LIÇÃO Nº 2 – O NOVO NASCIMENTO

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo do Evangelho segundo João, analisaremos o diálogo entre Jesus e Nicodemos.

-Jesus Cristo faz nascer um novo homem.

I – O DIÁLOGO COM NICODEMOS

-Na sequência do estudo do Evangelho segundo João, analisaremos hoje o diálogo entre Jesus e Nicodemos, que se encontra no capítulo 3 do Evangelho.

-Depois do introito em que o evangelista aponta a divindade de Jesus, o Verbo de Deus, João traz-nos o testemunho de João Batista a respeito de Jesus, como também narra a chamada dos primeiros discípulos.

-Temos, então, a narrativa do primeiro milagre, a transformação da água em vinho em Caná da Galileia e o episódio da purificação do templo, que muitos discutem se é o mesmo episódio narrado pelos demais evangelistas, no final de Seu ministério público, ou uma purificação ocorrida no início de Seu ministério.

-Em seguida, temos o registro do primeiro discurso de Jesus no Evangelho, um diálogo que ele mantém com Nicodemos, personagem que só é mencionado nas Escrituras neste livro, identificado como sendo “príncipe dos judeus” (Jo.3:1) e que o próprio Jesus vai dizer ser “mestre de Israel” (Jo.3:10), integrante do Sinédrio (Jo.7:50) e que dá, portanto, a ele uma condição de grande erudito da lei.

-Jesus vinha para a Sua primeira Páscoa em Seu ministério público, e, no Seu zelo pela casa de Deus, enfrentou os cambistas do templo, o que, certamente, causou grande tumulto em Jerusalém, a ponto de terem vindo interpelá-l’O, quando, então, para espanto de todos, disse que poderiam derribar o templo que Ele o reedificaria em três dias, embora estivesse a falar do templo do Seu corpo (Jo.2:13-21).

-Em seguida, realizou sinais em Jerusalém, levando muitos a crer n’Ele (Jo.2:23), o que, certamente, despertou a curiosidade de muitos, entre os quais a do mestre Nicodemos.

-Nicodemos, cujo nome significa “conquistador do povo”, resolveu, então, ir ter com Jesus. Fê-lo de noite (Jo.3:2; 7:50; 19:39), circunstância que João faz sempre questão de relembrar quando o menciona em seu evangelho.

-Por que Nicodemos foi se encontrar com Jesus à noite? Entendem alguns que, por ser mestre de Israel, com muitas atividades, somente teria tido a oportunidade de encontrar-se com Jesus no período noturno, após a sua jornada de trabalho.

-Outros acham que Nicodemos teria ido ao encontro de Jesus à noite para que não fosse percebido, tendo em vista a sua posição. Jesus, naturalmente, estava causando polêmica com Sua postura e Seus sinais e, como

integrante do Sinédrio, não era confortável que o mestre de Israel demonstrasse publicamente sua admiração por aquela personagem enigmática que acabara de surgir e que não pertencia à elite da sociedade, notadamente da linhagem sacerdotal ou das academias dos estudiosos da lei.

-Há, ainda, quem entenda que Nicodemos vai se encontrar com Jesus de noite porque sofria de insônia, ou estava insone, não só porque sentia um vazio espiritual, mas também pela própria perplexidade causada com as notícias a respeito de Cristo.

-Seja qual foi a circunstância, o fato é que Nicodemos não se conteve e foi até Jesus e, de pronto, já reconhece Jesus como sendo mestre e uma pessoa vinda de Deus, tendo em vista os sinais que estava a realizar.

-Este dado é relevantíssimo, pois mostra que, já no início de Seu ministério, o Senhor Jesus despertou o interesse do “mestre de Israel”, expressão que dá a ideia que, àquele tempo, Nicodemos deveria ser o mais importante conhecedor da lei de Moisés.

-Um homem como este, debruçado sobre as Escrituras, chegou à conclusão de que Jesus era um mestre vindo de Deus, pois os sinais por Ele realizados eram uma demonstração cabal de que Deus era com Cristo (Jo.3:2).

-Era esta a mesma perspectiva do evangelista que, inspirado pelo Espírito Santo, estava a escrever seu livro precisamente para, por meio dos sinais que narrava, levasse as pessoas a crer que Jesus era o Filho de Deus e n’Ele cressem, tendo vida em Seu nome (Jo.20:30,31).

-Os Evangelhos têm, precisamente, este propósito, o de mostrar cabalmente que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt.16:16), a revelação completa de Deus (Hb.1:1), a verdade básica da fé cristã.

-Não foi à toa que assim Jesus foi apresentado por Pedro, seja aos judeus no dia de Pentecostes, quando se abriu a porta do Evangelho aos judeus (At.2:22), seja aos gentios, quando se abriu a porta do Evangelho aos gentios, na casa de Cornélio (At.10:38).

-Jesus viu sinceridade no coração de Nicodemos, o que não havia ocorrido enquanto fizera os sinais que haviam causado a admiração do príncipe dos judeus (Jo.2:24,25) e, para mostrar que não era apenas “mestre vindo de Deus” mas o próprio Deus feito homem, Cristo inicia este importante diálogo em que nos mostra a essência da Sua obra salvífica, que é o de trazer vida aos homens, fenômeno que denomina de “novo nascimento”.

-Embora os sinais tivessem sido importantes para despertar o interesse de Nicodemos, de modo a que fosse até Jesus, ainda que de noite, para com Ele se encontrar e d’Ele aprender, eram eles porém insuficientes para produzir a salvação pretendida pelo Senhor.

-Esta circunstância é de ser levada em conta na pregação do Evangelho. O Evangelho não pode prescindir dos sinais, prodígios e maravilhas, pois são eles que levam as pessoas a se interessar em buscar a Jesus, mas se torna necessário mostrar a estas pessoas que se chegam que é necessário “o novo nascimento”.

-João aqui nos mostra algo que já indicara quando da narrativa do primeiro milagre de Jesus, a transformação da água em vinho. Jesus vinha para transformar o homem, para fazer da água, algo insípido, em vinho, símbolo da alegria. Fazer com que o homem voltasse a ter alegria e a alegrar o seu Criador.

-Esta mesma mensagem, João também já trouxera ao narrar a purificação do templo, quando, também, mostra que Ele é aquele que restaurará a casa de Deus, que havia se tornado casa de vendas, bem como dito que levantaria o templo em três dias, aludindo à Sua ressurreição, que se tornaria a garantia da fé n’Ele (I Co.15:17).

-Jesus, diante desta constatação de Nicodemos, quis aprofundar o discurso, dizendo que o novo nascimento é necessário para ver o reino de Deus. Jesus aqui, de pronto, já mostra a Nicodemos que o

objetivo de Seu ministério era ir além do mundo de aquém, mirava o reino de Deus, que somente poderia ser visto mediante o novo nascimento.
-Quando vamos além do terreno, quando deixamos de ter o olhar para as coisas desta vida, aí iniciamos a verdadeira transformação do ser humano e isto só é possível mediante o novo nascimento.

-O apóstolo Paulo mostra-nos que Abraão a tido como o pai da fé (Rm.4:11), precisamente porque creu em Deus (Rm.4:3), sem se importar com as coisas deste mundo, pois, como afirma o escritor aos hebreus, passou a ter como norte a pátria celestial (Hb.11:9-16).

-O Senhor Jesus deixou Nicodemos confuso com esta informação. O príncipe dos judeus logo pensou em uma necessidade de retorno ao ventre materno para que houvesse este novo nascimento tido como indispensável para se ver o reino de Deus (Jo.3:4).

-Esta confusão do mestre de Israel não é de se zombar nem tampouco de se admirar. Lamentavelmente, todo e qualquer raciocínio firmado na religiosidade humana não consegue transpor a barreira das coisas desta vida, das coisas terrenas, pois a religiosidade humana nada mais é que a tentativa de se religar o homem a Deus a partir do homem, o que é impossível, pois, por si só, o homem não consegue atingir a Deus.

-O profeta Isaías já dizia que os caminhos de Deus são mais altos que os caminhos do homem assim como os pensamentos divinos em relação aos pensamentos humanos (Is.55:8,9), o que faz com que não se tenha a mínima condição para que o homem possa chegar à comunhão com Deus a partir de si próprio.

-Assim como Nicodemos entendeu a afirmação de Cristo como sendo um retorno ao ventre materno, mais de um milênio depois, Allan Kardec (1804-1869) voltou a interpretar o dito do Senhor Jesus como um reinício da existência terrena, só que desta feita, em vez de pensar em um retorno ao ventre materno, considerou que fosse essa uma “evidência da reencarnação”, esquecido de que uma “reencarnação” seria nada mais nada menos que um “novo nascimento da carne”, exatamente o que Jesus descarta na resposta a esta incompreensão do príncipe dos judeus.

-Jesus, diante da indagação do confuso Nicodemos, vai adiante no aprofundamento do diálogo, dizendo que, para entrar no reino de Deus, era necessário nascer da água e do Espírito (Jo.3:5).

-Jesus, assim, complementa a sua revelação a Nicodemos, mostrando que o novo nascimento era necessário para que se visse o reino de Deus, e que tal novo nascimento deveria ser seguido por um “nascimento da água e do Espírito”, para que se tivesse a entrada no reino de Deus, demonstrando, pois, clarividentemente, que a salvação é um processo que somente tem fim quando houver a “entrada no reino de Deus”.

-Por isso, muito feliz é o item 6 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus quando, baseado nesta afirmação do Senhor Jesus, afirma que:

“[CREMOS] na necessidade absoluta do novo nascimento pela graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus para tornar o homem aceito no Reino dos Céus (Jo.3:3-8; Ef.2:8,9)”.

-Jesus mostra a Nicodemos que este “novo nascimento” é um “nascimento do Espírito”, ou seja, é um “nascimento espiritual”, trata-se do que o apóstolo Paulo denominaria “vivificação com Cristo” (Ef.2:1,5; Cl.2:13), ou seja, a nova vida espiritual que é trazida pelo Senhor Jesus, em Quem está a vida (Jo.1:4), que é a própria vida (Jo.14:6).

-Este “novo nascido” é um “homem espiritual”, um homem que volta a ter o espírito atuante, alguém que volta a ter relacionamento com Deus, comunhão com o seu Criador, pois é precisamente isto que faz o espírito no homem.

-Jesus mostra ao que, muito provavelmente, era o maior conhecedor de religião em Israel e, consequentemente, o maior entendido de religião do planeta, já que a religião judaica era a religião que mais se aproximava da verdade, visto que erigida sob a revelação divina da lei e dos profetas, que se tinha de transpor os limites naturais, a razão, o intelecto e a experiência terrena humanos, para que se conseguisse a tal desejada retomada da comunhão com Deus.

-A necessidade do “novo nascimento” era a demonstração da insuficiência absoluta da religiosidade humana e, por conseguinte, da própria capacidade humana para resolver o problema do pecado e da separação entre Deus e o homem. Isto era algo que estava além de todo e qualquer poder humano, pois o “nascido do Espírito” é como o vento, que assopra onde quer e cuja voz é ouvida, mas não se sabe donde vem nem para onde vai (Jo.3:7,8).

-Esta expressão de Jesus para Nicodemos é, também, um alerta para os eruditos da religião, para os especialistas em religião, ciência da religião, teologia e disciplinas afins. Nunca se pode reduzir a realidade espiritual e os desígnios divinos ao pobre e insuficiente intelecto humano. O nascido do Espírito deve entender que nunca poderá compreender totalmente todas as coisas, mesmo as reveladas, que são para nós (Dt.29:29).

-Vivemos dias em que muitos, em vez de se aterem a esta constatação de nossa pequenez e insuficiência feita por Jesus ao maior erudito religioso de Seu tempo, são enganados pela mentira satânica de que poderemos ser iguais a Deus, sabendo o bem e o mal (Gn.3:5) e, deste modo, acabam por enveredar por caminhos perigosos, recusando a glorificar a Deus e, assim, construindo discursos desvanecidos provenientes de um coração insensato que obscureceu (Rm.1:21), o que leva a uma verdadeira loucura (Rm.1:22).

-Nicodemos manteve-se confuso, pois isto era algo que ia além do conhecimento humano, da erudição na lei mosaica e o Senhor Jesus lança esta insuficiência do intelecto para as coisas espirituais ao dizer que ele era mestre de Israel e não sabia aquilo.

-Mais à frente, em Seu ministério, logo após determinar um verdadeiro “estágio” para os Seus discípulos, Cristo iria reafirmar esta circunstância, ao Se dirigir ao Pai e dizer que estas coisas espirituais haviam sido ocultada aos sábios e instruídas e reveladas aos pequeninos (Mt.11:25).

-O entendimento espiritual independe da erudição humana, não está relacionado com uma formação intelectual, mas, sim, exige uma comunhão com Deus, que se inicia com o novo nascimento.

-É evidente que não se pode adotar uma atitude anti-intelectualista, como se teve inadvertidamente num período da história do movimento pentecostal, mas este diálogo entre Jesus e Nicodemos desautoriza um intelectualismo que, infelizmente, está a ser a mentalidade de boa parte dos atuais líderes de nossas igrejas locais na atualidade.

-O nascido do Espírito não está circunscrito ao intelecto, nunca o pode estar, sob pena de não se estar onde o Senhor quer que ele esteja, ou seja, na plena direção do Espírito Santo, “o vento que assopra onde quer e cuja voz deve ser ouvida”.

-Nicodemos queria entender como se dava este “nascimento espiritual” e, como era mestre de Israel, evidentemente esperava de Jesus, a quem tinha como mestre vindo de Deus, que, mediante os métodos de interpretação próprios dos doutores da lei, mostrasse, com base na lei e na tradição, como se dava este “novo nascimento” e o “nascimento da água e do Espírito”.

-Jesus, porém, diz a Nicodemos que Ele falava do que sabia e testificava, e, interessante notar, que aqui Cristo usa do plural, mostrando que este testemunho e saber não era unicamente Seu, mas Seu e do Pai (Cf. Jo.5:37; 8:18) e, por isso mesmo, um testemunho verdadeiro.

-Vemos, pois, que o aprendizado das coisas espirituais exige que aceitemos o testemunho do Pai e do Filho, que creiamos naquilo que nos é dito por Deus, testemunho este que se encontra registrado nas Escrituras (Jo.5:39), Escrituras que foram redigidas sob inspiração do Espírito Santo (I Pe.1:21).

-Temos aqui uma importante lição sobre como demos aprender as coisas espirituais: mediante a aceitação das Escrituras, únicas testemunhas do que foi revelado por Deus ao homem. O judaísmo havia se tornado uma religião como as demais porque tinham os mestres da lei invalidado os mandamentos divinos por causa da tradição dos anciãos (Mt.15:1-9).

-Devemos aceitar o testemunho de Jesus, ou seja, as Escrituras, partindo delas e nunca indo além do que está escrito (I Co.4:6), para que nunca deixemos de crer na verdade (Jo.17:17) e, deste modo, permanecendo na Palavra e sendo livre do maligno (Jo.8:31,32).

-O próprio Jesus nos mostra que as Escrituras têm uma forma pedagógica, pois se utilizam de “coisas terrestres” para que possamos compreender as “coisas espirituais”, embora mesmo o mestre de Israel não estivesse a entender a verdade do “novo nascimento” (Jo.3:12).

-Jesus, então, passa a ensinar Nicodemos, mostrando que, mais do que um mestre vindo de Deus, Ele era o próprio Deus, Aquele que descera do céu e que subiria para lá e que, mesmo como Filho do homem, estava no céu (Jo.3:13).

-Jesus, então, mostrava a Nicodemos que era o Verbo que Se fizera carne e estava a habitar entre os filhos de Israel e de que deveria ser levantado como a serpente de bronze o fora no deserto para trazer a cura do povo, a sua salvação.

-Ao mencionar o episódio da serpente de bronze no deserto, Jesus mostra que este “novo nascimento” se daria mediante a fé n’Ele e tiraria o pecado do mundo, trazendo perdão aos que assim cressem.

-Jesus estava a falar com o mestre de Israel, que bem conhecia o episódio da serpente de bronze, registrado em Nm.21:4-9.

-Depois de terem vencido os cananeus que estavam sob o comando do rei de Arade e cumprido o voto de destruir totalmente as suas cidades, os israelitas, sem qualquer motivo, angustiaram-se no caminho e falou contra Deus e contra Moisés, tendo reclamado de fome e de sede, bem como do próprio maná, a quem chamaram “pão vil”.

-Diante de tal demonstração de ingratidão e de rebeldia, o Senhor mandou serpentes ardentes entre o povo, que morderam e causaram a morte de muita gente.

O povo, então, veio a Moisés, confessaram que haviam pecado e pediu que Moisés intercedesse pelo povo para que se tirassem as serpentes, tendo, então, o Senhor mandado que Moisés fizesse uma serpente de bronze e a levantasse e todos os que olhassem para ela seriam curados, o que ocorreu.

-Ao se comparar à serpente de bronze, Jesus ensinava a Nicodemos de que o “novo nascimento”, a “nova vida” somente se daria por intermédio d’Ele e que Ele seria levantado para levar sobre Si o juízo do povo decorrente de seu pecado, trazendo vida para quem n’Ele cresse, quem viesse n’Ele o Salvador, a salvação.

-Quem era mordido pelas serpentes ardentes, estava condenado à morte e esta morte era decorrência do pecado. Se, porém, olhasse para a serpente, que fora fixada numa haste e levantada, adquiria uma “nova vida”, seu pecado era perdoado.

-A escolha da serpente como instrumento de morte pelo Senhor fazia rememorar a própria queda do homem, enganado pela antiga serpente no Éden, algo que também era nitidamente de conhecimento de Nicodemos. Fora a serpente que levara o primeiro casal ao pecado e, assim, à morte.

-Entretanto, a promessa da salvação, por meio da semente da mulher, foi feita no dia mesmo da queda, quando o Senhor disse à serpente que a salvação viria, ou seja, uma “nova vida”, mediante este descendente da mulher que feriria a cabeça da serpente, embora tivesse seu calcanhar ferido (Gn.3:15).

-O “novo nascimento” era possível porque a “semente da mulher”, vinda do céu, seria levantada como a “serpente de bronze”, carregando sobre Si o juízo divino do pecado, para poder dar vida à humanidade.

-Certamente, este ensino dado por Jesus ao príncipe dos judeus lhe veio à memória quando Nicodemos contemplou a crucifixão de Jesus no monte Calvário e foi o fator decisivo que o fez ir à companhia de Jesus de Arimateia para providenciar o sepultamento do mestre vindo de Deus (Jo.19:39).

-Somente o Deus feito homem poderia trazer a salvação à humanidade e o faria levando sobre Si o castigo do pecado, assumindo o lugar dos pecadores para satisfazer a justiça divina, pois, como se sabe, o bronze é o metal que simboliza o juízo divino, tanto que o altar de sacrifícios no tabernáculo e nos templos era deste material (Ex.27:1,2), o lugar onde, diariamente, pela manhã e pela tarde, um novilho era sacrificado para manter a comunhão entre Deus e Israel (Ex.29:38-46).

-Diante de tal ensino de Jesus, Nicodemos tivesse também feito a associação com a declaração que João Batista havia feito do próprio Jesus, que deveria ser de seu conhecimento, de que Cristo era o Cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo (Jo.1:29).

-Jesus continuou Seu ensino, dizendo a Nicodemos que tudo isto ocorreria por causa do amor de Deus de tal maneira pelo mundo que O levara a dar o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que n’Ele cresse não perecesse, mas tivesse a vida eterna (Jo.3:16).

-Não é por acaso que esta afirmação de Jesus é considerada “o texto áureo da Bíblia” pois sintetiza toda a obra salvífica do Senhor, todo o plano da salvação. Jesus apresenta-Se a Nicodemos como Deus, o Filho dado cujo principado estava sobre Seus ombros e que era Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade e Príncipe da Paz, conforme a profecia de Isaías (Is.9:6).

-Os sinais que tinham levado Nicodemos a concluir que Jesus era mestre vindo de Deus diziam muito mais que isto: mostravam que ali estava o próprio Deus, o Maravilhoso Conselheiro, mas que também era Deus Forte e Pai da eternidade.

-Jesus viera do céu, lugar da habitação divina (I Rs.8:30; II Cr.6:21), e para lá tornaria a subir, mas estava na terra para que salvasse o mundo, não para condená-lo (Jo.3:17) e a salvação ocorreria pela fé n’Ele (Jo.3:18).

-Aqui, também, Jesus mostrava a Nicodemos como estava Ele no lado diametralmente oposto da religiosidade judaica, que estava se tornando uma “especialista em condenação”, notadamente por parte dos fariseus, tidos como os religiosos exemplares naquele tempo, que faziam questão de desprezar o povo e considerá-lo maldito e pecador (Jo.7:49; 9:34; Lc.18:11).

-O “novo nascimento” é possível por causa do amor de Deus pelos pecadores, um amor indescritível, tanto que é dito “de tal maneira” e que se mostra pela própria entrega da vida por Jesus (Jo.15:13).

-A condenação não é proveniente de Deus. Deus quer que todos se salvem, tanto que deu o Filho Unigênito.

A condenação é o resultado da reação negativa à oferta divina, não crer no Unigênito Filho de Deus. Jesus fala aqui a Nicodemos o que depois repetiria aos Seus discípulos antes de subir aos céus: quem não crer já está condenado.

-Ao dizer que é necessário o “novo nascimento”, Jesus ensina a Nicodemos de que todos os homens estão mortos e que a luz veio ao mundo para trazer a salvação.

-Jesus Se identifica, então, como a luz e, como já dissera o evangelista no introito do livro, “a vida era a luz dos homens” (Jo.1:4 “in fine”).

-Notamos, deste modo, que não existe aqui uma “predestinação incondicional” como defendem alguns. A luz veio ao mundo, a luz é “a luz dos homens”, mas os homens “amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo.3:19).

-Há uma decisão, uma escolha de cada indivíduo e quem ama mais as trevas do que a luz, praticando o mal, este é condenado porque não crê no Unigênito Filho de Deus, não crê no perdão dos seus pecados que é oferecido por Cristo.

-Quem assim age é condenado, porque não vem para a luz, pois, ao praticar o mal, esconde-se nas trevas para que suas obras não sejam reprovadas (Jo.3:20).

-Quem, porém, crer no Filho de Deus, vem para a luz e pratica a verdade, e, desta maneira, as suas obras são manifestas, porque são feitas em Deus (Jo.3:21).

-Jesus oferecia, pois, a Nicodemos esta possibilidade de vir para a luz e, ao fazê-lo, a exemplo do próprio Cristo, poderia ter suas obras manifestas, porque feitas em Deus.

O que Nicodemos percebera em Jesus, de que Deus era com ele por causa dos sinais realizados, poderia se tornar uma realidade na sua própria vida, pois, por intermédio do Unigênito Filho de Deus, poderia Nicodemos também praticar a verdade e suas obras serem manifestas, porque feitas em Deus.

-Paulo mostrar-nos-ia, depois, que era este mesmo o propósito da obra salvífica de Cristo, fazer-nos conformes à imagem do Filho, tornar-nos irmãos de Jesus e, portanto, parecidos com Ele, praticando a verdade e tendo boas obras, que o próprio Deus fez para que andássemos nelas (Ef.2:10).

-Os sinais realizados por Jesus tinham o objetivo de que crêssemos que Ele era o Filho Unigênito de Deus, de que Ele estava no Pai e o Pai n’Ele e esta fé em Jesus faz com que realizemos essas mesmas obras e até obras maiores das que Ele realizou, até porque o Filho, que desceu céu, para lá tornou a subir (Jo.14:11,12) e tudo isto para que o Pai seja glorificado no Filho (Jo.14:13).

II – O NOVO NASCIMENTO

-A salvação é um novo nascimento (Jo.3:3-6), um nascimento do espírito, algo que o apóstolo Paulo denominou de “nova criação” (II Co.5:17; Gl.6:15). Como ensina o pastor Antônio Gilberto (1927-2018):

“…A salvação é chamada de novo nascimento (Jo 3.5) e de ressurreição (Cl 3.1), Não obstante o pecador venha a desejar a “tão grande salvação”, é Jesus Cristo quem o ressuscita dentre os mortos no pecado e o faz nascer de novo. Afinal, um bebê nada pode fazer para nascer, assim como um morto nada pode fazer para ressuscitar — toda ajuda tem de vir de fora.…” (Teologia sistemática pentecostal, pp.338-9).

-Faz-se necessário que surja um “novo homem”, com uma “nova natureza”, para que se tenha a salvação, uma criatura que esteja livre da natureza pecaminosa, livre do pecado, livre desta força que, de modo inevitável, nos faz pecar e ser escravizados pelo pecado, pelo maligno.

-Notamos, portanto, que a salvação é uma “nova criação”, ou seja, quem recebe a Jesus Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador é “novamente” criado, moldado, formado.

-Há o surgimento de um novo ser, surgimento este que decorre do fato de que, quando alguém crê em Jesus, arrepende-se de seus pecados, confessa-os e os deixa e, por causa disto, Jesus o perdoa, removendo, retirando o pecado daquela vida, pois Cristo é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo.1:29).

-Ao retirar os nossos pecados com o seu perdão, ao nos purificar do pecado por meio de Seu sangue (I Jo.1:7), voltamos a ter comunhão com o Senhor, pois é o pecado que faz divisão entre nós e Deus (Is.59:2), de modo

que o espírito, que é esta parte do homem que nos faz entrar em ligação com o Senhor, é vivificado, fazendo com que, uma vez em comunhão com o Senhor, recebamos o Espírito Santo e o amor de Deus que Ele derrama sobre nós (Rm.5:5).

-Este ato do processo da salvação é denominado de “regeneração”, ou seja, de “nova geração”, em que surge um “novo homem”, homem este que é chamado de “filho de Deus” (Jo.1:12), daí porque o Senhor Jesus ter dito que de “servos do pecado” passamos a ser “filhos de Deus” (Jo.8:32-36).

-Esta “regeneração”, esta “nova geração” é espiritual, não é biológica, até porque não se está a tratar aqui da “vida biológica”, representada pela palavra grega “bios” (βίος), mas, sim, da “vida espiritual”, da “vida eterna”, representada pela palavra grega “dzoé” (ζωή). Por isso, o Senhor Jesus disse que há o “nascimento da carne” e o “nascimento do espírito” (Jo.3:6).

-O apóstolo Pedro disse que esta geração é uma geração que vem da Palavra de Deus, da semente incorruptível (I Pe.1:23), ensino que é repetido pelo apóstolo João, que diz que esta geração é de Deus (I Jo.5:18). Paulo também diz que esta regeneração se dá pela “lavagem” e “renovação”, i.e., pelo Espírito Santo que foi derramado sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador (Tt.3:5,6).

-A Palavra de Deus, portanto, chegando ao coração do homem, trazendo-lhe a fé em Cristo (Rm.10:17), faz com que o homem se arrependa dos seus pecados, queira modificar a sua maneira de viver, pedindo, assim, perdão de seus pecados ao Senhor Jesus, que o perdoa.

Neste perdão, o homem tem o seu espírito vivificado, reativado, pois os pecados são retirados e volta a ter comunhão com Deus.

Neste instante, o Espírito Santo é derramado em seu coração, recebendo o amor de Deus e fazendo surgir uma “nova criatura”, esta, sim, feita à imagem e semelhança de Deus, com corpo, alma e espírito em perfeita comunhão com o Senhor, passando a ter vida, e vida abundante.

-Por isso, M.R. Gordon define regeneração como “…um ato drástico, operado sobre a natureza humana caída, por parte do Espírito Santo, que produz uma alteração na atitude inteira do indivíduo. Agora tal indivíduo pode ser descrito como um homem que busca, encontra e segue a Deus na pessoa de Cristo.” (Regeneração. In: DOUGLAS, J.D. (org.). O novo dicionário da Bíblia, v.2, p.1380)

-Como ensina o pastor Antônio Gilberto (1927-2018): “…No sentido objetivo, a salvação tem três aspectos, todos simultâneos: a justificação, que nos declara justos (esse aspecto tem a ver com a nossa posição diante de Deus: “em Cristo”); a regeneração, que nos declara filhos (tem a ver com a nossa condição espiritual, interior); a santificação, que nos declara santos, mediante a nossa fé no sangue derramado de Jesus. (…).

Regeneração. É a mudança de condição do pecador: de servo do pecado para filho de Deus. A regeneração é tão séria diante de Deus, que a Bíblia a chama de “batismo em Jesus” (I Co 12.13; G1 3.27; Rm 6.3).

Trata-se de um ato interior, dentro do indivíduo, abrangendo também todo o seu ser. É um termo ligado a família, filhos: “gerar”; é o novo nascimento (Jo 3.5). Mediante a regeneração somos chamados
“filhos de Deus” (cf. Gn 2.7; Jo 20.22; 15.5).…” (Teologia sistemática pentecostal, p.340).

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/11365-licao-2-o-novo-nascimento-i

Glória a Deus!!!!!!!