LIÇÃO Nº 3 – A ENCARNAÇÃO DO VERBO

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo da Apologética Cristã, analisaremos a humanidade de Jesus Cristo, uma das pedras de toque da doutrina cristã.

-Jesus é Deus feito homem.

I – JESUS É HOMEM

-Uma das notas características da doutrina cristã é a crença de que Jesus, o Salvador do mundo, é, a um só tempo, Deus e homem. Foi isto que o Pai revelou a Pedro em Cesareia de Filipe, quando identificou Nosso Senhor como “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt.16:16).

-Ao afirmar que Jesus era o Cristo, ou seja, o Messias, o Ungido, esta declaração mostra que Jesus era um ser humano, a “semente da mulher” prometida ainda no jardim do Éden (Gn.3:15), Aquele que nasceria de mulher e sob a lei, como diz o apóstolo Paulo (Gl.4:4).

-Ao afirmar que Jesus é homem e o homem perfeito, a religião verdadeira discrepa de todas as demais religiões, que sempre fazem uma distinção clara entre a divindade e a humanidade, animadas pela presunção própria do homem que se recusa a glorificar a Deus e que crê na mentira satânica da total independência entre Deus e os homens.

-As religiões, diante desta circunstância, criaram seus discursos em que, no máximo, havia como que “semideuses” (como fizeram os gregos, por exemplo, em sua mitologia), mas jamais aceitaram que Deus pudesse Se humanizar, sendo, simultaneamente, Deus e homem.

-Esta realidade somente poderia advir da religião verdadeira, que tem seu ponto de partida em Deus e essa assunção da humanidade, que é o que denominamos “encarnação”, que explica todo o processo da real religação entre Deus e os homens, providenciada pela reconciliação por meio de Cristo Jesus.

-Além de dizer que Jesus é Deus, a Bíblia também nos ensina que, num determinado instante histórico, que as Escrituras denominam de “plenitude dos tempos” (Gl.4:4), “o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo.1:14a).
-Jesus Se tornou homem, a fim de cumprir a promessa divina feita ao primeiro casal de que “da semente da mulher” nasceria um que esmagaria a cabeça da serpente (Gn.3:15).

-Esta afirmação divina no Éden é suficiente para nos demonstrar que Jesus realmente Se humanizou, tornou- Se um homem, um descendente do primeiro casal, “a semente da mulher”, para que pudesse, enquanto homem, vencer o mal e o pecado e, sem qualquer dívida diante de Deus, por Sua santidade, morresse em nosso lugar e satisfizesse a justiça de Deus, proporcionando a nossa redenção e a possibilidade de termos os pecados perdoados.

-Dizer que Jesus não Se humanizou, que era, na verdade, um “ser especial”, um “espírito evoluído”, que habitou entre os homens, como alguns teimam em afirmar e com cada vez maior número de adeptos na atualidade, é o mesmo que dizer que Deus é mentiroso, que Deus não é fiel e que não cumpriu com a Sua promessa.

-Jesus Se fez homem, era absolutamente necessário que fosse um homem, para que se tornasse possível a vitória sobre o pecado e o mal.

Por isso, aliás, o apóstolo João afirmou que “quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê mentiroso O fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de Seu Filho deu” (I Jo.5:10).

-Se Jesus Se humanizou, temos, em primeiro lugar que, enquanto homem, Jesus teve um princípio de existência.

-Enquanto Deus, Jesus não tem princípio nem fim (Ap.1:8), mas, enquanto homem, Ele teve um início de existência, foi concebido por obra e graça do Espírito Santo no ventre de Maria (Lc.1:31-35). Como todo e qualquer ser humano, Jesus foi concebido no ventre de Sua mãe, teve o início de uma existência.

-Entretanto, Jesus não poderia ser concebido como o foram os demais seres humanos a partir do primeiro casal, porque, em virtude do pecado, os homens passaram a ser concebidos em pecado (Sl.51:5), ou seja, herdavam a natureza pecaminosa de seus pais, tanto que, em vez de saírem à imagem e semelhança de Deus, como havia sido o primeiro casal, saíam à imagem e semelhança de seus pais (Gn.5:3).

-Por isso, Jesus não poderia ser fruto de uma concepção resultante da relação sexual entre seus pais biológicos, visto que não poderia ser senão a “semente da mulher”, o “último Adão” (I Co.15:45), e, portanto, a exemplo do primeiro casal, criado por ação direta de Deus, sem mediação humana.

-É por este motivo que, ao longo da revelação progressiva de Deus, por meio da Sua Palavra, o Senhor foi anunciando ao Seu povo que o Salvador, o Messias, chamado de “semente da mulher”, seria alguém que seria o resultado da “concepção de uma virgem” (Is.7:14) e que a criança nascida, ao contrário de todas as demais, ao adquirir a consciência não se inclinaria para o mal, mas, sim, para o bem (Is.7:15,16).

-Tudo isto que fora profetizado cerca de setecentos anos antes do evento histórico acontecer. Maria concebeu, sem que conhecesse varão, e deu à luz ao seu filho primogênito, que foi chamado de Jesus por ordem divina.

-Jesus Se fez carne e habitou entre nós, sendo fruto da concepção de uma virgem. Observemos bem que Jesus foi concebido em uma virgem, mas Sua mãe não ficou virgem para sempre.

-A virgindade de Maria cessou com o nascimento de Jesus, assim como também a sua abstinência sexual em relação a seu marido, José.

A Bíblia diz que José não a conheceu até que Jesus nasceu (Mt.1:25), sendo certo, também, que José e Maria tiveram filhos, como o dizem os moradores de Nazaré, a cidade onde Jesus foi criado (Mt.13:55; Mc.6:3).

-Vemos, portanto, que a concepção virginal de Jesus era uma necessidade para que pudesse se realizar o plano da salvação. Jesus haveria de nascer com a mesma natureza perfeita com que fora criado o primeiro casal, a fim de que pudesse vencer a morte e o inferno.

-Sua concepção virginal, aliás, era também necessária para que Ele Se mantivesse Filho de Deus (Lc.1:35), embora Se tenha feito carne, assim como para que fosse “semente da mulher” e “nascido de mulher”.

-Daí porque Eva ter sido chamada “mãe de todos os viventes” (Gn.3:20), enquanto, em momento algum, Adão é chamado de “pai de todos os viventes”, pois Jesus não descendeu de Adão, mas gerado foi por obra e graça do Espírito Santo.

-Negar, portanto, a concepção virginal de Jesus é negar a Sua condição de Salvador, é procurar desacreditar a Sua missão de salvação do homem. Jesus veio para libertar o povo do pecado e, por isso, não poderia ser formado em pecado.

-Humanizou-Se, sim, porque foi gerado, teve início de existência, foi dotado de um corpo animal, terreno, corruptível (I Co.15:42,44,47; Hb.10:5), teve Seus dias de carne (Hb.5:7), mas tinha de vir sem a natureza pecaminosa, a fim de poder redimir a humanidade.

-É interessante observar, portanto, que a vinda de Jesus por obra e graça do Espírito Santo, em momento algum, pode ser usada como argumento para negar a Sua humanidade, porquanto Sua concepção virginal teve o propósito de fazê-l’O entrar no mundo do mesmo modo que Adão, numa natureza sem pecado, ainda que humana, a fim de que pudesse vencer o mundo e o pecado.

-A concepção virginal não faz de Jesus um super-homem, mas O faz um homem genuíno, formado conforme o propósito divino, um “segundo Adão”, sem o que não haveria como garantir a salvação de toda a humanidade.

-Vemos, a propósito, que só Jesus foi assim gerado, como nos mostram as Escrituras. É Ele o “último Adão”, o único que, além de Adão, foi gerado diretamente por ação divina. Todos os demais seres humanos foram gerados de um ser prévio, até mesmo Eva, que foi retirada de Adão (Gn.2:21,22).

-Por isso, não tem o menor cabimento a doutrina da “imaculada conceição de Maria”, transformada em dogma da Igreja Romana em 1854 pelo Papa Pio IX, segundo a qual Maria também teria sido concebida sem pecado, equiparando Maria ao próprio Jesus, um ensino totalmente equivocado e que se constitui em mais uma artimanha do inimigo para denegrir e distorcer a figura de Jesus Cristo.

-Este dogma, aliás, veio para corroborar dois outros dogmas surgidos a respeito de Maria. O primeiro deles é o chamado “dogma da maternidade divina”, que exsurgiu como uma distorção oriunda do Concílio de Éfeso, ocorrido em 431, quando se aceitou chamar Maria de “Theotokós”, ou seja, “mãe de Deus”, título que fora adotado para confirmar a divindade de Jesus. Entretanto, passou a ser utilizado para dizer que Maria era um ser especial, pois seria “a mãe de Deus”.

-Em seguida, para se justificar que Maria teria um papel diferenciado dos demais seres humanos, começou- se a dizer que ela era perpetuamente virgem, ou seja, somente teria tido Jesus como filho e, mais, ter-se-ia mantido virgem mesmo depois do nascimento de Jesus, visto que era “a mãe de Deus”.

-Nasce, então, o dogma da “virgindade perpétua de Maria” e, por isso, é chamada sempre de “Virgem Maria” ou “a Virgem”, proclamado pelo Papa Paulo IV em 1555, o que, como já vimos, contraria frontalmente o texto bíblico.

-Eis porque devemos ter cuidado com a expressão “nascimento virginal de Jesus”, que nada mais é que dizer que o nascimento de Jesus não retirou a virgindade de Maria.

Dizendo ser Maria “mãe de Deus” e “perpetuamente virgem”, com o dogma da “imaculada conceição”, fica completa a falsa doutrina de que Maria, a exemplo de Jesus, nunca teve pecado e nunca pecou e, por fim, em 1950, o Papa Pio XII proclama o “quarto dogma mariano”, o dogma da Assunção de Maria, dizendo que Maria foi, em corpo e alma, para os céus, o que confirma a equiparação de Maria a Jesus, o que é inadmissível.-A

concepção virginal de Jesus mostra, também, o propósito de salvação na vida do Senhor. Foi Ele gerado por obra e graça do Espírito Santo para que Se tornasse o Sumo Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque (Hb.8:1,2) e, por isso, Se oferecesse, uma vez por todas, em sacrifício pelos pecados do mundo (Hb.9:28), sendo, pois, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29), a propiciação pelos pecados de todo o mundo (I Jo.2:2).

-Por isso, também sentido algum tem a doutrina alardeada pelo Reverendo Moon de que Jesus “fracassou” em Seu ministério por não ter formado família, visto que Seu objetivo ao vir ao mundo, como bem o demonstra Sua concepção virginal, não foi o de formar descendência, mas, sim, o de Se oferecer como vítima para a remissão de toda a humanidade.

-Daí porque também não ter qualquer sentido ou respaldo bíblico a afirmação de que Jesus constituiu família e que, inclusive, Seus supostos descendentes pertenceram à linhagem real de uma dinastia francesa medieval, ideia que foi muito bem explorada pelo escritor Dan Brown (1964- ), no livro “Código Da Vinci”, um dos campeões de venda dos últimos anos em todo o mundo e que demonstra como está operando o mistério da injustiça nestes dias que antecedem a volta de Cristo (II Ts.2:7), um ímpeto para fazer o mundo descrer na dupla natureza de Jesus, pois sua função é enganar os que perecem (II Ts.2:10,11).

-Neste ponto é importante mostrar que Jesus, além de Se humanizar, foi um varão, ou seja, um homem do sexo masculino.

-Nos dias difíceis em que estamos a viver, há muitos que querem negar esta circunstância, considerando-a como um “preconceito machista”, a tal ponto que já se chegou ao cúmulo de se ter uma tradução da Bíblia “livre de sexismo”, a chamada “Bíblia politicamente correta” ou “Bíblia numa linguagem mais justa”, onde sempre que os homens são citados, foram incluídas as mulheres, como se isto fosse o correto.

-Jesus foi um varão, porque isto era necessário a fim de que fosse o “último Adão”, Adão que era varão. Isto, em absoluto, significa uma diminuição da mulher em relação ao homem, mas o fato é que a mulher veio do varão e este varão veio ao mundo porque uma mulher deu à luz, numa clara demonstração de que Jesus é o Salvador de toda a humanidade.

-Devemos, pois refutar seitas que têm surgido e negado a masculinidade de Cristo, como o movimento denominado “Melquisedec Lisbet” que diz que há um “Deus Pai”, a quem chamam de “Melquisedec” e uma “Deusa Mãe”, a quem chamam de “Cristo Lisbet”, dizendo que Jesus é uma mulher porque, em Lv.4:32, o animal que deve ser sacrificado é uma “fêmea” e, portanto, como João Batista teria dito que Jesus era o “Cordeiro de Deus”, ter-se-ia aí a prova de que Jesus seria uma mulher. Que absurdo!

-Como se isto fosse pouco, uma seita que tem tido grande crescimento na China, a chamada “Igreja do Deus Todo Poderoso” ou “Relâmpago Oriental”, acredita que Jesus reencarnou em uma mulher chinesa, cuja identidade não é divulgada mas que se acredita ser chamada “Yang Xiangbin”, que teria nascido em 1973. Se Jesus não mais morreu após Sua ressurreição, como poderia reencarnar? Ademais, sabemos todos que reencarnação não existe. Outro grande absurdo!

-A circunstância de que Jesus tinha uma missão espiritual e que, para tanto, veio ao mundo, explica, também, porque não só o Senhor não formou família, como também não teve qualquer envolvimento sexual com quem quer que seja.

-Não negamos que, como Jesus em tudo foi tentado, indubitavelmente foi alvo de tentações no que respeita à moral sexual, mas não era essa a vontade de Deus, motivo pelo qual se manteve alheio a este aspecto da vida.

-Não que a sexualidade seja um mal, longe disso, mas Jesus não fora chamado por Deus para isto. Destarte, completamente abominável e demoníaca a tentativa de construção da figura de um Jesus devasso, libertino e,

pasmem todos, até homossexual, como tem sido propalado e divulgado pela mídia nos últimos anos, a demonstrar o grau de intensidade do espírito do anticristo na atualidade.

OBS: É incrível a intensidade com que se avilta a figura do Senhor Jesus na atualidade. Não bastasse, na década de 1980, o filme de Martin Scorsese, a “Última Tentação de Cristo” em que se insinua que o Senhor, na cruz, estivesse absorto por pensamentos imorais e lascivos, recentemente foi feita uma mostra de imagens pornográficas na Espanha, em setembro de 2007, do artista holandês Ivo Hendricks, em que Jesus aparece em cena de sodomia, sem falar na peça teatral “Corpus Christi” de Terrence McNally, onde Jesus é apresentado mantendo relações homossexuais com Seus discípulos, que se pretende transformar em filme.

Todos estes ataques, paradoxalmente, demonstram que Jesus é homem e é Deus, pois, se assim não fosse, não estaria o espírito do anticristo preocupado em denegrir a Sua imagem, pois é próprio dele levantar-se contra tudo o que se chama Deus (I Ts.2:4). Este é mais um sinal de que Jesus está às portas! Vigiemos, pois!

II – A HUMANIDADE DE JESUS NÃO EXCLUIU A SUA DIVINDADE

-Enquanto homem, Jesus teve todo o desenvolvimento que qualquer ser humano tem. Enquanto criança teve uma alimentação simples, própria daqueles que são de parcos recursos (Is.7:15), passou pela fase da inocência e, ao adquirir a consciência, demonstrou a única diferença que teve em relação a todos os demais homens: não tinha a natureza pecaminosa.

-A exemplo de Adão e de Eva, fora criado sem a natureza pecaminosa, mantendo-se assim até a morte (Hb.4:15; 9:28). Por isso, Jesus não foi igual ou idêntico aos demais homens, mas, como dizem as Escrituras, semelhante a nós, visto que havia um dado que os distinguiu de todos os demais homens: a ausência de pecado (Hb.2:17).

-Enquanto homem, Jesus Se submeteu a todas as limitações humanas, sem exceção alguma. A este fenômeno, segundo o qual Jesus, que é Deus, não Se utilizou de nenhuma das prerrogativas da divindade enquanto desempenhou o Seu ministério terreno (nem poderia fazê-lo, pois Deus havia prometido que um homem haveria de alcançar a vitória sobre o pecado e sobre a morte), os estudiosos da Bíblia denominam de “kenosis” ou “esvaziamento”.

-Jesus não deixou de ser Deus quando Se tornou homem, mas, por livre e espontânea vontade, para cumprimento da vontade do Pai (Hb.10:5-9), veio a este mundo, despindo-Se da Sua glória (Fp.2:5-8), cumprindo a lei (Mt.5:17), fez-Se oferta e sacrifício ao Pai para a salvação dos pecadores (Is.53:4-9).

OBS: “…Ele [Cristo, observação nossa] se aniquilou, isto é, foi reduzido em seus atributos, sujeitando-se ao corpo humano. Isto não quer dizer que perdeu ou desvencilhou totalmente da sua divindade, mas precisou sujeitar-se ao corpo humano e, portanto, ficou sujeito a certas limitações pelas quais passam os homens.

Mas, quando ressuscitou e adquiriu corpo glorioso, voltou a possuir plenamente todos os atributos, como o Pai.…” (SILVA, Osmar J. da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.1, p.23).

-“…na ideia de kenosis está a noção de ter o Filho de Deus assumido a forma de homem, conforme esse texto de Filipenses [Fp.2:8, observação nossa] diz claramente.

O Logos, ou Verbo celeste, desistiu de aferrar-se ao que possuía, quando de Seu esvaziamento, em uma atitude contrária à de Adão, que procurou obter algo que ele não tinha (o conhecimento do bem e do mal). Ver Ii Co.8:9.

O termo kenosis, portanto, deve ser aplicado à idéia de autolimitação do Logos (o Filho de Deus) quando de Sua encarnação…” (CHAMPLIN, Russell Norman. Kenosis. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.3, p.698).

-“…Naturalmente, a frase esvaziou-se a si mesmo pode sugerir, para aquelas mentes que assim exigem, a noção de que desvestiu-Se de todos os Seus atributos divinos.

Os eruditos devotos não podem aceitar essa concepção e eles evidentemente não somente têm o apoio do contexto imediato, mas de toda a Escritura. Um grupo exagerou nas limitações humanas de Cristo, enquanto, por outro lado, outro grupo — totalmente atento quanto a estas limitações — vê também a ênfase que a Palavra de Deus atribui às manifestações da Sua divindade. (…).

Tanto a condescendência de Cristo — a partir da Sua esfera nativa celestial para a posição de homem — quanto a humilhação de Cristo — da Sua posição como um homem para a morte de cruz — são indicadas nessa passagem.

A questão da kenosis não está muito preocupada com a humilhação de Cristo como com Sua condescendência. A pergunta é esta: ‘Quanto Ele renunciou?’…” (CHAFER, Lewis Sperry. Teologia sistemática. Trad. Heber Carlos de Campos. t.I, pp.382-3)

-Jesus não poderia deixar de ser o que é, pois, como Deus, como veremos em próxima lição, é eterno, não muda, nem deixa de ser algo. Jesus é Deus e sempre o será. Quando chegou a plenitude dos tempos, continuou sendo Deus, pois Deus não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13).

-Assim, precisamos ter cuidado, pois muitos, inadvertidamente, acham que quando Jesus Se humanizou, deixou de ser Deus.

Isto é absolutamente impossível! Deus é e nunca deixará de ser! Quando Se encarnou, porém, Jesus deixou a “forma de Deus” (Fp.2:6), assumindo a “forma de servo” (Fp.2:7) e, mesmo na forma de servo, prosseguiu na Sua humilhação, assumindo a condição de maldito ao morrer na cruz (Fp.2:8).

-Jesus nunca deixou de ser Deus e passou, na plenitude dos tempos, a também ser homem. Por isso, diz o apóstolo João, que o “Verbo Se fez carne e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo.1:14).

-Nesta feliz expressão do apóstolo, vemos que Jesus não deixou de ser Deus ao Se humanizar. Com efeito, continuou a ser o Verbo, mas também passou a ser homem, pois “Se fez carne e habitou entre nós”.

-Por ter encarnado e assumido as limitações do tempo e do espaço, como qualquer criatura (Gn.1:1), Jesus demonstra toda a Sua humanidade. Mas, apesar de ser homem, continuava a ser Deus, tanto que possuía a glória, algo que é exclusivo de Deus (Is.48:11 “in fine”). O apóstolo, aliás, faz questão de ressaltar que a glória vista em Jesus não era uma glória qualquer, mas a glória divina, a glória do Unigênito do Pai.

-Além disso, João disse que Jesus, mesmo humanizado, não deixou de ser Deus, porque era “cheio de graça e verdade”. Somente Deus é cheio de graça e de verdade, pois, por primeiro, a graça é o favor imerecido que Deus dá aos homens, é um dom divino, algo que não é próprio dos homens (Ef.2:8).

-A graça é divina e, entre nós, foi algo exclusivo da pessoa de Jesus Cristo (Rm.5:15). Por segundo, a verdade é o próprio Deus (Jr.10:10) e só Jesus, entre nós, é a verdade (Jo.14:6).

Por isso, enquanto “Deus conosco”, Jesus trouxe, para os homens, tanto a graça quanto a verdade (Jo.1:17).

OBS: Por isso, não se pode admitir que Maria seja considerada “cheia de graça”, como se verifica na famosa oração “Ave Maria”. Muito pelo contrário, a Bíblia nos mostra que, como qualquer ser humano, Maria foi agraciada, ou seja, alvo da graça de Deus (Lc.1:28).

-A Bíblia é maravilhosa. Nos mínimos pormenores, ela demonstra toda a verdade espiritual revelada ao homem.

Quem nos esclarece a respeito desta natureza divina de Cristo, que persiste na Sua humanização, é nada mais, nada menos que o apóstolo mais íntimo do Senhor, aquele que deitava seu rosto no peito de Cristo (Jo.13:23).

João é mencionado como “o discípulo a quem Jesus amava” e, por causa deste amor intenso, foi o que mais evidenciou a natureza dupla de Jesus, pois os amigos do Senhor são aqueles a quem tudo é revelado (Jo.15:15).

-Mas não foi apenas João quem nos dá notícia da manutenção da natureza divina no Jesus humanizado. Pedro, outro dos discípulos que pertenciam ao círculo íntimo do Senhor, também é testemunha (II Pe.1:16-18). A propósito, a transfiguração de Jesus é uma demonstração cabal de que Sua deidade não foi extirpada quando de Sua humanização.

-Se Jesus não deixou de ser Deus quando Se humanizou, nem por isso, porém, fez uso dos atributos da Divindade enquanto no Seu ministério público.

-Aliás, “ministério” significa “serviço” e, como vimos, no exercício deste ministério, Jesus assumiu a “forma de servo”, o Servo Sofredor de que tanto falou o profeta Isaías em seu livro que, por causa disto, é chamado por muito de “o Evangelho do Antigo Testamento” (v.g., Is.42:1,19; 43:10; 50:10; 53:11).

-Tudo quanto Jesus fez, no Seu ministério público, foi em virtude da unção do Espírito Santo sobre Ele (At.10:38).

Esta unção do Espírito sobre Ele se deu quando Ele foi batizado por João no Jordão, algo que foi atestado pelo próprio João que viu o Espírito descer sobre Ele como pomba, instante em que o Pai deu, também, testemunho do Filho (Mt.5:13-17; Mc.1:9-11; Lc.3:21,22; Jo.1:32-34).

-Por isso, não tem o menor cabimento todo e qualquer escrito apócrifo que atribui milagres a Jesus na Sua infância, adolescência e juventude, pois Jesus nunca assumiu a Sua divindade no Seu ministério, mas, para cumprir a Palavra de Deus, esvaziou-Se desta Divindade, sendo um homem ungido pelo Espírito Santo para cumprir tudo quanto estava determinado a Ele na Sua obra (Jo.17:1-4).

III – A HUMANIDADE DE JESUS É PLENA E SINGULAR

-A humanidade de Jesus é uma realidade, pelo que podemos observar, mas é muito mais do que isto. Jesus não apenas assumiu a humanidade, mas a Sua humanidade é total e singular.

-Jesus tem uma humanidade total, pois é o único homem que cumpriu plenamente o propósito divino para o homem.

-O homem foi criado para viver em comunhão com o Senhor, para ser o Seu administrador sobre a criação terrena, dominando sobre os demais seres terrenos, consoante vemos em Gn.1:26-28 e Sl.8:3-8 e o próprio texto sagrado nos mostra que isto se realizou na pessoa de Jesus, como se vê em Hb.2:6-18.

-Somente Jesus cumpriu este propósito divino. Senão vejamos.

-Ao Se tornar homem, Jesus Se fez carne (Jo.1:14) e, como tal, assumiu um corpo, que foi preparado por Deus (Hb.10:5), corpo que teve o completo desenvolvimento previsto pelo Senhor, iniciando-se como

um ovo no ventre de Maria (Lc.1:35),

passando a ser um feto naquele mesmo ventre (Lc.1:42),

nascendo como um bebê que precisava ser envolto em panos em uma manjedoura (Lc.2:7),

sendo circuncidado ao oitavo dia de vida, ocasião em que recebeu o nome de Jesus (Lc.2:21),

adquirindo a consciência em certo momento da Sua infância (Is.7:15) e

crescendo como criança, adolescente, jovem e adulto, tanto física, quanto emocional e espiritualmente (Lc.2:51,52).

-Ao Se encarnar, Jesus tomou um corpo físico, corpo que, assim como ocorreu com Adão (Gn.2:7), foi criação divina. O escritor aos hebreus informa-nos que este corpo foi preparado por Deus para que fosse dado em sacrifício pela humanidade (Hb.10:5-9), o que, aliás, já havia sido profetizado por Davi (Sl.40:6-8).

-No instante mesmo da encarnação, quando Se faria carne no ventre de Maria, vemos já a aniquilação de Jesus, a Sua renúncia da glória divina, porquanto, neste exato momento, demonstrando estar deixando a glória que tinha com o Pai desde antes que o mundo existisse (Jo.17:5), Jesus faz a Sua primeira oração, ao entrar no mundo, a oração mencionada por Davi e lembrada, posteriormente, pelo escritor aos hebreus.

-Mostra-nos Jesus, portanto, que o primeiro gesto que o homem deve fazer é o de orar ao Pai. Uma vez ciente de que estava Se separando da glória divina, Jesus, mesmo antes de encarnar, ao assumir a humanidade, faz uma oração.

-De igual maneira, cada ser humano, uma vez consciente de que está destituído da glória de Deus por causa do pecado (Rm.3:23), não tem outra coisa a fazer senão orar, invocar o nome do Senhor, a fim de que possa ser salvo (Jl.2:32; At.2:21; Rm.10:13).

-Esta invocação é resultado direto da fé ativada pela pregação do Evangelho, da Palavra de Deus (Rm.10:17; Ef.1:13) e, quando alguém crê que é um pecador e que Jesus é o Salvador, ora ao Pai e, por conseguinte, tem seus pecados perdoados e passa da morte para a vida (Jo.5:24).

-Já no ato da encarnação, Jesus assume o lugar do pecador, mostrando-nos qual deve ser a nossa atitude diante de Deus. Esta é a “fé do Filho de Deus”, que deve ser a diretriz, o modo pelo qual devemos viver aqui enquanto não vamos para as mansões celestiais (Gl.2:20).

-Jesus Se faz carne no ventre de Maria e isto já traz problemas para a vida daquela virgem que, tendo concebido antes que se tivesse ajuntado com José, a quem estava desposada (Mt.2:18), foi tida por adúltera, a ponto de José querer deixá-la secretamente, para evitar sua difamação e morte (Mt.2:19).

-Isto explica porque Maria parte para a casa de Isabel, sua prima, que havia sido mencionada como grávida pelo anjo Gabriel (Lc.2:39). Lá chegando, Maria fica a saber o que é ter o Salvador em suas entranhas.

-Jesus, ainda um feto, mas criado perfeito, por obra e graça do Espírito Santo (Lc.1:35), o Santo de Deus, tinha a companhia do Espírito Santo, e, pela Sua presença, o Espírito Santo visita tanto João Batista, que estava no ventre de Isabel, como também Isabel e a própria Maria (Lc.2:39-56).

-Mesmo antes de nascer, Jesus mostra ser o Santo, como dissera o anjo, expressão que denota a Sua humanidade. Observemos que é “o Santo que de ti (Maria) há de nascer”, não “o Deus Santo”.

-Quando se fala no “Santo que de ti há de nascer”, lembramo-nos da profecia de Isaías que, ao apresentar a dupla natureza de Jesus, diz que “o menino nasceria”, falando da humanidade, mas que “um filho se nos daria”, falando, então, de Sua deidade (Is.9:6).

-O homem foi criado para ser “o Santo” (Lc.1:35) e é por isso que todos quantos creem em Jesus e invocam o nome do Senhor são chamados santos (I Co.1:2).

-A santidade é uma característica que Deus quer que todo homem tenha, característica que somente Jesus teve em Sua plenitude, pois, autocriado homem santo, santo sempre tem sido, pois nunca pecou (Hb.4:15; 9:28).

-A perda da santidade por causa do pecado é uma corrupção do ser humano, uma degeneração. Neste ponto, vemos, então, como Jesus é o único homem na plenitude, já que nunca pecou, ao contrário de todos os demais, a começar de Adão.

-Sadhu Sudar Singh (1889-1929), “o apóstolo dos pés sangrentos”, bem definiu o pecado como “…alguém deixar de lado a vontade de Deus e viver de acordo com a própria vontade, abandonando o que é verdadeiro e legítimo para satisfazer os próprios desejos, pensando que assim obterá felicidade.

No entanto, ao fazê-lo, tal pessoa não obtém real felicidade ou desfruta de verdadeiro prazer. …” (Aos pés do Mestre. Trad. A voz do vento.com, p.29).

-A verdadeira felicidade do homem é obtida mediante a sua comunhão com Deus. Por isso, Jesus identifica os Seus discípulos, aqueles que tiveram a sua comunhão com Deus restaurada por Nosso Senhor, como “bem- aventurados”, ou seja, mais do que felizes, como vemos no introito do sermão do monte (Mt.5:1-12).

-Para vermos o Senhor, é imprescindível que sigamos a santificação (Hb.12:14), que nada mais é que a manutenção da posição de santidade que adquirimos quando temos os nossos pecados perdoados (I Co.1:2).

-Faz parte da religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, guardar-se da corrupção do mundo (Tg.1:27). Quem se torna participante da natureza divina é aquele que escapou da corrupção (II Pe.1:4).

-Enquanto recém-nascido, Jesus veio ao mundo numa manjedoura, onde foi envolto em panos, pois não havia lugar para Ele e Sua família na estalagem (Lc.2:7).

-A humanidade plena reveste-se de humildade. O homem tem de reconhecer o senhorio divino e se submeter a seu Criador, sendo-Lhe obediente e, como Jesus, obediente até a morte (Fp.2:8).

-O homem tem de reconhecer que seu dever é temer a Deus e guardar os Seus mandamentos (Ec.12:13), pois é apenas um servo, sendo Deus o Senhor.

-Jesus é manso e humilde de coração e quer nos ensinar a sê-lo (Mt.11:29). Somente quem se humilhar debaixo da potente mão de Deus será exaltado (I Pe.5:6).

-O caminho da rebelião e da soberba degeneram o homem, que, por se recusar a glorificar a Deus, é cegado pelo diabo (II Co.4:4), envolvendo-se em discursos desvanecedores que levam ao obscurecimento do coração insensato e à corrupção generalizada (Rm.1:21-32).

-Ao adquirir a consciência, Jesus escolheu o bem e não o mal (Is.7:15), pois, como não possuía a natureza pecaminosa, tinha liberdade para dizer não ao pecado.

-O propósito divino ao homem é o de dominar sobre o pecado, não de ser dominado por ele (Gn.4:7), algo que jamais foi realizado por qualquer ser humano, a começar de nossos primeiros pais.

-Jesus, porém, não só disse não ao pecado no instante em que adquiriu a consciência, como manteve esta negativa de pecar até a morte e nos traz a salvação que nos permite imitá-l’O e com sucesso, pois gozamos da liberdade da glória dos filhos de Deus (Rm.8:21) e Jesus nos faz verdadeiramente livres do pecado (Jo.8:36).

-A humanidade plena é aquela que domina a criação terrena e é livre do pecado, algo que somente podemos ver em Jesus, Jesus que, pelo Seu sacrifício vicário, trouxe a liberdade a todos os que creem n’Ele (At.26:18).

-Como criança, adolescente e jovem, Jesus cresceu em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens (Lc.2:52). A humanidade plena importa em crescimento material e espiritual.

-Jesus aprendeu a obediência (Hb.5:8) e foi tanto submisso a Deus quanto às autoridades constituídas sobre Ele por Deus, a começar de Seus pais (Lc.2:51).

-A humanidade plena traz crescimento em sabedoria, porquanto o homem foi criado para servir a Deus e todo servo do Senhor é sábio, como nos mostra o livro de Provérbios, pois o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl.111:10; Pv.9:10).

-Jesus foi feito sabedoria para nós (I Co.1:30), sendo certo que, ao ser apresentado pelo evangelista Lucas para os gregos como sendo o homem perfeito, teve demonstrada toda a Sua sabedoria pelo médico amado, a ponto de ser Ele próprio chamado de “sabedoria de Deus” (Lc.11:49).

-A humanidade plena traz crescimento em estatura. Todos sabemos que o corpo se desenvolve até uma determinada idade, tendo Jesus Se submetido ao mesmo desenvolvimento biológico de cada ser humano, ainda que, por não ter a natureza pecaminosa, não tenha tido quaisquer anomalias, doenças ou enfermidades, nem tampouco degeneração em seu organismo.

-Todos quantos creem em Jesus tem esta possibilidade de ter um desenvolvimento biológico abençoado. Se não estamos livres das doenças e enfermidades, por causa da natureza pecaminosa, temos, porém, a promessa da cura divina, pois Jesus, sendo são, quer curar a todos, pois não só levou sobre Si os nossos pecados, como também as doenças e enfermidades (Sl.103:3; Is.53:4,5).

-Mesmo a degeneração do organismo, que é inafastável por causa da morte física, outra consequência do pecado (Gn.3:19), pode ser amenizada e tornada palatável diante da nossa salvação (Sl.92:12-15), como vemos, por exemplo, nas vidas de Moisés (Dt.34:7), Calebe (Js.14:10,11) e Joiada (II Cr.,24:15,16).

-A humanidade plena traz crescimento em graça. Graça aqui representa o crescimento espiritual, como vemos mencionado pelo apóstolo Pedro em II Pe.3:18 ou pelo apóstolo Paulo em II Tm.2:1.

-Enquanto homem, Jesus sempre cresceu na graça. Dedicou-Se ao estudo das Escrituras, como se percebe quando vai assumir a responsabilidade diante de Deus no templo aos doze anos de idade, como também demonstrou sempre ser uma pessoa de oração, como se verifica nos Evangelhos.

-Jesus, também, para exercer Seu ministério, foi cheio do Espírito Santo, por ocasião de Seu batismo (Lc.4:1), a nos mostrar que precisamos da plenitude do Espírito para bem exercermos o ministério que nos é dado por Cristo, não sendo por outro motivo que o Senhor tenha mandado Seus discípulos se revestir do poder do alto antes de iniciarem os seus ministérios (Lc.24:49; At.1:8).

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/11165-licao-3-a-encarnacao-do-verbo-i

Glória a Deus!!!!!!!