Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Silas Queiroz, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Depois do milagre em Caná, Jesus, a sua mãe, os seus irmãos e os seus discípulos descem a Cafarnaum, onde permanecem “não muitos dias” (Jo 2.12).
Aqui, o evangelista já inclui a presença dos irmãos de Jesus, fazendo-nos acreditar que eles também participaram da festa de casamento, já que, naquela época, a moradia da família era em Cafarnaum, e não mais em Nazaré.
De fato, Mateus registra que “Jesus, porém, ouvindo que João estava preso, voltou para a Galileia. E, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, cidade marítima, nos confins de Zebulom e Naftali” (Mt 4.12,13).
Daí a informação do deslocamento de Jesus feito a partir de Caná. Não se sabe o tempo preciso que Jesus permaneceu em Cafarnaum. Aproximando-se a Páscoa, subiu a Jerusalém, onde se deu o encontro com Nicodemos, após o episódio da primeira purificação do Templo (Jo 2.13-22).
João afirma que, por ocasião dessa sua primeira viagem à capital de Israel, Jesus realizou alguns sinais (2.23), que estão entre os muitos milagres que não foram registrados.
Isso explica o fato de Nicodemos já ter iniciado a conversa com Jesus falando dos sinais que Ele fazia: “Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, de Deus não for com ele” (3.2).
A presença de Jesus já havia despertado a atenção dos religiosos da época, principalmente dos fariseus, que tinham a pretensão de ter o domínio das massas com o verdadeiro patrulhamento que faziam, impondo cargas pesadas aos judeus, as quais eles mesmos não podiam carregar (Mt 23.4). Dentre esses mestres da Lei, estava Nicodemos, em quem foi despertado o interesse de conhecer de perto quem era Jesus.
PRÍNCIPE DOS JUDEUS
Nicodemos não era um fariseu comum, mas um “príncipe dos judeus”, indicando que desfrutava de alta posição no grupo e, certamente, representava-a no Sinédrio, o tribunal religioso dos judeus.
Emílio Conde traz informações adicionais sobre o Sinédrio: que a sua origem, segundo a tradição rabínica, teria ocorrido no tempo de Neemias, cerca de 410 a.C., do que não há registro nas Escrituras, nem mesmo nos livros Apócrifos e nos escritos dos historiadores judeus; que tinham à sua disposição funcionários e oficiais que executavam as suas resoluções, como prisões ou castigos corporais (Mc 14.65; Jo 7.32);
as suas reuniões ocorriam diariamente, exceto aos sábados e dias de festas; que os seus membros tinham como atribuições interpretar a Lei, decidir sobre a qualificação de sacerdotes para ministrar o culto divino, velar pela vida religiosa da nação, julgar acusados de idolatria e impedir as manifestações heréticas e de falsos profetas.
A perversão religiosa, moral e política de Israel levou as suas instituições à degeneração, o que também ocorreu com o Sinédrio.
De qualquer sorte, diante do sistema vigente, os membros do Tribunal desfrutavam de prestígio, inclusive porque as suas decisões tinham força de lei e eram reconhecidas pelos romanos em toda a extensão do território dos judeus, ressalvadas as limitações impostas por Roma, como no caso da imputação da pena de morte, que dependia da execução romana.
Muito se discute sobre o fato de Nicodemos ter procurado a Jesus de noite, o que pode ter ocorrido por hesitar ser visto pelos seus pares do Sinédrio ou algum dentre os fariseus. Isso, porém, pode ter ocorrido simplesmente pelo fato de que as sessões do Tribunal ocorriam durante o dia.
Wycliffe diz que “Esta corporação judicial estava permanentemente em sessão, mas não se reunia à noite…”. Independentemente do motivo, Nicodemos buscou Jesus à noite, certamente depois de ter informado onde poderia encontrá-lo na cidade.
O FARISAÍSMO
Os evangelhos mencionam os fariseus por diversas vezes. Mas quem eram esses religiosos que tanto buscavam questionar a Jesus e, na sua grande maioria, rejeitaram-no de forma tão hostil?
A origem dos fariseus está relacionada ao surgimento de um movimento que pregava a necessidade de separação dos judeus em relação às influências das culturas de outros povos.
Os que situam a sua origem no século V antes de Cristo acreditam que a gênese está ligada a um propósito de “rígida abstenção dos costumes pagãos na época de Esdras e de Neemias” (Wycliffe, p. 776).
Segundo o Dicionário VINE, o termo “fariseus” origina-se de pharisaios, que significa “separar”. Para ele, esse partido religioso teria se originado na última metade do século II a.C.
Logo que o grupo dos fariseus cresceu e ganhou influência e popularidade entre os judeus, o orgulho tomou conta do coração desses líderes que surgiram de um movimento aparentemente cercado de tanta nobreza, que seria manter a pureza do judaísmo, ou da cultura judaica, frente às demais culturas da época, especialmente a grega, que influenciou todo o mundo.
Outrossim, em toda a história, nenhuma nação exerceu tanta influência cultural como a Grécia Antiga. Como sói acontecer, a chegada ao poder é uma grande tentação para os homens.
Não é tarefa fácil analisar todas as características tanto dos fariseus como dos saduceus e as suas respectivas distinções, inclusive pela mutação que ocorreu ao longo do tempo.
Mas, considerando o recorte histórico feito por VINE (acima transcrito), é possível considerar que eram dois grupos situados em campos ideológicos bem distintos, ambos vivendo sob um terrível engano religioso.
O primeiro grupo, os saduceus, podem ser considerados como os inclusivistas, que pregavam que o judaísmo precisaria abrir-se para a cultura do seu tempo, participar da vida pública, da política, exercer influência direta nos rumos da sociedade.
Por pertencerem à alta classe judaica, certamente viam nisso a possibilidade de estabelecerem-se no topo da pirâmide do poder — daí terem estabelecido a aristocracia.
Surgido dentre as demais classes da nação, especialmente a média baixa, o segundo grupo, os fariseus, pregava o oposto, além de ter um forte apego às leis e tradições do judaísmo.
Ambos estavam movidos por sentimentos impuros, pelo engano dos seus corações, pelo egoísmo e interesses próprios, embora pregassem o altruísmo ou o propósito de defender a herança judaica.
Toda radicalização é enganosa, independentemente do extremo em que se situe. Os saduceus abriram-se para o secularismo e tornaram-se amantes do poder, beneficiando-se dele, como casta dominante.
Era um partido sacerdotal aristocrático e tinha o controle do Sinédrio, já que poucos fariseus — apenas os mais influentes, como Nicodemos — conseguiam ter acesso à corte.
Também foram os dirigentes do Templo por muitos séculos. Já os fariseus apegavam-se aos pontos mais comezinhos da Lei e buscavam agir como censores do povo, em busca de reconhecimento e popularidade.
Como tanto saduceus quanto fariseus estavam interessados em status e poder, sentiram-se ameaçados com a chegada de Jesus, cujo poder e mensagem atraíam as multidões, em franca contraposição ao rigor e formalismo que aqueles mestres judeus ostentavam sem nenhuma vida. Serve de lição para nossos dias, para que não nos enganemos com os extremos que se propõem para o cristianismo.
A verdadeira Igreja é equilibrada, vive no mundo, mas não se encanta com ele, porque sabe que não faz parte dele. Além disso, não prega o ascetismo ou isolamento radical, uma vez que entende que precisa conviver com todos os homens, conservando a sua condição de sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16).
O SISTEMA JUDAICO
Além dos fariseus e saduceus, que eram considerados verdadeiros partidos religiosos, o judaísmo dos dias de Jesus contava também com os herodianos e os zelotes, inspirados por motivações políticas, e a seita dos essênios, que pregava o ascetismo.
Não era um sistema organizado naturalmente, e sim totalmente multifacetado, que comportava muitas outras seitas e grupos revolucionários.
Os essênios não são mencionados na Bíblia, enquanto os herodianos aparecem em três passagens dos Evangelhos: Mc 3.6; Mc 12.13 e Mt 22.16.
Em todas, estão associados aos fariseus, inclusive discutindo sobre como matar Jesus. Eram partidários de Herodes, daí a incitação que fizeram a Cristo, sobre o dever ou não de pagar tributos a César.
César era o título que se dava aos imperadores romanos.
No caso específico dos dias de Jesus, o imperador era Tibério César (42 a.C. – 37 d.C.) o imperador romano, constituinte de Herodes como tetrarca da Galileia (Lc 3.1).
No caso, trata-se de Herodes Antipas, um dos filhos de Herodes, o Grande, morto no ano 4 d.C. Otávio Augusto (63 a.C.-14 d.C.), o imperador romano, repartiu o governo das terras sob a sua jurisdição entre os seus três filhos:
Arquelau tornou-se governador da Judeia, Samaria e Idumeia; Antipas, o mais novo deles, recebeu o Quanto aos zelotes, eram “devotos judeus patriotas do século I d.C.”, dos quais muitos consideram que “a violência era sempre justificada desde que no final alcançasse algo bom — a libertação de estrangeiros opressores” (Wycclife, p. 2039). Dentre os doze discípulos, havia um oriundo desse grupo: “Simão, chamado Zelote” (Lc 6.15).
RELIGIOSIDADE NÃO SALVA
Quando Nicodemos vai ter com Jesus e chama-lhe de mestre, precisava ser adequadamente confrontado a fim de que o seu coração fosse exposto diante da verdadeira necessidade que possuía, que era nascer de novo. A prática religiosa de Nicodemos não tinha valor algum para a sua salvação.
Além disso, é um grande perigo acreditar-se nas próprias práticas para o ganho de favores divinos, principalmente da vida eterna, desprezando o que realmente significa a graça de Deus.
Na teologia, isso é chamado de Pelagianismo, doutrina que leva esse nome por ter sido difundida pelo clérigo britânico Pelágio (350-423), que “minimizava a graça divina e afirmava que a liberdade humana nada sofreu em consequência do pecado de Adão:
Ou seja, negava o pecado original e a corrupção do gênero humano”, daí acreditar na possibilidade de o homem, pelo seu esforço, obedecer a Lei de Deus e conseguir obter salvação.
A NECESSIDADE DA REGENERAÇÃO
Justamente por causa da morte espiritual causada pelo pecado, todos os homens passaram a depender da graça de Deus para serem salvos. Na Nova Aliança, a salvação é operada no homem com a regeneração, o milagre do novo nascimento de que falou Jesus a Nicodemos.
O fato de aquele fariseu ser devoto não lhe assegurou direito algum de ser salvo, daí ser totalmente desnecessário e infrutífero a Jesus travar com ele qualquer diálogo sobre a sua religião.
É por isso que Cristo vai direto ao ponto: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3.3).
Essa afirmação jogava por terra qualquer insinuação de Nicodemos quanto a um pretenso nivelamento espiritual entre ele e Jesus, por serem ambos mestres em Israel. Todo o sistema judaico era inútil.
Apesar de Jesus nenhuma relação ter com ele, se simplesmente aceitasse o título de mestre e dialogasse com Nicodemos sobre religião, deixaria a impressão de ser mais uma oferta religiosa para o povo judeu, e não o Cristo Salvador Eterno, que veio operar uma obra espiritual transformada e eficaz, o novo nascimento da água e do Espírito (Jo 3.5).
Estando o homem espiritualmente morto em ofensas e pecados, separado de Deus e sem possibilidade alguma de reatar a sua comunhão com Ele pelos seus próprios méritos, depende de uma obra divina especial, que é a regeneração. O termo, no grego, é palingenesia; de palin, de novo, e genesis, nascimento.
NO GRUPO DOS DISCÍPULOS
A aproximação de Nicodemos a Jesus já nos permite ver o seu interesse em conhecer o mestre que estava em Jerusalém realizando sinais miraculosos. Embora desconhecesse completamente a sua identidade, a conduta de Nicodemos já indica uma distinção espiritual entre ele e os demais fariseus, que eram extremamente rudes em relação a Jesus.
Depois daquele primeiro contato, em que ele ouviu do Filho de Deus verdades espirituais tão profundas, Nicodemos demonstrou um reconhecimento espiritual ainda maior por Jesus, a ponto de defendê-lo diante do sistema farisaico (7.50,51). Podemos entender que a mensagem que ouviu de Jesus produziu algum efeito no seu coração, principiando uma fé no Messias.
Houve um progresso ainda maior nesse caminho de fé. No segundo momento em que aparece, Nicodemos ainda está entre os fariseus (7.47- 52).
Mas, quando Jesus foi crucificado, aparece junto a José de Arimateia, que é identificado como discípulo de Jesus (19.38).
Naquela ocasião, leva especiarias para a preparação do corpo do Mestre (19.39). Ele já não estava mais na companhia dos fariseus (Mt 27.62). A mensagem do Filho de Deus havia realmente tocado o seu coração.
CONCLUSÃO
Somente Deus sabe exatamente a natureza e o tamanho da fé de cada pessoa; por isso não é possível afirmar, com segurança se aquela conduta estava expressando que Nicodemos já havia alcançado fé perfeita em Jesus, como o Filho de Deus enviado ao mundo para salvar a humanidade dos seus pecados.
Mesmo assim, é possível inferir que houve um nítido crescimento espiritual em Nicodemos, considerando os três episódios em que aparece. Quanto ao último, Myer Pearlman chega a dizer que “Nicodemos estava ficando mais firme na fé, chegando a demonstrar mais devoção do que os próprios discípulos que fugiram, quando veio ajudar a sepultar o corpo de Cristo”.
Lawrence O. Richards lembra que existem “tradições antigas que sugerem que [Nicodemos] posteriormente se tornou cristão”, o que nos leva a deduzir, por conseguinte, que ele tenha deixado definitivamente o status religioso e tornado-se um autêntico discípulo de Jesus.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: QUEIROZ, Silas. Jesus, o Filho de Deus: Os Sinais e Ensinos de Jesus Cristo no Evangelho de João. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2022/01/18/licao-4-voce-precisa-nascer-de-novo/
Vídeo: https://youtu.be/MqAznqWVA4I