INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo do livro de Jó, analisaremos os capítulos 29 a 31, que é a última defesa do patriarca.
– Jó mostra a insuficiência do discurso de seus “amigos”.
I – O ESTADO ANTERIOR DE JÓ
– Ao observarmos o livro de Jó, percebemos que o patriarca, após o terceiro discurso de Bildade e antes da intervenção de Eliú, faz uma grande lamentação, que vai dos capítulos 28 até 31.
– No capítulo 28, como vimos na lição anterior, Jó como que profetiza, pois, sob inspiração divina, fala sobre a sabedoria divina num discurso que até o compromete.
– Como vimos, Jó volta a insistir na ideia de que Deus está acima do homem e que não podemos querer discernir Seus propósitos e pensamentos, como pretende poder entender o teólogo da prosperidade, que usa do critério da prosperidade material de alguém para dizer se ela está, ou não, conforme a vontade do Senhor.
– Diz o patriarca que não podemos negar que o homem é um ser inteligente e que pode dominar a natureza, mas o faz apenas porque Deus criou todas as coisas.
– Como se não bastasse isso, quando se verifica de onde vem a sabedoria, que se distingue da inteligência, percebe-se que ela não está ao alcance do homem e que a sua única fonte é Deus. Só “Deus entende o seu caminho e sabe o seu lugar ” (Jó 28:23).
OBS: “…Em tempos de crise, o atendimento às necessidades materiais se torna um assunto prioritário. Afinal, queremos garantir nosso sustento e sobrevivência.
Queremos também conforto e todo tipo de satisfação pessoal. Queremos ter um ótimo emprego. Mas, que tal termos nosso próprio negócio? Melhor ainda. Tudo isso é permitido.
Não existe nenhum pecado em todos esses desejos, desde que estejamos dispostos a trilhar caminhos direitos para alcançarmos o que desejamos. Entretanto, muitos têm anunciado o evangelho como se este fosse um meio para se alcançar riqueza.
Chegam a dizer que todo cristão deve ser rico e, se for pobre, é porque está em pecado ou sob maldição. Vejo essa “teologia da prosperidade” como fruto da mentalidade capitalista que tem dominado o mundo, entrando inclusive em muitas igrejas. Muitos pregadores apresentam esse “evangelho” através de uma linha de raciocínio aparentemente lógica.
Afirmam que, se Deus é rei, então seus filhos devem ter o que de melhor existe no mundo. Se ele é o dono do ouro e da prata (Ag.2.8), então os cristãos também devem ter muito ouro e muita prata. Segundo essa falsa tese, o supremo poder de Deus estaria a nosso serviço para nos dar tudo o que desejamos.
Mas… quem é o Senhor? Nós? Não! Precisamos perguntar como Paulo: “Senhor, que queres que eu faça?” (At.9.6). Temos uma lista de pedidos para Deus. Algumas pessoas tem uma lista de ordens, chegando a “determinar” que Deus faça uma série de coisas.
Quem somos nós para determinar alguma coisa para Deus? Será que já cumprimos tudo o que ele determinou que fizéssemos? Imagine um servo que, ao invés de fazer o serviço, está dando ordens para o dono da casa.
Podemos e devemos apresentar nossos pedidos diante do Senhor, mas nunca ordens nem determinações. Isso seria um atrevimento, uma falta de respeito diante de Deus.…” (ANDRADE, Anísio R. Prosperidade. http: /www.geocities.com/athens/agora/8337/prosperidade.htm).
– Depois desta reflexão, Jó volta ao seu lamento que caracteriza suas intervenções no debate com os seus
“amigos”. Trata-se, na verdade, agora, de uma lamentação que procura responder a todos os discursos de seus amigos, demonstrando a sua insuficiência para o consolo e conforto da alma do patriarca.
– Jó descreve seu estado anterior à prova, mostrando como gozava de todos os bens que alguém poderia ter (Jó 29).
– Apresenta Jó, então, um saudosismo, querendo retornar aos “meses passados”, aos dias em que Deus o guardava (Jó 29:2).
– Esta atitude de lembrança do que se passou e de apego ao período anterior à prova é uma característica muito própria do ser humano, mas que não é, porém, uma atitude correta ou que revele sabedoria por parte de quem a toma.
– Salomão é bem claro e explícito ao dizer que com sabedoria ninguém diz que os dias passados são melhores que os presentes (Ec.7:10). Com efeito, não podemos viver do passado nem desejá-lo, porque o passado já passou, nunca mais voltará a existir, é algo que não volta e que simplesmente não mais existe.
– Prender-se ao passado é, portanto, prender-se ao nada, é querer iludir-se, pretendendo viver num momento que já passou e que jamais voltará. Ademais, o tempo é algo que corre para a frente e temos uma eternidade a nos esperar e é com relação a este destino eterno que temos de nos preocupar e nos preparar.
– Ficar a viver do passado, portanto, é uma atitude inútil e que se constitui numa terrível armadilha, visto que faz com que desperdicemos nosso tempo com algo absolutamente despropositado, que nos faz perder o foco do que realmente interessa, que é a nossa preparação para a eternidade, pois sabido que nossa existência e nossa vida não terminam nesta dimensão terrena.
– Em que pese não se tratar de uma conduta correta ou sábia, ao menos Jó revela aqui algo importante, qual seja, a de que os “meses passados” eram felizes e desejáveis, porque Deus o guardava.
O patriarca atribuía ao Senhor o bem-estar passado, não dizia que havia sido fruto de seu merecimento, como defendiam seus
“amigos”, mas que tudo decorria da guarda, da proteção, do cuidado que Deus tinha para com ele.
– O Senhor Jesus fez um pedido ao Pai na Sua oração sacerdotal: que o Pai guardasse os Seus discípulos agora que Ele sairia da Terra (Jo.17:11,12).
– Temos, pois, esta certeza: a de que estamos sempre guardados pelo Pai a pedido de Cristo, na companhia do Espírito Santo. Que maravilha!
Podemos, então, repetir as palavras extremamente bíblicas do poeta sacro Justus Henry Nelson (1851-1937):
“Não desampara nunca, nem me abandonará se fiel e obediente eu viver; um muro é de fogo, que me protegerá, ‘té que venha a mim o tempo de morrer. Ao céu, então, voando, Sua glória eu verei onde a dor e a morte nunca vêm” (3ª estrofe do hino 198 da Harpa Cristã).
– Jó diz que além de ser guardado por Deus, o Senhor fazia resplandecer a Sua candeia sobre a sua cabeça e Jó caminhava, com a Sua luz, pelas trevas (Jó 29:2).
Aqui o patriarca nos faz lembrar do salmista que diz que a Palavra de Deus é luz para o nosso caminho e lâmpada para os nossos pés (Sl.119:105), como também do apóstolo João que nos diz que Deus é luz e n’Ele não há trevas nenhumas (I Jo.1:5).
– Quando estamos em comunhão com o Senhor, jamais andamos em trevas. Estamos com Deus, que é luz, andamos na luz e, portanto, todas as trevas se dissipam, pois as trevas não têm como continuar presentes quando aparece a luz. Por isso, o apóstolo Paulo disse que somos “filhos da luz e filhos do dia” (I Ts.5:5).
– É sintomático que o patriarca, ao aludir aos meses passados, comece mostrando a comunhão que tinha com o Senhor, demonstre que sempre considerara como prioritário o seu relacionamento com Deus.
Ante a dureza da provação, Jó se sentia abandonado pelo Senhor, que, entretanto, não o havia deixado, como ele achava.
O patriarca, porém, estava tão ensimesmado na sua dor que não podia entender que Deus ali estava e que, inclusive, lhe havia, há pouco, trazido algumas revelações.
– Jó achava que Deus o havia deixado. Dizia que, nos dias da sua mocidade, a amizade de Deus estava sobre a sua tenda e o Todo-Poderoso estava com ele, enquanto os meninos estavam em torno dele.
– Aqui temos uma belíssima informação, qual seja, a de que não só apenas Jó tinha comunhão com o Senhor, como tinha levado sua família a esta comunhão.
– O patriarca afirma que, quando seus filhos ainda eram crianças, ele desfrutava de uma comunhão com Deus, que estava presente em sua casa, como com os seus filhos, ou seja, havia uma unidade entre ele, Deus e a sua prole.
– Esta afirmação do patriarca ecoa o Salmo 128, chamado de “salmo da família”, onde o salmista afirma que aquele que teme ao Senhor tem a sua mulher e seus filhos à roda da sua mesa, ou seja, em comunhão.
A família é o lugar primeiro que Deus escolheu para Se manifestar ao homem e é absolutamente necessário que nossa casa seja um local onde se demonstre a “amizade de Deus” ou, noutra tradução, “os segredos de Deus”, ou seja, devemos zelar para que o Senhor Se revele e esteja em comunhão e paz em nossos lares.
– Jó diz que, naqueles tempos áureos, o Senhor lavava seus passos em manteiga e da rocha lhe corriam ribeiros de azeite, a indicar, assim, que Deus lhe dava tanto fartura espiritual quanto material.
Quando estamos em comunhão com o Senhor, os nossos passos são “lavados”, ou seja, nossas atitudes são santas, puras e glorificam o nome do Senhor, porque “correm ribeiros de azeite da rocha”, ou seja, o Espírito Santo nos orienta, nos ensina e, como resultado disso, glorificamos o nome de Jesus, que é o papel que o Espírito veio fazer aqui na Terra. Foi o próprio Jesus quem disse que aqueles que cressem n’Ele teriam rios de água viva manando de seu interior (Jo.7:38,39).
– Esta conduta de Jó deu-lhe credibilidade perante a sociedade. O patriarca diz que frequentava a porta da cidade e na praça preparavam lhe preparavam a cadeira.
Isto significa que Jó era chamado para julgar as causas das pessoas, pois eram os juízes aqueles que ficavam na porta das cidades naquela época. Jó era respeitado e tinha poder de decisão, sendo honrado pela sociedade, fruto da honra que dava ao Senhor.
– O respeito que se tinha com Jó era muito grande. Os moços o viam e se escondiam; os idosos se levantavam e se punham em pé; os príncipes continham as suas palavras e punham a mão na boca, a voz dos chefes se escondia e a sua língua se apegava ao seu paladar. Todos o tinham por bem-aventurado e davam bom testemunho dele.
– Assim deve ser qualquer servo de Deus. Isto não é uma peculiaridade na vida de Jó. Não, não e não! Todo servo de Deus deve ter um testemunho igual e uma respeitabilidade e credibilidade como a que teve o patriarca.
– Mas alguém dirá: o mundo aborrece os servos de Deus, isto é inevitável, o próprio Jesus o disse (Jo.15:18,19). Como, então, dizer que o servo do Senhor deve ser respeitado e honrado como foi Jó?
– O apóstolo Pedro explica esta aparente contradição. É evidente que o mundo nos aborrecerá, porque o mundo está no maligno e nós somos de Deus, havendo, pois, uma incompatibilidade que jamais será superada.
No entanto, ao nos perseguirem, está-lo-ão a fazer justamente por causa das nossas virtudes, incriminarão o nosso bom proceder (I Pe.2:11,12). Lembremo-nos de Daniel que, por ter uma reputação ilibada, teve de ser perseguido justamente na lei do Senhor (Dn.6:3-5).
– Jó era, também, um homem solidário e filantropo. Ele livrava o miserável que clamava, o órfão que não tinham quem socorresse, era a bênção que ia perecendo e o motivo do rejúbilo da viúva, o olho do cego, os pés do coxo e o pai dos necessitados. Jó sempre estava pronto para atender ao necessitado, para ajudar aquele que precisava.
– Mas Jó não apenas fazia o bem. Também batalhava contra o mal. Disse que quebrava os queixais do perverso e dos seus dentes tirava a presa. Era alguém que ajudava a castigar os maus e a louvar os bons.
– Por tudo isso, Jó era ouvido por todos, normalmente a sua palavra era seguida por todos, tendo grande influência no meio em que vivia, tanto que era tratado como chefe e rei.
– Jó aqui tipifica a Igreja, este povo edificado por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, constituído para ser luz do mundo e sal da terra. Será que podemos dar o mesmo testemunho dado pelo patriarca ao se lembrar do estado anterior à prova? Pensemos nisto!
II – O ESTADO PRESENTE DE JÓ
– Jó, depois de se lembrar do seu estado anterior com saudosismo, começa a descrever o seu estado atual, onde o desprezo, a dor e a humilhação eram uma constante na sua vida (Jó 30).
– Contrastando com aquela honorabilidade e respeito recebidos, o patriarca agora diz que as pessoas de menos idade do que ele se riem dele, pessoas cujos pais Jó teria desdenhado de pôr com os cães do seu rebanho.
– A prova de Jó disseminou a mentalidade de que não valia a pena ser “diferente”, ter uma vida íntegra, como tinha o patriarca.
Mais do que depressa, Satanás procurou, ante a derrota de ver Jó mantendo a sua integridade apesar de todas as perdas, de ecoar, entre os homens, a ideia de que Jó era um pecador e de que era inútil tentar seguir-lhe o exemplo.
– Assim, as pessoas menos recomendáveis da sociedade, a chamada “ralé”, representada aqui pelos filhos das pessoas desqualificadas, eram os primeiros a fazer “chacota” do patriarca, a injuriarem Jó, a desrespeitá-lo, a zombá-lo.
– Jó descreve estas pessoas como verdadeiros párias da sociedade, completamente desqualificados, que viviam como marginais, que, comparando com os dias de hoje, seriam os chamados “excluídos”, como os “moradores de rua”, pessoas completamente à parte do meio social, mas que, mesmo assim, estavam a rir e a zombar do patriarca, que estava numa situação pior que a deles.
– Vemos que, conquanto o patriarca observasse estas atitudes, a ponto de aqui narrá-las diante de seus
“amigos”, em momento algum vemos o patriarca querendo se vingar deles ou amaldiçoá-los. Sem o saber, Jó estava aqui a imitar o Senhor Jesus que, quando injuriado, não injuriava mas Se entregava Àquele que julga justamente (I Pe.2:23).
– Qual tem sido o nosso comportamento diante de atitudes quetais que pessoas fazem a nosso respeito? Agimos como fez Jó e determina as Escrituras na carta de Pedro ou já aderimos aos adeptos da “oração contrária” e da “vingança santa” que muitos alardeiam por aí? Pensemos nisto!
– Jó era repudiado pela sociedade. Era tido como um amaldiçoado por Deus, como um verdadeiro opróbrio, a ponto de as pessoas se afastarem dele, evitarem qualquer contato com ele, até porque sua aparência deveria ser, realmente, assaz repugnante e tivessem as pessoas medo, inclusive, de que a sua enfermidade fosse contagiosa.
Chegavam mesmo a cuspir no rosto do patriarca. Que situação deplorável! Jó via nisto o abandono de Deus.
Deus teria desatado Sua corda e o oprimido. Jó sente que é abominado por todos e que muitos planejam a sua destruição, tamanha repulsa causava ele entre os seus semelhantes.
– Como se isto fosse pouco, o próprio Jó sofria internamente. Sobrevieram-lhe pavores, até porque passou a perceber que queriam a sua destruição.
Estava com problemas psicológicos, talvez o que hoje diagnosticaríamos como síndrome do pânico, sendo, ainda, atacado em sua honra, pois, normalmente, quando uma pessoa cai em desgraça, não faltam aqueles que surgem para enlamear a reputação e o bom nome que a pessoa tinha até então, verdadeiros “urubus que buscam alimentar-se de carniça”.
– Jó não conseguia sequer dormir direito. De noite, sofria dores que o impediam de repousar, tinha um tormento incessante.
– Jó, então, mostra qual era o seu maior tormento. Como um verdadeiro homem de Deus, não via o sofrimento social, moral e físico como preponderantes, mas, sim, o silêncio divino diante de tudo aquilo.
Queixava-se Jó de que clamava e o Senhor não lhe respondia, mantinha-se em silêncio. Jó se sentia abandonado por Deus e era isto que mais o atormentava.
– Isto nos faz lembrar o momento mais desesperador de toda a paixão de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que foi o instante em que os pecados da humanidade caíram sobre Ele e houve a inevitável separação entre Ele e o Pai, momento em que Jesus ora o Salmo 22 e exclama o desamparo do Pai.
– Damos o mesmo valor que Jó dava à presença de Deus em sua vida? Ou, ante as bênçãos recebidas, pouco nos importamos com a comunhão com o Senhor, preferindo desfrutar das benesses trazidas por nosso Criador?
– Todo o atroz sofrimento de Jó para ele nada representava diante do silêncio do Senhor e o que ele achava ser o abandono, o desamparo da parte de Deus. Que valor dava o patriarca a sua vida com Deus!
– Diante do silêncio divino, o patriarca clama pedindo uma resposta. Entende que Deus Se tornou cruel para ele e que resiste violentamente ao Seu servo, a ponto de o estar fazendo derreter, mas, mesmo assim, Jó confia que Deus pode lhe responder, pois o Senhor estenderia Sua mão a um montão de terra que clamasse.
– Jó lembra que havia chorado sobre aquele que estava aflito e angustiado a alma pelo necessitado. Como, então, podia ter tido, como miserável homem que era, compaixão pelo sofrimento alheio e Deus seria impassível para com o seu sofrimento?
– Jó diz que estava esperando a luz, aguardando o bem, tendo-lhe sobrevindo o mal e a escuridão, por isso o seu íntimo fervia e não estava quieto, havia sido surpreendido pelos dias de aflição. Jó estava denegrido, clamava por socorro e esta solitário, abandonado por todos.
– Nesta dificílima situação, sem que pudesse ter sido consolado ou comovido pelo discurso de seus “amigos”,
Jó volta a pedir a Deus que o ouvisse. Jó continua a confiar no Senhor. Não entende o porquê de toda aquela situação, mas não atribui a Deus falta alguma. Quer apenas uma satisfação, quer saber porque estava sofrendo tanto.
III – JÓ DECLARA SUA INTEGRIDADE PELA VEZ DERRADEIRA
– Após este clamor, Jó volta a declarar a sua integridade, como fizera quando respondera aos seus “amigos”
(Jó 31).
– Jó diz que fez concerto com os seus olhos e, portanto, como poderia fixá-los em uma virgem?
– Aqui o patriarca faz uma observação que seria, milênios depois, explicada por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. São os olhos um importantíssimo órgão do corpo, sobre o qual devemos vigiar com muito cuidado e zelo, pois eles podem comprometer toda a nossa vida espiritual.
– O Senhor Jesus disse que os olhos são a candeia do corpo e se esta luz for trevas, densas serão as trevas em nossa vida espiritual (Mt.6:22,23).
Jó tinha a luz do Senhor como guia para a sua vida e guardava a sua visão corporal do pecado. Tomava, assim, todos os cuidados para andar na luz como o Senhor na luz está. Temos seguido este salutar exemplo?
– Jó demonstra que a sua preocupação era, sobretudo, com a parte de Deus vinda de cima ou a herança do Todo-Poderoso desde as alturas (Jó 31:2).
Temos pensado nisto durante a nossa vida? Estamos realmente verificando se vivemos de forma a recebermos a herança imarcescível guardada nos céus para nós (I Pe.1:4)?
Ou temos nos comportado como os mais miseráveis dos homens esperando em Cristo só para esta vida (I Co.15:19)? Que bom imitarmos o patriarca Jó, cujo testemunho tanto agradava a Deus!
– Jó expõe a sua vida diante de Deus, fazendo confissão de sua sinceridade e integridade, pois não era nem perverso, nem praticava a iniquidade.
– Por primeiro, afirma que não andou com vaidade nem se apressou para o engano. Jó era um homem que não se preocupava prioritariamente com as coisas desta vida, que nada mais são que vaidade (Ec.1:2), nem tampouco compactuou com a mentira, com o engano, já que o pai da mentira é Satanás (Jo.8:44), que nada tem em Deus (Jo.14:30).
– Por segundo, afirmou que seus pés não se desviaram do caminho, o seu coração não havia se apegado aos seus olhos nem tampouco sua mão havia pegado alguma coisa.
Jó confessava ter sido uma pessoa honesta, que jamais cobiçou os bens do próximo nem foi ganancioso, o que era algo extremamente difícil, levando-se em conta que as pessoas ricas, como era o caso de Jó, facilmente se deixam levar pela ganância e pelo desejo de ter cada vez mais posses (Ec.4:8).
– Por terceiro, afirmou que seu coração nunca se deixou seduzir por mulher alguma ou andou ele rondando a porta do próximo para galantear a mulher de alguém.
Jó era fiel a sua esposa, um marido exemplar. Era fiel, o que também era difícil para um homem rico como era Jó, dentro de uma sociedade que, inclusive, tolerava a poligamia.
– Por quarto, afirmou que jamais havia desprezado o direito do seu servo ou da sua serva quando eles contendiam com ele. Jó era alguém que não explorava o próximo, apesar de ser rico, poderoso e influente. Veja que, nos dias de Jó, os servos, via de regra, eram considerados como coisas, como pessoas de segunda classe, mas Jó os tratava com dignidade, como iguais perante a lei.
Que exemplo a ser seguido pelos empregadores cristãos que, não raras vezes, violam os direitos de seus empregados…
– Por quinto, Jó disse não ter jamais deixado de ajudar os necessitados, estando sempre pronto a ajudar os pobres, a viúva, o órfão, o que precisava de comida, bebida ou vestimenta. O servo do Senhor tem de ser alguém que ajude o necessitado, pois, se não o fizer, não estará a demonstrar que tem fé e amor vindos da parte do Senhor (Tg.2:15,16; I Jo.3:16-19).
– Por sexto, Jó disse nunca ter posto sua esperança no ouro ou nas suas riquezas. Tanto foi assim que, ao perder todos os seus bens, nem por isso Jó deixou de adorar a Deus, precisamente porque não confiava nas riquezas que possuía, sabendo que tudo lhe havia sido dado pelo Senhor. Esta é a orientação da Palavra de Deus (Sl.49:6,7; 52; I Tm.6:17).
– Por sétimo, Jó disse nunca ter sido idólatra, negando-se a adorar o sol ou a lua, jamais adorando qualquer outro deus senão o Senhor.
Lembremos que Jó era gentio e que, portanto, vivia numa sociedade que tinha o politeísmo como a prática corriqueira em termos religiosos, visto que a idolatria exsurgiu na história da humanidade quando da subida ao poder de Ninrode na comunidade única pós-diluviana.
– Por oitavo, Jó disse nunca ter se alegrado da desgraça daquele que o odiava ou de quem lhe procurasse o mal.
Já vimos que Jó, mesmo ao descrever seu atual estado, não pronunciou qualquer palavra amaldiçoadora ou de vingança contra aqueles que estavam a zombar dele, a cuspir-lhe ou a injuriá-lo.
Jó não era desses “crentes” de hoje em dia que se esmeram em amaldiçoar o próximo, em fazer “oração contrária” ou a pedir a “vingança dos seus inimigos”. Não, não e não! Jó era pessoa que servia a Deus e que, portanto, não quer o mal do próximo, mas o seu bem.
– Por nono, Jó disse ser alguém que hospedava o estrangeiro e o viandante, numa clara demonstração de seu amor ao próximo, já que ele recebia em sua própria casa pessoas completamente desconhecidas. A hospitalidade é uma característica que deve ter o servo do Senhor (Hb.13:2).
– Por décimo, Jó disse ser alguém que jamais havia encoberto as suas transgressões. Vemos aqui, claramente, que Jó não se tinha por homem perfeito ou dotado de méritos.
Considerava-se um pecador, pois o era efetivamente, como todo ser humano. Apenas que não estava sofrendo por causa de pecados, precisamente porque sempre os confessava. Quem confessa e deixa, quem não encobre a transgressão, prospera espiritualmente (Pv.28:13).
– Jó clama a Deus, mas acha que Deus não queria mais ouvi-lo, que o havia abandonado, o que era um pensamento incorreto e que seria devidamente corrigido pelo próprio Senhor na continuidade de toda esta reflexão.
– Jó confiava em Deus, sabia de sua integridade e queria que o Senhor respondesse à sua indagação, achando ter o direito a ter uma satisfação, residindo aqui a sua falha, a sua “pontinha de autossuficiência” que precisava ser removida para evitar o fracasso espiritual deste servo de Deus exemplar. Era este, aliás, o objetivo de toda a provação que o patriarca estava a sofrer.
– Em ambas as descrições, a do estado anterior e a do estado presente, percebe-se uma grande oposição, mas, em ambas as situações, Jó continua sendo um homem fiel a Deus e sem culpa, numa clara prova bíblica de que a posse de riquezas ou de bem-estar material é algo indiferente no relacionamento de Deus com o homem.
– O patriarca, aliás, é bem enfático ao afirmar que, ao contrário de Adão, não estava a esconder qualquer pecado (Jó 31:33,34).
Para um teólogo da prosperidade, é impossível que, sem alteração espiritual, possa alguém passar da riqueza para a miséria, mas os capítulos 29 e 30 do livro de Jó são um cabal desmentido para estes teólogos, a quem devemos tão somente repetir, aqui, as palavras de Jesus, a saber: “errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus”(Mt.22:29b)./
– No capítulo 31, o patriarca, mesmo em pleno estado de miserabilidade, declara que se mantém um homem íntegro na presença de Deus.
Afirma que é um homem íntegro do ponto-de-vista moral e sexual (Jó 31:1), pede ao Senhor que o pese em balanças fiéis, pois não será achado em falta (Jó 31:6), numa situação, a propósito, diametralmente oposta ao do rei Belsazar que, em meio a tanta opulência material, foi achado em falta por Deus (Cf. Dn.5:27).
– Jó informa-nos, ainda, que não pôs sua esperança no ouro nem nele confiou (Jó 31:24), nem mesmo ficou alegre porque tinha obtido riquezas (Jó 31:25), numa clara demonstração de que não via na posse de riquezas a prova ou a demonstração de sua comunhão com o Senhor.
Que discurso diferente do dos teólogos da prosperidade e de todos os crentes que só servem a Jesus para serem ricos nesta vida.
O patriarca considera um tal comportamento como um delito diante de Deus (Jó 31:28) e, como Deus Se agradou do que Jó falou a Seu respeito (Jó 42:8), não temos outra qualificação a fazer a respeito da teologia da prosperidade: trata-se de um delito diante de Deus.
– Jó terminava as suas queixas, queria uma resposta de Deus. Mas, para sua surpresa, Deus não iria lhe responder, mas, sim, fazer perguntas. Antes, porém, uma nova personagem haveria de aparecer em meio aos debates. É o que veremos na próxima lição.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5999-licao-10-a-ultima-defesa-de-jo-i