LIÇÃO Nº 11– A REALIDADE BÍBLICA DO INFERNO

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo da vida cristã como “o Caminho”, refletiremos, desta feita, sobre a realidade bíblica do inferno.

-A perdição eterna é uma realidade.

I – O HOMEM PRECISA DE SALVAÇÃO

-Na sequência do estudo sobre a vida cristã como “o Caminho”, refletiremos, desta feita, sobre a realidade bíblica do inferno.

-Quando dizemos que a vida cristã é “o Caminho”, não temos como deixar de nos lembrar das palavras de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo no sermão do monte, quando disse haver dois caminhos, um que conduz à vida eterna e outro, à perdição eterna (Mt.7:13,14).

-Neste Seu ensino, ficamos a saber que muitos são os que entram pelo caminho espaçoso, cuja porta é larga e que conduz à perdição. Cristo, deste modo, já mostra que a tendência do homem é se perder e que a maior parte da humanidade seguirá tal via.

-Após ter entrado triunfalmente em Jerusalém, Jesus Se apresentou, uma vez mais, como a luz e que era necessário que cressem n’Ele para que não permanecessem nas trevas, para que as trevas não os apanhassem, porque havia vindo ao mundo para salvá-lo, não para julgá-lo, julgamento que, entretanto, se daria no último dia (Jo.12:35,36,46-48).

-No sermão profético ou escatológico, ao falar do julgamento das nações, Cristo diz que há um lugar, o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mt.25:41), para onde serão enviados aqueles que não forem justos, cujo destino é o tormento eterno (Mt.25:46).

-Na oração sacerdotal, o Senhor volta a nos mostrar a realidade da perdição, ao afirmar que havia guardado aqueles que o Pai Lhe havia dado e nenhum deles tinha se perdido, salvo o filho da perdição (Jo.17:12), revelando-nos que a não perdição do homem exige, da parte de Cristo, um trabalho de guarda, um esforço sem o que naturalmente o homem se perderá.

-Bem por isso, ao sair deste mundo, o Senhor prometeu-nos estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt.28:20), bem como que não nos deixaria órfãos, mandando o Espírito Santo (Jo.16:18,26).

-Como dissera nas Suas últimas instruções, sem Ele nada podemos fazer (Jo.15:5), de forma que, para não nos perdermos, precisamos estar em comunhão com o Senhor.

-Todos estes ensinos de Jesus mostram-nos, com absoluta clareza, que existe a perdição eterna, que os homens, aliás, estão destinados a se perder se não crerem em Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador. Quem não crer, será condenado (Mc.16:16) e esta condenação, já vimos, é o tormento eterno no fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos.

-Não há como aceitar, pois, doutrinas que contrariam o que consta nas Escrituras. A primeira delas é a que nega a condenação eterna, dizendo que todos serão salvos, o chamado “universalismo”.

-Segundo esta doutrina, todos serão salvos, ainda que padeçam algum período em algum “lugar de tomento”. Ora, o Senhor Jesus disse que o fogo é eterno e que os injustos serão lançados no “tormento eterno”. Se Cristo diz que o tormento e fogo são eternos (e não só para o diabo e seus anjos mas também para os injustos), como podemos dizer que eventual tormento será temporário?

-Jesus também disse que Judas Iscariotes se perdeu, que ele é o filho da perdição. Como, então, dizer que não há perdição? Jesus disse que são muitos os que entram pelo caminho espaçoso, que conduz à perdição, como então não há perdição?

-Bem se vê, pois, que a doutrina do “universalismo” contraria as palavras do Senhor Jesus, que é a verdade (Jo.14:6) e, portanto, se é um ensino que contraria a verdade trata-se de uma mentira, portanto.

-Outra doutrina é aquela que diz que os que não se salvarem serão “aniquilados”, ou seja, a perdição nada mais é que o fim da existência. Os que forem condenados sofrerão a “morte eterna” ou “segunda morte” e, desta forma, não mais existirão, serão aniquilados, destruídos.

É a doutrina chamada de “aniquilacionismo”, fomentada principalmente por Charles Taze Russell (1850-1916), fundador das Testemunhas de Jeová e adotada, também, pelos adventistas.

-Aqui também há contraditoriedade com os ensinos do Senhor Jesus. Ele disse que os injustos sofrerão “tormento eterno”. Ora, se há tormento, ou seja, sofrimento, isto é uma demonstração de que não deixarão de existir, que serão aniquilados. “Morte” na Bíblia não significa destruição ou aniquilação, mas, sim, “separação”.

-O primeiro casal, após ter pecado, já estava morto espiritualmente, mas ainda existiam, como se verifica da narrativa bíblica, pois não puderam se apresentar diante de Deus, embora biologicamente estivessem ainda vivos.

-Aliás, os dois primeiros seres humanos a ir para o lago de fogo e enxofre serão o Anticristo e o Falso Profeta, que serão lançados lá ainda vivos biologicamente, numa prova de que não se trata de aniquilação mas de início de um eterno sofrimento (Ap.19:20).

-Por fim, temos aqueles que são um pouco mais radicais que os “aniquilacionistas”, que são os materialistas, aqueles que dizem que não há eternidade, que a nossa vida é limitada à existência terrena, “a turma do morreu, acabou”.

-Este comportamento é típico daqueles que se recusam a glorificar a Deus, que estão imersos na soberba espiritual, que não creem na existência e/ou na intervenção divina na criação (ateus e deístas, respectivamente).

-Não são poucos os que, em nossos dias, adotam esta linha de pensamento, que encontrou guarida em alguns filósofos e pensadores que são verdadeiros “gurus” deste tempo final da Igreja sobre a face da Terra, como Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Jean-Paul Sartre (1905-1980).

-Entretanto, este tipo de mentalidade, como tudo sobre a dimensão terrena, não é novo nem tampouco inovador (Cf. Ec.1:9,10). O profeta Isaías já menciona isto ao falar daqueles que, em Jerusalém, haviam desconsiderado a figura divina, que não “olharam para cima”, contentando-se apenas com o que lhes oferecia o mundo e tendo como objetivo de vida o desfrute dos prazeres e nada mais, dizendo: “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (Is.22:13).

II – A EVITERNIDADE HUMANA

-Na eternidade passada, o Senhor, que tudo sabe e tudo conhece, ao criar os anjos com livre-arbítrio, seres espirituais que seriam eviternos, ou seja, teriam início de existência mas não fim, já sabia que uma terça parte deles pecaria e, dentro de Sua justiça, já preparou um lugar para eles, separado da glória de Deus, para que lá sofressem eternamente pela sua rebelião.

-Os anjos são criaturas espirituais e, como tal, habitantes da dimensão da eternidade e, portanto, não foram seres criados para deixar de existir, mas que teriam existência para sempre. Por isso mesmo, eventual rebelião terá duração infinita e a aplicação da justiça divina será imutável e duradoura.

-Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “…Os anjos não estão sujeitos à morte e jamais deixarão de existir [Lc.20:36], mas também não se reproduzem [Mc.12:25].…” (DFAD VIII.2, p.87).

-Quando o querubim ungido pecou e levou consigo a terça parte dos anjos (Ap.12:3,4), foi imediatamente retirado da posição de destaque que tinha junto a glória divina, pois era um querubim e, como tal, estava junto ao trono de Deus (II Rs.19:15; Ez.10:1,19,20), tendo, então, ido ocupar, com suas hostes espirituais da maldade, os lugares celestiais (Ef.6:12).

-Embora julgado e condenado pelo seu pecado, assim como os anjos que o seguiram (Is.14:11,12; Ez.28:14-18; Jo.16:11), o diabo ainda não teve a sua pena executada, estando a aguardar o dia em que será, primeiramente, lançado sobre a Terra (Ap.12:4), depois, no abismo (Mt.8:28,29; Lc.8:28,31; Ap.20:1-3) e só, então, ao término da história da humanidade, no lago de fogo e enxofre que lhe está preparado (Ap.20:10).

-É por esta circunstância de que, embora condenado, está “livre, leve e solto” a vaguear pela Terra e a tentar e acusar os homens (Jó 1:7; 2:2; Ap.12:10), que o diabo consegue enganar as pessoas, não só porque é o pai da mentira (Jo.8:44) e engana todo o mundo (Ap.12:9), mas também, com esta sua desenvoltura não aparenta estar condenado e já ter sido julgado, gerando uma ilusão de que nada lhe aconteceu nem acontecerá.

-Somente o Espírito Santo pode convencer o homem de que o diabo, príncipe deste mundo, já está julgado (Jo.16:11) e que, portanto, temos de ter uma vida justa, seguindo o exemplo do Senhor, porque também fomos convencidos de Sua justiça (Jo.16:10) e seguindo as Escrituras, que são as Suas fidedignas testemunhas (Jo.5:39), não quereremos ter o mesmo destino de Satanás, até porque fomos também convencidos do pecado, crendo em Jesus (Jo.16:9).

-O Senhor criou, então, o homem, para que fosse seu mordomo na Terra que havia criado (Gn.1:26), ser especial, criado à imagem e semelhança do Criador, igualmente dotado de livre-arbítrio (Gn.2:16,17).

-O homem também é um ser eviterno, ou seja, foi criado para existir para todo o sempre, pois, por ter sido criado de maneira especial (como bem afirma o item 2 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus), é o único ser que participa tanto do mundo terreno como do mundo espiritual, já que foi criado com corpo, alma e espírito (I Ts.5:23) e, por ser também espiritual, tem também existência infinita.

OBS: “[CREMOS] Em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas distintas que, embora distintas, são iguais em poder, glória e majestade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; Criador do Universo, de todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, e, de maneira especial, os seres humanos, por um ato sobrenatural e imediato, e não por um processo evolutivo (Dt.6:4; Mt.28:19; Mc.12:29; Gn.1:1; 2:7; Hb.11:3 e Ap.4:11)” (item 2 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus).

-Quando o Senhor criou o homem, Satanás buscou levar o homem também ao pecado, para que ele tivesse o seu mesmo destino, uma vez que o inimigo odeia o ser humano e quer a sua morte, já que é homicida (Jo.8:44).

-Ao conseguir seu intento e levar o primeiro casal ao pecado, o diabo, que se achou vitorioso, foi, então, surpreendido pela notícia de que Deus daria ao homem a salvação (Gn.3:15) e, desta forma, ao contrário de Satanás, poderia o homem, sim, retornar à comunhão com o Senhor.

-Por ter sido criado dentro da dimensão terrena, onde existe o tempo, possível seria ao homem o arrependimento, a mudança de atitude, o que não havia para o diabo e seus anjos, que, por estarem na dimensão da eternidade, somente poderiam, em uma única oportunidade, exercer seu livre-arbítrio.

-Esta oportunidade de salvação, exclusiva à humanidade, mostra-nos, claramente, que o homem, se seguir o seu destino natural, irá perder-se, mas Deus, no Seu infinito amor, abriu esta possibilidade de modificação desta triste situação espiritual, criando um meio de a justiça divina ser satisfeita sem que o homem tenha de se perder.

-Este meio foi o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário. Deus, fazendo-Se homem, pagou com o Seu sangue os nossos pecados e todos aqueles que crerem n’Ele são feitos filhos de Deus, passam a ter comunhão com o seu Criador, desfazendo-se a inimizade gerada pelo pecado cometido sob tentação de Satanás.

-É o que expressou, de forma muito feliz, o poeta sacro traduzido/adaptado pelo pastor Paulo Leivas Macalão (1903-1982) na segunda estrofe do hino 139 da Harpa Cristã: “Por Adão o pecado no mundo entrou, ninguém dessa lei se podia libertar, mas o Filho do homem por nós triunfou, n’Ele podemos do mal ressuscitar”.

-Destarte, pode o homem alterar a sua inevitável perdição, se crer em Jesus. A salvação, portanto, é uma novidade na economia divina e resultado da graça de Deus, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:5).

-Nascendo um ser humano, ele está fadado a perder-se. Adquirindo a consciência, sua natureza pecaminosa o faz pecar e, deste modo, ele se torna inimigo de Deus, passando a satisfazer aos desejos do diabo, que se torna seu pai (Jo.8:44). Mas, se ele crer em Jesus, será por Ele liberto e passará das trevas para a luz (At.26:18; Ef.5:8; Cl.1:13; I Ts.5:5; I Pe.2:9), da morte para a vida (Jo.5:24; I JHo.3:14).

-O homem precisa ser salvo, senão inevitavelmente seguirá o mesmo destino do diabo e de seus anjos. Esta é a realidade espiritual e, portanto, não há como deixar de reconhecer que o destino natural e normal do homem é a perdição (Rm.3:23; 5:12), que se consuma com o lançamento, após o juízo do trono branco, o “julgamento do último dia”, como disse Jesus, no lago de fogo e enxofre, a “segunda morte” (Ap.20:12-15).

-Deus abriu a oportunidade de o homem ir para o céu e viver com seu Criador para todo o sempre, mas o destino traçado a este homem é o inferno, não há como deixar de reconhecer esta realidade.

-Como afirma o poeta sacro traduzido/adaptado pelo pastor Paulo Leivas Macalão no já mencionado hino 139 da Harpa Cristã: “Do inferno que paga aos maus há de dar, do medo da morte, esse dardo cruel, do abismo eterno te pode salvar, só Jesus Cristo, o bom Emanuel” (terceira estrofe).

II – “INFERNO” NA BÍBLIA

-Na Versão Almeida Revista e Corrigida, a palavra “inferno” 47 vezes, segundo a Concordância Bíblica Exaustiva Joshua, sendo a tradução de três palavras gregas e de uma palavra hebraica, sendo palavra que, no ranking de palavras das Escrituras, ocupa a 360ª posição, o que já nos mostra que, embora a Bíblia não seja voltada para falar do “inferno”, não menospreza o assunto.

-A palavra hebraica traduzida por “inferno” é “Sheol” (ְׁשאֹול ), “…o mundo dos mortos (como que um asilo subterrâneo), incluindo suas instalações e seus ocupantes:— sepultura, inferno, abismo, Seol, morte. Substantivo que denota o mundo dos mortos, o Seol, o sepulcro, a morte, as profundezas.

Descreve o submundo, mas normalmente com o sentido de sepultura, sendo frequentemente traduzida por sepultura…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 7585, p.1939).

-Já se verifica, portanto, que, no Antigo Testamento, a ideia de “inferno” estava relacionada com a crença de que as pessoas mortas e, portanto, separadas dos demais, iam habitar as profundezas da terra, o que, logicamente, estava vinculada ao próprio fato de serem sepultadas, postas sob o solo, inumadas.

-Esta ideia é recorrente nas várias religiões dos povos antigos, o que faz com que a mesma palavra fosse utilizada, no hebraico, tanto para falar da sepultura, da morte e do lugar onde ficariam os mortos.

-A primeira menção ao “inferno” dá-se em Dt.32:22, no último cântico de Moisés, que é, como todo cântico bíblico, uma mensagem profética, onde o Senhor já antecipa a apostasia espiritual de Israel.

-Neste cântico, quando o Senhor está a revelar aos israelitas prestes a entrar na Terra Prometida de que, tendo prosperidade, iriam abandonar a Deus, diz que, em resposta à desobediência, Ele teria despertada a Sua ira, e esta ira arderia como fogo até “o mais profundo do inferno”.

-Ora, já vemos aqui que o “inferno” é um lugar onde se faria “arder a ira de Deus”, a extremidade final desta ira, o que nos mostra, dentro desta mensagem divina cantada por Moisés, que o “inferno” está ligado a “fogo” e a “ira de Deus”.

-A segunda menção de “inferno” dá-se em II Sm.22:6, que é um salmo do rei Davi, que o Espírito Santo lhe deu quando estava grato por ter se livrado de todos os seus inimigos, que é o Salmo 18.

-Aqui, Davi fala de “cordas do inferno” que o haviam cingido, de laços de morte que o haviam encontrado. Tem-se, portanto, uma linguagem figurada, para falar dos seus inimigos que procuravam matá-lo. De qualquer modo, temos aqui a associação entre “inferno” e “morte”. É a mesma ideia que nos traz o salmista anônimo no Sal.116:3, como também em Is.28:15,18.

-Em Jó 11:8, Zofar, um dos “amigos” de Jó, diz que a sabedoria de Deus é como as alturas dos céus e mais profunda que o “inferno”, querendo, com isto, dizer que o inferno é o lugar de maior profundidade que existe, ou seja, o lugar em que se está mais distante. Este mesmo significado observamos na expressão do profeta Amós em Am.9:2 – “ainda que cavem até o inferno, a minha mão os tirará dali”.

-Talvez, também, seja este o significado do uso da palavra “inferno” pelo profeta Jonas na sua oração dentro do ventre do peixe – o ventre do inferno gritei e Tu ouviste a minha voz” (Jn.2:2), já que o profeta se achava nas profundezas do mar.

-O próprio patriarca Jó, quando dá sua segunda resposta a seu “amigo” Bildade, fala do “inferno” como sendo um lugar “que está nu perante Deus” (Jó 26:6), fazendo menção dele após ter dito que “os mortos tremem debaixo das águas com os seus moradores”, ou seja, nitidamente vemos a menção do “inferno” como “o lugar dos mortos” e onde todos estão “nus” diante de Deus.

-No Sl.9:17, Davi diz que os ímpios serão lançados no inferno e todas as nações que se esquecem de Deus, a nos mostrar, pois, que a nudez de que fala Jó é a nudez espiritual daqueles que pecam contra Deus e não se arrependem, como diz o apóstolo Paulo em II Co.5:3.

-Temos aqui já há a noção de que este “lugar dos mortos” não é apenas o lugar daqueles que morreram fisicamente, mas também daqueles que “se esquecem de Deus”, daqueles que estão espiritualmente mortos.

-Esta mesma associação entre o inferno e os pecadores impenitentes vemos em Pv.5:5, quando Salomão diz que “os pés da mulher estranha descem à morte e os seus passos firmam-se no inferno”, a nos mostrar, portanto, que o inferno é lugar de quem vive em pecado, que nunca se arrependeu deles.

-Mais adiante, o proverbista retoma este pensamento, ao dizer que o simples, ou seja, aquele que não é sábio, que não serve a Deus, se deixa levar pelo discurso da “mulher louca”, pois para onde ela convida ir é onde estão os mortos e seus convidados estão nas profundezas do inferno (Pv.9:18). Inferno é, portanto, lugar de quem está espiritualmente morto.

-Não é, pois, surpresa que o proverbista vá dizer, por primeiro, que o inferno e a perdição estão perante o Senhor (Pv.15:11) e que o inferno e a perdição nunca se fartam (Pv.27:20), ou seja, inferno e perdição andam juntos, o inferno é o lugar dos perdidos.

-Tanto o inferno é o lugar dos que se perdem, dos que vivem afastados de Deus, que o proverbista diz que o sábio segue o caminho da vida, que é para cima, desviando-se do inferno que está embaixo (Pv.15:24), ou seja, o sábio não vai para o inferno, pelo contrário, dele se desvia.

-É este também o sentido de quando o proverbista recomenda que se fustigue a criança com a vara, pois, pela repreensão, pela boa educação livraremos a alma do infante do inferno (Pv.23:1’4), ou seja, da perdição, da morte espiritual.

-No livro do profeta Isaías, a palavra “inferno” exsurge na profecia sobre a ruína de Babilônia em que o rei de Babilônia é apresentado como aquele que caiu de sua soberba e teve o mesmo destino daqueles que os babilônios haviam anteriormente derrotado. Nesta mesma passagem, o rei de Babilônia é, então, tornado figura da “estrela caída do céu”, que é Satanás.

-Menciona-se o “inferno” como “o lugar mais profundo”, para se mostrar o tamanho da queda do rei de Babilônia (Is.14:9), dizendo que o “inferno” foi turbado por causa do monarca, pois a soberba dele foi derribada no “inferno” (Is.14:11).

-Notemos que o “inferno” é mencionado, nestes dois primeiros versículos, com relação ao rei de Babilônia, como um “lugar de profundeza”, tão somente para mostrar a enormidade de sua queda.

É neste mesmo sentido que se refere a Faraó na profecia a seu respeito proferida por Ezequiel, quando é dito que Faraó “desceu ao inferno” (Ez.31:15-17), numa passagem em que se fala de “luto”, “descer à cova”, em mais uma associação do “inferno” com a “morte”.

-Interessante que, nesta passagem de Ezequiel, é dito que este lugar é reservado para todos os incircuncisos, que todos ali se reunirão (Ez.31:18), a indicar que, mais do que “um lugar de profundeza”, tem-se um local onde estão reunidos todos os que desobedeceram e se rebelaram contra o Senhor. Este mesmo sentido vemos em Ez.32:21, onde o “inferno” é apresentado, uma vez mais, como o local onde estão reunidos os incircuncisos.

-Quando a profecia passa a mencionar mais propriamente “a estrela caída do céu”, que é Satanás, é dito que “ele é lançado por terra” (Is.14:12) e que, embora quisesse ele subir aos céus, acima das estrelas de Deus (Is.14:13), seria levado ao “inferno, ao mais profundo do abismo” (Is.14:15).

-É importante nos determos nesta passagem por um momento, para mostrar que o diabo não está no inferno, como se costuma dizer, numa verdadeira adoção da mitologia grega, onde o “deus dos mortos” (chamado “Hades”), governa sobre as “regiões inferiores”, sobre “o mundo dos mortos”.

-Muitos acolhem esta imagem vinda diretamente da cultura grega como uma verdade bíblica, o que, porém, não corresponde à realidade. A famosa obra de Dante Alighieri, a “Divina Comédia” ou “Comédia”, adota esta linha de pensamento.

-Satanás, ao ser expulso da glória de Deus, foi habitar “os lugares celestiais” onde se encontra ali acompanhado das hostes espirituais da maldade (Ef.6:12). Não está confinado ali, é o lugar que atualmente ocupa, vagueando pela Terra para tentar os homens, como também fazem os seus anjos (Jó 1:7; 2:2; Mt.24:43- 45).

-Verdade é que alguns dos anjos que seguiram a Satanás foram aprisionados quando da sua rebelião num lugar chamado de “escuridão e prisões eternas” (Jd.6), aguardando a sua execução, havendo quem defenda que serão eles soltos por ocasião da quinta trombeta durante a Grande Tribulação (Ap.9:1-11).

-Quando, porém, do arrebatamento da Igreja, será ele desalojado das regiões que hoje ocupa e será, então, confinado na Terra (Ap.12:7-9), onde, após sete anos, será preso no abismo (Ap.20:1-3), onde ficará por mil anos, quando será solto por um pouco de tempo, para, então, ser, enfim, lançado no lago de fogo e enxofre (Ap.20:10), que já está preparado para ele e seus anjos desde a eternidade passada (Mt.25:41).

-Verificamos, pois, que todas estas abundantes “revelações do inferno” que, ao longo da história da Igreja, foram trazidas por diversas pessoas, onde, irremediavelmente, o diabo se encontra com “seu trono” no “inferno”, são mentiras, porquanto contrariam o que dizem as Escrituras.

-Em Os.13:14, o Senhor promete remir Efraim da “violência do inferno”, pois o resgatará da morte. Uma vez mais, vemos que o “inferno” é um lugar de “mortos”, mas que quem é perdoado pelo Senhor não ficará lá.

A remissão proporcionada pelo Senhor é uma vitória sobre o inferno e a perdição, que são suplantados. Aliás, é esta passagem que será evocada pelo apóstolo Paulo para dizer do triunfo dos salvos sobre a morte quando da glorificação (I Co.15:55).

-Em o Novo Testamento, porém, há três palavras gregas que são traduzidas por “inferno”. Esta circunstância já nos mostra que, com a vinda de Cristo, o que era apenas visto em “sombra” é plenamente revelado, no que cabe ao homem saber, pois Jesus é a revelação completa, pois é o próprio Deus Se revelando ao homem (Jo.l5:15; Hb.1:1).

-Em o Novo Testamento, na Versão Almeida Revista e Corrigida, temos 20 ocorrências da palavra “inferno”, contra 27 no Antigo Testamento.

-A primeira menção é em Mt.5:22, quando o Senhor Jesus diz que quem se encolerizar contra o seu irmão já é homicida e, como todo homicida, será “réu do fogo do inferno”.

-Aqui já vemos a associação entre “inferno”, “fogo” e “condenação”, circunstâncias que já existiam no Antigo Testamento. A palavra aqui em foco é “geena” (γέεννα), palavra grega que tem origem hebraica, “vale de (o filho de) Hinom, um vale de Jerusalém, utilizado (figurado) como um nome para o local (ou estado) de danação eterna;— inferno.

Um substantivo que significa Geena, i.e., o local de castigo no Hades, ou o mundo dos mortos, equivalente ao Tártaro(…) o lago de fogo, o fogo eterno…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 1067, p.2120).

-A palavra “geena”, portanto, designa “o lugar da danação eterna”, ou seja, o lugar onde, para sempre, estarão o diabo, seus anjos e todos os ímpios que forem condenados no juízo final, os que sofrerem “a segunda morte” (Ap.20:14).

-Este lugar já está preparado desde a eternidade passada para o diabo e seus anjos (Mt.25:41), mas se encontra ainda vazio, pois o diabo e seus anjos não foram imediatamente executados de sua condenação, o que ocorrerá somente antes do início do juízo final (Ap.20:10). O lado de fogo e enxofre somente será “inaugurado” na batalha do Armagedom, quando as duas bestas serão lançadas vivas ali (Ap.19:20).

-É neste sentido que alguns pregadores ou estudiosos dizem que “o inferno está vazio”, referindo-se ao lago de fogo e enxofre, expressão que precisa ser explicada para não causar confusão, confusão que só serve aos que distorcem o significado das Escrituras. Tomemos cuidado!

-Esta palavra “geena” também aparece em Mt.5:29,30; 10:28; 18:9; mais uma vez se referindo ao lugar onde serão lançados os impenitentes. É o mesmo sentido que encontramos em Mc.9:43,45,47; Lc.12:5.

-Em Mt.23:15, em Seu duro discurso contra os fariseus, o Senhor Jesus diz que os fariseus faziam de seus prosélitos “filhos do inferno”, pois, com seus falsos ensinos, estavam tão somente fazendo com que seus discípulos se perdessem eternamente, indo, então, ante a condenação, para o lago de fogo e enxofre, condenação de que os fariseus não escaparão, como se vê em Mt.23:33.

-Em Tg.3:6, quando o irmão do Senhor fala sobre a língua como um fogo e é bem por isso que afirma que ela é “inflamada pelo inferno”, querendo, com isto, lembrar que haverá um fogo eterno para todos quantos desobedecerem ao Senhor, como aqueles que não tomam cuidado com o uso da língua.

-Não é por outro motivo que o salmista diz que somente habitará no monte santo do Senhor “aquele que não difama com a sua língua” (Sl.15:3) e que devemos guardar a nossa língua do mal e de falar enganosamente (Sl.34:13).

-Em Mt.16:18, quando Cristo revela o mistério da Igreja, diz que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. A palavra “inferno” aqui é “hades” (ᾍδης), “…adequadamente traduzido como oculto, i.e., o “Hades” ou mundo (estado) das almas que partiram:— sepulcro, inferno.

Substantivo derivado do privativo “a”, não, e “idein”, o infinitivo do segundo aoristo “eido”, ver. Aquilo que está nas trevas, por isso no grego clássico, “Orcus”, as regiões infernais. Usado com grande frequência para traduzir o hebraico “sheol”…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 86, p.2036).

-“Hades”, então, tem o significado de “lugar das trevas”, de “lugar dos mortos”, correspondendo ao que já falamos sobre “sheol”, no sentido de sepultura, local onde estão os mortos.

-Assim, até a ressurreição de Jesus, todos os seres humanos, ao deixarem a vida terrena, iam para o “Hades”, para o lugar dos mortos, lugar que, como o Senhor nos mostra na história do rico e Lázaro (Lc.16:19-31), tinha uma separação: um lugar de tormento, reservado aos injustos e um lugar de descanso, o “seio de Abraão”, reservado aos justos.

-Quando o Senhor Jesus morreu, foi até lá, porque é o lugar dos mortos, onde pregou (I Pe.3:19; 4:6) mas ali não ficou, porque não tinha pecado (Sl.16:9-11; At.2:24-26), tendo, então, levado os justos para o Paraíso ou terceiro céu (II Co.12:2-4), onde já entrou diretamente o ladrão crucificado arrependido (Lc.23:43) e entram, desde então, todos os que dormirem no Senhor e que pertencem à Igreja, pois “as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja”.

-O Senhor Jesus que desceu ao “Hades”, subiu depois aos céus, “levando cativo o cativeiro” (Sl.68:18; Ef.4:8- 10).

-É bem por isso que, em Ap.1:18, é dito que Cristo tem as chaves da morte e do inferno (“hades”), porque foi até lá, resgatou os justos levando-os para o Paraíso, esvaziando o seio de Abraão, não tendo sido possível detê- lo lá, tanto que ressuscitou para nunca mais morrer e, agora, todos quantos creem n’Ele não vão para o “Hades”, pois Jesus Cristo trancou a porta de lá para os Seus. Aleluia!

-“Hades”, então, é o lugar dos mortos, o local onde estão, na atualidade, a já padecer aqueles que, por não crerem em Deus, recusarem-se a glorificá-l’O, aguardam o julgamento final. É uma espécie de “corredor da morte”, como é chamada a prisão daqueles que, condenados à morte pela prática de crimes, aguardam a execução que lhes tirará a vida.

-Em Lc.10:15, o Senhor Jesus, na Sua repreensão à incredulidade dos moradores de Corazim, Betsaida e Cafarnaum, diz que Cafarnaum seria “abatida até o inferno”. Aqui também se utiliza a palavra “hades”. O Senhor lança juízo sobre as cidades impenitentes, mostrando que os que não crerem n’Ele deverão ser levados até o “hades”, onde aguardarão a condenação definitiva.

-É elucidativo que Pedro tenha dito que o Senhor Jesus pregou aos “espíritos em prisão” (I Pe.3:19). O “hades” é exatamente isto: uma “prisão”.

Nos dias do Senhor Jesus, a prisão era mais uma medida cautelar do que uma pena. Normalmente, as pessoas eram presas para ser julgadas, uma medida que antecedia ao julgamento. Se condenadas, então, sofriam as penas, que, normalmente, naquele tempo, eram penas de açoites, suplícios ou, o que era mais comum e corriqueiro, a morte.

-A palavra “hades” também é empregada em Ap.6:8, quando é dito que o “cavalo amarelo” era montado pela morte e seguido pelo inferno. Este “cavalo amarelo”, que é o quarto selo, matará a quarta parte da população terrena. Por isso, ele é montado pela morte, porque haverá este extermínio da humanidade e “o inferno o segue”, porque todos estes que serão mortos, impenitentes que são, aumentarão grandemente a população do “Hades”, deste “corredor da morte”.

-Em Ap.20:13, as Escrituras dizem que o “inferno” dará os mortos que nele houver, ou seja, mais uma vez temos bem presente no texto bíblico que o “hades” é um lugar para os mortos e estes mortos somente sairão dali para serem julgados no juízo do trono branco.

-Por fim, em Ap.20:14, tendo terminado a sua função, que era o de ser o lugar dos mortos até o juízo final, o próprio “Hades” será lançado no lago de fogo e enxofre, numa clara demonstração de que são locais distintos.

-Em I Co.15:55, como já vimos, há uma citação de Oseias por parte do apóstolo Paulo e, por causa disto, na Versão Almeida e Corrigida, a palavra “thanatos” (θάνατος), que aparece duas vezes no texto, é traduzida uma vez por “morte” e, na outra, por “inferno”, mas, na verdade, aqui, tem-se duas vezes a palavra “morte”, tanto que a própria ARC, na sua 4ª edição, traz como variante “morte”, que é o que está no texto. Tanto assim é que a Nova Almeida Atualizada (NAA) usa, por duas vezes, a palavra “morte”.

-Em II Pe.2:4, o apóstolo fala de “anjos que pecaram que foram lançados no inferno”. Aqui temos a terceira palavra grega traduzida por “inferno”, a saber, “Tártaro” (ταρταρόω), que é, propriamente, um verbo, “lançar no inferno”, “…Tártaro, o mais profundo abismo de Hades, encarcerar em tormento eterno:— lançar no inferno. De “tártaros”, a parte inferior de Hades, na mitologia grega, onde os espíritos dos ímpios eram aprisionados e atormentados…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 5020, p.2420).

-Como se pode perceber, o apóstolo se utilizou aqui de uma expressão própria da mitologia grega para se referir ao local aonde o Senhor lançou alguns dos anjos que se rebelaram, que é o “abismo” de que fala a legião que possuía o gadareno (Lc.8:31).

-Este “abismo” é o local para onde irão o diabo e seus anjos por ocasião do reino milenial de Cristo (Ap.20:1-3). Trata-se, portanto, de uma prisão para anjos. Há quem defenda que, durante a Grande Tribulação, os anjos que lá se encontram serão soltos por ocasião da quinta trombeta, o “primeiro ai” (Ap.9:1-12).

-As Escrituras não deixam dúvida alguma de que o inferno existe e é o lugar reservado para aqueles que desobedecerem a Deus. Na atualidade, os ímpios, que já morreram, estão no Hades, mas, depois do juízo final, todos os que lá forem condenados ficarão em tormento eterno, na companhia do diabo e de seus anjos, para todo sempre.

-Como diz o item 15 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “[CREMOS] no Juízo Final, onde comparecerão todos os ímpios: desde a Criação até o fim do Milênio; os que morreram durante o período

milenial e os que, ao final desta época, estiverem vivos. E na eternidade de tristeza e tormento para os infiéis e vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis de todos os tempos (Mt.25:46; Is.65:20; Ap.20:11-15; 21:1- 4)”. Para onde estamos indo?

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10587-licao-11-a-realidade-biblica-do-inferno-i

Glória a Deus!!!!!!!