INTRODUÇÃO
A Bênção da Paz com Deus (Rm 5.1)
O ímpio não tem paz porque vive na prática do pecado (Is 57.21; 58.22; Sl 73.3; Sl 28.3). A consciência do ímpio está constantemente o acusando pelos seus pecados. Todo pecado tem a sua consequência, e o ser humano não tem como não responder pelos seus atos.
Em determinado momento, “a vida” irá cobrar pelos atos cometidos. O mal trará consigo os seus aborrecimentos, enquanto o ato de bondade trará consigo a recompensa da paz.
Inúmeras pessoas gostariam de voltar atrás, em momentos específicos das suas vidas para fazer tudo diferente. São, talvez, pessoas que estejam sofrendo por terem-se entregado à prática do pecado, bem como terem feito outras pessoas sofrerem também. Feliz é o ser humano que tem paz consigo e com Deus.
A pessoa que foi justificada em Cristo é santificada (santificação inicial), e os seus pecados não lhe são mais imputados, e ela é reconciliada com Deus (2 Co 5.18,19), não sendo mais cobrada pela sua consciência, pois os seus pecados foram limpos no sangue de Jesus derramado na cruz. Aquela pessoa que era inimiga e separada de Deus torna-se amiga e herdeira dEle.
Essa reconciliação traz a paz com o Senhor, pois o castigo a que estávamos condenados é imputado sobre Jesus, que nos traz a paz (Is 53.5).
O sacrifício de Jesus derrubou a parede que separava o ser humano de Deus (At 10.36; Ef 2.14), sendo a humanidade religada (significado de religião) a Ele. Essa paz é mantida com a santificação contínua e progressiva. A paz com Deus é somente para os que conservam a sua vida em constante comunhão com Ele (Is 26.3; Jo 14.27; Fp 4.7).
A Bênção do Acesso Constante à Graça de Deus (Rm 5.2a)
Somente em Jesus pode ser evidenciada a gratuidade da justificação, santificação e regeneração, pois somente Ele é quem pode redimir o pecador da sua condição no tribunal de Deus (Rm 3.24). Uma vida de pecado conduz o ser humano à morte.
Trata-se de uma vida de opressão debaixo da culpa e da solidão espiritual; contudo, na justificação e a santificação, aplica-se a justiça para a vida eterna por meio de Cristo (Ef 2.5-8, Rm 5.21).
Semelhantemente à vitória de Cristo sobre a morte por meio da sua ressurreição, o cristão que mantém a sua santidade vence a morte que traz o pecado e ressurge vivificado juntamente com Cristo; tudo isso pela graça de Deus (Ef 2.6).
Essa graça de Deus, acessada somente pela fé (Ef 2.18; Rm 4.12; Hb 4.16), é que fortalece o crente por não estar mais debaixo da Lei, nem do domínio do pecado (Rm 6.14,15).
Somos o que somos pela graça de Deus (1 Co 15.10); por isso, devemos ser gratos a Deus por tudo. O que o ser humano recebe gratuitamente e como presente não pode servir para a sua vanglória, mas, sim, para reconhecer a sua inteira dependência dessa graça tão gloriosa que transforma a perspectiva de vida de um pecador justificado.
A Esperança da Glória de Deus (Rm 5.2b)
A pessoa que vive no caminho da santidade é bem-aventurada, pois nela repousa a grande esperança da manifestação da glória de Deus (Tt 2.13).
Muito diferente de uma pessoa que leva a vida à margem da Bíblia, alimentada de alegrias e motivações efêmeras e passageiras.
Os justificados são transformados de glória em glória (2 Co 3.18), ou seja, tornam-se já participantes da glória de Deus como herdeiros juntamente com Cristo, para também com Ele serem glorificados (Rm 8.17).
A sua esperança não é somente para um mundo futuro, mas quem entende a verdade do evangelho desfruta da glória de Deus já no momento presente.
Vive uma vida feliz por meio da alegria como fruto do Espírito, com a certeza da presença de Deus na sua jornada terrena. Todavia, a maior esperança é para uma vida eterna com Deus.
Essa é a grande diferença entre ser criatura e ser filho de Deus. A primeira condição é genérica, sendo característica natural de tudo e todos os seres criados; já a segunda é somente para os que foram justificados e santificados em Cristo.
Que privilégio receber como presente de Deus um corpo glorificado, uma vida eterna sem os aborrecimentos e aflições que afligem a humanidade no tempo presente.
A Bíblia informa que ainda não sabemos como haveremos de ser, porém clarifica que seremos semelhantes a Cristo glorificado e adverte-nos para mantermos essa condição, possível somente por meio da manutenção da obediência (1 Jo 3.1-3).
Assim, essa esperança que extrai lágrimas dos olhos dos crentes ao pensar na glória futura é uma benção imensurável que acompanha os santificados em Cristo.
As Tribulações Conduzem à Maturidade (Rm 5.3,4)
No caminho para a glória citado antes (Rm 8.17), inevitavelmente estão as tribulações e aflições. Jesus não prometeu uma vida sem conflitos; antes, afirma categoricamente que passaríamos por aflições (Jo 16.33).
Seria fácil o evangelho se, com a conversão, as tribulações e aflições também deixassem de existir como o pecado perdoado. No entanto, não é assim.
Todas as pessoas passam por momentos indesejáveis, só que existe uma grande diferença em como o ímpio e o salvo encaram as aflições e tribulações.
O crente que tem maturidade espiritual consegue passar por esses momentos dando exemplo de fé e superação, enquanto o ímpio ou o que é fraco na fé tem atitudes incoerentes com a fé cristã, chegando até mesmo a blasfemar contra Deus, o Senhor.
A própria história do povo de Israel demonstra como as tribulações serviram-lhe para a maturidade espiritual (Dt 8.15,16).
Os maiores exemplos foram os exílios: o primeiro quando Israel ainda não era uma nação, e o povo serviu como escravo no Egito; o segundo exemplo foi o exílio babilônico, em que Judá era uma grande nação, mas os seus principais símbolos são destruídos (o Templo, a cidade de Jerusalém fortificada, entre outros).
O povo de Israel estava sofrendo as consequências pelos seus atos; todavia, muitos judeus justos sofriam juntamente com os desobedientes.
Ao fim do exílio, muitos judeus puderam rever as suas vidas, alguns renovando os seus votos de aliança, outros fortalecendo cada vez mais a sua confiança em Deus, reconhecendo a sua fidelidade, independentemente das circunstâncias.
A caminhada do cristão não é diferente. Paulo assevera que as tribulações produzem perseverança, experiência (caráter aprovado) e esperança que não confunde.
Portanto, quando você pede a Deus mais experiência e esperança, mesmo que inconscientemente, está pedindo por mais aflições, que te levarão à experiência, que, por sua vez, lhe trará esperança.
É um processo contínuo de causa e efeito. Tiago (Tg 1.2-4,12) afirma que é motivo de alegria passar por várias provações, pois é por meio delas que se obtém experiência, com vistas a alcançar a coroa da vida, prometida aos que amam a Deus, o Senhor.
O Crente, nas Tribulações, Tem a Certeza do Amor de Deus (Rm 5.5)
Um texto bem conhecido da Carta aos Romanos é a perícope de Romanos 8.35-39. Nesse texto, o apóstolo relaciona uma série de intempéries indesejáveis na vida de um ser humano, mas conclui que mesmo essas coisas não são suficientes para separar uma pessoa salva de Deus.
Quantos exemplos existem na Bíblia de pessoas que abriram mão de praticamente tudo de valor que tinham ou poderiam ter, inclusive a própria vida, constrangidas pelo amor de Deus. Basta ler o capítulo 11 da Carta aos Hebreus que apresenta a conhecida galeria dos heróis da fé para constatar isso.
Os discípulos de Jesus, logo após a sua ascensão, experimentaram esse gozo no sofrimento. Os relatos no livro de Atos sobre a alegria dos discípulos por sofrerem pelo nome de Cristo assustam alguns leitores da Bíblia.
Como pode um ser humano sentir-se feliz por estar sofrendo prisões, acoites, desprezo, entre outras aflições? A experiência que os discípulos tiveram com Jesus durante o seu ministério terreno e o contato com o Cristo já glorificado foram muito impactantes na vida deles.
O sofrimento não tirava o foco deles em pregar o evangelho que liberta os oprimidos pelo pecado. Eles estavam cada vez mais maduros e confiantes em Deus. Brunner (2007, p. 67) afirma que “a tribulação contribui para o fortalecimento, para a perseverança e para a constância. Prova agora que fé não é imaginação, mas realmente ‘o poder de Deus’. A nova posição prova-se como vida nova”.
Quem mantém a sua fidelidade a Deus, independentemente das circunstâncias, pode perceber o amor dEle, a exemplo do grande Mestre Jesus.
Ele, no Getsêmane, sentindo a dor do cálice a ser tomado, questiona esse abandono, mas no fim submete-se à vontade de Deus por saber que tudo era por amor, inclusive a sua morte.
Que o exemplo do povo de Israel, dos discípulos e, principalmente, de Jesus sirvam para fortalecer nossa fé em Deus e ajudar a perseverarmos em nossa caminhada cristã, em santidade, rumo à vida eterna com o Senhor Deus.
O Amor de Deus É Provado pela Morte Vicária de Cristo (Rm 5.5-8)
É o Espírito Santo que nos faz perceber o amor de Deus para conosco (v. 5). Amor este que pode ser evidenciado pela doação de Deus, mesmo sabendo que não tínhamos possibilidade de retribuir esse amor por sermos fracos (v. 6).
O apóstolo afirma que morrer por algum justo não seria considerado algo tão incomum (v. 7), pois há vários registros ao longo da história de pessoas que deram a sua vida por uma pessoa amada, um líder carismático ou uma causa maior.
No entanto, um justo morrer em benefício de injustos e pecadores, isso nunca havia sido visto; era algo humanamente inconcebível. Por isso, a grande demonstração de amor de Deus pela humanidade é o fato de Cristo ter morrido por nós, sendo nós ainda pecadores (v. 8).
A essência do amor é dar, como registra o texto áureo do Evangelho de João: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
A intensidade desse amor é definida pelo quanto custa a doação e o quanto o recebedor é digno da doação recebida. Stott (2003, p. 167) afirma que “quanto mais custa o presente ao doador, e quanto menos o receptor o merece, tanto maior demonstra ser o amor. Medido por esses padrões, o amor de Deus em Cristo é absolutamente singular […]”.
Quem era o ser humano para que Deus desse tamanho presente a ele? Quanto custou para Deus entregar o seu próprio filho pela humanidade?
Os primeiros capítulos da Carta aos Romanos apresentam a situação da humanidade: indesculpável, miserável e sob a ira de Deus. Mesmo assim, Deus entregou o seu filho para salvá-la.
O exemplo de doação de Cristo evidencia que não tem como mensurar o amor de Deus pela humanidade. O crente deve ter em mente esse amor, principalmente nos momentos de tribulações, sabendo que muito maior sofrimento Jesus passou para que fôssemos justificados e participantes da glória presente e da glória que haveremos de ter. Por isso, vale a pena manter ativa a vida em santidade e comunhão com esse Deus de amor.
A Salvação no Passado, Obtida com a Santificação Inicial
Como é grande a satisfação de saber que um dia no passado tivemos o privilégio de experimentar a justificação mediante a fé em Jesus Cristo, a santificação e a regeneração, conforme a mensagem pregada por Paulo. O que seria de nós se não tivéssemos feito essa decisão? Onde estaríamos hoje? Quem seríamos? Estaríamos vivos ou não?
Certamente não seríamos melhores do que somos, pois, acima de tudo, estaríamos na condição de pecadores condenados ao julgamento da ira de Deus, na condição de inimigos (Rm 2.5; 3.5; 5.9).
Fomos reconciliados com Deus quando ainda éramos os seus inimigos devido aos nossos pecados. Fomos reconciliados gratuitamente, sem nenhuma condição prévia a não ser a fé em Jesus. Por isso, agora temos paz com Deus, estamos firmes na sua graça e gloriamo-nos na esperança e em nossos sofrimentos pela certeza do amor de Deus.
Muitos se esquecem das bênçãos do passado. Seja grato a Deus e não se esqueça de nenhum dos seus benefícios do passado.
Como os autores do Antigo Testamento lembravam repetidamente o que o Senhor fizera com Israel, advertindo-os a serem gratos e obedientes a Ele, a mensagem do apóstolo também nos faz lembrar o que Deus fez por nós e o quanto devemos ser gratos a Ele por isso.
A Salvação no Presente, Mantida pela Santificação Contínua e Progressiva
Nos escritos do apóstolo Paulo, fica evidenciada a sua gratidão a Deus pela mudança que o encontro com Cristo provocou na sua vida.
Antes de conhecer a Cristo, Paulo tinha uma posição privilegiada no ambiente judaico e almejada por muitas pessoas.
Quando escreveu a Carta aos Romanos, ele já não tinha mais aquele status, mas a experiência da salvação libertou-o do domínio do pecado e deu a ele a segurança que nunca havia conquistado com a sua vida religiosa anterior.
Ele já tinha mais de cinquenta anos de idade e uma experiência cristã de mais de vinte anos. As experiências com Deus davam a ele a segurança que tanto almejava e nunca havia alcançado.
A garantia da salvação presente e da comunhão com Deus proporcionava ao apóstolo a convicção, pouco antes da sua morte, de ter combatido um bom combate, guardado a fé e de que em breve ele estaria descansando em Deus (1 Tm 4.6-8).
Paulo desfrutava no presente da sua nova situação em Cristo, bem como pela fé das bênçãos que ainda o aguardavam.
Essa garantia dava ao apóstolo uma força que o fazia superar os obstáculos e sentir-se vencedor, mesmo quando a vitória ainda não havia sido alcançada.
Essa benção presente da salvação é garantida somente às pessoas que, por meio de uma vida devotada e de santidade, mantêm a sua vida de obediência e gratidão a Cristo, a exemplo de Paulo.
Que Deus abençoe sua aula!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: NEVES, Natalino. Separados para Deus: Buscando a Santificação para Vermos o Senhor e Sermos Usados por Ele. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2023/03/24/licao-13-as-bencaos-de-uma-vida-santificada/
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=p3dBKN0Sqp4