INTRODUÇÃO
– Dando início ao estudo dos dons espirituais, que constitui o primeiro bloco do trimestre, estudaremos o seu propósito.
– Os dons espirituais têm o propósito de edificação, exortação e consolação da Igreja.
I – DEUS É UM DEUS DE PROPÓSITO
– Depois de termos visto em linhas gerais que são e o que representam os dons para a Igreja, passaremos ao estudo dos dons, sendo que o primeiro bloco do trimestre, que envolve as lições 2 a 5, tratará dos dons espirituais, entendidos estes como os dons dados pelo Espírito Santo particularmente aos membros do corpo de Cristo para a manifestação do que for útil, para a edificação, exortação e consolação da Igreja (I Co.12:7-11).
– O apóstolo Paulo, ao dissertar a respeito dos dons espirituais, traz este ensino para uma igreja local que estava acostumada ao exercício destes dons, pois a igreja em Corinto é a única que é mencionada nas Escrituras como sendo uma igreja local em que dom algum faltava (I Co.1:7).
– Isto já nos mostra com clareza que, além da busca e do exercício dos dons, é fundamental que a igreja local não seja ignorante a respeito deles, ou seja, saiba efetivamente porque e para que o Espírito Santo entrega dons para a Igreja, a fim de que se cumpra o propósito para eles estabelecido pelo próprio Senhor.
– Tal posicionamento do apóstolo Paulo, que não queria que houvesse ignorância a respeito dos dons espirituais (I Co.12:1) já desmonta a tese de muitos que cristãos se dizem ser que, dizendo-se “espirituais”, são anti-intelectualistas e arredios ao estudo das Escrituras, considerando que, “em havendo poder de Deus”, tudo estará resolvido e que não é necessário exercer uma fé racional e equilibrada, consoante os parâmetros estatuídos na Bíblia Sagrada.
– A igreja em Corinto, apesar de ter todos os dons, o que é bom e jamais foi alvo de qualquer crítica ou censura por parte do apóstolo Paulo que, bem ao contrário, ensinava os coríntios a buscar com zelo os dons espirituais (I Co.14:1), tinha grandes e gravíssimos problemas e um dos fatores que ocasionavam estas imensas dificuldades estava, precisamente, a ignorância com relação aos dons espirituais.
– A Igreja é formada de pessoas que, antes de receber a salvação em Cristo Jesus, eram gentios, ou seja, pessoas sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo (Ef.2:11) e que, por isso mesmo, encontravam-se longe de Deus.
– Por causa disso, vagueavam por este mundo sem rumo nem direção, pois eram guiados por falsas divindades, ídolos mudos, que não podiam, de modo algum, trazer qualquer esperança ou direção para as pessoas.
– No entanto, ao crerem em Jesus Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador, pelo sangue de Cristo se aproximaram de Deus, do seu Criador, recebendo, então, vida, entrando em comunhão com o Senhor, passando a entender qual o plano de Deus para o homem, quais Seus desígnios e desejos. É este plano, é este desígnio, é este projeto de Deus para o homem que denominamos de “propósito”.
– Salomão já afirmara que “tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Ec.3:1).
O sábio rei de Israel, ao dissertar sobre a vida debaixo do sol, fez questão de mostrar que tudo segue um plano estabelecido pelo Criador, que nada escapa ao Seu controle e que tudo tem a sua razão de ser.
– Quando passamos a pertencer a Cristo Jesus, quando passamos a fazer parte do Seu corpo como membro, também passamos a entender os desígnios divinos, os Seus propósitos, logicamente que por força da Sua própria revelação a nós, visto que nossos caminhos e pensamentos são infinitamente inferiores aos d’Ele (Is.55:8,9).
– “Propósito”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é “intenção de (fazer algo); projeto, desígnio; aquilo que se busca alcançar quando se faz alguma coisa; objetivo, finalidade, intuito; aquilo a que alguém se propôs, por que se decidiu; decisão, determinação, resolução.” Vem da palavra latina “prospoitum”, cujo significado é “pôr diante, expor à vista; apresentar, propor, oferecer; anunciar, declarar; referir, relatar, contar, narrar; fixar, marcar, determinar”.
– Quando falamos, pois, em propósito de Deus, estamos a falar daquilo que o Senhor determinou fazer, daquilo que Ele escolheu para fazer e revela aos Seus servos, a quem, por intermédio de Cristo, tem feito tudo conhecer no que pertine ao que é destinado aos homens saber (Jo.15:15; Dt.29:29).
– Para tanto, o Senhor nos dá o Espírito Santo assim que cremos em Jesus como Senhor e Salvador, este dom que é indispensável para que reconheçamos a Cristo como nosso Senhor, como Aquele que determinará aquilo que devamos fazer, pois ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor senão pelo Espírito Santo (I Co.12:3; Mt.16:17; I Jo.3:24).
– Quando recebemos o Espírito Santo, passamos, então, a ter uma íntima comunhão com o Senhor (Jo.14:17), somos guiados em toda a verdade (Jo.16:13) e ensinados por Ele em todas as coisas (Jo.14:26), de modo que poderemos compreender o propósito de Deus para a Sua Igreja e para cada um de nós, para o corpo de Cristo e para seus membros em particular (I Co.12:27).
– Neste propósito estabelecido pelo Senhor, encontra-se a diversidade de dons, ministérios e operações (I Co.12:4-6), pois o Senhor quis formar um só corpo (Ef.4:4), já que há um só Espírito, um só Senhor e um só Deus (Ef.4:5,6), mas uma unidade que demonstrasse a Sua infinitude, de sorte que em meio a esta unidade, existiria, também, uma multiplicidade de membros, exatamente como quando fez o homem, criando um só ser com um único corpo mas com uma multiplicidade de membros e órgãos.
– A diversidade já começa na própria existência de atividades distintas: dons, ministérios e operações. Os dons a cargo da Pessoa Divina do Espírito Santo (Ef.12:4); os ministérios, a cargo da Pessoa Divina do Filho (I Co.12:5) e as operações, a cargo da Pessoa Divina do Pai (I Co.12:6).
A comunhão existente no único e verdadeiro Deus, que é uma triunidade de Pessoas, reedita-se na Igreja, que, por força da diversidade de atividades, constitui-se numa única Igreja, em que há, também, uma comunhão em amor.
– Deus, ao estabelecer particularidade e diversidade nos dons, ministérios e operações, faz com que se tenha na Igreja o mesmo ambiente que há na Santíssima Trindade, ou seja, um ambiente de unidade perfeita com diversidade, um ambiente de comunhão em amor.
A repartição de dons, ministérios e operações tem em vista nada mais, nada menos que o exercício do amor, o amor de Deus que é recebido por cada salvo pelo Espírito Santo (Rm.5:5) e exercido no cotidiano de nossa peregrinação terrena através dos dons, ministérios e operações que o Senhor entrega aos Seus servos na Igreja.
– Esta realidade mostra que precisamos, assim, na nossa jornada para o céu, de uma dimensão eclesial, ou seja, não é possível que alguém caminhe para o céu solitariamente, isoladamente, sem pertencer a uma igreja local.
A Igreja foi criada precisamente para que, nela, possamos não só cumprir o mandamento que Cristo nos deixou de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (Jo.15:12), como de pôr em prática este amor por meio do exercício dos dons, ministérios e operações que o Senhor pôs à disposição dos Seus servos.
– Vemos, então, que o primeiro propósito estabelecido por Deus para que houvesse dons, ministérios e operações na Igreja outro não é senão o de criar um ambiente propício e necessário para o exercício do amor de Deus por parte dos salvos e não é por outro motivo que o apóstolo Paulo, ao ensinar sobre os dons espirituais aos coríntios, faz uma pausa para indicar o “caminho mais excelente”, que é o amor (I Co.12:31).
– O amor é a razão de ser do exercício dos dons, ministérios e operações na Igreja. Eles foram postos à disposição dos servos do Senhor em sua peregrinação terrena para que haja aqui nesta dimensão o exercício do amor de Deus.
Quando atingirmos a glorificação, este exercício do amor independerá dos dons, ministérios e operações, pois, então, não haverá mais necessidade deles, pois estaremos na plenitude da glória de Deus e passaremos a contemplar o próprio Deus, que é amor (I Co.13:8-10; I Jo.4:8).
– Todo dom, ministério e operação posto à disposição da Igreja pelo Senhor, portanto, tem um propósito, tem uma razão de ser, razão esta que está vinculada ao exercício do amor de Deus pelos salvos, que, assim, devem amar uns aos outros como Cristo os amou.
– Isto é importantíssimo, porque, nos dias em que vivemos, não faltam manifestações sobrenaturais que são cunhadas como “demonstrações do poder de Deus”, mas que se revelam totalmente divorciadas de um propósito divino, vez que não trazem qualquer dimensão eclesial, comunitária, nem tampouco promovem a unidade do povo de Deus ou seu crescimento espiritual.
Quando muito servem tão somente para o engrandecimento de uma ou outra pessoa, engrandecimento este que, quase sempre, é acompanhado de um indisfarçado proveito econômico-financeiro. Tomemos, pois, cuidado com tais manifestações, porquanto estão na contramão do propósito de Deus para a Sua Igreja.
– Sendo resultado de um propósito de Deus, os dons espirituais surgem sob a perspectiva do serviço. Os dons são dados pelo Senhor aos Seus servos. Se assim é, os dons somente podem ser exercidos para fins de serviço.
– Os dons espirituais não se apresentam, portanto, como uma dádiva que faça com que alguém se sobreponha a outro, como uma parcela de poder que subjugue um crente a outro. Não, não e não!
Os dons são dados conforme o propósito de Deus e, por isso, somente têm por objetivo fazer com que o donatário sirva a Deus e aos homens.
– O subtítulo de nosso trimestre vem revelar esta qualidade dos dons espirituais, a saber: “servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário”. Os dons espirituais são meios de serviço, meios pelos quais servimos a Deus.
– A lógica da Igreja é a lógica do serviço. O Senhor Jesus mesmo disse aos Seus discípulos, quando eles disputavam entre si qual é o maior, que, na Igreja, temos uma situação contraditória ao que existe entre os gentios, ou seja, na Igreja, o maior sempre serve ao menor (Mt.20:25-28; Mc.10:42-45).
– Aquele que recebe de Deus um dom espiritual ou ministerial, recebe-o para ser serviçal dos demais, para servir aos outros irmãos, o que aumenta, ainda mais, o que já se disse supra, ou seja, de que o propósito dos dons espirituais é o do exercício do amor de Deus por meio dos salvos em Cristo Jesus.
– Aquele que recebe um dom espiritual ou ministerial assemelha-se ainda mais a Cristo e, por isso mesmo, deve servir, deve estar à disposição dos outros, deve deixar que o Senhor o use para que promova a edificação, a exortação e a consolação dos demais salvos.
O dom não é dado para que alguém se considere superior aos outros e passe a querer ter os outros como servos seus, como, lamentavelmente, tem ocorrido cada vez mais entre os que cristãos se dizem ser.
– Por isso mesmo, o apóstolo Paulo, ao mesmo tempo em que defendia a sua qualidade de apóstolo, o maior de todos os ministérios, fazia questão de mostrar que esta condição o tornava um “huperetes” (υπερετες), ou seja, o mais simples de todos os escravos (I Co.4:1), precisamente porque tinha o maior dos dons ministeriais (I Co.4:9).
Como bem salientou certa feita para nós o pastor José Rigonatto, presidente da Assembleia de Deus – Ministério Sopro Divino, com sede em Mauá/SP, na Igreja, a “pirâmide é invertida”, os maiores são os menores.
OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos, a propósito, o que diz o Catecismo da Igreja Romana: “…as graças especiais, chamadas também “carismas”, segundo a palavra grega empregada por S. Paulo e que significa favor, dom gratuito, benefício[Lumen Gentium 12] .
Seja qual for seu caráter, às vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas se ordenam à graça santificante e têm como meta o bem comum da Igreja. Acham-se a serviço da caridade, que edifica a Igreja (§ 2003 CIC)”.
– Por isso, muito feliz foi a Declaração de Fé das Assembleias de Deus ao afirmar que os dons espirituais são
“…capacitações especiais e sobrenaturais concedidas pelo Espírito de Deus ao crente para serviço especial na execução dos propósitos divinos por meio da Igreja: ‘Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil’ (I Co.12:7). São recursos sobrenaturais do Espírito Santo operados por meio dos seres humanos…” (DFAD, XX, p.171).
II – OS DONS ESPIRITUAIS SÃO MANIFESTAÇÕES DO ESPÍRITO SANTO PARA O QUE FOR ÚTIL
– Visto o primeiro propósito de Deus para os dons, ministérios e operações que põe à disposição da Igreja, que é o de se criar um ambiente propício para o exercício do amor de Deus por parte dos membros em particular do único corpo de Cristo, vejamos mais detidamente os propósitos estabelecidos por Deus para os dons espirituais.
– Os dons espirituais são aqueles dados à Igreja pelo Espírito Santo (I Co.12:4). O Espírito Santo é o Consolador, ou seja, Aquele que o Pai e o Senhor Jesus mandaram para a Igreja para que com ela ficasse até o dia do arrebatamento (Jo.14:16), devendo guiá-la em toda a verdade (Jo.16:13), ensiná-la todas as coisas (Jo.14:26), fazê-la lembrar de tudo quanto Jesus a ensinou (Jo.14:26) bem como glorificar ao Senhor Jesus (Jo.16:14).
– Os dons espirituais são manifestações do Espírito Santo no meio da Igreja, ou seja, são dádivas que o Senhor concede a certos membros da Igreja com a finalidade de mostrar que o Espírito Santo está no meio da Igreja. Através dos dons espirituais, o Espírito Santo “aparece” na Igreja, faz com que todos percebam a Sua presença, a Sua companhia.
– Tais manifestações somente ocorrem na Igreja, diz o apóstolo Paulo, para o que for útil (I Co.12:7). A palavra grega original aqui é “sumphero” (συμφέρω), cujo significado é de “ser útil”, “ser vantajoso”, “ajuntar”, “beneficiar”, “trazer lucro, vantagem”, “ser bom para alguém”.
– Diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa que “útil” é “que pode ter ou tem algum uso; que serve ou é necessário para algo; que traz proveito, vantagem; de que resulta o que se espera; proveitoso, profícuo, vantajoso; reservado à atividade produtiva.” Vem da palavra latina “utilis”, que tem o significado de “que serve, bom, vantajoso, válido”.
– Pois bem, o dom espiritual é uma manifestação do Espírito Santo que tem uma utilidade para a Igreja, ou seja, trata-se de um “aparecer” do Espírito Santo por meio de um membro em particular da Igreja em que se tem algo que serve para o bem dos salvos, que traz benefícios para a peregrinação terrena daquele que está caminhando para o céu.
– O Espírito Santo foi mandado para ficar com a Igreja com o propósito de levar a Igreja até o céu, prepará-la para se encontrar com Cristo Jesus nos ares e, por isso, a guia em toda a verdade, ensina-a todas as coisas que o Senhor falou, fazendo-a lembrar de tudo que Cristo disse aos Seus discípulos. Não cessa, também, de glorificar a Cristo e, deste modo, fazer com que a Igreja também o faça.
– Ora, se o Espírito Santo foi mandado com este propósito, é evidente que, nas Suas manifestações através dos dons, a utilidade esteja precisamente no fato de que tais manifestações servem para que os salvos sejam guiados em toda a verdade, aprendam de Cristo, glorifiquem-n’O e Se lembrem de tudo quanto o Senhor Jesus nos disse.
– Não há manifestação genuína do Espírito Santo que não sirva para o bem da Igreja no sentido de que a Igreja venha a Se aproximar ainda mais do Senhor Jesus, venha a glorificá-l’O, a aprender d’Ele, a lembrar daquilo que Ele nos ensinou, a nos faz trilhar pelo caminho da verdade.
– Toda e qualquer manifestação do Espírito Santo, através dos dons espirituais, sempre servirá para a glorificação de Cristo, para o aumento de nosso conhecimento d’Ele e, por conseguinte, de Sua Palavra, que é a testemunha de Seus ditos e ensinos (Jo.5:39).
– Não nos esqueçamos, ainda, que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16) e, portanto, a manifestação dons espirituais, ao enaltecer a Palavra da Fé que pregamos (Rm.10:8), também faz com que se mostre na Igreja o poder de Deus.
Como diz a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “…É por meio da Igreja que o Espírito Santo manifesta ao mundo o poder de Deus [Ef.3:10], usando os dons espirituais. Eles são dados à Igreja para sua edificação espiritual [I Co.14:12], seu conforto e seu crescimento espiritual [I Co.14:4-6]…” (DFAD XX, pp.171/2).
– Quando houver uma manifestação sobrenatural que não corresponda a estes desígnios, temos que se trata de um embuste, de um engano.
Não nos esqueçamos de que, nos dias finais da dispensação da graça, haverá a atuação de espírito enganadores, que atuarão entre os que cristãos se dizem ser (I Tm.4:1,2).
– A utilidade nas manifestações sobrenaturais é indispensável para que se tenha uma legítima e verdadeira atuação de um dom espiritual. Se não há qualquer proveito, qualquer vantagem para a Igreja, a manifestação não é proveniente do Espírito Santo, disto tenhamos certeza e convicção.
– Esta é, aliás, a grande diferença entre os dons espirituais e o que, certa feita, foi muito bem denominado pelo jornalista cristão Jehozadak Pereira de “neobobagens pentecostais”, que andam infestando o ambiente dos que cristãos se dizem ser, coisas como
“dom de lagartixa”,
“vômito santo”,
“cai-cai”,
“cair no Espírito”,
“unção de animais”,
“risada santa”,
“gargalhada santa” e tantas outras invencionices que têm prejudicado enormemente a vida espiritual de muitos.
– “…A igreja está dominada pela prática constante do abuso espiritual, jamais visto na sua história. Nestes tempos globalizados, onde vemos a constante busca pela qualidade e excelência, temos presenciado o contrário na igreja, de um modo geral.
A igreja está dominada pela prática constante do abuso espiritual. É tanta bobagem e besteira que quase não dá para aguentar sem reclamar ou se espantar.(…).
De uns tempos a esta parte o que mas temos visto é a adoção de práticas cada vez mais estranhas e pouco ortodoxas na igreja, trazida sabe-se lá porque ou por quem, mas, a realidade é dura e não se sabe aonde vai dar. A quantidade de crentes abusados espiritualmente é imensurável e a cada dia aumenta mais e mais.…” (A drogalização da Igreja. Disponível em: http://jehozadakpereira.wordpress.com/2007/11/23/a-drogalizacao-da-igreja-parte-1/ e http://jehozadakpereira.wordpress.com/2007/11/23/a-drogalizacao-da-igreja-parte-2/ Acesso em 27 abr. 2009).
“…Este quadro de aberrações que hoje domina grande parte das igrejas tem de ser tratado com dureza e com veemência por cada um de nós, e cabe-nos mostrar os erros e as falhas de tamanha deturpação que é feita em nome do Senhor e que às vezes levam os nossos jovens nos seus melhores anos.
A nós, crentes verdadeiros em Cristo Jesus, cabe o alerta e a orientação de que esta confusão reinante não é do céu.
Cumpre-nos o papel de arautos denunciando e nos insurgindo contra a deturpação que se faz em nome do Senhor Jesus Cristo.(…).
Que tal falarmos: arreda de nós tudo quanto é deturpado e corrompido, especialmente esta caricatura do evangelho que é pregado por estes asseclas do mal, pois definitivamente este evangelho não é do Senhor Jesus Cristo.
O evangelho de Jesus Cristo é poderoso e restaurador, e nada tem a ver com este neoevangelho tacanho que alguns querem nos empurrar.
(…) Como posso andar junto com quem não concordo, e que tem novas práticas das quais não encontro parâmetro na Bíblia.
Ou a Bíblia não é a nossa ÚNICA REGRA DE FÉ, DE PRÁTICA? Porque tenho de tolerar que se chamem crentes à frente para expulsar demônios? Ou que caiam no “espírito”?
Ou que latam como cachorros, e ter de chamar a isto manifestação divina? Há algo errado nos nossos arraiais. Muito errado. Que o Senhor tenha misericórdia de nós.…” (Quebra de maldição, evangelho da prosperidade e outras neobesteiras. Disponível em: http://www.solascriptura-tt.org/Seitas/QuebraMaldicaoEvProspNeobesteiras-Jehozadak.htm Acesso em 27 abr. 2009).
– Tais manifestações sobrenaturais não trazem qualquer proveito para a Igreja, pois não servem para glorificar a Cristo, não trazem qualquer aprendizado a respeito de Cristo e de Sua Palavra, apenas impressionando as pessoas, levando-as a um fanatismo,
resultante do afastamento das Escrituras e de seu estudo, não raras vezes gerando rixas, dissensões e invejas entre os membros da igreja local, como, aliás, confessou há alguns anos atrás, o pastor Paul Gowdy, que foi pastor da igreja Vineyard em Toronto, no Canadá, de onde se disseminam muitas destas manifestações (O engano de Toronto. Disponível em: http://www.pastorjoao.com.br/123/?p=83 Acesso em 12 fev. 2014).
– Toda e qualquer manifestação do Espírito Santo contribui para o crescimento espiritual dos salvos e para a salvação dos incrédulos. Não há hipótese em que se tenha um legítimo, autêntico e genuíno exercício de dons espirituais sem que tais resultados não se verifiquem na igreja local.
– A primeira manifestação dos dons espirituais na Igreja, registrada em Atos 3, quando houve a cura do coxo na porta Formosa do templo de Jerusalém, trouxe como resultado a conversão de almas de tal modo que a igreja cresceu de quase três mil (At.2:41) para quase cinco mil (At.4:4),
como também o renovo espiritual de toda a igreja em Jerusalém, com o revestimento de poder daqueles que haviam criado após o dia de Pentecostes, que resultou num maior impulso à evangelização (At.4:31).
– O Espírito Santo é Deus e, como tal, age com um propósito, propósito este que é imutável, soberano e que não comporta qualquer relativização ou distorção.
Os dons espirituais somente se manifestam para o que for útil para a Igreja e, por isso mesmo, o apóstolo Paulo, ao constatar um mau uso deles por parte dos coríntios, fez questão de dar o ensino que deu sobre o assunto nos capítulos 12 a 14.
– Precisamos, portanto, amados irmãos, ter esta compreensão da indispensável utilidade das manifestações do Espírito Santo para que saibamos discernir o joio do trigo, aquilo que é de Deus e aquilo que é nítida infiltração satânica no meio da Igreja. Não nos esqueçamos de que o inimigo sabe bem imitar as coisas de Deus (Ex.7:9-12; II Co.11:11-15). Senhor, dá-nos o discernimento!
III – OS DONS ESPIRITUAIS SERVEM PARA A EDIFICAÇÃO DA IGREJA
– Mas o apóstolo Paulo não diz apenas que a manifestação do Espírito Santo através dos dons se dá para o que for útil. Ele também nos indica três propósitos para os dons espirituais, ao dissertar a respeito do dom de profecia, que considera como sendo o dom mais sublime, revelando que seu propósito é o de edificação, exortação e consolação (I Co.14:3).
– Embora o apóstolo Paulo se refira a estes propósitos quando se refere ao dom de profetizar, podemos entender muito bem que tais propósitos não são exclusivos deste dom, mas são os objetivos de todos os dons espirituais, de todas as manifestações do Espírito Santo.
– Com efeito, no início de seu ensino, Paulo quis deixar claro que seu objetivo era manter os coríntios cientes e não ignorantes a respeito dos dons espirituais (I Co.12:1).
Depois, manda que os crentes em Corinto buscassem com zelo os dons espirituais, principalmente o de profetizar (I Co.14:1).
– Assim, seu ensino não se resume apenas ao dom de profecia, embora seja ele o mais excelente, mas abrange todos os demais dons, que ele mesmo elencara para os coríntios (I Co.12:8-11).
– O apóstolo Paulo, então, mostra que a primeira finalidade dos dons espirituais é o da edificação da Igreja. Ora, “edificar” é a “elevação de um edifício; construção, ato ou fato de se conduzir à virtude, à perfeição, ao conhecimento”.
– Ora, a Igreja é o edifício de Deus (I Co.3:9), edifício este que, bem ajustado, deve crescer para templo santo no Senhor (Ef.2:21).
– Tendo como pedra principal da esquina, como fundamento primeiro o próprio Senhor Jesus (Ef.2:20; I Co.3:11), a Igreja tem de crescer tendo como bases, como fundamentos os apóstolos e os profetas, o que já nos fala das Escrituras, da doutrina dos apóstolos, do seu ensinamento, que havia sido antecedido pelos profetas, Escrituras estas que foram inspiradas pelo Espírito Santo (II Pe.1:21).
– Destarte, todo e qualquer dom espiritual, como serve para a edificação da Igreja, é algo que tem de estar baseado e alicerçado na Bíblia Sagrada, onde estão “os fundamentos dos apóstolos e profetas”, Bíblia que é a testemunha fidedigna de Cristo Jesus (Jo.5:39).
– Os dons espirituais servem, portanto, para o crescimento da Igreja, para a sua edificação, para a sua construção.
Não é possível, portanto, que qualquer manifestação genuína e autêntica de dom espiritual leve ao menosprezo das Escrituras Sagradas e de seu estudo. Todo e qualquer “avivamento” que desprestigie a Palavra de Deus não provém de Deus. Lembremos sempre disto, amados irmãos!
– Os dons espirituais, portanto, servem para que a Igreja cresça espiritualmente e este crescimento se dá, como ensina o apóstolo Pedro, na graça e no conhecimento de Jesus Cristo (II Pe.3:18). O crescimento espiritual aproxima-nos de Jesus, desprende-nos das coisas desta vida, faz-nos glorificar a Cristo Jesus.
– Os dons espirituais trazem-nos maturidade espiritual. A Igreja, mediante o exercício dos dons espirituais, santifica-se mais, distancia-se mais do pecado e do mundo, evangeliza mais, pois o amor pelas almas perdidas aumenta, torna-se mais vigilante, pois aumenta a esperança da volta de Cristo e passa a depender mais e mais do Senhor, porque aumenta a fé, a confiança em Deus. É para isto que os dons espirituais se manifestam na Igreja.
– A edificação da Igreja, como diz o apóstolo Paulo, traz um ajuste nos relacionamentos entre os irmãos. A edificação se faz para que haja um “bom ajuste” (Ef.2:11). Isto não se dá apenas com os dons espirituais, mas, também, com os dons ministeriais (Ef.4:16).
– Em estes dois textos de Efésios, a palavra grega é “sunarmologeo” (συναρμολογέω), cujo significado é o de “ajustar”, “ajuntar”, “construir conjuntamente”, a nos reportar, uma vez mais, à dimensão comunitária e relacional que deve existir na Igreja.
O dom espiritual serve, portanto, para aumentar o relacionamento entre os salvos, para uni-los, numa mútua dependência, para que todos venham a crescer conjuntamente na graça e no conhecimento de Cristo Jesus, como diz o apóstolo, ao se referir aos ministérios, para que “todos cheguem à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef.4:13).
– Os dons espirituais, portanto, não podem servir para um distanciamento entre irmãos, entre aqueles que têm o dom, e que passam a ser “venerados” pelos outros, que não os têm. Nada disso! Aqueles que recebem os dons, recebem para que todos os demais sejam, juntamente com ele, edificados, para que todos venham a crescer espiritualmente.
– Os dons espirituais, ademais, nesta sua tarefa de edificação promovem o ajuste para a santificação da Igreja. É para que a igreja seja “templo santo no Senhor”.
Desta forma, a manifestação dos dons espirituais sempre tem em vista a promoção da santidade, a separação do pecado e, como consequência, os dons espirituais estimulam entre os salvos a prática dos meios de santificação, que são a oração, a meditação nas Escrituras, o jejum, o temor a Deus e a participação digna na ceia do Senhor. Existem manifestações que menosprezam tais práticas? Então, certamente não são provenientes do Senhor.
IV – OS DONS ESPIRITUAIS SERVEM PARA A EXORTAÇÃO DA IGREJA
– Mas o apóstolo Paulo, ao se referir ao dom de profecia, e já vimos que isto vale para todo e qualquer dom espiritual, também disse que a manifestação do Espírito Santo tem a finalidade de exortação.
– “Exortar” é “dar estímulo a; animar, estimular; induzir (alguém) a fazer ou pensar determinada coisa; persuadir.”
A palavra tem origem no latino “hortari”, que já significa incentivar, estimular. Bem se vê, pois, que “exortar” nada tem que ver com “bater”, “machucar”, “ferir”, como alguns têm defendido e ensinado nas igrejas locais, mas, sim, tem o significado de “animar”, de “dar ânimo”, de “estimular”.
– A palavra “exortar” surge, pela vez primeira, na Versão Almeida Revista e Corrigida, em Rm.12:8, quando o apóstolo Paulo nos fala do dom assistencial de exortação, quando manda que quem tem este dom, que o exerça na sua plenitude.
O próprio Paulo, em II Co.9:5, mostra-nos que tinha este dom, pois animou os irmãos para fazer o trabalho de coleta para os crentes da Judeia, como também nos informa que Timóteo exerceu este dom ao animar os crentes de Tessalônica que, perseguidos, estavam sem o apóstolo em meio às lutas que sofriam. A este mesmo Timóteo, Paulo aconselhou que persistisse em exortar os crentes (I Tm.4:13).
Pedro e Judas, também, disseram, em suas cartas, da necessidade que sentiam, pelo Espírito Santo, de animar e incentivar os irmãos (II Pe.1:12; Jd.3).
– A palavra grega para “exortação” é “paraklesis” (παρακλησις), que é, precisamente, a palavra com que o Senhor Jesus Se referiu ao Espírito Santo, chamado por Ele de “Paráclito”, ou seja, “Consolador”.
“Exortar”, portanto, é “consolar”, é “dar ânimo”, é “trazer o Espírito Santo”, é “trazer a consolação” a quem está a ouvir. Quando há o exercício de um dom espiritual de forma genuína e autêntico, isto nos traz a presença do Santo Espírito, faz-nos sentir o refrigério do Consolador, alegra o nosso coração.
A “exortação” não deixa pessoa alguma triste ou revoltada, mas, sim, aliviada pela presença do Espírito Santo.
OBS: “…MAS, aos que se ajoelhavam diante dele, Jesus oferecia (como ninguém jamais ofereceu) palavras de conforto e alento. Jesus conseguia oferecer todo o apoio emocional que as pessoas necessitavam. O homem perfeito.
Seu perdão fazia com que as pessoas desejassem tocá-lo e caminhar ao seu lado. Nossa conclusão é de que Jesus era, de fato, um mestre conhecedor da Lei, um rabi com respeito dos religiosos da época e um orador eloqüente… MAS, as multidões não procuravam o mestre, o rabi e o orador.
Procuravam o homem de palavras calmas que dizia simplesmente com o olhar: “Eu também não te condeno…” (Jo.8:11).
Este perdão que jorra descontrolada e torrencialmente do ensino de Jesus deve ser o mesmo a ser celebrado pela sua igreja hoje espalhada pela face da terra.
O perdão àqueles que vêm de fora, desejosos de conhecer o Reino e de despencarem aos pés de Jesus deve ser apresentado sem muitas perguntas pelos seguidores de Jesus. Ele convida os cansados, os oprimidos e os desesperados a se juntarem a ele; e pior ainda: ele não coloca barreiras… (Mt.11:28-29).
Também o perdão àqueles que já se encontram caminhando nas ruas do Reino, mas que, por qualquer razão, tenham dado uma escapadinha para o lado de lá do muro não deve ser retido.
As falhas de nossos irmãos devem ser olhadas por nós da mesma forma que Jesus as olharia; com misericórdia desmedida.
Que fique claro que há pessoas que querem encontrar igrejas de mentira, pessoas que buscam na palavra do pregador aquilo que elas mesmas querem ouvir.
Estes podem correr para qualquer estabelecimento que se pareça com um auditório, que tenha um púlpito, alguns instrumentos e uma urna para receber as ofertas. Só não pensem que todos os lugares que se pareçam com uma reunião da igreja sejam DE FATO uma reunião da igreja.
Mas há também homens e mulheres que dariam seu último suspiro para se encontrar com aquele filho de carpinteiro que caminhava nas regiões da Galiléia espalhando uma mensagem de misericórdia que arranque as toneladas que se acumulam sobre seus ombros.
Não nos importamos com as cores, o tamanho e as letras do rótulo que certamente será colocado nesta caixinha chamada igreja; mas devemos batalhar para que, ao olharem para nós, enxerguem um grupo de onde jorram o amor e o perdão de Jesus. Neste rótulo deve estar escrito: “misericórdia”.” (BENTES, Fábio. O rótulo da igreja. Disponível em: http://www.bibliaworldnet.com.br/ Acesso em 29 dez. 2006).
– A “exortação”, pelo que podemos verificar das passagens bíblicas em que ela é mencionada, tem sempre a ver com o estímulo para a nossa fé, é um meio pelo qual vemos nossa fé acrescida e fortalecida, de modo a que possamos persistir nesta batalha espiritual contínua, neste bom combate.
Precisamos estar sempre animados, ter bom ânimo para vencer o mundo e o papel da “exortação” é precisamente este. Não se trata, pois, de apenas nos corrigir, para que não percamos a direção do céu, mas de nos fortalecer, de nos dar forças para chegarmos até o fim.
– Por isso, é altamente preocupante o comportamento de muitos que, na atualidade, em vez de “exortar”, de “animar” a fé dos irmãos, querem “agradar a carne”, criando entretenimento, diversão e tudo o que traz conforto à carne e ao corpo, mas nunca à alma e ao espírito.
A tendência vivida, hoje, em muitas igrejas locais, é o de criar todo o tipo de espetáculo e de atividades que massageiem o ego das pessoas, que coloquem em realce a autoestima, a emoção e o sentimento, mas que nada ou muito pouco trazem à alma e ao espírito.
É necessário que haja “exortação”, que haja “ânimo para o combate” e não entretenimento ou divertimento. Estamos em igrejas, não em salas de teatro, de show ou de cinema!
OBS: O saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012) sempre insistia em mostrar que, por causa destas circunstâncias lamentáveis que estamos a viver, estamos presenciando a concretização da “abominação desoladora” de que falou o profeta Daniel em nossas igrejas locais(Dn.9:27;12:11; Mt.24:15).
Somos obrigados a concordar com ele: ainda que a abominação desoladora apontada pelo profeta venha a ocorrer no meio da Grande Tribulação, ela está sendo figurada a cada dia nas atitudes lamentáveis que vêm sendo tomadas com cada vez maior intensidade nas igrejas locais, onde os templos são transformados em salões de baile, em locais de eventos e espetáculos e não mais em locais de adoração a Deus.
Nestes lugares, realmente, o espírito do anticristo chegou e fez o seu trono, realizando a abominação desoladora nesta porção do Israel de Deus.
– Os dons espirituais têm a finalidade de animar e estimular os irmãos a prosseguir a sua jornada para o céu apesar das aflições e imensas dificuldades que temos em nossa peregrinação terrena.
É uma espécie de “vitamina”, “fortificante” que nos encoraja a prosseguirmos a correr com paciência a carreira que nos está proposta (Hb.12:1-3).
– Por isso, os dons espirituais são necessários e estão presentes ainda hoje na Igreja, não tendo razão os chamados “cessacionistas”, que acreditam que os dons cessaram quando da complementação das Escrituras.
Os dons espirituais servem de alento para nos fazer olhar para Cristo, para que nós nos dediquemos ainda mais ao estudo e meditação das Escrituras, máxime nos dias em que vivemos, em que se multiplica a iniquidade.
– Assim como uma brisa traz um alívio para alguém que se encontra debaixo de um sol causticante, do mesmo modo a manifestação dos dons espirituais na Igreja traz um alívio para os salvos que, a cada instante, têm de guerrear incansavelmente contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:12).
– A cura do coxo na porta Formosa do templo de Jerusalém deu nova ousadia aos apóstolos, a ponto de Pedro fazer um outro grande sermão, dentro mesmo do templo, na presença de todos os membros do Sinédrio, levando à quase duplicação do número de crentes, crentes estes que,
ante a manifestação dos dons espirituais, ficaram tão animados e estimulados que receberam o revestimento do poder, com uma manifestação sobrenatural de movimento do lugar onde estavam reunidos (At.4:31) e isto mesmo depois de serem ameaçados para não mais pregarem o Evangelho.
– A manifestação dos dons espirituais traz estímulo à fé, à esperança e ao amor dos salvos em Cristo Jesus, promove a união e o amor.
Quando isto não acontece com as supostas manifestações numa igreja local é hora para se examinar e se pedir a direção de Deus, a fim de se evitar que enganos desviem os irmãos da fé. Pensemos nisto!
V – OS DONS ESPIRITUAIS SERVEM PARA A CONSOLAÇÃO DA IGREJA
– Por fim, o apóstolo Paulo mostra que os dons espirituais têm uma outra finalidade, que é a consolação da Igreja (I Co.14:3).
– A palavra grega que é traduzida por “consolação” é “paramuthia” (παρμυθία), cujo significado é “conforto”, “consolação”.
“Conforto” é “consolo recebido ou prestado em momento de preocupação, de aflição; consolação; experiência agradável; sensação de prazer, de plenitude, de bem-estar espiritual”. Sua raiz é “fort-“, que significa “robusto. Resistente, sólido, bem feito”.
– Vemos, portanto, que os dons espirituais também servem para que os salvos em Cristo Jesus mantenham a sua força, obtida na graça que há em Cristo Jesus (II Tm.2:1), mantenham-se fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder (Ef.6:10).
– Os dons espirituais permitem aos salvos uma sensação de bem-estar espiritual, a experiência de que estão imersos na graça de Deus, de que estão agradando ao Senhor e que, por isso, devem prosseguir na direção do Senhor.
– Israel, na sua jornada pelo deserto, que representa a jornada da Igreja rumo ao céu, era fortalecido todos os dias pelo maná, que diariamente caía para seu sustento, com exceção do sábado (Ex.16:4,5), como também pela água da rocha, que sempre os seguia ao longo da jornada a partir do Sinai (I Co.10:4).
Tanto o maná quanto a água representam Cristo em nossas vidas e é d’Ele que ganhamos força para prosseguirmos em nossa peregrinação terrena.
– Entretanto, há momentos em que, a exemplo do que ocorria com Israel no deserto, há a necessidade de sermos lembrados de Cristo e de Seu poder por meio de manifestações do Espírito Santo, que nos dão alento.
Episódios como a cura da lepra de Miriã, a cura daqueles que olhavam para a serpente de metal, a abertura da terra que engoliram Datã, Abirão, Coré e seus familiares, a manifestação da glória de Deus na inauguração do tabernáculo, serviram para dar os israelitas um bem-estar espiritual, um alento na sua jornada para Canaã, inclusive para Moisés.
– É este o papel que desempenham os dons espirituais durante a jornada da Igreja sobre a face da terra. A ocorrência de manifestações sobrenaturais do Espírito Santo serve de alento, dão aos salvos em Cristo Jesus uma necessária e indispensável sensação de conforto, de bem-estar que os permite caminhar ainda mais animados em direção ao céu, na direção dada pelo próprio Cristo Jesus e pelo Espírito Santo.
– Foi o que ocorreu na cura do coxo da porta Formosa do templo de Jerusalém. Através desta manifestação do Espírito Santo, a igreja sentiu-se tão bem espiritualmente que, mesmo diante das ameaças das autoridades, orou ao Senhor pedindo-Lhe forças para que pregassem com ousadia o Evangelho, uma sensação de bem-estar espiritual tão grande que levou ao revestimento de poder de todos os crentes dali (At.4:24-31).
– A demonstração do poder de Deus, não só pelos dons espirituais mas também pelas chamadas operações de Deus, faz com que haja conforto espiritual por parte dos salvos, uma sensação que lhes dá o bom ânimo necessário para que, a exemplo de Cristo, também vençam o mundo (Jo.16:33), resultando daí um acréscimo à fé, acréscimo este que dá firmeza espiritual ao salvo, que o aproxima dos mistérios divinos (I Co.2:3-9).
– A vida espiritual é um processo dinâmico, de contínuo movimento, onde não é possível parar nem estacionar.
Ou se cresce espiritualmente, ou se decresce espiritualmente. A ausência da manifestação dos dons espirituais, portanto, contribui fortemente para que haja a corrupção da vida espiritual (Pv.29:18), o que é nefasto, notadamente nos dias em que vivemos em que a multiplicação da iniquidade gera o esfriamento do amor de muitos (Mt.24:12).
– Não é coincidência, portanto, que diversos segmentos do Cristianismo que negligenciam e até não creem na manifestação atual dos dons espirituais tenham sido, nos últimos anos, sumamente envolvidos com a apostasia, sendo hoje movimentos totalmente irreconhecíveis, que já não mais se podem dizer cristãos. Tomemos cuidado, amados irmãos, para não seguirmos este mesmo e deletério caminho!
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6327-licao-2-o-proposito-dos-dons-espirituais-i