O avivamento espiritual faz-nos discernir os espíritos.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da formação da Comunidade do Segundo Templo para extrairmos lições sobre o avivamento espiritual, debruçar-nos-emos sobre o capítulo 6 de Neemias.
– Assim como Neemias, precisamos ter discernimento espiritual para que não venhamos ser enganados pelas astutas ciladas do adversário.
I – A NOVA ESTRATÉGIA DO INIMIGO: A CONSPIRAÇÃO
– Na lição anterior, iniciamos o estudo do relato de Neemias com relação à forte oposição que enfrentou para a reedificação dos muros e das portas de Jerusalém, o que apenas confirma o que fora profetizado por Daniel de que tudo se faria “em tempos angustiosos” (Dn.9:25).
– Na lição de hoje, continuaremos a estudar esta oposição, pois, como verdadeira figura do diabo, que é o nosso adversário (I Pe.5:8), os inimigos de Neemias não descansaram, mesmo verificando que suas estratégias não estavam impedindo de a obra ser realizada.
Assim, depois de terem tentado obstar a reedificação por meio da zombaria, da união das forças adversárias que lançaram o pavor e a distração e, por fim, através da divulgação de más notícias para trazer o desânimo, nem por isso desistiram de seu intento.
– Verificando Sambalate, Tobias e Gesem que, apesar de todas as suas armas, Neemias havia perseverado em fazer a obra e, juntamente com os judeus, já haviam edificado o muro, no qual não havia mais brecha alguma, mas ainda não tinham sido postas as portas nos portais, passaram a usar de um último recurso, qual seja, a conspiração.
– A palavra “conspiração” tem como raiz “-spir-”, que significa “sopro”, de onde vem a palavra “espírito”. “Conspiração” é uma união, uma concórdia, um acordo de espíritos e de vontades para se conseguir algo, uma maquinação, uma trama para se obter um determinado propósito.
– As Escrituras, na Versão Almeida Revista e Corrigida, falam de “conspiração” em quatro passagens, duas das quais revelam tramas efetuadas na história de Israel para a derrubada de um rei (I Rs.16:20; II Rs.15:15),
uma sobre a traição do rei de Israel em relação ao rei da Assíria e que levou ao cativeiro do reino das dez tribos (II Rs.17:4) e, por fim, a trama dos inimigos de Paulo para o matarem antes que fosse julgado pelo Sinédrio (At.23:12). No Antigo Testamento, a palavra utilizada é “qesher” (קשר), cujo significado é, precisamente, o de “aliança ilegal”, de “união para fazer mal”.
Já em o Novo Testamento, a palavra utilizada é “sustrophé” (συστροφή), que tem o mesmo sentido de “união de pessoas desordeiras”, de “aliança secreta”.
Vemos, pois, que a “conspiração” caracteriza-se por ser uma aliança de pessoas que buscam, de forma velada, secreta, o mal de alguém, que se unem para promover o prejuízo, o mal. Neste sentido, portanto, toda conspiração tem como característica a união de pessoas e o segredo de seu verdadeiro intento.
– Vendo os adversários que Neemias não havia parado de executar a obra pelas armas anteriores, buscaram, então, usar da estratégia da união velada, da maquinação secreta, a fim de poder, com isso, enganar Neemias e impedir a conclusão da obra, já que somente faltava pôr as portas nos portais.
– O inimigo de nossas almas não age de modo diferente. Ele é “a mais astuta das alimárias do campo” (Gn.3:1) e, por isso, é o mestre da conspiração, o mestre da dissimulação.
Como “pai da mentira” (Jo.8:44), ele usa do engano e da dissimulação como algo que é próprio da sua natureza, razão pela qual “engana todo mundo” (Ap.12:9). Por isso, como diz o apóstolo Paulo, não podemos ignorar os seus ardis, se quisermos vencê-lo (II Co.2:10,11).
– Diante da notícia de que a obra estava para ser terminada, Sambalate e Gesem enviaram mensageiros a Neemias e o convidaram a que se congregasse juntamente nas aldeias, no vale de Ono (Ne.6:2).
– Se bem analisarmos a oferta apresentada por Sambalate e Gesem, veremos que seria extremamente razoável para Neemias ir a este encontro no vale do Ono.
Afinal de contas, toda a reedificação dos muros se fizera diante das ameaças de ataque militar por parte dos inimigos, como, aliás, por dez vezes, já havia sido anunciado pelos próprios judeus que moravam entre os inimigos (Ne.4:11,12).
– Verdade é que os inimigos, até aquele momento, não haviam feito qualquer ataque, mas não nos esqueçamos de que Samaria tinha um exército (Ne.4:2) e que a obra estava no final, não tendo ainda Jerusalém portas, o que ainda tornava precária a sua segurança.
Como a obra estava no final, com o muro já completamente acabado, nada mais natural que Neemias, dando um gesto de boa vontade, fosse ao encontro dos inimigos para que se fizesse um acordo de paz, para que se desse fim àquela situação aflitiva que passava o povo, até porque “o pior já havia passado”.
– Este raciocínio, perfeito do ponto-de-vista humano, era precisamente o que os inimigos de Neemias queriam que fosse feito.
Conforme nos diz o texto sagrado, por detrás daquela oferta aparentemente magnânima e razoável, escondia-se um mau intento, pois a Bíblia nos diz que o objetivo real de Sambalate e Gesem era fazer mal a Neemias (Ne.6:2 “in fine”).
– Temos aqui uma grande astúcia que, quase sempre, é utilizada pelo adversário de nossas almas: o uso da razão humana para nos enganar.
Jesus foi claro ao dizer que o inimigo é perito nas “coisas dos homens”, embora nada saiba sobre as “coisas de Deus” (Mt.16:23).
O adversário sabe como o homem pensa e, por ter este conhecimento, é capaz de nos manipular através da razão humana.
Por isso, não podemos, no nosso dia-a-dia, usar apenas da razão humana, deixarmos de lado a orientação do Espírito Santo, pois, se assim procedermos, certamente seremos enganados e vencidos por Satanás.
– Neemias, porém, era um homem de oração, um homem que preservava a sua comunhão com Deus. Diante desta proposta, não se deixou enganar, mas enviou mensageiros a Sambalate e Gesem com uma resposta extremamente sábia:
“Estou fazendo uma grande obra, de modo que não poderei descer. Por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?” (Ne.6:3).
– Neemias analisou a oferta dos inimigos e verificou que ali não se encontrava a vontade de Deus. Apesar da situação aflitiva que se vivia, o fato é que a zombaria, a união das forças adversárias, o pavor gerado e o desânimo que atingira até parte dos construtores, nada disso tinha impedido a realização da obra, que já se encontrava na parte final. Deus tinha feito prosperar a obra e continuaria a fazê-lo.
Assim, que proveito haveria em se ir até o vale do Ono para se fazer um acordo com os inimigos, que não tinham podido até ali impedir a realização da tarefa que o próprio Deus lhe ordenara?
Precisamos ter esta mesma consciência. Quando o inimigo nos chama para uma “trégua”, para o estabelecimento de “tratativas” que, aparentemente, melhorem a realização da obra de Deus, devemos fazer como Neemias, ou seja,
rejeitar todo e qualquer acordo com o adversário, pois a sua oposição é incapaz de impedir a realização da obra do Senhor.
Não dependemos da boa vontade do inimigo para fazermos a vontade de Deus, mas tão somente da mão do Senhor sobre nós, da companhia do Senhor conosco para que a obra prospere, pois é o Deus do céu que nos faz prosperar (Ne.2:20).
– Ao longo da história da Igreja, constata-se, com tristeza, que muitos que estavam a realizar a obra com dedicação, apesar de todas as aflições, diante do convite para descerem ao vale do Ono, infelizmente aceitaram tal oferta diabólica,
deixaram de fazer a obra, desceram e acabaram sendo prejudicados, bem como prejudicando a obra do Senhor, porque não perceberam que o objetivo do adversário era tão somente fazer-lhes mal.
– “Ono” era uma cidade do território de Benjamim e que havia sido construída ou restaurada por Semede (I Cr.8:12), e que tinha sido habitada por alguns judeus quando do retorno do cativeiro da Babilônia (Ed.2:33), provavelmente artífices, já que a região era chamada de “vale dos artífices” (Ne.11:35).
Seu nome significa “forte”, porque devia ter sido fortificada no passado. Tratava-se, pois, de um lugar aparentemente seguro, onde havia aldeias de judeus, judeus laboriosos, onde não haveria risco para um encontro com os inimigos.
– No entanto, Neemias percebeu que, ao aceitar a oferta dos inimigos, ele pararia de fazer a obra, justamente quando ela estava no final.
Como se isto fosse pouco, ele teria de fazer uma viagem do lugar onde estava, e para onde Deus o mandara, para ir a um lugar desconhecido, onde nada tinha que fazer daquilo que propusera em seu coração e para o que Deus o havia chamado. Sairia de um lugar “alto” (Jerusalém) para um lugar baixo (o “vale”).
Deixaria a companhia daqueles que havia unido em torno de um propósito divino, para se reunir com pessoas que não tinham parte, justiça nem memória em Jerusalém (Ne.2:20).
– Eis um grande problema que aparece na vida de todo aquele que se dispõe a obedecer a Deus neste mundo.
Os “vales de Ono” surgem como uma “fortaleza”, como uma localidade segura onde podemos descansar e sair das aflições e das dificuldades de nossa vida.
Ali tudo parece ser “forte”, ali tudo parece ser vantagem e segurança. No entanto, neste vale, não poderemos fazer a obra de Deus; neste vale, não poderemos, de modo algum, fazer a vontade do Senhor e somente aquele que faz a Sua vontade permanece para sempre (I Jo.2:17).
– Há um grande problema quando o servo do Senhor acha que pode ser “forte”. Paulo nos ensina que o poder de Cristo em nossa vida se aperfeiçoa na fraqueza (II Co.12:9,10), ou seja,
quando achamos que estamos fortes, não permitimos que o poder de Jesus se aperfeiçoe em nós e isto é fatal para nossa vida espiritual, pois, sem Cristo, nada podemos fazer (Jo.15:5).
– Ir para “o vale de Ono” é dizer que não se necessita mais de Deus, é afirmar que se é possível, por si só, por sua própria conta e risco, deixar de fazer a obra de Deus e buscar uma “zona de conforto”, onde a oposição do adversário diminua, onde se possa desfrutar mais da vida, mesmo que ainda faltem as portas nos portais. Quantos, infelizmente, têm preferido ser “fortes” a concluir a obra de Deus!
– Não foi este, porém, o procedimento de Neemias. Ele, que havia deixado o palácio real em Susã, para enfrentar o desafio da reconstrução de Jerusalém, não tinha a menor vontade de “descer para o vale de Ono”.
Seu lugar era Jerusalém, sua tarefa era fazer a obra do Senhor, que ainda não estava concluída, embora estivesse no fim.
Neemias, analisando as coisas pelo aspecto espiritual, pergunta: “Por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?”
– Amados irmãos, também estamos no término da obra do Senhor, pois tudo nos mostra que Jesus está às portas, já que todos os sinais do arrebatamento da Igreja estão se cumprindo. Por que, então, devemos cessar a obra, deixando-a, para ir ao encontro do adversário?
– Os inimigos eram insistentes. Por quatro vezes, de modo incansável, tentaram demover Neemias de seu intento, mas o servo de Deus, nas quatro oportunidades, deu a mesma resposta aos adversários (Ne.6:4).
– Não há a menor possibilidade de estabelecermos uma trégua com o adversário de nossas almas, até porque ele é mentiroso e não é digno de qualquer crédito. Seu único trabalho é matar, roubar e destruir (Jo.10:10).
Alguns objetam a alusão deste texto ao diabo, dizendo que Jesus, na passagem, estava se referindo aos falsos pastores, não ao diabo.
No entanto, estes falsos pastores não passam de agentes do inimigo, de instrumentos da ação conspiratória do inimigo, até porque o próprio Jesus disse que o inimigo é homicida desde o princípio (Jo.8:44), de sorte que o trabalho de morte é, sim, orquestrado e originado no próprio adversário.
– Toda e qualquer proposta de trégua ou de acordo com o mundo, o pecado e a maldade esconde o intento de fazer mal ao servo do Senhor que, se aceitar a proposta, estará irremediavelmente perdido.
A aparência pode ser a melhor possível, como era Dalila para Sansão (Jz.16:4), mas o intento é sempre o pior possível: a destruição do servo do Senhor.
– O inimigo não se cansa e, portanto, por quatro vezes, insitiram Sambalate e Gesem com a oferta do encontro no vale de Ono.
Neemias não se deixou vencer pelo cansaço, como, infelizmente, ocorreu com Sansão que, após tanta insistência, acabou abrindo seu coração a Dalila (Jz.16:15-17), o que foi a causa da sua derrota.
Que aprendamos com estes dois exemplos e jamais aceitemos entrar em acordo com o adversário, que jamais deixemos Jerusalém em direção ao “vale de Ono”.
II – A CARTA ABERTA DE SAMBALATE
– Após a quarta resposta de Neemias de que não desceria ao vale do Ono, Sambalate, então, usou de nova estratégia. Até então a conspiração havia se circunscrito a um diálogo, por meio de mensageiros, entre ele (juntamente com Gesem) e Neemias.
Sambalate, então, resolveu levar ao conhecimento de todos os judeus a sua oferta, querendo, com isso, criar uma pressão externa que obrigasse Neemias a ceder.
– Para tanto, mandou o seu moço com uma carta aberta na sua mão, onde estava escrito: “Entre as gentes se ouviu, e Gasmu diz, que tu e os judeus intentais revoltar-vos, pelo que edificas o muro;
e que tu farás reis deles segundo estas palavras; e que puseste profetas, para pregarem de ti em Jerusalém, dizendo: Este é rei em Judá.
Ora o rei o ouvirá, segundo estas palavras: vem, pois, agora e consultemos juntamente” (Ne.6:6,7).
– Como diz Russell Norman Champlin, “…palavras bondosas e fingidas não surtiram efeito, pelo que os inimigos dos judeus e de seu líder, Neemias, apelaram para uma abordagem mais drástica…” (O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo, v.3, p.1793).
Neemias é publicamente acusado de se revoltar contra o rei da Pérsia, com o intuito de fazer-se rei de Judá, utilizando-se da reconstrução dos muros e das portas de Jerusalém como pretexto.
– Os inimigos tentam levar Neemias até o vale do Ono pela pressão externa. A acusação de sedição, feita em carta aberta, era um convite à perturbação de todo o povo que, já aflito com a possibilidade de serem atacados pelo exército de Samaria, diante da notícia de que se estava a acusar Neemias de sedição, bem podiam achar que não somente o exército de Samaria, mas que o próprio exército persa poderia vir contra
Jerusalém, caso Neemias não deixasse sua “teimosia” e fosse ao encontro dos inimigos no “vale do Ono” para assim fazer um “acordo de paz”.
– Vemos aqui que, embora se tenha mudado a estratégia, o inimigo continuava a esconder o seu verdadeiro intento e buscava, de todas as maneiras, que a obra cessasse e que Neemias, deixando de fazer a obra, fosse ao encontro dos inimigos no vale do Ono, onde, certamente, seria assassinado.
Todo este raciocínio, que recomendava, ainda mais, a ida de Neemias até o vale do Ono para o seu próprio bem e “para o bem do povo e da obra”, era, contudo, enganoso, visto que baseado em mentiras. Observemos o teor da carta aberta: “Entre as gentes se ouviu, e Gasmu diz…”.
Ora, quem estava a dizer? A acusação não identifica os autores da notícia, até porque se tratava de uma mentira.
Era apenas um “boato”, na base do qual se construía todo o raciocínio enganoso que pretendia fazer Neemias demover de seu intento.
– Nos dias em que vivemos, de grande quantidade de informações, a verdadeira era da informação, não podemos nos deixar vencer pelos “boatos”, pelas “notícias” que circulam e cuja autoria nos é desconhecida, mas que acabam sendo tomadas por verdades. Como já dizia o ministro da Propaganda da Alemanha
Nazista, Joseph Goebbels, uma mentira repetida seguidas vezes “vira” verdade e é precisamente o que estamos a contemplar em nossos dias.
– Tudo quanto Sambalate escrevera na sua carta aberta era mentira, mas, se o raciocínio se fizesse sobre esta mentira, não se teria outra conclusão senão a de que Neemias deveria ir ao vale do Ono para
“mostrar a verdade”. Entretanto, nesta sua ida, estaria a desagradar a Deus, visto que viera de Susã para fazer aquela obra, que Deus estava prosperando, e não para dar satisfação a quem quer que seja.
– Tristemente, verificamos que, em muitíssimas ocasiões, o povo de Deus deixa de fazer a obra do Senhor, abandona aqueles que foram chamados para realizá-la, porque dá ouvidos a mentiras e “boatos” que surgem não se sabe de onde mas que são cridos pelos que as ouvem sem que antes haja uma análise, sem que antes haja a oitiva de todas as versões, sem que as notícias sejam verificadas com os fatos.
Crer cegamente no que se ouve, sem qualquer investigação, é um procedimento típico de quem não serve a Deus, do ímpio (Sl.11:3).
Os justos, os servos de Deus, no entanto, devem investigar o que se diz e, em especial, observar se o que estão a ouvir está, ou não, de acordo com as Escrituras.
– Como todo acusador, Sambalate, em sua carta, não assume qualquer responsabilidade pelo que diz. Afirma que “entre as gentes se ouviu e Gasmu (que é Gesem) diz”.
É próprio do acusado imputar a outrem a prática de suas calúnias e injúrias, porque é um irresponsável, um criminoso covarde, que jamais assume a sua própria condição.
Tomemos cuidado com pessoas que somente culpam os outros, que jamais assumem a sua responsabilidade.
Tais pessoas estão a imitar ao diabo (“diábolos”, palavra grega, significa “acusador”), jamais a Cristo que, pelo contrário, tomou sobre si toda a culpa da humanidade.
– Na sua ardilosa acusação, Sambalate procurou não só incutir medo entre os judeus, mas, também, criar uma intriga entre os judeus e Neemias.
Esta é também uma atitude própria do inimigo da obra de Deus: o fomentar de dissensões, de divisões, de discórdias entre os irmãos. Não é à toa que o proverbista diz que ao Senhor é abominável aquele que semeia contendas entre os irmãos (Pv.6:16,19).
– Assim, acusa os judeus de sedição contra o rei da Pérsia, mas também acusa Neemias de querer se fazer rei de Judá.
Com esta acusação, procura incutir medo entre os judeus e, assim, convencê-los a se livrar de Neemias, a fim de que a acusação de revolta não lhes fosse imputada.
Estava em xeque o relacionamento entre Neemias e o povo, a confiança que o povo depositava em Neemias.
– Numa demonstração de como a trama era bem elaborada, Sambalate, na carta, ainda acusa Neemias de ter contratado “profetas” para dizerem que ele deveria ser rei em Judá.
Alguém poderá argumentar que esta parte da carta era, provavelmente, a mais fraca, visto que, como Neemias não havia contratado profeta algum, não haveria porque se temer esta acusação ou, ainda, que esta acusação, por ser absurda, poderia ser um desserviço para o intento dos inimigos, em vez de ajudá-los.
– Não resta dúvida de que Neemias não estava a contratar profetas para que dissessem que ele seria rei em Judá, até porque, por não ser da descendência de Davi, tais profecias jamais seriam aceitas no meio do povo.
O intento do inimigo, no entanto, era muito mais ardiloso: com esta acusação, procurava fazer o povo descrer da própria piedade de Neemias.
Era uma trama muito bem elaborada com o intuito de fazer com que o povo judeu resolvesse até deixar de servir a Deus ou se dedicar menos ao Senhor como prova de que não tencionava se revoltar contra o rei da Pérsia.
– A alusão de Sambalate aos profetas era, portanto, uma estratégia de fazer com que o povo se distanciasse do Senhor, até porque, certamente, tinha pleno conhecimento de que, nas tentativas anteriores, Neemias havia recorrido a Deus para manter a obra e, sejamos francos, era a confiança em Deus que havia sido a responsável pela prosperidade da obra até aquele estágio terminal.
– Sambalate buscava, então, trazer divisão no meio do povo, tentando jogar o povo contra Neemias e, mais do que isso, procurar fazer com que a própria piedade e fidelidade de Neemias fosse um fator que fizesse com que o povo judeu o abandonasse.
– Nos dias hodiernos, a ação do inimigo de nossas almas não tem sido diferente. Ele procura, com grande estardalhaço, lançar suas mentiras de modo a causar divisão no meio do povo de Deus, pôr liderados contra líderes,
bem como incutir na mente dos salvos a ideia de que não há tanta necessidade de se buscar a Deus, que é necessário não ser “radical” para que se tenha uma vida mais sossegada sobre a face da Terra.
Devemos, porém, diante dessas mentiras e falsidades, que são extremamente razoáveis aos olhos humanos, desconsiderar tudo e continuar a fazer a obra do Senhor.
– A reação à carta aberta de Sambalate não demorou. Diz Neemias que todos procuravam atemorizar Neemias, pressionando-o para que cedesse e fosse se encontrar com os inimigos no vale do Ono (Ne.6:9).
Quando se usa o estratagema da “carta aberta”, devemos saber, como servos do Senhor, que alguém será atingido e amedrontado com todo o escândalo proporcionado pelo inimigo.
Nem todos têm a mesma estrutura e, portanto, não se pode exigir que todos permaneçam inabalados diante de tanta pirotecnia, e pirotecnia muito bem elaborada, não podendo, pois, os mais fortes na fé se abalarem por causa destes mais fracos.
– Diante da “carta aberta”, Neemias mantém a sua firmeza, mandando um mensageiro com a seguinte declaração: “De tudo o que dizes coisa nenhuma sucedeu, mas tu do coração o inventas” (Ne.6:8).
– Neemias usou da arma que todos nós devemos usar quando formos alvo de acusações mentirosas, ainda que com grande estardalhaço, do adversário: a verdade.
O apóstolo Paulo, ao falar sobre o embate espiritual que todo salvo tem contra as hostes espirituais da maldade, entre as armas que descreveu, fala-nos do “cinturão da verdade” (Ef.6:14), por sinal, a primeira arma que manda que nos revistamos.
– Jesus, em Sua oração sacerdotal, também pediu ao Pai que fôssemos santificados na verdade, esclarecendo que a verdade é a Palavra de Deus (Jo.17:17).
Não há outra forma de vencermos o pai da mentira a não ser com a verdade. Jesus é a própria verdade (Jo.14:6), de sorte que não temos com deixarmos de conhecer a verdade, pois é ela que nos liberta das ciladas do inimigo (Jo.8:32).
– Ultimamente, diante das acusações proferidas pelo inimigo, com grande estardalhaço, muitas vezes se utilizando da mídia, que está praticamente em suas mãos, muitos servos do Senhor não seguem este exemplo de Neemias e, em vez de falar a verdade, de pregar a Palavra de Deus,
ficam tentando iniciar discussões e contendas com base em investigações científicas, filosofias e discursos racionalmente elaborados, mas que não têm o condão de nos fazer libertar do mal. A arma utilizada por Neemias foi a verdade e só ela pode nos libertar.
– Mas, para que a arma da verdade seja utilizada, torna-se necessário que ela “cinja os nossos lombos”, ou seja, é preciso que estejamos atados na verdade, que não tenhamos movimentos próprios, conforme a nossa própria vontade, mas que nos conformemos à vontade do Senhor.
A verdade precisa “prender” as nossas vestes, ou seja, precisamos andar na verdade, seguir a vontade de Deus, entrar pela porta estreita, pelo caminho apertado, difícil, mas que leva à vida (Mt.7:13,14).
Neemias somente pôde falar a verdade, porque a vivia, porque servia a Deus com integridade e sinceridade, tendo, pois, autoridade diante do povo judeu para se contrapor às falsas acusações dos inimigos.
Apesar de alguns, pelo pavor, terem se abalado com as acusações, o fato é que todos sabiam que Neemias não tinha qualquer intenção de ser rei nem de revoltar contra o rei da Pérsia, pois demonstrava, no dia-a-dia, sua lealdade e fidelidade não só a Deus, o que o impedia de querer ser rei pois sabia ele que o trono pertencia à casa de Davi, como ao rei, a quem havia pedido autorização para realizar aquela obra.
– Neemias vivia no meio do povo, trabalhava junto com o povo e, por isso, quando vieram estas acusações, seu testemunho e o conhecimento que o povo tinha dele foram suficientes para evitar que o boato abalasse a maior parte do povo ou gerasse dissensão entre o povo e Neemias.
Fosse Neemias alguém isolado do povo, uma pessoa inatingível, certamente que as calúnias teriam outro resultado, como, aliás, tem ocorrido em muitos lugares.
– A liderança se legitima e se fortalece quando o líder tem empatia com os liderados, ou seja, quando há um relacionamento próximo, aberto e franco entre líder e liderados. Jesus, o exemplo máximo de liderança, ao término de Seu ministério público, pôde dizer que já não chamava Seus discípulos de servos, mas de amigos, ante a intimidade e franqueza que havia entre Ele e Seus apóstolos (Jo.15:15).
Se Jesus, sendo o Senhor (Jo.13:13), tinha esta proximidade com os discípulos, por que algumas lideranças cristãs insistem em se manter distantes dos liderados?
Nesta arrogância apenas criam condições para que a “arma da carta aberta” surta muito efeito. Vigiemos, amados irmãos!
– Além de afirmar que não era verdade o que Sambalate havia dito, Neemias, ao contrário do seu adversário, bem apontou a origem de todas as invenções que haviam sido ditas: “o coração de Sambalate”. Enquanto Sambalate não indicava a fonte de suas assertivas, Neemias, como homem de Deus, mostrava qual era a origem de todas aquelas acusações.
– Como servos do Senhor, ao falarmos a verdade, devemos, também indicar a fonte das mentiras. Muitos estão a acusar os salvos, na atualidade, de fomentarem “teorias da conspiração”, de “delirarem” e “inventarem complôs inexistentes”.
Se é certo que há muito exagero na atualidade, muitos ensinamentos escatológicos cujo objetivo é tão somente aterrorizar (e que, neste passo, são armas do inimigo, como já tivemos ocasião não só de estudar na lição anterior mas nesta própria lição), também não podemos deixar de reconhecer que há, no mundo, uma conspiração com origem no inimigo de nossas almas contra a Igreja e que esta conspiração está a alcançar o seu ápice.
– O apóstolo Paulo foi claríssimo ao nos dizer que “o mistério da injustiça” já operava nos seus dias e que esta operação tem por finalidade fazer manifestar-se “o homem do pecado, o filho da perdição” (II Ts.2:3-10).
Trata-se de uma verdadeira conspiração satânica que terá o condão de enganar a todos os que perecem e, se possível fosse, enganariam até os escolhidos (Mt.24:24).
A jornalista e escritora Marilyn Ferguson (1930-2008), ligada à Nova Era, desnudou este movimento, que chamou de “conspiração aquariana”, uma mudança de mentalidade que levaria a uma “nova era”, que sabemos, à luz da Palavra de Deus, que é “o engano da injustiça”.
OBS: Eis a descrição de um adepto da Nova Era sobre esta “conspiração aquariana” segundo a concebeu Ferguson: “…Conspirar quer dizer
‘respirar junto’, numa ligação íntima, harmônica e introspectiva, quase imperceptível. Era dessa forma que ela [Ferguson] enxergava a conexão existente entre essas pessoas, que não pareciam estar ligadas a nenhum movimento, mas que se comportavam como se obedecessem a uma estratégia comum, como se seguissem uma voz silenciosa, mística e imperceptível.
(…) Espalhados por esse mundo afora existem milhões de pessoas, sem o mesmo nível de consciência desses conspiradores mais atuantes, mas ainda assim conectadas a essa rede de transformação. Elas não se dão conta de que fazem parte dessa rede, mas estão contribuindo, cada uma do seu jeito, para que a conspiração aquariana tenha sucesso.…” (GONÇALVES, Gilberto. A conspiração aquariana. 23 mar. 2009. Disponível em: http://brasilan.blogspot.com/2009/03/conspiracao-aquariana.html Acesso em 09 set. 2011).
Explicitamente, mostra-se que se trata de um movimento em que grande número de pessoas está a agir inconscientemente, pois se trata, mesmo do “engano da injustiça”.
– Por isso, ao ouvirmos as “cartas abertas” que chamam a um “acordo no vale do Ono”, devemos falar a verdade, devemos mostrar a Palavra de Deus e indicar a verdadeira fonte de todas estas acusações infundadas, que não é outro lugar senão o “coração do inimigo”.
E o que há no “coração do inimigo”? Ora, sabemos que naquele coração somente há maldade, uma revolta contra Deus e tudo quanto Deus ama.
Daí porque a “conspiração aquariana” somente trazer “oposição e levantamento contra tudo o que se chama Deus ou se adora” (II Ts.2:4).
– O inimigo está atuando de forma cada vez mais terrível, sem dó nem piedade, porque sabe que tem pouco tempo, mas muitos dos salvos está inerte, agindo como se o inimigo tivesse se cansado.
Por isso, vivem uma vida dúbia, uma vida de mistura com a mentalidade mundana e, sem que saibam, passam a ser agentes desta mesma “conspiração”, que, como nos mostra Paulo, traz a “apostasia”, i.e., o desvio espiritual, que é absolutamente necessário para que haja o triunfo desta conspiração.
– O Senhor Jesus foi bem claro ao mostrar que, quando nos deixamos levar pela nossa natureza pecaminosa, pelo nosso “coração” corrompido pelo pecado, somente estaremos a espalhar tudo quanto ofende a Deus, “porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mt.15:19).
Jeremias diz que nada é mais enganoso e perverso que o coração humano (Jr.17:9). Por isso, não podemos, de modo algum, aceitar a oferta do inimigo e passarmos a agir “segundo o coração”, pois dele somente virão males, como estas acusações infundadas de Sambalate.
– Por isso, para termos o mesmo resultado que teve o povo judeu nos dias de Neemias, a começar das lideranças, devemos ter uma vida sincera e reta diante de Deus.
Neemias não só falou a verdade como a verdade estava respaldada pela sua maneira de viver e, diante de seu testemunho, salvo alguns, mais fracos, que o pressionaram para ceder à oferta do inimigo, que o faziam por medo e não por convicção, o povo pôde continuar a obra apesar do uso da “arma da carta aberta”. Será que estamos nas mesmas condições para superar esta estratégia do inimigo?
– A pressão trazida pelos fracos era de que, caso Neemias não descesse ao vale do Ono, ele não terminaria a obra, visto que os exércitos do rei da Pérsia viriam e impediriam a sua conclusão.
Era, pois, necessário, segundo o entendimento destas pessoas, que Neemias fosse até o vale do Ono, fizesse um acordo com os inimigos e, depois, em segurança, retornasse para a conclusão da obra (Ne.6:9a).
– Diante de tais afirmações que, como vemos, eram razoáveis, Neemias não se intimidou. Deveria ele parar a obrar, que estava sendo realizada por causa da prosperidade do Deus do céu, para impedir que ela não cessasse?
Se Deus garantia a continuidade da obra, por que deveria ele pará-la, exatamente para que ela não parasse?
– Esta mesma contradição observamos nas “cartas abertas” apresentadas pelo inimigo de nossas almas na atualidade. Tais “cartas abertas” convidam os salvos a terem um “diálogo inter-religioso”, uma “tolerância com os demais credos”, uma “convivência pacífica com todas as religiões”, uma “fraternidade com o mundo”.
Ora, se a Igreja veio pregar o Evangelho, para que Jesus salve as pessoas e as liberte, como podemos cumprir nossa tarefa deixando e permitindo que as pessoas continuem presas no pecado?
Como podemos fazer a obra de libertação do pecado mantendo e permitindo que as pessoas continuem presas ainda nele?
OBS: É esta, aliás, a proposta contida na “Declaração sobre a fraternidade humana”, de que já falamos em lição anterior. Tomemos cuidado, amados irmãos!
– Lamentavelmente, muitos dos que cristãos se dizem ser têm abraçado esta proposta satânica e tem alardeado a “convivência pacífica entre os credos”, a “atuação unida contra os males deste mundo”, esquecidos de que o maior mal do mundo é o pecado e que Jesus veio tirá-lo do mundo e que ninguém pode fazê-lo a não ser o Senhor Jesus.
Estão descendo ao “vale do Ono” e ali serão mortos, passando a ser tão somente daqueles que perecem, daqueles que foram vítimas do “engano da injustiça”. Qual é a nossa condição?
Evidentemente que o salvo em Jesus Cristo, por amar até os próprios inimigos (Mt.5:44), não quer o mal de pessoa alguma e, portanto, sempre respeitará, como o próprio Deus o faz, aqueles que rejeitam a verdade e não querem crer em Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas.
Com eles, conviverá pacificamente sobre a face da Terra, não lhes querendo fazer mal, mas sempre mostrando a eles que caminham para a perdição eterna.
Agora, há uma diferença muito grande entre o amor que o salvo tem para com o próximo e a concordância com o que o próximo faz em desacordo com a Palavra de Deus e, mais ainda, com a comunhão com o pecado do próximo.
– Neemias sabia que a obra que estava a fazer não era resultado de nenhuma permissão ou paciência do inimigo, mas, sim, consequência da prosperidade dada pelo Deus dos céus. Por isso, não dependia de qualquer acordo com os inimigos para prosseguimento da obra.
Pelo contrário, saísse ele do lugar onde Deus o havia posto, aí sim a obra não mais se faria. Ir ao vale do Ono teria o efeito de paralisação da obra e isto não poderia ser feito de modo algum.
– Que faz, então, Neemias? O que sempre esteve a fazer desde que havia recebido a notícia da situação de miséria e desprezo em que estava Jerusalém: ora a Deus. Sua oração agora foi: “Agora, pois, ó Deus, esforça as minhas mãos” (Ne.6:9b).
– O pedido de Neemias era de que fosse fortalecido, que tivesse suas forças aumentadas (como traduz a Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
Na Bíblia de Jerusalém, o texto mostra que, enquanto os inimigos tencionavam desanimar e amedrontar com a “carta aberta” Neemias e o povo, o efeito foi de que tudo isto fortaleceu ainda mais o ânimo dos edificadores.
OBS: Reproduzimos o texto da Bíblia de Jerusalém: “ A verdade é que todos eles queriam nos amedrontar, pensando: ‘Suas mãos se cansarão do trabalho e jamais será terminado’. No entanto, dava-se o contrário: eu fortalecia as minhas mãos!” (Ne.6:9,.10).
– Quando vemos, como estamos a ver, todas as coisas que o Senhor Jesus disse que iriam acontecer quando estivesse próxima a Sua vinda para arrebatar a Igreja, não podemos desfalecer, nem desanimar.
É certo que o aumento da perseguição ao Evangelho, as sucessivas vitórias dos inimigos do povo de Deus em todo o mundo podem nos abalar, nos abater, pois somos humanos.
Mas, diante destas circunstâncias, não podemos nos esquecer de que isto é sinal de que Jesus está às portas e que a nossa esperança está cada vez mais perto de se concretizar. Não é, portanto, motivo de desânimo mas de fortalecimento de nossa fé. Aleluia!
III – A UTILIZAÇÃO DE FALSOS PROFETAS CONTRA NEEMIAS
– Neemias não foi para o vale do Ono, continuando a edificar, juntamente com o povo judeu, os muros e portas de Jerusalém, dando início à colocação das portas nos portais. E os inimigos, que fizeram? Desistiram de seu intento? De jeito nenhum! Usaram de mais um recurso: a utilização de falsos profetas.
– Já na sua “carta aberta”, Sambalate havia tentado levar o descrédito à Palavra de Deus ao povo judeu, acusando Neemias de “contratar profetas” para lançá-lo como rei de Judá. Conforme conhecido provérbio popular, “quem disso usa, disso cuida”.
Ao acusar Neemias de “contratar profetas”, o inimigo acabou denunciando uma de suas armas, que era, precisamente, a de “subornar profetas” para confundirem tanto o povo quanto Neemias.
– Esta é, também, uma arma que o inimigo de nossas almas se utiliza, com permissão divina, no meio do povo de Deus. Desde os dias de Israel, o Senhor já alertava contra os “falsos profetas” (Dt.13:1-5) e o apóstolo Pedro foi claro ao dizer que, como sucedeu em Israel, também ocorreria na Igreja (II Pe.2:1-3).
O Senhor Jesus deu grande ênfase aos falsos profetas e seu alto poder de engano (Mt.7:15; 24:11,24; Mc.13:22).
– A arma dos falsos profetas é extremamente perigosa, pois se trata de uma arma que se utiliza no meio do povo de Deus.
Não é uma pressão externa, mas algo que vem do próprio interior da comunidade e que, portanto, passa despercebido por quem não se encontrar atento, por quem não estiver “atado com o cinturão da verdade”, pois o falso profeta só é conhecido quando sua mensagem é analisada à luz da Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17).
Neemias continuava a sua obra e, num certo dia, entrou na casa de Semaías, filho de Delaías, o filho de Meetabel.
Segundo nos diz o texto sagrado, Semaías estava impedido de ir até Neemias. Não sabemos qual teria sido este impedimento, mas, sendo Semaías um profeta, Neemias, ao ser comunicado de que Semaías desejava falar-lhe, prontamente foi ao seu encontro, como, aliás, era do perfil de Neemias que, como vimos, era próximo ao povo, não ficava separado dos seus liderados.
– Ao chegar à casa de Semaías, o profeta lhe trouxe uma mensagem: “Vamos juntamente à casa de Deus, ao meio do templo, e fechemos as portas do templo, porque virão matar-te; sim, de noite, virão matar-te” (Ne.6:10 “in fine”).
– Notemos o cenário. Semaías, um profeta, manda chamar Neemias, que vai até sua casa e o profeta, como que a ter uma “revelação” de uma conspiração, fala que Neemias estava para ser assassinado e que deveria ir, com ele, até o templo e ali se refugiar.
Nada mais razoável para um homem de oração: refugiar-se no templo, onde está a presença do Senhor. Nada mais razoável para um homem de oração: Deus estava preservando-lhe a vida!
– Contudo, Neemias tinha discernimento espiritual. Poderia um profeta verdadeiro dar um conselho contrário à lei do Senhor? Poderia um profeta desdizer o que Deus já havia dito?
Em suma: poderia o mesmo Deus que dissera que o lugar santo somente poderia ser frequentado pelos sacerdotes (Ex.40:31-33) e mandar Neemias ali entrar para se refugiar?
Poderia o mesmo Deus que havia dito que prosperaria, e estava prosperando a obra, mandar que Neemias ficasse no templo enquanto o restante do povo ficasse à mercê de assassinos e inimigos?
– Neemias confrontou a mensagem do “profeta” Semaías com a Palavra de Deus, com as Escrituras e com aquilo que Deus já lhe havia dito desde o momento em que começou a buscá-lo ainda em Susã.
A mensagem de Semaías discrepava do que Deus havia falado através de Moisés, bem como do que Deus lhe havia falado.
Diante desta contradição, Neemias ficou com a Palavra de Deus, rejeitando a mensagem, que compreendeu ser uma falsa mensagem, a mensagem de um falso profeta.
– Se Neemias não conhecesse a lei de Moisés, como poderia saber que Semaías era um falso profeta? Se Neemias não vivesse em comunhão íntima com o Senhor, como saber que Semaías era um falso profeta?
Eis o motivo por que muitos que cristãos se dizem ser, na atualidade, encontram-se iludidos e enganados pelos falsos profetas que proliferam e se multiplicam no meio do povo de Deus: desconhecimento da Palavra de Deus.
Não é à toa que Oseias constatava, com tristeza, nos últimos dias do reino das dez tribos, do reino de Israel: “O meu povo foi destruído porque lhe faltou o conhecimento” (Os.4:6 “in initio”).
– Só há um modo para não sermos enganados pela mentira: conhecer a verdade. Neemias, ao receber a mensagem de Semaías, identificou que ela contrariava a lei e tudo quanto o Senhor já lhe dissera ao longo daqueles meses e, por isso mesmo, rejeitou a mensagem.
Com convicção, disse a Semaías: “Um homem como eu fugiria? E quem há, como eu, que entre no templo e viva? De maneira nenhuma entrarei” (Ne.6:11).
– Neemias diz, com convicção, em seu relato inspirado pelo Espírito Santo e que hoje compõe o texto sagrado:
“Então conheci que eis que não era Deus quem o enviara; mas esta profecia falou contra mim, porquanto Tobias e Sambalate o subornaram. Para isto o subornaram, para me atemorizar, e para que eu assim fizesse, e pecasse, para que tivessem alguma causa a fim de me infamarem, e assim me vituperarem” (Ne.6:12,13).
– Neemias, por discernimento espiritual, pôde entender que a mensagem de Semaías era falsa, porque contrariava as Escrituras.
Toda e qualquer mensagem que contrarie a Bíblia Sagrada deve ser repudiada, pois o que contraria a verdade é mentira e nosso compromisso é com Cristo Jesus, a Verdade.
Não nos iludamos com “profecias”, “visões”, “sonhos”, “revelações” que contrariem a Palavra de Deus.
Em vez de corrermos atrás disso, leiamos e meditemos na Bíblia Sagrada para que não venhamos a ser enganados.
Mas Neemias não ficou apenas com o discernimento espiritual. Como justo, investigou o que se passava e acabou descobrindo que Semaías havia sido subornado por Sambalate e Tobias para que levasse Neemias ao pecado e, assim, tivessem eles o que falar de Neemias para o povo.
Como é importante que o líder seja íntegro, pois, assim fazendo, não tem como o inimigo infamá-lo e vituperá-lo.
Por isso mesmo, deve se manter em comunhão com Deus, em constante oração e meditação nas Escrituras, para que não venha a cair. Tem misericórdia de nós, Senhor!
– Nesta sua investigação, Neemias descobriu que Semaías não foi o único, mas que também outros profetas foram subornados por Tobias e Sambalate, entre os quais a profetisa Noadias (Ne.6:14).
– Triste é quando o profeta passa a amar o dinheiro. Nos dias de Miqueias, era esta também a situação do povo de Israel. Lá, os profetas também profetizavam por dinheiro (Mq.3:11) e o resultado disto foi o cativeiro (Mq.3:12).
Não é diferente nos dias atuais. Paulo advertiu que muitos se desviarão da fé por causa do amor do dinheiro (I Tm.6:10).
Devemos ter muito cuidado pois o vil metal continua atuando e fazendo com que as pessoas deixem de servir a Deus, pois quem serve às riquezas não pode servir a Deus (Mt.6:24).
– Uma característica desta gente é bem explicitada por Neemias em seu relato. Os traidores, os conspiradores são os conhecidos “leva-e-traz”.
Assim nos diz Neemias: “Também as suas bondades contavam perante mim, e as minhas palavras lhe levavam a ele” (Ne.6:19a).
– Quando percebermos que, no meio do povo de Deus, existem os “leva-e-traz”, aqueles que tudo nos contam, mas que também contam tudo para outrem, devemos deles nos distanciar, pois são agentes do inimigo, conspiradores introduzidos no meio do povo do Senhor.
Por isso, a lei já condenava os mexeriqueiros (Lv.9:17), como também Paulo pedia que não houvesse mexericos no meio da igreja (II Co.12:20).
– Que fez Neemias ao saber dos subornos? Mandou matar os falsos profetas? Não. E por que não o fez? Porque não podia se distrair com outros assuntos que não fosse a obra que tinha de ser concluída.
Além do mais, a conspiração, soube ele, não se limitara aos profetas, mas o fato é que alguns nobres de Judá trocavam cartas com Tobias, que era genro de Secanias, filho de Ará e Joanã, filho de Tobias, tomara como esposa a filha de Mesulão, filho de Berequias (Ne.6:17,18), que era um dos edificadores mais laboriosos (Ne.3:4,30).
– Neemias bem percebeu que, caso tomasse atitudes drásticas, além de não ter condições de extirpar todos os conspiradores, ainda enfraqueceria o ânimo do povo.
Seu papel ali era a edificação dos muros e portas de Jerusalém e isto é que teria de ser feito. Muitas vezes, somos distraídos da obra de Deus por causa das traições, das conspirações e, mesmo quando tudo nos é revelado, devemos sempre agir com prudência, pois o objetivo maior é a realização da obra de Deus, que não pode ser paralisada por causa das traições, das infidelidades.
– Lembremo-nos do que o Senhor Jesus nos ensina na parábola do joio e do trigo, quando nos ensina que não devemos tirar o joio quando ele é detectado, mas que aguardemos a colheita, quando, então, será separado o joio do trigo (Mt.13:24-30,36-43).
Foi, precisamente, o que fez Neemias: ao tomar conhecimento de toda a conspiração, entregou o caso nas mãos do Senhor: “Lembra-Te, meu Deus, de Tobias e de Sambalate, conforme a estas suas obras, e também da profetisa Noadias, e dos mais profetas que procuraram atemorizar-me” (Ne.6:14).
– O objetivo destes falsos profetas era buscar atemorizar Neemias para que este viesse a pecar e, assim, dar alguma causa para que fosse infamado diante do povo.
Sabendo que este era o propósito dos inimigos, Neemias tão somente não deu lugar para a infâmia. O objetivo era atemorizá-lo? Ele não se atemorizou.
O objetivo era fazê-lo pecar? Ele não pecou. O objetivo era fazê-lo paralisar a obra? Ele não a paralisou.
O líder tem de ter este discernimento. Era bom ter tamanha quantidade de traidores no meio do povo? Não, não era bom. Entretanto, o objetivo daquela traição era a paralisação da obra e não havia resposta melhor para os inimigos que a continuação da obra.
Neemias não pensava em si, mas na obra, na realização da vontade de Deus. Quando o líder assim age, a obra do Senhor continua a prosperar, sem que se precise gastar tempo e energia com uma “execução de vingança”, com uma “execução de justiça”, pois o Senhor, ao Seu tempo, saberá de tudo cuidar. Aprendamos com Neemias!
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5670-licao-10-provai-se-os-espiritos-sao-de-deus-i