LIÇÃO Nº 12 – O BANQUETE DE ESTER: DENÚNCIA E LIVRAMENTO

INTRODUÇÃO

-Na sequência do livro de Ester, estudaremos o seu capítulo 7.

-Ester conseguiu o livramento do povo judeu.

I– O SEGUNDO DIA DO BANQUETE DE ESTER

-Na sequência do livro de Ester, estudaremos o seu capítulo 7.

-Hamã, ainda atônito com a surpreendente humilhação que sofrera diante de Mardoqueu e sem obter conforto entre seus amigos e familiares, sem condições de se recuperar emocional e sentimentalmente, foi levado pelos eunucos do rei para o palácio, para o banquete promovido pela rainha Ester.

-Conquanto não estivesse indo para o banquete na circunstância que havia imaginado, pois seu intento era ir para o banquete com Mardoqueu já enforcado, o primeiro-ministro muito provavelmente deve ter pensado que, apesar de tudo o que ocorrera, ainda gozava de prestígio na corte e estava a ser o único convidado, além do rei, para aquele banquete.

-Diz Flávio Josefo que um dos eunucos do rei que veio buscar Hamã teria sido Harbona, que viu a forca levantada e perguntou o motivo da sua existência e, então, alguém lhe teria dito que havia sido preparada para Mardoqueu por Hamã.

-A tradição judaica diz que Harbona, cujo nome significa “cavalgador de jumento”, teria sido, primeiramente, um aliado de Hamã, mas que o teria abandonado ao perceber que Hamã estava em ruína, o que, certamente, ocorreu diante do episódio da honra dada a Mardoqueu.

-Eis o texto do Talmude a respeito: “…E Harbona, um dos camareiros, disse perante o rei: Eis que a forca de cinquenta côvados de altura, que Hamã fez para Mardoqueu , que falou bem ao rei, está na casa de Hamã ” ( Ester 7:9 ) .

Rabino Elazar disse: Harbonah também era perverso e estava envolvido nessa conspiração, pois ele também queria que Mordecai fosse executado. Ao ver que sua conspiração não havia dado certo, ele fugiu imediatamente e se juntou ao lado de Mordecai.

E este é o sentido do que está escrito: “Atira-se contra ele e não poupa; ele de bom grado fugiria de suas mãos” (Jó 27:22), indicando que quando Deus envia calamidade sobre uma pessoa má, seus amigos imediatamente fogem dela.…” (Megillah 16a. Disponível em: https://www.sefaria.org/Megillah.16a.22?lang=bi Acesso em 19 jun. 2024) (tradução de texto em inglês pelo Tradutor Google).

-Mais uma vez, Ester deve ter feito tudo para agradar ao rei. No primeiro dia do banquete, quando havia pedido para só fazer seu requerimento no dia seguinte, igualmente se esmerara, tanto que o próprio Hamã havia se envaidecido de tal modo que mandara chamar os seus amigos e familiares para se vangloriar.

-No dia anterior, Hamã havia sido retirado da sua rotina de trabalho para participar de um banquete promovido pela rainha, o que lhe dera muito prazer e servir para elevar a sua já enorme autoestima.

-No primeiro banquete, Hamã não teve tempo de trajar vestes especiais para efeméride, já que foi surpreendido pela ordem real para que participasse do evento, trabalhando que estava em seus afazeres.

-Muito provavelmente, na sua imaginação, neste segundo banquete, ele tencionava impressionar também pela vestimenta, ainda mais que, segundo cria, estaria livre de Mardoqueu.

-No entanto, nada disso havia acontecido. Pelo contrário, quando ainda lamuriava com seus amigos e familiares, chegaram os eunucos do rei, não tendo tido tempo Hamã nem sequer de se arrumar direito.

-A tradição judaica diz que Hamã estava inclusive sujo, porque (e aí se trata de algo meio fantasioso ao nosso sentir) a própria filha de Hamã teria jogado do terraço de sua casa, excrementos na cabeça daquele que estava puxando o cavalo, pois teria entendido que se trava de Mardoqueu e que o homem honrado era seu pai. A moça, aliás, ao perceber seu engano, teria caído do terraço e morrido e seria este o motivo pelo qual Hamã teria ido para casa com a cabeça coberta.

OBS: Eis o trecho do Talmude que narra esta história: “…Enquanto Hamã conduzia Mordecai pela rua da casa de Hamã, a filha de Hamã estava no telhado e viu o espetáculo.

Ela pensou consigo mesma que aquele que está montado no cavalo devia ser seu pai, e aquele que caminha diante dele devia ser Mordecai . Ela então pegou um penico cheio de fezes e jogou seu conteúdo na cabeça de seu pai, a quem ela erroneamente tomou como Mordecai.

Quando Hamã ergueu os olhos com desgosto e olhou para sua filha, ela viu que ele era seu pai. Em sua angústia, ela caiu do telhado no chão e morreu.…” (Megillah 16-a. Disponível em: https://www.sefaria.org/Megillah.16a.11?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 19 jun. 2024) (tradução de texto em inglês pelo Tradutor Google).

-Agora, porém, era, novamente, levado apressadamente para um outro banquete, mas em estado de espírito totalmente diverso, sentindo-se humilhado e abandonado pelos seus próprios amigos e familiares. Como as circunstâncias terrenas são instáveis e passageiras! Não podemos, pois, mesmo, confiar nelas, sob pena de vivermos em constante frustração.

-Elucidativo, aliás, que o banquete tenha sido chamado de “banquete do vinho” (Et.7:2). O vinho é o símbolo bíblico da alegria terrena. Assim como a alegria do vinho desaparece quando cessam os efeitos da embriaguez, também a alegria terrena deixa de existir mudadas as circunstâncias.

-A alegria terrena depende destas circunstâncias para existir e permanecer e, no mais das vezes, como é animada pelo interesse próprio e dominada pelo egoísmo e individualismo, esta alegria, além de momentânea, também gera contenda, pois, evidentemente, pessoas com interesses antagônicos acabarão entrando em conflito. Não é à toa que o apóstolo Paulo diz que, no vinho, há contenda (Ef.5:18).

-Hamã sentiu esta realidade. No dia anterior, participara do banquete enebriado pelo poder, experimentando ser a pessoa mais importante do planeta, segundo o seu próprio sentir. Agora, estava atônito, temeroso pelo seu destino, embora, aparentemente, tudo continuasse como dantes.

-Salomão bem disse que a alegria terrena é vaidade (Ec.2:1-3). Devemos, isto sim, buscar a alegria que é uma das qualidades do fruto do Espírito Santo (Gl.5:22), o gozo advindo da nossa salvação, a alegria da nossa salvação, que Davi sentiu ter perdido ao cair na prática do pecado (Sl.51:12).

II– A DENÚNCIA DE ESTER

-Em meio ao banquete, Assuero volta a indagar a rainha sobre qual seria o seu pedido, tendo, então, Ester revelado a sua petição: queria a sua vida como petição e a vida de seu povo como requerimento (Et.7:3).

-Ester, depois de tantos anos, revela a sua nacionalidade ao rei. Estava comprometida com a causa da libertação de seu povo e não escondeu que era judia e que, como tal, seria morta no dia treze de Adar.

-Embora tivesse iniciado a sua petição pela sua própria pessoa, isto não significava, em absoluto, que estivesse querendo primeiro livrar a sua situação para só depois a do povo.

-Bem ao contrário, como estava diante do próprio Hamã, ao se declarar judia, Ester mais uma vez punha em risco a sua vida, já que a reação do rei, por iniciativa própria ou por sugestão do próprio primeiro-ministro, inimigo mortal dos judeus, poderia ser a de imediatamente mandar cumprir a ordem de seu decreto em relação à rainha.

-Ester incluía-se junto ao seu povo, preferia padecer com os filhos de Israel do que desfrutar da posição que se lhe havia sido dada.

Atuou, assim, como Moisés, que, “…sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa” (Hb.11:24b-26).

-Assim devemos também agir. Temos de assumir sermos do povo de Deus, não se comprometendo com o mundo. Afinal de contas, quem ama o mundo o amor do Pai não está nele (I Jo.1:15b).

-Ester havia bem aprendido a lição que lhe dera seu pai adotivo Mardoqueu, qual seja, a de que não podemos esconder a nossa condição de integrante do povo de Deus, pois, se agirmos covardemente, pecaremos por omissão, Deus promoverá o cumprimento de Suas promessas e não seremos participantes do desfrute de sua realização.

-Ao formular o seu pedido, Ester demonstrou toda a sua humildade e a sua submissão. Diz a Assuero que, se ela tinha achado graças aos seus olhos e se bem parecesse ao rei, que tivesse ela a vida assim como o seu povo.

-Ester reconhecia a autoridade de Assuero e não se considerava alguém que lhe fosse igual, nem tampouco usou de sua qualidade de rainha para obter do monarca o deferimento de sua petição. Ester apelou para a benevolência do rei.

-Eis a forma como também nós devemos nos dirigir ao Senhor em nossas petições. Devemos reconhecer-Lhe a soberania, estarmos dispostos a nos submeter à Sua vontade, tendo, porém, liberdade e confiança para apresentarmos a Ele os nossos pedidos. Foi exatamente assim que o Senhor Jesus nos ensinou a orar, apresentando as nossas necessidades, mas igualmente dispostos a realizar a vontade do Pai (Mt.6:6-13; Lc.11:2-4).

-Em nossos dias, lamentavelmente, há falsos ensinos que dizem que temos de exigir as coisas de Deus, de que o Senhor é obrigado a nos atender, que devemos, mesmo, pasmem, “colocar Deus contra a parede”.

-Tais ensinamentos são diabólicos, pois partem da premissa estabelecida por Satanás ao tentar Eva no Éden, dizendo que ela poderia ser igual a Deus. Esta falsa ideia de que estamos no mesmo “status” da Divindade e que, portanto, como parte de um contrato, como parte de uma aliança, podemos fazer valer nossos direitos, é um desdobramento daquela velha mentira que levou o primeiro casal à queda.

-Tomemos cuidado, amados irmãos, pois, ainda que o Senhor seja fiel e vá cumprir a Sua Palavra, isto não se dá nem na hora, muito menos do jeito que o ser humano pensa ou imagina, mas no tempo e no modo querido e estabelecido por Deus.

-Ester, mesmo sendo rainha, sabia que o poder estava nas mãos de Assuero e que somente ele poderia atender a seu pedido. É bem verdade que Ester sabia que acima do rei estava o próprio Deus, a quem, inclusive, já havia buscado nos dias de oração e jejum que havia feito.

-Esta confiança em Deus por parte de Ester era tremenda, pois, como se sabe, os decretos reais não poderiam ser alterados e, de certo modo, Assuero, assim como ocorreu com Dario, o medo no episódio da cova dos leões, estaria também um tanto quanto limitado para atender ao pedido de Ester.

-Ester, então, diz que ela e seu povo estavam vendidos, que havia sido determinada a sua destruição, morte e o lançamento a perder.

-Este é desejo do inimigo de nossas almas em relação ao povo de Deus: quer a sua destruição, morte e perdição. Como bem diz o salmista:

“Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, eles, então, nos teriam engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós” (Sl.124:2,3).

-Esta é a própria natureza de Satanás, que é homicida desde o princípio (Jo.8:44). Por isso, não existe a menor possibilidade de se estabelecer uma “trégua” com as hostes espirituais da maldade, como alguns têm advogado por aí.

-O teor do decreto real contra os judeus, redigido por Hamã, é a uma clarividente demonstração nas Escrituras do que o maligno deseja em relação ao povo de Deus, seja Israel (que o diga o crescente e sempre presente antissemitismo), seja a Igreja.

-Humildemente, Ester disse que se determinasse a servidão do povo, ela se conformaria, ainda que, mesmo assim, a perda que o rei teria seria grande, mas aquela situação decorrente do decreto não poderia persistir.

-Ao assim afirmar, Ester como que evocava a libertação do povo de Israel no Egito, que há pouco havia sido celebrada pelos judeus na Páscoa.

-Como o decreto saiu no dia treze de Nisã, véspera da Páscoa, data em que Mardoqueu rasgou suas vestes, só saiu por Susã vestido de pano de saco com cinza no dia quinze de Adar, um dia depois da Páscoa, já que era um observante da lei e ficou na praça em frente ao palácio, quando, então, faz saber a Ester o que estava se passando.

-Ester ficou trinta dias sem comparecer perante o rei e foi cobrado por Mardoqueu, tendo resolvido arriscar sua vida, combinou três dias de jejum e oração juntamente com os judeus de Susã e, no dia seguinte, tendo, então, Ester comparecido à presença do rei, o que faz com que isto se tenha dado no dia 19 de Zive, o segundo mês do calendário judaico (Nisã tem 30 dias e Zive, 29 dias).

-Ester, como todo judeu temente a Deus, sabia que os filhos de Israel, por sua impenitência, estariam sujeitos a povos estrangeiros doravante até a chegada do Messias (Ne.9:36,37), como havia, inclusive, sido revelado ao profeta Daniel, e considerava ser suportável até que houvesse uma opressão, como havia ocorrido no Egito, mas não podia ficar inerte diante da iminente destruição.

-Temos esta mesma resignação que apresentou Ester em sua petição a Assuero? Estamos mesmo dispostos a reconhecer as consequências de nossas ações e, segundo a lei da ceifa, suportar situações desagradáveis que nos gerem contrariedades e frustrações, sem que percamos a fé e a esperança em Deus?

-Diante deste pedido, Assuero, então, indagou da rainha quem era o responsável por esta situação. Ester, então, sem titubear apontou Hamã como sendo o autor de toda esta situação contra os judeus, chamando-o de “o homem, o opressor e inimigo”, como também de “mau” (Et.7:6).

-Por primeiro, Ester chama Hamã de “homem”. Tal afirmação mostra-nos, claramente, que o ser humano, embora criado à imagem e semelhança de Deus, por causa do pecado, tornou “imagem e semelhança de Adão” (Gn.5:3), tendo uma natureza depravada, pecaminosa, cuja imaginação é má continuamente desde a meninice (Gn.8:21).

-Ser apenas um “homem”, recusar-se a viver em comunhão com Deus e a obedecer-Lhe, como era o caso de Hamã que, mais do que isto, deliberadamente se levantara contra o Senhor ao querer a destruição do Seu povo, é habilitar-se para a perdição eterna.

-Muitos, em nossos dias, têm se comportado como “meros homens”. Não vivem senão a vida terrena, não almejam senão as coisas desta vida. Agem como aqueles judaítas que vivam em apostasia espiritual no período imediatamente anterior ao cativeiro da Babilônia, que foram descritos pelo profeta Isaías como pessoas más cuja maldade não seria expiada.

-Este tipo de gente, aliás, tinha a seguinte mentalidade, segundo o profeta: “Mas eis aqui gozo e alegria; matam-se vacas e degolam-se ovelhas; come-se carne, e bebe-se vinho, e diz-se: Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (Is.22:13).

-Entretanto, a resposta a estas pessoas que vem da parte do Senhor é extremamente dura: “Mas o Senhor dos Exércitos se declarou aos meus ouvidos, dizendo: Certamente, esta maldade não será expiada até que morrais, diz o Senhor Jeová dos Exércitos” (Is.22:14).

-Hamã era um “homem”, vivia voltado única e exclusivamente para as coisas desta vida, ambicionava somente o poder que, aliás, havia conquistado, e com muito esforço, já que a tradição judaica diz que teria ele tido uma vida humilde e pacata durante parte de sua vida.

OBS: Eis o que diz o Talmude sobre este início pacato da vida de Hamã: “…Quando Hamã viu que não havia mais ninguém para fazer o trabalho, ele mesmo levou Mardoqueu para a casa de banhos e lavou-o, e depois foi buscar uma tesoura [ zuza ] de sua casa e cortou-lhe o cabelo. Enquanto aparava o cabelo, ele se machucou e suspirou. Mordecai lhe disse:

Por que você suspira?

 Hamã disse-lhe: O homem que o rei antes considerava acima de todos os seus outros ministros agora é nomeado atendente de balneário [ balanei ] e barbeiro. Mordecai disse-lhe: Homem mau, você não foi barbeiro da aldeia de Kartzum? Se sim, por que você suspira? Você simplesmente retornou à ocupação da sua juventude.

Foi ensinado em baraita: Hamã foi barbeiro da aldeia de Kartzum durante vinte e dois anos…” (Megillah 16-a. Disponível em: https://www.sefaria.org/Megillah.16a.9?lang=bi Acesso em 19 jun. 2024) (tradução de texto em inglês pelo Tradutor Google).

-Hamã também foi chamado de “opressor”. Ele odiava o próximo, em especial os judeus e, mui especialmente, Mardoqueu. Por ser pessoa obcecada pelo poder, soberba e egoísta, via os outros apenas como instrumentos para satisfação de seus desejos.

-Quem tem esta índole, nitidamente é alguém que oprime os outros, que faz os outros sofrerem, que não pensa duas vezes para fazer o mal. Basta lembrar que obtivera de Assuero a ordem para que todos se prostrassem diante dele quando ele passasse.

-O servo de Deus jamais é opressor. Pelo contrário, por ter aprendido com o Senhor Jesus, é manso e humilde de coração (Mt.11:29). A pessoa temente a Deus reveste-se de entranhas de misericórdia, benignidade, humildade, mansidão e longanimidade (Cl.3:12).

-Ser opressor é ter característica do diabo, pois o Senhor Jesus veio para curar todos os oprimidos do diabo (At.10:38), numa clara demonstração de que o diabo é opressor e oprime a todos quantos estão sob o seu jugo. Em mais este aspecto, Hamã se assemelhava ao inimigo de nossas almas.

-Hamã também foi chamado de “mau”. O homem guiado pela carne, pela natureza pecaminosa, sem Deus e sem salvação, é mau. Cristo disse que somos maus, mesmo sabendo fazer coisas boas (Mt.7:11).

-Verdade é que Hamã chegara ao estágio máximo da maldade, completamente corrompido pela soberba e que nutria um ódio especial contra o povo judeu, seguindo, neste passo, os seus ancestrais amalequitas, cuja maldade de coração levara o Senhor a determinar que a memória de Amaleque fosse riscada de sobre a face da Terra, o que, aliás, estava na iminência de ocorrer com a morte de toda a família de Hamã, remanescente daquele povo.

-Hamã, por fim, foi chamado de “inimigo”. Ele era, como todo amalequita, deliberado inimigo do povo de Israel. Ele se opunha não só aos judeus mas à própria religião judaica, que nada mais era senão a lei de Deus.

-Hamã era um adversário dos que serviam a Deus e, neste passo, também sob este aspecto se apresenta como um verdadeiro tipo de Satanás no texto sagrado.

-Tais pessoas, no fundo, não são inimigas do povo de Deus, mas, sim, inimigas do próprio Deus. Por isso mesmo, não podemos fazer amizade com o mundo, não podemos ter comunhão com os ímpios, porque a amizade do mundo é inimizade contra Deus e qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus (Tg.4:4).

-Hamã estava num estágio avançado de inimizade contra Deus, tanto que o Senhor já começara, desde o início daquele dia, a executar Seu juízo contra ele.

Jesus veio restaurar a amizade do homem com Deus, pondo inimizade entre o homem e Satanás (Gn.3:15), mas quem quiser deliberadamente se fazer amigo do diabo, automaticamente se fará inimigo de Deus e, muitas vezes, de forma irreversível.

-Como diz o profeta Amós, dois juntos não andarão se não estiverem de acordo (Am.3:3) e quem deliberada e voluntariamente se levanta contra o Senhor, faz-se Seu inimigo, está de mãos dadas com Satanás e terá o mesmo triste destino daquele ser: o lago de fogo e enxofre (Ap.20:10; Mt.25:41).

-Após Ester haver identificado o causador dos males como sendo Hamã, este se perturbou diante do rei e da rainha. Notava que aquilo que sua mulher lhe dissera estava a se concretizar: ele estava rapidamente caindo e não conseguiria prevalecer diante de Mardoqueu e dos judeus.

III– A REAÇÃO DE ASSUERO

-Assuero ficou irado, encheu-se de furor. Seu principal auxiliar havia tramado contra a vida da sua própria mulher, da rainha. Sentira-se traído, via que havia depositado muita confiança em que não a merecia.

-Mais uma vez, vemos que Assuero, embora fosse dado ao vinho, não se tratava de uma pessoa imprudente ou impulsiva. No episódio da conspiração de Bigtã e Teres, mandou investigar antes de condenar os guardas do rei à morte. Agora, enfurecido, não tomou qualquer iniciativa, mas, como bom governante, como pessoa cônscia das suas responsabilidades, “saiu para espairecer”, como dizia minha saudosa mãe.

-Não podemos tomar atitudes sob o impacto da ira, como, aliás, já se disse em lição anterior. A ira leva- nos a pecar e, na prática do pecado, jamais teremos qualquer vantagem ou sucesso. Façamos o que nos recomenda a Bíblia Sagrada: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”.

-Certa feita, ouvi um sábio ensinamento de um obreiro do Senhor, que disse que temos de tratar a ira assim como tratamos um ambiente em que haja vazamento de gás.

-Quando sentimos cheiro forte de gás ao entrarmos em nossa residência, não devemos acender nenhuma lâmpada para que não haja explosão, como também temos de abrir as janelas, portas, enfim, tudo o que for

necessário, para que o gás se vá e, com isto, não haja qualquer explosão. Precisamos dar lugar ao gás para que não haja explosão.

-No caso da ira é o mesmo que se deve fazer – dar lugar a ela, deixar que ela se espalhe, se desfaça, sendo, este, aliás, segundo aquele obreiro, o sentido da expressão bíblica “dar lugar à ira” (Rm.12:19), ou seja, não explodir, não tomar decisões precipitadas, “deixar a cabeça esfriar”, como diz o povo.

-Quando “damos lugar à ira”, abandonamos a vingança privada e deixamos que Deus faça justiça ao Seu modo e ao Seu tempo, o que sempre será perfeito.

-“Dando lugar à ira”, Assuero saiu do aposento onde se dava o banquete e foi para o jardim do palácio, para poder decidir o que fazer sem o impacto do furor que dele tomara conta.

-A tradição judaica diz que, nesta ida ao jardim do palácio, o rei teria tido experiências sobrenaturais, com o que não podemos concordar, sendo muito mais fruto da imaginação do que fato. Não havia a necessidade de intervenção de nada mais do que já estava a ocorrer, pois a Divina Providência estava em plena atividade, e há muito tempo.

OBS: A título de mera curiosidade, reproduzimos o que diz o Talmude a respeito. A fantasia é tanta que vemos anjos mentindo, o que, evidentemente, é impossível de ocorrer. Eis o texto: “…O versículo afirma: “E o rei levantou-se do banquete de vinho na sua ira e foi ao jardim do palácio” (Ester 7:7), e o versículo seguinte afirma: “Então o rei voltou do jardim do palácio para o local do beber vinho” (Ester 7:8).

A Gemara comenta: Os versos aqui comparam o seu retorno ao seu surgimento: Assim como o seu surgimento foi em ira, também o seu retorno foi em ira. E por que ele voltou furioso?

Pois quando ele saiu encontrou anjos ministradores que lhe apareceram como pessoas e estavam arrancando árvores do jardim, e ele lhes disse: O que vocês estão fazendo? Eles lhe disseram: Hamã nos ordenou que fizéssemos isso…” (Megillah 16a. Disponível em: https://www.sefaria.org/Megillah.16a.20?lang=bi Acesso em 19 jun. 2024) (tradução de texto em inglês pelo Tradutor Google).

-Diante desta reação de Assuero, indo para o jardim do palácio, Hamã percebeu que a situação era delicadíssima e que o mal lhe estava reservado. Em atitude de desespero, levantou-se para rogar à rainha pela sua vida (Et.7:7).

-Notemos aqui como, mesmo diante de uma nítida situação de grave risco de vida, Hamã não abandonava a sua soberba. O normal seria prostrar-se perante a rainha, em atitude de súplica, mas isto era impensável para uma pessoa soberba. O que fez ele foi se levantar da mesa e, de pé, fazer o pedido à rainha.

-Em pé, passou a pedir por sua vida à rainha, muito provavelmente em tom ameaçador, tanto que Ester se distanciou da mesa e se aproximou do leito que havia ali. Hamã foi em direção a ela e acabou tropeçar e caiu sobre o corpo da rainha, na cama dela.

-Temos aqui uma eloquente demonstração de que como atua a Divina Providência. Assuero havia saído para controlar a sua ira e pensar no que fazer diante da denúncia feita por Ester. Ao retornar, estaria mais tranquilo, já sabendo o que iria fazer e nada indicava que fosse tomar uma atitude imediata. Lembremos que, no caso da conspiração de Bigtã e Teres, ele primeiro mandou investigar o caso para só depois mandar enforcar os guardas do rei.

-Não nos esqueçamos, também, que não era nada fácil desfazer-se o decreto, como vemos no episódio em que Dario, o medo, sem êxito, tentou livrar o profeta Daniel da cova dos leões.

-Entretanto, havia chegado o momento do juízo divino para Hamã e nada poderia frustrar os planos divinos.

-Hamã tropeçou e caiu sobre o corpo de Ester na cama da rainha, uma cena que foi vista por Assuero, pois, neste exato instante, o rei retornava ao aposento do banquete, que, pelo que se vê da narrativa, eram os aposentos particulares da rainha.

-Assuero, muito provavelmente, ao contrário do que diz o Talmude, devia estar mais tranquilo, já sabendo o que iria fazer, mas, ao entrar no aposento de Ester, viu aquela cena de Hamã sobre o corpo de Ester.

-Imediatamente, Assuero se indignou, entendendo que seu primeiro-ministro estava usando de violência contra a rainha diante da denúncia que fora feita. Assuero, como marido, indignou-se muitíssimo. Como bem diz Salomão: “…furioso é o ciúme do marido; e de maneira nenhuma perdoará no dia da vingança” (Pv.6:34).

-Ao ver aquela cena, Assuero verificou que não só Hamã tinha querido matar a rainha e todo o seu povo, como que, uma vez descoberto, queria dar cabo da rainha ali mesmo, “para não perder a viagem”, como diz o adágio popular, inclusive, já que estava sobre o corpo da rainha na sua cama, antes de matá-la, humilhá-la, dela abusando.

-Toda a tranquilidade obtida no passeio do jardim desapareceu. O ciúme do marido, a extrema audácia que via em Hamã que, mesmo denunciado, tomava atitudes de enfrentamento e de vingança, fez com que o rei novamente se enfurecesse e em proporção ainda maior.

-Tudo por causa de um “tropeção”, um “providencial tropeção”, providencial porque advindo da Divina Providência, para se criar a circunstância de imediato e fatal juízo para o mau Hamã.

-Quando Assuero viu aquela cena, gritou em alto clamor: “quereria Hamã também forçar a rainha perante mim na minha casa?”.

Diante de tal exclamação, imediatamente os servos de Assuero foram até Hamã e “cobriram o seu rosto”, ou seja, passaram a tratá-lo como um criminoso e o mais funesto de todos os crimes numa corte real: o de lesa-majestade, que é o crime de traição contra o soberano ou a violação da dignidade de um soberano reinante.

-Para termos uma ideia da gravidade disto, basta lembrarmos que, milênios depois, no reino de Portugal o crime de lesa-majestade era considerado o pior de todos os crimes, tanto que as Ordenações Filipinas, código de maior duração durante toda a história lusitana, que, na parte criminal, vigorou inclusive no Brasil até 1830, a pena prevista para este delito era “morte cruel”.

-Hamã é detido, mas Assuero ainda não proferira qualquer sentença, somos do entendimento que, mesmo extremamente enfurecido, o rei ainda tentava evitar ser impulsivo e tomar uma decisão imediata.

-Entretanto, antes que pudesse novamente se tranquilizar, Assuero ouve de Harbona, que, como vimos, segundo a tradição judaica, tinha sido aliado de Hamã mas que resolvera dele se afastar ao ver sua humilhação diante de Mardoqueu e, segundo Flávio Josefo, um dos eunucos que tinha ido buscar Hamã em sua casa para levá-lo ao banquete e descoberto que fora Hamã quem havia preparado a forca para Mardoqueu, mais do que depressa diz ao rei que havia uma forca que seu primeiro-ministro havia mandado erguer para nela enforcar Mardoqueu.

-Esta foi a “gota d’água” para que a cólera do rei não mais cedesse. Além de tentar violentar Ester na sua frente, o primeiro-ministro também já havia mandado erguer uma forca para nela matar o súdito de quem o rei mais estava afeiçoado, aquele que fora honrado pelo próprio Assuero, aquele de quem o rei se agradava.

-Não havia mais qualquer solução senão a morte imediata de Hamã, que se apresentava como extremamente nocivo ao rei pelas atitudes que estava a tomar. A Divina Providência mostrava que chegara a medida da injustiça de Hamã e que deveria ele, naquele mesmo instante, receber a pena pela sua culpa.

-Queridos irmãos, Deus é longânimo e tardio em irar-Se, mas, quando chega o momento da ira divina, não há quem possa resistir, não há quem possa impedir. Não é à toa que o Senhor usou da boca do profeta Isaías: “Ainda antes que houvesse dia, Eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das Minhas mãos; operando Eu, quem impedirá?” (Is.43:13).

-Em nossos dias, muitos são os que estão a apregoar uma imagem de que Deus é compassivo, misericordioso, compreensivo, amoroso e benigno. Evidentemente que Deus é tudo isto, mas não é só isto. Ele também é santo, justo e promoverá a vingança, pois só Ele o pode fazer.

-Por isso, o mesmo Senhor que apregoa o ano aceitável do Senhor, é o que também promove o dia da vingança (Is.61:2). É o Deus que exerce Sua vingança no tempo por Ele mesmo estabelecido, como ocorreu com Babilônia (Jr.51:6,11), com Edom (Ez.25:14).

-Não podemos deixar de lembrar que, ao mesmo tempo que Deus estava a executar juízo contra Hamã, também estava se vingando de Amaleque e, finalmente, cumprindo a Sua promessa feita aos israelitas, quando ainda estavam na jornada para Canaã no deserto, de que os amalequitas teriam a sua memória riscada de debaixo dos céus (Ex.17:14).

-Diante de tais circunstâncias, não nos esqueçamos de que estamos a viver “o ano aceitável do Senhor”, a dispensação da graça, pertencemos à Igreja, mas que, se não crermos em Cristo, a ira de Deus permanecerá sobre nós (Jo.3:36) e que a vingança de Deus será lançada sobre todas as nações que não O ouvirem (Mq.5:15). Pensemos nisto!

-Em várias passagens nas Escrituras é dito que a vingança é do Senhor (Dt.32:35; Sl.94:1; Na.1:2; Rm.12:19), assim como a Sua glória 9Is.48:11) e Ele não transfere a ninguém tais atributos.

-Diante da notícia dada por Harbona, que manteve acesa a ira do rei, Assuero fez o que pensara certamente em não fazer: dar uma imediata sentença de morte a Hamã. Mandou que Hamã fosse enforcado na própria forca que mandara fazer para matar Mardoqueu.

-Como ensinava o saudoso pastor Severino Pedro da Silva (1946-2013): “nem todos cumprem a Palavra de Deus, mas a Palavra de Deus se cumpre na vida de todos os homens”. Foi precisamente o que ocorreu com Hamã. Ao mandar fazer uma forca para Mardoqueu, acabou enforcado nela, pois, como ensina Salomão: “O que faz uma cova nela cairá; e o que revolve a pedra, esta sobre ele rolará” (Pv.26:27), ou, ainda, “Quem fizer uma cova cairá nela, e quem romper um muro, uma cobra o morderá” (Ec.10:8).

-Quando Assuero soube que Hamã fora enforcado, seu furor aplacou (Et.7:10).

-Entretanto, Assuero não parou nesta execução. Naquele mesmo dia, resolveu entregar a Ester toda a família de Hamã. Ester, então, revelou a Assuero que era filha adotiva de Mardoqueu.

-Assuero ficou extremamente feliz. O súdito de quem tinha se afeiçoado, era o pai adotivo da sua esposa. Imediatamente, o rei viu que não haveria príncipe melhor para auxiliá-lo do que Mardoqueu e, portanto, pô- lo no lugar de Hamã.

-Não só Hamã morreu na forca que mandou erguer para Mardoqueu como Mardoqueu o sucedia. Agora era um judeu que controlava toda a administração persa!

-Assuero entregou seu anel a Mardoqueu, como havia feito a Hamã, que, por causa disso, pôde elaborar a ordem de destruição dos filhos de Israel, e agora Mardoqueu usava este mesmo anel para destruir a casa de Hamã e, com ela, riscar de debaixo dos céus a Amaleque.

– Amaleque tinha sido destruído, mas a lei de destruição dos judeus não havia nem podia ser revogada. O que fazer?

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10855-licao-12-o-banquete-de-ester-denuncia-e-livramento-i

Glória a Deus!!!!!!!