino final do Diabo, dos seus anjos e de todos os que praticam a iniquidade, cujos nomes não foram encontrados no livro da vida (Ap 21.8).
Dentre os defensores do livre-arbítrio, não cabe a proposta do universalismo, pois Deus deu ao ser humano a liberdade de escolha, e essa liberdade é a sua servidão. Talvez, para os evangélicos, o inclusivismo seja a opção mais tentadora.
O inclusivismo baseia-se em alguns pressupostos comuns entre os evangélicos, a saber:
1) A vontade salvífica universal de Deus
2) A suficiência da morte expiatória de Jesus
3) A necessidade de um ato de fé em direção a Deus.
Na sua proposta, o inclusivismo ensina até mesmo que o cristianismo é a fé absoluta, o ápice de todas as demais religiões e o referencial pelo qual são julgadas.
Ao mesmo tempo, evita o imperialismo teológico, pois ensina que os crentes em Deus podem ser salvos, mesmo em (não através de) outras religiões.
Morte Eterna
A questão sobre morte eterna é essencialmente exegética, embora com implicações pastorais e teológicas.
Resume-se na compreensão do que Jesus tinha em mente quando disse que os banidos no julgamento final “irão para o castigo eterno” (Mt 25.46); se Ele tinha em vista um estado de tormento que não terá fim, ou um irrevogável fim da existência consciente; em outras palavras (pois assim é colocada a questão), um castigo que é eterno na sua extensão ou no seu efeito.
A corrente cristã principal sempre afirmou o estado de tormento que não terá fim e continua a fazê-lo.11
Há teólogos que têm asseverado que o aniquilamento ocorrerá imediatamente após a sentença de Jesus no Juízo Final após um período de tormento no estado intermediário; alguns têm pensado que cada pessoa banida da presença de Jesus passará por algum tormento, proporcional em intensidade e extensão ao que cada um merece, até que venha o momento da aniquilação.
Outros, no entanto, baseiam o seu aniquilacionismo numa antropologia adaptada. Eles argumentam que uma existência eterna não é natural; e que, pelo contrário, desde que nós somos seres pessoais (almas), que vivem por meio de corpos, a separação entre a alma e o corpo extinguirá a consciência.
Então, depois de nossa separação inicial (a primeira morte), não há um estado intermediário, apenas uma inconsciência que continuará até a ressurreição, e depois de os descrentes ressuscitados serem banidos da presença de Cristo, as suas consciências finalmente cessarão (a segunda morte) quando os seus corpos ressurretos deixarão de existir.
A expressão imortalidade incondicional foi cunhada para mostrar que a existência após a morte que as religiões imaginam e que a maioria, senão todas, deseja é uma dádiva que Deus concede somente aos crentes, enquanto Ele, cedo ou tarde, simplesmente extingue o resto de nossa raça.
A existência eterna está, portanto, condicionada à fé em Jesus Cristo, e a aniquilação é a alternativa para os demais.12
Entretanto, alguns aniquilacionistas afirmam que há um estado intermediário consciente, com alegria para os santos e sofrimento para os ímpios, como sempre foi o consenso da Igreja.
A Ideia Cristã do Inferno
Não se trata de um conceito isolado de sofrimento apenas por sofrimento (a divina “selvageria”, “sadismo”, “crueldade” e “vingança” do qual os aniquilacionistas acusam os crentes que declaram o Inferno eterno13);
mas uma noção biblicamente formada por três misérias equivalentes, que são:
1. A exclusão da presença de Deus – Em castigo e com destruição dos que, ao negarem as misericórdias de Deus, já rejeitaram o Pai e o Filho no coração.
Assim, a justiça do juízo final de Deus, que Jesus administrará, de acordo com o evangelho, está firmada em duas bases:
primeiro, o fato de que o que as pessoas recebem não é apenas o que elas merecem, mas o que elas, na verdade, escolheram — isto é, existir para sempre sem Deus e, consequentemente, sem nenhum dos bens que Ele concede;
segundo, o fato de que a sentença é proporcional ao conhecimento da Palavra, obra e vontade de Deus, que foram desconsideradas (Lc 12.42-48; Rm 1.18-20,32; 2.4,12-15).
2. A condenação é uma retribuição moral – De acordo com o evangelho, o Inferno não é uma selvageria imoral, mas uma retribuição moral; logo, discussões sobre a sua extensão devem ocorrer dentro desse quadro.
De fato, o único significado natural dos termos “morte”, “destruição”, “fogo” e “trevas” no Novo Testamento como indicadores do destino dos ímpios seria de que tais pessoas deixariam de existir.
Mas tal afirmação, quando submetida à prova, mostra estar errada. Para os evangélicos, a analogia das Escrituras, isto é, o axioma da sua coerência e consistência intrínsecas e a sua capacidade de elucidar, ela mesma, os seus ensinos, é uma regra para toda interpretação.
Então, embora haja textos que, tomados isoladamente, podem conter implicações aniquilacionistas, há outros que, de forma alguma, podem encaixar-se nesse esquema.
Enfim, nenhuma teoria que se propõe a explicar o significado da Bíblia e não abrange todas as suas principais declarações pode ser verdadeira.
3. Estado de privação – Judas 6 e Mateus 8.12; 22.13; 25.30 mostram que as trevas significam um estado de privação e aflição, mas não de destruição no sentido de deixar de existir.
Somente os que existem podem chorar e ranger os seus dentes, como é dito dos que serão lançados nas trevas.
Esse estado deve ser entendido dentro das palavras de Jesus sobre o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos (Mt 25.41).
O “castigo eterno” é posto em contraste com a “vida eterna” (Mt 25.46). A morte é um estado, e não apenas um acontecimento. O apóstolo Paulo diz que “a inclinação da carne é morte” (Rm 8.6). Ou seja, ele não diz que a inclinação da carne causa a morte, mas diz que tal inclinação é a morte.
CONCLUSÃO
A terminologia que Jesus utilizou define Inferno como um fogo literal (Mt 5.22,30; 13.29,30). A história de Lázaro e do rico indica que o Inferno será um lugar de tormento em fogo (Lc 16.23-28).
Além disso, o Inferno é descrito como um lugar de trevas (Mt 25.30), sugerindo um lugar de punição, onde o inútil (aquele que não tem) é removido para longe do Reino, devendo ser compreendido como um lugar de punição futura, sendo as trevas o oposto da glória de Deus no Céu (Ap 22.5).
Somos desafiados diariamente em relação à mensagem a ser pregada. A pressão de uma sociedade permissiva aumenta a cada dia.
A ideia da “hermenêutica do amor”, em que tudo é tolerado, ignora que o Deus que é amor também é santo, justo e fogo consumidor.
Não se pode “escolher” uma parte desse Deus. Para que haja relevância da mensagem da igreja no meio em que está inserida, ela precisa seguir os princípios bíblicos, oferecendo um porto seguro em Deus a uma sociedade sem rumo e sem ética, deixando expresso, sem nenhuma dúvida, o fim que aguarda os que não se deixam moldar pela Palavra de Deus.
Professor(a), para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: ALVES, Eduardo Leandro. A Prova da Vossa Fé: Vencendo a Incredulidade para Uma vida Bem-Sucedida. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.
Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2023/12/19/licao-13-fe-para-crer-na-realidade-do-sofrimento-eterno/