INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo do livro de Ezequiel, veremos hoje a visão das águas purificadoras, descrita no capítulo 47.
– A plenitude do Espírito Santo e a guarda da Palavra de Deus são elementos indispensáveis no ambiente de plena comunhão com Deus.
I – A VISÃO DAS ÁGUAS PURIFICADORAS
– Depois de ter visto o templo e a terra de Israel modificada geograficamente, o profeta tem uma visão de umas águas de debaixo do umbral do templo para o oriente, porque a face da casa olhava para o oriente e as águas vinham de baixo, desde a banda direita da casa, da banda do sul do altar (Ez.47:1).
– Corriam umas águas desde a banda direita, para o oriente, exatamente de onde tinha vindo a glória de Deus (Ez.43:2). A fonte das águas vinha exatamente de onde viera a glória de Deus. É Deus quem dá a vida, é Deus quem restaura, quem vivifica.
– A imagem das águas é muito elucidativa.
Em primeiro, sabemos todos que a água é símbolo de vida. Quando se pergunta sobre a existência de vida em um astro, pesquisa-se se nele há água. Se tiver água, há chance de haver vida. Sem água, a vida é certamente inexistente.
– A geografia também nos ensina que não existe povoação humana que não esteja próxima de um rio, pois é o rio quem mantém a possibilidade de sobrevivência da população. Aliás, já no Éden havia um rio, que se dividia em quatro braços (Gn.2:10).
– A água, por simbolizar a vida, é figura do Espírito Santo, o Espírito que vivifica o ser humano (Jo.6:63; II Co.3:6). O Senhor Jesus mesmo disse que quem crer n’Ele rio de água viva manarão do seu ventre, que nada mais é que o Espírito Santo que vem habitar em todos os servos de Cristo (Jo.7:38,39).
– O salmista também afirmou que há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo, onde Deus está no meio e que não permite que seja abalada (Sl.46:1) e, certamente, a visão do profeta confirma a existência deste rio, que é a fonte para a presença divina em nosso ser, para a alimentação da nossa comunhão com Ele.
– Destarte, as águas vistas pelo profeta são também figura da ação do Espírito Santo na vida de Israel a partir do momento em que se converter ao Senhor Jesus e não deixa de ser também uma figura para a Igreja, que já está desfrutando desta plenitude do Espírito Santo por ter crido no Senhor Jesus.
– Mas a água, também, simboliza a Palavra de Deus, que nos limpa para estarmos em santidade diante do Senhor e em condições de viver em comunhão com Ele.
Jesus disse que nos limpa pela Palavra (Jo.15:3) e é dito, também, que somos purificados por Cristo com a lavagem da água, pela Palavra (Ef.5:26), que promove a lavagem da regeneração (Tt.3:5), pois é a Palavra que nos gera como filhos de Deus (I Pe.1:23).
– A visão das águas purificadoras, portanto, faz-nos ver os dois importantes aspectos para que tenhamos a perseverança espiritual, pois o Senhor Jesus, no Seu diálogo com os saduceus, censurou-os porque não conheciam nem as Escrituras nem o poder de Deus (Mt.22:29; Mc.12;27,29).
Esta visão do profeta mostra-nos claramente que somente teremos sucesso espiritual se estivermos nas “águas purificadoras”, que representam, a um só tempo, o poder do Espírito Santo em nossas vidas e as Sagradas Escrituras.
– Por isso, muito feliz é o item 6 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus que afirma que :
“[CREMOS] Na necessidade absoluta do novo nascimento pela graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus para tornar o homem aceito no Reino dos Céus (Jo.3:3-8; Ef.2:8,9)”. Sem estes elementos, não há como chegarmos aos céus.
– As águas vinham de debaixo do umbral da casa, a nos mostrar sua origem em Deus. Tanto o Espírito Santo, que é Deus, veio até nós proveniente do Pai e do Filho (Lc.24:49; Jo.14:16,17; 20:22; At.1:4,5), quanto a Palavra (Sl.68:11; Jo.17:17) têm origem em Deus.
– Vida, em todas as Escrituras, significa a comunhão com o Senhor, o compartilhamento de existência com Ele. Não há como termos vida senão estivermos em comunhão com o Senhor e a comunhão exige a nossa separação do pecado.
– O mesmo homem que havia mostrado o templo e a nova geografia da terra de Israel era o que mostrava as águas e, tendo na mão um cordel de medir, mediu mil côvados e fez o profeta passar pelas águas, águas que davam nos tornozelos do profeta.
– Neste ponto, aliás, é interessante vermos que o que este homem fazia era sempre medir. Este gesto de medir transmite ao profeta a ideia de que Deus tem o absoluto controle de todas as coisas, que tudo quanto faz é com propósito, com planejamento.
Tudo foi meticulosamente arquitetado e concebido pelo Senhor, nada é por acaso, nada é imprevisto, nada é acidental.
– O cuidado que Deus tem em mostrar ao profeta que tudo quanto se fez era de acordo com um projeto já previamente estabelecido tem de dar ocasião para termos o mesmo cuidado e zelo ao realizarmos não só a obra de Deus, mas tudo quanto formos fazer nesta peregrinação terrena, até porque temos de seguir as pisadas do Senhor Jesus (I Pe.2:21), imitá-l’O (Ef.5:1; I Ts.1:6).
– O que se nota, de pronto, é que as águas eram correntes, a indicar movimento, vida, ânimo, vibração. Inexiste vida espiritual estacionária, não se pode ter uma “estabilidade espiritual”, uma paralisia ainda que num suposto “estado elevado de espiritualidade”.
– A propósito, o estacionamento espiritual é comparado pelo profeta Jeremias às “cisternas rotas” (Jr.2:13), que nada mais é que o abandono de Deus, a apostasia, que leva à morte espiritual, pois tais cisternas “não retém as águas”. Era, aliás, precisamente esta a situação do povo nos dias do profeta Ezequiel e que culminou com o cativeiro e a perda da Terra Prometida.
– Não é à toa que o profeta Oseias tenha dito que devemos conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor (Os.6:3), pois não há possibilidade de nos determos em nossa aproximação e intimidade com Deus.
Nosso relacionamento com o Senhor é sempre dinâmico, incessante, nunca para. Nem podia ser diferente pois Deus é infinito e, portanto, jamais haverá fim na nossa aproximação com Ele.
– Mas, além de as águas serem correntes e, portanto, estarem sempre em movimento, o profeta também percebeu que as águas não se mantinham na mesma profundidade. Pelo contrário, à medida que se ia adentrando na torrente, mais profundas ficavam as águas.
– Nos primeiros mil côvados, que correspondem a quinhentos metros, as águas davam pelos tornozelos. Começamos sempre nossa vida com Deus na superfície, bem rasos, sendo “molhados” somente até os pés, ou seja, apenas andamos segundo a direção do Senhor, seguimos a Sua orientação, os Seus passos.
– Isto já é importante. É necessário que “molhemos os pés”, que comecemos a caminhar conforme a vontade do Senhor, conforme a Sua direção e orientação. Já não mais andamos segundo a nossa vontade, segundo os nossos instintos, segundo a nossa concepção, o que já é fundamental para que alcancemos a salvação, mas isto ainda é muito pouco.
– Em dias como os nossos, em que as pessoas estão com comichão nos ouvidos e buscando doutores conforme as suas próprias concupiscências (II Tm.4:3), já é louvável nos deixarmos levar pelo caminho do Espírito Santo, seguirmos as pisadas do Senhor Jesus (I Pe.2:21).
– Entretanto, este é apenas o início da vida espiritual, não nos iludamos. Há muitos que se contentam em ter apenas o caminhar segundo a vontade do Senhor, não se aprofundam nas águas que vêm do trono de Deus.
– Podemos relacionar este estágio espiritual inicial com a virtude teologal da fé. Virtude teologal é um hábito, uma disposição que é implantada pelo Espírito Santo em nosso ser quando alcançamos a salvação. São três estas virtudes: a fé, a esperança e o amor (I Co.13:13).
– A fé é a primeira destas virtudes, que nos é transmitida pelo ouvir a Palavra de Deus (Rm.10:17). Por ela, somos justificados (Rm.5:1) e temos entrada na graça (Rm.5:2), passando a agradar a Deus (Hb.11:6).
– Por ser a virtude teologal inicial, que nos dá entrada na graça, corresponde ela a este primeiro estágio espiritual da visão do profeta Ezequiel – o “estágio dos tornozelos”. Passamos a crer em Jesus e na Sua Palavra e passamos a fazer o que Ele nos manda por esta fé. É, pois, o nível da fé.
– Como as águas também simbolizam a Palavra de Deus, este primeiro estágio é o do discipulado, aquele em que aprendemos as doutrinas fundamentais das Escrituras, apenas para sabermos onde “andarmos” com a nossa mente espiritual, termos o conhecimento básico daquilo que se encontra nas sagradas letras. O que aprendemos na “meninice” espiritual, como fizeram a avó e a mãe do infante Timóteo (II Tm.1:5).
– A situação de apostasia espiritual é tanta que fizemos dias de completa ignorância da Palavra de Deus, um verdadeiro “analfabetismo bíblico”, que faz com que pessoas que somente molhem os tornozelos no conhecimento bíblico já sejam tidos como “mestres” e “grandes conhecedores” das Escrituras.
– A frequência aos cultos de ensino ou de doutrina bem como das Escolas Bíblicas Dominicais, a deficiência do discipulado em nossas igrejas locais dão conta de que como nem mesmo nos tornozelos se está a levar o conhecimento bíblico de muitos que cristãos se dizem ser.
– Embora seja motivo de regozijo e até de alívio para muitos o fato de terem, em sua igreja local, uma membresia que pelo menos tem seu conhecimento bíblico nos tornozelos, é muito triste vermos a realidade bíblica de que este é apenas o início da caminhada, da jornada, da peregrinação. Que despertemos e não nos contentemos com este saber raso das coisas de Deus!
– Em seguida, o homem mediu mais quinhentos metros e fez o profeta passar pelas águas e aí, as águas ficaram mais profundas, davam pelos joelhos do povo de Deus (Ez.47:4).
– Quando nos aprofundamos na vida espiritual, saímos do nível do “andar” para o nível do “diálogo”, da “troca de experiências”.
Uma coisa é observarmos a vontade de Deus, como registrada nas Escrituras, como ela nos é transmitida pela pregação, pelos dons espirituais, enfim, como um comando vindo da parte do Senhor, para passarmos a desfrutar do diálogo com o Mestre, da conversa diária e cada vez mais frequente com o nosso Senhor.
– A água pelos joelhos faz-nos imediatamente lembrar da oração, deste diálogo com o Senhor que parte de nossa iniciativa, onde passamos a demonstrar nossa confiança em Deus dizendo-lhe tudo o que está em nosso íntimo, toda a nossa vontade, todo o nosso sentimento, todo o nosso pensamento.
– Evidentemente que não precisamos revelar a Deus o que queremos, sentimos ou pensamos, pois o Senhor é onisciente, tudo sabe, mas quando, voluntariamente, contamos-lhe o nosso interior, descobrimo-lo, estamos a nos aproximar mais de Deus e a revelar nosso intuito de termos mais intimidade com Ele, de estarmos dispostos sempre a agradar-Lhe mais e mais.
– As águas nos joelhos revelam este estágio da vida espiritual em que passamos a ter a vontade de Deus como nossa comida, nossa razão de sobrevivência (Jo.4:34) e passamos não só a querer ser orientados e dirigidos por Deus, mas a orientar o nosso próprio interior pela vontade divina, a nos amoldarmos ao próprio ser divino, desde dentro de nós.
– As águas nos joelhos também falam da nossa submissão ao Senhor. Ezequiel era alguém que, sempre que notava a presença de Deus junto a ele, prostrava-se em atitude de servilidade, de reconhecimento da sua inferioridade diante de Deus e somente se levantava quando assim o Senhor lhe ordenava (Ez.2:1).
– Não é à toa que o profeta Ezequiel é comumente chamado pelo Senhor de “filho do homem”, expressão que depois seria utilizada para o Senhor Jesus, precisamente porque sempre se demonstrou uma pessoa submissa, pronta a realizar tudo quanto Deus lhe mandava fazer, mesmo as coisas aparentemente mais estranhas, porque ele era alguém que tinha aprendido a dobrar seus joelhos, a reconhecer o senhorio divino sobre a sua vida.
– Não há como andar perfeitamente se os joelhos estiverem desconjuntados, circunstância em que se terá apenas um manquejar (Hb.12:12).
O escritor aos hebreus vincula o término da paralisia dos joelhos ao “levantar das mãos cansadas” e sabemos todos que a expressão “levantar as mãos” está associada à oração, pois era assim, costumeiramente, que se faziam orações, notadamente as mais solenes: em pé e com as mãos levantadas (Lv.9:22; I Rs.8:22; II Cr.6:12,13; Sl.134:2; I Tm.2:8).
– Não há como nos aprofundarmos na vida espiritual se não entrarmos pelo caminho da oração, da busca de maior intimidade com o Senhor, tendo aquele momento íntimo diário com o Senhor no aposento do nosso quarto (Mt.6:6), período que não pode ser inferior a uma hora (Mt.26:40) e que deve ser frequentemente reforçada pelo jejum e pela consagração (Mc.2:20; Lc.5:35; I Co.7:5; Dn.10:3).
– A falta de oração em nossos dias tem sido um dos fatores mais relevantes para a frieza espiritual e para a apostasia reinantes, pois, como nos mostra a visão do profeta, não havendo o aprofundamento da vida espiritual, tem-se a regressão e a perda mesma da comunhão com Deus, pois, como estamos a ver a vida espiritual é uma correnteza, algo dinâmico e que tem sempre de ir para a frente, que não é estacionário e que, se não seguirmos a corrente, é porque deixamos de estar no leito do rio.
– Por passarmos a ter um diálogo com o Senhor, por meio da oração, a ter uma “troca de experiências” com o Senhor, este estágio espiritual corresponde à segunda virtude teologal, qual seja, a esperança.
– Pela fé, crendo no que Jesus nos disse e passando a obedecer-Lhe, passamos, com o diálogo com ele mantido, por meio da oração, a esperar n’Ele. Por isso, como nos diz Paulo, passamos a nos gloriar na esperança da glória de Deus (Rm.5:2).
– Cria-se uma expectativa de termos a resposta divina à nossa fé. Passamos a esperar no cumprimento das promessas de Deus, na realização do que está previsto e prescrito na Palavra de Deus.
Vivendo segundo a vontade de Deus e passando a desfrutar de maior intimidade com o Senhor, passamos a ter a expectativa de não sermos envergonhados mas de vermos Cristo engrandecidos em nosso corpo, quer pela vida, quer pela morte (Fp.1:20). É o nível da esperança-expectativa.
– Em termos de água como símbolo da Palavra de Deus, temos que a água nos joelhos representa uma leitura devocional das Escrituras, uma leitura espiritual, guiada e dirigida pelo Espírito Santo, o que somente se obtém mediante a meditação na Palavra, a reflexão no que está escrito, um “remoer” do alimento espiritual por parte da ovelha de Cristo Jesus.
– Esta meditação nas Escrituras deve ser feita mediante uma posição de humildade, de reconhecimento de que é o Espírito Santo Aquele que inspirou os escritores do texto sagrado e que, portanto, tem condições de melhor nos dar a interpretação do que está escrito, a nos exigir, pois, um contato íntimo com Ele, nunca indo além do que está escrito e mantendo sempre um diálogo com o Senhor para que nos mostre o correto significado e a aplicação do ensino escriturístico para nossas vidas.
– Tal meditação, ademais, deve estar livre de preconceitos, de pretensões de nosso ego para justificar atitudes nossas, não estamos a procurar meios de mantermos nossas concupiscências, mas, sim, de nos limparmos cada vez mais, de nos esvaziarmos de nós mesmos para que façamos a vontade do Senhor.
– O homem mediu mais quinhentos metros (mil côvados, o côvado de medida diferente, equivalente a um côvado e meio tradicional), e as águas se tornaram ainda mais profundas, e aí as águas já davam pelos lombos do profeta, ou seja, pela cintura (Ez.47:4).
– Os lombos falam de liberdade de movimentação e de controle. Os lombos podem atrapalhar os movimentos das pessoas, tanto que, para que os israelitas saíssem apressadamente do Egito, foi determinado que tivesse os lombos cingidos (Ex.12:11), pois assim não se embaraçariam com suas vestes. Elias só alcançou Acabe porque correu com os seus lombos cingidos (I Rs.18:46).
– Neste sentido, o apóstolo Pedro diz que devemos cingir os lombos do nosso entendimento, sendo sóbrios e esperando inteiramente na graça que se nos ofereceu na revelação de Jesus Cristo (I Pe.1:13),
o que nos mostra que só teremos liberdade de locomoção espiritualmente falando quando desenvolvermos nossa esperança em Deus, mantendo sempre o autocontrole, o autodomínio, que é fruto do Espírito em nossas vidas (Gl.5:22), ou seja, devemos estar totalmente sob o controle divino em nossas ações, atitudes e pensamentos.
– Os lombos dos sacerdotes eram cobertos por calções de linho até as coxas (Ex.28:42). Os lombos falam-nos, então, de vinculação à justiça e à verdade, pois o linho revela a justiça dos santos (Ap.19:8) e um dos elementos da armadura de Deus é o cinturão da verdade (Ef.6:14).
– Quando avançamos na vida espiritual, passamos a agir inteiramente na justiça, na santidade e na verdade, ou seja, nossas ações sempre estarão de acordo com as Escrituras, separadas do pecado e cumprindo tudo quanto está escrito e que é exigido pelo Senhor de cada um de nós.
– As águas nos lombos mostram o servo de Deus pronto a realizar a obra do Senhor, disposto a imediatamente fazer-Lhe o querer. Quando temos os lombos cingidos pela verdade, assumimos nossa humanidade diante do Senhor e estamos prontos a ouvir-Lhe. Foi assim que Deus mandou que Jó estivesse para falar-lhe (Jó 38:3; 40:7).
– Mas os lombos, também, são o local onde se deixam as armas à disposição (II Sm.20:8). Nos lombos põe-se a bainha onde era posta a espada.
Quando estamos sob o controle do Senhor, moldados pela justiça, santidade e verdade, temos condições de lutar contra o mal, de atacarmos o maligno com a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus (Ef.6:17).
– Somente quem atinge o estágio espiritual da água nos lombos pode ser considerada verdadeiramente tanto um sacerdote como um soldado de Cristo e o Senhor Jesus quer que sejamos ambos (Ap.1:6; II Tm.2:3,4).
– Como podemos ser sacerdotes de Jesus, intercedendo pelos irmãos e pelos incrédulos, se não chegamos a ter as águas até os lombos?
Como podemos ser soldados de Cristo Jesus, participando dos sofrimentos dos irmãos, não nos envolvendo nos negócios desta vida para agradar ao nosso comandante, ao que nos alistou, se não temos águas até os nossos lombos?
– As águas nos lombos mostram um estágio espiritual de completo controle do Espírito Santo sobre as nossas atitudes e pensamentos, pondo-nos sob imediata e pronta atuação do Senhor em nossas vidas. Passamos a nos locomover nesta peregrinação terrena nos exatos limites por nós determinados.
– Aqui, em termos de virtude teologal, ainda estamos no nível da esperança, mas que não é mais uma mera expectativa, porque estamos a realizar o serviço de Deus, estamos a ser verdadeiros lutadores do reino de Deus, temos exercido o nosso sacerdócio.
– A “esperança da glória de Deus” fez com que passássemos, nesta peregrinação terrena, por tribulações, porque estamos em luta contra o maligno.
Esta tribulação produz paciência, que é a capacidade de suportar o sofrimento. Esta paciência gera experiência e a experiência faz nascer uma esperança mais robusta, esperança que não traz confusão (Rm.5:3). É, pois, o nível da esperança experimentada.
– Em termos da figura da água como a Palavra de Deus, estamos aqui no nível de conhecimento que permite o discernimento espiritual das Escrituras e a identificação dos falsos ensinos, das ciladas hermenêuticas do inimigo, das heresias e distorções.
– É o nível em que o servo do Senhor tem condições amplas para ensinar os outros, para apontar os equívocos, mentiras e sutilezas lançadas pelo inimigo no meio do povo de Deus e no meio da sociedade, tornando-se, assim, um apologeta da fé, um defensor da verdade bíblica, um esclarecedor da doutrina.
– Nem venha se dizer que este estágio, então, seria reservado aos que têm ou o dom assistencial do ensino (Rm.12:7) ou o dom ministerial de pastor e de mestre (Ef.4:11; I Tm.3:2), pois deve o salvo ensinar e ser ensinado pelos outros (Cl.3:16).
– Portanto, trata-se de algo absolutamente necessário para todos nós, ainda mais quando temos, também, a tarefa de evangelizar e, na evangelização, vez por outra, teremos de explicar textos das Escrituras, muitas vezes trazidos distorcidos aos evangelizandos, como, a propósito, ocorreu no episódio do mordomo-mor da rainha de Candace (At.8:26-39).
– Mas o homem fez mais uma medição de quinhentos metros e as águas já passam a ser chamadas de “ribeiro”, prova de que se tornaram mais abundantes, já tinham um fluxo próprio e que se impunha sobre o ambiente visto pelo profeta (Ez.47:5).
– Neste instante, o profeta já não pode mais tocar o solo com seus pés, teve de nadar, pois as águas eram tão profundas que, como diz o povo, “não davam pé”. Aqui temos a situação em que a profundidade da vida espiritual chegou ao seu clímax, em que o servo de Deus já não tem qualquer domínio sobre si, está à inteira disposição de seu Senhor, não mais vivendo, mas Cristo nele vivendo (Gl.2:20).
– Este é o homem nascido do Espírito, que segue o sopro do vento, que não sabe de onde vem nem para onde vai (Jo.3:8), que segue a correnteza do Espírito, no rio das águas purificadoras.
No entanto, é bom observar-se aqui, que não se trata de uma pessoa desorientada, que não sabe o que faz, nem porque faz, como muitos que estão, por aí, a alegar serem “homens nascidos do Espírito”, que vivem sem rumo, querendo, no mais das vezes, ante seus desatinos, serem sustentados e bancados pelos irmãos.
– O homem que está no estágio espiritual do ribeiro está seguindo a correnteza, não sabe por onde vai passar, está na plena dispensação do Espírito, mas tem rumo, sim, tem orientação, sim, pois, por primeiro, Deus não é Deus de confusão nem de desordem e não iria levar alguém sem rumo nem direção; por segundo, porque o rio caminha para o mar, tem uma correnteza bem direcionada e todos sabemos que nosso destino final são as mansões celestiais onde estaremos glorificados para sempre com o Senhor.
– O homem que está no ribeiro não se locomove não na correnteza do Espírito, como Paulo que, em sua segunda viagem missionária, somente foi pregar aonde o Espírito o enviou, e, quando lhe foi dito que era a Macedônia, não titubeou, iniciando a evangelizar numa cidade que nem sequer tinha sinagoga, como era Filipos (At.16:6-12).
– Este quarto e último estágio corresponde à terceira e mais importante das três virtudes teologais, que é o amor. O amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, depois que temos a esperança reforçada pela experiência (Rm.5:5).
– Sendo dominados pelo amor, passamos a suportar os sofrimentos, a ter benignidade, a não ter inveja, a não tratar com leviandade, a não se ensoberbecer, a não se portar com indecência, a não buscar os interesses próprios, a não se irritar, a não suspeitar mal, a não folgar com a injustiça, mas a folgar com a verdade, a tudo sofrer, a tudo crer, a tudo esperar, a tudo suportar.
Enfim, passamos a ter o mesmo comportamento de Nosso Sennhor e Salvador (I Co.13:4-7). É o nível do amor.
– Tendo a água como símbolo da Palavra, o estágio do ribeiro é aquele em que há uma intimidade tamanha com as Escrituras e com o Espírito Santo que a pessoa passa a ter revelações a respeito do sentido do texto sagrado, sendo utilizado profeticamente na exposição da Palavra, no dom assistencial da profecia (Rm.12:6) e em dons espirituais (palavra da ciência, palavra da sabedoria), a chamada “revelação” que deve haver em todo culto (I Co.14:26).
– É o acesso que se tem ao que o apóstolo Paulo denominou de “profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus” (Rm.11:33), algo que, entretanto, nunca ultrapassa o que foi revelado, pois os juízos divinos são insondáveis e os Seus caminhos inescrutáveis (Rm.11:33), sendo que o que não foi revelado é reservado única e exclusivamente a Ele (Dt.29:29).
– O servo do Senhor é utilizado por Deus nesta “revelação” por intermédio da Palavra, e, na sua pregação, ensino, evangelização, por meio da “correnteza da Palavra”, leva a mensagem direta do coração de Deus ao coração do ouvinte, proporcionando a atuação da Palavra que é viva e eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e as intenções do coração e não há criatura alguma encoberta diante d’Ele, antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos d’Aquele com quem temos de tratar (Hb.4:12,13).
– A falta de pregadores e expositores da Palavra de Deus que estejam neste estágio espiritual em nossos dias é outro fator que muito tem contribuído para que estejamos no estado de frieza espiritual. Em vez destes, o que temos são pessoas apostatando da fé dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a própria consciência (I Tm.4:1,2).
– Depois de ter mostrado todo o necessário progresso que deve ter o servo de Deus em sua peregrinação terrena (e isto nos faz lembrar o título completo da famosa obra de John Bunyan, “O Peregrino” que é precisamente
“The Pilgrim’s Progress From This World to Which Is to Come”, ou seja, “o progresso do peregrino deste mundo para o que há de vir”), o homem levou o profeta para a margem do ribeiro (Ez.47:8).
– Observemos como eram profundas as águas e como o profeta estava totalmente dominado pela correnteza que precisou que o homem o levasse para a margem do ribeiro.
Quem está no “estágio do ribeiro” não tem mais vontade própria, chegou ao nível da abnegação, absolutamente necessário para seguirmos ao Senhor (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23).
– Viu o profeta, então, uma grande abundância de árvores de uma e de outra banda. Estas árvores, situadas às margens do ribeiro eram abundantes e exuberantes por causa das águas do ribeiro.
Representam todos aqueles que serão abençoados grandemente durante o reinado milenial de Cristo, um reinado de justiça e paz, um reinado de verdadeira prosperidade, em que a Terra será toda restaurada e se transformará num novo Éden.
– No ambiente espiritual que será instaurado pelo reinado de Cristo, teremos toda a humanidade em plenas condições de serem os bem-aventurados mencionados pelo salmista, que nos diz, precisamente, que quem não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores, antes tendo o seu prazer na lei do Senhor, será como a árvore plantada junto ao ribeiro de águas, que dá o seu fruto na estação própria e tudo quanto fizer prosperará (Sl.1:1-3)
ou bendito como o varão que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor, que, como diz o profeta Jeremias, é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde e, no ano da sequidão, não se afadiga nem deixa de dar fruto (Jt.17:8).
– Vemos, pois, que o que será disseminado no milênio é algo que já está à disposição do servo de Jesus Cristo, que já está a desfrutar da circunstância de pertencer ao reino de Deus, ainda que esteja ainda neste mundo sofrendo aflições. Uma vida espiritual dedicada, que leva ao conhecimento das Escrituras e do poder de Deus, faz-nos estar como estas árvores vistas pelo profeta Ezequiel.
II – A MUDANÇA DA GEOGRAFIA DA TERRA DE ISRAEL
– Mas, além do significado espiritual da visão tida pelo profeta Ezequiel, não podemos nos esquecer que todo texto bíblico deve, por primeiro, ser interpretado literalmente, mesmo os textos proféticos.
– Não nos esqueçamos de que o contexto do livro do profeta Ezequiel a partir do capítulo 40 é o de mostrar ao profeta a terra de Israel após a restauração nacional e espiritual prometidas nos vaticínios não só do profeta mas também de todos os profetas que haviam advertido sobre o juízo divino pela desobediência dos israelitas, isto desde Moisés, pois a lei já predizia tal estado de coisas.
– Deste modo, as profecias de Ezequiel devem ser literalmente interpretadas, tanto que o templo visto por ele sabemos que existirá fisicamente durante o reinado milenial de Cristo e não seria diferente com relação a este rio visto pelo profeta.
– Destarte, sabemos que, do monte alto onde está situado o templo, monte que também surgirá no reino milenial, sairá, mesmo, um rio que levará água doce para o Mar Morto e o tornará um mar vivo, um mar com vida.
– Para bem entendermos esta situação, necessário se faz recorrer às profecias de Zacarias e do Apocalipse, quando, então, tomamos conhecimento dos juízos divinos que serão lançados sobre a Terra durante a Grande Tribulação, em especial as trombetas (Ap.8:1-9:21; 11:15-19) e as taças (Ap.16), que dão conta de que haverá uma alteração completa do planeta, culminando com o grande terremoto que terá lugar pouco antes da batalha do Armagedom, com a vinda gloriosa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que produzirá efeitos diretos, intensos e imediatos sobre a terra de Israel, basta ver que o monte das Oliveiras fenderá ao meio (Zc.14:4,5).
– A restauração produzida no milênio, portanto, também é a restauração da natureza, que voltará a ter a mesma condição que havia no tempo do Éden antes da queda do homem. Jesus veio destruir as obras do diabo (I Jo.3:18) e uma obra dele foi a maldição da Terra por causa do pecado do homem, que por ele foi enganado (Gn.3:17).
– Teremos, então, aí sim, uma verdadeira e genuína política ambiental, em que a natureza será redimida por conta da retirada dos efeitos deletérios do pecado, algo por que geme a criação desde a queda do homem (Rm.9:20-22).
– É Jesus quem produzirá este efeito e não políticas e ideologias humanas, anticristãs, baseadas na famigerada “Carta da Terra”, produzida por Maurice Strong (1929-2015) e Mikhail Gorbachev (1931-2022), a pedido da Organização das Nações Unidas e que serviu de base para a famosa “Agenda 2030”, que nada mais é que a plataforma do Anticristo que se tenta implementar em todo o mundo e que, segundo seus próprios autores, pretende “substituir” os “dez mandamentos” e o “sermão do monte”.
– É nesta nova estrutura geográfica que se separará uma porção de terra denominada “lugar santo da terra”, cujo comprimento será de doze quilômetros e meio e a largura de cinco quilômetros (Ez.45:1), na qual estará o templo.
– Estas águas do ribeiro, nascendo no “lugar santo da terra” descerão as campinas e entrarão no mar, aqui o Mar Morto, o ponto mais baixo da crosta terrestre, cuja existência já é decorrência do pecado.
– Devemos lembrar que o Mar Morto está situado onde, outrora, havia as chamadas “cidades da planície” (Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim), que era uma região extremamente fértil e de vegetação exuberante (Gn.13:10).
– Esta região tornou-se a mais baixa da crosta terrestre e completamente inóspita em virtude da destruição sofrida por causa da sua pecaminosidade, quando o Senhor mandou sobre eles fogo e enxofre (Gn.19:24,25).
– Esta pecaminosidade gerou esta circunstância geográfica, a nos provar que o pecado gera, sim, consequências em todas as áreas, inclusive na própria estrutura do planeta. A situação é tão terrível que a cidade mais próxima da região é nada mais, nada menos que Jericó, que também se tornou uma cidade amaldiçoada (Js.6:17,26).
– Como Jesus vai restaurar a Terra, era mister que se desfizesse também este ambiente aterrador que existe no Mar Morto e é precisamente isto que fará o rio nascido no “lugar santo da terra”. Este rio levará vida para o Mar Morto, cujas águas serão saradas (Ez.47:8).
– Como se sabe, o Mar Morto tem uma salinidade que impede que haja vida no seu interior. Aliás, é famoso ponto turístico, pois a salinidade é tanta que ninguém fica imerso no mar.
– Atualmente, tem ocorrido um fenômeno no Mar Morto, com o surgimento dos “bolaines”, que são crateras, buracos que têm surgido perto do Mar Morto, com águas doces, como que um prenúncio do que ocorrerá no reino milenial de Cristo, mais um sinal que o Senhor dá da proximidade do tempo do fim.
OBS: Para ter maiores informações sobre este tema, sugerimos acessar os seguintes vídeos: “O Mistério dos Bolaines do Mar Morto” – Pr. Juanribe Pagliarini (https://www.youtube.com/watch?v=Zq5ZMEtUF0Y) e “A profecia está se cumprindo hoje! – Israel com Aline (https://www.youtube.com/watch?v=30uYDoM1DjA).
– A cura das águas, que nada mais é que uma demonstração cabal da restauração da natureza por Cristo com a superação dos efeitos cometidos pelo pecado, fará com que haja muitíssimos peixes e por onde passar o ribeiro haverá a concessão de vida (Ez.47:9).
A região que hoje é uma ilustração da morte passará a ser a ilustração da abundância de vida. Jesus trará vida em abundância, inclusive do ponto-de-vista físico. Aleluia!
– A abundância de peixes será tanta que se terá ali uma região de intensa atividade pesqueira (Ez.47:10), mas se deixará um resquício com salinidade, como testemunha da própria restauração (Ez.47:11), invertendo-se o que há atualmente com os “bolaines”, onde há pequenas superfícies saradas e predominância quase que integral de sal.
– Junto do ribeiro, haverá as árvores que darão fruto para se comer, cujas folhas nunca cairão nem seus frutos perecerão, sempre produzindo seus frutos, porque as águas são provenientes do santuário e o fruto servirá de alimento e a folha, de remédio (Ez.47:12). Estas árvores terão, como se verifica, o mesmo papel que tinha a árvore da vida no Éden.
– Depois de ter visto este rio, o profeta, então, teve a visão da nova terra de Israel, de suas fronteiras, dos termos de cada tribo, com o cabal cumprimento da promessa divina feita a Abraão.
– Ao vermos esta visão, temos a plena convicção da fidelidade divina e de que nada pode impedir os desígnios divinos. Fiquemos nesta fé e esperança, amando ao Senhor, pois haveremos de reinar com Ele quando tudo isto acontecer. Amém!
Pr. Caramuru Afonso Francisco