O batismo nas águas é uma ordenança de Cristo para a Igreja.
INTRODUÇÃO
-Em prosseguimento ao estudo da Eclesiologia, analisaremos uma das duas ordenanças deixadas por Jesus para a Igreja, a saber, o batismo nas águas.
-O batismo nas águas é um ato que deve ser praticado por ser ordem de Cristo Jesus, a cabeça da Igreja, cuja função é a de consumar o processo de integração do crente na igreja local.
I– AS ORDENANÇAS DA IGREJA
-Ao instituir a Igreja, Jesus não só constituiu o governo da Igreja, como as suas funções, como também determinou que a Igreja realizasse dois ritos, duas cerimônias: o batismo nas águas e a ceia do Senhor.
Por isso, estas duas atividades da Igreja são denominadas de “ordenanças”, porque são ordens dados pelo Senhor para a Igreja.
-De imediato, devemos distinguir entre “ordenança” e “sacramento”, porque não poucos estudiosos das Escrituras, sob a influência da história e da tradição, confundem ambos os conceitos, identificando “ordenança” com “sacramento”, com o que, entretanto, não podemos concordar.
-A ideia de “sacramento”, nascida no interior da Igreja Romana, é totalmente diversa da de “ordenança”.
“Sacramento” é, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, considerado como sendo “rito sagrado instituído por Jesus Cristo para dar, confirmar ou aumentar a graça
[São sete:
batismo,
confirmação,
comunhão,
penitência,
extrema-unção,
ordem e
matrimônio.].
Para completarmos este significado, ao lermos o Catecismo da Igreja Católica, lá encontramos que “…“Os sacramentos destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda ao culto a ser prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instrução.
Não só supõem a fé, mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão são chamados sacramentos da fé.” (§ 1123) como também “Celebrados dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam…” (§ 1127) e, por fim,
“…Os sacramentos são ‘da Igreja’ no duplo sentido de que existem ‘por meio dela’ e ‘para ela’. São ‘por meio da Igreja’, pois esta é o sacramento da ação de Cristo operando em seu seio graças à missão do Espírito Santo E são ‘para a Igreja’, pois são esses ‘sacramentos que fazem a Igreja…’(§ 1118).
Nada mais diferente do que as ordenanças de Cristo. Senão vejamos:
a) a ordenança é de Jesus; o sacramento, da Igreja Romana.
b) a ordenança é uma demonstração de obediência a Cristo; o sacramento, uma demonstração do “poder da Igreja Romana”.
c) a ordenança não aumenta nem diminui a graça de Deus, que se manifestou completamente em Cristo, onde é plenamente eficaz; o sacramento, supostamente traz a graça de Deus aos homens pela mediação da Igreja Romana, que, assim, complementaria a obra de Cristo.
d) as ordenanças de Cristo são duas; os sacramentos, sete.
-Não podemos, pois, jamais aceitar que o batismo nas águas e a ceia do Senhor sejam “sacramentos”, mas, sim, “ordenanças” de Cristo para a Sua Igreja.
Como ordens dadas por Jesus, devem ser cumpridas nos exatos termos determinados por Cristo, pois se somos verdadeiramente salvos, guardamos os Seus mandamentos (Jo.15:14).
-A primeira ordenança de Cristo é o batismo nas águas, que é uma ordem a ser cumprida por quem se arrependeu dos seus pecados (At.2:38) e recebeu de bom grado a Palavra de Deus (At.2:41).
-Deste modo, não podem ser batizadas crianças recém-nascidas. vez que não têm o discernimento do que é, ou não, pecado e, portanto, não podem se arrepender dos seus pecados, como também não podem ser batizadas pessoas que não tenham demonstrado que, efetivamente, creram no Evangelho e nasceram de novo. Só é lícito o batismo daquele que realmente creu de todo o seu coração (At.8:37).
-Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus:
“…Não aceitamos nem praticamos o batismo infantil por não haver exemplo de batismo de crianças nas Escrituras e por não ser o batismo um meio da graça salvadora, ou sinal e selo da aliança, que substitui a circuncisão dos israelitas.
Também por não ser possível à criança ter consciência de pecado, condição necessária para que ocorra arrependimento.
As crianças, em estado pueril, não preenchem esses requisitos. Sobre a circuncisão, o pensamento cristão bíblico é: ‘em Cristo nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura’ (Gl.6:15).
Cremos e ensinamentos que o batismo é apenas para os que primeiramente se arrependem dos seus pecados e creem em Jesus [At.2:38), sendo também necessário pedir para ser batizado: ‘Eis aqui água, que impede que eu seja batizado?
E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou’ (At.8:36-38).…” (DFAD XII.4, pp.119-20).
II– ATOS PRECURSORES DO BATISMO NAS ÁGUAS
-A palavra “batismo” é grega, vem de “batisma” (βαπτισμα), cujo significado é “mergulho”, “imersão”, prática que foi iniciada entre os judeus quando, já na época helenística (ou seja, o período que se seguiu à dominação grega do Oriente Médio), iniciou-se o chamado “movimento missionário judeu”, quando se passou a haver a conversão de gentios ao judaísmo, os chamados “prosélitos” (Mt.23:15).
-Como os gentios eram considerados pessoas imundas (At.10:28), passou-se a exigir que o convertido ao judaísmo não só se circuncidasse, como também, participasse de uma lavagem cerimonial de todo o corpo, por imersão em uma “mikvah” ou “mikveh” (“acumulação de água”, em hebraico, isto é, piscina ritual ou casa de banhos), gesto este que passou a se denominar “batisma”, em grego, e que os estudiosos denominam de “batismo judaico” ou “batismo de prosélitos”, algo que se encontra hoje devidamente regulamentado no Talmude (segundo livro sagrado do judaísmo) e no Shulchan Arukh (código de leis judaicas, feito no século XVI e que é a principal fonte normativa dos judeus ortodoxos até os dias de hoje).
-Segundo este ritual judaico, o gentio decidido a abraçar a fé judaica deveria, na presença de, pelo menos, três homens judeus, deveria acreditar em Deus e estar disposto a cumprir todos os mandamentos, circuncidar- se e submeter-se a este banho ritual, homens estes que deverão recitar trechos da Torá enquanto o prosélito mergulha na “mikvah”, purificando-se, portanto.
-Com o surgimento de João, este batismo, que não era desconhecido do povo judeu, passa a ser pregado também para os judeus e a ênfase deste tema na pregação é que explica porque ficou ele conhecido como “João Batista”, ou seja, “João, o batizador, aquele que batiza”.
-João, porém, associou a ideia do arrependimento de pecados ao ato simbólico de imersão na água, pois, e no judaísmo ainda assim é pensado, o arrependimento, ou seja, a “Teshuvá” é um ato totalmente distinto da “mikvah”, que tem a ver apenas com a purificação cerimonial, a limpeza do corpo.
-Para João, porém, o batismo era uma confissão pública de arrependimento dos pecados, tendo sido esta a essência da sua pregação que, como nos diz o profeta Isaías, vinha “preparar o caminho do Senhor” (Is.40:3).
-O batismo de João tinha, portanto, a função de preparar o povo de Israel para a verdade que o Messias somente poderia ser recebido mediante o arrependimento dos pecados, mediante uma nova vida de pureza que se seguiria a uma confissão pública dos pecados, confissão esta simbolizada, visibilizada pelo “batismo”, ou seja, pelo mergulho, pela imersão em água.
-Até a pregação de João Batista, o que havia, entre os judeus, era tão somente a “lavagem cerimonial”, a purificação por meio da água de algumas espécies de imundícies, cerimônias estas que, já na época de Cristo, eram chamadas pelos judeus de fala grega (os judeus da diáspora, ou seja, das colônias judaicas espalhadas pelo mundo) de “baptismós” (βαπτισμός), lavagens estas que tanto se encontravam na lei escrita (Lv.15:5-7, v.g.) quanto na tradição oral dos judeus (Mc.7:4,8; Jo.2:6).
-A lavagem com água para purificação cerimonial era uma constante da lei de Moisés e uma verdadeira figura do batismo em água da atual dispensação, que, por sua vez, é um símbolo da santificação operada pela salvação do homem na pessoa de Cristo Jesus.
-As determinações a respeito da lavagem eram tantas que um tratado inteiro do Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo, é dedicado exclusivamente a este assunto (o Tratado Micvaot, da ordem Tahorot).
Como diz Nathan Ausubel, “…a mikvah [em hebraico significa ‘acumulação de água’, isto é, piscina ritual ou casa de banhos, observação do autor em outro trecho do texto] era quase tão importante e indispensável para a vida religiosa quanto a sinagoga, a Casa de Estudo (Bet ha-Midrash), o Talmud Torah {o estudo da Torah, i.e., da lei, observação nossa] e o cemitério sagrado. Na verdade, toda comunidade judaica era obrigada pela lei rabínica a manter uma mikvah.…” (Mikvah. In: A Judaica, v.6, p.559).
OBS: É interessante notar que, ao falar da purificação da mulher, o Código de Leis judaico, o Schulchan Aruch, compilado por Yosef Caro, em 1565, e que é, até hoje, o principal guia dos judeus ortodoxos, é bem claro ao exigir a imersão completa da mulher:
“…(1) uma mulher não se levanta de seu status de Too-mah {impureza ritual} com a lavagem em um banho, e mesmo se todas as águas no mundo passassem sobre ela, remanesceria em seu status de Too-mah.
[Além disso] alguém seria responsável por ka-reth {palavra hebraica que significa “imundo”, “separado”, “mantido à parte’, observação nossa] por [coabitar com] ela, até que ela imerja seu corpo inteiro de uma só vez nas águas de uma mikveh ou em uma fonte que contivesse 40 seás [cada seá equivalia a aproximadamente 7 litros, observação nossa].
E sua medida é um amah [medida de comprimento que equivale a aproximadamente 50 cm, observação nossa] por um amah pela altura de 3 amot {plural de “amah”, observação nossa] cúbicos, usando um amah que seja 6 Te-fa-khim mais uma metade de um dedo longo.
[Além disso] se for mais larga [do que um Amah] e não for assim tão profundo [ como três amot] é adequado se puder cobrir seu corpo inteiro neles {as águas do Mikveh} de uma só vez. Requer-se que o corpo de água total seja [ ao menos ] 44.118 dedos quadrados de comprimento e uma metade extra {44.118.375 precisamente}.
Requer-se que a cavidade em que a água estiver seja maior do que esta medida, a fim de que quando a estiver imergindo entre, a água se levante e ainda haja 40 seás restantes.…” (Shulchan Aruch, Yoreh Deah 201. Disponível em: http://en.wikisource.org/wiki/Shulchan_Aruch/Yoreh_Deah/201 Acesso em 01 dez. 2006. Tradução nossa baseada em texto produzido pelo tradutor do site).
-É quase que intuitivo associar-se a água à ideia de purificação, diante do papel que a água exerce no cotidiano do ser humano, em todas as épocas da história da humanidade, de modo que não é difícil encontrar-se entre os povos, ainda os de organização mais simples, a atribuição à água de uma função de purificação, em especial sob o aspecto religioso, ou seja, das relações entre o homem e a divindade.
-Tal circunstância, tão explorada por alguns adversários da doutrina cristã, para tentar “desmistificar” esta ordenança de Cristo, é mais uma demonstração de que Deus não quis deixar nenhum ser humano em condições de se desculpar a respeito de não poder ter havido alguma revelação de Deus para si (Rm.1:19,21).
-O batismo de João, portanto, é o aprofundamento desta simbologia das lavagens cerimoniais da lei, é mais um passo da revelação progressiva de Deus, onde o profeta apresenta o batismo como um ato que simboliza a verdadeira purificação do homem, que é a purificação espiritual, ato que exige, porém, antes, o arrependimento dos pecados.
-Não se pode, pois, confundir o batismo de João com as cerimônias existentes na lei, nem tampouco, como costumam fazer alguns estudiosos na atualidade, com os rituais de purificação que foram estabelecidos pelos essênios, uma das seitas judaicas existentes no tempo de João e de Jesus.
-Não resta dúvida de que os essênios eram pessoas muito parecidas com João, pois, a exemplo de João, isolavam-se da sociedade e viviam em comunidades no deserto, buscando ter uma vida de privações e de dedicação integral a Deus.
-Nestas comunidades separadas, conforme nos provam os manuscritos do Mar Morto, que são escritos de comunidades essênias, verificou-se que havia toda uma série de leis e regras relativas às purificações, mas nada que nos permita assimilar tais práticas ao batismo pregado por João, até porque a mensagem de João era essencialmente diferente da dos essênios.
-João não exortava o povo a se separar da sociedade e passar a viver separados, em devoção a Deus, mas, muito pelo contrário, João pregava para que o povo se arrependesse dos pecados e se preparasse, assim, para receber o Messias que estava para chegar.
-O batismo de João, como vemos na pregação deste profeta, tinha por objetivo o testemunho público do arrependimento dos pecados e um compromisso de seguir a lei até a chegada do Messias, que era anunciada para aqueles dias (Mt.3:2; Mc.1:4; Lc.3:3).
Era, portanto, um batismo preparatório para a chegada de Cristo, uma preparação do povo para receber o Messias prometido, mediante o arrependimento dos pecados e a observância da lei.
Por isso, é dito que a lei durou até João (Lc.16:16), pois João foi o último profeta a levar o povo à prática da lei, agora já expressamente pregado que a lei deveria durar até a chegada do Messias, que foi apontado pelo próprio João ao povo (Jo.1:29).
-O batismo de João, portanto, cumpriu o seu papel quando se iniciou o ministério terreno de Jesus, tanto assim que, a partir de então, o papel de João foi decrescendo à medida que o de Jesus ia aumentando (Jo.3:30).
-Tanto assim é que, no início do ministério terreno de Jesus, ainda envolvidos com a prática de João, os discípulos de Jesus continuaram a batizar, a exemplo de João e seus discípulos (Jo.4:1,2), uma prática que demonstra bem o entendimento de que, em Jesus, se cumpria a promessa messiânica.
-Os discípulos de João iriam continuar, porém, a sua pregação, a despeito da chegada de Cristo, tanto que Paulo encontrará, décadas depois, pessoas em Éfeso que somente conheciam o batismo de João (At.19:3), batismo, porém, que perdeu a sua função e razão de ser assim que Jesus foi batizado, pois, a partir de então, inicia-se o ministério terreno de Cristo, a manifestação da graça de Deus que traz salvação a todos os homens (Tt.2:11).
III– O BATISMO NAS ÁGUAS
-Além da notícia que nos dá o apóstolo João, em seu evangelho, de que os discípulos de Jesus, a exemplo dos discípulos de João, batizavam nas águas os que desejavam confessar os seus pecados e seguir a Cristo, não temos nenhuma outra informação, nos Evangelhos, a respeito do batismo nas águas durante o ministério terreno de Cristo.
-O Senhor não Se refere ao batismo nas águas e, como que confirmando a autoridade do batismo apregoado por João, em uma das muitas astuciosas indagações dos fariseus, mostra a estes a sua incredulidade com relação ao próprio batismo de João (Mt.21:25; Mc.11:30; Lc.20:4).
-No entanto, depois de ter ressurgido dos mortos, vitorioso sobre a morte e o pecado, o Senhor determinou aos discípulos que batizassem os convertidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
(Mt.28:19; Mc.16:16), ordenança esta que era bem presente na mente dos apóstolos, como podemos ver já no sermão de Pedro no dia de Pentecostes (At.2:38).
-Assim, percebemos nitidamente que, embora ausente da pregação de Jesus em Seu ministério terreno, o batismo nas águas, a exemplo do que ocorrera na pregação de João, foi considerado pelo Senhor como a única forma pela qual alguém testemunharia publicamente a sua salvação, a sua fé em Jesus.
O batismo nas águas, portanto, foi constituído pelo Senhor como a declaração pública de que alguém aceitou a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador.
-Por ser uma ordem de Jesus, não há o que se discutir. Quem quer que se diga crente, ou seja, quem quer que afirma ter sido salvo por Jesus, ter crido na Sua obra redentora no Calvário, ter sido atingido pela salvação, tem de se batizar nas águas, para comprovar esta salvação.
-O batismo é um ato de obediência a Cristo, é uma demonstração pública de que alguém se comprometeu com Jesus, que alguém se submeteu ao senhorio de Cristo e que não mais vive, mas Cristo vive nele.
-Por isso, é um dos itens do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus a crença na necessidade do batismo.
É o que diz o item 9 do Cremos, que passamos a transcrever: “[CREMOS] No batismo bíblico efetuado por imersão em águas, uma só vez, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt.28:19; Rm.6:1-6; Cl.2:12).”
-Percebamos que a ordenança de Jesus segue o mesmo raciocínio do batismo de João que, como vimos, o próprio Senhor reconheceu como sendo uma prática ordenada diretamente do céu e, por isso, da parte de Deus.
-Assim como o batismo de João não salvava pessoa alguma, mas tão somente fazia a pessoa reconhecer que era pecadora e se comprometer a esperar e seguir o Messias que estava para chegar, assim também o batismo nas águas estabelecido pelo Senhor Jesus não perdoa pecados, mas representa um gesto público de confissão de que alguém se arrependeu dos seus pecados, creu em Jesus e, por isso, tem novidade de vida, uma vida em Cristo Jesus.
-Jesus é bem claro ao afirmar que quem crer e for batizado será salvo, ou seja, ser batizado é algo que ocorre só depois que a pessoa crê. Crer, i.e., ter fé é o requisito indispensável e essencial para a salvação.
-A salvação vem pela fé (At.26:18; Rm.3:28; Gl.2:16; Ef.2:8), não pelo batismo nas águas. É preciso crer para que se alcance a salvação, como Jesus deixou bem claro para Nicodemos no “texto áureo” da Bíblia (Jo.3:16).
-Por isso, estão em grande equívoco aqueles que entendem que o batismo tem algum poder de regeneração ou de salvação da criatura humana. O batismo não é para salvar pessoa alguma, mas é uma prática daquele que foi salvo em Jesus.
-“…O batismo não é salvação; somos salvos pela graça mediante a fé [Ef.2:8,9). O perdão dos pecados está em conexão com o arrependimento que precede o batismo.
A frase: ‘Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados’ (At.2:38) é interpretada erroneamente, muitas vezes, como essencial ao perdão, como fazem as principais seitas unicistas.
No sermão seguinte, o apóstolo Pedro nem sequer menciona o batismo; a ênfase é dada ao arrependimento, à conversão e à aceitação de Cristo:
‘Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor. E envie Ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado’ (At.3:19,20).
O contexto bíblico mostra que o batismo não salva: ‘Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado’ (Mc.16:16).…” (DFAD XII.3, pp.128-9).
-“…O Novo Testamento mostra que o batismo é posterior à fé. Isso é visto no dia de Pentecostes [At.2:41] e na campanha evangelística de Filipe em Samaria: ‘como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do Reino
de Deus e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens quanto mulheres’ (At.8:12).…” (DFAD XII.4, p.130).
-Só podem ser batizados nas águas aqueles que creram em Jesus (Mc.16:16; At.18:8), e, portanto, o batismo nas águas não lava nem purifica pecados, mas somos justificados pela fé em Cristo (Rm.5:1). Portanto, a salvação vem pela fé em Cristo e não pelo batismo nas águas.
-Então, alguém que crê em Jesus e não é batizado nas águas está salvo? Depende. Por que não se batizou nas águas? Porque não teve condição de fazê-lo, como o ladrão na cruz? Então, este estará salvo, assim como esteve o ladrão na cruz, pois creu e não foi batizado nas águas por motivo alheio à sua vontade.
-Agora, se alguém creu em Jesus e, podendo, não se batiza porque não quer, este, na verdade, não será salvo, não porque não foi batizado, pois o batismo não salva pessoa alguma, mas, sim, porque, ao recusar ser batizado, mostra que, na verdade, não creu em Jesus, pois quem crê em Jesus, obedece-Lhe.
-O batismo nas águas deve ser feito por imersão, pois “batismo” significa “mergulho” e “mergulho” somente se dá por imersão.
-Todos os casos mencionados nas Escrituras são de batismos por imersão. Por imersão, aliás, como vimos, era praticado o batismo dos prosélitos, bem como o batismo de João, tanto que Jesus foi batizado no rio Jordão e dizem as Escrituras que Ele saiu da água (Mt.3:16; Mc.1:10), prova de que nela entrou, ou seja, de que o batismo era por imersão.
Não bastasse isso, a Bíblia diz que João só batizava onde havia abundância de água, ou seja, locais onde fosse possível a imersão (Jo.3:23).
-A igreja primitiva sempre batizou por imersão. Filipe desceu com o eunuco às águas (At.8:38), prova de que também se teve um batismo por imersão, tendo também sido no rio que Lídia foi, também, batizada, após aceitar a Cristo por intermédio da pregação de Paulo em Filipos (At.16:14,15).
-Deste modo, não há como se reconhecer outra forma de batismo senão o batismo por imersão. Eventuais práticas, costumes ou variações que tenham sido criadas ao longo dos séculos não podem ser aceitas, pois nada pode suplantar o que se encontra na Bíblia Sagrada, que é a Palavra de Deus.
OBS: É interessante observar que mesmo a Igreja Romana, que foi a principal responsável pela cristalização do batismo por aspersão, reconhece, em seu Código de Direito Canônico, publicado em 1983, que a forma correta do batismo é o batismo por imersão, embora tenha permitido a continuidade de outras formas de batismo, a critério das Conferências Episcopais, tanto que a Conferência dos Bispos no Brasil resolveu, diante desta permissão, manter o batismo por aspersão.(“cânon 854 – O batismo seja conferido por imersão ou por infusão, observando-se as prescrições da Conferência dos Bispos”.).
-A própria simbologia do batismo, apresentada nas próprias Escrituras, mostra que o batismo só pode ser por imersão. Com efeito, Paulo mostra-nos o batismo como o símbolo da morte do velho homem e a sua ressurreição em Cristo, como uma nova criatura.
-Em Rm.6:4, Paulo afirma que, no batismo espiritual no corpo de Cristo, “fomos sepultados com ele pelo batismo na morte” (o que é repetido em Cl.2:12).
-Ora, sepultamento significa “ato de fazer desaparecer sob um amontoamento, soterrar, aterrar”. Desta forma, como o batismo poderia figurar este ato de desaparecimento do velho homem, sem que o corpo seja totalmente imerso na água?
Tem-se, pois, que a própria Bíblia mostra que somente a imersão se apresenta como a correta forma de se demonstrar simbolicamente o ato da salvação em Cristo Jesus, a morte do velho homem e o novo nascimento.
-Além da imersão, exige Jesus que a pessoa seja batizada em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt.28:19). É esta a fórmula batismal, determinada por Jesus.
-A expressão “batismo em nome de Jesus” que se encontra no livro de Atos dos Apóstolos significa o batismo segundo a autoridade de Jesus, segundo a ordem de Jesus e, portanto, feita segundo a fórmula instituída pelo Senhor.
-A expressão “em nome do Senhor” não quer dizer que se devam repetir as palavras “em nome do Senhor”, mas isto apenas significa que o batismo é feito segundo a ordem dada por Jesus, consoante a Sua autoridade, que é o cumprimento de uma ordem dada à Igreja pela sua cabeça (Ef.1:22; 5:23).
-Assim como havia o “batismo de João”, agora há o “batismo em nome de Jesus”. Tanto assim é que, antes de dar a ordenança do batismo, o Senhor informou aos Seus discípulos que, diante de Sua vitória sobre o pecado, havia recebido todo o poder nos céus e na Terra (Mt.28:18).
-O batismo, portanto, é uma prática em que reconhecemos a autoridade do Senhor Jesus sobre todas as coisas em virtude de Sua morte e ressurreição, de modo que a recusa ao batismo nas águas é um ato de rebelião à autoridade do Senhor.
-Eis porque quem se recusar ao batismo nas águas estará condenado, pois terá se rebelado contra Deus e o pecado de rebelião é “…como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria.”(I Sm.15:23).
A rejeição ao batismo nas águas fará com que a pessoa tenha o mesmo triste destino de Saul: será igualmente rejeitado pelo Senhor para que não reine eternamente com Ele.
-Já, entretanto, com relação à fórmula “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, temos que não se trata de autoridade, mas, sim, de expressão a ser dita no ato do batismo. Aqui, tem-se uma confissão pública de submissão à Trindade, ao Deus triúno, que é o responsável pela nossa salvação.
O Pai enviou o Filho que, sob a unção do Espírito Santo, viveu, como homem, sem pecado na Terra e morreu por nós, sendo, então, ressuscitado pelo Espírito e tendo subido ao Pai para interceder por nós, enquanto desfrutamos, em nós, do Espírito Santo.
-O batismo nas águas revela esta comunhão que há entre as Pessoas divinas e que, por meio de Cristo, chega até nós, estabelecendo uma comunhão entre nós e Deus, a fim de que sejamos um com a Trindade, assim como isto já ocorre, desde sempre, entre as Pessoas divinas (Jo.17:22,23).
-Por isso, não pode ser considerado como tendo qualquer valor o batismo que se der por meio de pessoas que não reconhecem a Trindade Divina.
Batismos realizados por movimentos heréticos, que negam a Trindade, não podem, em absoluto, ser considerados, pois o batismo é, antes de mais nada, um ato de confissão pública de reconhecimento da soberania do Deus triúno sobre o batizando.
-O batismo nas águas não precisa ser feito em água corrente. Jesus não determinou que assim se fizesse e, portanto, não está inserido este requisito na ordenança. Qualquer exigência neste sentido é humana, não provém da Palavra de Deus.
-Devemos lembrar que João Batista batizava no rio Jordão, mas o batismo instituído por Jesus não é o batismo de João (cfr. At.19:3-5), bem como, pelo menos em um registro de batismo nas águas nas Escrituras, há grandes razões para se entender que o batismo não se deu em água corrente, pois não havia rio na região de Gaza, onde o eunuco foi batizado por Filipe (At.8:38,39).
-Muitos, hoje em dia, por causa desta crença equivocada de que o batismo deve ser em água corrente, viajam quilômetros para realizar batismos em rios, represas que nem sempre são seguras e apropriadas para a prática do ato e, não raras vezes, têm ocorrido tragédias, com mortes de irmãos e irmãs.
-Devemos ter ordem e decência em tudo o que se realizar. Não há exigência de que o batismo se faça em água corrente e, atualmente, é sabido que poucas são as áreas seguras, tanto do ponto-de-vista de segurança quanto de saúde, para uma prática desta natureza.
Assim, entendemos que se deva evitar esta prática que, muitas vezes, além de ser um custo desnecessário para a igreja local, com o deslocamento dos irmãos para estas áreas,
ainda põe em risco a saúde e segurança dos irmãos em Cristo, podendo, ainda, dar causa a escândalos, pois as tragédias são eficazmente exploradas pela mídia em detrimento à imagem do Evangelho. Tudo desnecessário, tudo fruto de caprichos humanos, sem qualquer respaldo bíblico.
-Também devemos aqui deplorar a exploração comercial do batismo no rio Jordão. Nada temos contra as pessoas que, podendo, quiserem se batizar no rio Jordão, assim como Jesus foi batizado.
Entretanto, não podemos concordar com aqueles que, se aproveitando disto, têm feito um poderoso e rendoso comércio, levando as pessoas a irem ao Jordão para ali serem batizados, como se só o batismo no Jordão fosse válido.
Como crentes, jamais deixemos de dizer a verdade bíblica, ou seja, de que o batismo no rio Jordão tem o mesmo valor do que qualquer outro batismo. Aliás, não consta que o primeiro batismo cristão se tenha realizado no Jordão, onde se deu o “batismo de João” e não o “batismo em nome de Jesus”.
-Muito mais importante que o lugar onde a pessoa se batiza, a que tanto valor se tem dado nos últimos tempos, é a consciência do batismo.
Quando o eunuco perguntou a Filipe o que o impedia de ser batizado, já que haviam chegado a um local onde havia água bastante para a imersão, o evangelista não teve dúvidas em afirmar que o requisito para o batismo não é a presença de água, mas, sim, a crença de todo o coração (At.8:37).
-Um batismo é lícito quando o batizando crê de todo o coração que Jesus Cristo é o Filho de Deus, ou seja, quando tem convicção de que é um pecador, de que se arrependeu da vida pecaminosa e de que entregou sua vida a Cristo, que é seu único e suficiente Senhor e Salvador.
-Para tanto, o batizando tem de ser devidamente orientado e ensinado a respeito da salvação em Cristo Jesus, conforme consta das Escrituras Sagradas.
“…Sem estes conhecimentos, os novos discípulos encarariam este ato sagrado simplesmente como um banho qualquer, com a única diferença de que, desta feita, estariam vestidos.…” (HERNANDES, Laerte. Discipulado para o batismo consciente, p.13).
-Por isso, não pode o batismo nas águas se dar antes que novo convertido seja devidamente ensinado a respeito dos rudimentos da fé, antes que entenda o significado de ser salvo e de ter nascido de novo.
É importante observar que o batismo não salva e, portanto, uma eventual demora entre a salvação da pessoa e o seu batismo nas águas não põe em risco a vida eterna da pessoa. O novo nascimento, o chamado “batismo espiritual” ou “batismo do Espírito Santo” (I Co.12:13; Gl.3:27; I Pe.3:21), é um ato instantâneo, em que somos ligados na vara, que é Cristo (Jo.15:4,5). É nossa inserção na igreja universal, no corpo de Cristo (I Co.12:27).
-Já o batismo nas águas, porém, é um testemunho público de nossa inserção na igreja universal. É um ato pelo qual o batizando diz à igreja local reunida para o ato e para a sociedade em geral que ele passa a ser um integrante desta igreja local, que ele é, doravante, um cristão, uma pessoa “parecida com Cristo”, uma testemunha de Jesus entre os homens.
Tem-se, portanto, a assunção de um compromisso de, publicamente, ser apontado como testemunha de Jesus (At.1:8), de passar a ser uma prova do amor de Deus aos homens (I Co.13), uma demonstração do poder de Deus (I Co.2:4), um instrumento para a glorificação de Deus pelos homens (Mt.5:16).
-Ora, para que isto se dê, torna-se absolutamente necessário que os novos convertidos sejam devidamente instruídos, que aprendam de Jesus (Mt.11:29), conheçam o jugo do Senhor (Mt.11:30), saibam qual é a Sua doutrina (Mt.5-7).
Não tem base bíblica a prática de alguns segmentos cristãos de que o batismo nas águas deve se seguir imediatamente ao gesto de decisão por Cristo.
-Os que entendem que o batismo nas águas deve se seguir imediatamente à “conversão”, buscam respaldar seus ensinos no fato de que, na igreja primitiva, há o relato de que, logo após a conversão, se procedia ao batismo.
Assim teria ocorrido no dia de Pentecostes, em Samaria, com Paulo, com Cornélio, em Éfeso. Desta maneira, a Bíblia ensinaria que o batismo nas águas deve ser imediato à conversão, sem necessidade alguma de instrução ou qualquer outra providência.
-Este entendimento “bíblico”, seguido por alguns grupos desde sua origem, apareceu como uma verdadeira “luva” para “…muitas igrejas evangélicas, cujos pastores mostram-se tão preocupados com a multiplicação imediata de seus rebanhos, que não hesitam em batizar pessoas sem nenhuma preparação prévia, sem um esclarecimento profundo, distorcendo os propósitos de Deus em cada uma dessas vidas que foram compradas com o precioso sangue de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (…).
O que realmente importa para cada uma dessas mal-intencionadas igrejas é competirem umas com as outras (muitas vezes até mesmo congregações de um mesmo ministério), cada qual procura apresentar, nos dias de batismo, um maior número de candidatos, mesmo que estes não tenham sido devidamente discipulados para esse fim.… (HERNANDES, Laerte. op.cit., p.13-4).
-Entretanto, não é este o ensino das Escrituras. Por primeiro, como dissemos supra, o batismo nas águas é um ato que figura a salvação da pessoa.
É um ato que torna público, conhecido de todos o que aconteceu interiormente, no homem interior do batizando.
Deste modo, somente quem realmente foi salvo, quem produzir frutos dignos de arrependimento, quem demonstrar que está dando o fruto do Espírito, é que pode ser devidamente batizado nas águas. A propósito, era este um requisito exigido por João para fazer o seu batismo (Mt.3:8; Lc.3:8).
-Mas, como explicar o batismo no dia de Pentecostes? Em primeiro lugar, devemos observar que o dia de Pentecostes foi o cumprimento de uma profecia, um dia singular que não pode ser tomado como regra.
É interessante observar que os que defendem o batismo imediato e citam o dia de Pentecostes, se, indagados que, para haver batismo no Espírito Santo, se faz necessário que venha um som como de um vento veemente e que surjam línguas repartidas como que de fogo, dirão que isto só ocorreu no dia de Pentecostes. Então, por que se tornar regra o episódio de um fato singular?
-Entretanto, devemos notar que o auditório do sermão de Pedro era de pessoas que já tinham sido devidamente instruídas a respeito do Evangelho.
Eram pessoas que haviam presenciado o ministério terreno de Cristo ou dele tomado conhecimento. Jesus havia pregado por cerca de três anos e meio, de modo que não se pode dizer que não tenha havido uma prévia preparação para aquelas vidas.
Além do mais, o texto de Atos 2 nos mostra que houve verdadeira conversão daquelas vidas e que o apóstolo Pedro condicionou o batismo à comprovação da conversão. Portanto, o batismo ocorrido no dia de Pentecostes somente se deu porque se demonstrou haver efetiva conversão daqueles quase três mil que se agregaram à igreja.
-O mesmo se deu em toda a igreja primitiva. Somente se batizavam aqueles que davam real testemunho de mudança de vida, de conversão.
Assim, o batismo bíblico deve se seguir à conversão e conversão somente se percebe quando a pessoa começa a dar frutos dignos de arrependimento. Assim ocorreu em Samaria, por exemplo, onde as Escrituras nos provam que este era um requisito para o batismo ao descrever a vida cristã de Simão que, por ter crido em Jesus, abandonou as artes mágicas e, por isso, foi batizado (At.8:9-13).
O mesmo se deu em relação a Paulo, que somente foi batizado porque o Senhor deu testemunho a Ananias da sua conversão, conversão esta confirmada pela maravilha dupla da cegueira e de sua cura.
-Quando vamos, porém, à igreja de Antioquia, a primeira igreja gentílica, vemos que não houve ali um batismo imediato, como nos outros casos.
Antes, houve um ano todo de ensino de Paulo e Barnabé àqueles irmãos que, ao contrário dos crentes judeus, eram pessoas que conhecimento algum tinham a respeito das profecias das Escrituras.
Dali por diante, sempre vemos o apóstolo Paulo primeiro ensinando e discipulando os crentes, para só, então, depois fazer menção de batismo e, num momento seguinte, de escolha de obreiros para estas igrejas.
Esta prática, aliás, é abundantemente registrada na história da Igreja, com o batismo sendo realizado apenas um período de ensino da doutrina, que passou a ser denominado de “catecumenato” e que durava “seis períodos”. Aliás, normalmente, os batismos eram efetuados uma vez ao ano, após uma aferição da vida de cada um dos candidatos.
OBS: “…Veja como, segundo E. Glenn Hinson, no seu livro ‘Vozes do cristianismo primitivo’ em parceria com Paulo Siepierski, da editora Sepal em coedição com a editora Temática, acontecia na igreja primitiva, por ocasião do batismo:
‘Quarenta dias antes da páscoa, a época normal para batismo, o mestre (ou bispo) finalmente decidia quais dos catecúmenos deveriam receber o batismo. Sua decisão era baseada no estilo de vida dos catecúmenos enquanto no catecumenato – se tinham vivido corretamente e manifestado amor cristão no cuidado dos pobres, daqueles em prisão, das viúvas e órfãos, e de outros necessitados.
(a vida era observada para saber se a mudança operada pela graça estava presente, e vida voltada para o próximo, não bastava ter atendido ao apelo, tinham de aparecer os frutos dignos de arrependimento).
Em seguida, os catecúmenos recebiam a imposição de mãos, eram “selados” com o sinal da cruz na testa e salgados – símbolos de que eles já não mais pertenciam ao diabo, mas a Cristo.
Então, recebiam instrução diária e exorcismos até serem batizados. Os exorcismos eram importantes porque expulsavam as hostes satânicas que oprimiam os catecúmenos até que o Espírito Santo os libertasse de uma vez por todas (a libertação tinha de se dar na história e não apenas na confissão de fé). Na quinta-feira antes do batismo e no domingo de páscoa, os catecúmenos passavam por uma lavagem e purificação preparatória.
Na sexta-feira e no sábado, jejuavam. Ainda no sábado, havia um último exorcismo; o bispo fazia um selo com o sinal da cruz e, então, se iniciava uma vigília que durava a noite inteira…” (RAMOS, Ariovaldo. Devolvam a minha igreja. Disponível em: http://www.google.com/search?q=cache:CZqUK8V6DIgJ:www.invsc.org.br/Artigos/devolvam_minha_igreja.htm+%22devolvam+a+minha+igr eja%22&hl=pt-BR Acesso em 05 mar. 2005)
-O batismo nas águas é uma confissão pública que se faz da conversão e do novo nascimento. O batismo não é para salvação, mas, sim, para o salvo. É uma declaração que o salvo faz de que faz parte da Igreja, de que tem Jesus como seu Senhor e Salvador.
Como, então, podemos batizar alguém que não prova que é uma nova criatura em Cristo Jesus? Como batizar alguém que nem sequer foi discipulado na igreja local a que passará a pertencer?
-O batismo nas águas é o final de um processo de integração do batizando na igreja local. A igreja local, já vimos no início deste trimestre, é um grupo social, é um conjunto de pessoas que tem de ter uma identificação clara não só entre os membros do grupo, mas também diante da sociedade.
-A igreja em Jerusalém era dotada desta identificação clara e evidente (At.5:12,13). Por isso, ninguém pode ser batizado nas águas sem que, antes, seja devidamente instruído a respeito do que é servir a Deus, sem que antes demonstre ter dado frutos dignos do arrependimento, prove que foi, realmente, transformada pelo Evangelho, que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16).
-Infelizmente, há muitos que hoje estão sendo levados às águas batismais sem a mínima noção do que isto representa. Como afirmou o pastor Laerte Hernandes, supracitado, nada mais fazem que um “banho com vestes”.
Não têm a mínima noção do que é pertencer ao corpo de Cristo, do que é ser salvo, sendo conduzidos como ovelhas para o matadouro, não no sentido bíblico da expressão (Rm.8:38), mas no sentido agropecuário mesmo: sem ter a mínima ideia de que serão causa de escândalo e de sacrilégio, pois estarão profanando uma ordenança de Jesus, praticando um ritual sem qualquer sentido ou valor, que tem o mesmo efeito diante de Deus dos sacrifícios meramente formais que o povo de Israel realizava na antiga aliança (Is.1:10-15).
-Para alguém ser batizado nas águas precisa dar frutos dignos do arrependimento. Para alguém descer às águas é preciso que haja evidência de que se trata de uma pessoa que se converteu, que deixou as trevas e passou para o reino da luz, que está a andar na luz, que se tornou uma nova criatura.
Para tanto, faz-se necessário que o batizando tenha sido acompanhado pelos membros da igreja local, que possam, efetivamente, dar testemunho de que ele pode ser batizado.
-Por isso a importância de o candidato ao batismo se dirigir à igreja local e fazer a sua profissão de fé, que não é uma simples apresentação à igreja local, nem a reprodução de palavras adredemente ensaiadas, mas um testemunho que possa demonstrar aos membros da igreja local que se está diante de uma pessoa que tem convicção de que Jesus é o seu único e suficiente Senhor e Salvador.
-O batismo é imediato à conversão, mas conversão não é, como pensam muitos, o ato de levantar a mão diante de um apelo feito em um culto ou uma reunião de adoração ao Senhor.
Este gesto é uma decisão por Cristo, que pode ter envolvido uma real salvação, mas que precisa ser evidenciada pela conversão, que um ato seguinte do processo da salvação, uma transformação. Isto somente será verificado ao longo de um determinado tempo, tempo que não se pode precisar quanto.
Pode ser antes mesmo do fim da pregação, do apelo, como aconteceu na casa de Cornélio, como pode ser um ano inteiro, como parece ter acontecido em Antioquia e como se tem demonstração nos primeiros séculos da história da Igreja.
-Esta falta de critério para o batismo nas águas tem sido um dos principais fatores para o fracasso espiritual de muitas igrejas locais.
Como se batiza sem critério, fora do modelo bíblico, sem verificação da conversão das pessoas, ingressam no rol de membros pessoas que não são salvas, pessoas que nada têm de crentes que, quando muito, são religiosas, mas que jamais tiveram um encontro real com o Senhor Jesus. São, para usarmos aqui de feliz expressão do príncipe dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon, verdadeiros “bodes”
que estão no meio das “ovelhas” e que, não raras vezes, desvirtuam toda a igreja local. Por isso, como diz Spurgeon, muitos pastores estão hoje a entreter bodes em vez de apascentar ovelhas…
-O discipulado do novo convertido é uma necessidade não só para aquele que aceitou a Cristo, mas para a própria igreja local que, desta maneira, tenta evitar a mistura com o mundo, com os falsos cristãos.
Não nos esqueçamos de que um pouco de fermento leveda toda a massa (I Co.5:6; Gl.5:9) e que devemos evitar todo fermento, pois, como corpo de Cristo, temos de ser, como Ele, sem fermento, verdadeiros pães asmos de sinceridade neste mundo de hipocrisia e fingimento (I Co.5:7,8).
-Também é em virtude disto que não se deve permitir que pessoas que ainda não tenham se submetido ao batismo nas águas participem das atividades da igreja local.
As atividades da igreja são apenas para aqueles que já assumiram o compromisso com o Senhor, compromisso este representado pelo batismo, que é o ponto final do processo de integração a uma igreja local.
É com muita tristeza que verificamos, na atualidade, que muitos têm sido incorporados a várias atividades da igreja local, logo depois que se decidiram por Cristo, sem mesmo saber o que é ser crente, sem demonstrar que estão transformados pelo Evangelho.
O resultado é o que temos visto cada vez mais: a frieza espiritual e a perda total de relevância espiritual de muitas igrejas locais.
-A integração na igreja local não é uma incorporação qualquer a um grupo social. Embora a igreja local seja um grupo social, deve dela tomar parte somente quem demonstrar que nasceu de novo, da água e do Espírito, ou seja, que tenha sido salvo por Jesus.
-É evidente que a igreja local deve ter departamentos e atividades dirigidos às crianças, adolescentes e jovens, quase sempre familiares de membros da igreja local, mas não podemos nos esquecer que tais departamentos e atividades devem ser, sobretudo, evangelizadoras. É um evangelismo feito dentro das quatro paredes do templo.
-Entretanto, como Deus não tem neto, mas somente filhos, faz-se necessário, para que estes familiares sejam integrados na igreja local, que, assim como os que são alcançados pela evangelização “externa”, também sejam submetidos a um processo de verificação do novo nascimento nas suas vidas.
Não se pode levar a batismo alguém única e exclusivamente porque “nasceu em berço evangélico”, mas alguém que, tendo tido a graça de ter nascido em um lar evangélico, encontrou-se com o Senhor Jesus e foi salvo por Ele, dando frutos dignos de arrependimento.
-A “conversão em massa”, ou seja, a integração de pessoas à igreja local sem que se tomem os devidos cuidados para verificação de que se trata de novas criaturas, de pessoas salvas e regeneradas, não traz proveito algum à igreja local nem tampouco à causa do Evangelho.
-O processo de paganização da Igreja, que levou ao surgimento da Igreja Romana e das Igrejas Ortodoxas, do chamado “cristianismo apóstata”, está diretamente relacionado com as “conversões em massa” que passaram a ocorrer no Império Romano depois que Constantino fez cessar as perseguições aos cristãos e demonstrou simpatia pelo Cristianismo.
-A partir de então, muitos, querendo ser “simpáticos” ao poder político, passaram a se “tornar cristãos”, deixando-se batizar e os cristãos, até então perseguidos, inebriados por este crescimento quantitativo e numérico (que acabou por resultar, também, em poder político para os bispos e demais integrantes da cúpula hierárquica das igrejas locais…), caíram na armadilha do adversário e, em pouco tempo, não havia mais diferença alguma entre cristãos e pagãos, com o surgimento das práticas que apenas deram “roupagens cristãs” a crendices e rituais do antigo paganismo.
-Os nossos dias não são diferentes. Muitas igrejas locais e denominações estão como que anestesiadas pelo “aumento do Evangelho”, que nada mais é que um crescimento numérico e quantitativo, acompanhado quase sempre de poderio econômico-financeiro e político, que tem feito muitos se esquecerem de verificar a real transformação das pessoas antes de integrá-las às igrejas locais pelo batismo. Muitos, a propósito, chegam a
defender que a pessoa pode se batizar tantas vezes quantas achar necessário, como se o batismo nas águas fosse uma banalidade ou um mero banho que precise ser repetido diariamente.
-Ser “evangélico” virou moda e muitos se submetem ao batismo nas águas para “provar” que se converteram e tais conversões apenas têm servido para escândalos e prejuízos ao Evangelho, e, não poucas vezes, servido para encher os bolsos de muitos.
-Outros, na competição desenfreada por cargos e posições nas burocracias eclesiásticas, têm procurado aumentar o número de batizandos em suas igrejas e, para tanto, recorrem a todos os subterfúgios possíveis, como o batismo de crianças e de adolescentes, que nem sequer se conscientizaram do que é o batismo e que é servir a Cristo (e, neste ponto, filhos de crentes são o alvo preferencial…),
o batismo imediato de pessoas que se decidiram por Cristo, ainda que não tenham sequer se libertado de seus vícios ou de sua vã maneira de viver, o rebatismo de pessoas de outras denominações, sob as mais absurdas teses e justificativas doutrinárias e, pasmem todos, até mesmo o rebatismo de irmãos da própria denominação, sob a rubrica do “justo motivo”, tão somente para fazer número e apresentar em relatórios.
A que ponto chegamos, como tem se aviltado uma ordenança de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!
-Urge, portanto, que demos ao batismo nas águas o seu real valor, que o vejamos como o ato final de um processo de integração, como o testemunho público não só do batizando, mas da igreja local, que se está diante de uma ovelhinha de Jesus Cristo, de um ser transformado pelo Evangelho, de uma nova criatura, de alguém que anda na luz de Cristo, que está caminhando para o céu.
-Não nos preocupemos com os números, não busquemos nos enganar a nós mesmos, nem capitulemos à mentira e à hipocrisia, mas façamos do batismo nas águas um instante de realização e de alegria não só do batizando, mas de toda a igreja local, certos de que aquele que está a descer às águas é uma alma que foi arrebatada do poder do mal e que, com a colaboração de toda a igreja local, hoje, publicamente, pode dizer e comprovar que é alguém que está nas mãos do Senhor Jesus e que ninguém poderá arrebatar.
No próximo batismo nas águas na sua igreja local, que responderá cada batizando, se lhe perguntarmos: ‘Nasceste de novo, andas já com Deus? Pertences ao povo que vai para os céus? Tens a lei escrita em teu coração? Em ti já habita plena salvação?” (1ª estrofe do hino 447 da Harpa Cristã).
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10252-licao-9-o-batismo-a-primeira-ordenanca-da-igreja-i