INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo do livro de Jó, analisaremos o seu capítulo 28.
– Deus é a verdadeira sabedoria.
I – A INTELIGÊNCIA E CRIATIVIDADE HUMANA
– Desde o capítulo 4, o livro de Jó apresenta uma sequência de discursos de Jó e seus amigos, em que se procura entender o sofrimento por que Jó está passando.
– Esta série de discursos leva a um impasse: os amigos de Jó imputam ao patriarca um pecado que ele não havia cometido e ele declara inocência, embora queira também saber de Deus o porquê do sofrimento.
– Após a terceira fala de Bildade, que é respondida pelo patriarca, Jó vai fazer uma reflexão a respeito da sabedoria divina, para contrastar com a sabedoria humana que, apesar de todos os esforços, estava num impasse.
– Trata-se de um momento de transição do livro, em que o patriarca irá, por primeiro, falar sobre a sabedoria divina e, depois, realizar o que se denomina de “a última defesa de Jó”, para que, então, intervenha no discurso Eliú e, em seguida, o próprio Deus, pondo fim a toda a reflexão sobre o sofrimento humano.
– Assim, depois que responde a Bildade, através de uma parábola (Jó 27:1), o patriarca como que desvia o assunto e começa a perquirir sobre a sabedoria humana.
– Diz Jó que há veios de onde se extrai a prata e, para o ouro, lugar em que o derretem (Jó 28:1). Nesta expressão um tanto quanto enigmática, própria dos textos poéticos, o patriarca ensina-nos algumas importantes lições.
– Por primeiro, está a falar da racionalidade do ser humano. Ele é capaz de identificar a prata na natureza e de extraí-la.
– O homem foi feito para ser o mordomo da criação terrena, tendo domínio sobre tudo o que existe sobre a face da Terra (Gn.1:28; Sl.8:4-8).
– Assim, com a inteligência que Deus lhe deu, o homem pode manipular a criação para a satisfação de seus interesses, de suas necessidades, de seus desejos.
Assim, é capaz não só de identificar a prata e o ouro, distinguindo-os, como também de extraí-los da natureza e fazer com que venham a suprir o de que homem está a precisar.
– Jó também demonstra que o homem tem criatividade. Se é verdade que o Criador é Deus, que do nada fez todas as coisas, pela palavra de Seu poder (com exceção do próprio homem, que foi formado por Ele de modo diverso – Gn.2:7),
também não é menos verdadeiro que o ser humano é capaz de modificar aquilo que existe na natureza, a tal ponto que pode até estabelecer um lugar para derreter o ouro e um método para extrair a prata, separando estes elementos, que, normalmente, se encontram misturados com outros no estado natural.
– Jó, assim, inicia sua reflexão mostrando a superioridade do homem em relação à criação terrena, a sua inteligência e criatividade.
– Esta posição ocupada pelo homem na criação terrena foi dada pelo próprio Deus e jamais pode ser questionada ou combatida.
Lamentavelmente, não são poucos os que têm trazido doutrinas e ideologias que procuram desqualificar o ser humano, defendendo mesmo a sua extinção para que o “planeta seja salvo” ou querendo submeter o homem ao restante da criação. Evitemos tais discursos, pois contrariam frontalmente a Palavra de Deus.
– O homem é tão inteligente, diz Jó, que tira o ferro da terra e da pedra se funde o metal, pondo fim às trevas, sendo certo que ele esquadrinha até à extremidade, ou seja, é um ser inquieto, que tudo investiga, que procura descobrir como funciona a natureza, advindo daí o que conhecemos por “ciência”.
Afinal de contas, ele foi feito para isso mesmo, como nos dá conta o sábio Salomão (Ec.1:13).
– Vê-se, assim, que, ao contrário do que se costuma dizer, em momento algum a ciência é uma atividade atacada pela Bíblia Sagrada ou que busque desmentir o que é dito pelas Escrituras.
Simplesmente inexiste esta oposição criada artificialmente no início da Idade Moderna entre ciência e fé, entre ciência e Bíblia.
– A ciência é resultado desta inquietação, desta “fome e sede de conhecimento” de que o homem foi dotado pelo próprio Senhor, que deu ao homem a ocupação de descobrir as leis que regem a natureza, de tentar fazer uma explicação daquilo que ocorre à sua volta.
– O homem “procura as pedras na escuridão e na sombra da morte”, tenta desvendar os segredos e mistérios existentes sobre a face da Terra, tenta descrever tudo quanto foi feito e realizado pelo Criador e, ao fazê-lo, estará sempre confirmando a vocação que recebeu de Deus.
– Lamentavelmente, em sua cegueira espiritual, o homem, ao fazer uso da inteligência e racionalidade recebidas, tenta, de modo vão e inútil, voltar-se contra o Criador e contra a Sua revelação ao homem, que é a Bíblia Sagrada.
Ao se recusar a submeter-se ao seu Senhor, o ser humano busca utilizar-se destas sublimes faculdades, que, como já ensinava o filósofo grego Aristóteles, é a peculiaridade, o traço distintivo entre o homem e os demais seres terrenos, o homem tenta construir um discurso que nega a existência ou o poder do Criador.
– Assim, busca utilizar dos conhecimentos oriundos de suas descobertas para desmentir a Palavra de Deus, para desacreditar a revelação divina, o que nada mais é que fruto do pecado e da impenitência e,
nesta recusa da glorificação a Deus, acabam se tornando insensatos e deixam a realidade para passar a crer em discursos vãos, que apenas demonstram o desvanecimento do homem sem Deus e sem salvação, fazendo com que esta “sabedoria humana” se torne em loucura (Rm.1:21,22).
– Exsurge, então, a “falsamente chamada ciência” (I Tm.6:20), cujo único objetivo é tentar contrariar a Palavra de Deus, levantar-se contra tudo o que se chama Deus, gerando um falso conhecimento, totalmente descolado da realidade, uma mistificação, uma farsa, cujo único objetivo é servir de instrumento para a perdição espiritual da humanidade. Tomemos cuidado, amados irmãos!
– O homem é criativo e tem a permissão divina para modificar o ambiente em que vive, visando, com isso, satisfazer as suas necessidades e melhorar as suas condições de vida, até porque, com o pecado, deixou de ser o ambiente ótimo e absolutamente favorável que desfrutava no jardim que Deus plantou para o bem- estar do homem no Éden.
– Jó, ciente disto, diz que o homem intervém e o ribeiro que trasborda e impede a passagem na sua enchente, é modificado, de modo que as águas, mesmo na cheia, não impossibilita o homem de exercer as suas atividades (Jó 28:4).
– Temos aqui, repetimos, mais uma comprovação de que as Escrituras não se coadunam com a mentalidade ecologista radical hoje muito em voga que pretende retirar do homem o poder de modificar o meio- ambiente.
Mesmo no Éden, onde havia condições ótimas, podia o homem lavrar a terra (Gn.2:15), o que, em absoluto, significa autorização para degradação ambiental, pois a permissão para lavrar era acompanhada da ordem para guardar o jardim.
– Mas, enquanto falava da inteligência e da criatividade humana, o patriarca não deixa de demonstrar, já num primeiro instante, os limites existentes para o ser humano.
– Diz que a terra de onde procede o pão, é também a terra que é revolvida como por fogo embaixo (Jó 28:5).
– Esta afirmação do patriarca permite-nos algumas importantes constatações. A primeira é de que a natureza deve ser utilizada, explorada e modificada pelo homem para a satisfação de suas necessidades, de reais necessidades.
A terra existe para ser a provedora de pão, ou seja, o homem deve buscar a sua sobrevivência junto a natureza, de modo que não pode destruí-la, pois há comprometerá a sua própria existência, nem tampouco dela fazer uso para causar a morte do semelhante.
– A segunda é de que existe uma dimensão que o homem jamais alcançará. A terra de onde procede o pão é a mesma que embaixo é revolvida por fogo, ou seja, nunca se poderá ter o pleno domínio e conhecimento da criação,
há pontos que sempre permanecerão paradoxais, incompreensíveis ao intelecto humano, precisamente para que o homem saiba que tudo é obra de um Criador que jamais poderá ser completamente entendido ou explicado.
– Esta verdade, que o patriarca estava afirmando em relação ao estudo da natureza, é muito mais profunda quando se indagar a respeito do próprio ser humano.
Não é à toa, aliás, que a filosofia tem reconhecido a diferença de tratamento e até de método que há entre as ditas ciências naturais e as ciências denominadas humanas.
Enquanto a natureza, ainda que não de forma uniforme e plena, esteja sujeita a regras e leis estáveis e que tendem à imutabilidade, as ciências humanas lidam com elementos imprevisíveis, que dependem do comportamento humano, que é errático e incapaz de ser antecipado, algo que somente é acessível a Deus, que conhece a estrutura de cada ser humano (Sl.103:14) e o íntimo de cada um (I Sm.16:7).
– A própria discussão que estava sendo travada entre Jó e seus “amigos” era a comprovação de que o homem tem conhecimento limitado, que não consegue, nem de longe, perscrutar os desígnios divinos.
Ninguém estava a entender o sofrimento de Jó e procurava explicá-lo, sem que ninguém pudesse, apesar de serem todos sábios e entendidos em assuntos concernentes a Deus, esclarecer o que se passava com o patriarca.
– Entretanto, nas próprias ciências naturais, não há qualquer domínio pleno sobre os fenômenos ou ocorrências.
O patriarca aqui traz uma revelação, qual seja, a de que a terra embaixo é revolvido como por fogo, algo que somente seria descoberto e constatado milênios depois.
Sabe-se, hoje, a geologia o diz, que abaixo da crosta terrestre, que esta porção de terra seca, existem camadas de altíssimas temperaturas, onde os metais estão em estado líquido.
Como Jó sabia destas coisas? Na verdade, não sabia, mas isto lhe foi revelado por Deus enquanto discursava com seus “amigos”.
Por isso, o saudoso pastor Ailton Muniz de Carvalho (1958-2020) chamava o patriarca de “cientista de Deus”, alguém que Deus revelou verdades científicas que somente milênios depois seriam formalmente descobertas pelo homem.
– Eis aqui a diferença do conhecimento oriundo da parte de Deus, que se encontra nas Escrituras Sagradas, e aquele que decorre da inteligência e criatividade humana.
O primeiro vem por revelação, é algo que é dado por Deus ao homem, já pronto e acabado, em que se diz o que há, o que existe, sem que se deem minúcias de como isto se dá ou de como isto acontece.
O segundo, após pesquisas e investigações, estabelece o que há e como isto se dá e como isto de processa, conclusões, ademais, que sempre podem ser infirmadas, visto que o homem não tem o domínio pleno de todas as situações e, portanto, nunca poderá trazer um retrato pronto e acabado de um fenômeno ou ocorrência.
– Por isso, já dizia o também saudoso irmão Sérgio Paulo Gomes de Abreu, fundador do Portal Escola Dominical, que não é para que ninguém se surpreenda ou se abale com uma eventual divergência entre as Escrituras e alguma afirmação científica.
Dizia o querido irmão que, quando isto acontecer, devemos ter a convicção de que sempre o conhecimento humano está atrasado e é parcial e que, quem sabe um dia, se desenvolverá a ponto de chegar àquilo que Deus já revelou.
II – A SABEDORIA DIVINA
– A partir desta revelação a respeito das camadas inferiores do planeta e de suas altíssimas temperaturas, o patriarca começa, em sua reflexão, a mostrar que a criação é limitada e que ninguém pode ter o pleno domínio ou conhecimento das coisas que Deus faz.
– Diz o patriarca que as pedras da terra são o lugar da safira e que a própria terra tem pós de ouro, sendo que essa vereda é ignorada pela ave de rapina nem o viu os olhos da gralha, nem nunca a pisaram os filhos dos animais altivos nem o feroz leão passou por ela.
– Jó reafirma aqui a superioridade do homem em relação aos demais seres terrenos, mostrando que só o ser humano tem inteligência capaz de identificar entre as pedras a safira e o ouro, algo que nenhum outro animal poderia fazer, mas isto não decorria de um mérito próprio do homem, mas porque assim Deus estabeleceu.
– Começa, então, Jó a mostrar a sublimidade divina, que é muito maior do que a própria superioridade humana em relação à criação terrena.
Se o ser humano consegue discernir a safira no meio das pedras e também os pós do ouro, Deus estende a Sua mão contra o rochedo e revolve os montes desde as suas raízes, querendo com isso aludir, muito provavelmente, aos terremotos.
– Se o homem pode fazer com que uma cheia de um rio não impeça a passagem. Deus faz sair rios de rochedos, ou seja, o Senhor cria rios, faz nascer cursos d’água, enquanto o homem, quando muito, consegue desviá-los, como se vê, por exemplo, na construção de canais como os Canais de Suez e do Panamá ou a transposição do rio São Francisco.
– Se o homem pode extrair a prata e o ouro dos minérios, fazendo-os, inclusive, derreter, o Senhor tapa os rios, fazendo com que nenhuma gota saia deles e tira para a luz o que está escondido, ou seja, se o homem consegue descobrir as leis da natureza pela pesquisa científica, Deus é capaz de revelar aquilo que está oculto e que jamais o homem poderia descobrir.
– Assim, ainda em nível de ciência, de capacidade de descoberta, o patriarca já mostra que Deus é sublime e bem superior ao homem.
– Mas aí, então, o patriarca vai passar a perquirir sobre algo ainda mais excelente, que é a sabedoria, que Salomão diria ser “a coisa principal” (Pv.4:7), a suprema excelência (Ec.7:12).
– Ante tais comparações, pergunta o patriarca onde se acharia a sabedoria, onde estaria o lugar da inteligência (Jó 28:12).
– A primeira constatação de Jó é de que ela não se acha na terra dos viventes e o que homem não lhe conhece o valor (Jó 28:13).
– De pronto, o patriarca vai afastar a possibilidade de a sabedoria ser encontrada na dimensão terrena, no ser humano ou em a natureza.
A sabedoria não é fruto de algo que tenha sido produzido ou construído nesta terra amaldiçoada pelo pecado. Jamais pode ser obtida por esforços humanos, por fórmulas produzidas pela mente humana, por elementos da natureza.
– Esta verdade aqui revelada pelo patriarca, sob inspiração do Espírito Santo (tanto que se encontra registrada nas Escrituras), seria, séculos depois, vivida e experimentada pelo homem mais sábio que existiu sobre a face da Terra, o rei Salomão.
No seu livro de Eclesiastes, ele dirá que nada do que existe debaixo do sol pode trazer qualquer bem-estar duradouro e real para o homem, homem que deve buscar a sabedoria, que não é algo que se encontre debaixo do céu.
– Tiago, talvez o escritor do Novo Testamento que mais disserte sobre a sabedoria, também confirma esta revelação de Jó, ao dizer que a sabedoria genuína e autêntica vem do alto (Tg.3:17).
– Não são poucos os que têm procurado a sabedoria neste mundo, através de religiões, filosofias, doutrinas, pensamentos, práticas ascéticas e tantas outras coisas.
Trata-se de uma busca vã e inglória, que não levará a lugar algum, a não ser ao engano e à decepção. A sabedoria não se acha na terra dos viventes, o homem não lhe conhece o valor.
– Volta o patriarca a apontar a cegueira espiritual do ser humano. Ao dizer que o homem não conhece o valor da sabedoria, Jó está a dizer que o homem sem Deus e sem salvação é alguém voltado única e exclusivamente para as coisas desta vida, tem uma dimensão horizontal da existência, não vendo a vida senão como algo preso a este mundo, o que se costuma denominar de “secularismo”.
– Ora, neste mundo a sabedoria não está. Não provém ela das coisas desta vida, desta dimensão terrena e, portanto, o homem valoriza a prata, o ouro, a posição social, a fama, o prazer, ou seja, tudo quanto existe na dimensão terrena, não se preocupando, porém, em adquirir sabedoria, porque não lhe conhece o valor, sendo algo, como vimos, que não existe nesta dimensão.
– Não foi por outro motivo que o Senhor Jesus foi feito sabedoria para nós (I Co.1:30), sendo chamado pelo evangelista Lucas de “sabedoria de Deus” (Lc.11:49), pois é Ele quem nos dá acesso aos céus e que de lá nos trazer a sabedoria que do alto vem.
– Jó diz que o abismo afirma que a sabedoria não está nele, assim como o mar (Jó 28:14).
Além de se estar a dizer que a sabedoria não se encontra na dimensão terrena, em a natureza, tais expressões podem ser também interpretadas como que mostrando que nem entre as hostes espirituais da maldade, nem nas forças espirituais tenebrosas sob o comando de Satanás, simbolizadas pelo abismo, nem nas nações, na humanidade como um todo, simbolizado pelo mar, poderemos encontrar a sabedoria.
– Além de mostrar que ela não se encontra na dimensão terrena ou na dimensão da criação (o que envolve as forças espirituais malignas), Jó também mostra que o seu valor é superior a tudo quanto se queira ou possa possuir.
– Jó diz que a sabedoria não se pode comprar com o ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira, nem pela prata ou por qualquer metal ou pedra preciosa que se tenha (Jó 28:15-17).
– Num mundo materialista e mercantilista como o que vivemos na atualidade, tal afirmação pode até provocar um desinteresse profundo em muitos em querer adquirir a sabedoria.
– Não são poucos os que estão a buscar a Cristo e ao Evangelho única e exclusivamente para poderem ter prosperidade material, como tem sido ensino pela teologia da prosperidade, tornando todos aqueles que assim procedem os mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19)..
– Se a inteligência e criatividade humana se esforçam para extrair ouro, prata e pedras preciosas da terra a fim de satisfazer a vaidade e ganância de alguns, a sabedoria é algo muito mais excelente e valioso, que riqueza terrena alguma pode comprar ou adquirir.
– Salomão afirma, com muita clareza, que a sabedoria dá vida ao seu possuidor, enquanto que o dinheiro não tem este poder (Ec.7:12).
– Pelo seu altíssimo preço, nunca teríamos condições de adquirir a sabedoria, algo que está fora do alcance de qualquer mortal por seus próprios méritos ou esforços.
– Ao assim declarar, Jó procurava levar à consciência os seus “amigos”, visto que supunham eles poder penetrar a mente divina e, deste modo, bem explicar ao patriarca que ele havia pecado e que tinha de confessar o seu pecado, que o sofrimento só podia ser consequência de pecado.
– Não temos como perscrutar a mente divina, não temos como entender as razões de tudo quanto sucede no mundo, pois devemos ter a consciência de que não nos é possível adquirir a sabedoria, é algo que está além de nós e que isto somente se faz possível se tivermos comunhão com o Senhor, que nos dará um pouco desta sabedoria inescrutável.
– Para que se possa adquirir a sabedoria, faz-se mister que se tenha uma visão vertical da vida, ou seja, que se reconheça a soberania divina, que se queira submeter ao Senhor, que se queira obter d’Ele a sabedoria, que se reconheça, como chegou a dizer Bildade, que “somos de ontem e nada sabemos” (Jó 8:9).
– A busca da sabedoria somente é possível para quem reconhece que os bens espirituais são mais preciosos que os bens materiais, que esta vida sobre a face da Terra é passageira e que a eternidade é o mais importante.
Só quem sabe que a sabedoria vale mais que os rubis é que pode procurá-la (Jó 28:18).
– É, portanto, muito triste vermos que, na atualidade, muitos não dão o necessário valor aos bens espirituais, trocando-os pelos bens materiais.
– Mais triste ainda é vermos que ainda impera o mesmo espírito que tomou conta de Simão em Samaria, que chegou a oferecer dinheiro aos apóstolos para receber o poder de impor as mãos e batizar as pessoas com o Espírito Santo (At.8:18,19), sendo imediatamente repreendido por Pedro que considerou que quem cuida que o dom de Deus se alcança por dinheiro não tem parte nem sorte na Palavra de Deus (At.8:20).
– Após demonstrar o alto valor da sabedoria, o patriarca pergunta de onde vem a sabedoria e onde está o lugar da inteligência (Jó 28:20), já que ela se encontra encoberta aos olhos de todo vivente.
– Jó admite aqui que a sabedoria está oculta aos olhos de todo vivente, de sorte que não haveria, pois, mesmo, como ele e seus amigos entenderem o seu sofrimento, quererem uma explicação. Jó aqui está como que a profetizar, pois sua mensagem inclusive o compromete.
– Temos aqui mais uma demonstração de que o patriarca era um homem de Deus, pois, em seu devaneio, em sua reflexão, na verdade está sendo usado pelo Senhor para nos trazer preciosos ensinos sobre a sabedoria divina, sendo uma verdadeira pausa nos debates entre Jó e seus amigos.
– Temos aqui uma verdadeira revelação divina a respeito da sabedoria, o primeiro texto bíblico a respeito do tema, tema este que seria, posteriormente, tratado notadamente por Salomão em seus escritos.
– O patriarca diz que a perdição e a morte ouviram a fama da sabedoria, ou seja, a sabedoria é algo que não se coaduna com a perdição nem com a morte.
– Não há sabedoria onde se mantém a separação de Deus, onde não se obedece à Sua Palavra, onde não se tem a Jesus Cristo como Senhor e Salvador.
– Como Salomão bem mostrará tanto no livro de Provérbios quanto no livro de Eclesiastes, a sabedoria se inicia quando se tem o temor a Deus, quando se reconhece a soberania divina, que Ele é o Senhor e que devemos obedecer-Lhe e dar-Lhe o devido respeito e culto. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl.11:10; Pv.9:10).
– Como a sabedoria vem do alto, vem de Deus, é ela impossível de existir naqueles que estão caminhando para a perdição, naqueles que estão mortos em seus delitos e pecados.
Como nos mostram as Escrituras, sábio é aquele que teme a Deus, aquele que se entrega a Ele, por intermédio de Cristo Jesus, Aquele que Deus fez sabedoria para nós.
– O patriarca, então, mostra-nos que Deus entende o caminho da sabedoria e sabe o seu lugar, pois vê as extremidades da terra e vê tudo o que há debaixo dos céus (Jó 28:24).
– Deus sabe o que faz, é o que nos está a dizer o patriarca, o que, inclusive, servia para ele mesmo, que estava a querer satisfação da parte de Deus.
O Senhor é o único que conhece todas as circunstâncias, todos os fatores, todos os elementos que envolvem cada acontecimento, cada ocorrência sobre a face da Terra e, portanto, a Sua decisão sempre é a certa, a correta, a completa, a perfeita. Lembremo-nos sempre disto, amados irmãos!
– Aqui Jó tem outra revelação que o credencia como “cientista de Deus”, ao dizer que o Senhor deu peso ao vento e tomou a medida das águas (Jó 28:25).
Antes que houvesse qualquer desenvolvimento maior da física, o patriarca diz que o ar tinha peso.
– Como se isto fosse pouco, Jó também quis mostrar que Deus estava no absoluto controle de todas as coisas, tanto que “tomou a medida das águas”, indicando que as águas não ultrapassam o limite que Deus lhes pôs quando criou a porção seca, o que seria oportunamente revelado a Moisés (Gn.1:8,9).
A respeito do limite que Deus impôs às águas, aliás, o patriarca já havia se referido na resposta que dera a Bildade pouco antes desta reflexão (Jó 26:10), limite este que jamais é ultrapassado como nos diz o salmista (Sl.104:9).
– Deus está no absoluto controle de tudo, de modo que Ele sabe o que faz e, por isso mesmo, é Ele a própria sabedoria. Sabedoria é saber fazer as coisas, é fazer as coisas corretas, do modo correto, no tempo correto. É, como já disseram alguns, “ter o sabor” das coisas.
– Deus, diz o patriarca, prescreveu uma lei para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões, ou seja, os fenômenos mais ameaçadores para os seres humanos dos dias de Jó, que ainda tinham a memória do dilúvio e que, naturalmente, se impressionavam com os fenômenos meteorológicos expressivos nos céus, eram determinados e controlados por Deus, de modo que era preciso, sim, reconhecer a grandeza divina e a Sua sublimidade.
– Este Deus Todo-Poderoso é que viu e manifestou a sabedoria, que a estabeleceu e a esquadrinhou e que não a quer encobrir, mas, antes, disse ao homem que o temor do Senhor é a sabedoria e apartar-se do mal, a inteligência (Jó 28:28).
– Hoje há muitos estudiosos que procuram estudar a inteligência, demonstrando ter ela muitas facetas. Por isso, fala-se hoje em inteligência emocional, inteligência espiritual e tantas outras coisas.
– No que parece ter sido o primeiro livro escrito da Bíblia Sagrada, esta questão é claramente demonstrada. Deus é a sabedoria e quer que o homem a obtenha e como poderá o homem tornar-se sábio? Temendo a Deus e se apartando do mal.
– Saberemos como viver durante a nossa peregrinação divina se temermos a Deus, ou seja, se obedecermos ao Senhor, não questionarmos o quanto tem revelado para nós em Sua Palavra, se procurarmos agradar-Lhe, crendo e confiando n’Ele.
– Exerceremos plenamente a inteligência que Deus nos deu, guiar-nos-emos racionalmente, fazendo uso deste traço distintivo que nos dá superioridade aos demais seres terrenos, se nos apartarmos do mal, se procurarmos fazer a vontade de Deus, revelada na Bíblia Sagrada, vivendo separados do pecado.
– Jó termina esta reflexão mostrando que o importante é temer a Deus e apartar-se do mal. Temos feito isso?
Nós somos privilegiados, porque esta sabedoria veio até na pessoa de Cristo Jesus e se seguirmos as Suas pisadas, obteremos esta sabedoria e nos conduziremos nesta Terra com destino para o céu.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/5973-licao-9-jo-e-a-inescrutavel-sabedoria-de-deus-i