INTRODUÇÃO
– Ezequiel é levado pelo Senhor ao templo em Jerusalém para presenciar as abominações que eram feitas ali, na própria casa de Deus.
– Os judaítas não tinham mais a menor reverência a Deus no templo de Jerusalém.
I – A VISÃO DE EZEQUIEL NO TEMPLO DE JERUSALÉM – A IMAGEM DE CIÚMES
– O profeta Ezequiel foi levado para a Babilônia, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, em 16 de março de 598 a.C., na terceira deportação, onde foram levados 10.000 cativos, incluindo o rei de Judá, Joaquim (II Rs.24:10-15; II Cr.36:10).
– Ezequiel era de linhagem sacerdotal (Ez.1:3) e começou a ter visões proféticas quando tinha trinta anos de idade, no quinto ano do cativeiro, o que mostra que foi levado cativo quando tinha 25 anos de idade, precisamente a idade em que poderia iniciar o seu ofício sacerdotal.
– Treinado para exercer o sacerdócio, Ezequiel era alguém que conhecia muito bem o templo em Jerusalém, havia sido preparado para ali servir ao Senhor, e, portanto, quando lhe foram reveladas abominações naquele lugar sagrado, como vemos no capítulo 8 de seu livro, no sexto ano do seu cativeiro, ele pôde aquilatar bem o desagrado divino para com o povo judaíta e, deste modo, observar como era justa a determinação para a destruição tanto do templo quanto de Jerusalém.
– Vivia-se um tempo de apostasia generalizada do povo de Judá e de início da execução do juízo que o Senhor tinha dito iria efetuar desde o término do reinado de Manassés, num período de cerca de 40 anos, conclamando o povo ao arrependimento, mas sem êxito.
– Por isso, este período é de singular exemplo para nós, que também estamos a viver um tempo de apostasia espiritual e de início da execução do juízo que o Senhor tem determinado sobre o mundo por ter rejeitado Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o chamado “princípio das dores” (Mt.24:8).
– E, como “não há nada novo debaixo do sol” (Cf. Ec.1:9), temos que, infelizmente, estas mesmas abominações se encontram em nossos dias e, por isso, vamos fazer uma breve reflexão para que não venhamos a ser destes que estão a cometê-las, até porque o resultado desta prática, como vemos no capítulo 9 do livro do profeta Ezequiel, é o extermínio, a morte daqueles que tiveram tais atitudes. Que Deus nos guarde!
– Ezequiel estava assentado em sua casa juntamente com os anciãos de Judá. De repente, veio sobre o profeta uma semelhança como aparência de fogo, sendo que, dos lombos para baixo era fogo e dos lombos para baixo aspecto de resplendor, como cor de âmbar. (Ez.8:1,2).
– Ezequiel, então, viu como uma mão que tomou pelos cabeços da sua cabeça e lhe levou até Jerusalém em visões de Deus até a entrada da porta do pátio de dentro, que olha para o norte (Ez.8:3).
– Ezequiel estava sentado com os anciãos, mas só ele viu a glória de Deus, só a ele veio o Senhor, só ele foi transportado em visões de Deus.
– Também, só os que nascem de novo ao crer em Jesus veem o reino de Deus (Jo.3:3), só os que servem a Deus podem ser transportados para Jerusalém, e não a Jerusalém terrestre, para onde foi levado em visão o profeta, mas a Jerusalém celestial, onde para sempre habitaremos com o Senhor.
– E, a qualquer instante, temos acesso aos céus, onde o Senhor nos abriu um novo e vivo caminho, podendo chegar à presença do Senhor, ao trono da graça (Hb.4:14-16; 10:19-23).
– O profeta foi transportado até a entrada do pátio do templo, do lado de dentro, e, para sua surpresa, a primeira coisa que ali viu foi uma imagem dos ciúmes, que provoca o ciúme de Deus (Ez.8:3).
– O local onde o profeta se achou era frequentado por todos os israelitas, era a entrada do templo, onde todos se dirigiam para levarem seus sacrifícios e ofertas ao Senhor, sendo recepcionados pelos sacerdotes a fim de que houvesse os sacrifícios no altar que ficava logo adiante.
– Entrava-se no templo com o objetivo de se apresentar diante de Deus, seja por meio da expressão do arrependimento em sacrifício pelos pecados, seja por meio de louvor e gratidão ao Senhor por meio das ofertas e sacrifícios pacíficos.
– Para surpresa do profeta, porém, ali foi vista uma “imagem dos ciúmes”, ou seja, um ídolo que estava concorrendo com a adoração ao Senhor, um “concorrente de Deus” (Ez.8:5).
– Não se sabe que imagem seria esta exatamente. O rei Manassés cometeu esta desatino (II Rs.21:7; II Cr.33:7), mas não era aquela mesma imagem, pois ela fora destruída por Josias, seu neto (II Rs.23:6), mas alguém repetira esta mesma infâmia, a mostrar que, com razão, o Senhor resolvera desterrar os judaítas, pois eles se mantinham nos mesmos erros aprendidos com Manassés (II Rs.21:9-16; Jr.15:4)
– O primeiro mandamento proferido pelo Senhor no monte Sinai foi “Não terás outros deuses diante de Mim” (Ex.20:3; Dt.5:7), um desdobramento do primeiro grande mandamento da lei que é “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento” (Mt.22:37).
– A presença de uma imagem que provocava o ciúme de Deus era, nas palavras do próprio Senhor, uma abominação. Mas o que é uma “abominação”? É uma coisa detestável, que causa repugnância, que é ofensivo.
– Esta imagem ofendia a Deus, pois era uma manifestação nítida e clara de idolatria, e provocava o Seu ciúme, ou seja, a execução por Deus de um juízo.
– Ezequiel teve a visita do Senhor e foi levado em visões a Jerusalém, mas, em nossos dias, o Espírito Santo habita conosco, está em nós (Jo.14:17), de tal forma que nós mesmos somos templo do Espírito Santo (I Co.6:19: Ef.2:21,22).
– Mas, será que não temos alguma “imagem de ciúmes” em nós? Temos adorado única e exclusivamente ao Senhor ou temos em nós algum “concorrente” em relação ao Senhor?
– Amamos realmente a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de todo o nosso pensamento, ou procuramos dividir os nossos interesses, a nossa vida, entre Deus e outras coisas?
– Não nos esqueçamos de que esta “imagem de ciúmes” pode ser nós mesmos, o nosso “eu”, que pode, muitas vezes, querer prevalecer em lugar de Deus.
– Se não damos exclusividade ao Senhor, se temos uma “imagem de ciúme”, estamos causando a repugnância de Deus, estamos a cometer abominação e, deste modo, estamos chamando para nós mesmos o juízo divino, estamos abrindo mão de nossa salvação. Pensemos nisto!
– Ao dizer ao profeta que aquela “imagem de ciúme” era uma abominação, o Senhor ainda disse a Ezequiel que esta atitude fazia com que Deus Se afastasse do Seu santuário (Ez.8:6).
– Quando passamos a querer dividir o lugar de Deus, que deve ser exclusivo, com outras coisas, estamos afastando Deus do Seu santuário que, em nossos dias, somos nós mesmos, pois, quando cremos em Jesus como Senhor e Salvador, tornamo-nos casa do Senhor (Hb.3:6).
– Entretanto, se a casa deixar de ser casa de Deus para ser casa de outros deuses, não estaremos mais a conservar firme e a glória da esperança até o fim, como diz o escritor aos hebreus, e, por isso mesmo, o Senhor Se afastará de nós, deixando, portanto, a casa “desocupada, varrida e adornada” (Cf.Mt.12:44).
– E o que acontece com esta “casa desocupada”? O Senhor Jesus nos diz que será ela ocupada pelo diabo e seus anjos e o antigo servo de Deus será ainda mais escravizado pelo maligno, praticando atos piores que os que cometia antes de ter um dia alcançado a salvação (Mt.12:43-45; Lc.11:24-26). Que Deus nos guarde!
II – EZEQUIEL VÊ O ÁTRIO DO TEMPLO
– O Senhor, então, levou o profeta até a porta do átrio e ali havia um buraco na parede (Ez.8:7). Aquele local deveria ser bem conhecido do profeta, pois Ezequiel era sacerdote e sabia que aquela parede era a divisão entre o átrio do templo, acessível a todos os israelitas, e o local onde haviam sido construídos quartos para os sacerdotes.
– Aquela parede fazia a separação entre o espaço público do templo e uma área que havia se tornado privada dos sacerdotes, onde eles podiam desfrutar da sua intimidade, em que não se encontravam aos olhos do povo.
– Aquela parede lembra-nos que podemos ter um espaço de intimidade em nossas vidas, particularidades desconhecidas de todos, e é normal que isto exista e o Senhor Jesus, inclusive, faz questão que o tenhamos, tanto que é neste espaço reservado, neste momento em que estamos sós (pois alguém já disse que a intimidade é o instante e local de se ficar só) que devemos nos dedicar a buscar ao Senhor e a construir com Ele uma intimidade (Cf. Mt.6:6).
– Entretanto, naquela parede havia um buraco e isto mostra que nada se pode esconder de Deus nem tampouco que o que se esconde será sempre mantido oculto aos olhos dos homens.
O próprio Cristo disse, certa feita, que “nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se” (Mt.10:26), de modo que, por primeiro, nada é oculto diante de Deus, pois Ele é onipresente e onisciente; por segundo, quando o Senhor desejar, revela tudo o que está oculto, notadamente quando isto está relacionado com o Seu povo, com o Seu nome.
– Há sempre um buraco, nunca o homem poderá ocultar o que faz de Deus nem tampouco dos homens, pois, quando for necessário, o Senhor tratará de mostrar aos Seus o “buraco na parede”, fazendo, assim, com que se descubra o que está oculto, em especial quando isto envolve a hipocrisia daqueles que dizem servi-l’O, como era o caso da visão dada a Ezequiel.
– Tendo sido mostrado ao profeta o buraco na parede, o Senhor mandou que Ezequiel cavasse nela e o profeta o fez com as próprias mãos, pois não estava com ferramenta alguma, a nos mostrar como é fácil ao Senhor desvelar tudo quanto se mantém escondido.
– Ao cavar na parede, o profeta encontrou uma porta e o Senhor mandou que fosse ela aberta e já disse a Ezequiel que era para ele entrar e ver as malignas abominações que eles faziam ali (Ez.8:9).
– Quando o profeta entrou, olhou toda a forma de répteis, animais abomináveis e todos os ídolos da casa de Israel pintados na parede em todo o redor e setenta homens dos anciãos de Israel com Jazanias, filho de Safã, que se achava no meio deles e que, em pé, estavam diante daquelas pinturas com incensário nas mãos e adorando aquelas figuras (Ez.8:10,11).
– A liderança religiosa de Judá estava completamente comprometida com a idolatria. Adoravam toda a espécie de ídolos, haviam resolvido se dedicar à criatura em vez do Criador, agindo exatamente como os gentios que haviam se rebelado contra Deus (Cf. Rm.1:18-25).
– As pessoas que haviam sido escolhidas para oferecer sacrifícios a Deus, para serem os intermediadores entre Deus e o Seu povo, estavam vergonhosamente, às escondidas, adorando pinturas na parede do templo, oferecendo incenso, ou seja, orando a estas divindades que eram fruto da imaginação humana, eram vaidades, coisas inexistentes, mas, ao fazê-lo, estavam, na verdade, invocando demônios, como bem explica o apóstolo Paulo (Cf. I Co.10:14-21).
– Esta circunstância, infelizmente, é existente em nossos dias. Não são poucos os líderes que se encontram comprometidos com os demônios na atualidade.
Paulo, mesmo, disse que, nos últimos tempos, apostatariam alguns da fé dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a própria consciência (I Tm.4:2), tempo em que não sofreriam a sã doutrina, mas tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas (II Tm.4:3).
– Pedro, também, alertou-nos que se introduziriam encobertamente heresias de perdição por falsos mestres e muitos seguiriam as suas dissoluções pelos quais será blasfemado o caminho da verdade e, por avareza, fariam de nós negócios com palavras fingidas (II Pe.2:1,2).
– Judas, por fim, diz que haveria aqueles que seriam manchas em nossas festas de fraternidade, nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra partes, árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas e desarraigadas (Jd.12).
– São pessoas que, ocultamente, estão envolvidas com doutrinas espúrias, com a idolatria, com a mentalidade contrária à Palavra de Deus, participando de sociedades secretas, de organizações que estão a adotar princípios e preceitos contrários às Escrituras e ao Cristianismo, que estão, verdadeiramente, a preparar o caminho para o Anticristo, cujo governo é iminente.
– Aqueles sacerdotes, que eram os mais proeminentes do povo, estavam todos envolvidos com estas abominações, o que deve ter sido uma grande decepção para Ezequiel. Entre eles, o profeta pôde distinguir Jazanias, filho de Safã.
As Escrituras não nos dizem quem era este homem, mas, certamente, deveria ser alguém notável na classe sacerdotal e cuja presença ali deve ter decepcionado muito o profeta.
– Interessante, aliás, ver que “Jazanias” significa “o Senhor ouve”, ou seja, embora os setenta dos anciãos de Israel estivessem ali às escondidas, o Senhor ouvia tudo o que eles diziam, toda a sua invocação àqueles ídolos, uma vez mais a demonstrar a Sua onipresença e onisciência. Tanto Deus ouvia e Se desagradava com o que era falado, que tudo estava a revelar ao profeta Ezequiel, “em tempo real”.
– E o que o Senhor ouvia? O Senhor estava ouvindo a suprema arrogância daqueles homens que diziam:
“O Senhor não nos vê, o Senhor abandonou a terra” (Ez.8:12).
– Esta afirmação daqueles homens revelava a sua incredulidade e a sua cegueira espiritual. Por primeiro, dizer que o Senhor não nos vê era negar a onipresença divina, era descrer tudo quanto as Escrituras diziam a respeito de Deus.
– Por segundo, dizer que o Senhor havia abandonado o Seu povo era desconsiderar todas as mensagens que os profetas estavam a dar ao povo para que eles se arrependessem, em especial, o profeta Jeremias, que, há décadas, estava a trazer mensagens da parte do Senhor.
– Deus tudo via e não havia abandonado o Seu povo. Os sacerdotes idólatras é que estavam cegos espiritualmente e da pior cegueira, pois, como disse Jesus, pior cego é que aquele que não quer ver, razão pela qual o pecado nele permanece e acaba se perdendo eternamente (Jo.9:40,41), bem como haviam abandonado a Deus, de forma deliberada, razão pela qual não alcançariam a misericórdia divina.
III – A VISÃO DAS MULHERES E DOS SACERDOTES IDÓLATRAS
– O Senhor levou o profeta até a entrada da porta da casa do Senhor, que está da banda do norte.
– Ali, na entrada da casa, onde já se mostrara a imagem dos ciúmes (Ez.8:3), o Senhor mostrou a Ezequiel mulheres assentadas que choravam por Tamuz (Ez.8:14).
– Como se pode verificar, de pronto, as abominações não se limitavam aos sacerdotes, que formavam, podemos assim dizer, a elite religiosa do país e que deveriam fazer a intercessão diante de Deus pelo povo.
– As mulheres, que não tinham qualquer função sacerdotal, também estavam alheias às coisas de Deus, também tinham apostatado da fé.
– Na porta da casa de Deus, indiferentes ao culto, mantinham-se assentadas, ou seja, numa posição confortável, sem intenção de locomoção, de costas para a parte coberta do templo (pois estavam viradas para o norte), chorando por Tamuz.
– Quem era Tamuz? Tamuz era um ídolo babilônico, provavelmente um dos primeiros ídolos a terem surgido em Babilônia, que era o deus da fertilidade e um pastor, que, segundo a lenda, morria e ressuscitava todos os anos, sendo uma figura muito próxima a Baal.
– As mulheres estarem a chorar por Tamuz, ou seja, a provavelmente “lamentar a sua morte” e desejar a sua ressurreição era a mais profunda demonstração de idolatria e isto dentro da casa do Senhor, lembrando que tais cultos da fertilidade muitas vezes eram associadas a práticas de orgias sexuais e à prostituição, sendo, pois, elucidativo, que as mulheres ali estivessem.
– Temos aqui uma situação similar a que se encontrava o tabernáculo em Siló, pouco antes de sua destruição, nos dias de Eli, onde também havia farta prostituição promovida pelos próprios filhos do sumo sacerdote, Ofni e Fineias (Cf. I Sm.2:22).
– Uma das características da apostasia espiritual é o aumento da prostituição e dos pecados contra o próprio corpo, porquanto a imoralidade sexual é um caminho a mais na depravação da humanidade (Cf. Rm.1:24).
– Não é diferente em nossos dias. Vivemos dias terríveis, em que a imoralidade sexual campeia e domina, inclusive entre os que cristãos se dizem ser. As estatísticas, inclusive, têm demonstrado como a pornografia, por exemplo, tem invadido a vida de muitos servos de Deus, inclusive pastores.
– Tamuz tem encontrado guarida dentro da casa do Senhor e, lamentavelmente, já são muitos os que dão as costas para o Senhor e para a Sua Palavra, preferindo servir à prostituição. Que Deus nos guarde!
– Mas, como se isto fosse pouco, o Senhor ainda disse ao profeta que ele veria ainda maiores abominações e o levou até o átrio interior da casa do Senhor, ou seja, ao local entre o altar de sacrifícios e a parte coberta do templo, “entre o pórtico e o altar”, lugar somente acessível aos sacerdotes (e não nos esqueçamos que Ezequiel era um sacerdote – Ez.1:3), onde então pôde Ezequiel contemplar vinte e cinco homens que, de costas para o templo do Senhor e com o rosto para o oriente, adoravam o sol, voltados para o oriente (Ez.8:16).
– Assim como as mulheres, eles estavam dando as costas para o templo, voltavam-se para o oriente, ou seja, para a entrada do templo, mas estavam adorando o sol.
– Enquanto as mulheres choravam por Tamuz, estes sacerdotes adoravam o sol, em mais uma manifestação de idolatria, deixando de cultuar ao Criador para cultuar uma criatura, revelando, assim, sua completa insensatez espiritual (Cf. Rm.1:23).
– Este culto ao sol e aos astros em geral, diz a tradição judaica, teria sido um dos primeiros fatores que teria levado Abrão a abandonar a idolatria de seus conterrâneos.
Abrão teria dito, segundo um midrash (ensinamento baseado nas Escrituras por meio de histórias e interpretações não literais dos doutores da lei): “…digo que o sol é mais venerável do que a terra, porque ilumina o mundo todo com seus raios.
Porém o sol também não chamo de deus, porque sua luz é obscurecida quando chega a escuridão. A lua e as estrelas não chamo ainda de deuses, porque sua luz também se extingue quando passa sua hora de brilhar. Mas ouça o que vou lhe dizer, meu pai, Tera: o Deus que criou todas as coisas, ele é o verdadeiro Deus.
Ele tingiu os céus e dourou o sol, e deu esplendor à lua e também às estrelas; secou a terra de entre as muitas águas, e também colocou o senhor sobre a terra e, quanto a mim, buscou-me a despeito da confusão dos meus pensamentos.…” (OLIVEIRA, Marcello de. Um midrash de Abrão e Terá. Disponível em: http://davarelohim.com.br/web/um-midrash-de-abraao-e-tera/ Acesso em 20 dez. 2021).
– Como se verifica, portanto, aqueles sacerdotes estavam renegando o próprio Abrão, “o primeiro judeu”, renegando a sua própria condição de propriedade peculiar de Deus entre os povos (Cf. Ex.19:5).
– Esse voltar para o oriente e esta adoração ao sol, aliás, também nos faz lembrar de algo que poucos têm falado mas que é uma triste e dura realidade em nossos dias, que é a infiltração maçônica. Os maçons costumam denominar o lugar onde se reúnem de “Grande Oriente”, que é também o nome que recebem federações e confederações de lojas maçônicas.
– A Maçonaria tem se infiltrado em meio às igrejas cristãs e tal infiltração é uma verdadeira abominação. São os que dão as costas ao templo do Senhor e passaram a se “voltar para o oriente”.
Os maçons não adoram o sol, mas, bem ao contrário, adoram o homem, que entendem ser capaz de, sozinho, alcançar a perfeição, repetindo a crença na mentira satânica de que se pode ser igual a Deus, sabendo o bem e o mal, independentemente da ação divina.
– Adorar a criatura em vez do Criador, dar as costas para o Senhor e a Sua Palavra, trocar as promessas divinas pelas imaginações humanas, eis o que faziam aqueles vinte e cinco homens, eis o que fazem muitas lideranças em nossos dias, trazendo filosofias e doutrinas de homens (Is.29:13; Mc.7:7; Tt.1:14) e de demônios (I Tm.4:1) para por elas se guiar.
– A infiltração maçônica está umbilicalmente relacionada com o predomínio do espírito do Anticristo em meio à chamada Cristandade (Cf. I Jo.2:18; 4:3; II Jo.7) e é um fato decisivo para o surgimento da religião mundial que dará amparo à adoração ao Anticristo e ao diabo na Grande Tribulação e cujo princípio já estamos contemplando claramente.
– Esta, aliás, é a última e, pelo contexto, a maior de todas as abominações, porque é a que corrompe o próprio culto a Deus, que impede que se adore ao Senhor, pondo em lugar do Criador a criatura, impedindo que as pessoas pudessem ter acesso ao Senhor, como obstáculos que eram aqueles homens entre o pórtico e o altar.
– Depois de terem enchido a terra de violência, o povo judaíta tornava a irritar ao Senhor com as abominações na Sua casa e, ao fazerem isso, numa expressão um tanto quanto enigmática, eles teriam “chegar o ramo ao seu nariz” (Ez.8:17)
– Matthew Henry, o grande comentarista bíblico, assim explica esta expressão: “…uma expressão proverbial que talvez denote a sua intenção de escarnecer a Deus e o seu menosprezo contra Ele.
Eles suspiravam nas cerimônias dele, como os homens fazem quando colocam um ramo em seus narizes.
Ou talvez este fosse algum costume usado pelos idólatras em honra aos ídolos a que serviam.…” (Comentário bíblico edição completa – Antigo Testamento: livros proféticos – Isaías até Malaquias. Trad. de Valdemar Kroker, Haroldo Jansen e Degmar Ribas Júnior, p.653).
IV – O ANÚNCIO DO CASTIGO DIVINO DIANTE DAS ABOMINAÇÕES DO TEMPLO
– Deus não apenas mostrou ao profeta que via tudo quanto se passava, pois Ele é o Senhor que tudo vê (Gn.16:13,14; Sl.138:11.12; Mt.6:6,18), que tudo observa, como também haveria de tomar providências diante de tal impenitência, pois é Ele, também, o Deus que julga o homem, o justo juiz (Gn.18:25; Jr.11:20; II Tm.4:8).
– Muitos, em nossos dias, acham que podem esconder de Deus o que fazem, a vida hipócrita que estão a viver, esquecendo-se de que nada se pode ocultar do Senhor e que, a Seu tempo, tudo que estiver oculto será devidamente revelado (Mt.10:26; Mc.4:22; Lc.12:2), bem como todos terão de prestar contas diante do Senhor (Hb.4:13), a começar pela casa de Deus (I Pe.4:17,18).
– Por isso, o Senhor gritou com grande voz na presença de Ezequiel, mandando fazer chegar os intendentes da cidade, cada um com as suas armas destruidoras na mão (Ez.9:10).
– O Senhor demonstra toda a Sua soberania, pois a Sua condição de juiz decorre de Seu senhorio sobre todas as coisas. Todas as coisas Lhe pertencem (Sl.24:1) e, por isso mesmo, temos de prestar contas a Ele de tudo que nos confiou, pois nada é nosso, tudo é d’Ele (I Cr.29:11-14).
– Assim, ante a impenitência do povo judaíta, que, a começar dos superiores até os mais simples do povo se recusavam a obedecer a Deus e cometiam abominações na própria casa do Senhor, chegara o momento do juízo, da aplicação do castigo, da destruição mesma do povo.
– Observemos que Deus é bom e d’Ele só vem o bem (Tg.1:17) mas também d’Ele vem o castigo, como reação ao pecado do homem e à recusa em se arrepender (o que é a impenitência).
– O Senhor, então, haveria de aplicar o máximo castigo previsto no pacto estabelecido com os israelitas quando eles entraram na Terra Prometida, que seria a perda da Terra e a destruição dos impenitentes (Lv.26:27-32; Dt.28:61-63).
– Vieram, então, seis homens a caminho da porta alta, que olha para o norte, cada um com as suas armas destruidoras na mão e, entre eles, um homem vestido de linho, com um tinteiro de escrivão à cinta (Ez.9:2).
– Os homens que fariam a destruição eram seis, e sabemos que, na numerologia bíblica, o número seis representa o homem.
O castigo divino, as assolações sofridas são decorrentes da ação humana, jamais da ação divina. Deus reage à impenitência humana, o mal advindo da justiça divina tem origem no pecado, na desobediência da humanidade.
– Estes homens estavam se dirigindo para uma das portas da cidade de Jerusalém, ou seja, atingiriam toda a cidade, porque Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; II Cr.19:7; Jó 34:19; At.10:34).
– Entretanto, como dissemos, o castigo é decorrência da impenitência e, portanto, entre aqueles homens que trariam a destruição, apareceu um homem vestido de linho, e o linho é o símbolo da justiça dos santos (Ap.19:8), a fim de que fossem assinalados os que se mantiveram fiéis a Deus mesmo em meio a tantas abominações, o remanescente fiel, pois, como disse o próprio Senhor a Seu amigo Abraão quando este intercedia pelas cidades da planície (Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim), Deus não trata igualmente o justo e o ímpio (Gn.18:25).
– Este homem vestido de linho foi convocado para que assinalasse as testas dos homens que suspiravam e gemiam por causa de todas as abominações que se cometiam no meio da cidade (Ez.9:4).
– Vemos, assim, que uma característica dos justos, do remanescente fiel que seria poupado da destruição, era que eles suspiravam e gemiam por causa das abominações que eram cometidas.
– Temos aqui uma oportunidade de fazermos um autoexame e verificarmos se pertencemos, ou não, ao remanescente fiel do povo de Deus.
– Qual é a nossa reação diante das abominações que vemos sendo cometidas no meio da casa de Deus nos dias hodiernos?
– Consentimos com tais abominações, seja participando delas, seja nos omitindo e permitindo que elas sejam impunemente cometidas?
E aqui impossível não nos lembrarmos da célebre afirmação do pastor batista norte-americano Marthin Luther King Jr. (1929-1968): “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons.”
– O apóstolo já nos adverte de que são tão dignos de morte os que cometem os pecados como os que consentem que eles sejam cometidos (Rm.1:32).
– Os justos são aqueles que suspiram e gemem ao ver as abominações serem cometidas. Muito provavelmente, não tinham qualquer condição de impedir que elas fossem cometidas, até porque, consoante já tivemos oportunidade de verificar ao analisar as revelações dadas ao profeta, aqueles que deveriam zelar pela observância da lei eram os primeiros a praticar as abominações.
– No entanto, mesmo na sua impotência, na sua pouca força social, política e econômica, aquele remanescente fiel não deixava de suspirar e gemer por causa da prática do pecado, de pedir a Deus que agisse e que fizesse cessar aquele estado de coisas.
– Assim são os justos deste período de princípio de dores, como nos mostra o próprio Senhor Jesus ao descrever a igreja de Filadélfia, tipo da igreja que será arrebatada, ao afirmar que se trata de uma igreja que tem pouca força, mas que, mesmo assim, guardou e não negou a Sua Palavra (Ap.3:8).
– Jamais concordemos com a apostasia espiritual de nossos dias, jamais pratiquemos ou consintamos com a prática das abominações que se estão a fazer na casa do Senhor.
Continuemos a confiar em Deus e a suspirar e gemer, e o Espírito Santo estará conosco também nesta atitude (Rm.8:26), pedindo que o Senhor venha fazer cessar este lamentável estado de coisas.
– Os seis homens com as armas destruidoras somente poderiam agir depois que os fiéis tivessem suas testas assinaladas, em mais uma demonstração de que a Igreja não passará pela Grande Tribulação, pois Deus não mistura o justo com o ímpio quando aplica um juízo.
– Depois que os fiéis foram assinalados, a ordem divina é peremptória: todos os demais deveriam ser exterminados, ninguém deveria ser poupado e toda a cidade foi destruída, todos os impenitentes, mortos (Ez.9:5-7).
– Somente o profeta ficou, depois do extermínio, e, sendo, como era, um homem de Deus, Ezequiel não se alegrou com aquela situação, passando ele, então, a interceder pelo povo de Israel, temeroso de que a nação que estava em Canaã fosse completamente destruída (Ez.9:8).
– Entretanto, o Senhor respondeu ao profeta de que a maldade tinha sido grandíssima, que a terra havia se enchido de sangue e de perversidade e que o povo, na sua impenitência, tinha dito que o Senhor havia deixado a terra e nada mais estava a ver.
– Notamos, portanto, que o povo não mais cria em Deus, não fazia questão de Sua presença e o resultado disto, a consequência disto foi a sua completa destruição. Não haveria compaixão (Ez.9:9,10).
– É interessante observar, também, que, além de nada ser feito antes que fossem poupados os fiéis, a glória do Senhor também foi retirada da Sua casa (Ez.9:3).
– No momento do juízo, a glória do Senhor sai do templo, que, sem a presença de Deus, nada mais era que um simples edifício.
– Assim será a Terra após o arrebatamento da Igreja: um lugar onde haverá o juízo divino, sem a manifestação da glória divina nem tampouco a presença daqueles que são “o sal da terra e a luz do mundo”.
– Por isso, amados irmãos, preparemo-nos para que, no momento do arrebatamento, encontremo-nos com o Senhor nos ares, pois, se está sendo muito difícil viver neste mundo, em meio a tantas abominações, que nos faz suspirar e gemer, que será vivermos num lugar onde o juízo de Deus estará presente e a Sua glória ausente? Onde a destruição será ampla por determinação do Senhor? Que Deus nos guarde!
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/8238-licao-3-as-abominacoes-do-templo-i