INTRODUÇÃO
Se profecias não são contos de fadas, o que são contos de fadas? Contos de fadas são histórias que possuem conceitos sobre a moral em que animais falam e seres não humanos relacionam-se com o cotidiano.
Recorro às definições de Simone Campos Reis,1 na sua Tese de Doutorado, que apresenta que os contos de fadas são narrativas com ou sem a presença das fadas (mas sempre com o maravilhoso).
Os seus enredos desenvolvem-se dentro da magia, com reis, rainhas, príncipes, princesas, fadas, gênios, bruxas, gigantes, anões, objetos mágicos, metamorfoses, tempo e espaço fora da realidade conhecida, tendo como eixo gerador uma problemática existencial.
Os contos de fadas garantem que as dificuldades podem ser vencidas, as florestas, atravessadas, os caminhos de espinhos, desbravados, e os perigos, superados, por mais fraco e insignificante que seja quem pretende vencer na vida.
Todo aquele que se sente desprotegido sente que pode ser capaz de vencer os seus secretos medos e as suas evidentes ignorâncias.
O período em que vivemos visa desacreditar a fé cristã. Isso ocorre por meio de severos ataques às Escrituras por meio da criação de métodos hermenêuticos que, no afã de buscar atualizar a leitura da Bíblia para o tempo atual e as suas inquietações e demandas sociais, na verdade acaba por diluir a Verdade que emana das suas páginas.
Neste capítulo, não estudaremos sobre contos de fadas (belas histórias com conceitos morais), mas sobre a profecia bíblica. Estudaremos sobre o profetismo no Antigo Testamento, o dom de profecia e a responsabilidade da Igreja como portadora da mensagem profética.
Neste capítulo, veremos questões ligadas ao método e princípios de interpretação das profecias bíblicas, abrangendo também algumas propostas que visam analisar o texto bíblico como uma obra literária na qual o sentido do texto está relacionado ao leitor, e não ao autor.
Seguimos este capítulo com a convicção de que as profecias fazem parte da revelação que Deus dá ao seu povo, e não um conto de fadas com conteúdo de moral.
Os Profetas
Com os profetas, o Antigo Testamento alcança o seu ponto mais alto, seja como valor espiritual absoluto, seja como preparação para o Novo Testamento.
Agora, quem eram esses homens? Os profetas eram homens que Deus investia diretamente do seu Espírito para uma missão espiritual no meio do seu povo, em tempos difíceis, de perigo ou de necessidade religiosa e moral. Tornavam-se guias espirituais do povo de Israel.
Da mesma forma como, anteriormente, os juízes suscitados por Deus eram os chefes políticos e militares, os libertadores no tempo de aflição. O profeta era o “contrapeso” entre a realeza e o sacerdócio.
Inicialmente, ele prestava contas a Deus, pois o seu ministério (vocação) não dependia da tribo em que nasceu, nem da posição social e nem da qualidade intelectual, mas ocorria devido a um ato soberano da escolha de Deus.
Embora tenham existido pessoas dotadas de espírito profético desde as origens do povo hebreu (Gn 20.7; Nm 11.25-26; Dt 34.10), é somente a partir de Samuel que esses homens inspirados por Deus e por Ele enviados ao povo aparecem com mais frequência, a ponto de chegarem a formar uma cadeia ininterrupta durante cerca de seis séculos (aproximadamente desde 1050 a 450 a.C., 1 Sm 3.1).
Considerando o exercício do ministério profético, esse longo intervalo de tempo divide-se em dois períodos sensivelmente iguais.
Nos três primeiros séculos, isto é, até por volta de 750 a.C., temos os profetas de ação, como, por exemplo, Elias (1 Rs 17–2 Rs 2), que pregam energicamente, mas não deixam livros escritos, ao passo que os profetas escritores viveram todos nos séculos seguintes: são os profetas cujas mensagens foram transmitidas por escrito e chegaram até nós.
Esses últimos costumam ser divididos, com base na extensão dos seus escritos, em duas categorias: Profetas Maiores e Menores.
Veja bem, essa divisão de menores e maiores não é em relação à relevância da mensagem, e sim do tamanho do conteúdo dos seus respectivos livros.
Os Maiores são, por ordem cronológica, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Os Menores, em número de doze, foram por algum tempo reunidos num só volume, em ordem aproximadamente cronológica, ou, ao menos, no que se acreditava ser a cronologia correta. Tanto os profetas de ação como os escritores tinham como principais objetivos:
1) defender a pureza do monoteísmo (do culto a Javé) contra as contaminações ou infiltrações idólatras;
2) exortar o povo à santidade dos costumes, exigida pela Lei divina;
3) combater as desordens sociais, principalmente a opressão dos humildes;
4) opor-se ao formalismo religioso, demonstrando a necessidade de ter um espírito sincero sobre os ritos externos (cf. Is 1);
5) anunciar a cada cidadão e a toda a nação os justos castigos de Deus em consequência dos pecados cometidos;
6) oferecer a perspectiva de um futuro melhor, fruto do arrependimento, salvação futura, geralmente demonstrada na gloriosa esperança da cidade santa Jerusalém e da vinda do Messias (Is 53; 66).
Ao passarem, pois, da pregação oral para a escrita, esses “homens de Deus” (1 Sm 2.7; 9.6; 1 Rs 13.1; 17.18; 2 Rs 4.7, etc.) recebiam um dom especial de inspiração, que dava aos seus escritos o valor de livros sagrados, dignos de ser inseridos no Cânon das Escrituras.
Essa inspiração recebe esse caráter específico do seu termo, a escrita, que faz com que a palavra seja fixa, duradoura e imutável, o que a expressão oral não é (devido a possíveis mudanças na transmissão da mensagem oral).
A Profecia no Novo Testamento
O Novo Testamento apresenta dois testes a serem aplicados a qualquer declaração profética:
1) Havia o teste da experiência de outros profetas presentes. Diz o apóstolo Paulo: “e os outros julguem” (1 Co 14.29). Ou seja, a declaração profética deveria ser sujeita a um exame com base no critério do conhecimento que possuíam de Deus e da sua verdade.
2) O teste do profeta, ou de qualquer pessoa que julgue apresentar reivindicação de espiritualidade é expresso pelo apóstolo da seguinte forma: “reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo” (1 Co 14.37,38, ARA).
Qualquer palavra à parte do mandamento do Senhor deve ser rejeitada. Ou seja, os profetas não eram (e nem são!) fontes de “novas verdades”, “novas revelações”, “nova unção” a serem apresentadas à Igreja, mas são meros expositores da verdade revelada do próprio Deus.
Uma orientação que certamente os apóstolos fariam pessoalmente aos crentes de nossa geração (mesmo àqueles que zelosamente buscam o dom de profecia) era que não desejassem a notoriedade de inovadoras doutrinas, mas, antes, que fossem zelosos em anunciar a Verdade da fé uma vez entregue aos santos.
Embora o movimento dos cessacionistas insista em dizer que os dons cessaram com os apóstolos, a Bíblia em si nunca tratou o dom de profecia como algo temporário.
Caso o dom de profecia fosse temporário, seria, no mínimo, intrigante que o apóstolo Paulo dedicasse um capítulo inteiro, 1 Coríntios 14, aos dons de profecia e falar em línguas. Há, portanto, profetas e profetisas no seio da igreja nos dias de hoje!
O fato de existirem exageros e abuso da boa-fé das pessoas por parte de alguns não retira o fato de que o dom de profecia, conforme descrito acima na Declaração de Fé das Assembleias de Deus, é algo real e abençoador que Deus concede para a edificação do Corpo, a Igreja.
Além disso, a Igreja é uma voz profética! O profetismo como conhecemos no Antigo Testamento findou-se com João Batista. No entanto, assim como os profetas da Antiga Aliança, a Igreja possui uma mensagem profética que emana das Escrituras com vistas a ser a voz de Deus na sociedade em todos os tempos até que Cristo venha.
Entendendo a Profecia Bíblica
Os princípios a serem utilizados na interpretação de profecias são os mesmos utilizados na interpretação geral das Escrituras. O Dr. Grant Jeffrey (1948–2012) resume essas questões da seguinte forma:
1) Toda a Escritura deve ser entendida de acordo com o seu sentido literal, usual e comum, com exceção do contexto no qual seja indicado claramente que a declaração seja simbólica;
2) A interpretação da linguagem simbólica é normalmente esclarecida pela referência a outras passagens bíblicas;
3) Deus profetizou consistentemente e marcou tempos definidos para Israel e para as nações que foram cumpridos com impressionante precisão. Deus sempre tratou com Israel em termos de períodos específicos e em referência à Terra Prometida.
4) A Escritura não especifica o dia e a hora do arrebatamento;
5) A mensagem do profeta é para o seu próprio tempo e para as gerações que se seguem. O propósito não é apenas oferecer informações, mas também desafiar nosso comportamento e as prioridades na vida;
6) Deus nunca abandonou o seu eterno pacto com Israel;
7) Jesus retornará para inaugurar o seu Reino messiânico, há muito aguardado.
Há muitas pessoas que acreditam que as profecias da Bíblia devem ser interpretadas alegórica ou simbolicamente, desprezando a interpretação literal.
Em questões de profecias escatológicas, por exemplo, muitos afirmam que não é possível utilizar-se de métodos que levam a uma interpretação literal, pois induziria ao erro na interpretação. No caso desse texto, defendemos o método hermenêutico histórico-gramatical.
Não “sacralizamos” o método, pois, como método, obviamente, é uma tentativa humana de compreender as verdades do texto bíblico.
Embora possamos utilizar outros métodos no estudo, como, por exemplo, o método histórico-crítico, faço a opção pelo método histórico-gramatical, entre tantas questões, porque ele parte do princípio de que o texto é a inspirada, suficiente e inerrante Palavra de Deus.
CONCLUSÃO
Sabemos que há uma “guerra” pelas consciências. Muitas coisas hoje em dia são escritas, faladas, mas que não possuem uma relação de devoção a Deus e à sua Palavra, que é quem nos orienta como uma bússola no caminho para a salvação eterna.
Repito, portanto, o conselho de Paulo a Timóteo: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.14-17, ARA).
Não duvide da Palavra de Deus. Não duvide das profecias como se fossem ditas por vontade humana. Não perca de vista o amor de Deus por você, pois Ele enviou o seu Filho para salvação de todo aquele que crer, dando-nos também a sua Palavra escrita para guiar-nos na jornada, e as profecias cumprem o seu papel de consolar, edificar e exortar.
Professor(a), para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: ALVES, Eduardo Leandro. A Prova da Vossa Fé: Vencendo a Incredulidade para Uma vida Bem-Sucedida. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.
Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2023/11/09/licao-7-fe-para-crer-que-deus-fala-por-meio-da-profecia/