INTRODUÇÃO:
Depois de realizar grandes feitos, ser admirado e seguido por toda a nação, devolver a paz e estabelecer um grande poderio militar aos israelitas, Davi agora está vivendo uma vida mais “tranquila”, sendo respeitado pela sua integridade e dependência divina, tendo na sua vida a confirmação das promessas do Senhor e a certeza de que havia muito ainda a ser feito.
Ele já passou por muitas situações até chegar aqui, e tudo isso serviu para moldar o homem de Deus. Chegamos ao ponto culminante na carreira de Davi como rei; não estamos, portanto, falando de uma pessoa comum.
Foi logo após a vitória de Davi contra os amonitas que, infelizmente, se iniciou a queda desse rei. Os eventos que vemos registrados no capítulo 11 de 2 Samuel mostram as consequências trágicas das decisões que foram tomadas pelo monarca.
É a partir daqui que o declínio da casa de Davi tem início, manchando a glória do seu reino com as suas ações pecaminosas. Como um erro acaba levando a outro, o pecado de Davi não parou aí, e ele tenta esconder o seu pecado e, sem êxito, articula a morte de Urias, o marido traído.
Em síntese, um alerta a todos nós: mesmo servindo ao Senhor e vivendo o cumprimento de promessas, não estamos imunes à nossa natureza pecaminosa. Devemos estar sempre vigilantes e focados na direção divina para nossa vida. Davi, mesmo sendo um monarca bem-sucedido e um homem segundo o coração de Deus, era um ser humano, sendo esse o motivo que o fez pecar.
No Lugar Errado, na Hora Errada:
O capítulo 11 de 2 Samuel começa narrando o período do ano em que era comum os reis saírem para a guerra. Estudiosos afirmam que a estação da primavera era um bom momento para guerrear porque a estação das chuvas, o inverno, já tinha passado, e as estradas estavam secas, o que tornava a viagem mais fácil para as tropas e os suprimentos.
Foi nesse período que Davi envia Joabe, com o seu exército, para Rabá, e permanece no seu palácio nesse primeiro momento da batalha, que poderia durar muitos dias até a batalha decisiva
Um cerco bem-sucedido a uma cidade poderia levar meses, talvez por isso Davi escolheu ficar mais tempo no seu palácio, possivelmente para descansar, especialmente numa época do ano que, pelo fato de ser mais quente, era possível ele ficar recebendo o sopro da brisa suave no telhado reto do seu palácio, onde, devido à arquitetura, era possível ter temperaturas mais amenas, além de proporcionar uma vista privilegiada de grande parte de Jerusalém.
Fazendo o que Era Errado:
Os olhos de Davi já o haviam traído, o coração já estava envolto em pecado, e a sua mente já desejava a mulher alheia. Só faltava concluir a sua jornada em queda livre.
As Escrituras Sagradas não escondem os erros dos seus maiores personagens, mostrando que são seres humanos sujeitos às paixões da carne. Mas qual o propósito de a Bíblia registrar esse “fracasso” de Davi? Por que motivo Deus permitiria que o seu servo, segundo o seu coração, sofresse essa terrível queda?
Qual lição essa parte da história da vida de Davi (que envolve um erro e, depois, um plano macabro de assassinato) quer nos passar?
Não podemos deixar de considerar que há um interesse teológico por trás dessa narrativa, mostrando a maneira como Deus age na história objetivando cumprir as suas promessas e demonstrar a sua soberania. Vemos isso em outros relatos históricos do povo de Israel, em especial ao destaque que se dá ao fracasso e à infidelidade da nação em vários períodos da história.
Flertando com a Tentação:
Os dias estavam favoráveis, e o reino estava consolidado; tudo estava encaminhado, e, diante disso, Davi começava a descuidar-se de si mesmo e da sua família. Com a vida espiritual negligenciada, ele abriu as portas da sua alma para as tentações.
A ociosidade, a omissão e a pouca vigilância foram promovendo no rei uma tolerância aos alertas e perigos diante da tentação. A Palavra de Deus ensina-nos sobre a necessidade de estarmos sempre vigilantes e fugirmos do mal (1 Ts 5.22). Davi fez o contrário: mesmo diante das advertências, aproximou-se mais ainda, flertando com a tentação. E caiu.
Mas Davi pôde cair, mesmo tendo um relacionamento próximo com Deus? Essa queda não poderia ter sido evitada pelo Senhor?
Alertas não poderiam ter sido enviados? Mais uma vez, em lugar de inflar e supervalorizar apenas os grandes feitos de Davi, o relato bíblico busca mostrar que somos frágeis e não temos força de flertar tão próximos com o pecado e sairmos ilesos, limpos e inocentes, como se nada tivesse acontecido.
O cristão não deve ignorar os perigos ao longo da caminhada. Como filhos de Deus, somos sempre alertados pelo Espírito Santo diante das possibilidades de cairmos. Para isso, é necessário aceitar o alerta e, diante da tentação, tomar a atitude correta (2 Tm 2.22).
Quando questionamos por que Deus permitiu esse pecado na vida de Davi, é importante destacar que a interação entre o homem e Deus envolve dizer que não somos como bonecos na mão divina, embora Ele seja soberano, pois nos dotou de livre-arbítrio; por isso, a natureza humana pecaminosa manifesta-se quando estamos mais vulneráveis, mais próximos de nossas paixões carnais do que próximos do Senhor.
Por essa razão, devemos guardar nosso coração, pois a prática física do pecado é só a conclusão de um ato que já iniciou no coração. Diante disso, cultivemos sempre um coração puro e desejoso da presença divina.
Em tempos de calmaria, corremos o risco de relaxarmos a atenção aos perigos, porém não podemos ser assim na vida espiritual. Estejamos sempre vigilantes.
COMO VENCER AS TENTAÇÕES?
Um Exemplo que não Deve Ser Seguido
Davi era um homem de Deus (2 Cr 8.14), mas isso não o qualifica como alguém invulnerável ou imune em relação ao pecado. Devido à sua natureza humana, Davi estava sujeito ao pecado como qualquer outro ser humano. Definitivamente, ele não era um exemplo, nesse sentido, a ser seguido.
Quantas pessoas não colocam as suas referências e espelham-se em outras pessoas, e, quando estas caem, muitos perdem a fé porque se iludiram pensando haver seres humanos perfeitos.
Precisamos ter consciência de que não temos força suficiente para flertar com o pecado e não podemos colocar nossa confiança e nossos padrões em seres humanos como nós, pois apenas Jesus Cristo (Filho de Davi pela sua ascendência humana), que era Deus, não estava sujeito a pecar (Hb 4.15; 1 Pe 2.21,22).
Devemos olhar apenas para Cristo e deixar “todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” (Hb 12.1,2).
Se nos entregarmos às tentações, também amargaremos com a sequência dos fatos. Deus tem o melhor para nós, mas precisamos desejar e buscar viver o que o Ele tem preparado para nossa vida (1 Co 2.9-10; Jr 29.11).
Bate-Seba, viúva e grávida, foi acolhida na corte e feita esposa do rei. Tudo parecia resolvido, mas a sucessão de mentiras continuou. O pecado parecia escondido aos olhos do povo, porém jamais aos olhos de Deus (2 Sm 11.27). A mentira nunca é um bom caminho e somente agrava o que já é difícil (Jo 8.44; Sl 101.7; Ap 22.15).
Assim como o episódio da unção de Davi foi um marco na sua vida, infelizmente esse episódio também divide a vida de Davi. As consequências do seu pecado reverberaram de formas terríveis.
Ele teve uma filha violentada pelo meio-irmão; um filho assassinado pelo meio-irmão como vingança do ato de violência sexual; a usurpação do trono real por dois filhos em dois momentos diferentes; e um filho que abusa das suas concubinas.
Buscando Socorro:
Curiosamente, Davi não se arrependeu logo do seu pecado. Pelo contrário. Um pecado foi levando ao outro até culminar no assassinato de Urias.
Muitas foram as oportunidades para que Davi buscasse o arrependimento e encerrasse a sucessão de tragédias, mas, diante da “cegueira” espiritual do rei, foi preciso que o Senhor enviasse o profeta Natã para alertar acerca do quão inaceitável era aquela situação (2 Sm 12). O arrependimento de Davi vem a partir desse momento.
A história seria totalmente diferente se Davi tivesse procurado socorro no lugar certo (Ef 6.11-12), mas ele, além de ceder às tentações, refugiou-se em pecados sucessivos, piorando ainda mais a sua situação (Pv 14.15; 22.3).
Quando formos tentados, ou ainda passarmos por apuros, sigamos os conselhos do “salmista do deserto”, e não aquele do “conforto de uma residência oficial”. Confiadamente, declamemos as preciosas verdades deste salmo escrito em um contexto de tanto sofrimento: “Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra” (Sl 121.1,2).
A resposta à tentação não é ignorá-la ou buscar a indiferença; se fizermos isso, provavelmente cairemos em pecado. O que devemos fazer é: apegarmo-nos às promessas bíblicas (Sl 119.11), invocá-las pela fé no Senhor e, com confiança, descansarmos no livramento que virá do alto (1 Co 10.13; Ef 6.13). Em Cristo, somos mais do que vencedores (Rm 8.37).
As Fontes das Tentações:
Existem três fontes básicas de onde procedem as tentações: o Diabo, o mundo e a carne. Independentemente de onde elas venham, o Senhor claramente nos ensina, fortalece e encoraja para que possamos ter a vitória (2 Ts 2.16-17; Hb 12.10-12; Pv 18.10).
A primeira fonte de tentação é o Diabo, ou seja, a tentação que não vemos. Nosso inimigo está continuamente criando armadilhas a fim de derrubar cada um de nós; por isso, devemos estar vigilantes (1 Pe 5.8-9).
São tentações variadas que começam com um pensamento ou uma situação e, se não tomarmos a atitude correta, seremos levados à ruína. A Bíblia ensina-nos a resistir às investidas malignas e a confiarmos no Senhor (Tg 4.7).
A segunda fonte de tentação é o mundo, isto é, a tentação que vem de fora. Muitos são vitimados pelo amor ao mundo e o que nele há (1 Jo 2.15). A Bíblia ensina-nos que não devemos amar o mundo, nem nos conformarmos com ele (Rm 12.2). A sedução pela ótica mundana é um grande perigo e tem afastado muitos da vontade divina (Et 5.9; 2 Rs 5.20-27).
A terceira é a carne, a saber, a tentação que vem de dentro de nós (Rm 7.18-19). Davi deixou-se ser dominado pela carne e, por isso, pecou (1 Co 6.18).
Mesmo a tentação não sendo um pecado isoladamente, a proximidade intencional com essa tentação levará à derrota (Gl 5.19-21). Se não fugirmos dessa tentação, logo o pecado ganhará a batalha. Para vencermos os desejos da carne, precisamos ser conduzidos pelo Espírito Santo (Gl 5.16).
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Telma Bueno
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: Davi: de Pastor de Ovelhas a Rei de Israel. Fé e ação em meio às adversidades da vida. Rio de Janeiro: CPAD, 2025.
Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2025/06/13/licao-11-davi-no-lugar-errado-e-na-hora-errada/
Vídeo: https://youtu.be/_SSZE1mBqmI