INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo dos livros dos Reis, estudaremos a divisão do reino.
– A divisão do reino foi resultado da reintrodução da idolatria em Israel.
I – A IDOLATRIA DE SALOMÃO
– Terminamos a lição passada mostrando que o reinado de Salomão primava pela sua prosperidade econômica. A sabedoria do rei havia levado o país a seu máximo esplendor e a ausência de guerras somente contribuía para o aumento do bem-estar de todo o povo de Israel.
– No entanto, como já aludimos também na lição anterior, Salomão havia aberto uma perigosa brecha para a desobediência à lei de Moisés, que eram os casamentos políticos, com os quais Salomão buscava manter laços de amizade com os povos vizinhos e impedir que houvesse guerras.
– Esta prática, entretanto, fez com que Salomão multiplicasse as mulheres, algo que um rei não poderia fazer segundo a lei de Moisés (Dt.17:17).
O texto bíblico é claríssimo: Salomão amou muitas mulheres estranhas e, em razão disto, acabou permitindo que tais mulheres adorassem seus deuses. Tendo tido mil mulheres, sendo setecentas mulheres e trezentas concubinas, acabou tendo o seu coração pervertido por elas (I Rs.11:1-3).
– Este episódio da história de Israel que, como veremos, foi extremamente trágico para toda a nação, mostra-nos algumas verdades que precisam ser bem aprendidas em nossos dias.
– A primeira é que a família é a base da sociedade e, como tal, precisamos fazer com que nossas famílias sejam verdadeiros altares de adoração ao Senhor, pois, se a família servir a Deus, a igreja o servirá e, por conseguinte, toda a sociedade o servirá.
A adoração a Deus começa no indivíduo e, depois, deve espraiar-se para a família e da família atingir a igreja e a sociedade. A família foi o primeiro ambiente criado por Deus para a Sua manifestação, como vemos registrado em Gn.2:24,25 e 3:8.
– Salomão não poderia casar-se com mulheres estranhas e, muito menos, multiplicá-las como o fez. Assim fazendo, além de dar mau exemplo a todos os seus súditos, comprometeu a própria linhagem real, que sabia ser a linhagem messiânica pelas promessas feitas por Deus a seu pai Davi, das quais tinha plena consciência, como mostrou em sua oração na inauguração do templo.
– Temos, então, a segunda verdade, qual seja, a de que o casamento deve sempre ser feito no Senhor (I Co.7:39), ou seja, não pode haver casamento entre um fiel a Deus e outro que não o seja, pois isto seria jugo desigual e não é possível comunhão entre a luz e as trevas (I Co.6:14).
O casamento é a máxima comunhão entre um homem e uma mulher e ao se fazer um “casamento misto”, ou seja, o casamento de um fiel e de um infiel, a consequência será sempre a contaminação daquele que é santo, a sua perversão, como ocorreu com Salomão (Ag.2:12,13).
– Salomão, ao se casar com mulheres estrangeiras, que não haviam abandonado os seus deuses e as suas crenças, comprometeu a sua própria santidade, pois permitiu ser pervertido por elas, tanto que autorizou que elas cultuassem a seus deuses em Israel.
– Com esta permissão, Salomão reintroduziu a idolatria em Israel, idolatria que havia sido inibida com muita dificuldade por Samuel, o último juiz de Israel.
É importante verificar que, depois de Samuel, tanto Saul quanto Davi não só não foram idólatras, como combateram esta prática (I Sm.28:9; II Sm.5:21).
– Através da família real, o inimigo, ardilosamente, reintroduziu a idolatria em Israel, idolatria que seria o grande mal que acompanharia, dali para a frente, o período monárquico em Israel.
A idolatria é a violação do primeiro mandamento das tábuas da lei (Ex.20:3; Dt.5:7), aquele que o Senhor Jesus reconheceu ser o primeiro e grande mandamento da lei (Mt.22:36,37).
– A terceira verdade é a de que a liderança tem de dar o exemplo e que lhe será exigido maior cobrança no juízo em virtude de sua postura, mas quem está à frente do povo exerce nítida influência sobre os demais.
Foi através de Salomão, que era o rei, que se reintroduziu a idolatria que depois se disseminaria por todo o povo, o mesmo ocorrendo, como ainda veremos nesta lição, com relação a Jeroboão. Por isso, disse Tiago que o mestre sofrerá mais duro juízo (Tg.3:1), bem como se explicam as duras advertências que os profetas sempre faziam aos “pastores de Israel” (Ez.34:2).
– O fato é que Salomão que, com apenas 18 anos de idade, mostrasse grande maturidade espiritual pedindo sabedoria a Deus, agora, amadurecido, “no tempo da velhice”, como diz o texto sagrado (I Rs.11:4), deixou-se perverter por suas muitas mulheres e não só permitiu que suas mulheres adorassem seus deuses, como também as acompanhou nesta adoração (I Rs.11:5,6).
– Isto foi mau aos olhos do Senhor, não tendo perseverado em seguir ao Senhor, como fez Davi, seu pai (I Rs.11:6). E, em pouco tempo, Jerusalém estava rodeada de altares a divindades como Quemós, deus dos moabitas; Moloque, deus dos amonitas. Salomão desviava o seu coração do Senhor, apesar de Ele lhe ter aparecido duas vezes.
– O Senhor, diante disto, avisa Salomão que, em virtude disto, o reino seria rasgado e dado a um servo seu, mas que, por amor a Davi, isto não se faria nos seus dias nem a perda seria total, sendo reservada uma tribo para a casa de Davi (I Rs.11:9-13). O Senhor nada faz sem avisar os Seus servos (Am.3:7).
– Vemos, pois, que, apesar da infidelidade de Salomão, Deus manteve o Seu plano de redenção, não apenas por amor a Davi, mas por amor à humanidade, pois da descendência de Davi é que viria Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Eis a tônica deste período da história de Israel: Deus não deixa de exercer a justiça pelo pecado do povo, mas Sua misericórdia impede que haja impedimento à salvação da humanidade.
– Como resultado do desagrado divino na conduta de Salomão, começaram a surgir problemas no reino. Levantou-se Hadade, o edomita, como adversário de Salomão, que tinha a proteção de Faraó, o que impedia que Salomão pudesse agir de forma deliberada para eliminá-lo, como também se sobressaiu no governo de Salomão o jovem Jeroboão, da tribo de Efraim, que foi escolhido pelo Senhor para ser o rei do reino que se formaria após a morte de Salomão.
– Jeroboão, que despontava como uma importante liderança, tanto que Salomão o havia posto como uma espécie de “governador” da tribo de José, ou seja, como “príncipe” ou da tribo de Efraim ou tanto das tribos de Efraim e de Manassés, foi visitado pelo profeta Aías, que lhe trouxe a mensagem de que reinaria sobre dez tribos de Israel. Salomão soube disto e quis matar Jeroboão, que, em virtude disto, fugiu para o Egito, sendo mais um adversário de Salomão que ali teve uma espécie de “asilo político”.
– Após quarenta anos de reinado, Salomão morreu. Muito se discute se Salomão morreu, ou não, salvo. Com todo respeito aos que pensam em contrário, não vemos qualquer dificuldade em tal matéria.
Quando da promessa messiânica feita a Davi, o Senhor foi claro ao dizer que não trataria Salomão como havia tratado Saul (II Sm.7:14,15), ou seja, embora lhe fosse castigar (e vemos que o castigo ocorreu), Salomão não teria o mesmo destino eterno que teve Saul e sabemos todos que Saul foi rejeitado e se perdeu.
– Como se isto fosse pouco, vemos, também, que Salomão escreveu o livro de Eclesiastes, onde há uma verdadeira pregação de arrependimento, uma declaração sobre a vaidade da dimensão terrena da vida, a demonstrar que, nos seus últimos dias, Salomão estava realmente arrependido de seu desvio espiritual.
II – A DIVISÃO DO REINO
– Morto Salomão, todo o povo se reuniu em Siquém para fazer a rei ao filho primogênito de Salomão, Roboão, que, na época, tinha 41 anos de idade (I Rs.14:21), ou seja, Roboão nasceu no último ano do reinado de Davi, quando seu pai tinha apenas 17 anos de idade.
– Viveu, pois, Roboão durante todo o período de prosperidade de Israel, sendo que sua mãe era amonita, Naamá, uma das mulheres idólatras com quem Salomão havia se casado, a mostrar que sua formação espiritual não foi das melhores.
– Eis aí já uma consequência nefasta do jugo desigual dos casamentos políticos de Salomão e da permissão da idolatria em Israel. Como se isto fosse pouco, o próprio Roboão seguiu a multiplicação de mulheres de seu pai, tendo tido dezoito mulheres e sessenta concubinas (II Cr.11:21).
– Nesse meio tempo, o povo estava insatisfeito com o governo de Salomão, pois a prosperidade econômica já não era a mesma, nem o podia ser diante do desagrado divino com o comportamento de Salomão, tendo havido um grande aumento de impostos para sustentar todo o luxo da corte de Salomão.
– É elucidativo que tenham marcado a reunião para Siquém. A capital do reino era Jerusalém e Siquém era cidade que estava na tribo de Efraim, a principal tribo depois de Judá.
Havia um nítido intento de pressão sobre o novo rei, a fim de que se diminuísse a carga tributária. Prova disso é que Jeroboão, que todos sabiam ser adversário de Salomão, que estava no Egito, veio também até Siquém para esta reunião.
– Quando Roboão lá chegou, o povo pediu que houvesse a diminuição dos impostos e o rei, então, pediu três dias para dar a resposta.
Nesse meio tempo, convocou os anciãos que haviam servido com seu pai Salomão e eles lhe aconselharam para que atendesse ao povo e, deste modo, teria a lealdade da população, lealdade que já estava, como vimos, profundamente abalada.
– Depois, Roboão foi ouvir os seus contemporâneos, aqueles que haviam crescido, como ele, no tempo da opulência e da prosperidade do reinado de Salomão, que não tinham a devida experiência de vida. Estes aconselharam a Roboão que demonstrasse firmeza, que não atendesse aos reclamos do povo.
– No terceiro dia, o povo se reuniu com o rei e este desprezou o conselho dos anciãos, preferindo o dos jovens, tendo dado resposta dura ao povo, dizendo que aumentaria ainda mais a carga tributária, que seria mais rígido que seu pai.
O resultado disto é que o povo se enfureceu, pois a palavra dura suscita a ira (Pv.15:1), rebelando-se contra Roboão e não o aceitando como rei.
Em continuidade a sua estultícia, Roboão mandou exatamente o encarregado dos tributos para tentar acalmar o povo e ele acabou sendo morto, tendo Roboão tido de fugir para não ser também morto. Como Jeroboão ali estava, sabendo todos que ele havia sido indicado pelo profeta Aías como futuro rei e tendo ele, inclusive, sido uma espécie de “governador” da casa de José, a maior tribo depois de Judá, acabou sendo aclamado pelo povo como rei.
– Estava, assim, dividido Israel em dois reinos. Apesar de todos estes episódios, a Bíblia é clara ao dizer que isto se deveu por intervenção divina (I Rs.12:15).
Roboão escolheu o mau conselho por permissão de Deus, para que isto se fizesse e tanto foi assim que, quando Roboão retornou a Jerusalém e quis iniciar uma guerra para reconquistar as dez tribos, o Senhor levantou o profeta Semaías, que disse que isso vinha da parte de Deus e o temor caiu sobre o povo, de modo que Roboão não intentou reconquistar as dez tribos (I Rs.12:24).
III – O REINADO DE JEROBOÃO
– Jeroboão havia sido escolhido por Deus para reinar sobre dez tribos de Israel. Ainda era encarregado da casa de José quando o profeta Aías lhe foi mandado para anunciar a ele que haveria de reinar sobre dez tribos de Israel (I Rs.11:26-40).
– Seu nome significa “o povo tornou-se numeroso” e vemos que era um competente servo de Salomão, efraimita de Zereda, um “arrimo de família”, já que sua mãe era viúva (I Rs.11:26) e que era trabalhador e dedicado (I Rs.11:28).
– Jamais imaginara que poderia governar sobre Israel, mas o Senhor o escolheu e disso teve ele conhecimento por meio do profeta Aías. Em virtude disto, passou a ser perseguido por Salomão e foi obrigado a fugir para o Egito, onde ficou até a morte de Salomão.
– Morto Salomão, retornou a Israel e participou da reunião em Siquém com Roboão e, ante a desastrada decisão de Roboão, acabou sendo naturalmente aclamado como rei por dez tribos de Israel, vendo, assim, cumprir-se literalmente o que fora profetizado por Aías, tendo, inclusive, tido outra confirmação profética de sua escolha diante das palavras do profeta Semaías, que impediu que Roboão viesse tentar reconquistar as dez tribos de Israel.
– Notemos, pois, que Jeroboão, embora tenha sofrido no início por causa da escolha divina, no tempo certo, teve confirmada a promessa de Deus na sua vida, subindo ao trono do reino do norte, o reino das dez tribos de Israel.
Tinha, portanto, todos os motivos para confiar em Deus e, desta maneira, cumprindo o que lhe fora determinado pelo próprio profeta Aías, servir ao Senhor, fazer com que a sua linhagem, a exemplo da linhagem de Davi, reinasse sempre sobre as dez tribos do norte.
– No entanto, ao se aproximar o sétimo mês, mês em que ocorriam três festas, a saber, a festa das trombetas (o “Ano Novo Judaico”), o dia da expiação e a festa dos tabernáculos, quando o povo deveria ir até Jerusalém, onde estava o templo, para adorar ao Senhor, Jeroboão temeu pela sua posição.
– Jeroboão ficou temeroso que Roboão agradasse o povo e, com isso, reconquistasse a confiança perdida e, deste modo, Jeroboão viesse a ser destronado. Afinal de contas, Roboão era descendente de Davi, havia as promessas messiânicas e tinha notado a necessidade de agradar a população…
– Tratava-se de um pensamento político razoável e sem qualquer senão, não fosse pela circunstância de que não se estava diante de um fato puramente humano, a ser resolvido por estratégias terrenas. Jeroboão, mais do que ninguém, sabia que só estava no trono porque esta era a vontade de Deus.
Ele, um arrimo de família, chegara ao trono única e exclusivamente porque Deus assim o tinha querido, sem precisar fazer nem uma guerra, nem tomar qualquer outra atitude senão a de estar presente na reunião do povo com Roboão.
– Ele sabia perfeitamente que, anos antes, Deus havia dito que isto haveria de acontecer e, portanto, o mesmo Deus que o pusera no trono, ali haveria de mantê-lo, desde que ele cumprisse os mandamentos, como havia dito o profeta Aías.
– Jeroboão, portanto, tinha de manter sua fé em Deus, confiar no Senhor, sabendo que, apesar de o povo ir a Jerusalém para adorar ao Senhor, isto nada impediria a sua manutenção no trono.
– Entretanto, Jeroboão foi incrédulo, não creu em Deus e, em vez de permitir ao povo adorar ao Senhor, teve a ideia de mandar fazer dois bezerros de ouro, pondo um em Dã, no extremo norte do país e outro em Betel, no extremo sul do país, instituindo uma festividade no oitavo mês, para que os israelitas adorassem a esses bezerros em vez de irem a Jerusalém.
– Jeroboão resolve, então, criar um culto promovido pelo próprio reino, a fim de que o povo não tornasse ao governo da casa de Davi. Esquecido de que Salomão havia perdido as dez tribos que agora estava sob seu comando por causa da idolatria, Jeroboão recorre à própria idolatria para se manter no trono. Que paradoxo!
– Como não há nada de novo debaixo do sol, Jeroboão recorre ao mesmo expediente que o povo de Israel já tinha se utilizado quando, diante da demora de Moisés no monte Sinai, resolveu fazer um bezerro de ouro para ser seu deus e guiá-lo a Canaã no deserto (Ex.32:23). Agora, não um, mas dois bezerros de ouro.
– Em vez de atender ao conselho do profeta Aías para que observasse os estatutos e mandamentos do Senhor (I Rs.11:38), Jeroboão quebra logo os dois primeiros mandamentos, tendo outros deuses além do Senhor e fazendo imagens de escultura para eles. Era o resultado de agir conforme a sua imaginação e não conforme a vontade do Senhor (I Rs.12:33).
– Como se isto fosse pouco, ainda resolve criar uma classe sacerdotal subserviente ao governo, impedindo que os sacerdotes e levitas oficiassem neste novo culto dos bezerros de ouro, mas fazendo sacerdotes dos mais baixos do povo (I Rs.12:31,32; II Cr.11:14,15).
– Jeroboão, assim, adotava a mesma maneira existente entre os gentios, ou seja, a criação de uma religião ligada ao governo, politeísta e idolátrica. Era a adoção do “modus vivendi” dos demais povos, era a institucionalização daquilo que Salomão havia praticado a nível familiar.
Esta prática ficou conhecida como “pecados de Jeroboão” e foi mantida durante toda a história do reino do norte, tendo sido o motivo da sua destruição (I Rs.14:16; 15:30; 16:31; II Rs.3:3; 10:29,31; 13:2,11; 14:24; 15:9,18.24,28).
– Hoje não é diferente. Existem muitos que também reagem assim à bênção que Deus lhes dá. Uma vez instalados em uma posição, agarram-se a esta posição com tanta força, que não medem esforços para nela se manter, ainda que, para isto, neguem ao próprio Senhor que ali os colocou, cuidando que, tendo um grupo servil ao seu dispor, sempre conseguirão se manter no poder, esquecidos, entretanto, que todo o poder pertence a Deus (Sl.62:11) e que é Ele quem remove e restabelece os reis (Dn.2:20,21).
– Como consequência da atitude de Jeroboão, os levitas migraram para o reino do sul e assim se teve mais uma ação da Providência Divina, porquanto duas tribos jamais poderiam faltar em Israel, a tribo de Judá, de onde viria o Salvador, e a tribo de Levi, que deveria exercer o sacerdócio deste povo santo e reino sacerdotal que era Israel, a propriedade peculiar dentre todos os povos.
A propósito, uma vez mais Levi não se aliava a bezerros de ouro (Ex.32:26-28) e é bem por isso que o último profeta antes do silêncio profético rememora esta fidelidade e aliança que existe entre Deus e Levi (Ml.3:3).
– O Senhor mostraria todo o Seu desagrado para com esta atitude de Jeroboão e mandou um profeta de Judá a Betel, onde Jeroboão estava junto do altar que mandara construir para se fazer o culto a um dos bezerros de ouro. Este homem de Deus clamou contra o altar, profetizando que um filho da casa de Davi, que se chamaria Josias, havia de sacrificar ali os falsos sacerdotes como também destruir aquele altar, ou seja, todo o estratagema criado por Jeroboão para que os descendentes de Davi não voltassem a dominar aquela região cairia por terra (I Rs.13:1,2).
– E, como demonstração de que a palavra proferida era da parte de Deus, o próprio profeta disse que o altar se fenderia e a cinza que estava nele se derramaria (I Rs.13:3) e o que aconteceu imediatamente, o que não impediu que Jeroboão, extremamente irado, mandasse que pegasse o profeta, ocasião em que a mão do rei se secou, o que o levou a pedir ao profeta que orasse por ele para que a saúde da mão se lhe restituísse, o que também aconteceu (I Rs.13:4-7).
– Que sequência de cenas fortes, a indicar o pleno poder de Deus! Entretanto, apesar de tudo isso, lamentavelmente o rei Jeroboão não se arrependeu do que estava a fazer.
Embora tivesse visto maravilhas da parte de Deus, nem por isso desistiu de fazer o que mandara, tanto que o culto dos bezerros de ouro foi retomado e somente cessaria, conforme a profecia, nos dias de Josias, o que aconteceu cerca de 322 anos depois, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen.
– A obstinação de Jeroboão foi tanta que não se demoveu mesmo ante tais maravilhas e, ainda por cima, ainda quis “comprar” o profeta, prometendo-lhe um presente caso sua mão fosse sarada (I Rs.13:7).
– Na sequência, ainda ocorreram outros fatos maravilhosos, na medida em que o próprio profeta que predisse o fim do altar acabou por ser enganado por um profeta e desobedeceu a Deus, vindo a comer e a beber em Betel, tendo, por causa disso, sido morto por um leão e levado o próprio profeta velho a admitir que tudo quanto fora predito iria se cumprir (I Rs.13:11-32).
Mas isto também não demoveu Jeroboão, que continuou a fazer dos mais baixos do povo sacerdotes, inclusive negociando tais posições e, por causa disso, Deus resolveu destruir a casa de Jeroboão e extingui-la da terra ( I Rs.13:33,34).
– Esta dureza de coração foi a tônica de todos os reinados do reino do norte, também chamado reino de Israel ou reino das dez tribos.
Quanto isto ocorre, por mais que haja sinais e maravilhas, eles são ineficazes para alterar a atitude daqueles que deliberadamente rejeitam o Senhor. Esta rejeição a Deus foi a causa da destruição desse reino, como disse, séculos mais tarde, o profeta Oseias, ele mesmo testemunha ocular dessa destruição (Os.4:6,7).
– Jeroboão ainda foi avisado mais uma vez e, desta feita, pelo próprio profeta Aías, que lhe havia trazido a notícia de que seria rei. Quando Abias, o filho de Jeroboão, adoeceu, Jeroboão mandou que sua mulher, disfarçada, fosse até a casa de Aías para que consultasse o profeta a respeito do príncipe doente.
– Aías morava em Siló e estava cego, dada a sua avançada idade mas o Senhor revelou que a rainha viria visitá-lo e que mandou dizer que o príncipe morreria, por ser o único familiar de Jeroboão que fora achado bom por Deus, assim que a mulher de Jeroboão entrasse na cidade de Tirza, que Jeroboão havia escolhido para ser a capital do reino, na tribo de Efraim, mas que toda a família de Jeroboão seria destruída, porque sua linhagem, em virtude do pecado cometido, não haveria de permanecer no trono de Israel, tendo acontecido assim como disse o profeta (I Rs.14:1-20).
– Neste episódio, aliás, cabe aqui observar que o único justo que havia na casa de Jeroboão morreu por causa de uma doença, sendo, na verdade, poupado do castigo divino que depois viria sobre toda a linhagem de Jeroboão.
Tem-se aqui um exemplo daquilo que fala o profeta Isaías de que, muitas vezes, o mal que vemos sobre alguém que serve a Deus é, no fundo, um bem, pois ninguém considera que o justo é levado antes do mal (Is.57:1).
Jamais podemos nos esquecer desta verdade bíblica, o que explica, aliás, a morte de milhares de servos de Deus nesta pandemia do COVID-19, em dias de princípio das dores. Pensemos nisto!
– Nem a morte de seu querido filho abalou a impiedade de Jeroboão que, ainda por cima, em episódio que não é registrado no livro de Reis, mas, sim, no livro das Crônicas, ainda iniciou uma guerra contra o reino do sul, no último ano de seu reinado, querendo, atrevidamente, ainda conquistar as duas tribos que lhe haviam sido negadas pelo próprio Deus, isto apesar de o Senhor ter dito que a sua própria linhagem seria extinta da face da Terra (II Cr.13:1-20).
– O resultado outro não foi senão o fracasso desta tresloucada atitude de Jeroboão, que não teve como recobrar suas forças, acabando sendo ferido pelo próprio Deus e morrido (II Cr.13:20).
– Sucedido pelo seu filho Nadabe (I Rs.15:25), a casa de Jeroboão seria destruída apenas dois anos após a morte de Jeroboão, quando Baasa se revoltou contra Nadabe, assumiu o reinado e destruiu completamente a casa de Jeroboão (I Rs.15:27-29).
– Este triste e trágico fim da casa de Jeroboão é uma demonstração eloquente do final de todos quantos, tendo sido abençoados pelo Senhor, a Ele dão as costas, apostatando da fé e desprezando a Deus. Que o Senhor nos guarde!
IV – OS REINADOS DE ROBOÃO E DE ABIAS
– Já vimos que Roboão, o filho de Salomão, assumiu o trono com 41 anos de idade e que havia tido uma formação péssima, já que fruto de um casamento político e consequência de um período em que seu pai se desviou espiritualmente, como revelou o próprio episódio que lhe fez perder dez das doze tribos.
– O significado de seu nome é “Ele faz o povo aumentar”, mas, na verdade, seu reinado foi exatamente o oposto do que diz seu nome, a nos mostrar como estava ele na contramão da vontade do Senhor.
– Ao contrário do que ocorreu com Jeroboão, Roboão, no início de seu reinado, mostrou-se sensível aos sinais emitidos por Deus a seu respeito.
Após a desastrada decisão que lhe fez perder as dez tribos do norte, Roboão demonstrou temor a Deus e, atendendo à mensagem do profeta Semaías, não procurou reconquistar as tribos rebeldes, conformando-se em reinar apenas sobre Judá e Benjamim (I Rs.12:21-24).
– Entretanto, e isto não é dito no livro dos Reis, mas, sim, no livro de Crônicas, Roboão demonstrou este temor a Deus apenas por três anos (II Cr.11:17), passando, então, a praticar a idolatria, não só a família real, mas todo o povo, pois proliferaram os altos, estátuas e imagens do bosque sobre todo outeiro e debaixo de toda árvore verde (I Rs.14:25), chegando mesmo a surgirem os “rapazes escandalosos na terra” (I Rs.14:24), jovens que praticavam a chamada “prostituição sagrada”, em relações homossexuais nos cultos dos “deuses da fertilidade” (Baal e Aserá, principalmente).
– Aquilo que, nos dias de Salomão se restringia às mulheres de Salomão e ao próprio Salomão, chegava a todo o povo, numa degradação espiritual sem limites. Vemos aqui a sequência que o apóstolo Paulo descreveria na epístola aos romanos, ao mostrar que a negação de glorificação a Deus faz gerar uma corrupção generalizada que, partindo da idolatria, acaba chegando à imoralidade sexual.
– A situação fez com que o Senhor permitisse que Sisaque, rei do Egito, subisse até Jerusalém, no quinto ano do reinado de Roboão, e a saqueasse, tomando os tesouros da casa do Senhor e da casa do rei e todos os escudos de ouro que Salomão havia feito (I Rs.14:25,26).
– Os casamentos políticos, que se iniciaram com o casamento com a própria filha do rei do Egito, feitos para impedir que houvesse guerra com os povos vizinhos, não puderam, de modo algum, impedir a guerra e foi o próprio Egito, a potência mundial da época, o primeiro povo a invadir Judá e a saquear Jerusalém.
– Fica-nos a lição de que devemos confiar unicamente em Deus e jamais criarmos estratégias ou planos humanos para tentar termos sucesso neste mundo, notadamente quando tais atitudes elaboradas pela nossa imaginação ofendem à lei de Deus, contrariam os mandamentos divinos.
Ao multiplicar mulheres, o que era vedado pela lei, Salomão permitiu a introdução da idolatria e a esta mesma idolatria trouxe a derrocada de sua nação.
– Hoje em dia muitos estão a tentar criar estratégias humanas, planos mirabolantes para, com eles, realizar a obra de Deus, cumprir a missão da Igreja e até sobreviver enquanto cristãos sobre a face da Terra, esquecendo-se de que devemos tão somente confiar no Senhor e fazer a Sua vontade, porque, senão, seremos cabalmente destruídos.
– O saque foi tão grande que Roboão foi obrigado a fazer escudos de cobre e entregá-los nas mãos dos guardas, para guardar a porta da casa do rei, que ficava ao lado do templo, escudos, entretanto, que só eram utilizados quando o rei entrava no templo, a demonstrar a situação de insegurança gerada após tal invasão sofrida por Jerusalém, a primeira após a conquista da cidade por Davi.
– Roboão reinou 17 anos, tendo sido sucedido por Abias, contra quem guerreou Jeroboão, como já dissemos supra. Abias, cujo nome significa “Javé é pai”, também, foi um mau rei, tendo reinado apenas três anos (I Rs.15:1,2). Mesmo tendo sido um mau rei, o seu nome já indica uma predisposição do reino do sul de servir ao Senhor, de manter o culto a Deus.
– Apesar desta sequência de reis maus e infiéis, havia um desígnio divino de manter a casa de Davi sobre Judá, porque isto estava vinculado ao plano da redenção da humanidade (I Rs.15:1-8).
– Tanto assim é que, apesar da idolatria existente, o culto a Deus continuou a existir em Judá, reforçado, inclusive, pela migração da tribo de Levi para o reino do sul, o que foi permitido por Roboão (II Cr.11:13,14), assim como a vinda de pessoas tementes a Deus das dez tribos do norte (II Cr.11:16), algumas tendo certamente passado a morar no reino do sul para não sofrer retaliação por parte de Jeroboão, até porque houve inimizade e ausência de relações diplomáticas entre os dois reinos durante todo o tempo do reinado de Jeroboão (I Rs.14:30; 15:7).
– A presença destas pessoas tementes a Deus no reino de Judá em meio a estes reis infiéis foi fundamental para que o reino de Judá se mantivesse além do reino de Israel e, deste modo, se prosseguisse o desenvolvimento do plano de Deus para a salvação da humanidade. Isto foi reconhecido pelo próprio rei Abias, como se vê em II Cr.13:1-20.
– Não é por outro motivo que, em Judá, ocorreria, ao longo da história, alguns avivamentos espirituais, como o que ocorreu no reinado de Asa, que sucedeu a Abias, um longo reinado de 41 anos (I Rs.16:13), mas tal tema já foge ao objeto de nossa lição.
Ev. Caramuru Afonso Francisco