LIÇÃO Nº 5 – O AVIVAMENTO NA VIDA DA IGREJA 

INTRODUÇÃO 

– Na sequência do estudo sobre o avivamento, estudaremos hoje como se dá o avivamento na vida da Igreja. 

– A Igreja somente executa sua tarefa se estiver avivada. 

I – O AVIVAMENTO DA IGREJA É INDICADO NO DIA DE PENTECOSTES 

– Na sequência do estudo sobre o avivamento, o chamado das Escrituras para o quebrantamento e o poder de Deus, estudaremos como se dá o avivamento na vida da Igreja. 

– A Igreja, o grande mistério de Deus (Ef.3:4-6), revelado pelo Senhor Jesus (Mt.16:18), é “…a assembleia universal dos santos de todo os lugares e de todas as épocas, cujos nomes estão escritos nos céus (…) fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo (…) tendo a doutrina dos apóstolos por fundamento e Jesus a principal pedra de esquina (…) a coluna e firmeza da verdade. É a comunidade do Senhor…” (DFAD, XI, p.119). 

– A Igreja é o povo formado pelo Senhor Jesus que deveria prosseguir a Sua obra na face da Terra durante o período conhecido como “dispensação da graça”, ou seja, o tempo em que Deus deixa à disposição do homem a Sua oferta salvadora, tendo já completado a obra salvífica prometida desde o dia mesmo da queda. 

– Muito se discute quando nasceu a Igreja. Revelado o mistério pelo Senhor em Cesareia de Filipe, no exato instante em que o Pai revelou a Pedro que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo, era a Igreja, ainda, um povo que haveria de surgir, pois o Senhor Jesus foi claro ao disse que a edificaria, ou seja, não a tinha ainda edificado. 

– Para que pudesse surgir a Igreja, mister se fazia que Jesus derramasse o Seu sangue na cruz do Calvário, pois é pelo Seu sangue que os que estavam longe se aproximam de Deus (Ef.2:13), pois é ele quem nos purifica de todo o pecado (I Jo.1:7), que nos tira o pecado (Jo.1:29) e, sem pecado, não há mais divisão entre nós e o Senhor (Is.59:2). 

– Por isso, entendem muitos que a Igreja é concebida na própria cruz, simbolicamente quando o Senhor derrama Suas últimas gotas de sangue, que são seguidas de água, quando lancetado pelo soldado romano (Jo.19:34), como que, como último Adão (I Co.15:45), de Seu lado surgisse a Sua mulher, que é a Igreja. A Igreja teria, então, tido o “seu corpo” como que formado naquela ocasião. 

– Ressurreto, o Senhor teria, então, gerado a Igreja na tarde do domingo da ressurreição, ao soprar sobre os discípulos e lhes dar o Espírito Santo (Jo.20:19,22), que não lhes poderia ser dado antes que tivesse sido o Senhor glorificado (Jo.7:38,39). 

– Já gerada e viva, no entanto, ela só “nasceria”, seria revelada ao mundo no dia de Pentecostes, quando, então, iniciaria a sua tarefa de dar continuidade ao trabalho de Jesus, pois é Seu corpo (I Co.12:27). 

– Observemos, de pronto, que a vida da Igreja começa no Calvário, quando o Senhor Jesus paga o preço dos nossos pecados e compra a nossa redenção. Não há como falar-se em Igreja viva se o Calvário não estiver presente, se não houver a fé no sacrifício vicário de Jesus na cruz. 

– Não é por outro motivo que uma das ordenanças do Senhor para a Igreja é, precisamente, a comemoração de Seu sacrifício na ceia do Senhor, pois não podemos jamais nos esquecer que é o sacrifício de Cristo no Calvário que nos trouxe a salvação. 

– Mas, além do sacrifício de Cristo, há a necessidade do recebimento do Espírito Santo. Quando cremos em Jesus, o Espírito Santo vem habitar em nós, somos selados pelo Espírito (Ef.1:13), tornamo-nos “morada de Deus no Espírito” (Ef.2:22), “templos do Espírito Santo” (I Co.6:19). 

– É o Espírito Santo quem nos faz ter comunhão com o Senhor, que nos vivifica (Jo.6:63; II Co.3:6). Assim, não há como ficarmos vivos sem a presença do Espírito Santo, pois é a lei do Espírito da vida que nos livra do pecado e da morte em Cristo Jesus (Rm.8:2). 

– A vida espiritual, possibilitada pelo sacrifício de Cristo, é mantida pela presença do Espírito Santo, o Vigário de Cristo, ou seja, Aquele que o Jesus mandou para ficar ao nosso lado em Seu lugar, que nos mantém em comunhão com o Senhor e libertos do pecado e da morte. 

– Por isso mesmo, o Senhor mandou que os discípulos ficassem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc.24:49), para que, então, pudessem ser testemunhas de Cristo em todas as partes do planeta (At.1:8), tendo, assim, condições de poder dar continuidade à obra do Senhor na face da Terra. 

– Assim, como o próprio Jesus foi cheio do Espírito Santo para poder exercer o Seu ministério no dia em que foi batizado por João no rio Jordão, revelando-se como o Cristo, assim, também, a Igreja só pôde começar a realizar a obra para a qual foi enviada pelo Senhor no dia em que recebeu o Espírito Santo (Jo.20:21,22), quando é também cheia do Espírito Santo, o que ocorreu no dia de Pentecostes (At.2:4), revelando-se como o corpo de Cristo. 

– A primeira observação que temos a fazer é que, no dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar (At.2:1), o lugar determinado pelo Senhor Jesus. Estavam em obediência ao Senhor Jesus, no lugar determinado por Ele (Lc.24:49).  

Não nos esqueçamos que o cenáculo foi o lugar designado pelo próprio Jesus para que ali Ele pudesse participar da última páscoa e da primeira ceia com Seus discípulos (Mc.14:12-15). 

– Não há avivamento se não estivermos no lugar determinado pelo Senhor, se não estivermos em comunhão com Ele. Precisamos ter íntima comunhão com Jesus, Ele cear conosco e nós com Ele (Cf. Ap.3:20). 

– Temos de ser obedientes ao Senhor Jesus, e esta obediência somente ocorre quando O amamos (Jo.14:21; 15:14) e o segredo da permanência do amor de Deus em nós, que foi derramado pelo Espírito Santo em nossos corações (Rm.5:5), é guardarmos os Seus mandamentos (Jo.15:10). 

– Mas, além de estar no mesmo lugar, no lugar determinado pelo Senhor, eles estavam reunidos, ou seja, estavam todos com o mesmo propósito, o mesmo objetivo, havia entre eles união. Os irmãos precisam viver em união, pois somente assim pode haver a plenitude do Espírito Santo (Sl.133:1,2).  

A comunhão com Deus e a comunhão entre os irmãos são os dois fatores que permitem a livre ação do Espírito Santo no meio do povo de Deus. 

– É na união que temos a vida e a bênção para sempre (Sl.133:3). Não se pode falar em avivamento sem que se tenha vida e a vida tem o seu lugar na união. O avivamento é a principal bênção que vem para a Igreja e o lugar para que a bênção venha e seja permanente é a união. 

– Os discípulos estavam há dez ou sete dias em oração. Estavam no cenáculo perseverando em oração e súplicas (At.1:14).  

Não há condição para termos uma avivamento se não estivermos em oração, se não nos dedicarmos à vida de oração, à busca do poder de Deus. O verdadeiro servo de Jesus sabe que tem o dever de orar sempre e nunca desfalecer (Lv.18:1). 

– Pelo que inferimos das Escrituras, Jesus deu a ordem para que os discípulos ficassem em Jerusalém para mais de quinhentos irmãos (Cf. I Co.15:6), mas o fato é que, sete ou dez dias depois, só estavam ali quase cento e vinte (Cf. At.1:15). Nem todos perseveraram em oração e súplicas, mas só os que perseveraram é que receberam o revestimento de poder. 

– Nos dias em que vivemos, é nítido o arrefecimento da vida de oração em muitos dos que cristãos se dizem ser e não é, portanto, surpreendente que o número de batizados no Espírito Santo tenha diminuído sensivelmente entre os sedizentes pentecostais. Urge voltarmos à perseverança da oração e súplicas! 

– Outra circunstância interessante é que o revestimento de poder aconteceu “de repente”, ou seja, no tempo de Deus. O avivamento não pode ser programado pelos homens, é algo que vem do céu e, como Deus é atemporal, ocorre no “tempo de Deus”, não no tempo que queiramos ou pensemos. 

– Hoje sabemos que o dia de Pentecostes era a data apropriada para o revestimento de poder, que a festa das semanas era tipo do derramamento do Espírito Santo, mas isto não era conhecido dos discípulos. Não tinham eles a mínima ideia de quando se daria o revestimento de poder, a não ser que isto ocorreria “não muito depois destes dias”, como disse o Senhor a eles (At.1:5). 

– Eles tinham de se manter em oração e súplicas, no lugar determinado por Deus, em comunhão com o Senhor e com os irmãos para que recebessem a virtude do Espírito Santo. De igual maneira, temos de estar para receber a manifestação sobrenatural do Espírito, como também para sermos arrebatados pelo Senhor Jesus. 

– “De repente” veio um som como de um vento veemente e veio do céu (At.2:2). O avivamento é algo que vem do céu, não é resultado de procedimentos humanos, de “estratégias”, “visões”, “revelações” ou “fórmulas” criadas pelos homens. Infelizmente, nos dias em que vivemos, não são poucos os “fabricantes de avivamento” que existem por aí, apenas enganando o povo e confundindo aqueles que têm o legítimo desejo de intensificar as suas vidas espirituais. 

– O avivamento trouxe a plenitude do Espírito Santo, que foi demonstrada mediante o falar em línguas estranhas, e, por isso mesmo, eles tiveram aquela visão de línguas repartidas como que de fogo que descia sobre cada um deles. 

– Não há como termos um genuíno e autêntico avivamento se não houver o revestimento de poder, o batismo no Espírito Santo, cuja evidência física é o falar em outras línguas, conforme concessão do próprio Espírito, sem a atuação do intelecto do que fala. 

– Além da evidência do falar em outras línguas, temos que a mensagem que era ouvida pelos que foram atraídos por aquele barulho era sobre as grandezas de Deus.  

A atuação sobrenatural do Espírito Santo tem como objetivo fazer as pessoas ouvir a respeito das grandezas de Deus. O Espírito Santo veio glorificar o Filho (Jo.16:14) e o Filho glorifica ao Pai (Jo.17:4). 

– Portanto, o avivamento genuíno não tem outro papel senão o de anunciar o Evangelho, a salvação na pessoa de Jesus Cristo, levar à evangelização, à conversão das almas. Muito feliz foi o teólogo Gutierres Fernandes Siqueira ao afirmar que “…o Batismo no Espírito Santo é um revestimento de poder para testemunhar àqueles que não se converteram (Atos 1.8, 2.1-47).  

Não é à toa que a língua sempre está presente no Batismo do Espírito Santo” (Revestidos de Poder: Uma Introdução À Teologia Pentecostal. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018. p 92 apud Por que cremos na doutrina da evidência inicial? Disponível em: https://teologiapentecostalcom.wordpress.com/2018/08/04/por-que-cremos-na-doutrina-da-evidencia-inicial/ Acesso em 22 nov. 2022). 

– A conversão de pessoas é fator indispensável para que se tenha um verdadeiro e genuíno avivamento.  

Charles Finney (1792-1875), um dos grandes nomes do Segundo Avivamento Norte-Americano e ele próprio um estudioso bíblico do avivamento, definia o avivamento como “renovação do primeiro amor dos cristãos, que resulta em despertamento e conversão de pecadores a Deus”. 

– No dia de Pentecostes, foram salvas quase três mil pessoas, a demonstrar que este é o resultado de um genuíno e verdadeiro avivamento (At.2:41). 

– O avivamento leva a uma reação do maligno. Logo que a multidão se aglomerou nas imediações do cenáculo, chegaram os “mensageiros do inimigo” para tentar desacreditar aquela cena, dizendo que os discípulos eram pessoas embriagadas (At.2:13). 

– Entretanto, foi precisamente este comentário maldoso que serviu de mote para que Pedro iniciasse a pregação e buscasse a salvação das almas, que é o objetivo do revestimento de poder (At.2:14,15). 

– O revestimento de poder não só faz com que nossas línguas sejam controladas pelo Espírito Santo, dando uma mostra de total rendição ao Senhor, visto que a língua é o órgão mais rebelde ao senhorio divino (Cf. Tg.3:6-12), como também, de igual maneira nosso falar será totalmente controlado pelo Espírito Santo quando anunciarmos a salvação aos homens. 

OBS: “…Assim como o Espírito nos dá o falar em línguas de maneira sobrenatural, o Senhor Jesus, da mesma forma, nos dará as palavras de anúncio do Seu evangelho mediante a Sua graciosa vontade.  

Jesus mesmo disse: “porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem” (Lucas 21.15).…” (SIQUEIRA, Gutierres Fernandes. A glossolalia: o sacramento pentecostal. Disponível em: https://teologiapentecostalcom.wordpress.com/2017/12/02/a-glossolalia-o-sacramento-pentecostal/ Acesso em 22 nov. 2022). 

– Tanto assim é que vemos, nitidamente, a ação do Espírito Santo na pregação de Pedro, porquanto há aqui uma desenvoltura nos textos bíblicos, na sua interpretação e aplicação, que, evidentemente, ainda que possa ter um conteúdo decorrente dos ensinos do Senhor Jesus aos discípulos (e, neste aspecto, também se tem aqui a ação do Espírito Santo, que é que nos faz lembrar o que foi dito por Jesus – Jo.14:26), é evidente iluminação sobrenatural para o anúncio do Evangelho. 

– O avivamento é, portanto, uma situação em que se tem a nítida “oitiva da voz de Deus” aos salvos, numa intensificação da comunhão com o Senhor, que nos permite ser dirigidos pelo Espírito Santo, a fim de glorificarmos o nome do Senhor e levarmos as pessoas ao conhecimento da verdade. 

– A sobrenaturalidade, portanto, tem um propósito bem claro, que é o de levar as pessoas a Cristo, de apresentar-lhes a salvação e este aspecto é assaz importante, porque nos faz distinguir o avivamento verdadeiro e genuíno de manifestações sobrenaturais que, por não terem este foco, apresentam-se como ações humanas ou até mesmo demoníacas. 

– O apóstolo Paulo, por exemplo, reproduzindo expressa fala do Espírito Santo, disse que, nos últimos tempos, haveria manifestações que levariam as pessoas a apostatar da fé, precisamente porque dariam ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios (I Tm.4:1). 

– Porventura, não é o que se verificou na chamada “bênção de Toronto”, o verdadeiro berço da famigerada “nova unção” e tantas outras aberrações (“dente de ouro”, “cai-cai”, “unção de animais” etc.), como admitiu um de seus líderes, o pastor canadense Paul Gowdy, que diz que o resultado de três anos de tais manifestações pois praticamente a destruição da igreja local onde elas ocorriam? 

OBS: Veja parte do relato de referido pastor, publicado no jornal O Mensageiro da Paz, n. 1468 (set/2007): “Depois de três anos fazendo parte do núcleo da bênção de Toronto nossa Igreja Vineyard em Scarborough ao leste de Toronto, praticamente se autodestruiu. Devoramo-nos uns aos outros com fofocas, falando mal pelas costas, com divisões, partidarismo, críticas ferrenhas uns dos outros, etc.  

Depois de três anos “inundados” orando por pessoas, sacudindo-nos, rolando no chão, rindo, rugindo, rosnando, latindo, ministrando na igreja Internacional do Aeroporto de Toronto, fazendo parte de sua equipe de oração, liderando o louvor e a adoração naquele local, praticamente vivendo ali, tornamo-nos os mais carnais, imaturos, e os crentes mais enganados que conheci. Lembro-me de haver dito ao meu amigo e pastor principal da igreja de Vineyard de Scaraborough em 1997 de que, desde que a bênção de Toronto chegou ficamos esfacelados. Ele concordou.  

Minha experiência é de que as manifestações dos dons espirituais de 1 Coríntios 12 eram mais comuns em nossas reuniões antes de janeiro de 1994 (quando começou a bênção de Toronto) do que durante o período da suposta visitação do Espírito Santo.…” (apud SANCHES, Ciro Zibordi. Bênção ou maldição de Toronto (2)? Disponível em: https://cirozibordi.blogspot.com/2007/08/aos-que-tm-dvidas-sobre-o-cai-cai-4.html Acesso em 23 nov. 2022). 

– O avivamento produziu a conversão das pessoas. Elas tiveram seus corações compungidos pela palavra pregada (At.2:37), confessaram seus pecados e demonstraram publicamente o seu arrependimento e sua mudança de vida acatando a ordem de Jesus e se batizando nas águas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (At.2:41). 

– O batismo nas águas não salva, mas é uma demonstração de salvação. É “…o testemunho público da experiência anterior, o novo nascimento, mediante a qual o crente participa espiritualmente da morte e da ressurreição de Cristo…” (DFAD, XII, p.126). 

– O batismo nas águas mostra bem qual é o efeito do avivamento: o surgimento ou ressurgimento da novidade de vida, pela qual nós morremos para o mundo e o pecado e passamos a viver para Deus (Rm.6:1-4; Cl.2:12). 

II – O AVIVAMENTO CONTÍNUO DA IGREJA 

– Tendo visto o dia de Pentecostes como sendo o fato que, a exemplo do batismo de Jesus com relação ao ministério público do Senhor, nos mostra as características do avivamento na vida da Igreja, prossigamos a observar como se deu o avivamento na vida da Igreja, tal qual nos relatam as páginas do Novo Testamento, em especial o livro de Atos dos Apóstolos. 

– Notemos que o avivamento ocorrido no dia de Pentecostes se manteve na igreja de Jerusalém. Esta continuidade se deve à perseverança na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At.2:42). 

– O avivamento não é uma catarse, um “descarrego” emocional, de curta duração, uma momentânea e passageira descarga emocional, como muitos têm defendido por aí. 

– Bem pelo contrário, o avivamento, embora seja, como afirma o teólogo John Stott (1921-2011), “uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira toma consciência de Sua santa presença e é surpreendida por ela”, não é algo fugaz, um “fogo de palha”.  

Trata-se de uma chegada do Espírito Santo que gera um novo estado de coisas, uma nova situação de espiritualidade. 

– Assim, a igreja nascente de Jerusalém, após o impacto do derramamento do Espírito Santo, permaneceu naquele patamar a que foi levada pelo revestimento de poder. A pregação de Pedro continuou mediante o ensino ininterrupto da Palavra de Deus, devidamente iluminado pelo Espírito Santo. Uma igreja avivada jamais despreza a meditação, o estudo e o cumprimento das Escrituras. 

– O que vemos na igreja de Jerusalém são os seus membros em contínua reunião, tanto no templo quanto nas casas, recebendo o ministério da palavra por parte dos apóstolos (At.5:42; 6:2,4). A igreja vivia aprendendo a Palavra de Deus e a anunciando aos que se haviam de salvar. 

– Não há como se manter um avivamento sem que se dê primazia à Palavra. Veja que os apóstolos, ao notarem que as tarefas de assistência social estavam prejudicando o ministério da Palavra, trataram de criar o diaconato, para que não houvesse dano neste importantíssimo aspecto. 

– O ensino e meditação das Escrituras, ademais, não se resumia apenas às reuniões coletivas da membresia, mas também ocorria nas casas, ou seja, as pessoas se dedicavam ao estudo e meditação da Palavra também em suas residências e isto numa época em que não tinham acesso a livros, ou seja, memorizavam os textos e sobre eles “ruminavam” em casa. 

– Por isso mesmo, muitos deles, quando iam anunciar o Evangelho, iam até mesmo a sinagogas, onde disputavam com os judeus nas Escrituras, mostrando que Jesus era o Cristo (At.6:7,9; 9:20-22). 

– Já podemos perceber, portanto, porque, em nossos dias, não encontramos mais o avivamento que caracterizou as duas primeiras gerações de nossa denominação. 

Pergunte aos membros mais antigos e eles certamente se referirão a estudos bíblicos constantes nas igrejas locais, à grande frequência aos cultos de ensino e às Escolas Bíblicas Dominicais, a uma constante meditação nas Escrituras, mesmo entre os analfabetos, aos cultos domésticos e a uma intensa evangelização com base em textos e passagens bíblicos por parte de todos. É hora de voltarmos a perseverar na doutrina dos apóstolos! 

– O avivamento aproxima-nos dos céus, faz-nos mais intensamente ligados ao Senhor e, por isso mesmo, faz com que reconheçamos a nossa condição de membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27) e que a obra de Deus tem de ser feita coletivamente, pois necessitamos uns dos outros para nosso crescimento espiritual e, deste modo, há uma intensificação na comunhão. Por termos comunhão mais intensa com Deus, temos comunhão igualmente mais intensa com os irmãos. 

– Como afirma Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), o príncipe dos pregadores britânicos: “…Quando fomos unidos por fé, a Cristo, fomos levados a tal comunhão plena com Ele que nos tornamos um com o Senhor, e Seus interesses e os nossos se tornaram mútuos e idênticos. Temos comunhão com Cristo em Seu amor.  

O que Ele ama nós amamos. Ele ama os santos — e nós também. Ama os pecadores — nós também. Ele ama a pobre raça humana que está perecendo e anela ver os desertos da Terra transformados em jardim do Senhor — assim também nós.…” (Dia a dia com Spurgeon, manhã e noite, p.666). 

– Na igreja de Jerusalém, havia um compartilhamento de vida. Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum (At.2:44), estando juntos tanto no templo quanto nas casas. Passam a conviver, ou seja, a viver juntos, muitos até literalmente. 

– Em nossos dias, entretanto, temos verificado, cada vez mais, que está comunhão é substituída pela multidão, pelo auditório, ou seja, as pessoas se reúnem no mesmo lugar, muitas vezes em megatemplos, como uma multidão, ou seja, um aglomerado de pessoas que não têm qualquer vínculo entre si, que não se conhecem, nem sequer sabem os nomes umas das outras. São meros ajuntamentos que só trazem benefícios financeiros, como se verifica nos espetáculos e eventos midiáticos da atualidade. 

– Não é, aliás, por outro motivo que muitos, com a pandemia do COVID-19 e as restrições de aglomeração, acabaram “percebendo” que tanto fazia estar em casa assistindo ao culto “on line” como estar fisicamente no templo, uma vez que já se encontravam totalmente desvinculadas das demais pessoas e, por isso, com o final das restrições, preferiram continuar participando remotamente das atividades eclesiásticas. 

– O avivamento faz-nos sentir que precisamos dos irmãos para termos crescimento espiritual, que não há como alcançarmos a santificação almejada, de nos mantermos firmes e constantes na vida espiritual, sem que tenhamos o auxílio dos outros salvos, sem que também ajudemos aos nossos irmãos.  

A salvação nos insere no corpo de Cristo, pois somos batizados em um Espírito, formando um corpo e temos bebido de um mesmo Espírito (I Co.12:13) e um corpo não é um só membro, mas muitos (I Co.12:14). 

– Não querendo ser saudosista, mas, se formos também indagar aos membros mais antigos de nossa denominação, teremos a notícia de que esta convivência era uma realidade nas duas primeiras gerações das Assembleias de Deus, não raras vezes os irmãos passando os domingos todos juntos na realização da obra do Senhor, até levando alimentação em marmitas para consumo na hora do almoço, pois todos faziam juntos a obra de Deus, sem falar na frequência de todos nas residências de todos. 

– Em decorrência, os irmãos também perseveravam no partir do pão e aqui podemos tanto nos referir à ajuda material recíproca como na própria participação na ceia do Senhor, que é a declaração da comunhão com Deus e com a Igreja. 

– Na igreja de Jerusalém, havia uma ação social relevante, com a ajuda aos necessitados, impedindo que tivessem carências materiais, assunto que era considerado um “importante negócio” (At.6:3). 

– Chegou-se mesmo à venda de propriedades e fazendas por parte dos mais abastados, que repartiam tais recursos com todos (At.2:45), atitude que demonstrava o desprendimento existente quanto aos bens terrestres, sentimento que é próprio de quem ama a Deus (Mt.6:24). 

– Por fim, havia uma perseverança nas orações, ou seja, aquela mesma circunstância que levou ao derramamento do Espírito Santo foi mantida pelos que se converteram, havia uma vida de contínua oração e o avivamento se caracteriza por esta incessante busca do poder de Deus. 

– A igreja de Jerusalém vivia em contínua oração, tanto no templo (At.3:1), quanto nas casas (At.12:12). 

– A perseverança nas orações é outra necessidade para o avivamento. As reuniões de oração eram uma constante na igreja de Jerusalém e nos cultos regulares a oração ocupava grande espaço. Não se podia ter outro resultado, senão a demonstração do poder de Deus (At.4:31;5:12) 

– Esta busca incessante do poder de Deus leva, então, a outro patamar o avivamento, como se vê no livro de Atos dos Apóstolos, quando se tem o recebimento dos dons espirituais. 

– Neste estado de avivamento, os apóstolos começam a manifestar os dons espirituais, como se verifica no caso do coxo da porta Formosa do templo, quando Pedro e João manifestam os dons de curar (At.3:1-10). 

– A distribuição dos dons espirituais pelo Espírito Santo entre os salvos (I Co.12:7-11) dá-se após o revestimento de poder e, quando se tem a perseverança na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações, cria-se o ambiente propício para que haja tal manifestação do Espírito, pois, por primeiro, é preciso conhecer a existência e o propósito destes dons; por segundo, que se entenda membro em particular do corpo de Cristo e que se deve estar pronto a servir aos demais irmãos; por terceiro, deve-se cultivar a comunhão com Deus e com os irmãos e, por fim, se deve buscar cada vez mais o poder de Deus. 

– A manifestação do Espírito Santo por intermédio dos dons, além de cumprir o propósito de consolar, edificar e exortar a Igreja (I Co.14:3), fazendo-a sentir, de modo sobrenatural, a presença, o poder e a ciência do Espírito Santo como Aquele que está ao lado do povo de Deus até o arrebatamento (Jo.14:16,17), tem o papel de manter os crentes vivificados, com o foco na salvação das almas e na preparação para a eternidade. 

– Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo diz que devemos procurar com zelo os dons espirituais (I Co.14:1), pois eles promovem a edificação da Igreja, o seu crescimento espiritual e manifestarão a presença de Deus entre nós, o que serve como um catalisador para a salvação das almas, pois os sinais, seguindo aos que creem, levam as pessoas a crer que Jesus é o Salvador (At.2:43; 4:4,29-31; 5:12; 6:8). 

– Os dons espirituais não são os únicos dons que se manifestam num avivamento. Os dons ministeriais também se fazem perceber nitidamente num ambiente de avivamento.  

A igreja de Jerusalém não tinha só os apóstolos, mas também evangelistas, como Estêvão (At.6:9,10); profetas, como Judas e Silas (At.15:32); pastores, como Tiago, o irmão do Senhor (At.15:13; Gl.2:9) e doutores, como Barnabé (At.4:36; 13:1). 

– Diferente não foi a igreja de Antioquia, a primeira igreja gentílica, onde também havia profetas e doutores, como Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio, cireneu, Manaém e Saulo (At.13:1). 

– Num ambiente de avivamento, os dons ministeriais proliferam e são plenamente exercidos, sem que sejam sufocados ou estigmatizados e o aperfeiçoamento dos santos é promovido para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, fazendo com que todos se aproximem da medida da estatura completa de Cristo, impedindo que ventos de doutrina venham a abalar a vida espiritual da membresia, mas permitindo que, em amor, a igreja seja edificada e aumentada (Cf. Ef.4:11-16). 

– De igual maneira, o avivamento produz a proliferação dos chamados dons assistenciais ou “dons de serviço” (Rm.12:6-8).  

Já vimos como se desenvolveu na igreja de Jerusalém o dom de repartição, como também o de misericórdia.  

A vida de plena comunhão também fez com que se exercesse o dom de ministério, como também se vê nitidamente o dom de ensino desempenhado. As lideranças bem desempenhavam o dom de presidência e, por fim, a pregação do Evangelho em toda a cidade (Cf. At.5:28), dá mostra de que como se estava a exercer o dom assistencial da profecia. 

– Evidentemente que o avivamento também faz com que se recrudesça a batalha espiritual. As portas do inferno sempre se levantam contra a Igreja. Assim como o inimigo logo veio tentar o Senhor Jesus, no início de Seu ministério, e se manteve contra Cristo durante todo o Seu ministério, o mesmo ocorre com a igreja. 

– Jesus Cristo já dissera aos discípulos que o mundo os aborreceria (Jo.15:18-21), como também que, no mundo, teriam aflições (Jo.16:13). Deste modo, não tardou que se iniciasse a perseguição à igreja em Jerusalém, que acabou pela própria expulsão dos crentes de lá, com exceção dos apóstolos (At.8:1). 

– A perseguição contra os cristãos em Jerusalém e Judeia manteve-se até a destruição de Jerusalém e do templo no ano 70, como revelam tanto as Escrituras (At.9:1,2; 12:1,2; I Ts.2:14,15; Hb.12:3,4) como a própria história, como nos dá conta Flávio Josefo que narra, em suas Antiguidades Judaicas, o martírio de Tiago, o irmão do Senhor, então pastor de Jerusalém, o que também é repetido por Eusébio de Cesareia em sua História Eclesiástica. 

OBS: “…Anano, um dos de que nós falamos agora, era homem ousado e empreendedor, da seita dos saduceus, que, como dissemos, são os mais severos de todos judeus e os mais rigorosos nos julgamentos. 

Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não tinha chegado, para reunir um conselho, diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento.  

Esse ato desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham verdadeiro amor pela observância de nossas leis.…” (JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas XX, cap.8, 856. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.2, p.203). 

“…Quando Paulo apelou a César e foi enviado a Roma por Festo, os judeus, desapontados em sua esperança de vê-lo atingido pela trama por eles armada, voltam-se contra Tiago, o irmão do Senhor, a quem os apóstolos haviam confiado o assento episcopal em Jerusalém. Suas medidas nefastas contra ele foram as seguintes:  

Eles o conduziram para um lugar público e exigiram que renunciasse à fé em Cristo diante de todo o povo, mas contrariando as expectativas de todos, em voz firme e muito acima do que esperavam, declarou-se por completo diante de toda a multidão e confessou que Jesus Cristo era o Filho de Deus, nosso Salvador e Senhor.  

Não conseguindo mais suportar o testemunho daquele que, por causa do elevado nível que tinha atingido na virtude e na piedade, era considerado o mais justo dos homens, mataram-no, usando como ensejo a anarquia reinante, já que Festo havia morrido na Judeia, deixando o distrito sem governante nem líder.  

Ora, quanto ao modo pelo qual Tiago morreu, já foi declarado pelas palavras de Clemente: que ele foi lançado de uma ala do templo e espancado com um malho até a morte.…” (CESAREIA, Eusébio de. História eclesiástica. Trad. de Lucy Iamakami, livro 2, capítulo XXIII, p.72). 

– A perseguição é uma característica que acompanha a igreja e o avivamento somente a exacerba, pois uma igreja avivada é mais atacada pelo inimigo, seja porque, tendo mais condições de resistir, há uma permissão divina para que tal ocorra, seja porque os próprios cristãos atacam com mais veemência o maligno, pois têm a missão de abrir os olhos das pessoas e das trevas as converterem à luz e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam a remissão dos pecados e sorte entre os santificados pela fé em Jesus (At.26:18). 

– Outro problema que se verifica em meio ao avivamento é o surgimento de falsos ensinos que procuram tumultuar a vida espiritual da membresia.  

Na igreja de Jerusalém, alguns membros que tinham sido fariseus começaram a defender posturas judaizantes, querendo que os cristãos gentios se circuncidassem e observassem a lei de Moisés (At.15:5), causando grande controvérsia que exigiu a reunião de todas as lideranças da igreja para definirem a questão (At.15:6). 

– O Senhor permite que surjam heresias no meio do povo de Deus para que haja a manifestação dos crentes sinceros (I Co.11:19), até porque, da análise das questões que exsurgem, haja, por parte dos crentes, devidamente iluminados e dirigidos pelo Espírito Santo, uma melhor compreensão das Escrituras (Cf. At.15:28,29). 

– Estes dois fatores negativos sempre acompanham o avivamento, mas, como Deus sempre faz o bem, são circunstâncias que, em vez de enfraquecerem, fortalecem os salvos e lhes dão forças para prosseguir na sua peregrinação terrena rumo aos céus. 

Pr. Caramuru Afonso Francisco 

Glória a Deus!!!!!!!