INTRODUÇÃO
A fé cristã se pauta em realidades bíblicas, apresentadas numa sequência lógica, e as que estudamos anteriormente foram: a existência de Deus e a malignidade do pecado. Nesta lição, trataremos de um terceiro tema subsequente a esses dois: a realidade da salvação oferecida por Deus e a sua operação contra o pecado.
Se por um lado, a Bíblia nos ensina a má notícia sobre a nossa condição, a de que somos pecadores e estamos afastados de Deus, por outro lado, a Bíblia nos ensina a boa notícia, o evangelho, que Deus proveu, em Jesus Cristo, a salvação de que necessitamos para ser reconciliados com Ele.
A salvação tem, como doutrina e prática, a sua importância, pois dela depende o resgate da humanidade pelo sacrifício de Jesus Cristo.
I – A NECESSIDADE DA SALVAÇÃO
1. O que é a salvação
A expressão “salvação” pode assumir mais de um significado. Uma empresa pode estar indo à falência, e um plano de recuperação para aquela instituição pode ser a “salvação” daquela atividade empresarial e da manutenção dos empregos dos seus funcionários.
Em alguns países, jovens delinquentes são motivados a servir nas forças armadas para sua “salvação”, aprendendo a ser disciplinados e tomarem um rumo na vida que não seja a prática de crimes.
Náufragos à deriva podem ser “salvos” por uma embarcação que esteja passando na rota onde estão e tirá-los daquele ambiente inóspito.
Portanto, a palavra salvação pode ter vários significados. De forma geral, ela designa o ato de trazer livramento, de colocar numa posição protegida, de dar segurança, de livrar da morte. No aspecto da revelação bíblica, a palavra salvação ganha um significado bem específico: o de salvar o homem de seus pecados.
Esse sentido envolve naturalmente mais de um elemento para que o entendimento completo do seu significado possa ser entendido.
No Antigo Testamento Deus é visto como trazendo salvação ao seu povo, entretanto, o seu objetivo sempre foi demonstrar o seu poder para trazer salvação dos pecados, reconciliando consigo a humanidade.
É Ele que começa o plano da salvação, anuncia aos profetas e, quando chega o momento, envia o seu Filho Unigênito ao mundo para cumprir o seu propósito. Mateus destaca dessa forma o grande plano de Deus quando Jesus ainda nem havia nascido:
“E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21). Nesse versículo podemos perceber os elementos básicos que fundamentam a salvação:
* Deus enviou seu Filho. A salvação dos pecados do homem começa em Deus. Ele foi o primeiro a prover o necessário para que a salvação viesse a acontecer.
* Nascido de mulher. Jesus não era um ser desencarnado ou um espírito que iludiu as pessoas que o viam. Ele cumpriu as leis deste mundo, nasceu, cresceu, iniciou e concluiu seu ministério terreno, morreu e ressuscitou, mostrando a veracidade de que “pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos” (Rm 5.19).
* Chamado Jesus. Deus nomeou o Salvador, seu Filho, com um nome que o acompanharia por séculos, e até pela eternidade. “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12).
* Para salvar o seu povo. A salvação tem início entre o povo hebreu, para onde Jesus foi enviado. Posteriormente, a salvação alcançou os gentios. Como Deus fez promessas para os descendentes de Abraão, foi entre eles que a salvação de Deus foi inicialmente anunciada e cumprida. Eles tinham como referência as profecias trazidas pelos profetas que Deus lhes havia enviado.
* Dos seus pecados. Deus não desejava salvar os hebreus do jugo romano ou de qualquer outra nação. A salvação visava trazer de volta a comunhão entre Deus e o homem caído, para que, uma vez perdoado e restaurado, e tendo paz, pudesse passar a eternidade com o Senhor.
2. A ORIGEM DA SALVAÇÃO
A salvação tem sua origem no próprio Deus. Foi Ele que planejou todo o cenário pelo qual ela aconteceria, e uma das coisas que precisamos entender é que o homem não pode salvar a si mesmo.
A “moeda de troca” proposta pela humanidade para tentar se chegar a Deus são as obras, mas estas são insuficientes.
Ao escrever aos Romanos, explicando-lhes sobre esse assunto e tomando por base a Lei dada pelo próprio Deus a Moisés, o patriarca diz: “Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20).
Nem as obras, nem a cultura podem trazer salvação. Há quem pense que uma sociedade culta e educada está isenta do pecado. Educação e cultura são bem-vindas para que uma sociedade possa se desenvolver, mas o intelecto humano não responde à propensão humana para a maldade.
O pecado é uma realidade da qual a humanidade não pode se desvencilhar, e, pelo fato de o pecado ofender a Deus, Ele estabeleceu os critérios pelos quais o ser humano possa ser reconciliado com Ele, ainda que pertença a uma sociedade altamente desenvolvida.
Em sua sabedoria e justiça, Deus nos deu a sua graça, que iguala a todos os homens: “Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia” (Rm 11.32).
É desconcertante para o ser humano orgulhoso deparar-se com o fato de que não pode salvar a si mesmo, mas isso não muda a realidade da mecânica da salvação. O homem deve responder à graça de Deus para que seja salvo.
3. O MEIO PELO QUAL PROVÉM A SALVAÇÃO
Como vimos, a salvação de que o homem necessita por causa de seus pecados não pode ser conseguida pelas obras. Estas estão contaminadas. E que meio Deus escolheu para trazer essa salvação? A graça divina.
A graça é o caminho apresentado para todos, e isso contradiz a suficiência das obras. Estas são tão falhas que o apóstolo nos aponta um perigo acerca do orgulho e as obras: ambos andam juntos. É natural que estejamos satisfeitos com nossas boas ações, e nisso não há nenhuma condenação.
Quando somos aprovados em uma avaliação, quando tomamos decisões acertadas ou quando realizamos algo que traz orgulho e alegria para a família ou o ambiente que nos cerca, o sentimento natural é que sintamos orgulho pelo que fizemos.
Ocorre que podemos nos tornar orgulhosos de nossas vitórias, a ponto de imaginar que nós nos bastamos para todas as coisas.
A salvação não comporta ações humanas que tentem se igualar ao sacrifício de Jesus Cristo. Um náufrago não tem forças para nadar em direção a um lugar seguro, nem sabe a direção para onde deveria ir ainda que pudesse nadar tanto.
A salvação comporta ações que concordem com o plano da salvação, a saber: a confissão e o arrependimento de pecados, o ato de crer em Jesus e a fé direcionada ao sacrifício feito por Ele na cruz, e a busca por uma vida que esteja alinhada com os propósitos de Deus. Para o cristão, as obras não salvam.
As obras para quem já foi salvo representam uma forma de manifestar a glória de Deus em ações e palavras.
II – OS EFEITOS DA SALVAÇÃO
A Palavra de Deus nos mostra ao menos três efeitos principais da salvação:
1. Regeneração
Ser regenerado é nascer novamente. Essa ação é realizada pelo Espírito Santo, quando a pessoa se arrepende e confessa a Jesus como seu Salvador e Senhor, crendo em seu sacrifício.
É algo que está além da imaginação humana, pois o homem não pode mudar a si mesmo. Seu estado pecaminoso não o impede de ouvir o evangelho e de entendê-lo, mas o intelecto sem o arrependimento é insuficiente para fazer do homem uma nova criatura.
Ele precisa crer em Jesus, pois “[…] a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus” (Jo 1.12,13). Nascer de novo e ser feito filho de Deus é algo tão extraordinário que exige um poder que o homem não tem. Só Deus pode fazer isso.
2. Justificação e adoção
A justificação é o ato vindo de Deus em que há o reconhecimento de que fomos absolvidos de nossos pecados, e, portanto, não há pendências nossas junto a Deus.
Tal fato se dá porque o sacrifício que a nós estava atribuído por causa dos nossos pecados o Senhor Jesus Cristo já o fez. E sendo esse sacrifício perfeito, estamos livres das acusações que nos eram contrárias. “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5.1).
Ser considerado justo implica também ter paz com Deus, pois a justificação representa a certeza de que não existem pendências do homem perdoado para com Deus, e que ele agora é aceito, como uma pessoa perdoada. A sua dívida já foi paga. A adoção, por sua vez, representa uma forma de filiação. Essa filiação não é adquirida pelo nascimento obtido por um processo gestacional, no qual homem e mulher partilham seus genes e uma criança vem ao mundo naquela família.
A adoção é uma forma jurídica de recepção de uma pessoa naquela família com os direitos de um filho natural. Envolve afetividade, ainda que não haja os laços de consanguinidade.
3. Santificação
A santificação não é a adoção de uma vida isolada da coletividade, como se o afastamento para com outras pessoas nos tornasse santos.
O isolamento ou a clausura no máximo fará daquela pessoa uma pecadora isolada de outros pecadores. Ser santo é afastar-se do pecado para uma vida de dedicação exclusiva para Deus.
É certo que a santificação exige de nós ações que estejam compatíveis com a nossa nova posição. A prostituição deve ser abandonada, se uma pessoa, antes de ser salva, se valia desse expediente pecaminoso para satisfazer seus desejos sexuais.
A prática da mentira, do roubo, do adultério, da fofoca, que antes eram vivenciadas pelo velho homem, agora não podem achar mais lugar em seu coração. Ao novo homem, nascido de novo, foi dada uma chance de ser diferente, e essa diferença começa com a santificação. Ser santo é ter atitudes que reflitam a glória de Deus. É pensar, ainda que de forma limitada, como Jesus pensou enquanto esteve neste mundo.
É estar próximo de pessoas pecadoras, mas sem pecar como elas ou com elas, a fim de mostrar a glória de Deus, como Jesus fazia. Isso é possível, pois quando uma pessoa aceita a Jesus, ela recebe a presença do Espírito Santo, que, vivendo nela, faz com que a santidade pretendida por Deus para os seus filhos seja possível.
III – A SALVAÇÃO PARA TODOS
1. Uma tão grande salvação
A Palavra de Deus nos mostra que “a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11).
Quando Deus planejou a salvação, Ele objetivou salvar a todos, e não somente a algumas pessoas. “Mas Deus, não tendo em conta o tempo da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam” (At 17.30).
A Palavra de Deus, portanto, deixa claro que a salvação é oferecida para todos, mesmo que nem todos aceitem o evangelho. A expressão “todos” não é reducionista nem restritiva. Portanto, a morte de Cristo tem o poder de salvar a todos os homens, desde que se arrependam de seus pecados nesta vida e recebam a salvação pela fé em Jesus.
2. A presciência de Deus e a salvação
Um dos atributos de Deus é a presciência, ou seja, a capacidade divina de saber o que há de acontecer no futuro. Por meio de sua presciência, Deus sabe quem há de responder à mensagem do evangelho, mas isso não significa que foi Ele que escolheu quem será salvo e quem não será.
O Senhor não restringe a sua salvação a um grupo isolado de pessoas escolhidas por um critério misterioso, deixando de fora da salvação outras pessoas simplesmente porque Ele assim o quis, por um ato de sua soberania.
Tal ação jamais refletiria a glória de um Deus justo e santo. Tal pensamento parece ir contra a perspectiva da graça de Deus, que é oferecida a todos os homens.
Aliás, Ele deixou bem claro que os critérios da salvação eram o arrependimento e a fé no sacrifício do seu Filho, Jesus: “Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). Presciência é uma característica do intelecto divino, e não traz consigo uma ação que inclui ou exclui pessoas.
3. A resposta humana à salvação
Se por um lado a salvação é para todos, por outro lado, é preciso que cada ser humano corresponda ao chamado de Deus para a salvação.
Ela é oferecida a todas as pessoas, e aqueles que, convencidos pelo Espírito, se arrependerem, crendo em Jesus Cristo somente para a sua salvação, encontrarão a salvação prometida por Deus. Paulo explica que “Se, com tua boca confessares ao Senhor Jesus Cristo e, em teu coração, credes que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10.9).
Os atos de confessar e crer são impulsionados pelo Espírito, mas são ações que exigem uma contrapartida humana. O intelecto e a ação do ser humano no tocante à salvação precisam ser demonstrados.
Aqui cabe uma séria advertência: É preciso que valorizemos a graça de Deus e não apostatemos da fé. A apostasia é real. Ela representa o retorno à prática da injustiça após termos tido um verdadeiro encontro com Deus.
Se a apostasia não representasse um grave risco à fé pessoal, não teríamos advertências do próprio Deus sobre isso: “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifícios pelos pecados” (Hb 10.26).
O autor da Carta aos Hebreus considera bem real o ato de uma pessoa ter sido alcançada pela salvação, e depois voltar atrás em sua decisão, renegando o nome de Deus. Por isso, somos chamados a tratar a nossa salvação com zelo, pois ela custou o sangue do Senhor Jesus Cristo. Não podemos viver uma vida de pecados, resistindo ao Espírito Santo e nos afastando, como consequência, da fé que uma vez nos foi dada.
4. Um crente verdadeiro peca novamente
Um servo de Deus não está imune a, neste mundo corrompido, pecar contra Deus. Homens santos do Antigo e do Novo Testamento passaram por essas experiências, e isso serve de advertência para nós. Davi, um homem segundo o coração de Deus, pecou de uma forma terrível contra Bate-Seba e seu marido. Pecou também contra Deus, pois todo pecado que cometemos também atinge a pessoa de Deus. Entretanto, Davi se sujeitou à disciplina divina e foi restaurado (2 Sm 12).
Pedro negou a Jesus e foi posteriormente restaurado. Mas Judas, o que traiu Jesus, decidiu que seu pecado era maior do que o perdão de Deus, e deu cabo de sua própria vida.
A questão mais importante não é necessariamente se pecamos ou não, mas o quanto nos afastamos do Senhor em nossos pecados, e se queremos ou não ser restaurados.
Com esses exemplos, podemos aprender que um crente verdadeiro está passível de cometer um pecado, mas ele precisa decidir de que forma vai tratar com isso: se ele vai permanecer naquele tipo de prática que desagrada a Deus, ou se ele vai confessar seu pecado e abandoná-lo, para preservar a sua comunhão com o Senhor e ser restaurado.
É possível que Deus decida disciplinar um filho seu, mas tal feito sempre será um ato de amor.
CONCLUSÃO
A salvação oferecida por Deus é real e tem um motivo: salvar o homem de seus pecados, aproximá-lo do Senhor e de torná-lo um membro da família de Deus. Essa salvação é gratuita, pois o preço já foi pago por Cristo, mas ela tem como requisitos a fé em Jesus, a confissão dos pecados mediante o arrependimento e a mudança de atitudes.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
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Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2024/04/26/licao-4-a-realidade-biblica-da-salvacao/