LIÇÃO Nº 8 – UMA LIÇÃO DE HUMILDADE

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo do Evangelho segundo João, analisaremos a lição de humildade dada por Jesus aos discípulos no lavapés.
-Jesus é manso e humilde de coração.

I – O QUE É HUMILDADE

-Na sequência do estudo do Evangelho segundo João, analisaremos a lição de humildade dada por Jesus aos discípulos no lavapés.

-Quando vamos ao Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, vemos que humildade é “qualidade de humilde; virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações; modéstia, simplicidade; sentimento de fraqueza, de inferioridade com relação a (alguém ou algo); reverência ou respeito para com superiores; acatamento, deferência, submissão; falta de luxo, de brilho; simplicidade, sobriedade”.

-A palavra latina “humilitas” significava “pouca elevação, pequena estatura; em sentido figurado, condição baixa, abatimento; sentimentos humildes, modéstia”. A raiz “hum-“, que, por sua vez, vem de “humus”, cujo significado é “terra”, de onde vem “humilis”, cujo sentido é “que permanece na terra, não se eleva da terra; humilde, baixo”.

-Como se pode verificar do significado que nos dá o lexicógrafo, a humildade é uma qualidade, uma boa característica de alguém que tem conhecimento de suas limitações, que se sente fraco, que reconhece a sua inferioridade com relação a alguém, que, por isso mesmo, inclina-se a se submeter a este alguém que é superior.

É alguém que sabe que seu lugar, sua posição é pequena, é alguém de “pequena elevação”, alguém vinculado à terra, que fica abaixo dos céus.

-Em termos espirituais, portanto, vemos, com absoluta clareza, que o humilde é aquele que reconhece que se trata de uma criatura terrena, de alguém que foi criado por Deus e que, portanto, deve-Lhe deferência, honra, submissão, obediência.

Trata-se de alguém que tem consciência de que depende do Senhor, que d’Ele precisa, que sem Ele nada poderá fazer (Jo.15:5).

-Ora, quando abrimos a Bíblia Sagrada e vemos, em seu introito, a narrativa da criação, logo percebemos qual é a posição do ser humano em toda a criação: alguém que é posto acima dos seres terrenos, coroa da criação terrena, mas que está, necessariamente, submetido ao seu Criador.

-Tanto assim é que o homem foi posto no jardim que Deus formou para ele no Éden e d’Ele recebeu ordem para que lavrasse e guardasse aquele jardim, como também não comesse da árvore da ciência do bem e do mal (Gn.3:15-17).

-Havia, portanto, uma clara demonstração por parte de Deus de que o homem, apesar do lugar singular que ocupava sobre a face da Terra, deveria submeter-se ao Senhor, deveria entender que sua posição era subalterna, de que ele estava vinculado à Terra (por isso o Senhor lhe lembraria, após a prática do pecado, que ele era pó e a ele deveria tornar – Gn.3:19) e, como tal, sempre dependeria da companhia, da orientação e da direção do seu Criador.

: Por isso, no Pirke Avot, o tratado de sabedoria do Talmude, está escrito: “Sê muitíssimo humilde de espírito, pois o destino do homem é servir de alimento aos vermes” (4:3).

-Esta ideia de humildade está bem presente nos próprios termos utilizados em o Antigo Testamento para se referir a este conceito, como nos mostra o Dicionário VINE. O verbo “Kana>” (כוע), por exemplo, que encontramos em Lv.26:41, tem o sentido de rendição, de submissão a outrem, de aceitação do domínio por parte de alguém.

-A humildade apresenta-se, deste modo, como o reconhecimento da soberania divina, como a constatação de uma inferioridade, de uma necessidade de submissão a um ser superior, uma recusa de autonomia, de independência, uma assunção de dependência de Deus.

OBS: O Alcorão identifica os incrédulos como aqueles que se negam a entender Deus e chama isso de soberba: “Vosso Deus é um Deus Único!

Porém, quanto àqueles que não creem na outra vida, os seus corações se negam (a entendê-lo) e estão ensoberbecidos. Indubitavelmente Deus conhece tanto o que ocultam, como o que manifestam. Ele não aprecia os ensoberbecidos” (16:22,23).

-Bem se vê que a humildade foi a proposta dada por Deus à humanidade, como já dissemos ao mencionarmos os parâmetros estatuídos entre Deus e o homem quando ele foi posto pelo Senhor no jardim do Éden, no estabelecimento da primeira dispensação, a dispensação da inocência.

-Assim, de pronto, vemos que a humildade representa uma atitude que é requerida por Deus ao ser humano, a qualidade que corresponde ao próprio anseio divino em relação ao homem.

-Não é por outro motivo, aliás, que, ao descrever as qualidades que deveriam ter Seus servos, o Senhor Jesus tenha iniciado, precisamente, pela humildade, pois é isto que significa a expressão “pobres de espírito” que retrata a primeira bem-aventurança, como se verifica em Mt.5:3 e que, em algumas versões, como a Versão Almeida Revista e Atualizada e a Tradução Brasileira, aparece como “humildes de espírito”.

OBS: “…Cada um dos elementos das bem-aventuranças resulta do olhar para os discípulos; descrevem o estado dos discípulos de Jesus:

são pobres, famintos, que choram, odiados e perseguidos 9Lc.6:20ss). Trata-se não só de qualificações práticas, mas também teológicas dos discípulos — daqueles que passaram a seguir Jesus e se tornaram a Sua família.…” (BENTO XVI. Jesus de Nazaré: do batismo do Jordão à transfiguração, p.76).

-Em sentido diametralmente oposto a esta proposta divina da humildade, vamos encontrar a proposta satânica da soberba.

Quando o adversário se encontrou com Eva, trouxe a ela uma outra mensagem, qual seja, a de se comesse do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, ela seria “igual a Deus”, sabendo o bem e o mal, teria uma vida independente, sem necessidade de recorrer ao Senhor, passaria a ter uma vida sem qualquer necessidade de Deus, poderia “viver como se Deus não existisse” (Gn.3:5).

-O diabo procura inocular no homem o mesmo sentimento que ele mesmo já tivera, quando quis se elevar acima do próprio Deus (Is.14:13,14) e temos aí precisamente o que se denomina de “soberba”, “orgulho”, “arrogância”.

-Recorrendo uma vez mais ao lexicógrafo, vemos que “soberba” é “sobranceria de algo em relação a outra coisa em plano mais baixo; elevação, sobrançaria; sentimento de altivez, sobranceria; orgulho; comportamento excessivamente orgulhoso; arrogância, presunção”.

-Vem do latim “superbia”, cujo significado é de “orgulho, arrogância; altivez; insolência, presunção; tirania”, cuja raiz é “superb-“, que tem o sentido de “que está acima (dos outros); orgulhoso, arrogante, altivo, insolente, vão; presunçoso (com respeito às pessoas e às coisas); desdenhoso; melindroso, difícil, ilustre, grande, glorioso; excelente, que é de boa qualidade; que cresce acima dos outros”.

-Seu significado é bem expresso pelo substantivo “ga’own” (גאןו). Segundo o Dicionário VINE, esta palavra denota o “orgulho humano”, “…a arrogância, conduta malvada e língua perversa.

Ao tornar-se independente do Senhor, Israel uma nação majestosa, separada por um Deus majestoso, separou-se d’Ele, pretendendo que a excelência era dela. Deus não tolerou esta nova atitude insolente: «O Senhor Jeová jurou por Sua alma; Jeová Deus dos Exércitos disse:

Abomino a soberba de Jacó, e aborreço seus palácios. Entregarei ao inimigo a cidade e todo o que há nela» (Am 6.8 RVA)” (Dicionário VINE. Editorial Caribe. Compilado por Dumane apud semeadoresdapalavra.net, p.249) (tradução nossa de texto original em espanhol).

-Pelo que se pode verificar, portanto, a soberba caracteriza-se por uma consideração de superioridade, de consideração de que se está acima dos outros, de que não há ninguém que lhe possa sobrepor, de que se está no alto.

Era precisamente isto que o diabo achou que poderia ser, situar-se acima de Deus, bem como o que convenceu o primeiro casal a também se achar, pondo-se acima do Senhor.

-À evidência, um sentimento quetal representa uma rebelião contra a ordem estabelecida por Deus, uma ilusão que não resiste a um confronto com a realidade.

-Assim, quando alguém se põe em situação de superioridade em relação a Deus, logo percebe que está diante de um estado irreal, de uma circunstância que, na verdade, representa apenas uma presunção que tem o condão apenas de levá-lo à queda.

-Por isso mesmo, o inimigo de nossas almas, assim que achou que pudesse ficar acima do Senhor, foi levado ao inferno, ao mais profundo do abismo (Is.14:15), tendo também o primeiro casal, assim que comeu do fruto proibido, percebido que estava nu e sentido sua situação difícil quando da chegada do Senhor na viração do dia e perdido o seu lugar no jardim do Éden (Gn.3:7,8,23).

-Jesus foi exemplo de humildade. Ele mesmo mandou que aprendêssemos d’Ele que era manso e humilde de coração (Mt.11:29).

Despojou-Se de toda a Sua glória e Se humanizou para ganhar-nos a salvação (Fp.3:5- 11) e, por este Seu desprendimento, esta Sua inferiorização, foi exaltado pelo Pai e constituído sobre todo o nome, mas, mesmo nesta posição excelente, no derradeiro instante, quando, vitorioso estiver, haverá de, uma vez mais, submeter-Se ao Pai, demonstrando toda a Sua humildade (I Co.15:28).

-Vemos, pois, de modo bem claro, que as Escrituras Sagradas indicam que a humildade é o caminho que devemos perseguir, é o caminho de Cristo Jesus. Jamais alcançaremos a salvação, cujo último estágio é a glorificação, se não formos humildes, pois somente por meio da humildade seremos exaltados pelo Senhor (Jó 22:29; Pv.3:34; Tg.4:6; I Pe.5:5).

-Esta humildade é atestada no Evangelho segundo João, ainda que seja o Evangelho que mostre a Deidade de Cristo. De pronto, logo no introito, é dito que o Verbo Se fez carne e habitou entre os homens, dando conta da humilhação máxima de Jesus, que foi tão bem descrito pelo apóstolo Paulo em Fp.2:5-8.

-Ao narrar o primeiro milagre, a transformação da água em vinho, João mostra uma vez mais a humildade de Jesus. Embora já tivesse sido declarado como o Cristo pelo Batista, Jesus é apresentado como alguém que só age após ter sido como que provocado pela Sua mãe (Jo.2:1-5).

-Nesta passagem, vemos a confirmação do que é dito por Lucas, ou seja, de que Jesus era sujeito a Seus pais (Lc.2:51), revelando, assim, que se mantinha humilde, consoante as convenções sociais de Seu tempo.

-Ao longo do evangelho, Jesus sempre Se apresenta como “o enviado do Pai”, como alguém que ali estava para fazer a vontade do Pai (Jo.2:16; 3:17; 4:34; 5:23,24,30; 6:38; 7:16; 8:26; 9:4; 10:36; 12:44; 13:16).

-É apresentado, deste modo, como Aquele que cumpria o propósito de criação do homem, o homem perfeito, ou seja, um homem que não fazia a própria vontade, mas que vivia para fazer a vontade de Deus, sendo obediente até a morte e morte de cruz.

II – O INÍCIO DA ÚLTIMA SEMANA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE JESUS

-Após registrar o sétimo sinal que selecionara do ministério público de Jesus, precisamente o maior de todos eles, a ressurreição de Lázaro, o apóstolo do amor diz que Jesus, ciente do aumento da oposição a ele, inclusive com a deliberação do sumo sacerdote Caifás de que Cristo deveria ser morto, se retirou da Judeia, indo para a cidade de Efraim, perto do deserto (Jo.11:54).

-No entanto, aproximava-se mais uma Páscoa, a terceira mencionada no Evangelho, e Jesus, então, volta para Jerusalém e, como sempre, passa por Betânia, onde Maria unge os pés de Jesus com nardo puro (Jo.12:1- 11), isto a seis dias antes da Páscoa.

-A vinda de Jesus a Betânia atraiu muita gente, não só para verem Jesus, mas também a Lázaro, a quem o Senhor ressuscitara e este aumento de popularidade fez com que se deliberasse também que Lázaro deveria ser morto (Jo.12:9,10).

-Partindo de Betânia, Jesus entra em Jerusalém e, como prova de que Sua popularidade estava em alta, é Ele recebido pelos judeus como o Messias. Foi esta a única vez em que, de modo coletivo, Jesus é reconhecido como o Cristo.

-João salienta que Ele é chamado pelo povo como “Rei de Israel” (Jo.12:12), embora tenha entrado na cidade montando um jumentinho, o que não só cumpria a profecia dada a respeito d’Ele por Zacarias (Jo.12:15; Zc.9:9), mas também evidenciava a humildade do Senhor.

-Já em Jerusalém, quando judeus gregos são levados até Ele por Filipe, o Senhor diz que estava a chegar a Sua hora, inclusive dizendo que haveria de ser levantado, revelando a forma de Sua morte e salientando que tudo quanto havia falado, tinha-o feito como o Pai Lhe havia dito (Jo.12:49,50).

-Nesta passagem, vemos claramente o registro da rejeição de Jesus pelos judeus, no que podemos chamar de o “discurso da rejeição” (Jo.12:37-47), um complemento de Suas palavras que proferiu depois de Sua entrada triunfal, ocasião em que chorou (Lc.19:41-44).

-João não registra os fatos que fizeram com que Jesus Se reunisse com os discípulos num cenáculo para a celebração da Páscoa.

-A narrativa do apóstolo do amor, bem dentro do Seu propósito de nos revelar a divindade de Jesus, diz que, antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo que havia chegado a Sua hora, amou os Seus até o fim, como sempre havia amado (Jo.13:1).

-O apóstolo João enfatiza que tudo o que iria se passar dali para a frente era a demonstração exterior do amor de Jesus pelos Seus, amor este que o evangelho já havia dito que se manifestara com o próprio envio do Filho, do Verbo para morrer pela humanidade (Jo.3:16).

-O Verbo Se fizera carne (Jo.1:12) por amor e, agora que chegava o momento de ser o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29), iria tão somente exteriorizar “este amor de tal maneira”, como diz o apóstolo Paulo (Rm.5:8).

-João leva-nos, então, para depois da celebração da Páscoa e da instituição da ceia do Senhor. Terminada a ceia, enquanto Jesus estava a começar a exteriorizar Seu amor pelos Seus, Judas Iscariotes já tinha sido totalmente dominado pelo diabo, pois o coração do traidor já estava pronto a fazer o que Satanás queria (Jo.13:2).

-Que contraste! Mas é sempre assim, quanto mais Jesus mostra o Seu amor, mais os incrédulos e impenitentes se entregam ao ódio e aos desejos do diabo. Esta é a grande distinção entre os filhos de Deus e os filhos do diabo (I Jo.3:6-11). A que grupo pertencemos?

-Entretanto, Jesus tinha de dar uma importante lição aos discípulos, pois, após a celebração da Páscoa e a instituição da ceia do Senhor, surgiu uma discussão entre os discípulos sobre quem era o maior (Lc.22:24-29).

-Apesar das palavras de Cristo e da própria instituição da ceia, em que falara de Sua morte, os discípulos ainda se encontravam enebriados com aquela ideia da iminente instauração do reinado messiânico (Lc.19:11), ideia que havia sido reforçada com a entrada triunfal em Jerusalém.

-Retomava-se a discussão que havia se instaurado no colégio apostólico diante do pedido da mãe dos apóstolos Tiago e João, no início do retorno a Jerusalém, quando vinham de Efraim (Mt.20:26-28; Mc.10:35- 45).

-Notamos aqui como o inimigo das nossas almas trabalha no ego de cada servo de Deus. Judas Iscariotes já estava completamente dominado por Satanás, mas os demais discípulos, em momentos cruciais do ensino de Jesus, em que o Senhor lhes mostrava a iminência de Sua paixão e morte, havia sempre a distração proporcionada pelo diabo, em que os discípulos como que ficavam surdos ao dito de Cristo e passavam a imaginar as benesses do reino messiânico e da perspectiva de poder temporal que advinha desta imaginação a cada um deles.

-Não era novidade esta ação satânica. Já em Cesareia de Filipe, quando Jesus começa a revelar aos discípulos a necessidade de Sua paixão e morte, o diabo já usou Pedro para tentar dissuadir o Mestre desta Sua obra (Mt.16:21-23).

-Em meio a esta discussão sobre quem era o maior, e tendo, Jesus, uma vez mais, mostrado que, no reino de Deus, o grande há de ser o serviçal, não apenas ensina, mas, como sempre fez em Seu ministério, primeiro fez para depois ensinar (At.1:1).

-Os discípulos não conseguiam entender que o Messias era, a um só tempo, Servo Sofredor e Rei de Israel, apenas vendo a perspectiva do reino, sem enxergar a necessidade da paixão e morte.

Até hoje os judeus não compreendem isto, tanto que rejeitam a Jesus como o Messias e, quando muito, criam que haveria duas figuras distintas, a do “Mashiach ben Yosef” (o Cristo, filho de José), que morreria pelo povo e o “Mashiach ben David” (o Cristo, filho de Davi), o que reinaria sobre Israel e sobre o mundo.

-Jesus havia, desde a revelação de que era o Cristo, o Filho do Deus vivo, dada a Pedro pelo Pai, em Cesareia de Filipe, ensinado Seus discípulos de que Ele era o Cristo, o Deus feito o homem, mas que, para salvar a humanidade, necessário era que sofresse e morresse pelos pecadores, e só posteriormente reinaria Ele sobre a Terra.

-Era, pois, absolutamente necessário que, ante mais este desvio mental dos discípulos, mesmo depois de ter sido instituída a ceia do Senhor, onde se comemoraria precisamente a morte do Cristo pela nossa salvação, que Jesus voltasse a ensinar que, no reino de Deus, deve-se ser servo e um servo humilde.

-A humildade de Jesus é inigualável. Jesus sabia que o Pai tinha depositado nas Suas mãos todas as coisas e que havia saído de Deus e ia para Deus (Jo.13:3). Tinha, pois, plena consciência de que era o Senhor de todas as coisas, que brevemente recuperaria a glória de que havia aberto mão.

-Aqui notamos a fé e a esperança que havia em Jesus, além do amor, as três virtudes teologais, ou seja, hábitos inseridos em nós pelo Espírito Santo, que devem nortear a nossa vida espiritual. Jesus, enquanto homem, confiava plenamente em Deus e esperava desfrutar do gozo que Lhe fora proposto (Hb.12:2,3).

-Às vésperas do grande sofrimento que Lhe aguardava, o Senhor tinha a plena convicção de que o Pai não O deixaria só, porque estava a fazer a vontade d’Ele, Pai, e quando assim se procede, sempre se terá a companhia divina (Jo.8:29; 16:32).

-Quando se está em plena comunhão com Deus, não há nada que abale o serviço a ser realizado, por mais desafiador e terrível que ele possa parecer, como era o caso da obra salvífica do Senhor.

-É esta relação indissociável entre comunhão e serviço que o Senhor queria, também, mostrar aos discípulos, pois segui-l’O, como Ele já havia ensinado era, por primeiro, negar-se a si mesmo, o que envolve a assunção da qualidade de servo e, consequentemente, da humildade; depois, tomar a cruz, que é realizar a tarefa que lhe é cometida pelo Senhor e, por fim, ter a Jesus como exemplo, seguir-Lhe as pisadas (Mt.16:24; Mc.8:4; Lc.9:23).

-Diante da necessidade desta lição, Jesus resolveu dar Ele próprio exemplo de humildade àqueles discípulos que disputavam quem era o maior dentre eles e que só conseguiam enxergar a dimensão do Rei de Israel e não a do Servo Sofredor.

-Jesus tirou as vestes, tomou a toalha, cingiu-se, pôs água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido (Jo.12:4,5).

-Tratava-se de um gesto totalmente inusitado, que, certamente, surpreendeu os discípulos, pois Jesus assumia o papel de um escravo, dos mais baixos, a quem se incumbia fazer este serviço quando chegava alguém à casa de alguém, como deveria ter feito Simão, o fariseu, quando Jesus foi convidado para jantar na sua casa (Lc.7:44).

-Na verdade, como que fazia uma ilustração de toda a Sua obra salvífica para os discípulos, esta obra que seria comemorada periodicamente na ceia que Ele havia acabado de instituir.

-Ele estava à mesa com Seus discípulos. Esta posição, que indica comunhão, mostra a situação de Jesus antes da encarnação, em plena comunhão com o Pai na glória antes que o mundo existisse (Jo.17:5).

-Tanto assim é que a própria ceia instituída pelo Senhor tem por propósito manter na mente de cada discípulo aquela ceia de que participaremos quando entrarmos nas mansões celestiais (Mt.26:29; Mc.14:25; Lc.22:18; I Co.11:26), pois Jesus faz questão de Se sentar novamente à mesa mas no ambiente da glória de que abriu mão para nos salvar (Mt.8:11). Aleluia!

-Jesus deixou a Sua posição de glória e veio ao mundo, fez-Se homem. A encarnação do Verbo é simbolizada pelo gesto de Jesus ter tirado as Suas vestes, tomado uma toalha e se cingido.

-Jesus, sendo em forma de Deus, tomou a forma de servo, e, na forma de servo, humilhou-Se ainda mais, sendo obediente até a morte, e morte de cruz. Foi exatamente o que Ele fez naquele gesto: não só saiu da posição de Senhor, à mesa, como se fez o mais serviçal dos escravos, aquele que lavava os pés das pessoas.

-A toalha representa a humanidade de Jesus e o fato de cingir-se com a toalha simboliza a prontidão do serviço, a disposição de dar testemunho da verdade (Jo.18:37), de realizar a obra que veio a fazer (Jo.17:4).

-Com efeito, o ato de cingir-se significa prontidão (Ex.12:11). Também o cinto simboliza a verdade na armadura de Deus (Ef.6:14).

-Por fim, o apóstolo Pedro aconselha a que cinjamos os lombos do nosso entendimento, agindo com sobriedade e esperando inteiramente na graça de Jesus (I Pe.1:13), o que nada mais é que agir com obediência e confiança no Senhor, exatamente o que fez Cristo ao longo de Seu ministério terreno.

-Cingir os lombos do entendimento é, como diz a Nova Versão Internacional, “ter a mente preparada”, ou a Nova Almeida Atualizada, “preparando o entendimento”.

Tem-se aqui verdadeira submissão à vontade divina, aceitação daquilo que foi mandado, com a adaptação das ações ao previamente estabelecido pelo Senhor. Trata-se de moldar a mente para o que foi determinado.

-Jesus, sendo Deus, ao Se fazer homem, aprendeu a obediência (Hb.5:8) e foi obediente até à morte (Fp.2:8) e nós também devemos levar cativo todo entendimento à obediência de Cristo (II Co.10:5).

-Após ter Se cingido, Jesus pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido (Jo.13:5).

-Aqui vemos que Jesus, depois de ter assumido a forma de servo e, como servo, ter ainda mais Se humilhado, rebaixando-Se à mais inferior das posições dos servos, pôs água na bacia e começou a lavar os pés aos Seus discípulos.

-Ele era o Mestre, mas Se fazia servo dos discípulos e começava a lavar os seus pés. Usava da água para purificar os pés dos discípulos. Aqui vemos que, no Seu serviço que Lhe foi dado pelo Pai, tinha de pregar e ensinar a Palavra, pois é isto que representa a água (Ef.5:26).

-Jesus tinha a missão de santificar e purificar pela Palavra os Seus discípulos, que formariam a Igreja que Ele edificaria, e o Senhor continua a fazê-lo nesta dispensação da graça. Ele dá a Palavra aos Seus discípulos, que são purificados por ela, santificados por ela e que a transmitem aos outros, geração após geração.

-Não se tem verdadeiro e genuíno serviço na obra de Deus senão por intermédio da Palavra, seja mediante a sua proclamação, mediante o seu ensino e, primordialmente, mediante o seu cumprimento (Tg.1:22). Como disse certa feita Francisco de Assis (1181 ou 1182-1226): “Pregue o Evangelho, se necessário, use palavras”.

-Jesus pôs água numa bacia, ou seja, tratou de ter água suficiente para lavar aqueles 24 pés, pois estavam ali os doze discípulos. Isto é uma lição para todos nós: devemos ter água suficiente para realizar a obra, ou seja, precisamos estar continuadamente meditando nas Escrituras para podermos pregá-la, ensiná-la e cumpri-la.

-Além de lavar os pés, Jesus os enxugava. Tratava-se de um serviço completo. Não se lavava o pé, mas ele era enxuto, ou seja, a água produzia efeito – a sujeira era removida e o pé era deixado seco, em condição para cumprir a sua tarefa.

-“Enxugar” é “extrair o suco de”, “secar”, “perder a umidade”, a palavra grega “ekmasso” (εκμάσσω), cujo significado é “secar por meio de esfregadura”. A Palavra limpa o ouvinte (Jo.15:3), remove as manchas, as iniquidades de cada um dos discípulos de Jesus, que, assim, vão caminhando para a estatura completa de Cristo, para varão perfeito (Ef.4:12,13).

-Ao chegar a vez de Pedro, este, dentro da impetuosidade que lhe era característica, opôs-se a que Jesus lavasse seus pés. Não podia admitir que o Mestre se fizesse o mais humilde dos servos. Até então, desde Cesareia de Filipe, não tinha conseguido ver em Jesus o Servo Sofredor.

-Diante da oposição, o Senhor disse a Pedro que ele não sabia o que Cristo estava a fazer, mas que saberia posteriormente. Que amor e paciência têm Nosso Senhor! Não quis teimar com o discípulo. Apenas constatou a sua não compreensão e que ela viria posteriormente.

-Muitas vezes, amados irmãos, não sabemos o que o Senhor está a fazer, não compreendemos as circunstâncias diante do que Jesus falou, das promessas dadas, mas não podemos jamais nos esquecer de que Deus é perfeito, onisciente, sabe todas as coisas e que é fiel para cumprir o que falou. Se não entendemos o que está acontecendo agora, lembremos que entenderemos depois.

-Pedro, porém, não quis “saber depois”. Peremptoriamente, disse ao Senhor que não permitiria que seus pés fossem lavados e, então, Jesus lhe respondeu que, se ele não permitisse que seus pés fossem lavados, não teria parte com o Mestre (Jo.13:8).

-Pedro, então, mais uma vez demonstrando que não se encontrava na sintonia do Senhor, que estava fora da Sua vontade, pediu que o Senhor lhe desse um verdadeiro banho, tendo, então, o Senhor dito que bastava que seus pés fossem lavados, pois o restante estava limpo (Jo.13:10).

-Muitos são os que se encontram na mesma situação de Pedro, que, antes que galo cantasse na madrugada seguinte, iria negar o Senhor, porque ainda não se tinha convertido (Jo.13:38; Lc.22:32), ou estão aquém da vontade divina ou além, mas jamais no meio da Sua vontade.

-São aqueles que não seguem a determinação divina de não se desviarem nem para a direita nem para a esquerda (Dt.5:32; 17:11; Js.1:7; 23:6; II Rs.22:2; II Cr.34:2; Pv.4:27; Is.30:21), e, por causa disto, sempre estão alheios ao que Deus deseja para eles. O destino destes é a perdição. Pedro só não se perdeu porque se arrependeu a tempo.

-Aliás, a propósito da reação de Pedro, Jesus voltou a dizer que nem todos ali estavam limpos, o que João deixa claro que se tratava de mais uma referência a Judas Iscariotes, cujos pés, observemos, foram lavados (Jo.13:10,11).

-Tendo feito este ato, Jesus, então, passou a ensinar-lhes o seu significado. Mesmo sendo Mestre e Senhor, Jesus disse que havia lavado os pés dos discípulos, numa demonstração de que todos deviam lavar os pés uns dos outros, pois deviam seguir o exemplo dado pelo Senhor.

-Embora Jesus fosse Mestre e Senhor, havia assumido a forma de servo, enviado que fora do Pai, e os discípulos também seriam enviados por Ele e, como tal, deveriam assumir a condição de servos de Jesus, reconhecendo que eram menores e, como tal, não via lugar para discussão de quem seria o maior.

-Os discípulos seriam enviados de Jesus e, como tal, menores do que Ele e alcançariam a bem-aventurança se reconhecessem esta condição. O Senhor, uma vez mais, reforça que nem todos ali eram Seus servos, pois estava ali o traidor.

-Os servos, porém, deveriam ser como o Senhor, de tal sorte que quem recebesse um servo de Cristo, estaria recebendo o próprio Jesus (Jo.13:20).

-Por fim, as palavras ditas pelo Senhor Jesus são suficientes para verificarmos que não têm qualquer sentido dois procedimentos surgidos diante desta passagem bíblica.

-A primeira é a celebração da cerimônia do lavapés na chamada “Quinta-Feira Santa”, também conhecida como “Endoenças” pela Igreja Católica Apostólica Romana e outros segmentos cristãos na chamada “Missa da Ceia do Senhor”.

-A encenação de todos os fatos concernentes à última semana do ministério de Jesus é algo que não tem embasamento bíblico, porquanto o que Jesus instituiu para comemorar a Sua morte foi a ceia do Senhor, culto que deve ser periodicamente celebrado pela Igreja, e tão somente este gesto. Assim, não se tem de encenar todos os fatos ocorridos naquela ocasião, inclusive o lavapés.

-A segunda é a celebração do lavapés em todo culto da ceia do Senhor, como defendem as igrejas adventistas, sob a alegação de que Jesus fez o lavapés quando instituiu a ceia do Senhor.

-Sem razão, porém, a sra. Ellen Gould White (1827-1915) ao assim estabelecer. O texto bíblico é claro que Jesus lavou os pés dos discípulos, “acabada a ceia”, ou seja, o lavapés não pertence à Ceia do Senhor, foi algo que Jesus fez posteriormente, e, por causa da disputa entre os discípulos para saber qual deles era o maior, igualmente posterior à celebração da Páscoa e instituição da ceia do Senhor.

-Tanto assim é que o apóstolo Paulo, ao ensinar sobre a ceia para a igreja de Corinto, menção alguma faz ao lavapés.

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/11470-licao-8-uma-licao-de-humildade-i

Glória a Deus!!!!!!!