A igreja é edificada sobre Cristo e a Sua doutrina.
INTRODUÇÃO
– Dando continuidade ao estudo da carta de Paulo aos efésios, estudaremos hoje Ef.2:19-22.
– A igreja é edificada sobre Cristo e a Sua doutrina.
I – CONCIDADÃOS DOS SANTOS E FAMÍLIA DE DEUS
– Na sequência do estudo da carta de Paulo aos efésios, prosseguimos na apresentação que o apóstolo faz aos seus destinatários a respeito deste povo que se formou com a obra salvífica de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
– Depois de ter aguçado a “grata memória” dos efésios, a fim de que eles dessem o devido valor à sua salvação, pela qual haviam se tornado “novo homem” (Ef.2:15), obtendo a reconciliação por meio de Cristo e de Seu sacrifício vicário (Ef.2:16) e,
em consequência, passado a ser parte integrante do novo povo de Deus (Ef.2:4), o apóstolo passa a trazer ao conhecimento de seus leitores como era a estrutura deste povo que tinha acesso ao Pai em um mesmo Espírito, que se aproximou de Deus pelo sangue de Cristo.
– Por terem agora acesso ao Pai e não estarem mais longe de Deus, tendo sido reconstituída a amizade com Deus, este novo homem, este novo povo não era mais estrangeiro, mas concidadão dos santos.
– Os gentios eram, antes, “estranhos aos concertos da promessa”, ou seja, eram estrangeiros, pessoas mantidas à margem da lei, do governo, dos direitos e de tudo que significava um “modus vivendi” de acordo com os parâmetros e princípios estabelecidos pelo Criador.
– Para bem compreendermos esta descrição, faz-se preciso utilizar-se do conceito de nação tal como expresso pelos ensinos tradicionais da geografia e de outras áreas das ciências humanas.
Nação é o conjunto de pessoas que compartilham de uma mesma cultura, ou seja, de uma mesma maneira de viver, tendo os mesmos costumes, a mesma língua, os mesmos hábitos, as mesmas leis e tradições.
– As nações surgiram quando do episódio da torre de Babel, quando a comunidade única pós-diluviana foi desfeita ao se rebelar contra Deus, que confundiu as línguas e, assim, impedindo a comunicação,
fez com que cada grupo que podia se comunicar se separasse dos demais e se espalhasse sobre a face da Terra, criando, cada uma, seus próprios hábitos, costumes, tradições e lei, conforme o local que ocupavam para ali sobreviver.
– Pois bem, estas nações, que são as gentes, os gentios, aos quais depois se acrescentou Israel, formada por Deus a partir de Abraão, em virtude da obra de Cristo, deram origem a uma nova nação, a Igreja, este corpo formado da união de gentios e de judeus, que superou a separação decorrente do pecado, ante o sacrifício vicário de Jesus, cujo sangue fez com que se tivesse um povo que agora estava perto do Senhor, que não mais vivia em inimizade com Ele.
– O primeiro elemento indispensável para o surgimento de uma nação é o elemento humano, ou seja, não é possível falar-se em nação se não houver pessoas.
Paulo mostra que a nação chamada Igreja tem como primeiro elemento “o novo homem” criado em Cristo mesmo (Ef.2:15).
– Este novo homem é a “nova criatura” (II Co.5:17; Gl.6:15). Ela foi criada em Cristo mesmo, ou seja, é obra exclusiva do perdão dos pecados operado pela fé em Jesus, na Sua obra salvífica, em Seu sacrifício.
Esta nova criação resulta da remissão feita pelo derramamento do sangue de Jesus na cruz do Calvário (Hb.9:12), pois quando cremos em Cristo e no Seu sacrifício, somos gerados de novo pela semente incorruptível, que é a Sua Palavra (Rm.10:17; I Pe.1:23).
– O segundo elemento da nação é a comunhão, ou seja, o fato de as pessoas compartilharem de uma maneira de vida comum, ou seja, vivem todas do mesmo jeito, tendo a mesma língua, os mesmos costumes, os mesmos hábitos, as mesmas tradições.
É por isso que quem não comunga deste mesmo “modus vivendi” é “estranho”, é “estrangeiro”.
– Os integrantes da nação Igreja têm comunhão com Deus e com os seus “conacionais”. Todos, pelo sangue de Cristo, aproximam-se de Deus, passam a participar da Sua natureza, tendo acesso às Suas promessas, porque escaparam da corrupção que há no mundo pela concupiscência (II Pe.2:4).
– Inseridos todos em um só corpo, tem um só Espírito, uma só esperança da vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos (Ef.4:4,5).
São unidos ao Senhor pelo mesmo amor que fez com que o Senhor Jesus Se entregasse por nós (Jo.3:16; Rm.5:8).
– Por isso mesmo, exsurge uma comunhão entre os “conacionais”, que passam a amar uns aos outros assim como Jesus os amou (Jo.15:12), de modo que o amor fraternal é presença indispensável nos relacionamentos entre eles (Rm.12:10; I Ts.4:9; II Pe.1:5-7).
– Esta realidade da comunhão entre os integrantes da nação Igreja é declarada periodicamente na ceia do Senhor, quando, ao tomarmos o pão, dizemos que somos participantes do corpo de Cristo, que somos partes deste corpo,
dependendo dos outros irmãos para prosseguir a carreira que nos está proposta, como também participamos do vinho, afirmando que estamos em comunhão com Deus pelo sangue de Cristo.
– Não é por acaso, pois, que um dos elementos que Lucas faz questão de distinguir na igreja primitiva era a perseverança na comunhão (At.2:42,44).
– O terceiro elemento da nação é a cultura, ou seja, a mesma maneira de viver. Esta maneira de viver, à evidência, não se refere a elementos concernentes a língua ou outros aspectos terrenos que permanecem distintos na igreja,
como o próprio apóstolo Paulo lutou para que assim fosse, impedindo que os judaizantes impusessem aos salvos gentios a lei mosaica ou as tradições israelitas. O próprio Espírito Santo orientou a Igreja neste sentido (At.15:28,29).
– No entanto, a nação Igreja deve imitar o seu Salvador (I Co.4:15,16; 11:1; Hb.13:7), e eis o motivo pelo qual são seus integrantes chamados de “cristãos” (At.11:26; I Pe.4:16),
palavra cujo significado é de “parecido com Cristo”, “pequeno Cristo”. Temos um referencial de vida, temos um modelo, um exemplo a ser seguido (I Pe.2:21).
– Não somos mais ”estrangeiros”, ou seja, estamos agora inseridos neste corpo por Cristo Jesus e desfrutamos de todas as promessas reservadas aos filhos de Deus. Fomos adquiridos pelo Senhor Jesus, “comprados por bom preço” (I Co.6:29. 7:23), podendo agora assentar na mesa do Senhor (I Co.10:16-18).
– O estrangeiro fica alheio ao que é da nação. Abraão, por exemplo, por ser estrangeiro na terra de Canaã, não tinha sequer lugar para enterrar o seu morto (Gn.23:4), mas, agora, em Cristo, temos acesso ao Pai e a tudo quanto Ele quer nos dar (Ef.2:18). Não estamos mais alheios às bênçãos espirituais (Ef.1:3).
– Além de estrangeiros, também não somos mais “forasteiros”. Forasteiro sempre está relacionado ao estrangeiro ou ao estranho no texto bíblico (Lv.25:45; Is.5:17; Lm.5:2; Ob.11; I Pe.2:11), tendo, pois, praticamente o mesmo significado. É aquele que está “do lado de fora”, que “vem de fora”.
– O apóstolo dos gentios faz questão de nos lembrar que não “somos mais de fora”. Verdade que, antes, estávamos separados de Deus, estávamos fora do povo de Deus, mas, agora, fomos “postos do lado de dentro”, ingressamos no povo de Deus mediante o perdão dos pecados e a adoção de filhos.
“Nascemos de novo” e este “novo homem” foi posto dentro do corpo de Cristo, o que Paulo chama de ”batismo no Espírito” (At.12:13), que não pode ser, em absoluto, confundido com o “batismo com o Espírito Santo”, que é o “revestimento de poder”.
– Por isso, não pode a Igreja “importar” as coisas do mundo, pois não há qualquer comunhão entre este povo santo e o mundo, que está no maligno (I Jo.5:19).
Somos “igreja”, ou seja, os “reunidos para fora”, ou seja, saímos do mundo, abandonamo-lo e, deste modo, nada trazemos de lá para o interior do corpo de Cristo, nem podemos fazê-lo. Não somos “forasteiros”.
– Eis o porquê de não haver a possibilidade daqueles que não foram inseridos no corpo de Cristo permanecerem enquanto tais no meio da congregação dos justos (Sl.1:5; Hb.10:25; I Jo.2:19). Não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14).
Ora, este “modus vivendi” é a maneira santa de viver (I Pe.1:15), uma vida separada do pecado, pois o Senhor Jesus nunca pecou (Jo.8:46; Hb.4:15; 9:28) e, se estamos a imitá-l’O, também não podemos pecar. O apóstolo João faz questão de dizer que o filho de Deus não vive pecando (I Jo.3:9).
– Estando em comunhão com um Deus santo, cuja santidade é incessantemente proclamada nos céus (Is.6:3), não podemos senão ter um modo santo de viver, abandonando aquele que recebemos, por tradição, de nossos pais, que é um modo vão (I Pe.1:18), ou seja,
vazio de Deus, o que é característico do que existe neste mundo sem Deus e sem salvação, que o sábio Salomão denominou de “vaidade de vaidades” (Ec.1:2).
– Eis o porquê de Paulo ter dito que somos “concidadãos dos santos” (Ef.2:19). Passamos a integrar um corpo que é santo, compartilhamos de santidade com os demais membros desta nação, estamos em comunhão com o Senhor Jesus, que é o Santo de Deus (Mc.1:24; Lc.1:35; 4:34).
– A afirmação de que somos “concidadãos dos santos” apresenta, por primeiro, a informação de que a Igreja é um grupo, é uma reunião de pessoas, que formam “uma cidade”, ou seja,
“uma nação”, mais uma demonstração de que é completamente sem respaldo bíblico e mentirosa a defesa de uma espiritualidade isolada, de um “individualismo espiritual”, que tem se verificado, nos últimos tempos, no chamado “movimento dos desigrejados”.
– Mas, também, mostra a extrema necessidade de que haja santidade entre os integrantes do povo de Deus. A santidade é essencial à Igreja e sem a santificação ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).
– Na lâmina de ouro que ficava na testa do sumo sacerdote no culto levítico, havia uma gravura que dizia: “Santidade ao Senhor” (Ex.28:36; 39:30; Lv.8:9).
Aqui vemos simbolizada a necessidade de se apresentar em santidade diante de Deus, bem como o realce que se dá a esta qualidade do nosso sumo sacerdote, o Senhor Jesus Cristo.
– Esta comunhão dos santos, porém, não deve ser interpretada, como fazem os romanistas, como uma permissivo para a comunicação entre os salvos que fazem parte da chamada “igreja militante” ou “igreja atuante”,
“…aquela que ainda milita na Terra, formada por todos aqueles que seguem a Cristo, lutam contra a carne, o mundo, o diabo, o pecado e a morte…”
(Declaração de Fé das Assembleias de Deus, XI.4, p.121), e a “igreja triunfante”, ou seja, os salvos que já dormiram no Senhor (I Ts.4:14).,
“…constituída dos irmãos que já partiram deste mundo, tendo vencido todos os seus inimigos e que agora estão com o Senhor Jesus.…” (Declaração de Fé das Assembleias de Deus, ibid.).
– Esta comunhão dos santos não supera a separação da morte física, algo que somente será alcançado na glorificação, quando, então, sim, reunidos seremos com o Senhor nos ares (I Ts.4:15-17). Não existe qualquer intercessão dos falecidos em favor dos que ainda estão sobre a face da Terra por força desta comunhão dos santos.
– Neste clima de comunhão, o apóstolo diz que é a Igreja a “família de Deus” (Ef.2:19).
– Por primeiro, cumpre observar que, ao dizer que a Igreja é a “família de Deus”, temos a lembrança de que a Igreja, como toda nação, é formada de famílias.
A estrutura familiar é fundamental na Igreja, deve ser sempre cuidada, porque a vida espiritual não elimina esta realidade (I Co.16:19; Cl.4:15; Fm.2).
– Nem poderia ser diferente, porquanto tanto a família quanto a Igreja são instituições criadas por Deus e, portanto, tendo a mesma origem, é evidente que são instituições afins, que, não sendo idênticas e tendo funções diversas, complementam-se, não se opõem.
– Mas a Igreja é também chamada de “família de Deus”, porque há um relacionamento familiar entre seus integrantes e entre eles e Deus. Deus é Pai de todos (Ef.4:6), pois todos são filhos de Deus por adoção (Rm.8:15; Ef.1:5) e, por conseguinte, somos todos irmãos (Rm.8:29).
– Sendo “família de Deus”, há necessidade de termos um relacionamento norteado pelo amor, pois é esta a principal característica desta instituição chamada “família” (Ef.5:25,2,28,29).
– A sociologia considera que a família é um “grupo social primário”, um grupo em que os relacionamentos são estabelecidos com base nos sentimentos, nas afeições, nas emoções, como também no envolvimento completo entre os membros.
Na família, os relacionamentos são firmados pela intimidade. Era assim que vivia a igreja primitiva em Jerusalém (At.2:44-46).
– Nos dias hodiernos, vemos quão distantes estão muitos deste modelo bíblico. Privilegia-se ou um modelo de “igreja multidão”, em que as pessoas se aglomeram mas sem qualquer envolvimento de uns com os outros, sendo uma “massa” que se ajunta por conta de um evento (o “culto”),
sem qualquer contato mais profundo com que estão à sua volta, ou, então, o modelo de “igreja empresa”, onde se tem tão somente uma organização de trabalho, onde há ênfase a metas e a objetivos, sem qualquer envolvimento entre as pessoas.
Tanto um quanto outro caso são a contrafação do modelo bíblico, que é “a família de Deus”.
II – A EDIFICAÇÃO DA IGREJA
– O apóstolo não descreve apenas a condição deste povo de Deus seja em relação ao mundo, seja em relação a Deus, seja em relação aos demais salvos. Faz questão, também, de mostrar a estrutura deste povo, agora comparado não mais a um corpo, mas a um edifício, a uma edificação.
– A utilização desta analogia não era estranha aos discípulos. O próprio Senhor Jesus, ao revelar o mistério da Igreja, em Cesareia de Filipe, fê-lo se utilizando desta figura, ao dizer que “edificaria a Sua Igreja” (Mt.16:18).
– Ao dizer que a Igreja é um edifício, Paulo faz questão de dizer que a principal pedra da esquina é o Senhor Jesus.
É Ele a pedra fundamental, o fundamento da Igreja (Mt.16:18; I Co.3:11; II Pe.1:4,6).
– Aos coríntios, Paulo já havia dito que Jesus é o fundamento e que não há outro (I Co.3:11), expressão que afasta totalmente a interpretação equivocada, novamente dos romanistas, de que a “pedra” mencionada em Mt.16:18 é Pedro, uma das passagens em que se procura construir a doutrina do Papado.
– O próprio Pedro diz que a pedra é Cristo (I Pe.2:4,6), o que é confirmado por Paulo. A Igreja tem seu fundamento em Cristo, é o Senhor Jesus quem é a base da Igreja.
Foi por Seu amor, provado na cruz, que podemos fazer parte deste povo. A Igreja é o Seu corpo.
– Cristo foi recusado pelo mundo, pelos gentios e pelos judeus, mas, justamente porque nós O aceitamos, n’Ele cremos, fazemos parte da Igreja, razão pela qual é Ele o fundamento, o alicerce de toda vida espiritual, de todos os concidadãos dos santos e da família de Deus.
– Outro ponto importante a ser salientado quando Jesus é denominado “pedra da esquina” ou “pedra angular”.
Ora, “…A pedra angular era a pedra fundamental utilizada nas antigas construções, caracterizada por ser a primeira a ser assentada na esquina do edifício, formando um ângulo reto entre duas paredes.
A partir da pedra angular, eram definidas as colocações das outras pedras, alinhando toda a construção.
A pedra angular é o elemento essencial que dá existência àquilo que se chama de fundamento da construção.
Atualmente, a pedra angular seria semelhante ao alicerce dos prédios contemporâneos.…” (Pedra angular. Disponível em: https://www.significados.com.br/pedra-angular/ Acesso em 26 fev. 2020).
– Ao assim denominar o Senhor, o apóstolo mostra, claramente, a uma, que é de Jesus que parte toda a construção da Igreja, toda a sua edificação; a duas, que é Ele o fundamento da Igreja, a sua base, o seu alicerce; a três, que é Ele quem mantém unido a todos os demais elementos da edificação, pois, como diz João Crisóstomo (347-407),
“…é Cristo quem retém tudo em união. Porque é a pedra angular que une as paredes e as fundações.…” ( Sobre Efésios – Homilia 6 – Ef.2:17-3:8. Cit. Ef.2:11-22, n. 601. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 26 fev. 2020) (tradução Google de texto em francês).
– Ou, ainda, a lição de Tomás de Aquino (1225-1274): “…Três coisas se dizem d’Ele [Cristo, observação nossa], a saber: que é pedra, que é angular, que é principal.
Pedra, por causa da firmeza das fundações, como é dito em São Mateus 7, que a casa fundada em pedra foi construída com tanta firmeza que nem a chuva, nem os rios, nem os ventos poderiam destruí-la.
Não é assim a casa fundada na areia (Dn.2). Diz-se angular pela conjunção dos dois povos, doutrinas e Testamentos; porque, assim como no ângulo, duas paredes estão unidas, assim, em Cristo, o povo dos gentios e o dos judeus estavam unidos (Sl. 117; At.4; Mt.21).
Suma ou principal por sua excelente dignidade. “Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada” (Is. 28:16).…” (Sobre Efésios. Cit. Ef.2:11-22. n.13. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 28 fev. 2020) (tradução Google alterada por nós de texto em espanhol).
– Se Cristo é o fundamento, a principal pedra da esquina, não há como fazer parte da Igreja e não se basear na Bíblia Sagrada, pois as Escrituras são as testemunhas de Jesus (Jo.5:39).
Não se tem a menor possibilidade de se pertencer à Igreja e não ter a Bíblia como única regra de fé e prática.
Como diz o item 1 do nosso Cremos: “[CREMOS] Na inspiração divina verbal plenária da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé e prática para a vida e o caráter cristão (I Tm.3:14-17)”.
– Quando temos o desprezo ou o menosprezo das Escrituras na vida de alguém ou de um grupo de sedizentes cristãos, saibamos que tais pessoas estão a demonstrar que não pertencem ao povo de Deus, são ou falsos irmãos, ou, então, irmãos que estão na direção da apostasia.
– A edificação se dá sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, entendido este fundamento como as próprias Escrituras, que são os escritos dos apóstolos (Novo Testamento) e dos profetas (Antigo Testamento).
Lucas, ao descrever a igreja primitiva, diz que se tratava de um grupo que perseverava na doutrina dos apóstolos (At.2:42), que nada mais é que o ensino de Jesus, que o ensino que se encontra revelado na Bíblia Sagrada.
– Não é possível termos crescimento espiritual, termos edificação, termos o crescimento da Igreja e, portanto, de cada um dos seus integrantes se não se estiver estribado no “fundamento dos apóstolos e dos profetas”.
É neste sentido que podemos dizer que a igreja é “apostólica”, como constou do Credo Niceno (Declaração de Fé das Assembleias de Deus, p.218) e do Credo Niceno-Constantinopolitano (DFAD, p.219).
– A igreja é “apostólica” porque segue a “doutrina dos apóstolos”, ou seja, segue os ensinamentos de Jesus Cristo, ensinamentos estes que Jesus transmitiu aos apóstolos e eles aos que creram na pregação do Evangelho, ensinos que passam de geração a geração, constantes das Escrituras Sagradas, que são compreendidas e entendidas por nós pela ação do Espírito Santo, que nos ensina (Jo.14:26), que nos guia em toda a verdade (que é a Palavra-Jo.17:17) (Jo.16:13) e nos faz lembrar tudo quanto Cristo disse (Jo.14:26).
– Por isso mesmo, não tem o menor cabimento o que hoje se tem entendido e dito como “igreja apostólica”, ou seja,
uma igreja que crê na existência de “apóstolos”, verdadeiros intermediários entre Cristo e o povo de Deus, supostas autoridades sob as quais devem os fiéis se abrigar sob uma “cobertura”.
– Paulo mostra claramente que nada disso que tem sido veiculado em nossos dias tem qualquer respaldo bíblico.
É Jesus quem nos salva e é com Ele que mantemos comunhão, tendo acesso ao Pai em um mesmo Espírito, não havendo qualquer intermediário neste relacionamento.
Fujamos deste comportamento que nada mais é que falsificação da Palavra de Deus (II Co.,2:17; 4:2). Deixemos de lado estas “apostolices”.
– Um outro entendimento é possível a respeito destes “fundamentos dos apóstolos e dos profetas”, qual seja, o da própria evolução da obra de Deus, da própria evangelização.
Como o apóstolo mostrará ainda nesta epístola, Cristo institui dons ministeriais, verdadeiros “homens-dons” na Igreja querendo o aperfeiçoamento dos santos. São os cinco dons – apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores (ou mestres) (Ef.4:11).
– A Igreja estabelece-se num determinado lugar na face da Terra sob a ação destes ministros.
Tudo se inicia com o apóstolo, aquele “enviado” pelo Senhor Jesus para dar início à igreja num determinado local, o desbravador, o missionário, o “apóstolo do Espírito Santo” para aquela localidade, como bem ensina o pastor Antonio Sebastião da Silva Filho, diretor da Faculdade Teológica de Santo André (FATESA).
– Em seguida ao apóstolo, temos a chegada do profeta, como vemos na igreja primitiva, tanto em Jerusalém (At.11:27) quanto em Antioquia (At.13:1),
o qual vinha trazer mensagens de Deus e expor a Palavra de Deus, completando assim o trabalho apostólico, para, então, devidamente evangelizados os que são ganhos para Cristo, possam eles passar a evangelizar, surgindo, então, a figura do evangelista e,
em seguida, a figura do pastor, que será aquele que apascentará o povo reunido pelo trabalho apostólico, pastor que será devidamente auxiliado pelo mestre ou doutor, completando-se assim o ciclo, dando-se por implantada mais uma igreja local.
– Vemos, pois, que o “fundamento dos apóstolos e profetas” também pode representar a evangelização que deve a Igreja fazer por todo o mundo a toda criatura consoante o mandado do Senhor (Mt.28:19,20; Mc.16:15; Lc.24:46,47; Jo.20:21), uma evangelização baseada na pregação de Cristo e Cristo crucificado (At.8:5; I Co.1:23,24; II Co.4:5; Fp.1:15).
– Eis a mensagem que deve transmitir a Igreja, o genuíno povo de Deus. Um povo que tenha outro anúncio que não o “fundamento dos apóstolos e profetas” não pode ser chamado de Igreja.
– Lamentavelmente, são muitos os que, se dizendo cristãos, estão, na atualidade, a trazer mensagens que nada têm que ver com o Evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Falam de autoajuda (como o “coaching” tão em voga em alguns segmentos), de prosperidade financeira, de saúde física, de tudo, menos do Evangelho, da salvação na pessoa de Cristo Jesus.
Vigiemos, amados irmãos. Será podemos, pela mensagem, sermos reconhecidos como povo de Deus?
– Quando temos o fundamento dos apóstolos e dos profetas, o edifício cresce bem ajustado, tendo não só um firme fundamento, que permite que haja um crescimento sem abalo, sem comprometimento da estrutura, como também um crescimento que mantém o prumo, ou seja, sem desvios, sem se afastar dos parâmetros e dos limites estabelecidos desde a base.
– Tem-se, aqui, um outro elemento da nação que é o governo, que nem sempre está presente, já que há nações que estão sob o governo de outras, carecem de independência política.
No entanto, as nações, via de regra, têm governo, ainda que um governo que não seja autônomo, como era o caso, por exemplo, dos judeus nos dias de Jesus, em que, apesar de estarem sob o domínio romano, tinham um governo restrito exercido pelo Sinédrio, notadamente nas questões religiosas.
– Pois bem, para que se tenha um governo, faz-se preciso, também, que se tenha uma lei, um conjunto de normas e regras que estabeleçam a convivência entre os conacionais.
O governo nada mais faz do que elaborar, executar e fazer as cumprir as leis, as regras existentes na nação, criadas e geradas pela cultura que distingue esta nação das demais.
– Com a nação Igreja não é diferente. Tem a Igreja uma lei, um conjunto de normas e regras, que, conforme já vimos, são os “fundamentos dos apóstolos e profetas”, a “doutrina dos apóstolos”, os “mandamentos do Senhor” (At.1:2), a “lei de Cristo” (I Co.9:21; Gl.6:2), a “lei real” (Tg.2:8), “a regra” (Gl.6:16).
– A propósito, o rabino Jacob Neusner (1932-2016) entendia que o “sermão do monte” era uma “nova lei” trazida por Jesus que, para tanto, pôs-Se na posição de Deus, e, portanto, com autoridade para alterar a “lei dos mandamentos” (Ef.2:15).
É, pois, esta lei que rege a nação Igreja, que não é, como entendia o rabino, uma “nova lei”, que teria vindo abolir a anterior, mas, ao revés, a lei de Deus na sua plenitude, no seu mais profundo sentido e significado.
– Esta “lei de Cristo” é muito mais profunda que as leis estabelecidas pelas diferentes nações, como também a lei divina dada a Israel mas, de certo modo, distorcida pelos judeus na interpretação que se lhe deu.
Como bem afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus:
“… Sua grandeza [a grandeza da lei, observação nossa], porém, vai além de tudo isso, pois nela, Deus esboça o plano da redenção humana em Cristo (…).
Seus preceitos jurídicos e suas narrativas históricas são de natureza profética, com significados espirituais profundos e aplicações teológicas em o Novo Testamento…” (DFAD, XVII, p.151).
– “…A função da lei era transitória; ela foi dada por causa do pecado até a vinda do Messias [Gl.3:19] e serviu de aio para nos conduzir a Cristo:
‘Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio’ (Gl.3:25). Nesse sentido, todo o sistema mosaico foi abolido. No entanto, a verdade moral contida na lei foi resgatada sob a graça e adaptada a ela.…” (DFAD, XVII.5, p.154).
– A Palavra de Deus impede que se tenham desvios de conduta e de doutrina ao longo do tempo na Igreja.
O prumo é mantido, porque o Espírito Santo não deixa que o povo de Deus se desvie, se afaste dos regramentos estatuídos por Nosso Senhor e Salvador, pois sempre anuncia o que foi ensinado por Ele (Jo.16:13-15). A Palavra permanece para sempre e é a que foi evangelizada entre nós (I Pe.1:25).
– Não há, pois, espaço algum para “inovações”, “atualizações”, “reciclagens” na doutrina. A passagem do tempo histórico bem assim o desenvolvimento tecnológico-científico não têm o mínimo condão de modificação do que constante na Bíblia Sagrada. A Igreja não tem condições de “mudar” o que recebeu de seu Senhor.
– Infelizmente, muitos já não têm se comportado desta maneira. Estribados numa suposta “mudança dos tempos:” (como se isto fosse verdadeiro, pois, na verdade, nada há de novo debaixo do sol – Ec.1:9-11),
alteram o quanto está nas Escrituras, com invencionices e supostas “contextualizações”, que geram tão somente heresias e falsas doutrinas, que têm causado a apostasia espiritual de muitos. Tomemos cuidado, amados irmãos!
– Esta falta de ajuste pode causar o desmoronamento de todo o prédio, a destruição completa de tudo quanto foi edificado até aqui. Tem sido esta a triste realidade de diversas igrejas locais. Que Deus nos guarde!
– O bom ajuste da edificação tem uma finalidade precípua segundo o apóstolo: o crescimento para templo santo no Senhor (Ef.2:21).
– Somente seremos cristãos se crescermos como templo santo no Senhor. Jesus era este templo, tanto que disse aos judeus que, se eles o derribassem, em três dias Ele o reedificaria (Jo.2:19-21).
A igreja, corpo de Cristo, é este templo santo no Senhor e nós, como casa de Deus que somos (Hb.3:6), assim temos que crescer e isto somente se dará se estivermos firmados na Palavra de Deus, se a cumprirmos, pois é a Palavra que nos santifica (Jo.17:17), que nos limpa (Jo.15:3), que nos purifica (Sl.119:9; Pv.16:6).
– A forma desta edificação será descrita por Paulo mais adiante na epístola, quando falará do governo da Igreja, tendo Cristo como cabeça e Seus ministros (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores) como aqueles incumbidos de promover o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo (Ef.4:11,12).
– O governo da nação chamada Igreja, que está nas mãos do Senhor Jesus, que é a cabeça do corpo (Ef.1:15,16; 5:23), não só faz a lei, como também a executa e a faz cumprir. E, se somos “concidadãos dos santos”, se não somos estrangeiros nem forasteiros, logicamente estamos debaixo desta lei, devendo cumpri-la integralmente.
– Quando nos tornamos templo santo no Senhor, por meio da Palavra de Deus, passamos a ser habitação do Senhor, pois o templo nada mais é que a habitação de Deus. Eis o motivo pelo qual é dito que passamos a ser “morada de Deus no Espírito” (Ef.2:22).
– Para sermos “morada de Deus no Espírito” faz-se absolutamente que guardemos a Palavra de Deus.
O Senhor Jesus diz que Ele e o Pai somente vêm ate nós se guardarmos a Sua Palavra (Jo.14:21-23), provando, assim, que O amamos.
O amor de Deus manifestado em Cristo, sendo acolhido por nós, ao cremos n’Ele, torna-se amor a Ele I(I Jo.4:19) e, em consequência, passamos a ser morada de Deus no Espírito.
– Quando nos tornamos “morada de Deus no Espírito;’, não mais vivemos mas é Cristo que vive em nós (Gl.2:20) e passamos a glorificar ao Senhor, cuja glória será refletida através de nós (II Co.3:18).
– Quando nos tornamos “morada de Deus no Espírito”, somos um com Cristo e, deste modo, teremos condição de sermos instrumento para que os homens glorifiquem ao nosso Pai (Mt.5:16) e creiam que Cristo foi o enviado de Deus ao mundo (Jo.17:21). Em outras palavras, fazemos com que nossa vida seja um anúncio do Evangelho.
– Temos sido “morada de Deus no Espírito”? Ante esta descrição do apóstolo, podemos nos considerar pertencentes ao povo de Deus? Pensemos nisto?
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5260-licao-8-edificados-sobre-os-fundamentos-dos-apostolos-e-profetas-i